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Aula 05: A Teoria dos Prospectos Objetivo: O objetivo desta aula é apresentar e discutir os principais conceitos relacionados à Teoria dos Prospectos, bem como seus impactos num ambiente organizacional. Como dito anteriormente, há dois tipos de julgamento e agora vamos falar dos vieses e heurísticas (regras simplificadoras) do segundo tipo, que é o Julgamento de Valor. Segundo Kahneman, Slovic e Tverskye Bazerman, neste tipo de julgamento levamos em consideração questões referentes à incerteza e ao risco. Temos por incerteza a ausência completa de qualquer indicativo de probabilidade associada às possibilidades de um evento para estimarmos seu valor esperado. Já o risco é a medida de incerteza pela qual temos a possibilidade de estimar probabilidades associadas aos acontecimentos esperados, para prevermos o que pode acontecer, ou o que esperamos que aconteça. Até então vimos como as heurísticas cognitivas podem levar-nos sistematicamente a uma tomada de decisão enviesada. Isso continuará a ser o foco de nossas discussões, porém vamos examinar aspectos sutis relativos à apresentação das informações, que denominaremos de enquadramento da informação, e veremos como eles podem exercer impactos significativos sobre a tomada de decisão. Vamos apresentar indícios de que as pessoas se desviam sistematicamente da racionalidade em decisões que envolvam risco, pois elas não avaliam, de maneira geral, a natureza da incerteza e os efeitos do enquadramento. Uma grande parte dos decisores não se sentem à vontade em relação às incertezas. Eles tendem a querer ficar longe delas e acreditar que, se trabalharem bastante, poderão controlar os resultados futuros. Ou seja, a primeira e mais usual maneira de lidar com as incertezas é ignorá-las. Isto geralmente envolve a crença de que os eventos dos acasos podem ser controlados se formos hábeis para isso. Nas palavras de Bazerman, o ser humano demonstra uma necessidade patológica de ter know-how para as situações que contêm incerteza inerente. Isso leva as pessoas a darem crédito em demasia aos sucessos e a procurarem "culpados" nos fracassos. Como decisores em situações gerenciais, estamos constantemente frente a decisões que levarão a resultados incertos, e muitas dessas decisões são cruciais, pois envolvem empregos, segurança, confiabilidade de produtos/serviços e até a própria existência da organização. Por isso, a preocupação com o quanto arriscado é tomar uma decisão ou qual nível de risco é aceitável, ao tomá-la, é sempre saudável. Alguns problemas no tratamento dos riscos são inevitáveis, como, por exemplo,o trade-off existente entre resultados e custos. Mas, se não lidarmos racionalmente com tais escolhas, ou apenas reagirmos às mesmas de maneira superficial, deveremos preparar-nos para encontrarmos inconsistências sérias em nossas decisões. o que temos que ressaltar é que, se você consegue entender a natureza das decisões arriscadas, será mais provável que as avalie com base em um processo de decisão de qualidade. A questão é que se pode tomar decisões melhores aceitando a existência da incerteza e aprendendo a pensar sistematicamente em ambientes de risco. Isso implica o uso de dois Princípios Básicos de Comportamento Racional: • princípio da Invariância: sempre que temos os mesmos elementos, temos que chegar às mesmas decisões; • princípio da Dominância: sempre que, na comparação entre duas alternativas, tivermos em uma delas um aspecto dominante, e os outros não são perdedores, temos nesta alternativa a melhor. Os efeitos do enquadramento da informação podem ser explicitados pela troca na maneira que uma informação é disponibilizada para o decisor. Ou seja, o conteúdo da informação é o mesmo, porém sua forma de apresentação é diferente. Em teoria isso não deveria alterar em nada as preferências e, por conseguinte, as decisões de uma pessoa; porém, o que sente na prática é uma mudança de atitude que impacta até o comportamento em relação ao risco, fazendo com que pessoas aparentemente avessas passem a ter um comportamento propenso ao risco. Esse deslocamento de preferências e padrões de decisão tem sido foco de inúmeras publicações e estudos recentemente. Dentre eles podemos destacar os livros de Kahneman, Slovic e Tversky e Bazerman, que mostram que os indivíduos tratam os riscos relativos a ganhos percebidos (resultados apresentados em termos positivos) de forma diferente dos riscos que dizem respeito às perdas percebidas (resultados apresentados em termos negativos). Para Bazerman, nesse tipo de julgamento se utiliza muito o conceito de utilidade, porém com algumas modificações que serão mostradas pela Teoria Prospectiva da Decisão ou Teoria dos Prospectos, desenvolvida por Kahneman e Tversky. Essa, que é a teoria descritiva mais abrangente sobre a maneira como decidimos como agir sob condições de risco e uma das mais importantes tentativas de explicar esses desvios comuns e sistemáticos da racionalidade, sugere o seguinte: • as recompensas e perdas são avaliadas com relação a um ponto de referência neutro; • os resultados potenciais são expressos como ganhos (pontos positivos) ou perdas. (pontos negativos) com relação a esse ponto de referência fixo e neutro; • as escolhas que as pessoas fazem são formadas com base na mudança resultante na posição de ativos, avaliada conforme uma função de valor no formato de um S (conforme Figura 01). Kahneman, Slovic e Tversky dizem que na Teoria Prospectiva da Decisão ou dos Prospectos modifica-se o conceito de utilidade, pois os resultados da decisão são vistos como desvios (ganhos ou perdas) em relação a um ponto de referência que o decisor adota na decisão. Assim, se o ponto de referência é tal que os resultados são vistos como ganhos, prevalece uma posição de aversão ao risco. Se, ao contrário, os resultados são vistos como perdas, prevalece a propensão ao risco. Isso se deve ao fato de que a sensação associada a perda de um valor é mais forte do que a sensação associada ao ganho do mesmo valor; isso modifica um pouco a curva de utilidade, que passa a ser vista da seguinte maneira: Figura 01 – Gráfico da utilidade para ganhos e perdas Nessa figura, o eixo X representa as unidades nominais ganhas ou perdidas e o eixo Y as unidades de utilidade associadas a variados níveis de ganho ou perda. Ao todo a figura sugere que os tomadores de decisão tendem a evitar riscos relativos a ganhos e a buscar riscos relativos a perdas. A curva em forma de S da função de valor implica que a maioria das pessoas escolheria um ganho certo de R$ 10 milhões e não a probabilidade de 50% de receber um ganho de R$ 20 mjlhões, tendo em vista que a utilidade atribuída a esta última quantia é menor que o dobro da que se dá aos R$ 10 milhões, mas que a maioria das pessoas escolheria uma probabilidade de 50% de uma perda de R$ 20 milhões em detrimento de uma perda certa de R$ 10 milhões, considerando-se que a utilidade negativa atribuída aos R$ 20 milhões é maior que o dobro da utilidade negativa atribuída aos R$ 10 milhões. Um resultado importante dessa teoria é que a forma pela qual o problema é "enquadrado" ou apresentado pode alterar drasticamente o ponto neutro percebido da questão. Se o problema for enquadrado em termos de perdas (atributos negativos das alternativas), a posição de ganhos passa a ser a referência e faz com que as alternativas sejam avaliadas na parte de baixo da figura, resultando em um comportamento de propensão ao risco. No entanto, se o problema for enquadrado em termos de ganhos (atributos positivos das alternativas), a posição de perdas passaa ser a referência e faz Valores Utilidade na Região dos Ganhos Utilidade na Região das Perdas A intensidade (utilidade) da perda de um valor é maior que a intensidade (utilidade) do ganho deste mesmo valor. Utilidade com que as alternativas sejam avaliadas na parte superior da figura, resultando em um comportamento de aversão ao risco. Isso quer dizer que um resultado importante da Teoria dos Prospectos é que ela identifica um padrão sistemático de como o enquadramento do problema faz com que o comportamento de tomada de decisão se desvie tanto da teoria do valor esperado quanto daquela da utilidade esperada. Ambas essas teorias afirmam que os tomadores de decisão racionais deveriam ser imunes ao enquadramento das escolhas. Uma segunda característica de nossos processos de tomada de decisão identificada pela teoria dos prospectos é que nossa reação à perda é mais extrema do que nossa resposta ao ganho. De acordo com a Figura 9.1, a dor à perda de X reais é normalmente maior do que o prazer associado ao ganho da mesma quantia. Bazerman diz que, nos estudos de Kahneman e Tversky1, fica clara a relutância das pessoas em aceitar apostas justas com relação à jogada de uma moeda como prova desse efeito. Bazerman diz ainda que nesse mesmo estudo os autores identificam uma outra maneira pela qual nossos processos de tomada de decisão se desviam da Teoria da Utilidade Esperada. Eles dizem que a Teoria da Utilidade Esperada pondera uma opção arriscada por sua probabilidade; a Teoria dos Prospectos afirma que tendemos a dar maior peso à probabilidade de eventos de baixa probabilidade e a dar menor peso a eventos de maior probabilidade. Em relação à Teoria dos Prospectos procuramos apresentar sua lógica e identificar as formas pelas quais suas conclusões divergem dos princípios normativos das teorias da Utilidade Esperada e do Valor Esperado. De forma genérica, esses conceitos incluem o impacto do enquadramento das informações sobre nossas decisões, nossa reação diferenciada a ganhos e perdas e nossa tendência a representar de forma errônea, sistematicamente, as probabilidades. Em virtude de seu poder descritivo, a Teoria dos Prospectos tem causado uma grande agitação nos campos da teoria da decisão, da psicologia e do comportamento organizacional, do marketing e da economia ao longo dos últimos 10 a 15 anos. A ela tem cabido o papel de auxiliar os pesquisadores a ter melhor entendimento dos erros sistemáticos existentes em nosso julgamento. 1 TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. The framing of decisions and the psychology of choice. Science, 1981. Em função das constatações da Teoria dos Prospectos e das pesquisas que surgiram com base em sua proposição desenvolveremos agora oito aspectos genéricos ou vieses a serem considerados em uma abordagem de situações incertas. O que se busca com essa organização dos vieses é tão-somente mostrar o que existe, em termos de estudos, acerca do enquadramento de decisões e de nossas reações diferenciadas aos variados tipos de risco: • decisões afetadas pelo enquadramento das escolhas: o reflexo imediato desse viés é que, na maioria das vezes, a soma dos resultados de todas as escolhas indesejáveis predomina sobre a soma de todas as escolhas desejáveis. Assim, quando o enquadramento do problema é combinado em duas partes, tem como resultado uma reversão de preferências. A curva depreferência da Teoria dos Prospectos dá conta dessa constatação, mas isso não quer dizer que as escolhas sejam racionais. Na realidade, essa inconsistência viola os requisitos fundamentais da tomada de decisão racional: consistência e coerência. Muitas das decisões gerenciais interligadas, tais como a seleção de carteira, a orçamentação e o financiamento de novos projetos, podem ser enquadradas como decisões separadas ou conjuntas. Os resultados sugerem ser provável que a subdivisão da tomada de decisão por meio de toda a organização aumente o potencial de inconsistência e de escolhas não racionais. Os departamentos de vendas são estimulados a pensar em termos da aquisição de ganhos corporativos, ao passo que as áreas de crédito são encorajadas a enquadrar as decisões em termos de evitarem perdas corporativas. Para se chegar a uma estratégia coerente para a realização de julgamentos sob incerteza, os indivíduos precisam ficar mais conscientes desse viés e desenvolver procedimentos para identificar e integrar as decisões de risco por meio das organizações; • decisões afetadas pelo enquadramento dos resultados: como já dito anteriormente, a localização do ponto de referência é fundamentada para que se determine se uma decisão está enquadrada positivamente ou negativamente, afetando a preferência de risco resultante do tomador de decisão. Além disso, a mudança do ponto de referência desloca as decisões dos indivíduos da parte superior para a parte inferior da curva. Mas o que pode ser feito em relação a esse viés? Primeiro identifique seu ponto de referência quando estiver tomando uma decisão arriscada e depois descubra se outros pontos de referência seriam igualmente razoáveis. Se a resposta for positiva, pense sobre sua decisão com base em diversos pontos de vista e veja se há uma contradição. Você estará, então, preparado para reagir ao problema com uma total consciência dos enquadramentos alternativos pelos quais o problema poderia ter sido apresentado; • decisões afetadas pela pseudocerteza e pseudo-incerteza enquadradas nas escolhas: a Teoria dos Prospectos sugere que as pessoas dão menor peso a eventos de alta probabilidade, mas ponderam adequadamente eventos que são certos. Assim, se um evento tem uma probabilidade de 1 ou O,tendemos a avaliar corretamente sua probabilidade. Contudo, se o evento tiver uma probabilidade de 0,99, tendemos a responder conforme o quadro de referência da utilidade esperada, reagindo a uma probabilidade menor que essa. Em outras palavras, qualquer ação preventiva que reduza a probabilidade de dano de, por exemplo, 0,01 para zero será mais altamente avaliada do que uma ação que reduza a probabilidade do mesmo dano de 0,02 para 0,01. Mas o que é curioso é que a percepção de certeza (probabilidade zero ou 1) pode ser facilmente manipulada, formando o que denominamos efeito certeza e efeito da pseudocerteza. Esses efeitos levam às inconsistências de julgamento. No caso do efeito certeza, estamos mais aptos a ficar interessados na redução da probabilidade de eventos certos do que de eventos incertos. Sob o efeito da pseudocerteza estamos mais inclinados a favorecer opções que nos assegurem a certeza do que as que apenas reduzem a incerteza. Racionalmente, qualquer redução constante do risco em uma situação incerta deveria ter o mesmo valor para o tomador de decisão. As manipulações de pseudocerteza têm importantes implicações para a concepção das comunicações sobre tratamentos médicos, seguros pessoais, responsabilidade empresarial e uma série de outras formas de proteção. Isso significa que os indivíduos, em geral, podem comprar seguros não apenas para se protegerem do risco, mas também para eliminar a preocupação causada por qualquer quantidade de incerteza; • enquadramento do pagamento de prêmios versus a aceitação de perdas certas: um prêmio de seguro consiste na perda certa (o prêmio) que você aceita em troca da redução de uma pequena probabilidade de uma grande perda. Vários estudos mostram que uma perda certa fica mais interessante quando enquadrada como um prêmio de seguro do que quando enquadrada como prejuízo financeiro. Isso pode ser explicado de várias maneiras.A Teoria dos Prospectos sugere que, na condição de prejuízo financeiro, as pessoas usam o status quo como ponto de referência. Ao contrário, na condição de prêmio de seguro, o ponto de referência já incorpora o prejuízo correspondente ao prêmio. É importante dizer que, independentemente das causas desse viés, é fundamental que se percebam as implicações do efeito desse enquadramento de decisões relativas a seguros em contraposição à aceitação de perdas certas. Esse estudo sugere que é mais provável que as pessoas aceitem uma perda certa se ela for encarada como seguro do qve se for um prejuizo monetário certo; • qualidade de uma transação afetada pelo enquadramento em que é apresentada: este viés nos leva à conclusão de que algo mais importa além do valor que você atribui a determinado bem adquirido, mesmo quando não há nenhum outro tipo de vantagem associada ao nível de serviço. Isso nos leva à conclusão de que, além da utilidade de aquisição, existe outra denominada de utilidade transacional. Esta se refere à qualidade do que você recebe, avaliada em relação ao que o item custaria. Mas, na verdade, mesmo sem receber mais nada em termos práticos, a utilidáde transacional nos leva a um comportamento irracional de pagar mais sem ter nada a mais em troca; • decisões áfetadas pelo somatório dos ganhos e perdas: o argumento para as diferenças percebidas decorre logicamente da curva em forma de S identificada pela Teoria dos Prospectos. A teoria alega que damos maior valor aos ganhos iniciais de um ponto de referência do que aos ganhos subseqüentes. Isso também vale no caso de perdas, ou seja, damos um valor mais negativo às perdas iniciais do que às subseqüentes; • enquadramento do problema e valor de seu tempo: o tempo tem muito a ver com a questão de risco, e saber como as pessoas valorizam seu tempo é uma tarefa interessante. Nos últimos anos, os profissionais vêm-se tornando muito explícitos ao encararem o tempo como seu bem mais valioso, e pensar racionalmente sobre o valor de nosso tempo tornou-se cada vez mais importante. Isso é normalmente feito por meio de perguntas em que as pessoas são convidadas a valor ar seu tempo em relação a uma atividade que lhes consumiria este; • racionalidade de suas escolhas intertemporais: um outro aspecto ainda ligado à questão do tempo é se o valor que atribuímos a nosso tempo é o mesmo que damos às diferenças nos prazos dos resultados. Isso é o que é denominado na literatura como escolhas intertemporais. Os modelos-padrão de tomada de decisão supõem que agimos de forma a maximizar a utilidade esperada a uma taxa única, constante, de desconto. Isto é, esse tipo de modelo mostra os indivíduos agindo consistentemente em termos do valor do tempo. Porém, a realidade de que o futuro é algo intrinsecamente incerto leva muitos indivíduos a introduzirem vieses na escolha pessoas usam o status quo como ponto de referência. Ao contrário, na condição de prêmio de seguro, o ponto de referência já incorpora o prejuízo correspondente ao prêmio. É importante dizer que, independentemente das causas desse viés, é fundamental que se percebam as implicações do efeito desse enquadramento de decisões relativas a seguros em contraposição à aceitação de perdas certas. Esse estudo sugere que é mais provável que as pessoas aceitem uma perda certa se ela for encarada como seguro do que se for um prejuízo monetário certo; qualidade de uma transação afetada pelo enquadramento em que é apresentada: este viés nos leva à conclusão de que algo mais importa além do valor que você atribui a determinado bem adquirido, mesmo quando não há nenhum outro tipo de vantagem associada ao nível de serviço. Isso nos leva à conclusão de que, além da utilidade de aquisição, existe outra denominada de utilidade transacional. Esta se refere à qualidade do que você recebe, avaliada em relação ao que o item custaria. Mas, na verdade, mesmo sem receber mais nada em termos práticos, a utilidade transacional nos leva a um comportamento irracional de pagar mais sem ter nada a mais em troca; decisões afetadas pelo somatório dos ganhos e perdas: o argumento para as diferenças percebidas decorre logicamente da curva em forma de S identificada pela Teoria dos Prospectos. A teoria alega que damos maior valor aos ganhos iniciais de um ponto de referência do que aos ganhos subsequentes. Isso também vale no caso de perdas, ou seja, damos um valor mais negativo às perdas iniciais do que às subseqüentes; • enquadramento do problema e valor de seu tempo: o tempo tem muito a ver com a questão de risco, e saber como as pessoas valorizam seu tempo é uma tarefa interessante. Nos últimos anos, os profissionais vêm-se tornando muito explícitos ao encararem o tempo como seu bem mais valioso, e pensar racionalmente sobre o valor de nosso tempo tornou-se cada vez mais importante. Isso é normalmente feito por meio de perguntas em que as pessoas são convidadas a valorar seu tempo em relação a uma atividade que lhes consumiria este; • racionalidade de suas escolhas intertemporais: um outro aspecto ainda ligado à questão do tempo é se o valor que atribuímos a nosso tempo é o mesmo que damos às diferenças nos prazos dos resultados. Isso é o que é denominado na literatura como escolhas intertemporais. Os modelos-padrão de tomada de decisão supõem que agimos de forma a maximizar a utilidade esperada a uma taxa única, constante, de desconto. Isto é, esse tipo de modelo mostra os indivíduos agindo consistentemente em termos do valor do tempo. Porém, a realidade de que o futuro é algo intrinsecamente incerto leva muitos indivíduos a introduzirem vieses na escolha intertemporal que se assemelham aos que se fazem na avaliação das escolhas de risco. Como discutimos anteriormente, a Teoria dos Prospectos representa o avanço mais importante para nossa compreensão dos processos comportamentais de tomada de decisão, nos últimos 15 anos. Por meio dos vieses apresentados tentamos demonstrar algumas das principais características dessa teoria, principalmente no que diz respeito à importância crítica que o enquadramento da informação assume na forma pela qual tomamos decisões em situações incertas. Em geral, as pessoas tendem a responder de maneira diferente quando os resultados arriscados são definidos em termos de perdas versus ganhos do que em termos de certeza versus incerteza. O contexto em que os resultados ocorrem também afeta nossas visões da utilidade transacional e leva a inconsistência na interpretação dos resultados. Da mesma forma, o somatório, ou agregação, de uma série de resultados extrai de nós respostas diferentes das que daríamos se fôssemos abordar separadamente os mesmos resultados. Ao responder a escolhas temporais, em especial quando elas necessariamente não envolvem risco, damos um maior valor à perda de tempo pessoal do que o fazemos ao ganhá-lo. Igualmente, respondemos distintamente aos prazos correspondentes a bons e maus resultados. Queremos bons resultados agora, mas os maus resultados depois. O adiamento de um bom resultado implica uma perda maior de utilidade percebida do que o não-adiamento de um resultado ruim equivalente. Assim, como no caso dos resultados arriscados, o somatório de escolhas temporais nos afeta de forma diferenciada. O que se procura é fazer com que você agora seja capaz de identificar situações nas quais atualmente adota determinado enquadramento, à exclusão de outros pontos de vista. Se você puder entender e aplicar esse conhecimento, a consistência e qualidade de suas decisões serão bastante aperfeiçoadas. O conceito de enquadramento tem um imenso potencial paraexpandir nosso entendimento de problemas gerenciais aplicados. Considere como esses efeitos podem ser aplicados em uma diversidade de contextos organizacionais. Seja individualmente, enquanto gerentes, seja numa visão mais geral em termos organizacionais, temos uma tarefa difícil em termos de processo decisório. Uma tarefa importante para as organizações é fazer com que todos nelas possam seguir uma estratégia única e racional de assunção de riscos. É inconsistente ter um departamento de vendas que tenta tomar decisões arriscadas ao mesmo tempo em que o departamento de crédito tenta tomar decisões conservadoras. Há, provavelmente, uma estratégia de assunção de risco que se situa entre as estratégias perseguidas por esses dois departamentos e que se pareça mais com a apropriada para a organização como um todo, sendo que possivelmente os acionistas prefeririam ver todas as divisões seguindo uma abordagem global consistente. Pesquisadores dizem que há dois motivos para esse tipo de inconsistência na assunção gerencial de risco: comunicação e incentivos. Uma das razões pelas quais os gerentes podem vir a não tomar decisões consistentes com a estratégia de risco da organização em sua totalidade é que eles podem não saber qual é a estratégia de risco da organização. Se uma organização não torna claro o grau de risco que está disposta a aceitar ao conceder crédito aos clientes, por exemplo, então a briga entre os departamentos de vendas e crédito torna-se previsível. A organização tem que desenvolver e comunicar a perspectiva global da companhia no que se refere ao risco. Além disso, os gerentes podem não vir a tomar decisões consistentes com a estratégia de risco da organização toda, porque esta dá incentivos que atuam contra seus melhores interesses. As organizações tendem a recompensar os resultados e, como já argumentamos, isso não deveria ser assim. A maioria das decisões é probabilística, e mesmo as melhores decisões podem não funcionar bem na prática. À medida que a organização recompensa os resultados, alguns gerentes terão comportamento conservador a fim de evitarem incorrer no erro que leva à dispensa, enquanto outros tomarão decisões despropositadamente arriscadas na esperança de que um sucesso inesperado venha a levá-los a uma promoção. Uma organização pode alterar esse comportamento recompensando a qualidade das decisões ao invés dos resultados que delas decorrem. Uma outra estratégia para fazer com que os gerentes tomem decisões no melhor interesse da organização é recompensá-los com base no sucesso da organização ao invés do sucesso individual. Trata-se de um princípio básico dos sistemas de incentivos de âmbito organizacional. Esse tipo de plano liga as recompensas do indivíduo ao sucesso da organização. O indivíduo não é mais recompensado ou punido com base no sucesso pessoal e, assim, as metas do indivíduo e da organização não entram mais em conflito. Há muita incerteza no mundo, e uma das escolhas mais básicas é se aceitaremos essa incerteza como um fato ou tentaremos inventar um mundo estável para nós mesmos. Esse desejo natural das pessoas de reduzir a incerteza, que pode ser básico para toda a empreitada cognitiva de se entender o mundo, fica descontrolado ao ponto de que elas começam a acreditar que a incerteza não existe. Em suma, o que se espera ter conseguido é um quadro de referência analítico que aumente sua consciência da natureza da incerteza e das decisões arriscadas, que identifica formas sistemáticas pelas quais o julgamento se desvia da racionalidade em condições incertas e que coloca essa informação em um contexto que lhe permita generalizar o material apresentado para aplicações gerenciais mais amplas. Destaca-se também o firme propósito de se criar uma consciência de natureza intrinsecamente probabilística da maioria das decisões. Trata-se, aqui, de vários elementos críticos para o desenvolvimento da capacidade gerencial de tomar decisões eficazes e de avaliar devidamente as decisões dos outros. Podemos ver, resumidamente, o que tratamos aqui no Quadro 03: Quadro 03 – Vieses que emanam do enquadramento da informação VIESES DESCRIÇÃO DECISÕES AFETADAS PELO ENQUADRAMENTO DAS ESCOLHAS Os indivíduos tendem a ser avessos a risco no caso de escolhas enquadradas positivamente e a buscar o risco no caso de escolhas enquadradas negativamente. DECISÕES AFETADAS PELO ENQUADRAMENTO DOS RESULTADOS Depois que os indivíduos ganham ou perdem algum bem, as decisões futuras (no curto prazo) são avaliadas em termos da curva S, em relação à posição vigente de perda ou ganho certo. DECISÕES AFETADAS PELA PSEUDO-CERTEZA E PSEUDO-INCERTEZA ENQUADRADAS NAS ESCOLHAS Os indivíduos dão mais valor à redução da incerteza quando o resultado era inicialmente certo do que quando este era apenas provável. ENQUADRAMENTO DO PAGAMENTO DE PRÊMIOS VERSUS A ACEITAÇÃO DE PERDAS CERTAS Perdas certas são mais atraentes quando enquadradas como prêmios de seguro do que quando enquadradas como prejuízos monetários. QUALIDADE DE UMA TRANSAÇÃO AFETADA PELO ENQUADRAMENTO EM QUE É APRESENTADA O comportamento de compra individual é afetado pela utilidade de aquisição e pela utilidade transacional. A utilidade de aquisição está associada ao valor que o indivíduo atribui ao bem. A utilidade transacional refere-se à qualidade do negócio, em relação ao que o artigo “deveria” custar. DECISÕES AFETADAS PELO SOMATÓRIO DOS GANHOS E PERDAS Os indivíduos dão maior valor a uma série de pequenos ganhos do que a um único ganho de mesmo montante. E, ainda os indivíduos perdem menos valor através de uma só grande perda do que por uma de montante idêntico sofrida em diversas pequenas parcelas. ENQUADRAMENTO DO PROBLEMA E VALOR DE SEU TEMPO Os indivíduos dão valor a seu tempo segundo taxas extremamente diferentes, dependendo das normas sociais, da utilidade transacional, dos pontos-âncora com base nos valores de mercado e das expectativas de quanto “trabalho” eles devem fazer em um dado período de tempo. RACIONALIDADE DE SUAS ESCOLHAS INTERTEMPORAIS Os indivíduos denotam inúmeras inconsistências na tomada de decisões acerca de ter uma coisa boa agora ou mais tarde, assim como acerca de aceitar um resultado ruim agora ou adiar este evento negativo. Exercícios 1. Como os vieses relacionados à incerteza podem impactar o processo de tomada de decisão?
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