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A ARMADILHA DA MORTE Na antiga Europa, na época em que muitos morriam por causa da peste negra, três amigos fizeram um pacto contra a Morte. Juraram ficar sempre juntos, proteger um ao outro e matar a Morte quando ela finalmente os encontrasse. Depois, partiram em viagem e caminharam muito até que encontraram um estranho velho. Ele parecia um mendigo e lhes disse: - Que Deus os proteja, cavalheiros. Porém, o mais orgulhoso dos três, em vez de agradecer a bênção do velho, falou-lhe: - Seu azarado! Como é que conseguiu viver tanto? O velho respondeu com humildade: - Foi porque nunca encontrei ninguém que quisesse trocar sua juventude por minha velhice. Porque gosto da vida simples e a Morte jamais quis me levar. Agora, vou lhes dar um conselho. Não sejam assim tão rudes com as pessoas idosas. Elas precisam de carinho e atenção. Agora, preciso partir. Adeus. Mas outro dos amigos lhe disse: - Seu velho mentiroso, aposto que você é amigo da Morte. Diga-nos onde ela está para que possamos derrotá-la. - Bem, se vocês querem tanto encontrar a Morte - disse o velho -, é só virar aquela esquina, sentar sob uma figueira que fica bem no meio da encruzilhada e aguardá-la. Os três foram até a figueira e entre suas raízes encontraram um grande baú repleto de moedas. O mais orgulhoso dos rapazes disse: - Achado não é roubado. Esse tesouro nos pertence! Vamos fazer o seguinte: dois ficam aqui, cuidando do tesouro, enquanto o outro vai até a cidade buscar o almoço. O mais novo se propôs a ir até a cidade. Enquanto ele estava no caminho, seus amigos resolveram roubar sua parte do tesouro. Eles o matariam logo que voltasse e dividiriam as moedas. Entretanto, o mais novo também teve uma idéia terrível. Pensou: "Bem que eu poderia ficar com todo o tesouro para mim. Para isso, só preciso me livrar dos meus amigos". Então foi à farmácia e comprou um veneno fortíssimo. Colocou-o na garrafa de vinho e voltou para encontrar os amigos. Assim que o viram, eles o matam, e depois, rindo, disseram: - Agora, vamos fazer um brinde à nossa fortuna! - E beberam o vinho envenenado, morrendo instantaneamente. Foi assim que a Morte saiu mais uma vez vencedora, levando consigo os três jovens, enquanto o velho continuou a viver, em sua calma sabedoria. Dizem que o tesouro fatal ainda se encontra ao pé da figueira à espera de jovens incautos que muitas vezes caem nas terríveis armadilhas da Morte. História dos contos de Caterbury, recolhidos por Geoffrey Chaucer. In: PRIETO, Heloisa. Lá vem história. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003. p. 66-67.