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Sincronicidade
PRIVATE�A Sincronicidade se refere à questões relativas a duas formas diversas do pensar. De um lado, podemos observar o pensamento causal, e do outro, o causal ou sincronístico.
Esse é um fenômeno onde um evento do mundo exterior, físico, coincide significativamente com um estado mental psicológico.
Ela consiste de dois fatores:
uma imagem inconsciente vem ao consciência diretamente ( isto é, literalmente ) ou indiretamente ( simbolizada ou sugerida ), sob forma de um sonho, idéia ou premonição. 
uma situação objetiva coincide com esse conteúdo. 
Essas experiências de sincronicidade, foram associadas por Jung, à relatividade do espaço e do tempo, bem como a um certo grau de inconsciência e ele cita em seu livro "A Natureza da Psique ":
"Os aspectos realmente diferentes e confusos desses fenômenos, até onde posso perceber. No presente são perfeitamente explicáveis com a suposição de um continuum espaço – tempo, psiquicamente relativo. Tão logo um conteúdo psíquico cruze o limiar da consciência, o fenômeno marginal sincronístico desaparece, tempo e espaço reassumem seu poder habitual, e a consciência uma vez mais se isola em sua subjetividade... Reciprocamente, os fenômenos sincronísticos podem ser evocados, colocando-se o sujeito em um estado inconsciente".
Ele definiu-a como um princípio de Conexão Acausal, uma conexão misteriosa entre a psique do indivíduo e o mundo físico, material que se baseia no fato de que no fundo são apenas diferentes formas de energia.
Ainda em "Natureza da Psique:
"Não apenas é possível, mas bastante provável, que psique e matéria sejam apenas dois aspectos diferentes de uma só e mesma coisa. Parece-me que os fenômenos sincronísticos apontam nesta direção, pois mostram que o não-psíquico comporta-se como psíquico, e vice – versa, sem que haja cconexão causal entre eles ".
O pensamento causal é uma forma de pensar linear de trás para frente, que satisfaz a nossa apreensão mental de um conjunto de fenômenos físicos : sempre esperamos que a causa venha antes do efeito. Essa forma de pensar tem uma ligação com o tempo, com o tempo linear, que é o tempo que rege a consciência.
Dentro desse pensar, todo efeito é uma decorrência de uma causa física ou psicológica.
Os físicos modernos têm nos provado a relatividade desse modo de pensar. Nós já não podemos pensar na causalidade como sendo uma lei absoluta, mas apenas como uma tendência ou uma probabilidade, pois alguns fatos fogem a essa regra dominante até então.
Nas palavras de Marie-Louise Von Franz :
"Na física moderna, parece, por vezes, que o efeito ocorreu antes da causa e, portanto, os físicos tentam dar-lhe uma viravolta e dizer que ainda poderemos chamar isso de causal; mas penso que Jung está certo ao afirmar que tal procedimento amplia e distorce a idéia de causalidade ad absurdum, ao ponto de lhe roubar todo significado ".
Podemos mesmo, ler em Jung, em SINCRONICIDADE, de sua autoria :
"A preocupação do método científico experimental é constatar a existência de acontecimentos regulares que podem ser repetidos. Conseqüentemente, acontecimentos únicos ou raros não entram em linha de conta. Além disso o experimento impõe condições limitativas à natureza, porque o seu escopo é fazer com que esta forneça respostas às perguntas formuladas pelo homem. Qualquer resposta da natureza é, por conseguinte, influenciada pelo tipo de perguntas que foram feitas, e o resultado é sempre um produto híbrido. A chamada visão científica do mundo, baseada neste resultado, nada mais é, portanto, do que uma visão parcial psicologicamente tendenciosa que deixa de lado tos aqueles aspectos, em nada desprezíveis, que não podem ser estatisticamente contados. Mas para captar de um modo ou de outro estes acontecimentos únicos ou raros, parece que dependemos de descrições igualmente "únicas "e individuais. Isto resultaria em uma coleção caótica de curiosidades semelhantes àqueles velhos gabinetes de história natural onde, lado a lado com fósseis e monstros anatômicos guardados em vidros, encontram-se o chifre de um unicórnio, o homúnculo da mandrágora e uma sereia mumificada. As ciências descritivas, e sobretudo a Anatomia no sentido mais amplo, conhecem muito bem esses " espécimes únicos ", e aqui basta um só exemplar de um organismo, mesmo sumariamente duvidoso, para comprovar sua existência ( ... )
Nestas circunstâncias nós nos defrontamos com a necessidade imperiosa de verificar se o aparecimento aparentemente único é realmente único nas experiências registradas, ou se alhures não se encontram outros acontecimentos iguais ou pelo menos semelhantes (... ) Não há leis absolutas naturais a cuja autoridade se possa invocar em apoio dos preconceitos. O máximo que se pode exigir, para sermos justos, é que o número de observações individuais seja o mais elevado possível. Se este número, estatisticamente considerado, permaneceu nos limites da probabilidade, então estará provado estatisticamente, de que se trata de uma probabilidade de acaso, mas isto não nos fornece nenhuma explicação. Houve apenas uma exceção à regra. (... ) Ora, em nossa experiência existe um domínio imenso em cuja extensão contrabalança por assim dizer, o domínio das leis; é o mundo do acaso; onde parece que este último não tem ligação causal com o fato coincidente (... ) Como temos uma convicção arraigada a respeito da causalidade absoluta da lei da causalidade, achamos que esta explicação do acaso é suficiente; mas se o princípio a causalidade só é válido relativamente, segue-se que a imensa maioria do acasos pode ser explicada em sentido causal; contudo deve restar um pequeno número de caso que não tem qualquer ligação causal. Encontramo-nos, assim, diante da tarefa de selecionar os acontecimentos causais e separar os acausais dos que podem ser explicados causalmente (...)
Como podemos reconhecer as combinações acausais dos eventos, visto que é, evidentemente, impossível examinar todos os acontecimentos com relação a sua causalidade. A resposta a esta pergunta é que devemos esperar eventos acausais sobretudo onde, após demorada reflexão, nos parece impossível uma conexão causal (... )
Dariex descobriu uma probabilidade de 1:4.114.545 para a precognição "Telepática" ou coincidência acausal significativa (...) 
O escritor Wilhem von Scholz recolheu uma série de casos que nos mostram a maneira estranha como objetos perdidos ou roubados voltam aos seus donos (...) O autor chega à conclusão, em si compreensível, de que todos os indícios apontam para uma "força de atração" destes objetos relacionados. Ele suspeita que os acontecimentos se dispuseram de tal modo, como se fossem o sonho de uma "consciência maior e mais abrangente, por nós desconhecida". (...)
Só em época mais recente é que a prova decisiva da existência de acontecimentos acausais foi apresentada de maneira científica adequada, sobretudo através das experimentações de Rhine e seus colaboradores (...)
Os experimentos de Rhine nos põem diante do fato de que existem acontecimentos que estão relacionados experimentalmente ( o que, neste caso, quer dizer significativamente entre si, sem a possibilidade, porém, de provar que tal relação seja causal; visto que a "transmissão" não revela nenhuma das conhecidas propriedades de energia (...) Por isso, há boas razões para duvidar de que se trata efetivamente de uma "transmissão". Em princípio, as experimentações com o fator tempo excluem qualquer transmissão desse tipo, pois seria absurdo admitir que uma situação ainda não existente, e que só se dará no futuro, possa transferir-se como fenômeno energético para um receptor do presente . Parece mais indicado dizer que a explicação deve começar, de um lado, com uma critica ao nosso conceito de tempo e lugar e, do outro lado, com o inconsciente. Como eu já disse, é impossível, com os recursos atuais, explicar a extra-sensory perception, isto é, a coincidência significativa, como sendo um fenômeno da energia. Isto elimina a explicação causal, porqueos "efeitos" não podem ser entendidos senão como um fenômeno da energia. Por isto, não se pode falar de causa e efeito, mas de uma coincidência no tempo, uma espécie de contemporaneidade. Por causa do caráter desta simultaneidade, escolhi o termo sincronicidade para designar um fator hipotético de explicação equivalente à causalidade (... ) Nas experiências de Rhine o tempo e o espaço se comportam, por assim dizer, "elasticamente" em relação à psique, podendo ser reduzidos, aparentemente, à vontade. Nas experiências com o tempo e o espaço, respectivamente, esses dois fatores reduzem-se mais ou menos a zero, como se o espaço e o tempo dependessem de condições psíquicas, ou como se existissem por si mesmos, e fossem "produzidos" pela consciência".
No pensamento acausal, o centro é o tempo e parece que o feito ocorre antes da causa, ou melhor, ambos acontecem conjuntamente , ao mesmo tempo, pois no fenômeno sincronístico, não é feita distinção entre fatores psicológicos e/ou fatores físicos. Neles, os fatos internos e os externos, estão reunidos.
Na sincronicidade, Jung enfatiza o fato de que se o nexo entre causa e feito é estatisticamente válido, ele é só relativamente verdadeiro, pois a ligação entre acontecimentos em determinadas circunstâncias, pode ser diversa da ligação causal.
Na China, esse é o modo clássico de pensar.
Quando dizemos que o fenômeno tempo é muito mais central na forma sincronística de pensar, é porque nele existe o momento crítico, que é um certo momento no tempo, que vai surgir como elemento unificador, como um ponto focal para observação desse complexo de eventos.
Jung cita:
"Os agrupamentos ou séries de casualidades não têm sentido, pelo menos para o nosso modo atual de pensar, e situam-se quase sem exceção, dentro dos limites da probabilidade.
Existem, contudo, certos casos cujo caráter aleatório pode dar ocasião as dúvidas. Tomarei apenas um exemplo dentre muitos: No dia 1 de abril de 1949 anotei o seguinte: Hoje é sexta-feira. Teremos peixe no almoço. Alguém mencionou de passagem o costume do "peixe de abril". De manhã, eu anotara uma inscrição :Hoje é Sexta-feira. Teremos peixe no almoço. Alguém mencionou de passagem o costume do "peixe de abril". De manhã, eu anotara uma inscrição : Est homo totus medius piscis ab imo ( o homem todo é peixe pela metade, na parte de baixo ). À tarde, uma antiga paciente, que eu não via desde vários meses, mostrou-me algumas figuras extremamente impressionantes de peixes que ela pintara nesse meio tempo. À noite mostraram-me uma peça de bordado que representava um monstro9 marinho com a figura de peixe. No dia 2 de abril, de manhã cedo, uma outra paciente antiga, que eu já não via desde vários anos, contou-me um sonho no qual estava à beira de um lago e via um grande peixe que nadava em sua direção e "aportava", por assim dizer, em cima de seus pés. Por esta época, eu estava empenhado numa pesquisa sobre o símbolo do peixe na História. Só uma das pessoas mencionadas tem conhecimento disso.
A suspeita de que este caso seja talvez uma coincidência significativa, isto é, uma conexão acausal, é muito natural. Devo confessar que esta sucessão de acontecimentos me causou impressão. Ela tinha para mim um certo caráter numinoso. Em tais circunstâncias somos inclinados a dizer: "Isto não é obra do acaso", sem sabermos o que dizer(...) Os casos de coincidências significativas, que devemos distinguir dos grupos casuais, parecem repousar sobre fundamentos arquetípicos (...)
E a sincronicidade aparece em primeiro lugar, como a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que apareçam como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice – versa (...)
Os acontecimentos sincronísticos repousam na simultaneidade de 2 estados psíquicos diferentes. Um é normal, provável ( quer dizer : pode ser explicado causalmente ) e o outro, isto é, a experiência crítica, não pode ser derivado causalmente do primeiro (...) "
Jung continua observando que na sincronicidade, existe uma simultaneidade do estado normal ou ordinário com um estado ou experiência que não pode ser derivada causalmente do primeiro, e cuja objetividade só vai poder ser observada posteriormente. Ele salienta ainda que isso em que ficar claro, por causa do que se refere aos acontecimentos futuros, uma vez que esses não são sincronos, mas sincronísticos, porque como imagens psíquicas no presente, como se o acontecimento físico ou objetivo já existisse à priori. 
A Projeção
PRIVATE�"A mente consciente, além disso, é caracterizada por uma determinada estreiteza. Só consegue contar uns poucos conteúdos simultâneos a cada momento dado. Todo o resto é inconsciente naquele instante, e só poderá atingir uma espécie de contaminação ou um entendimento geral ou percepção consciente de um mundo consciente, através da sucessão de momentos conscientes. Nunca conseguimos conter uma imagem da totalidade porque nossa consciência é um campo restrito de visão momentânea"
Carl Jung
Jung acentua que a consciência é apenas um ponto num vastíssimo mar composto de recordações pessoais, sentimentos ou condutas esquecidas ou reprimidas, chamado inconsciente pessoal. Sendo que ainda mais abaixo dele, existe o mar abissal do inconsciente coletivo, onde encontram-se todas as imagens e comportamentos que vêm sendo repetidos incontáveis vezes ao largo da história não só da humanidade, mas de toda a vida.
Na medida em que vamos saindo do centro (a consciência) para a periferia, cada vez mais vamos nos afogando mais e mais no mar do inconsciente, e tornamo-nos sua presa. 
Quanto mais primitivos, mais inconscientes, e menos somos capazes de desenvolver nossa consciência. Nós então, vivemos num ambiente tal de participation mystique, onde o outro inexiste fora de nós mesmos, e acabamos por vivenciar todos os pensamentos e sentimentos como sendo acontecimentos fora de nós. 
" Quanto mais limitado for o campo da consciência da pessoa, mais numerosos serão os conteúdos psíquicos (imagos) que lhe parecem ser aparições quase externas, seja na forma de espíritos ou como potências mágicas projetadas em pessoas vivas (magos, bruxas, etc...) Quando isso acontece, até mesmo, as árvores e pedras falam" 
Jung, Collected Works
Na verdade, o mundo que se encontra à nossa volta, e o que se encontra dentro de nós mesmos, é contínuo. Não existem definidas demarcações da realidade. 
No entanto, somos forçados a um pensar linear e acabamos por pensar a realidade numa sucessão de seqüências, de causa e efeito, em que, cada efeito é a causa de um outro efeito, e assim, sucessivamente. 
Podemos observar então, que uma árvore só é uma árvore, se a isolarmos do resto da floresta, pois na verdade, originalmente, ela é parte integrante do todo. Assim, só somos também uma entidade separada, porque nosso ego nos isola do resto da humanidade. 
É a consciência então, a responsável pela fragmentação e pelo isolamento no mundo. Ela é quem divide e secciona o mundo, o todo, em pequenos pedaços isolados e sem correspondência clara. 
O homem primitivo por conseguinte, e quanto mais primitivo mais ressaltado, encontra-se num estado de integração total com o todo. Vivenciando um estado de participation mystique com o todo, pois ainda não foi desperto pela consciência. 
O mito de Adão e Eva, isso antes do "pecado", enquanto no paraíso, no Éden, é uma imagem simbólica desse estágio primitivo original. Nesse estágio, ainda não somos capazes de identificar quais conteúdos nos pertencem e quais são uma propriedade do outro, porque o outro, inexiste, é como um continuum de nós mesmos. 
Nesse estágio, o inconsciente é completamente soberano, e é quem vence a guerra e se apossa da personalidade. 
Deryl Sharp, define o inconsciente como a totalidade dos fenômenos psíquicos, destituídos da qualidade de consciência. 
Jung cita em A Estrutura da Psique:
" o inconsciente não é simplesmente o desconhecido, ou o depósitode pensamentos e emoções conscientes que foram reprimidas, mas inclui os conteúdos que podem ou irão tornar-se conscientes"
e em A Natureza da Psique, salienta:
"Assim definido, o inconsciente descreve um estado de coisas extremamente fluido; tudo o que eu sei, mas que no momento não estou pensando, tudo aquilo que antes eu tinha consciência, mas de que agora me esqueci, tudo o que é percebido pelos meus sentidos, mas que não foi notado pela minha mente consciente, tudo aquilo que involuntariamente e sem prestar atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim, e que em algum momento chegarão à consciência; tudo isso é o conteúdo do inconsciente"
E nesse relacionamento com ele, todos aqueles conteúdos que não conseguimos acessar, mas que lá se encontram, sofrem um processo de tentativa de busca de reconhecimento através de um mecanismo inconsciente que é chamado projeção.
Esse é um mecanismo automático, pelo qual os processos de nosso inconsciente, são percebidos nos outros e não em nós, eles ilusoriamente lhes pertencem.
"assim como temos a tendência de supor que o mundo é como nós o vemos, somos também ingenuamente levados a supor que as pessoas são aquilo que imaginamos que sejam... Todos os conteúdos do nosso inconsciente estão sendo constantemente projetados naquilo que nos circunda, e somente reconhecendo certas propriedades dos objetos como projeções ou imagos seremos capazes de distinguí-los das reais propriedades dos objetos.... Cum grano salis, sempre vemos nos nossos oponentes os nossos erros inconfessáveis. Excelentes exemplos disso podem ser encontrados em todas as disputas pessoais. A menos que sejam dotadas de um alto grau de autopercepção, jamais poderemos ver através de nossas projeções; pelo contrário, sempre sucumbiremos a elas, porque a mente, em seu estado natural, pressupõe a existência de tais projeções. A projeção dos conteúdos do inconsciente é um dado natural e incontroverso"
O HERÓI
A figura heróica exerce um poderoso fascínio em nossa psique, pura e simplesmente por personificar o desejo e a figura ideal do ser humano. Seus medos e sofrimentos, seus combates, vitórias e derrotas, fundamentalmente, sua luta pela sobrevivência, fazem com que nos sintamos identificados com esse arquétipo. Nossa identificação com ele nos encoraja a conservarmos nossos valores, mesmo quando não vemos mais esperanças e preferiríamos nos resignar. Ele é o exemplo do que não se entrega, do que encontra a coragem e a motivação em si mesmo para enfrentar todos os obstáculos que encontra em seu caminho. 
Ele é portanto, um modelo de homem criativo, que tem coragem para ser fiel a si mesmo, aos seus desejos, às suas fantasias, às suas próprias concepções de valor. É alguém que se atreve a viver a vida em lugar de fugir dela. Em cada um de nós existe o desejo mesmo que não manifesto de ousar enfrentar os desafios e a vida, e poder ser fiel a si mesmo, a despeito das cobranças que lhe são impostas pelo coletivo. 
Enquanto arquétipo, ele visa a superação de obstáculos e o alcance de determinadas metas. Sua meta é encontrar o tesouro, a princesa, o anel, o ovo de ouro, o elixir da vida, etc... 
É um agente do processo de individuação e seu trabalho consiste em assimilar os conteúdos inconscientes, em vez de ser sobrepujado por eles. O resultado é a libertação da energia que estava presa aos complexos inconscientes. 
Nos mitos e nas lendas, tipicamente, o herói viaja de barco, luta com um monstro marinho, é engolido, luta para não ser mortalmente mordido ou esmagado, e, tendo chegado ao interior do ventre da baleia, como Jonas, procura o órgão vital e arranca-o, conseguindo, assim, a libertação. Ao final precisa retornar às origens e prestar testemunho. 
Em cima do estudo dos personagens heróicos, Rank extrai uma espécie de modelo ou lenda heróica, que se apresenta, em linhas gerais, do seguinte modo: 
1 – Origem : O herói é filho de pais ilustríssimos, quase sempre pessoas pertencentes à realeza. 
2 – A concepção : O nascimento é precedido por dificuldades tais como abstinência, esterilidade ( normalmente da mãe ) ou relações secretas entre os pais. Durante a gravidez ou antes dela, acontece um presságio ( oráculo ou sonho ) que adverte contra o nascimento, que ameaça, geralmente, a segurança do pai. 
3 – Abandono : Em conseqüência dessa ameaça, o recém - nascido é condenado pelo pai ou personagem que ocupa este lugar, a ser morto ou abandonado; geralmente colocado em uma cesta nas águas de um rio ou mais raramente no mar. 
4 – Salvação : O herói é salvo por animais ou gente humilde que cuidam dele por um certo tempo, ou seja, até a sua maturidade. 
5 – Retorno : Já homem, volta a encontrar seus pais, vinga-se do pai, recupera ou salva a mãe e é reconhecido, alcançando grandes glórias. 
Este modelo, variando um ou outro detalhe, pode ser aplicado ao mito de Moisés, Romulo e Remo, Ciro, etc....
Um outro tema do herói é o do ventre de um animal gigantesco: peixe, baleia, dragão ou lobo. Nesse tipo de relato, o herói é devorado por um animal fantástico, passando algum tempo em seu interior, e saindo dali vivo. Frobenius estudando esse ciclo de narrativas entre os povos da África, construiu uma espécie de modelo mítico cujas etapas são as seguintes :
1 – O herói é devorado por um monstro marinho no Ocidente.
2 – O animal leva o herói, rumo ao Oriente. 
3 – Durante a viagem, o herói acende um fogo no ventre do animal ou lhe corta um pedaço do coração.
4 – O peixe chega a uma praia.
5 – O herói sai do ventre do animal e com ele saem outras pessoas que ali também se encontravam.
6 – O calor é tão intenso no ventre do animal que o herói perde os cabelos.
Hércules, em uma de suas muitas aventuras, parte para salvar a princesa troiana Hermíone que se encontrava amarrada a um rochedo, junto do mar, para que um peixe enviado pelo deus do mar Possêidon, viesse devorá-la. Hércules se aproxima da princesa e, então, surge o peixe com as fauces abertas. Hércules salta na bocarra do animal , penetra-lhe o ventre e ali fica três dias e três noites. Como no modelo mítico de Frobenius, Hércules perde também os cabelos em virtude do excessivo calor do ventre do peixe. A perda dos cabelos ou tonsura é um símbolo do nascido. Hércules renasce ao sair do ventre do peixe.
O caso, mais conhecido é, sem dúvida alguma, o de Jonas que se encontra no antigo testamento no livro que leva o nome desse profeta. Conforme o relato bíblico, Jonas, que como Hércules, ficou três dias e três noites no ventre do peixe. Findo este período, o peixe o devolve à luz , são e salvo nas praias de Nínive. Novamente, a voz do Senhor se fez e impõe-lhe a missão de levar a palavra de vida eterna aos ninívitas. 
Nos contos populares, o tema do monstro devorador aparece com alguma freqüência. Pinocchio é engolido juntamente com Gepeto por uma baleia e Chapeuzinho Vermelho é devorada pelo lobo. Os membros da Escola Solarista, derivada do orientalismo alegórico de Max Müller, interpretavam essas incursões de heróis no ventre de monstros como uma imagem recorrente do Sol, engolido pela noite e a sua saída do interior do monstro como o nascimento do sol no dia seguinte.
Jung em seu livro Símbolos da Transformação, assinala: 
"O sol escapa do abraço e do enlaçamento, do seio envolvente do mar, subindo triunfante e, deixando atrás de si o apogeu do meio-dia e toda a sua gloriosa obra, torna a mergulhar no mar materno, na noite que tudo cobre e tudo faz renascer. Esta imagem foi certamente a primeira a tornar-se, com a mais absoluta razão, a expressão simbólica do destino humano (...) O curso natural da vida exige antes de mais nada do jovem o sacrifício da sua infância e de sua dependência infantil em relação aos pais verdadeiros, para que não fique ligado a eles pelo laço do incesto inconsciente, prejudicial para o corpo e para a alma (...) Com a separação das fronteirasda infância, almeja-se uma consciência autônoma. O sol afasta-se das névoas do horizonte e alcança a claridade transparente da sua posição ao meio-dia. Atingida essa meta, ele volta a declinar para aproximar-se da noite. E se manifesta de um modo que poderia ser alegorizado pelo gradual escoamento da água da vida (...)
As convicções transformam-se em discos gastos, os ideais em hábitos rígidos e o entusiasmo em gestos automáticos (...) tudo que é jovem um dia envelhece, toda a beleza fenece, todo o calor esfria, todo o brilho se apaga e toda a verdade torna-se insípida e trivial, pis todas essas coisas um dia tomaram forma, e todas as formas estão sujeitas à ação do tempo; envelhecem, adoecem, desintegram-se, caso não se transformem. Podem transformar-se, pois a centelha invisível que um dia as gerou é capaz de criação infinita, pela sua força eterna.. Ninguém vai negar o perigo da descida, mas podemos arriscar (...) a cada descida segue-se uma ascensão. As formas desvanecem e se modificam, e uma verdade só é válida a longo prazo quando se transforma, dando novamente testemunho através de novas imagens, de novas línguas, como um vinho novo e acondicionado em odres novos"
E Lutz Müller, cita em O Herói
"Os mitos do herói recém nascido significavam talvez o sol vigoroso saindo da água, ao qual as nuvens se opõem em seu nascimento, mas que no final, supera todos os obstáculos de maneira vitoriosa.
Ou então, a luta do herói com monstros terríveis, sendo devorado e ressurgindo em seguida, e o seu casamento final com a Grande-Deusa, seriam uma viagem das diferentes fases da lua ou da alternância do sol e da lua. Outros descrevem que no caminho do herói, refletem-se ciclos anuais da natureza, e associam-nos aos ritos da fertilidade e ao relacionamento entre mulher e homem nas sociedades matriarcais"
A psicanálise, entretanto, tem uma outra leitura para esse mitema. Segundo a psicologia de Jung, essas entradas de heróis no ventre dos monstros significa, em alguns casos ( casos psicóticos ) a regressão ao útero materno, mas o que constitui o fenômeno universal: 
" ( ... ) é a nostalgia do estado de semi – inconsciência. O apego à matriz escura e tépida, a mãe em largo sentido simbólico. A frágil consciência, aquisição recente do homem, recua diante do mundo externo e sua múltiplas dificuldades; sente atração para mergulhar de novo no inconsciente. Mas tão grande regressão, ameaçando a preservação da vida provoca impulsos compensatórios que partem do próprio inconsciente, impulsos que impelem a titubeante consciência para a luz. O inconsciente é o ventre escuro que aconchega ( o grifo é nosso ) mas também todo o ventre tende a parir . A consciência nasce do inconsciente." ( Da Silveira. Op.cit. 175.)
Ao lado deste mitema, há um outro a ele aparentado e que com ele se confunde muitas vezes: o tema da descida. Neste caso, o herói vai ao Reino dos Mortos para buscar alguém que lá se encontra ( Hércules, Teseu, Orpheu, Ishtar ) ; para fazer consultas aos mortos ( Ulisses e Eneias ) ; para se qualificar como vencedor da morte ( Jesus ) ; por ser raptado por algum deus do mundo subterrâneo ( Perséfone ). 
A descida ao Amenti, Aralu, Hades ou Sheol como a entrada no ventre do animal fantástico é uma prova qualificatória que implica o renascimento do herói, condição fundamental para que ele encontre a maturidade. Jesus deixa isso claro ao dizer a Nicodemos: 
Normalmente se imagina que os arquétipos, enquanto imagens primordiais, pertencem a um passado remoto, um passado esquecido no dizer de Erich Fromm; entretanto os arquétipos desempenham ainda hoje, na atividade psíquica do homem um papel tão importante quanto ao que exerceu na mente do homem pré-histórico, quando não havia ainda a unidade da personalidade e a consciência começava a se desenvolver.
Os símbolos são eternos e existem no homem, com o homem, para o homem e pelo homem; por isso, não há diferença considerável entre o super-homem da mitologia contemporânea e o Hércules da mitologia grega ou entre a bela feiticeira Medéia e o Anjo Azul vivido por Marlene Dietrich. Os heróis antigos deveriam lutar de modo permanente contra as forças do mal. 
O que o mito do herói nos revela, é que o mal e o bem não existem um sem o outro e não existem fora mas dentro do próprio homem; por isso esta luta das trevas contra a luz, de Arhyman e Ormuzd foi, é e será enquanto esta doença chamada homem caminhar por esse planeta. Esta é uma luta arquetípica, humana, portanto sem a qual o homem perderia a melhor parte de si mesmo. 
Joseph Campbell, em O Herói das Mil Faces, decompõe em fases, a Jornada do Herói.
A Partida: 
O chamado da aventura 
A recusa do chamado 
O auxílio sobrenatural 
A passagem pelo primeiro limiar 
O ventre da baleia 
A Iniciação: 
O caminho de provas 
O encontro com a deusa 
Mulher como tentação 
A sintonia com o pai 
A apoteose 
A benção última 
O Retorno: 
A recusa ao retorno 
A fuga mágica 
O resgate com auxílio externo 
A passagem pelo limiar do retorno 
Senhor dos dois mundos 
Liberdade para viver 
Nas palavras de Campbell: 
" O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento); pode da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento, crucifixão). Além do limiar então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas) , ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento por parte do pai criador ( sintonia com o pai ), pela sua própria divinização ( apoteose ) ou, mais uma vez – se as forças se tiverem mantido hostis a ele – pelo roubo por parte do herói, da benção que ele foi buscar ( rapto da noiva, roubo do fogo ) ; intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do rei ( iluminação, transfiguração, libertação ). O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoarem o herói, ele agora retorna sob sua proteção (emissário ) ; se não for esse caso, ele empreende uma fuga e é perseguido ( fuga de transformação, fuga de obstáculos ). No limiar do retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás, o herói reemerge do reino do terror ( retorno, ressurreição ). A benção que ele trás consigo restaura o mundo ( elixir ). " O Herói das Mil Faces 
 
É importante ressalvar, que essa jornada heróica nada mais é do que a evolução da consciência, que é também a jornada da volta do Eu, a nossa volta à Centelha divina que jaz em nosso centro imóvel e imutável, aquilo que é ao mesmo tempo nossa essência singular e nossa interseção com tudo mais. Trata-se de uma jornada de volta à plenitude. Além disso, constitui-se no distanciamento de uma definição que é puramente material e reducionista da "realidade" e a aproximação de uma perspectiva mais espiritual.
O primeiro estágio da jornada é um movimento rumo à individuação, reparação da coletividade. Em seguida, procede-se a uma integração e síntese dos opostos interiores e dos elementos não reconhecidos, inclusive e principalmente o masculino interior ( animus ) e o feminino interior ( anima ),para que se possa chegar à plenitude.
O estágio final, consiste em empreender a jornada de volta à coletividade como pessoa integral, plena, dona de dons exclusivos a oferecer. Nem todos ouvem ou dão ouvidos ao chamado à Aventura e partem para essa jornada. Dentreos que o fazem, alguns não retornam. A jornada interior é cheia de perigos, e somente o verdadeiro herói que tem como objetivo final a conquista do Graal, da sua verdadeira essência, do Eu superior, do Self, somente a ele, é garantida a vitória, ao vencer o monstro ( o inconsciente) , casar com a princesa e tornar-se o verdadeiro senhor do castelo.
O que se pode auferir da figura do herói é que representa o ser humano exemplar que se esforça por uma renovação social, pelo domínio criativo da vida e pela ampliação da consciência. 
Mas vale também a observação de que o caminho do herói não é algo masculino ou feminino ou reservado apenas aos homens, pois na medida em que homens e mulheres ultrapassam suas tarefas e funções biológicas, as diferenças se anulam, e os aspectos comuns vêm à tona.
A Jornada de Psiquê é uma jornada "feminina", ao passo que a de Parsifal é "masculina", embora evidentemente, ambas falem tanto aos homens como às mulheres.
Muitos de nós repetimos essa jornada em diferentes momentos da vida, e em diferentes circunstâncias, com ciclos de significação, intensidade e importâncias variáveis.
 
O Puer Aeternus
Puer Aeternus é o nome de um deus da Antiguidade. É o deus-criança que jamais cresceu ou amadureceu. Sua imagem muitas vezes foi associada à de Dioniso, Tammuz, Dumuzzi, Átis, Bálder, etc...
Puer aeternus significa juventude eterna, o eterno adolescente, aquele para quem a maturidade e a individuação não se constituem em um objetivo em si mesmo, pois eles se deixaram ficar aprisionados por um complexo materno fora do comum, que os levou a um comportamento típico, comum ao padrão.
Essa é uma expressão latina para "eterna criança" e que é usada na mitologia para designar um menino-deus eternamente jovem; psicologicamente, refere-se a um homem mais velho, cuja vida emocional permaneceu num nível adolescente, frequentemente com excessiva dependência da mãe.
Em primeiro lugar, ele se comporta com um eterno adolescente, que em sua postura, que em sua maneira de se vestir ou falar, e mais do que tudo, supervaloriza a importância da mãe em sua vida.
Em alguns e não poucos casos, esse arquétipo empurra o indivíduo para a homossexualidade; em outros, faz com que sejam acometidos pela síndrome do Don Juan.
Em ambos os casos, o que ele mais encontra em relação à vida, é uma enorme dificuldade de adaptação às situações sociais com as quais se depara. Emocional, social ou profissionalmente, nada é "ainda" o que ele quer, o futuro ainda está por acontecer, e ele "sente" que ainda pode esperar. Existe uma recusa interior em viver o presente. O tempo dele ainda não chegou.
Ele leva uma vida tipicamente provisória pelo temor de ser pego numa situação da qual não poderia escapar.
Seu quinhão poucas vezes é aquele que ele realmente quer e um dia ele resolve isto – mas não já. Os planos do futuro transformam-se em fantasias do que poderá acontecer, do que poderia acontecer, ao passo que nenhuma atitude decisiva é tomada para uma mudança, Anseia por liberdade e independência, irrita-se com limites e fronteiras e tende a achar intolerável qualquer restrição.
Ele é alguém muito impaciente por temperamento, possui uma atitude de irritação com relação à manutenção. Sua marca é necessidade de ainda ter que conquistar. A rotina não foi feita para sua vida, e o puer segue por ela como Peter Pan, voando sempre para a terra do Nunca.
O Puer não é um herói, mas é capaz de sujeita-se à dor, ao sofrimento e ao sacrifício a fim de cumprir sua missão.
Ele é a criança divina, com potenciais que ainda não chegaram a amadurecer, e portanto independem de tempo e espaço.
O Puer é alguém que ainda é criança, ainda é um adolescente. Não se tornou um homem e nunca irá se tornar, pois senão, deixa de ser um puer, o início de alguma coisa.
Onde o puer é dominante, o início de algo é sempre muito mais atraente do que o seu término.
Ele encarna uma espécie de anseio mágico.
Os sintomas mais comuns na psicologia do puer são sonhos de prisões e imagens similares, tais como gaiolas, barras, correntes, ciladas, cativeiros. A própria vida, a realidade existencial é sentida como uma prisão. As barras são os laços inconscientes com o mundo livre da primeira infância.
 
Jung:
"O mundo impõe suas exigências sobre a masculinidade de um homem, sobre seu ardor, e acima de tudo sobre sua coragem e decisão, quando se trata de por no prato da balança todo seu ser.
Por isto, precisaria de um Eros fiel, capaz de esquecer a própria mãe e submeter-se à dor de abandonar o primeiro amor de sua vida" 
 
 
O Feminino 
 Totalizante 
 
 
É fato sabido e reconhecido na atualidade, a androginia humana. Os homens possuem sua contraparte feminina, sua anima, que nos fala de sua feminilidade inconsciente. As mulheres, sua contraparte masculina, seu animus, que se refere à sua masculinidade inconsciente. 
O Homem Cósmico Universal, Adan Kadmon, é citado como sendo um ser andrógino, e essa imagem, é anterior a de Adão, conhecido dos textos bíblicos. 
Em seu hermafroditismo, existiriam Adão e Lilith, a mulher que fora criada junto ao homem, ambos saídos do barro. Durante esse período, ambos, macho e fêmea, faziam parte da psique consciente desse Ser Primordial. O masculino e o feminino eram iguais em dignidade e ambos provinham da Mãe Terra, a geradora da vida, sacatando os desígnios de Deus. 
Lilith era então a mulher primordial, era a primeira esposa e a outra metade de Adão, ambos eram iguais em dignidade. 
Consta ainda no mito, que por não querer ser subjugada, Lilith fugiu e Deus então ouvindo os apelos de Adão, decidiu criar uma companheira para ele, uma mulher criada a partir da costela dele próprio, de onde foi feita Eva, a mãe de todos os seres humanos. 
Lilith passa então, a fazer parte da psique inconsciente de Adão, da sua anima. 
O que podemos observar é que o estado humano originário é um ser andrógino, sem diferenciação, e que é a construção do ego que separa o componente feminino do homem e o masculino da mulher, relegando-os ao inconsciente, sendo que o objetivo final da existência, é a união desses dois elementos, o masculino com o feminino, o inconsciente com o consciente. A união dos opostos na psique. 
Temos inicialmente então, ao nascer, esses opostos fundidos na psique; ao longo da vida, com a construção do ego, o seu processo de diferenciação; e como alvo final, a união dos dois na psique, a que Jung denominou individuação. 
 
Desde os tempos mais remotos, a lua é associada à mulher e é ela quem nos dá a fertilidade, o poder de gerar tanto homens como animais e plantas. As mulheres eram tidas como sendo da mesma natureza da lua e essa associação era feita em função de seu ciclo menstrual ser de 28 dias, assim como o ciclo da lua. A Lua, a mulher, o feminino então, era o regente do mundo transitório e mutável, regendo a menstruação, o nascimento, a morte, os animais e os vegetais. 
Na fase crescente, a lua simbolizava o poder da fertilidade e do crescimento. Na fase minguante, ela simbolizava o poder de morte e destruição. 
A lua era então, o poder do feminino, aquele que tanto gerava a vida como era capaz de gerar e acolher a morte e as deusas eram um símbolo desse feminino, desse ciclo de nascimento, crescimento, destruição e morte.. 
Nesse período, na fase matriarcal, essa energia do feminino era representada pela imagem das deusas que se encontravam diretamente ligadas à terra, à fertilidade e à energia que gerava a vida. 
 
Ao se falar nas deusas, estamos falando de componentes arquetípicos, fatores não-humanos, à uma energia, conectada com o reino do feminino, embora atuante em ambos os sexos. Só que essa energia, contém em si tanto o aspecto positivo do feminino (lua crescente), quanto o aspecto negativo (lua minguante). A vida e a morte. 
O reino do feminino, é o domínio das moiras, nornas e parcas, as fiandeirasque tecem nosso destino 
Em todas as culturas eram encontradas imagens da deusa como diferentes nomes em épocas e locais diferentes, Inanna, Ishtar, Astarte, Anaíta, Atar, Afrodite etc..., mas que na verdade era uma só posto que um único princípio. 
Elas se encontravam associadas ao próprio ciclo de reprodução dos vegetais e usualmente seu culto possuía relação com o grão e a colheita. Essas divindades eram unas em si mesmas e não possuíam maridos aos quais pertencessem: eram virgens no sentido psicológico do termo. 
Elas pertencem ao sistema matriarcal não ao patriarcal, e são consideradas não apenas mães de seus filhos, mas de toda a vida na terra, além de serem as responsáveis pela destruição do mundo. 
Com o passar do tempo, quando a cultura agrária foi deixando de ser a mais relevante, e a conquista de novos territórios foi ganhando espaço entre os povos, houve uma transição de sistema. Essa transição na Suméria é representada pela figura de Gilgamesh, quando esse repudia Inanna; sendo ainda retratada posteriormente na mitologia grega, pelo roubo do Oráculo de Delfos, que pertencia a Deusa da Terra, por Apolo o deus Sol, e pelo julgamento de Orestes, quando esse é absolvido do crime de matricídio, o crime mais hediondo até então. 
 
O que torna-se relevante para nós, é que a Deusa-Mãe era a representação do mistério que incluía vida e morte e destino. Essas qualidades que compunham o universo de uma só deusa, eram o repositório da consciência do todo, da nossa totalidade feminina. Esse universo foi arrastado para o submundo, para o inconsciente, pelo patriarcado que dividiu o poder da Grande-Mãe entre as deusas gregas, bastante posteriores às culturas da Suméria e Babilônia. 
Essas deusas se tornaram cada uma delas, as herdeiras de determinadas qualidades, poderes e atributos que unidos formariam o todo, o reino da Grande-Mãe. Isso quer significar, que esse arquétipo embora tendo se tornado fracionado entre as deusas, ainda faz parte de nosso mundo interior, de nosso inconsciente, do submundo psíquico. 
 
As deusas gregas são mais facilmente reconhecíveis em nós, pois fazem parte da estrutura psicológica em que vivemos na atualidade, elas são um resultado da consciência patriarcal. 
O padrão arquetípico das deusas gregas, que atua em nosso interior consegue de uma certa forma então, caracterizar nossas singularidades, fazendo-nos mulheres diferentes umas das outras. Através delas, acabamos por conhecer à nós mesmas.. 
Podemos tomar por base sete padrões míticos do feminino, que na Mitologia Grega são representados pelas Deusas: Deméter, Perséfone, Hera, Afrodite, Ártemis, Atena e Hera. Todos esses padrões são reconhecíveis nas mulheres contemporâneas. Elas se tornam atuantes por intermédio de cada uma de nós mulheres, que respondemos atuando um determinado padrão. 
Para que melhor possamos entender esses padrões, é interessante que nos reportemos às sete deusas, com seu mito e suas características próprias. 
E à essa viagem, estão todos convidados. 
 
Um arquétipo define um padrão de comportamento., ele é uma energia bastante poderosa, contudo, vale ressaltar, não humano. Em razão disso, todos os sete arquétipos do feminino, caracterizam-se por sua unilateralidade o que não os torna completos. A individualidade, o ser único, é composta por padrões individuais e não arquetípicos. Para que possamos nos tornar humanas, distintas, individuais, precisamos fugir a esse padrão, e incorporar em nós as diversas facetas que podem vir a se constituir numa única personalidade. São as nossas diferenças individuais reconhecidas e aceitas que nos apontam como um ser individuado, e para que alcancemos esse estágio de desenvolvimento individual, é necessário que consumemos internamente, o casamento quaternio: o aspecto feminino e o masculino da divindade, acompanhado de suas respectivas sombras, assim como é necessário a integração consciente de nossa própria sombra pessoal. 
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A Sacralidade da Experiência Interior
" o telos matriarcal da psique humana existe no sentido de um estado de consciência no qual o indivíduo tende a aproximar-se progressivamente de uma fonte interior, fonte essa ao mesmo tempo de toda a consciência e, assim, de qualquer significado presente no universo "
John P. Dourley
O progresso na nossa vida espiritual, assim como no encontro com o Si-mesmo, depende da nossa capacidade de entendermos Deus e, a menos que compreendamos a onipresença e a onipotência de Deus, não seremos capazes de progredir nessa tarefa.
Em uma entrevista de televisão na BBC que Jung concedeu pouco antes de morrer em 1961, seu entrevistador, John Freeman, lhe perguntou se ele acreditava em Deus. Ele respondeu:
"Não preciso acreditar, eu sei " 
Essa é a experiência do místico, essa sabedoria e essa certeza, que não passam pela razão, ou pelo acreditar ou não, mas que é o resultado da magnitude do contato, e que torna manifesta a existência à priori de Deus.
Para Jung, Deus era uma experiência tremenda e impressionante, algo inquestionável.
Jung entendia ainda, que muitos dos males do mundo deviam-se em grande parte, ao fato da humanidade ter-se distanciado de suas raízes religiosas.
Ele foi criado num clima de profunda religiosidade; era filho de um pastor protestante e de uma mãe, cujos seis irmãos eram todos religiosos; assim, ele teve ao longo de toda a sua vida, um grande interesse pelos temas religiosos, com os quais sempre manteve uma certa familiaridade.
Certa vez, já idoso, ele comentou:
"ninguém me poderia fazer abandonar a convicção de que me havia sido destinado fazer o que Deus queria, e não o que eu queria. Isso me deu fforças para seguir o meu próprio caminho. Com frequência, tinha a sensação de que, em todas as questões decisivas, eu não estava mais entre os homens, mas sozinho com Deus"
Essa certeza interior, fez com que fosse deslocado o centro da sua vida, das garras dos desejos do ego, para uma conexão com o transpessoal, com o reino do divino, ampliando as perspectivas da sua personalidade como um todo.
E mais tarde:
"Descobri que todos os meus pensamentos giram em torno de Deus, como os planetas giram em torno do Sol, e são atraídos com a mesma fforça irresistível por ele. Sinto que seria o maior dos pecados se eu tentasse opor qualquer resistência à essa força"
À essa força, Jung deu o nome de SELF ou Si-mesmo, esse centro regulador de nossa vida interior, cujas experiências são repletas da numinosidade, que é característica das mais profundas experiências religiosas. Por isso, Jung acreditava que não havia nenhuma diferença essencial entre o Self enquanto realidade experimental e psicológica e o conceito tradicional de uma divindade suprema.
O Self é um arquétipo da totalidade, o centro regulador da psique; na realidade, um poder transpessoal, uma força que transcende ao ego. Sua natureza é incogniscível, assim como a natureza de Deus.
O arquétipo do Self então, em Jung, declara que o desenvolvimento interno da personalidade, busca uma representação baseada na Antiga Sabedoria, que nada mais é do que uma representação do princípio espiritual, e que nos impulsiona para que nos tornemos no "homem completo".
Através do Self ou Si-mesmo, é que somos instados a solucionar o problema da relação com as duas realidades que nos são impostas, a realidade interior e a exterior, problema extraordinariamente difícil, tanto ética quanto epistemologicamente, cuja solução feliz só pode ser alcançada por aquele que foi escolhido ou agraciado com o chamado para o despertar.
O estar integrado ao Self significa para a personalidade consciente, não apenas uma translação do centro psíquico com os referenciais com os quais se identificava até então, como em consequência ou resultado disso, adotar uma atitude ante a vida e uma concepção dela mesma, completamente modificada. Significa passar ou vivenciar uma "transformação " em seu sentido mais literal.A concentração nesse centro, é prerrogativa absolutamente indispensável para que essa transformação ocorra.
Antes de julgar-se transformada então, ou antes que a verdadeira transformação se processe efetivamente, a pessoa deverá ser "mordida " pelos seus animais interiores, isto é, ela terá que se expor aos seus impulsos animais inconscientes, sem que se identifique com eles.
Não se constitui isso, no liberar a impulsividade sem freios, pois isso se manifestaria numa identificação com esses impulsos; nem tampouco, fugir desses conteúdos, pois isso seria dar espaço à repressão; mas, o que é exigido no caso, é a conscientização e o reconhecimento da sua realidade; fazendo com que o elemento de periculosidade desses conteúdos seja despotencializado, perdendo a importância por si mesmo. A repressão representaria uma fuga para o inconsciente, o que tornaria ilusória a finalidade desse processo.
É necessário então, que a pessoa não fuja, mas viva todas as etapas do processo, articulando-as com a consciência, tratando de compreendê-las da melhor forma possível.
Esse processo de conscientização muitas vezes, gera uma tensão insuportável motivada pela inesperada incomensurabilidade da vida consciente e do processo no inconsciente, o qual unicamente pode ser vivido no mais íntimo da pessoa, no fundo de seu coração, sem afetar a superfície visível da vida.
Jung adverte que para que a transformação se efetive de verdade, a vida cotidiana não deverá ser interrompida nem por um único dia, muito menos o trabalho profissional diário. Muito embora seja comum a existência de um estímulo interno nesse sentido. Ele acentua que essa é a única garantia do surgimento de uma nova ordem psíquica.
Jung sempre enfatiza que o ponto-chave é a contenção e não a repressão, pois a contenção é uma decisão moral, que assegura que o lado humano venceu o lado animal, não se encontrando mais à mercê dos seus instintos, nem temendo sucumbir com eles, mas que, tal qual a carta 11 do Tarô, a Força, o indivíduo foi capaz de domar a fera de sua instintividade animal, subiu um degrau na escala evolutiva, e honrou o ser chamado de "homem", cumprindo o destino para o qual foi criado por Deus.
Jung e a Religião
O termo religião nele se subdivide finalmente em duas acepções profundamente diferentes, sem por isso serem inconciliáveis. De um lado, uma confissão que toma sua origem numa profissão de fé determinada – catolicismo, protestantismo, etc... – e, de outro lado, uma experiência ou uma série de experiências primordiais, nas quais o homem entra em relação com um sagrado que provoca nele o sentimento de "numinoso". No primeiro caso, a religião se apresenta como um sistema de representações fixas, um conjunto de símbolos nos quais as significações culturais esse sobrepõem às correspondências psíquicas naturais e geralmente as oculta. Ela supõe o fenômeno da crença e o prolonga com um corpo de dogmas: sem impedir a possibilidade de uma relação entre o crente e seu Deus, ela não o encoraja e se apresenta, por meio de seus ritos e suas liturgias, como mediadora necessária graças à qual o homem encontra o divino.
A segunda definição de religião, no sentido da experiência religiosa anterior a qualquer especificação confessional, com a própria aprovação de Jung, constitui um domínio eletivo para sua psicologia. A partir de 1930-1935, não há uma só obra que não trate de um de seus aspectos. Psicologia e religião (1937) define claramente o que é necessário entender por "religião"; de início uma "atitude particular do espírito humano", uma "atitude de observação atenta e de consideração minuciosa de certos fatores dinâmicos, julgados pelo homem como potências"; independente de toda "profissão de fé determinada ", ela "designa a atitude particular de uma consciência que foi modificada pela experiência do numinosum ". Ou ainda: "A religião é uma relação com o mais elevado ou o mais forte valor, seja ele positivo, seja negativo".
No conceito junguiano de religião, dois níveis se recobrem e se entrecruzam: aquele em que "as diversas confissões são as formas codificadas e dogmatizadas de experiências de origem religiosa" , e o "da experiência religiosa primordial, independente daquilo que as confissões fizeram".
É este segundo aspecto que apaixona Jung, porque aí ele encontra o eco vivo dos arquétipos, amplificados pelos símbolos. O que o espalda a princípio é o caráter irredutível do religioso como tal: "A experiência religiosa é absoluta. Em sentido próprio, ela é indiscutível". Segue-se daqui que nenhum método redutor, seja qual for, é apto a captar a sua especificidade. Se a observação se pretende autêntica, ela deve reconhecer primeiro que os processos psicológicos expressos sob os termos experiência religiosa são um dado natural e geral do espírito humano.
Em 1932 Jung afirma: "De todos os meus clientes (...) com mais de trinta e cinco anos, não havia um só cujo problema fundamental não fosse o da atitude religiosa. Em última análise, todos haviam adoecido pelo fato de terem perdido o que as religiões vivas de todos os tempos deram a seus fiéis. Nenhum de fato ficou curado enquanto não reencontrou uma atitude religiosa" Ou, como diz o seu discípulo Charles Baudouin : "De um ou de outro modo, é preciso que o ser humano aprenda a reconhecer em si a existência de uma função religiosa, que se alimentará de alimentos grosseiros quando negligenciarmos propor-lhe alimentos refinados."
Todas as preocupações de Jung na segunda metade de sua vida tendem a mostrar como essa "função religiosa " é uma disposição natural da alma. Ele prova que tal função apela constantemente aos processos de simbolização, isto é, à colaboração do consciente e do inconsciente numa psique unificada. Ela se enraíza portanto na potência escondida dos arquétipos: a experiência religiosa é em primeiro lugar, experiência do inconsciente coletivo. "revelação natural", que faz o homo religiosus pressentir a presença de um supraconsciente transpessoal. Recolocando o indivíduo no curso vital de uma tradição que participou na constituição de seu substrato psíquico, ela lhe restitui sua pertença espiritual e o faz descobrir as origens profundas de suas representações. 
Embora Jung fosse religioso, desenvolveu uma séria desconfiança em relação as crenças religiosas dentro das quais foi criado. A religião de seu pai lhe parecia uma impostura, já que entendia que os frequentadores da igreja não tinham uma convicção real das palavras que diziam ou cantavam. Ele percebia que não havia nenhuma experiência viva por trás disso, que era algo mecânico e não sentido. Mesmo a fé de seu pai, ele questionava, e em Memórias, Sonhos e Reflexões, coloca:
"Foi nesse momento que comecei a sentir dúvidas profundas em relação a tudo o que meu pai dizia . Quando ouvia seus sermões, pensava em minha própria experiência. Suas palavras eram insípidas e vazias, tal como de uma história contada por alguém que nela não crê, ou que só a conhece por ouvir dizer. Queria ajudá-lo mas não sabia como. 
Uma espécie de pudor impedia que lhe contasse minha própria experiência, ou me imiscuísse em suas preocupações pessoais. Por um lado, sentia minha insuficiência e, por outro lado, temia expor o sentimento de autoridade que minha "segunda personalidade" me inspirava. 
Mais tarde, aos dezoito anos, mantive inúmeras discussões com meu pai, sempre com secreta esperança de fazê-lo sentir algo da graça maravilhosamente eficaz e ajudá-lo em seus conflitos de consciência. Estava convencido de que, se ele cumprisse a vontade de Deus, tudo se resolveria da melhor maneira possível. Infelizmente nossas discussões jamais chegavam a uma solução satisfatória. Elas o irritavam e entristeciam. "Pois bem – costumava dizer – você só quer pensar. Mas não é isso que importa. O que importa é crer ". E eu pensava : não, é preciso experimentar e saber; e acrescentava : "Dê –me essa fé". Ele se erguia e ao afastar-se encolhia os ombros, resignado.(...) Vivia em contato com a natureza, com a terra, como sol, com a lua e com as intempéries, diante das criaturas vivas e principalmente da noite, dos sonhos e de tudo o que "Deus" evocava imediatamente em mim. Ponho a palavra "Deus" entre aspas, pois a natureza ( eu inclusive ) me parecia posta por Deus, como não-Deus, mas por Ele criada como uma sua expressão. Não me convencia de que a semelhança com Deus se referisse apenas ao homem".
Jung efetivamente, se preocupava com o conhecimento de Deus, com a consciência intuitiva imediata de Deus, não na fé intelectual, divorciada das experiências em que acreditava. Havia um anseio profundo em perceber Deus na própria experiência humana. E assim, em Psicologia e Alquimia, ele parte para a crítica a alguns teólogos, dizendo: 
"Em um engano realmente trágico, esses teólogos não percebem que não é uma questão de teólogos provando a existência da luz, mas de pessoas cegas que não sabem que seus olhos poderiam enxergar. Já é mais do que tempo de tomarmos consciência de que não adianta nada louvar a luz se ninguém consegue vê-la. É muito mais necessário ensinar as pessoas a arte de ver". 
O que ele apregoava era a necessidade de se ter consciência da natureza abrangente de Deus. Foi por ser profundamente religioso, que se mostrou capaz de lançar uma nova luz sobre todo o campo da psicologia religiosa.
Jung afirmava que tudo o que a pessoa deve conhecer, deve ser conhecido através da psique, mas que inevitavelmente deverá passar pelo coração, pois é nesse centro onde as diversas transformações se processam – até mesmo a realidade de Deus, e em consequência disso, o pensamento de Jung contém em seu bojo uma explicação da gênese da experiência religiosa, em todos os seus aspectos. Para Jung, a experiência religiosa viabiliza-se, através da ativação das energias imensas dos arquétipos, e pela experiência que o ego tem da numinosidade que reveste os símbolos, mitos e preceitos rituais, oriundos dessa ativação, que acaba por minimizar a sensação de poder do ego. Ele passa a ser relativizado. Assim, as religiões do mundo e sonhos noturnos, originam-se da mesma fonte.
E. S. Pinks, faz justiça a Jung quando diz que a contribuição de Jung para a psicologia religiosa supera a de qualquer outro autor desse século.
O maior problema de Jung é que ainda hoje o mantém como alvo de numerosas críticas sobre o seu posicionamento e suas teorias no campo da religiosidade, é porque seus primeiros escritos mostram-no incerto quanto a existência de Deus. Embora fosse profundamente interessado em religião e afirmasse contra Freud, o seu valor especial para a humanidade, ele não estava preparado no início da carreira para comprometer-se com a realidade objetiva de Deus. Isso devia-se em parte à atmosfera agnóstica dos círculos científicos que frequentava e em parte à sua adesão à posição filosófica de Kant de que não podemos saber absolutamente nada sobre o que as coisas são em si mesmas; tudo o que podemos conhecer são os fenômenos, as aparências; a realidade por trás das aparências é completamente desconhecida para nós.
No entanto cabe a nós acreditar ainda, que havia uma razão muito mais forte do que as anteriores, e essa preocupação se constituía em estabelecer sua psicologia sobre bases científicas, e portanto, empirícas.
Em consequência desse seu titubear no início da carreira, sofreu críticas de todas as correntes de pensamento. Os psicólogos acusavam-no de místico, e diziam que não passava de um crente que manipulava os fatos psíquicos no interesse da crença teísta. Por outro lado, os teólogos, assim como o próprio Freud, o consideravam um ateu, e diziam que a sua psicologia oferecia um meio de explicar a religião sem a existência de Deus.
Jung no entanto, sempre afirmou que a psicologia não poderia nem provar, nem rejeitar a existência de Deus; e nem mesmo a experiência de Deus pode provar que Deus existe. Mas falando como ser humano, e não como cientista, sempre declarou sua fé. 
Certa vez, numa conversa com Hostie, comentou:
"’É bastante claro que Deus existe, mas porque as pessoas estão sempre me pedindo para provar isso psicologicamente?".
Palavras de Jung, com relação a Freud e ao meio da época: 
"Foi principalmente sua atitude em relação ao espírito que me pareceu problemática. Cada vez que a expressão de uma espiritualidade se manifestava num homem ou numa obra de arte, ele desconfiava e recorria à hipótese da " sexualidade recalcada". Tudo o que não era imediatamente interpretável como sexualidade se reduzia, segundo ele a "psicossexualidade". Objetei que logicamente, levadas às últimas consequências, suas hipóteses conduziam a raciocínios que destruíam toda a civilização; esta tomava a aparência de uma simples farsa, consequência mórbida do recalque sexual. "Sim", confirmou ele. É assim mesmo. "É uma maldição do destino em face da qual somos impotentes". Eu não estava absolutamente disposto a dar-lhe razão, nem a permanecer nessa atitude. Não me sentia, porém, à altura para discutir com ele (...)
(...) Era evidente que Freud tinha um apego enorme a sua teoria sexual. Quando falava sobre isso era num tom insistente, quase ansioso, e desaparecia sua atitude habitual, crítica e cética. Uma estranha expressão de inquietude, cuja a causa eu ignorava, marcava seu rosto. Isso me impressionava muito: a sexualidade era, para ele, uma realidade numinosa.
Minha impressão foi confirmada por uma conversa que tivemos cerca de três anos mais tarde(1910), novamente em Viena (..)
Parecia-me claro que Freud, proclamando sempre e insistentemente sua irregiliosidade, cconstruíra um Dogma, ou melhor, substituiu o Deus que perdera, por outra imagem que se impusera a ele: a da sexualidade. Ela não era menos premente, imperiosa, exigente, ameaçadora e moralmente ambivalente. Psiquicamente falando, aquilo que é mais forte e, portanto mais temível, toma os atributos de "divino" e "demoníaco" ; da mesma forma a "libido sexual" se revestira e desempenhara nele o papel de um deus oculto. A vantagem dessa transformação, consistia para Freud, ao que parece, que o novo princípio "numinoso" se lhe afigurava cientificamente irrecusável e livre de qualquer hipótese religiosa. Mas no fundo, a numinosidade - enquanto classificação psicológica desses contrários, racionalmente incomensuráveis, que são Javé e a sexualidade – permanecia a mesma. Só mudara o nome, e por conseguinte, o ponto de vista. Não se devia buscar no alto e sim no baixo, aquilo que se perdera . (...)
(...) Certamente para Freud, a sexualidade era numinosa, mas em sua terminologia, em sua teoria a considerava exclusivamente como função biológica.
(...) Freud nunca se interrogou a cerca do motivo pelo qual precisava falar continuamente sobre sexo, porque esse pensamento a tal ponto se apoderava dele. Nunca percebeu que a "monotonia da interpretação" traduzia uma fuga diante de si mesmo ou de outra parte de si que ele teria talvez de chamar de "mística". Ora, sem reconhecer esse lado de sua personalidade, era-lhe impossível pôr-se em harmonia consigo mesmo (...)
(...) Se Freud tivesse apreciado melhor a verdade psicológica que faz da sexualidade algo numinoso – ela é um Deus e um Diabo – não teria ficado prisioneiro de uma noção biológica mesquinha (...)."
A fé envolve muito mais do que a crença na existência de Deus e em certas verdades reveladas a seu respeito. A experiência de Deus que é tão importante para Jung, é um elemento essencial em uma fé madura e não pressupõe quaisquer tipos de deslocamentos. 
O próprio Novo Testamento dá testemunho de uma nova e transformadora experiência de Deus, mediada por Jesus. Mas, mesmo a fé sendo mais do que uma mera crença, ela deve incluí-la. Uma fé completa, significa o comprometimento da pessoa como um todo, incluindo a consciência intelectual da realidade de Deus, mesmo que essa realidade não possa ser cientificamente provada.
Em 1912, Jung decide assumir sua busca pelo fator totalizante da psique e a necessidade de assumir Deus e a subjetividade em seu trabalho; onde a certeza deuma realidade espiritual permeiam toda a sua obra. E consequentemente, isso acarretou o rompimento com Freud.
Como prefácio ao livro Símbolos da Transformação, Jung escreveu :
"(...) Assim, esse livro se tornou um marco, colocado no lugar onde dois caminhos se separaram. 
Por sua imperfeição e suas falhas, ele se transformou no programa dos próximos decênios de minha vida. Mal terminara o manuscrito, assaltavam-me dúvidas sobre o que significava viver com um mito ou sem ele. O mito é aquilo a que se refere os Santos Padres: "Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est". [ Aquilo que é creditado em toda a parte, sempre e por todos ], portanto, aquele que pensa viver sem mito ou fora dele, constitui uma exceção. Ele é, na verdade, um erradicado, que não tem contato verdadeiro nem com o passado, a vida dos ancestrais ( que sempre vive em seu seio), nem com a sociedade humana presente. Não mora numa casa com os outros, não come e não bebe igual aos outros, mas vive uma vida isolada, envolto numa ilusão subjetiva elaborada por seu intelecto, e que lhe parece a verdade recém- descoberta. Este capricho da razão não abala suas entranhas; ocasionalmente só lhe vira o estômago, porque este considera tais elocubrações mentais como um bocado bastante indigesto. A alma não é de hoje! Sua idade conta muitos milhões de anos. A consciência individual é apenas a florada e a frutificação própria da estação, que se desenvolveu a partir do perene rizoma em seus cálculos, pois a trama das raízes é mãe universal (...). 
(...) Este livro foi escrito em 1911, quando eu contava trinta e seis anos de idade. Esta é uma ép[oca crítica, pois representa o início da segunda metade da vida de um homem, quando não raro ocorre uma metánoia, uma retomada de posição na vida. Eu bem sabia, na ocasião, do inevitável rompimento com Freud, tanto no trabalho como na amizade. Recordo aqui com gratidão, o apoio prático e moral que recebi de minha querida esposa nesta época difícil." 
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