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OAB XX EXAME DE ORDEM 
Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
1 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA. 
 
Os historiadores da filosofia dizem que ela possui 
data e local de nascimento: final do século VII e 
inicio do século VI antes de Cristo, nas colônias 
gregas da Ásia Menor (particularmente as que for-
mavam uma região denominada Jônia), na cidade 
de Mileto. E o primeiro filosofo foi Tales de Mileto. 
Além de possuir data e local de nascimento e de 
possuir seu primeiro autor, a filosofia também pos-
sui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmo-
logia. A palavra cosmologia é composta de duas 
outras, cosmos que significa mundo ordenado e 
organizado; e logia que vem da palavra logos, que 
significa pensamento racional, discurso racional, 
conhecimento. 
Assim, a filosofia nasce como conhecimento racio-
nal da ordem do mundo ou da Natureza, donde 
cosmologia. 
Muitos séculos mais tarde, o nascimento da filosofia 
seria explicado de forma diversa pelos padres da 
Igreja. Eles queriam mostrar que os ensinamentos 
de Jesus eram elevados e perfeitos, não eram su-
perstição nem primitivos e incultos, e por isso mos-
travam que os filósofos gregos estavam filiados a 
correntes de pensamento místico e oriental. 
No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada 
“orientalista”. E muitos, sobretudo no século XIX da 
nossa era, passaram a falar na filosofia como sendo 
o “milagre grego”. 
 
Com a palavra “milagre” queriam dizer várias coi-
sas: que a filosofia surgiu inesperada e espantosa-
mente na Grécia, sem que nada anterior a prepa-
rasse; que a filosofia grega foi um acontecimento 
espontâneo, único e sem par, como é próprio de um 
milagre; que os gregos foram um povo excepcional, 
sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes 
nem depois deles, e por isso somente eles poderi-
am ter sido capazes de criar a filosofia, como foram 
os únicos a criar as ciências de dar ás artes uma 
elevação que nenhum outro povo conseguiu, nem 
antes nem depois deles. 
 
O que perguntavam os primeiros filósofos? 
Por que os seres nascem e morrem? Por que os 
semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma 
árvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro 
cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os 
diferentes também parecem fazer surgir os diferen-
tes: o dia parece fazer nascer à noite, o inverno 
parece fazer surgir à primavera, um objeto escuro 
clareia com o passar do tempo, um objeto claro 
escurece com o passar do tempo? 
 
Por que tudo muda? A criança se torna adulta, 
amadurece, envelhece e desaparece. 
A paisagem, cheia de flores na primavera, vai per-
dendo o verde e as cores no outono, até ressecar-
se e retorcer-se no inverno. Por que a doença inva-
de os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o 
alimento que antes me agradava, agora, que estou 
doente, me causa repugnância? Por que o som da 
musica que antes me embalava, agora que estou 
doente, parece um ruído insuportável? 
 
OS SOFISTAS. 
 
Os sofistas foram reputados como grandes mestres, 
eram procurados por jovens bem-nascidos, dispos-
tos a pagar muito dinheiro para aprender o que os 
filósofos tinham a lhes ensinar. O jovem buscava 
junto ao sofista a areté, qualidade indispensável 
para se tornar um cidadão bem-sucedido. 
No regime democrático que vigorava em Atenas, o 
exercício da função política dependia do bom uso 
da palavra. E os sofistas foram mestres na arte de 
bem falar. 
Os sofistas negam a existência da verdade, ou pelo 
menos a possibilidade de acesso a ela. Para os 
sofistas, o que existe são opiniões: boas e más, 
melhores e piores, mas jamais falsas e verdadeiras. 
Na formulação clássica de Protágoras, “o homem é 
a medida de todas as coisas”. 
Sócrates desenvolveu um método de pesquisa, 
chamado dialética, que procedia por questões e 
respostas. 
Sócrates é, para Platão, o único verdadeiro educa-
dor, capaz de levar à areté. 
 
Platão estabelece oposições entre Sócrates e os 
sofistas: 
 
a) sofista cobra pra ensinar, Sócrates não; 
b) sofista “sabe tudo”. Sócrates diz nada saber; 
c) sofista faz retórica, Sócrates faz dialética; 
d) O sofista refuta para ganhar a disputa verbal, 
Sócrates refuta para purificar a alma de sua igno-
rância. 
 
Resumo: Os sofistas. 
O período clássico da história da Grécia Antiga, 
séculos Va. C. ao IV a.C. Foi nesse período, que 
viveram: os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles. 
Esse período é caracterizado pelo auge da cultura 
grega, o desenvolvimento da pólis grega, pela con-
solidação da democracia grega e pelo fato da Ate-
nas ter se tornado o principal centro político, eco-
nômico, artístico e filosófico, do mundo helênico. 
Esse período é marcado pelo início da fase antropo-
lógica, ou seja, uma reflexão filosófica voltada às 
questões humanas, seus precursores foram os so-
fistas. 
Entre os sofistas, destacam-se: Protágoras, Híppias, 
Górgias, Isócrates, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
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OAB XX EXAME DE ORDEM 
Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
2 
Os sofistas foram sábios que atuavam como profes-
sores de filosofia. Ensinavam, a um preço estipula-
do, a arte da política, garantindo o sucesso dos 
jovens na vida política. Eles ensinavam a arte da 
retórica. 
Os escritos dos sofistas se perderam no tempo, os 
conhecemos a partir de comentários de Platão, que 
nos deixa uma visão estereotipada e negativa dos 
sofistas, denominados de charlatães, pois conven-
cem os ignorantes de um saber que, na verdade 
não possuem. Mas é importante notar que esta é a 
visão de Platão sobre os sofistas, a qual por muito 
tempo predominou entre os filósofos, mas que, na 
atualidade, tem sido questionada por outros filóso-
fos. 
Para Platão, os sofistas não eram filósofos. Apesar 
disso, eles deixaram importantes contribuições à 
filosofia. Foram os primeiros a fazer uma distinção 
entre a physis (ordem natural) e o nomos (ordem 
humana). 
Afirmavam não haver uma verdade absoluta, diziam 
que o que existia eram opiniões. Protágoras, ao 
afirmar que “o homem é a medida de todas as coi-
sas”, pretendia dizer com isso que cada homem 
seria a medida de sua própria verdade. 
Eram considerados como portadores de polimatia, 
ou seja, se posicionavam sobre qualquer assunto. 
Organizaram um currículo: gramática, retórica, dia-
lética, aritmética, geometria, astronomia e música. 
Tudo com o objetivo de tornar o conhecimento 
acessível e didático para os seus alunos. Em suma, 
nos dias atuais, vem mudando a maneira como a 
história da filosofia compreende os sofistas. Antes, 
execrados. Hoje, valorizados. 
 
QUESTÕES SOBRE SÓCRATES E OS SOFISTAS 
A) QUEM FOI SÓCRATES? QUAL SUA OPINIÃO 
SOBRE OS SOFISTAS? QUAIS SUAS IDÉIAS 
FUNDAMENTAIS? 
 
É relativamente pouco o que sabemos sobre Sócra-
tes, o homem. Nascido em 470 a.C., foi executado 
em 399 a.C., quando Atenas perdeu a Guerra do 
Peloponeso contra Esparta. 
Sócrates ensinou que o sistema filosófico é o valor 
do conhecimento humano. Antes de Sócrates ques-
tionava-se a natureza, depois de Sócrates, questio-
na-se o homem. O valor do conhecimento humano 
(Humanismo). 
 
“CONHEÇA-TE A TI MESMO”, frase escrita no por-
tal do templo de Apolo; cuja frase era a recomenda-
ção básica feita por Sócrates a seus discípulos. 
Sócrates percebeu que a sabedoria começa pelo 
reconhecimento da própria ignorância: “SÓ SEI 
QUE NADA SEI”; é, para Sócrates, o princípio da 
sabedoria. 
O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se ao dos 
Sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. 
Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar 
as contradições afirmadas, os novos problemas que 
surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era 
demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a 
presunção do saber. 
 
Usava dois métodos: IRONIA e MAIÊUTICA. 
MAIÊUTICA: Dava alternativas,perguntas e respos-
tas, ajudava a buscar a verdade. O nome Maiêutica 
foi uma homenagem a sua mãe que era parteira. 
Ele dava luz às idéias. 
IRONIA: A ironia socrática tinha um caráter purifica-
dor na medida em que levava os discípulos a con-
fessarem suas próprias contradições e ignorâncias, 
onde antes só julgavam possuir certezas e clarivi-
dências, perguntas e respostas, destruía o falso 
saber. Os discípulos, libertos do orgulho e da pre-
tensão de que tudo sabiam, podiam iniciar o cami-
nho da reconstrução das próprias idéias. Com isso, 
Sócrates acreditava num só Deus (Monoteísmo); a 
época era de Politeísmo. Por vários motivos ele foi 
perseguido. Foi condenado à morte em 399 a.c. por 
não aceitar mudar suas idéias (tomou Cicuta, um 
tipo de bebida que o carrasco deu-lhe para beber). 
Para Sócrates o homem deveria conhecer a si 
mesmo, chegar à virtude através do conhecer a si 
mesmo. È a sabedoria que nos dá a virtude. 
 
Ao trabalhar com Os Sofistas, Sócrates observa 
e questiona: 
 
a) Os Sofistas buscam o sucesso e ensinam as 
pessoas como conseguí-lo; Sócrates busca a ver-
dade e incita seus discípulos a descobri-la. 
b) Os Sofistas é necessário fazer carreiras, Sócra-
tes quer chegar à verdade, desapegando dos praze-
res e dos bens materiais. 
c) Os Sofistas gabam-se de saberem tudo e fazer 
tudo; Sócrates tem a convicção de que ninguém 
pode ser mestre dos outros. 
d) Para os Sofistas, aprender é coisa passiva e fací-
lima, afirmam isso e tudo por um preço módico. 
Sócrates defendia que a opinião é individual, mas a 
sabedoria é universal. A questão da felicidade e 
honestidade está na prática do agir. As riquezas não 
interessam aos homens. 
A doutrina socrática identifica o sábio e o homem 
virtuoso. Derivam daí diversas conseqüências para 
a educação, como: o conhecimento tem por fim 
tornar possível a vida moral; o processo para adqui-
rir o saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode 
ser dogmaticamente, mas como condição para de-
senvolver a capacidade de pensar; toda a educação 
é essencialmente ativa, e por ser auto-educação 
leva ao conhecimento de si mesmo; a análise radi-
cal do conteúdo das discussões, retirado do cotidia-
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
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no, leva ao questionamento do modo de vida de 
cada um e, em última instância, da própria cidade. 
 
B) QUEM FORAM OS SOFISTAS? 
Etimologicamente, o termo sofista significa sábio, 
entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou o sen-
tido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de 
Platão. 
Os sofistas eram professores viajantes que, por 
determinado preço, vendiam ensinamentos práticos 
de filosofia. Levando em consideração os interesses 
dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacida-
de mental, ou seja, tinham fácil oratória e eram as-
tuciosos. Ensinavam conhecimentos úteis para o 
sucesso dos negócios públicos e privados. 
As lições sofísticas tinham como objetivo o desen-
volvimento do poder de argumentação, da habilida-
de de discursos primorosos, porém, vazios de con-
teúdo. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, 
raciocínios e concepções que seria utilizado na arte 
de convencer as pessoas, driblando as teses dos 
adversários. 
O momento histórico vivido pela civilização grega 
favoreceu o desenvolvimento desse tipo de ativida-
de praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas 
políticas e intenso conflito de opiniões nas assem-
bléias democráticas. Por isso, os cidadãos mais 
ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a 
arte de argumentar em público para, manipulando 
as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses 
individuais e de classe. 
Entre os sofistas, destacamos Protágoras e Gór-
gias, que pareciam mais preocupados com a distin-
ção entre natureza e convenção, de uma forma 
geral. Por essa razão, tinham como um de seus 
principais objetivos depreciar o estudo da natureza 
e, desta maneira, toda a linha filosófica existente até 
essa época. 
Protágoras alegou que o homem é a medida de 
todas as coisas, tanto das coisas que são o que são 
como das coisas que não são, o que não são. Isto 
significa que tudo é como parece ao homem – não 
apenas aos homens em geral, mas a cada indivíduo 
em particular. Esta tese, leva a um relativismo total, 
sem possibilidade alguma de verdade absoluta. 
Górgias foi ainda, mais radicalmente oposto à natu-
reza e a seu estudo. Escreveu um livro no qual for-
mulou uma tripla alegação: 1) nada há; 2) mesmo 
que houvesse alguma coisa, não poderíamos co-
nhecê-la; e 3) mesmo que pudéssemos conhecê-la 
não poderíamos comunicá-la aos demais. Podería-
mos descrever isto como um argumento mediante 
“retirada estratégica”: 
caso a posição mais radical não seja julgada con-
vincente, volta-se para outra, menos radical. Mas 
até mesmo esta última elimina a possibilidade de 
estudo da natureza. 
Górgias ensinava retórica, enquanto que Pródico, 
especializava-se em linguagem e gramática em 
geral, ao passo que Hípias ensinava o treinamento 
da memória. Todas estas aquisições eram úteis em 
uma sociedade que tanto dependia da capacidade 
de influenciar a opinião pública na assembléia. 
De qualquer modo, na opinião de Sócrates, eles 
fracassaram em ensinar excelência moral ou virtu-
de. A alegação deles de ensinar arete (excelência) 
não apenas, na opinião de Sócrates, induzia em 
erro, mas corrompia também, porque sugeria que 
podiam produzir excelência moral, ao passo que 
nada faziam neste particular. 
 
DIFERENÇAS ENTRE SÓCRATES E OS SOFIS-
TAS: 
 
- O sofista é um professor ambulante. Sócrates é 
alguém ligado aos destinos de sua cidade; 
- O sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua 
vida e essa confunde-se com a vida filosófica: “ 
Filosofar não é profissão, é atividade do homem 
livre” 
- O sofista “sabe tudo” e transmite um saber pronto, 
sem crítica (que Platão identifica com uma mercado-
ria, que o sofista exibe e vende). Sócrates diz nada 
saber e, colocando-se no nível de seu interlocutor, 
dirige uma aventura dialética em busca da verdade, 
que está no interior de cada um. 
- O sofista faz retórica (discurso de forma primorosa, 
porém vazio de conteúdo). Sócrates faz dialética 
(bons argumentos). Na retórica o ouvinte é levado 
por uma enxurrada de palavras que, se adequada-
mente compostas, persuadem sem transmitir co-
nhecimento algum. 
Na dialética, que opera por perguntas e respostas, a 
pesquisa procede passo a passo e não é possível ir 
adiante sem deixar esclarecido o que ficou para 
trás. 
- O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa 
verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua 
ignorância. 
 
AS PRINCIPAIS FASES DA FILOSOFIA 
OS PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
Podemos afirmar que foi a primeira corrente de 
pensamento, surgida na Grécia Antiga por volta do 
século VI a.C. Os filósofos que viveram antes de 
Sócrates se preocupavam muito com o Universo e 
com os fenômenos da natureza. 
Buscavam explicar tudo através da razão e do co-
nhecimento científico. Podemos citar, neste contex-
to, os físicos Tales de Mileto, Anaximandro e Herá-
clito. Pitágoras desenvolve seu pensamento defen-
dendo a idéia de que tudo preexiste à alma, já que 
esta é imortal. Demócrito e Leucipo defendem a 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
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formação de todas as coisas, a partir da existência 
dos átomos. 
 
PERÍODO CLÁSSICO 
Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga foram de 
grande desenvolvimento cultural e científico. O es-
plendor de cidades como Atenas, e seu sistema 
político democrático, proporcionou o terreno propí-
cio para o desenvolvimento do pensamento. É a 
época dos sofistas e do grande pensador Sócrates. 
Os sofistas, entre eles Górgias, Leontinose Abdera, 
defendiam uma educação, cujo objetivo máximo 
seria a formação de um cidadão pleno, preparado 
para atuar politicamente para o crescimento da ci-
dade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens 
deveriam ser preparados para falar bem (retórica), 
pensar e manifestar suas qualidades artísticas. 
Sócrates começa a pensar e refletir sobre o homem, 
buscando entender o funcionamento do Universo 
dentro de uma concepção científica. Para ele, a 
verdade está ligada ao bem moral do ser humano. 
Ele não deixou textos ou outros documentos, desta 
forma, só podemos conhecer as idéias de Sócrates 
através dos relatos deixados por Platão. 
Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as 
idéias formavam o foco do conhecimento intelectual. 
Os pensadores teriam a função de entender o mun-
do da realidade, separando-o das aparências. 
Outro grande sábio desta época foi Aristóteles que 
desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi 
Aristóteles quem desenvolveu a lógica dedutiva 
clássica, como forma de chegar ao conhecimento 
científico. A sistematização e os métodos devem ser 
desenvolvidos para se chegar ao conhecimento 
pretendido, partindo sempre dos conceitos gerais 
para os específicos. 
 
PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO 
Está época vai do final do período clássico (320 
a.C.) até o começo da Era Cristã, dentro de um 
contexto histórico que representa o final da hege-
monia política e militar da Grécia. 
Ceticismo: de acordo com os pensadores céticos, a 
dúvida deve estar sempre presente, pois o ser hu-
mano não consegue conhecer nada de forma exata 
e segura. 
Epicurismo: os epicuristas, seguidores do pensador 
Epicuro, defendiam que o bem era originário da 
prática da virtude. O corpo e a alma não deveriam 
sofrer para, desta forma, chegar-se ao prazer. 
Estoicismo: os sábios estóicos como, por exemplo, 
Marcos Aurélio e Sêneca, defendiam a razão a 
qualquer preço. Os fenômenos exteriores a vida 
deviam ser deixados de lado, como à emoção, o 
prazer e o sofrimento. 
 
FILOSOFIA MEDIEVAL 
A Idade Média inicia-se com a desorganização da 
vida política, econômica e social do Ocidente, agora 
transformado num mosaico de reinos bárbaros. 
Depois vieram as guerras, a fome e as grandes 
epidemias. O cristianismo propaga-se por diversos 
povos. 
A diminuição da atividade cultural transforma o ho-
mem comum num ser dominado por crenças e su-
perstições. 
O período medieval não foi, porém, a "Idade das 
Trevas", como se acreditava. A filosofia clássica 
sobrevive, confinada nos mosteiros religiosos. 
Sob a influência da Igreja, as especulações se con-
centram em questões filosófico-teológicas, tentando 
conciliar a fé e a razão. E são nesse esforço que 
Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem à 
luz reflexões fundamentais para a história do pen-
samento cristão. 
 
FILOSOFIA MODERNA 
Pode a razão conhecer Deus? Atravessando tortuo-
sos caminhos, o pensamento medieval não foi con-
clusivo. A escolástica chegou ao seu limite. A desa-
gregação da cristandade com a reforma protestante 
e o renascimento cultural trouxe novas questões. A 
burguesia entra em cena e caracteriza a mentalida-
de moderna. 
De modo geral, associam-se ao renascimento mu-
danças de ênfase nos seguintes valores: antropo-
centrismo, racionalismo e individualismo. 
René Descartes é considerado um dos pais da filo-
sofia moderna. Aplicando a dúvida metódica, che-
gou a celebre conclusão: "Penso, logo existo". 
Seu método da dúvida crítica abalou profundamente 
o edifício do conhecimento filosófico de sua época. 
 
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 
O conhecimento amplia-se e faz surgir um novo 
objeto de estudo, o próprio homem. Cada época 
abrange uma corrente de pensamento, juntamente 
com seus respectivos conceitos e pensadores. En-
tre os filósofos idealistas estão Descartes, Kant e 
Hegel. 
Já na tradição racionalista pós-cartesiana temos 
Pascal, Spinoza, Guilherme de Occam e Leibniz. No 
palco inicial do empirismo moderno os principais 
representantes são: Francis bacon, Locke, Berkeley 
e Hume. Dentro da filosofia política destacam-se os 
seguintes filósofos: Aristóteles, Thomas Hobbes, 
Jean-Jacques Rousseau, Engels, Maquiavel, Voltai-
re, Fichte, dentre outros. 
Já no positivismo temos Augusto Comte. O repre-
sentante da crítica ao positivismo é Bérgson. Dentro 
da filosofia das Ciências ou Epistemologia temos 
como representante Bachelard. A concepção de 
materialismo tem como representante Karl Marx. 
Nas primeiras décadas do século XX, o mundo es-
tava em crise. A filosofia também. Diversos pensa-
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
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dores passam a questionar o sentido da vida huma-
na. Surge, assim, a tendência existencialista. 
 
SEUS PRINCIPAIS INSPIRADORES: 
Kierkegaard, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Camus 
e Sartre. O inconsciente representa papel funda-
mental na filosofia de Schopenhauer. Sob esse as-
pecto antecipou-se alguns dos conceitos mais im-
portantes da psicanálise fundada por Sigmund 
Freud. 
No pensamento pós-moderno temos influências 
marcantes, tais como: Michel Foucault, Gilles De-
leuze, Habermas, Richard Rorty, Adorno, Marcuse, 
dentre outros. 
 
FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA: 
Relatório sobre os filósofos pré-socráticos, ou seja, 
que antecederam Sócrates, filósofo que aperfeiçoou 
a arte de filosofar. 
Segue adiante a história dos filósofos pré-
socráticos, citando nomes dos principais filósofos, 
data de nascimento, falecimento, e teorias. 
 
PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO (SÉC. VII-V A.C.) 
Período Naturalista pré-socrático, em que o interes-
se filosófico é voltado para o mundo da natureza. 
O primeiro período do pensamento grego toma a 
denominação substancial de período naturalista, 
porque a nascente especulação dos filósofos é ins-
tintivamente voltada para o mundo exterior, julgan-
do-se encontrar aí também o princípio unitário de 
todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação 
cronológica de período pré-socrático, porque prece-
de Sócrates e os sofistas, que marcam uma mudan-
ça e um desenvolvimento e, por conseguinte, o co-
meço de um novo período na história do pensamen-
to grego. Esse primeiro período tem início no alvor 
do VI século a.C., e termina dois séculos depois, 
mais ou menos, nos fins do século V. 
Surge e floresce fora da Grécia propriamente dita, 
nas prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do 
Egeu (Jônia) e da Itália meridional, da Sicília, favo-
recido sem dúvida na sua obra crítica e especulativa 
pelas liberdades democráticas e pelo bem-estar 
econômico. 
Os filósofos deste período preocuparam-se quase 
exclusivamente com os problemas cosmológicos. 
Estudar o mundo exterior nos elementos que o 
constituem, na sua origem e nas contínuas mudan-
ças a que está sujeito, é a grande questão que dá a 
este período seu caráter de unidade. 
Pelo modo de a encarar e resolver, classificam-se 
os filósofos que nele floresceram em quatro escolas: 
Escola Jônica; Escola Itálica; Escola Eleática; Esco-
la Atomística. 
 
OS FILÓSOFOS 
TALES DE MILETO (624-548 A.C.) "ÁGUA" 
Tales de Mileto, fenício de origem, é considerado o 
fundador da escola jônica. É o mais antigo filósofo 
grego. Tales não deixou nada escrito, mas sabemos 
que ele ensinava ser a água a substância única de 
todas as coisas. A terra era concebida como um 
disco boiando sobre a água, no oceano. 
Cultivou também as matemáticas e a astronomia, 
predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os 
eclipses do sol e da lua. No plano da astronomia, 
fez estudos sobre solstícios a fim de elaborar um 
calendário, e examinou o movimento dos astros 
para orientar a navegação. 
Provavelmente nada escreveu. Por isso, do seu 
pensamento só restam interpretações formuladas 
por outros filósofos que lhe atribuíram uma idéia 
básica: a de que tudose origina da água. Segundo 
Tales, a água, ao se resfriar, torna-se densa e dá 
origem à terra; ao se aquecer transforma-se em 
vapor e ar, que retornam como chuva quando no-
vamente esfriados. 
Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, 
mar, terra) nascem as diversas formas de vida, ve-
getal e animal. A cosmologia de Tales pode ser 
resumida nas seguintes proposições: A terra flutua 
sobre a água; A água é a causa material de todas 
as coisas. Todas as coisas estão cheias de deuses. 
O imã possui vida, pois atrai o ferro. 
 
ANAXIMANDRO DE MILETO (611-547 A.C.) 
"ÁPEIRON" 
Anaximandro de Mileto, geógrafo, matemático, as-
trônomo e político, discípulo e sucessor de Tales e 
autor de um tratado Da Natureza, põe como princí-
pio universal uma substância indefinida, o ápeiron 
(ilimitado), isto é, quantitativamente infinita e qualita-
tivamente indeterminada. 
Deste ápeiron (ilimitado) primitivo, dotado de vida e 
imortalidade, por um processo de separação ou 
"segregação" derivam os diferentes corpos. Supõe 
também a geração espontânea dos seres vivos e a 
transformação dos peixes em homens. Anaximan-
dro imagina a terra como um disco suspenso no ar. 
Eterno, o ápeiron está em constante movimento, e 
disto resulta uma série de pares opostos - água e 
fogo, frio e calor, etc. - que constituem o mundo. 
O ápeiron é assim algo abstrato, que não se fixa 
diretamente em nenhum elemento palpável da natu-
reza. Com essa concepção, Anaximandro prosse-
gue na mesma via de Tales, porém dando um passo 
a mais na direção da independência do "princípio" 
em relação às coisas particulares. Para ele, o prin-
cípio da "physis" (natureza) é o ápeiron (ilimitado). 
Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa 
do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso 
do gnômon (relógio de sol) e a medição das distân-
cias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude 
(é o iniciador da astronomia grega). Ampliando a 
visão de Tales, foi o primeiro a formular o conceito 
 
 
 
 
 
 
 
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de uma lei universal presidindo o processo cósmico 
total. 
Diz-se também, que preveniu o povo de Esparta de 
um terremoto. Anaximandro julga que o elemento 
primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e 
em movimento perpétuo. 
Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) "Ar“ 
Segundo Anaxímenes, a arkhé (comando) que co-
manda o mundo é o ar, um elemento não tão abs-
trato como o ápeiron, nem palpável demais como a 
água. Tudo provém do ar, através de seus movi-
mentos: o ar é respiração e é vida; o fogo é o ar 
rarefeito; a água, a terra, a pedra são formas cada 
vez mais condensadas do ar. As diversas coisas 
que existem, mesmo apresentando qualidades dife-
rentes entre si, reduzem-se a variações quantitati-
vas (mais raro, mais denso) desse único elemento. 
Atribuindo vida à matéria e identificando a divindade 
com o elemento primitivo gerador dos seres, os 
antigos jônios professavam o hilozoísmo e o pante-
ísmo naturalista. Dedicou-se especialmente à mete-
orologia. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe 
sua luz do Sol. Anaxímenes julga que o elemento 
primordial das coisas é o ar. 
 
HERÁCLITO DE ÉFESO 
Heráclito nasceu em Éfeso, cidade da Jônia, de 
família que ainda conservava prerrogativas reais 
(descendentes do fundador da cidade). Seu caráter 
altivo, misantrópico e melancólico ficou proverbial 
em toda a Antigüidade. Desprezava a plebe. Recu-
sou-se sempre a intervir na política. 
Manifestou desprezo pelos antigos poetas, contra 
os filósofos de seu tempo e até contra a religião. 
Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um livro 
Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas 
de forma tão concisa que recebeu o cognome de 
Skoteinós, o Obscuro. 
Floresceu em 504-500 a.C. - Heráclito é por muitos 
considerados o mais eminente pensador pré-
socrático, por formular com vigor o problema da 
unidade permanente do ser diante da pluralidade e 
mutabilidade das coisas particulares e transitórias. 
Estabeleceu a existência de uma lei universal e fixa 
(o Lógos), regedora de todos os acontecimentos 
particulares e fundamento da harmonia universal, 
harmonia feita de tensões, "como a do arco e da 
lira". 
 
Suas filosofias eram: 
A. Dialética exterior, um raciocinar de cá para lá e 
não a alma da coisa dissolvendo-se a si mesma; 
B. Dialética imanente do objeto, situando-se, porém, 
na contemplação do sujeito; 
C. Objetividade de Heráclito, isto é, compreender a 
própria dialética como princípio. 
 
PITÁGORAS DE SAMOS 
Pitágoras, o fundador da escola pitagórica, nasceu 
em Samos pelos anos 571-70 a.C. Em 532-31 foi 
para a Itália, na Magna Grécia, e fundou em Croto-
na, colônia grega, uma associação científico-ético-
política, que foi o centro de irradiação da escola e 
encontrou partidários entre os gregos da Itália meri-
dional e da Sicília. 
Pitágoras aspirava - e também conseguiu - a fazer 
com que a educação ética da escola se ampliasse e 
se tornasse reforma política; isto, porém, levantou 
oposições contra ele e foi constrangido a deixar 
Crotona, mudando-se para Metaponto, aí morrendo 
provavelmente em 497-96 a.C. 
Segundo o pitagorismo, a essência, o princípio es-
sencial de que são compostas todas as coisas, é o 
número, ou seja, as relações matemáticas. Os pita-
góricos, não distinguindo ainda bem forma, lei e 
matéria, substância das coisas, consideraram o 
número como sendo a união de um e outro elemen-
to. 
Da racional concepção de que tudo é regulado se-
gundo relações numéricas, passa-se à visão fantás-
tica de que o número seja a essência das coisas. 
A doutrina e a vida de Pitágoras, desde os tempos 
da antiguidade, jaz envolta num véu de mistério. 
A força mística do grande filósofo e reformador reli-
gioso, há 2.600 anos vem, poderosamente, influindo 
no pensamento Ocidental. Dentre as religiões de 
mistérios, de caráter iniciático, a doutrina pitagórica 
foi a que mais se difundiu na antiguidade. 
Não consideramos apenas lenda o que se escreveu 
sobre essa vida maravilhosa, porque há, nessas 
descrições, sem dúvida, muito de histórico do que é 
fruto da imaginação e da cooperação ficcional dos 
que se dedicaram a descrever a vida do famoso 
filósofo de Samos. 
O fato de negar-se, peremptoriamente, a historici-
dade de Pitágoras (como alguns o fazem), por não 
se ter às mãos documentação bastante, não impede 
que seja o pitagorismo uma realidade empolgante 
na história da filosofia, cuja influência atravessa os 
séculos até nossos dias. 
 
ZENÃO DE ELÉIA 
Zenão floresceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em 
Eléia (Itália). Ao contrário de Heráclito, interveio na 
política, dando leis à sua pátria. Tendo conspirado 
contra a tirania e o tirano (Nearco?), acabou preso, 
torturado e, por não revelar o nome dos comparsas, 
perdeu a vida. 
Escreveu várias obras em prosa: Discussões, Con-
tra os Físicos, Sobre a Natureza, Explicação Crítica 
de Empédocles. - Considerado criador da dialética 
(entendida como argumentação combativa ou erísti-
ca), Zenão erigiu-se em defensor de seu mestre, 
Parmênides, contra as críticas dos adversários, 
principalmente os pitagóricos. 
 
 
 
 
 
 
 
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Defendeu o ser uno, contínuo e indivisível de Par-
mênides contra o ser múltiplo, descontínuo e divisí-
vel dos pitagóricos. 
A característica de Zenão é a dialética. Ele é o mes-
tre da Escola Eleática; nela seu puro pensamento 
torna-se o movimento do conceito em si mesmo, a 
alma pura da ciência - é o iniciador da dialética. 
Demócrito de Abdera 
De sua vida sabemos poucas coisas seguras, mas 
muitas lendas. Viagens extraordinárias, a ruína ma-
terial, as honras que recebeude seus concidadãos, 
sua solidão, seu grande poder de trabalho. Uma 
tradição tardia afirma que ele ria de tudo... 
Demócrito e Leucipo partem do eleatismo. Mas o 
ponto de partida de Demócrito é acreditar na reali-
dade do movimento porque o pensamento é um 
movimento. Esse é seu ponto de ataque: o movi-
mento existe porque eu penso e o pensamento tem 
realidade. 
Mas se há movimento deve haver um espaço vazio, 
o que equivale a dizer que o não-ser é tão real 
quanto o ser. Se o espaço é absolutamente pleno, 
não pode haver movimento. 
 
São características de seu pensamento: 
Gosto pela ciência. Aitíai. Viagens. 
Clareza. Aversão ao bizarro. 
Simplicidade do método. 
Arrojo poético (poesia do atomismo). 
Sentimento de um progresso poderoso. 
Fé absoluta em seu sistema. 
O Mal excluído de seu sistema. 
Paz de espírito, resultado do estudo cientifico. Pitá-
goras. 
Inquietações míticas: racionalismo. 
Inquietações morais: ascetismo. 
Inquietações políticas: quietismo. 
Inquietações conjugais: adoção de filhos. 
 
Referências bibliográficas: 
• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria 
Helena Pires.Temas de Filosofia. SãoPaulo: Ed. 
Moderna, 1992; 
• CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SãoPaulo: 
Ed. Ática, 1995; 
• COTRIM, Gilberto.Fundamentos da Filosofia – Ser, 
Saber e Fazer. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997. 
Platão: "A República" e o método dialético. 
Todo mundo conhece o adjetivo platônico. Sabemos 
que ele tem relação com o filósofo grego Platão. 
Mas sabemos também, consultando um dicionário, 
que platônico significa "alheio a interesses ou gozos 
materiais" (daí a expressão "amor platônico", ou 
amor casto). 
Para entender melhor a origem dessa expressão, 
precisamos conhecer um pouco o pensamento de 
um dos filósofos mais importantes de todos os tem-
pos. 
Platão não deixou uma obra filosófica sistemática, 
organizada de forma lógica e abstrata. 
As obras de Platão foram escritas em forma de diá-
logo, em que diferentes personagens discutem 
acerca de um determinado tema. Aliás, o diálogo 
não é apenas a forma como o filósofo se expressa, 
mas também o cerne de seu método filosófico de 
descoberta da verdade. Para Platão, o conhecimen-
to é resultado do convívio entre homens que discu-
tem de forma livre e cordial. 
 
Sócrates, o mestre. 
Os diálogos de Platão estão organizados em torno 
da figura central de seu mestre - Sócrates. Escritos 
em linguagem clara e envolvente, conquistam de 
imediato o leitor. Isso não quer dizer que a compre-
ensão do pensamento platônico seja simples. Platão 
é um filósofo rico e complexo, e suas ideias até hoje 
desafiam os pesquisadores. 
 
Platão viveu na Grécia do período clássico. Nasceu 
em 427 a.C., em Atenas, numa família de origem 
aristocrática e recebeu uma educação refinada, 
reservada àqueles destinados a participar da vida 
política de Atenas. Platão tinha em torno de vinte 
anos (e o mestre, 63) quando conheceu o filósofo 
Sócrates e tornou-se seu discípulo. 
A partir desse encontro, Platão passou a assistir a 
suas discussões e tornou-se seu seguidor. 
Quando o mestre foi levado ao tribunal, em 399 
a.C., e condenado à morte bebendo cicuta (acusado 
de corromper a juventude), Platão estava presente e 
registrou seus últimos ensinamentos na obra hoje 
conhecida como "Apologia de Sócrates". 
 
Praticamente tudo que sabemos a respeito de Só-
crates vem dos escritos de Platão. 
 
Os diálogos de Platão. 
Depois da morte de Sócrates, Platão desiludiu-se 
com a democracia e deixou Atenas. Realizou diver-
sas viagens pela Grécia, pelo Egito e pela Itália. 
Entre 399 a.C. e 387 a.C., criou vários de seus fa-
mosos diálogos em que Sócrates aparece como 
personagem central, como "Críton", "Laques", "Lí-
sias", "Górgias" e "Protágoras". 
 
A seguir, Platão alternou longas temporadas em 
Atenas com a realização de três grandes viagens à 
Sicília, onde realizou diversas tentativas de colocar 
em prática suas teorias políticas. Em Atenas, Platão 
fundou, por volta de 386 a.C., a famosa Academia, 
onde lecionou durante quarenta anos. O filósofo 
morreu em 347 a.C., aos 80 anos, deixando como 
discípulo o filósofo Aristóteles. 
 
A República. 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
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Uma das principais obras platônicas é "A Repúbli-
ca", em que o filósofo discute o conceito de justiça. 
"A República" é uma obra extensa, dividida em dez 
livros, em que Platão não faz uma análise de um 
sistema político concreto, nem o exame de formas 
reais de organização da sociedade. 
Pelo contrário, a obra de Platão discute o que seria 
um estado ideal. 
Em "A República", temos um grupo de amigos: Só-
crates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - 
e vários outros personagens, que serão provocados 
pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relaci-
onados à organização da sociedade e à natureza da 
política. 
Na República ideal concebida por Platão, o governo 
deve estar nas mãos dos filósofos, que são aqueles 
mais próximos da verdade, da ideia do bem e da 
justiça. 
A investigação platônica utiliza o método dialético 
(palavra que tem na origem a noção de "diálogo"). 
Esse procedimento consiste em apreender a relida-
de através de posições contraditórias, até que uma 
delas é finalmente entendida como verdadeira e a 
outra como falsa. A dialética platônica é um proces-
so indutivo, que vai da parte para o todo. 
 
O mito da caverna. 
No livro 7 de "A República" também aparece formu-
lada a teoria das ideias. Trata-se de uma alegoria 
famosa, que ficou conhecida como mito da caverna. 
Segundo o texto de Platão, o conhecimento do 
mundo sensível (o mundo que podemos conhecer 
através dos órgãos dos sentidos) é inferior à con-
templação da verdade. 
Os homens, porém, tendo vivido sempre numa ca-
verna, acorrentados, acreditam que as sombras que 
veem projetadas na parede sejam a verdade. Mas 
só é possível conhecer a verdade além de nossos 
preconceitos e crenças. Só o filósofo se liberta e vê 
a realidade à luz do sol. 
John Locke e o empirismo britânico: Todo conheci-
mento provém da experiência 
 
Uma das questões mais antigas que a filosofia tenta 
responder é "Qual a fonte do conhecimento huma-
no?". 
Como podemos saber se Deus existe, que dois 
mais dois são quatro ou que o céu é azul? Será que 
já nascemos com algumas informações a respeito 
do mundo? 
A moderna biologia genética nos diz apenas que 
possuímos uma história, inscrita em nossos genes, 
que irão determinar algumas predisposições para 
desenvolvermos certas doenças hereditárias, ten-
dências sexuais e comportamentais ou mesmo o 
gosto por sorvete de chocolate. 
Mas aquilo que somos depende de uma combina-
ção de fatores genéticos com o ambiente em que 
fomos criados. Seríamos, portanto, o resultado das 
escolhas que fizemos segundo as imposições de 
nosso patrimônio genético e das oportunidades que 
temos na vida. 
Mesmo assim, a ciência contemporânea ainda não 
responde às perguntas a respeito de como conhe-
cemos as coisas e como podemos estar seguros de 
possuir um entendimento verdadeiro. Filósofos co-
mo Platão (428/27-347 a.C.), Santo Agostinho(354-
430), e Descartes (1596-1650) acreditavam 
na doutrina das ideias inatas, 
ou inatismo, que sustenta que o homem nasce com 
determinadas crenças verdadeiras. 
Segundo eles, a alma humana teria uma espécie de 
repositório de informações conferidas por Deus, e 
isso validaria as certezas sobre as coisas do mun-
do. 
 
Platão, no diálogo Fédon, diz que conhecer é recor-
dar-se daquilo que nossas almas imortais, que habi-
tavam o Mundo das Ideias, já sabiam, mas que ao 
nascer nos esquecemos. 
Contra essa doutrina, John Locke (1632-1704), um 
dos mais importantes filósofos ingleses modernos, 
escreveu um livro chamado Ensaio Acercado En-
tendimento Humano (1690), que inaugurou a escola 
chamada Empirismo Britânico. Na época, Locke foi 
muito influenciado pela ciência moderna, baseada 
em observações. 
 
Tábula rasa. 
Para Locke, o princípio do inatismo, além de não 
provar nada, é completamente desnecessário para 
uma teoria do conhecimento. Se realmente nossas 
almas imortais compartilhassem um mesmo estoque 
de informações, por que todos não teríamos as 
mesmas concepções científicas de mundo, por 
exemplo? Por que os europeus desenvolveram a 
ciência, enquanto índios que habitavam as Améri-
cas, não? 
Segundo Locke, Deus nos conferiu apenas as fa-
culdades para que pudéssemos adquirir conheci-
mento, dentro de certos limites. Contrariando o ina-
tismo, ele afirma que, ao nascermos, somos como 
uma folha em branco - "tábula rasa", diziam os em-
piristas - que é escrita na medida em que vivemos e 
temos experiência de mundo: 
"Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, 
um papel em branco, desprovida de todos os carac-
teres, sem quaisquer ideias; como ela é suprida? De 
onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e 
que a ilimitada fantasia do homem pintou nela com 
uma variedade quase infinita? De onde apreende 
todos os materiais da razão e do conhecimento? 
A isso respondo, numa palavra, da experiência. 
Todo o nosso conhecimento está nela fundado, e 
dela deriva fundamentalmente o próprio conheci-
mento." (1978, I, II, ii). 
 
 
 
 
 
 
 
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Basicamente é isso que o empirismo sustenta: con-
trapondo-se ao racionalismo, que privilegia a razão 
como fonte segura do conhecimento, esta escola 
enfatiza o papel da experiência. Junto com Locke, 
fazem parte do empirismo britânico os filóso-
fosGeorge Berkeley (1685-1753), David Hu-
me (1711-1776) e John Stuart Mill (1806-1873). 
Mas isso não quer dizer que, para Locke, a razão 
não tem nenhuma função no processo cognitivo e 
que apenas aprendemos por meio das sensações. 
Seria um absurdo dizer isso, porque equivaleria a 
dizer que um matemático, para saber que um triân-
gulo possui três lados, teria que encontrar um triân-
gulo andando de metrô ou vagando pelo bosque. 
 
Limites do conhecimento nas ideias. 
O que Locke diz é que somente a experiência nos 
fornece as ideias que habitam nossos pensamentos. 
Em outras palavras, que o conhecimento tem um 
início externo, fora do homem. 
Ideias, segundo o filósofo inglês, são os objetos do 
conhecimento, isto é, a matéria da qual o conheci-
mento é formado. 
Elas são percebidas pelos sentidos, mas é o enten-
dimento que confere o, por assim dizer, acabamento 
final. 
Todo conhecimento, portanto, está fundamentado 
na experiência, que nos fornece as ideias que cons-
tituem tudo aquilo que podemos saber sobre o 
mundo. As fontes dessas ideias, diz Locke, são 
duas: 
Sensação, ou sentido externo: é a percepção de 
objetos sensíveis e particulares, como o gosto de 
uma maçã, a sensação de uma xícara quente de 
café, o som da voz de nossa mãe ou a visão de um 
pôr do sol. 
Reflexão ou sentido interno: é a percepção da ope-
ração de nossas mentes com as ideias já ali deposi-
tadas pela sensação, derivando as dúvidas, cren-
ças, vontades e o conhecimento propriamente dito. 
É somente com o segundo estágio, da reflexão, que 
atingimos o entendimento das coisas; mas, sem as 
janelas abertas para a luz vinda da experiência, 
nossa mente permanece como um quarto escuro. 
Os limites do que podemos conhecer, desse modo, 
são as ideias. Não podemos ir além delas. 
 
Locke ainda divide as ideias em: 
Simples: são as que nos chegam misturadas num 
objeto, mas que podem ser separadas pelos dife-
rentes sentidos pelos quais as recebemos: a textura 
lisa, o aroma perfumado, o gosto doce, a consistên-
cia firme e a cor vermelha são ideias simples que 
podemos distinguir da maçã. 
Complexas: quando nossa mente é preenchida des-
sas ideias simples, podemos formar, combinando-
as, ideias complexas, como, por exemplo, homem, 
beleza, maçã ou universo. 
Boa parte do Ensaio Acerca do Entendimento Hu-
mano é dedicado ao exame dessas ideias simples e 
complexas que são a base de todo entendimento, o 
que permite a Locke propor resoluções para impor-
tantes problemas filosóficos envolvendo conceitos 
como espaço, tempo, infinidade, substância, Deus, 
liberdade e poder. 
Graus de conhecimento Em resumo, diz Locke: 
"Conhecimento consiste na percepção do acordo ou 
desacordo de duas ideias. Parece-me, pois, que o 
conhecimento nada mais é do que a percepção da 
conexão e acordo, ou desacordo e rejeição, de 
quaisquer de nossas ideais." (1978, IV, I, ii). 
Por exemplo, quando sabemos que branco não é 
preto, ao perceber que ambas as ideias ("branco" e 
"preto") estão em desacordo; ou que os três ângulos 
de um triângulo são iguais a dois retos, ao perceber 
a igualdade entre eles. 
 
Em relação à clareza e certeza dessas afirma-
ções, Locke classifica os graus de conhecimen-
to em três: 
 
Intuitivo: é aquele em que a mente percebe o acor-
do ou desacordo entre duas ideias imediatamente, 
sem a necessidade de outras ideias. 
Por exemplo, quando percebo que o branco não é 
preto, o quadrado não é triângulo ou 1+1=2. É o tipo 
mais seguro e claro de conhecimento humano. 
Demonstrativo: é quando a mente necessita de idei-
as subsidiárias para perceber o acordo ou desacor-
do entre outras duas ideias - são as chama-
das provas. 
Para saber, por exemplo, que três ângulos de um 
triângulo são iguais a dois ângulos retos, preciso 
verificar essas medidas. 
Sensível: é a percepção que temos de objetos parti-
culares externos através dos sentidos. Apesar de 
Locke incluir este terceiro tipo entre os graus de 
conhecimento, mesmo sendo o menos claro e segu-
ro dos três anteriores, o filósofo diz que o raciocínio 
que não for intuitivo ou demonstrativo é artigo 
de fé ou de opinião, não conhecimento propriamen-
te dito. 
Com base em sua classificação dos tipos de conhe-
cimento, Locke diz que as certezas provenientes da 
matemática e a moral são indubitáveis e evidentes, 
pois são alcançáveis pelo raciocínio com ideias 
presentes na mente humana, enquanto as ciências 
empíricas, como a física, que necessitam de uma 
verificação e confronto com a realidade sensível, 
não configuram verdades universais. 
A teoria do conhecimento lockeana influenciou 
os filósofos iluministas, Kant e os positivistas lógi-
cos, entre outros. 
 
Bibliografia 
 
 
 
 
 
 
 
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OAB XX EXAME DE ORDEM 
Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
Bernardo Montalvão 
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LOCKE, John. "Ensaio Acerca do Entendimento 
Humano", em Os Pensadores. São Paulo: Abril Cul-
tural, 1978. 
David Hume e o empirismo britânico: O argumento 
cético que abalou a filosofia. 
É comum termos a impressão de que a filosofia é 
algo muito abstrato, distante de nossa realidade. É o 
caso de algumas metafísicas construídas com base 
em conceitos que carecem de qualquer significado 
mais concreto. 
Na história das ideias, dificilmente encontramos um 
pensamento tão fatal para esse tipo de metafísica 
quanto aquele que o filósofo escocês David Hu-
me (1711-1776) expôs em suas Investigações sobre 
o Entendimento Humano (1748). 
 
Os argumentos de Hume foram tão convincentes 
que despertaram Kant de seu "sono dogmático" e 
influenciaram algumas das principais correntes con-
temporâneas da filosofia angloamericana. 
A obra Investigações sobre o Entendimento Huma-
no trata, essencialmente, da teoria do conhecimen-
to, que é aquele ramo da filosofia que busca res-
ponder questões sobre a origem e a validade de 
tudo que podemos conhecer. 
A este respeito, Hume era empirista, ou seja, acredi-
tava que todo conhecimento provém da experiência.Mas, diferente de Locke, para quem a mente do 
homem, ao nascer, era uma "folha em branco" a ser 
preenchida pela experiência sensível, Hume era 
também cético a respeito de uma fundamentação 
para o que aprendemos com base na experiência. 
Fontes do conhecimento. 
 
Para Hume, tudo aquilo que podemos vir a co-
nhecer tem origem em duas fontes diferentes da 
percepção: 
 
Impressões: são os dados fornecidos pelos senti-
dos. Podem ser internas, como um sentimento de 
prazer ou dor, ou externas, como a visão de um 
prado, o cheiro de uma flor ou a sensação tátil do 
vento no rosto. 
Ideias: são as impressões tais como representadas 
em nossa mente, conforme delas nos lembramos ou 
imaginamos. A lembrança de um dia no campo, por 
exemplo. 
De acordo com o filósofo, as ideias são menos vívi-
das que as impressões e, por isso, são secundárias: 
"(...) todas as nossas ideias ou percepções mais 
fracas são cópias de nossas impressões, ou per-
cepções mais vivas. 
“Por isso, a experiência seria a base de todo conhe-
cimento, que podemos chamar de raciocínio so-
bre questões de fato. Enquanto que o segundo mo-
do dos objetos externos se apresentarem à razão é 
chamado relação de ideias. 
As ideias, por sua vez, se relacionam umas com as 
outras de três modos: 
por semelhança (uma fotografia que nos leva a ter a 
ideia do fato original); 
por contiguidade de tempo e lugar (o dizer algo a 
respeito de um cômodo de uma casa me leva a 
perguntar sobre os demais); 
e por causalidade (ao nos recordarmos de uma 
pessoa ferida, imediatamente pensamos também na 
dor que ela deve ter sentido - o ferimento, neste 
exemplo, é acausa; a dor, o efeito). 
 
Nas relações de ideias, o conhecido obtido é cha-
mado de demonstrativo, intuitivo ou dedutivo. É o 
caso da matemática e da geometria. 
Examinemos dois exemplos dados por Hume. No 
primeiro, temos a seguinte proposição: "O quadrado 
da hipotenusa (1) é igual à soma dos quadrados dos 
dois lados (2)". Ela expressa a relação entre a ideia 
(1) e (2), que são, ambas, figuras geométricas. 
No segundo exemplo, a afirmação "Três vezes cin-
co (1) é igual à metade de trinta (2)" resulta da rela-
ção entre números: 3 x 5 (1) e metade de 30 (2). 
A partir daí podemos inferir três coisas: (a) que esse 
tipo de conhecimento independe completamente de 
objetos externos; (b) que é necessariamente cor-
reto, seguro; e (c) que sua prova é dada inteiramen-
te pela razão: 
seria um absurdo lógico dizer o contrário daquilo 
que é afirmado, como, por exemplo, que dois mais 
dois é igual a cinco, não quatro. 
Mas, e em se tratando de questões de fato, ou seja, 
de coisas que afirmamos acerca da realidade? To-
me-se a seguinte proposição: "As rosas são verme-
lhas". 
Nada me impede de pensar, e dizer, que as rosas 
são brancas, ou mesmo azuis ou verdes. Não have-
rá qualquer contradição lógica, mesmo que isso não 
corresponda, de fato, à rosa a qual me refiro. 
Em outro exemplo, dado por Hume, dizer que "O Sol 
não nascerá amanhã", não é menos absurdo, do 
ponto de vista lógico, do que dizer "O Sol nascerá 
amanhã". Qual deve ser, então, o fundamento do 
conhecimento empírico? 
 
Causalidade: 
Segundo Hume, todo raciocínio empírico, sobre 
questões de fato, se assenta sobre relações de 
causa e efeito. Na proposição "A pedra esquenta 
porque foi exposta aos raios solares" tenho uma 
afirmação que parte de duas impressões sensíveis, 
uma tátil ("a pedra esquenta") e outra visual ("ex-
posta aos raios solares"). 
O que une essas duas impressões é uma relação 
de causalidade: a pedra esquenta (efeito) porque foi 
exposta aos raios solares (causa). 
 
 
 
 
 
 
 
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Portanto, para saber qual é o fundamento do co-
nhecimento empírico, Hume precisou analisar o 
fundamento dessa relação causal. 
A primeira coisa que se pode dizer é que não há 
aqui nenhuma base lógica, dedutiva. Se tenho uma 
pedra em minha mão e a solto, espero que, como 
efeito, ela caia no solo. 
Mas poderia naturalmente pensar que ficasse sus-
pensa no ar ou voasse em direção ao céu. Podem 
ser coisas impossíveis de acontecer, mas concebí-
veis pelo intelecto. 
Isso significa que, por meio da razão, é impossível 
chegar da causa (a) para o efeito (b). 
São duas coisas completamente diferentes: a pedra 
se soltar da minha mão (a) e cair no solo (b). Para 
relacionar duas impressões sensíveis, preciso pri-
meiro tê-las, isto é, preciso ver a pedra caindo no 
solo para, então, dizer com segurança que ela caiu 
porque eu a soltei de minha mão. 
Diz Hume: "O intelecto jamais poderá encontrar o 
efeito numa suposta causa, mesmo pelo mais acu-
rado estudo e exame, porquanto o efeito difere radi-
calmente da causa, e por isso não pode de nenhum 
modo ser descoberto nela (...). Uma pedra ou um 
pedaço de metal erguido no ar e deixado sem ne-
nhum apoio cai imediatamente; mas quem conside-
ra esse fato a priori poderá descobrir na situação 
alguma coisa que sugira a ideia de um movimento 
para baixo e não para cima, ou qualquer outro mo-
vimento na pedra ou no metal?”. 
 
Qual deve ser, então, o fundamento da causalidade 
e, assim, do conhecimento empírico? 
Para Hume, não há nenhum, a não ser o costume, 
o hábito que temos, pelo fato de inúmeras vezes 
termos visto, anteriormente, pedras caindo no solo e 
o Sol nascendo a cada manhã. Esperamos que 
aconteça sempre a mesma relação causal devido a 
uma crença, de cunho psicológico e subjetivo. Nun-
ca podemos, portanto, ter certeza do que estamos 
dizendo a cerca de questões de fato. 
Metafísicas Este é, em resumo, o argumento cético 
de Hume sobre a causalidade. Ele foi devastador 
para a filosofia porque todas as metafísicas também 
apelam para esse tipo de relação causal para expli-
car o mundo. Por exemplo: 
Deus existe porque é a causa de tudo que existe 
(Santo Tomás de Aquino) ou as ideias claras e dis-
tintas da razão são causas de nossos conhecimen-
tos sobre a natureza (Descartes). 
Não que Hume fosse avesso à filosofia, pelo contrá-
rio. O que ele dizia é que tais sistemas filosóficos 
carecem de amparo nas impressões sensíveis, são 
muito abstratos e usam métodos demonstrativos da 
matemática que não servem de fundamento para 
questões de fato. 
 
O que Hume queria era fazer uma espécie de "faxi-
na" na filosofia, de modo a livrá-la de suas preten-
sões e ideias estéreis. Assim, ele influenci-
ou Immanuel Kant,Auguste Comte, filósofos prag-
matistas como Charles Sanders Peirce, os empiris-
tas lógicos e a filosofia analítica, entre outras impor-
tantes correntes do pensamento contemporâneo. 
 
Bibliografia 
HUME, David. "Investigações sobre o Entendimento 
Humano". São Paulo: UNESP, 2004. 
Aristóteles e o papel da razão: Nada está no intelec-
to antes de ter passado pelos sentidos. 
 
Apesar de ter sido discípulo de Platão durante vinte 
anos, Aristóteles (384-322 a.C.) diverge profunda-
mente de seu mestre em sua teoria do conhecimen-
to. 
Isso pode ser atribuído, em parte, ao profundo inte-
resse de Aristóteles pela natureza (ele realizou 
grandes progressos em biologia e física), sem des-
cuidar dos assuntos humanos, como a ética e a 
política. 
Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo 
sensível e mundo das ideias era um artifício dispen-
sável para responder à pergunta sobre o conheci-
mento verdadeiro. Nossos pensamentos não sur-
gem do contato de nossa alma com o mundo das 
ideias, mas da experiência sensível. "Nada está no 
intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", 
dizia o filósofo. 
Isso significa que não posso ter ideia de um teiú 
sem ter observado um diretamente ou por meio de 
uma pesquisa científica. Sem isso, "teiú" é apenas 
uma palavra vazia de significado. Igualmente vazio 
ficaria nosso intelecto se não fossepreenchido pe-
las informações que os sentidos nos trazem. 
Mas nossa razão não é apenas receptora de infor-
mações. Aliás, o que nos distingue como seres raci-
onais é a capacidade de conhecer. E conhecer está 
ligado à capacidade de entender o que a coisa é no 
que ela tem de essencial. Por exemplo, se digo que 
"todos os cavalos são brancos", vou deixar de fora 
um grande número de animais que poderiam ser 
considerados cavalos, mas que não são brancos. 
Por isso, ser branco não é algo essencial em um 
cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que 
não seja mamífero, quadrúpede e herbívoro. 
 
O papel da razão. 
Conhecer é perceber o que acontece sempre ou 
frequentemente. As coisas que acontecem de modo 
esporádico ou ao acaso, como o fato de uma pes-
soa ser baixa ou alta, ter cabelos castanhos ou es-
curos, nada disso é essencial. Aristóteles chama 
essas características de acidentes. 
O erro dos sofistas (e de muita gente ainda hoje) é o 
de tomar algo acidental como sendo a essência. 
 
 
 
 
 
 
 
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Através desse artifício, diziam que não se pode 
determinar quem é Sócrates, porque se Sócrates é 
músico, então não é filósofo, se é filósofo, então não 
é músico. Ora, Sócrates pode ser várias coisas sem 
que isso mude sua essência, ou seja, o fato de ser 
um animal racional como todos nós. 
Mas como nós fazemos para conhecer a definição 
de algo e separar a essência dos acidentes? Aí está 
o papel da razão. 
A razão abstrai, ou seja, classifica, separa e organi-
za os objetos segundo critérios. Observando os 
insetos, percebo que eles são muito diferentes uns 
dos outros, mas será que existe algo que todos 
tenham em comum que me permita classificar uma 
barata, um besouro ou um gafanhoto como insetos? 
Sim, há: todos têm seis pernas. Se abstrairmos 
mais um pouco, perceberemos que os insetos são 
animais, como os peixes, as aves... 
 
Ato ou potência 
E poderíamos ir mais longe, separando o que é ser, 
do que não é. E aqui chegamos à outra grande con-
tribuição de Aristóteles: se o ser é e o não-ser não 
é, como dizia Parmênides, então como é possível o 
movimento? 
Segundo Aristóteles, as coisas podem estar em ato 
ou em potência. Por exemplo, uma semente é uma 
árvore em potência, mas não em ato. Quando ger-
mina, a semente torna-se árvore em ato. O movi-
mento é a passagem do ato à potência e da potên-
cia ao ato. 
 
Qual a causa? 
Por outro lado, se as coisas mudassem completa-
mente ao acaso, não poderíamos conhecê-las. Co-
nhecer é saber qual a causa de algo. Se tenho uma 
dor de estômago, mas não sei a causa, também não 
posso tratar-me. Conhecendo a causa é possível 
saber não só o que a coisa é, mas o que se tornará 
no futuro. 
Pois, se determinado efeito se segue sempre de 
uma determinada causa, então podemos estabele-
cer leis e regras, tal como se opera nos vários ra-
mos da ciência. 
Existem quatro tipos de causas: a causa final, a 
causa eficiente, a causa formal e a causa material. 
Por exemplo, se examinarmos uma estátua, o már-
more é a causa material, a causa eficiente é o es-
cultor, a causa formal é o modelo que serviu de 
base para escultura e a causa final é o propósito, 
que pode ser vender a obra ou enfeitar a praça. 
Há uma hierarquia entre as causas, sendo a causa 
final a mais importante. A ciência que estuda as 
causas últimas de tudo é chamada de filosofia. Por 
isso, a tradição costuma situar a filosofia como a 
ciência mais elevada ou mãe de todas as ciências, 
por ser o ramo do conhecimento que estuda as 
questões mais gerais e abstratas. 
Hermenêutica: A arte de interpretar o sentido da 
palavra do autor. 
É comum ouvirmos os jovens se queixando da falta 
de compreensão dos pais e os pais, por sua vez, 
dizerem que não entendem seus filhos. Se proble-
mas de compreensão surgem até mesmo entre 
pessoas de uma mesma família, o que dizer de 
pessoas afastadas de nós por centenas ou milhares 
de anos? Como podemos ter certeza de que esta-
mos interpretando Platão ou uma passagem do 
Evangelho segundo a intenção de seu autor? Tais 
problemas constituem o objeto de investigação 
da hermenêutica. 
O termo "hermenêutica" remete ao deus grego 
Hermes, o mensageiro dos deuses, aquele que traz 
notícias. O hermeneuta seria aquele que tanto 
transmite quanto interpreta uma mensagem, já que 
não é possível separar uma coisa da outra. Por 
conseguinte, hermenêutica seria a arte de interpre-
tar o sentido da palavra do autor, principalmente de 
textos clássicos. 
 
Para o filósofo Wilhelm Dilthey (1833-1911) a per-
gunta fundamental da hermenêutica é: "como é 
possível o compreender?" Ou seja, o que me torna 
capaz de compreender o que outra pessoa disse ou 
"quis dizer"? No caso das ciências da natureza, a 
interpretação do cientista é algo a ser anulado para 
deixar os fatos falarem por si mesmos, de modo a 
garantir a objetividade do conhecimento. 
Nas ciências humanas, ocorre o processo inverso, é 
justamente a vivência do sujeito que permite atribuir 
uma significação aos acontecimentos. 
 
Compreendendo a mim e aos outros 
Cada um de nós atribui um significado às nossas 
vivências construindo a nossa biografia individual, 
que é o que permite que eu me reconheça quando 
olho as fotos de minha infância, por exemplo. 
É também a minha biografia individual que permite 
que eu estabeleça uma conexão entre a vivência 
individual e a existência coletiva, o que possibilita 
que eu compreenda os outros da mesma forma com 
que compreendo e interpreto as minhas próprias 
vivências. 
Por exemplo, que se estivesse no lugar de outra 
pessoa em uma determinada situação teria feito isto 
ou aquilo. Ao observar o modo de agir de alguém, 
eu posso compreender não só o que ele está fazen-
do, mas também o sentido possível de sua ação, 
isto é, o que o sujeito pretende ao realizar tal ação. 
Da mesma forma, quando observo a expressão de 
alguém, posso inferir se ela está triste, preocupada 
etc. 
Além do agir e da expressividade, a linguagem 
constitui o principal meio para se compreenderem 
as manifestações vitais. É através dela que as vi-
vências se exteriorizam permitindo que se tornem 
 
 
 
 
 
 
 
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comuns, constituindo nosso mundo cultural. As vi-
vências são, portanto, o que possibilita nossa com-
preensão mútua, que nem sempre está isenta de 
mal-entendidos. 
 
Validade da interpretação 
Como as pessoas interpretam os eventos segundo 
suas vivências, estas nem sempre correspondem as 
de outras gerações ou culturas, levando aos erros 
de interpretação. 
O problema está, portanto, em estabelecer parâme-
tros para saber quais interpretações são válidas e 
quais não são. Sem tais parâmetros, poderíamos 
acabar achando que qualquer interpretação sobre 
um fato social ou histórico seria igualmente válida. 
Um outro complicador nessa questão é que, ao 
contrário das ciências naturais em que há a possibi-
lidade de se repetir um experimento, nas ciências 
humanas não há como "provar" que a interpretação 
é correta. Não se pode, por exemplo, consultar os 
que já estão mortos para saber se concordam com 
a nossa interpretação, ou mesmo garantir que um 
entrevistado esteja dizendo a verdade ao falar sobre 
suas memórias ou experiências. 
Um parâmetro sugerido pelo filósofo Jürgen Haber-
mas para garantir a objetividade de uma interpreta-
ção seria, além do uso de métodos reconhecidos 
pela comunidade de historiadores ou cientistas so-
ciais, a justificativa do intérprete por ter escolhido 
essa hipótese e não aquela, além da explicitação 
dos pressupostos dos quais partiu. 
 
"Círculo virtuoso“ 
Nas ciênciashumanas assim como nos diálogos 
cotidianos permanece sempre aberta a possibilida-
de de demonstrar argumentativamente as razões 
para se compreender algo desta ou daquela manei-
ra. Através da crítica de outros estudiosos, podemos 
melhorar nossa compreensão do objeto e reconstru-
ir a teoria em um processo contínuo. 
Tal processo foi denominado por Dilthey de "circulo 
virtuoso" em que partimos de uma compreensão 
provisória do objeto, confrontamos os dados com a 
compreensão que tínhamos dele e alargamos nossa 
compreensão. 
Isso tudo permite que nós, seres humanos, possa-
mos compreender melhor a nossa arte, história, 
cultura e sociedade e se não resolve o problema da 
comunicação entre pais e filhos, ou entre povos de 
diferentes culturas, pelo menos nos permite enten-
der porque isso acontece. 
Filosofia: para que serve?: O conhecimento sem 
finalidade utilitária. 
Enquanto esperavam o próximo discurso na ágora, 
a praça das feiras e das discussões, os gregos do 
século 6 a.C. devem ter se perguntado: "Essa filoso-
fia que apareceu por aí. Serve para quê?“ 
É próprio da filosofia perguntar, questionar, buscar 
explicações. Por que haveria ela de escapar à inda-
gação sobre sua própria existência? Ela, que tanto 
preza a interrogação, não poderia mesmo se furtar a 
seu próprio porquê. 
Vinte e cinco séculos se passaram e a velha per-
gunta não cala: para que serve a filosofia? Na opini-
ão da maior parte das pessoas, no mundo utilitarista 
em que vivemos, tudo tem de ter uma razão de ser 
e uma finalidade. Então, a resposta ainda é neces-
sária. E ela seria: a filosofia não serve para nada! 
Sem finalidade 
Mas você já pensou que muitas outras coisas não 
têm finalidade específica e nem por isso são desim-
portantes? A arte, por exemplo, serve para quê? 
Qual a finalidade da natureza, do mundo físico? Não 
é por não serem utilitárias que a arte, a natureza e 
também a filosofia deixam de ter sua razão de ser. 
Se você já estuda filosofia na escola, deve estar se 
perguntando: "Por que estou lendo sobre filosofia, 
se ela não serve para nada? Para que vai me servir 
isso?" Você acaba de se questionar. Talvez tenha 
arranjado uma resposta, mesmo que provisória, e 
outra pergunta surgiu. É assim que se começa a 
filosofar. Perguntando sobre o mundo, sobre si e o 
outro. 
 
O que sou? 
O que sou? Essa é uma das primeiras perguntas 
que surgem para quem quer filosofar. Quer continu-
ar? Pois saiba que vai se iniciar uma história de 
perguntas sem fim. Veja como Marilena Chauí, filó-
sofa brasileira, descreve o pensamento filosófico: 
"Eu imagino que a filosofia busca uma atitude preci-
sa: perguntar. E perguntar, não para encontrar ime-
diatamente respostas. Perguntar para que respostas 
sejam dadas e voltar a fazer perguntas sobre as 
respostas que foram dadas. É nunca abrir mão da 
atitude crítica, sabendo que é uma atitude desgra-
çada, na medida em que não teremos nunca a van-
tagem de quem, em um navio, possui um mapa, 
uma bússola, todos os aparelhos eletrônicos, de tal 
modo que o piloto possa até mesmo dormir e o na-
vio vá sozinho para o seu destino. A ideia de assu-
mir até o fim um pensamento crítico é aceitar que 
navegamos sem mapa, sem bússola, no máximo 
talvez com uma estrela, e que essa estrela seja: 
continuar perguntando." (in, Lorieri e Rios, 2004, 
págs.29-30). 
 
"Só sei que nada sei" 
Isso lhe parece desesperador? Pense bem. Se quer 
continuar no caminho da filosofia, vai precisar se 
distanciar um pouco das certezas. A filosofia não lhe 
trará segurança a respeito de muita coisa. Sócrates, 
por exemplo, dizia: "Só sei que nada sei". 
Ele punha por terra tudo o que julgava mais certo, 
para então construir o seu conhecimento. Se você 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
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for aceitar o desafio de filosofar, vai perceber que a 
filosofia é assim meio fugidia, atiça nossas incerte-
zas. Ela é sedutora como as sereias que quase 
encantaram Ulisses na "Odisseia". 
Mas, ao contrário do que acontece nessa história, a 
filosofia não põe em risco a aventura de navegar, 
sem mapas nem bússolas. 
 
Hora de filosofar 
1) Sabia que, a partir de 2008, apesar de sua "insig-
nificância", a filosofia e a sociologia voltarão oficial-
mente a fazer parte do currículo de todas as escolas 
públicas brasileiras? 
2) "A natureza virou recurso - demos-lhe essa finali-
dade - e nunca antes ela esteve tão próxima do fim". 
Os termos fim e finalidade têm o mesmo significa-
do? Explique. 
3) A questão ambiental é um dos assuntos mais 
urgentes, também para a filosofia. Imagine que você 
está no ano de 2057 e vê que o meio ambiente foi 
irreversivelmente devastado. Você irá viajar no tem-
po de volta para 2007 portando: 
a) um relatório com a descrição do que viu; e 
b) uma lista com dez iniciativas para que você e sua 
geração possam se antecipar ao problema da de-
vastação ambiental. 
c) Envie um correio eletrônico com o relatório e a 
lista para três colegas. Convide-os a fazer essa 
atividade. Peça que depois enviem a você o relató-
rio e a descrição que fizeram. Observe as coinci-
dências nos trabalhos de cada um. 
 
Conhecer o mundo: Mitologia, religião, ciência, filo-
sofia, senso comum. 
Há muitos modos de se conhecer o mundo, que 
dependem da situação do sujeito diante do objeto 
do conhecimento. Ao olhar as estrelas no céu no-
turno, um índio caiapó as enxerga a partir de um 
ponto de vista bastante diferente do de um astrô-
nomo. 
O caiapó vê nas estrelas as fogueiras que alguns de 
seus deuses acendem no céu para tornar a noite 
mais clara. O cientista vê astros que têm luz própria 
e que formam uma galáxia. O índio compreende e 
conhece as estrelas a partir de um ponto de vista 
mitológico ou religioso. O astrônomo as compreen-
de e conhece a partir de um ponto de vista científi-
co. 
A mitologia, a religião e a ciência são formas de 
conhecer o mundo. São modos do conhecimento, 
assim como o senso comum, a filosofia e a arte. 
Todos eles são formas de conhecimento, pois cada 
um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, 
explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido. Vamos 
examinar mais de perto cada uma dessas formas de 
conhecimento. 
 
O mito e a religião 
O mito proporciona um conhecimento que explica o 
mundo a partir da ação de entidades - ou seja, for-
ças, energias, criaturas, personagens - que estão 
além do mundo natural, que o transcendem, que 
são sobrenaturais. 
Veja, por exemplo, o mito através do qual os antigos 
gregos explicavam a origem do mundo: 
No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto 
abismo insondável, como um imenso mar, denso e 
profundo, onde nada podia existir. 
Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de 
um modo inexplicável e incompreensível, emergiram 
a Noite negra e a Morte impenetrável. Da muda 
união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito 
do vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta 
à deles, o Amor, que surgiu cintilando dentro de um 
ovo incandescente. 
Ao ser posto no regaço do Caos, sua casca resfriou 
e se partiu em duas metades que se transformaram 
no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espi-
ando-se em deslumbramento mútuo, empapuçados 
de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a Terra, 
fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habi-
tar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante e 
hospitaleiro. 
Assim como o mito, a religião, ou melhor, as religi-
ões também apresentam uma explicação sobrenatu-
ral para o mundo. Para aderir a uma religião, é obri-
gatório crer ou ter fé nessa explicação. Além disso, 
é uma parte fundamental da crença religiosa a fé 
em que essa explicação sobrenatural proporciona 
ao homem uma garantia de salvação, bem como 
prescreve maneiras ou técnicas de obter e conser-
var essa garantia, quesão os ritos, os sacramentos 
e as orações. 
Antes de seguir em frente, convém esclarecer que 
não vem ao caso discutir aqui a validade do conhe-
cimento religioso. Em matéria de provas objetivas, 
se a religião não tem como provar a existência de 
Deus, a ciência também não tem como provar a Sua 
inexistência. 
 
E, a propósito disso, vale a pena apresentar uma 
outra narrativa filosófica: 
 
Certa vez, um cosmonauta e um neurologista rus-
sos discutiam sobre religião. O neurologista era 
cristão, e o cosmonauta não. “Já estive várias vezes 
no espaço”, gabou-se o cosmonauta, “e nunca vi 
nem Deus, nem anjos”. 
“E eu já operei muitos cérebros inteligentes”, res-
pondeu o neurologista, “e também nunca vi um pen-
samento”. 
O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Le-
tras, 1995. 
A ciência 
A ciência procura descobrir como a natureza "funci-
ona", considerando, principalmente, as relações de 
 
 
 
 
 
 
 
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Filosofia – Introdução Geral a Filosofia 
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causa e efeito. Nesse sentido, pretende buscar o 
conhecimento objetivo, isto é, que se baseia nas 
características do objeto, com interferência mínima 
do sujeito. Veja, por exemplo, a seguinte descrição 
científica: 
O coração é um músculo oco, em forma de cone 
achatado com a base virada para cima e a ponta 
voltada para baixo, do tamanho aproximado de um 
punho fechado. O músculo cardíaco é chamado de 
miocárdio. Sua superfície interna é recoberta por 
uma membrana delgada, o endocárdio. Sua superfí-
cie externa tem um invólucro fibro-seroso, o pericár-
dio. 
 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998 
Quando se fala em "mínima interferência do sujeito", 
quer se dizer que a descrição de coração proposta 
acima é válida independentemente do estudioso de 
anatomia que a formulou. 
A definição tradicional de ciência pressupõe que ela 
seja um modo de conhecimento com absoluta ga-
rantia de validade. 
A ciência moderna já não tem a pretensão ao abso-
luto, mas ao máximo grau de certeza. 
Quanto à garantia de validade, ela pode consistir: 
Na descrição, conforme o exemplo acima;Na de-
monstração, como no caso de um teorema matemá-
tico; Na corrigibilidade, ou seja, na possibilidade de 
corrigir noções e conceitos, a partir dos avanços da 
própria ciência. 
Finalmente, é importante esclarecer que a aplicação 
da ciência resulta na tecnologia, ou no conhecimen-
to tecnológico. 
O senso comum O senso comum ou conhecimento 
espontâneo é a primeira compreensão do mundo, 
baseada na opinião, que não inclui nenhuma garan-
tia da própria validade. 
Para alguns filósofos, o senso comum designa as 
crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em 
que a maioria dos homens acredita ou devem acre-
ditar. 
A mais completa tradução do senso comum talvez 
sejam os ditados populares. A título de exemplo, eis 
alguns: 
"Cada cabeça, uma sentença.""Quem desdenha 
quer comprar.""Quem ri por último ri melhor.""A 
pressa é a inimiga da perfeição.""Se conselho fosse 
bom, não era dado de graça." 
A filosofia Para Platão, a filosofia é o uso do saber 
em proveito do homem. 
 
Isso implica a posse ou aquisição de um conheci-
mento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o 
mais amplo possível; e também o uso desse conhe-
cimento em benefício do homem. Essa definição, 
porém, exige a uma definição de benefício, que por 
sua vez exige uma definição de Bem. Para saber o 
que é o Bem, entretanto, também é necessário des-
cobrir o que é a Verdade. 
Alguns filósofos, definem a filosofia como a busca 
do Bem, da Verdade, do Belo e de como os homens 
podem conhecer essas três entidades. Portanto, a 
filosofia toma para si a árdua tarefa de debater pro-
blemas ou especular sobre problemas que ainda 
não estão abertos aos métodos científicos: o bem e 
o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida 
e a morte. 
 
Vamos a um exemplo de texto filosófico, em que um 
filósofo norte-americano, John Dewey, procura refle-
tir justamente sobre o que é senso comum: 
Visto que os problemas e as indagações em torno 
do senso comum dizem respeito às interações entre 
os seres vivos e o ambiente, com o fim de realizar 
objetos de uso e de fruição, os símbolos emprega-
dos são determinados pela cultura corrente de um 
grupo social. Eles formam um sistema, mas trata-se 
de um sistema de caráter mais prático que intelec-
tual. Esse sistema é constituído por tradições, pro-
fissões, técnicas, interesses e instituições estabele-
cidas no grupo. As significações que o compõem 
são efeito da linguagem cotidiana comum, com a 
qual os membros do grupo se intercomunicam. 
 
Lógica, VI, 6, J. DeweyTradicionalmente, a filosofia 
se divide em cinco áreas: 
Lógica, que estuda o método ideal de pensar e in-
vestigar; 
Metafísica, que estuda a natureza do Ser (ontolo-
gia), da mente (psicologia filosófica) e das relações 
entre a mente e o ser no processo do conhecimento 
(epistemologia); 
Ética, que estuda o Bem, o comportamento ideal 
para o ser humano; 
Política, que estuda a organização social do ho-
mem; 
Estética, que estuda a beleza e que pode ser cha-
mada de filosofia da Arte. 
 
Convém concluir lembrando que a ciência e o pen-
samento científico se originaram com a filosofia na 
Grécia da Antiguidade. Com o passar do tempo, 
certas áreas da especulação filosófica, como a ma-
temática, a física e a biologia ganharam tal especifi-
cidade que se separaram da filosofia. 
A arte O conhecimento proporcionado pela arte não 
nos dá o conhecimento objetivo de uma coisa qual-
quer, mas o de um modo particular de compreendê-
la, um modo que traduz a sensibilidade do artista. 
Trata-se, portanto, de um conhecimento produzido 
pelo sujeito e pela subjetividade. 
Veja por exemplo o seguinte soneto, escrito pelo 
poeta bahiano do século 17,Gregório de Matos, no 
qual ele dá a sua "visão" do braço de uma imagem 
do Menino Jesus que havia sido quebrada por ho-
 
 
 
 
 
 
 
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landeses protestantes, quando da invasão da cida-
de de Salvador: 
 
O todo sem a parte não é todo; 
A parte sem o todo não é parte; 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga que é parte, sendo o todo. 
Em todo sacramento está Deus todo, 
E todo assiste inteiro em qualquer parte, 
E feito em partes todo em toda a parte 
Em qualquer parte sempre fica todo. 
O braço de Jesus não seja parte, 
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço que lhe acharam, sendo parte, 
Nos diz as partes todas deste todo. 
Filosofia antiga: Quadro relaciona os principais filó-
sofos da Antiguidade. 
 
PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
 
 
 
FILOSOFIA CLÁSSICA. 
 
 
 
FILOSOFIA HELENÍSTICA

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