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Pós-Graduação em Educação Educacão, diversidade e cidadania Educação Ambiental: programas, projetos e ações Paulo César Medeiros FAEL Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes EDitorA FAEL Autoria Paulo César Medeiros Gerente Editorial William Marlos da Costa Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues revisão Thaisa Socher Programação Visual e Diagramação Patrícia Librelato Rodrigues AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael. EDitorA FAEL Rua Castro Alves, 362 Água Verde | Curitiba | PR | CEP 80240-270 FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 FotoS DA CAPA Anissa Thompson Jos van Galen Julia Freeman-Woolpert Krishnan Gopakumar Stefan Krilla Viviane Stonoga Todos os direitos reservados. 2012 Educação Ambiental: programas, projetos e ações 1 . A emergência da educação ambiental 1.1 O reconhecimento da crise ambiental planetária As relações da sociedade com a natureza são profundamente marcadas pelo contexto histórico da primeira metade do século XX. A industrialização, a bipolarização econômica e seus desdobramentos cria- ram condições para uma crise social e ambiental de proporções globais. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial (1914-1945) deixaram marcas de destruição na Europa e Ásia, colocando aquela população em situ- ação de precárias condições de higiene, alimentação e moradia. Esse período marcou a história da humanidade e externou a fragilidade do modelo econômico vigente. A humanidade sobreviveu. Contudo, o grande edifício da civilização do século XX desmoro- nou nas chamas da guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreen- der o Breve Século XX sem ela. Ele foi mar- cante pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial, mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam. Sua história e, mais especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe deve começar com a guerra mundial de 31 anos (HOBSBAWM, 1995, p. 30). A globalização das economias capitalistas e socia- listas – que empreenderam políticas econômicas na implantação de bases industriais – e a dominação ideo- lógica pela corrida industrial, ativaram todos os mecanis- mos de exploração dos recursos naturais para a obten- ção de matéria-prima e aumento da produção. Os países do Terceiro Mundo1 foram os mais atingidos ambiental- mente nesse processo, pelo método de transferências de 1 Com a descolonização e a revolução cultural houve uma profunda transformação no mapa político do globo. O surgimento de Estados independentes na Ásia, África e na América provocaram uma grande explosão demográfica no mundo dependente após a Segunda Guerra Mundial, dominado pelos blocos capitalistas e socialistas, que formavam o Primeiro e Segundo Bloco de países desenvolvidos. Na prática este rótulo de Terceiro Mundo tem haver com a hegemonia dos Estados Dominantes (HOBSBAWM, 1995, p. 339-340). complexos industriais denominados de indústrias sujas e, em seguida, foram também receptores de lixo urba- no-industrial tóxico. Esse processo acabou por garantir a situação de dependência econômica, marginalização, desemprego, analfabetismo, êxodo rural, epidemias, vio- lência, subnutrição e degradação ambiental. A explosão demográfica e a concentração popu- lacional nos países em desenvolvimento foram conse- quências imediatas desse processo econômico. Vários estudiosos se preocuparam em explicar esse fenômeno demográfico, gerando políticas de controle populacional e mecanismos de dominação dos países do Primeiro Mundo. Se, por um lado, o capitalismo se julgava capaz de desenvolver tecnologia de controle populacional, por outro, a humanidade observou pela primeira vez as limi- tações do Planeta quanto à sua capacidade de fornecer alimentos e água para as populações urbano-industriais. Essa preocupação tornou-se o objeto de estudo de várias ciências. Até o ponto que se sabe, a espécie humana é a única a ter consciência da necessidade de produ- zir as condições materiais de existência pelo trabalho organizado socialmente. Porém, ela não se relaciona de maneira homogênea. A relação se dá de maneira diferenciada, segundo sua estrutura de classes sociais. Segundo Foladori (2001, p. 205), não existe nenhuma relação técnica que não esteja subordinada a um determinado tipo de relação social, historicamente determinada e resultante de uma estrutura de classes particular. As conferências internacionais de meio ambiente e desenvolvimento humano apontaram uma profunda crise socioambiental. Essa crise tem sido vista por mui- tas ciências físico-naturais como uma dicotomia socie- dade-natureza, que se origina das relações técnicas que se fazem ao explicar os impactos causados ao meio abiótico e aos outros seres vivos. No entanto, essa visão se torna simplista e generalista, pois desconsidera que o problema principal da humanidade seja de inter-relação com outras espécies vivas e o meio abiótico, afirmando ser um problema de relação do ser humano com o pró- prio ser humano. As relações sociais são as que se estabelecem entre os seres humanos a partir da forma como se distribuem EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 2. os meios de produção. Essa distribuição dos meios de produção é que determina um acesso diferenciado aos elementos naturais, o grau de intervenção e de decisão sobre seu uso, as leis que regulam o uso, a forma e o acesso privado aos meios naturais. A questão ambiental é identificada oficialmente na segunda metade do século XX, por diferentes estru- turas governamentais, não governamentais, centros de pesquisas e segmentos atingidos por impactos ambientais que chegam à conclusão de que a partir da eclosão da Revolução industrial no século XViii, a pro- dutividade do trabalho humano aumentou em propor- ções nunca antes vistas. A geração de riquezas decor- rente de tal revolução propiciou o amadurecimento do capitalismo comercial, o qual passou a ser associado ao desenvolvimento da técnica e a uma nova forma de acumulação do capital. Com o grande crescimento da produção industrial e econômica no século XiX, começam a se explicitar as primeiras consequências da nova forma de rela- ção do ser humano com a natureza. Naquele século, começaram a aparecer as primeiras provas que indi- cavam que os humanos estavam operando algumas transformações não desejadas nos sistemas naturais. Florestas eram derrubadas com rapidez nunca antes vista, processo a que se seguia a erosão e a perda de fertilidade dos solos. Em seu livro A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Engels (1884) já denunciava as precárias condições de vida dos trabalhadores e o ar poluído pelas fábricas da cidade de Manchester. Nesses termos, a crise ambiental pode ser enten- dida como a crise de uma lógica de produção, a cons- tatação mais concreta de que a lógica de transformação de recursos da natureza em objetos de consumo está levando a sociedade à autodestruição. Com tal com- portamento, o ser humano está se transformando cada vez mais no principal causador de uma mudança eco- lógica, tanto em níveis globais quanto locais, mudanças que põem em perigo a sua própria existência e a de gerações futuras. Sob a lógica da dinâmica capitalista, em seu está- gio inicial a natureza assumiu funções bem específicas, passando a ser entendida simplesmente em termos de recursos, com o objetivo de gerar todos os materiais utilizados no processo produtivo. Além disso, temcomo função absorver os resíduos, que retornam ao ecossis- tema em forma de contaminação, ou seja, de poluição. Essa lógica de crescimento econômico, porém, encontra seus limites na medida em que compromete o bem-estar das gerações futuras, ao levar recursos relevantes ao esgotamento, como recursos energéticos fósseis. Além disso, exige dos ecossistemas um nível acima de sua capacidade de regeneração e assimilação do que provoca, em um horizonte mais amplo, ocorre o surgimento de sequelas problemáticas, como é o caso do aquecimento global da atmosfera, ou seja, o pro- blema não é mais apenas pontual e localizado, o que tem modificado a abordagem do tema meio ambiente. 1.2 Conferências e consensos internacionais sobre o meio ambiente Com efeito, a partir de meados do século XX, principalmente, a deterioração ambiental e sua relação com o estilo de crescimento econômico passaram a ser objeto de estudo e preocupação sistemática em âmbito internacional. Na história recente, as discussões sobre as questões ambientais têm se dividido entre as conse- quências negativas do crescimento e/ou os fracassos na gestão do nosso ambiente. Após quase meio século de debates, pode-se identificar alguns momentos marcantes que mostram a evolução no tratamento e percepção do tema. Entre os principais momentos de consolidação do reconheci- mento internacional de uma profunda crise planetária na atualidade, destacam-se os seguintes: A “Declaração de Estocolmo” (1972), apro-1. vada durante a Conferência das Nações uni- das sobre o Meio Ambiente Humano, que, pela primeira vez, introduziu na agenda política internacional a dimensão ambiental como con- dicionadora e limitadora do modelo tradicio- nal de crescimento econômico e do uso dos recursos naturais. A publicação do documento “A Estratégia Mun-2. dial para a Conservação” (Nova York, 1980), elaborado sob o patrocínio e supervisão do Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente (PNuMA), da união internacional EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 3. para a Conservação da Natureza (uiCN) e do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF). Esse documento explora, basicamente, as interfaces entre conservação de espécies e ecossistemas e entre manutenção da vida no planeta e a preservação da diversidade bioló- gica, introduzindo pela primeira vez o conceito de “desenvolvimento sustentável”. O “Nosso Futuro Comum”, documento publi-3. cado em 1982 e mais conhecido como “Relatório Brundtland”, elaborado pela Comis- são Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – criada pelas Nações uni- das e presidida por Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega. O “Relatório Brundtland” consolida uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e mimetizado pelas nações em desenvolvimento, ressaltando a incompatibilidade entre os padrões de pro- dução e consumo vigentes nos primeiros e o uso racional dos recursos naturais e a capaci- dade de suporte dos ecossistemas. Conceitua como sustentável o modelo de desenvolvi- mento que “atende às necessidades do pre- sente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. A partir de sua publicação, o “Nosso Futuro Comum” tornou-se referência mundial para a elaboração de estratégias e políticas de desenvolvimento governamentais e não governamentais. A resolução da Assembleia Geral das Nações 4. unidas (dezembro de 1989), solicitando a organização de uma reunião mundial (CNu- MAD – Rio 92) com o objetivo de elaborar estratégias para deter e reverter os proces- sos de degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável e ambiental- mente racional. A “Agenda 21” foi elaborada como resposta à referida resolução. O Brasil elaborou sua Agenda 21 em 1997, no encon- tro Rio+5, estabelecendo seus princípios e métodos fundamentais. A conferência Rio+10, realizada em Johan-5. nesburgo – África do Sul, reuniu líderes de 189 países e aprovou um plano de ação para implementar a Agenda 21 e cobrar dos países as metas projetadas. Outro momento foi a ade- são da Rússia e do Canadá ao Protocolo de Kyoto, firmado no Japão em 1997. Nele, as nações se comprometem a reduzir as emis- sões dos gases que causam o efeito estufa. Essa questão é muito ampla e, ao mesmo tempo, interconectada, o que dificulta a sua delimitação pelos relatórios institucionais internacionais dedicados ao meio ambiente global. No entanto, os documentos apontam alguns indicadores para a compreensão dessa crise ecológica planetária. Entre eles estão os seguintes: contaminação das águas; x devastação das matas; x contaminação das costas e marés; x sobre-exploração de mantos aquíferos; x erosão de solos; x desertificação; x destruição da camada de ozônio; x aquecimento global; x superpopulação; x pobreza. x Nessa lista de indicadores percebe-se que, embora exista uma diversidade de impactos que justificam a crise, existe um elemento comum: todos se referem aos impactos humanos externos as processo de produção no sentido estrito. O relacionamento do ser humano com o seu ambiente se dá pela mediação do trabalho. O trabalho humano inter-relaciona uma atividade física com um meio ambiente externo e com meios de trabalho transmitidos por processos de trabalho anteriores. Nessa inter-relação con- siste a essência da produção e da inter-relação sociedade – meio ambiente. Assim, essa pro- dução pode ser desagregada em sua forma e em seu conteúdo. O conteúdo é a relação do trabalhador com os meios de produção e com o ambiente; seria uma relação genérica, aistórica (FOLADORi, 2001, p. 104). Pode-se, então, perceber o trabalho humano como o processo fundamental pelo qual passa a explicação da apropriação do espaço e da relação com o seu ambiente. Assim, a economia humana (produção) uti- EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 4. liza a natureza como recurso e provoca a depredação, além disso, produz detritos, provocando a poluição. Os casos se tornam mais graves na medida em que nos aproximamos das grandes concentrações populacio- nais, ameaçadas por crises e catástrofes derivadas da escassez de seus recursos e meios de subsistência. 1.3 Educação ambiental: uma necessidade humana Os primeiros trabalhos que apontam a necessidade de educar a sociedade dentro da perspectiva ambiental são apresentados por autores como o norte-americano Henry David Thoreau, com Walden II, de 1854; Thomas Huxley, que em 1863 escreveu sobre as interdependên- cias entre os seres humanos e os demais seres vivos, em seu ensaio Evidências sobre o lugar do homem na natureza; George P. Marsh, na obra O homem e a natureza, analisou as causas do declínio de civilizações antigas a partir da ação humana; Guifford Pinchot com A luta pela conservação, de 1910; e Aldo Leopoldo, que em 1949 publicou A sand country almanac, em que discutiu uma ética de usos dos recursos da Terra. Em 1962, no livro Primavera silenciosa, Rachel Car- son apresenta um estudo sobre a perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos, e os efeitos dessa utilização sobre os recursos ambientais. Numa publicação de 1889, o educador escocês Patrick Geddes, bem merecedor do título de pai da EA, valorizava a importância dessa orientação do processo educativo ao afirmar que ”uma criança em contato com a realidade do seu ambiente, não só aprenderia melhor, mas também desenvolveria atitudes criativas em relação ao mundo em sua volta” (apud DiAS, 1993, p. 31). A formação do Clube de Roma2, em 1968, inicia um movimento para discutir a crise planetária. O clube 2 Em 1968, foi realizada em Roma uma reunião de cientistas dos países desenvolvidos para se discutir o consumo e as reservasde recur- sos naturais não renováveis e o crescimento da população mundial até meados do século XXi. Dessa reunião, foi publicado o livro Limites do crescimento, que foi, durante muitos anos, uma referência internacional às políticas e projetos. Os intelectuais latino-americanos, no entanto, liam nas entrelinhas do documento a indicação de que para se conservar o padrão de consumo dos países industrializados, era necessário controlar o crescimento da população dos países pobres (REiGOTA, 1994). publica, em 1972, The Limits of Growth, denunciando que o crescente consumo mundial levaria a humani- dade a um limite de crescimento e possivelmente a um colapso. Nesse mesmo ano a realização da Conferência da ONu sobre o Ambiente Humano, realizada em Esto- colmo – Suécia, marca um novo momento da questão ambiental. Na Declaração sobre o Ambiente Humano3 foi estabelecido o Plano de Ação Mundial, com o obje- tivo de inspirar e orientar a humanidade para a preser- vação e melhoria do ambiente humano. Em 1975, a Carta de Belgrado4 indicava a necessi- dade de uma nova ética global, com a finalidade de esta- belecer meios para a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da exploração e domina- ção humanas, apontando e censurando as nações que se desenvolvem sob a exploração de outras. Em 1977, realizou-se em Tiblisi – Geórgia (ex-uRSS), a 1ª Conferência intergovernamental sobre Educação Ambiental, promovida pela unesco, em cola- boração com o Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente (PNuMA). Essa conferência se constituiu no início da estruturação de um programa internacional de educação ambiental; apontou para que os Estados membros incluam em suas políticas de educação medi- das que visem à incorporação de conteúdos, diretrizes e atividades ambientais a seus sistemas; convidou auto- ridades de educação a intensificar seus trabalhos de reflexão, pesquisas e inovação com respeito à educa- ção ambiental; solicitou o intercâmbio de informações e experiências e solicita à comunidade internacional que ajude a fortalecer esta colaboração, em uma esfera de atividades que simbolize a necessária solidariedade de todos os povos e que possa ser considerada como par- ticularmente alentadora para promover a compreensão internacional e a causa da paz. Em nível internacional, dois eventos marcam o final dos anos 90 do século XX. O primeiro foi a publi- 3 O grande tema em discussão na Conferência foi a poluição, ocasionada principalmente pelas indústrias. O Brasil e a Índia, que viviam, na época, “milagres econômicos”, defenderam a ideia de que “ a poluição é o preço que se paga pelo progresso” (REiGOTA, 1994). 4 Em Belgrado, na então iugoslávia, em 1975, foi realizada a reunião de especialistas em educação, biologia, geografia e his- tória. Entre outros objetivos, se definiu os da educação ambiental, publicados no que se convencionou chamar de “Carta de Belgrado” (REiGOTA, 1994). EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 5. cação do relatório chamado Nosso Futuro Comum5 (abr./1987), elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONu. O outro foi o Congresso internacional sobre Educação e For- mação Ambientais (ago./1987), realizado em Mos- cou, que alertava quanto às condições materiais que necessitaremos para reverter o quadro dessa pro- funda crise ambiental. Muitos dos atuais esforços para manter o progresso humano, para atender às necessi- dades humanas e para realizar as ambições humanas são simplesmente insustentáveis – tanto nas nações ricas, como nas pobres. Elas retiram demais, e a um ritmo acelerado demais, de uma conta de recursos ambien- tais já a descoberto, e no futuro não poderão esperar outra coisa que não a insolvência dessa conta. Podem apresentar lucros nos balancetes da geração atual, mas nossos filhos herdarão os prejuízos. Tomamos um capital ambiental emprestado às gerações futuras, sem qualquer intenção ou perspec- tiva de devolvê-lo. Elas podem até nos mal- dizer por nossos atos perdulários, mas jamais poderão cobrar a dívida que temos para com elas. Agimos desta forma porque pode- mos escapar impunes: as gerações futuras não votam, não possuem poder político ou financeiro, não têm como opor-se a nossas decisões. [...] Muitos dos responsáveis pelas decisões tomadas hoje estarão mortos antes que o planeta venha a sentir os efeitos mais sérios da chuva ácida, do aquecimento da Terra, da redução da camada de ozônio, da desertificação generalizada, da extinção das espécies. A maioria dos jovens eleitores de hoje estará viva. Nas audiências da Comis- são, partiram dos jovens, que têm mais a perder, as críticas mais duras à administração do planeta (RELATÓRiO NOSSO FuTuRO COMuM, 1987). Segundo Carneiro (1992), o relatório deixa evi- dente a necessidade de medidas educacionais que abordem a questão ambiental. Segundo ela, Nosso Futuro Comum é uma conclamação otimista à gesta- ção de novas condutas e atitudes sociopolíticas, em todos os setores da iniciativa humana, com uma justa 5 O documento também foi chamado, na época, de Rela- tório Bruntland, pelo fato de estar assinado pela coordenadora da comissão, Gro Harlem Bruntland. Nesse estudo apresentaram-se 109 recomendações para atingir o desenvolvimento sustentável. O documento ainda apontou mecanismos para a forma de organização que poderia ser utilizada para atingir esse desenvolvimento. valorização do processo educativo nesse empreen- dimento. A formação de educadores é fundamental para que as escolas trabalhem adequadamente a questão do meio ambiente em seus vínculos com o desenvolvimento econômico. Segundo Dias (1992, p. 45-55), o Congresso internacional em Educação e Formação Ambientais, de Moscou, apresentou várias orientações, objetivos e ações para a estratégia internacional, com vistas à edu- cação ambiental. Foram apresentadas diretrizes para o acesso à informação, a pesquisas e experimentação, aos programas educacionais e materiais de ensino, ao treinamento de pessoal, à educação técnica e vocacio- nal, à educação do público, à educação universitária, ao treinamento e à cooperação internacional. Esse mesmo congresso elaborou um documento chamado Elementos para uma estratégia internacional de ação em matéria de educação e formação ambientais para o decênio de 1990. O documento foi apresentado em duas partes: a primeira de caráter histórico-avaliativo e a segunda sobre o plano de ação. Algumas ações prioritárias foram indicadas: o intercâmbio de informa- ções, experiências e pesquisas; a formação de pessoal docente e a avaliação sistemática dos planos de estudo dos currículos escolares. 1.4 Educação ambiental e Agenda 21 Global A conferência realizada no Rio de Janeiro, em 1992 (Rio 92), foi um marco na história da educação ambiental. Mais de 170 países debateram temas de importância mundial. Esse trabalho resultou na Decla- ração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, nas Convenções da Biodiversidade, da Mudança do Clima, o Protocolo de Florestas, o Direto internacional e o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 21. No seu capítulo 36, destinado à educação, a Agenda 21 enfatiza que a educação ambiental pode ser entendida “enquanto processo fundamental para uma conscientização ético-ambiental, por meio da modifica- ção de valores e atitudes a partir da compreensão dos problemas do meio ambiente em relação com o desen- volvimento sustentável”. Esse capítulo sugere, ainda, a implantação de centros nacionais ou regionais de exce- lência, especializados em meio ambiente. EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 6. No encontro Rio 92, foram corroboradas as reco- mendações da Conferência de Tiblisi para a Educação Ambiental, como pode ser observado no capítulo 4, seção iV, da Agenda 21.No documento, fica reafirmada a importância da interdisciplinaridade, priorizando-se as seguintes áreas de programas: Reorientação da educação para o desenvolvi-a. mento sustentável. Promoção da conscientização popular, com b. o aumento das informações sobre o meio ambiente. Promoção do treinamento.c. Durante a realização da Conferência do Rio de Janeiro, um evento simultâneo marcou a importância daquele momento: o Fórum Global da Sociedade Civil sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que reuniu mais de 2500 entidades não governamentais, vindas de 150 países. O fórum produziu o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsa- bilidade Global6 que, na sua elaboração e aprovação, envolveu professores dos vários níveis do ensino formal, de centros de educação de adultos e de educação à distância, pesquisadores universitários e representantes de grupos e movimentos ambientalistas. Esse documento pontuou que a educação ambien- tal, para uma sustentabilidade equitativa, é um processo de aprendizagem permanente e que deve se basear no respeito a todas as formas de vida. A educação é concebida no documento como um direito de todos e essencial para desenvolver um pensamento crítico e ino- vador diante dos problemas atuais. Deve, ainda, explicitar valores e formar atitudes que venham a contribuir para a construção de uma sociedade global mais solidária, igualitária e com respeito aos direitos humanos. Os documentos internacionais e os vários eventos, que ocorreram no final do século XX, provocaram o sur- 6 Nesse tratado, reafirmaram-se princípios, planos de ação e diretrizes para a educação ambiental. Em sua introdução, o docu- mento considera que “a educação ambiental para a sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservem entre si relação de interdependência e diversidade. isto requer res- ponsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e plane- tário” (GuiMARãES, 1995, p. 28). gimento do ambientalismo na educação e a institucio- nalização da educação ambiental em todos os países, alterando leis, decretos, regulamentos, programas de governo, diretrizes curriculares, projetos político-peda- gógicos e práticas de toda a ordem. Nesse contexto de evolução, de novos saberes e novas práticas, ficou evidente que a questão ambiental atingiu diretamente o processo educacional global e local. 2 . A educação ambiental no Brasil 2.1 A questão ambiental brasileira Os primeiros impactos ambientais de escala nacio- nal foram percebidos nos anos 50 do século XX, perí- odo de forte industrialização e urbanização acelerada de cidades do Sudeste e Sul do país. A concentração populacional e as precárias condições de renda, mora- dia e serviços públicos essenciais, promoveram a degra- dação ambiental e a perda da qualidade de vida nos grandes centros urbano-industriais. A partir dos anos 70 do século XX, o modelo agrícola monocultor-exportador agravou os impactos ambientais nas regiões agrícolas com a utilização de agroquímicos, contaminando solos e redes hidrográficas. O desmatamento e a exploração irracional dos solos provocaram erosão, arenização, desertificação e perda de biodiversidade. Os principais centros de pesquisa e controle de informações ambientais comprovaram a poluição nos grandes centros. Os indicadores de poluição do ar reve- laram que as emissões de dióxido de enxofre, monóxido de carbono, óxido e dióxido de nitrogênio e de material particulado, como poeira, fumaça e fuligem, crescem em todas as aglomerações urbanas e industriais do país. A situação é mais grave em grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os estudos da Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Básico – Cetesb (1991), mostram que as indústrias da Grande São Paulo lançam no ar, por ano, cerca de 305 mil toneladas de material particulado e 56 mil toneladas de dióxido de enxofre. Automóveis e veículos pesados são responsáveis pela emissão de 2 065 toneladas anuais de monóxido de carbono. No complexo industrial da Baixada Fluminense, no Rio de EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 7. Janeiro, a concentração de partículas em suspensão atinge a média anual de 160 mcg/m³, o dobro do con- siderado seguro. Na região metropolitana de Belo Hori- zonte, a concentração média de partículas poluentes no ar também é alta: 94 mcg/m³, e os níveis de dióxido de enxofre são mais elevados que os de São Paulo. Em relação aos impactos sobre as águas doces, os dados da Agência Nacional de Águas (2004-2008) revelaram um cenário trágico. Todas as grandes e médias cidades apresentam suas bacias hidrográficas com elevado grau de poluição por esgotos domésticos e industriais. Nas áreas agrícolas, a poluição das águas ocorre pela utilização de agrotóxicos, além do assorea- mento dos rios e perda do volume de águas das nas- centes pelo desmatamento das matas ciliares. Embora proibidos em mais de 50 países, devido a sua toxicidade e longa permanência no ambiente, os produtos organoclorados e organofosforados são uti- lizados em larga escala no Centro-Oeste, no Sudeste e Sul do Brasil, que são responsáveis por quase toda a produção agrícola para consumo interno e exporta- ção. Além das bacias hidrográficas, os impactos nas águas marinhas são visíveis em toda a costa brasileira, pois os sedimentos e contaminantes trazidos pelos rios provocam assoreamento e poluição das áreas costeiras, além de todo o lixo e esgoto produzido nas cidades litorâneas. A degradação das florestas brasileiras está entre os maiores impactos vistos na atualidade. O país viven- ciou várias etapas de desmatamento, inicialmente para atender o modelo colonialista de ocupação que atin- giu a cobertura original da mata Atlântica nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. A partir da ocupação do inte- rior do território nos anos 1950-1970, os cerrados da região Centro-Oeste passaram a ser queimados para abrir espaço à soja e à pecuária. Nos anos 80 do século XX, a região Norte é atingida pela exploração madeireira da floresta Amazônica, para dar lugar a criação de gado e às monoculturas. O desmatamento indiscriminado, queimadas, mineração, uso excessivo dos defensivos agrícolas, poluição, manejo inadequado do solo e seca provocam a desertificação de algumas áreas desse importante ecossistema. A região Nordeste teve 97% de sua cobertura vegetal nativa devastada, produzindo uma área desertifi- cada que chega a 50 mil hectares e afeta a vida de 400 mil pessoas. A mineração e as salinas também afetam o sul do Pará e a região de Mossoró (RN). No Rio Grande do Sul, a superexploração agrícola e a pecuária exten- siva fazem crescer o já chamado “deserto dos pampas”, uma área de 200 hectares no município de Alegrete. A perda de cobertura vegetal interfere diretamente na sobrevivência de milhares de espécies, muitas delas já extintas e outras em processo de extinção. As altera- ções promovidas pela substituição de florestas originais por pastagens e monoculturas levam inevitavelmente ao desequilíbrio ecológico e a perda da biodiversidade. No Brasil, encontramos a maior diversidade biológica do mundo, pois ele contém um complexo biológico que reúne a Amazônia, a mata Atlântica e o Pantanal. A maio- ria das espécies ameaçadas de extinção concentra-se nesses ecossistemas. Segundo os dados do ibama (1999), estão ameaçados 57 mamíferos, 108 aves, 9 répteis, 32 tipos de invertebrados e, ainda, outras 117 espécies pouco conhecidas. 2.2 Direito ao meio ambientee à educação ambiental um marco fundamental para o início do processo de regulamentação da educação ambiental no Brasil foi a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. É nesse documento que temos a introdução da matéria ambiental no cenário nacional. Ao mesmo tempo, coloca em crise toda a consolidada dogmática, exigindo a formulação de novas categorias e a releitura da norma vigente. O Artigo 225, da Constituição da República Fede- rativa do Brasil, assim escreveu: “[...] todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Esse preceito constitucional é seguido por seis parágrafos, que atribuem ao Poder Público deveres específicos. Esses deveres devem ser lidos em con- sonância com os princípios fundamentais inseridos nos Artigos 1º a 4º da Carta Magna, que fazem da tutela ao EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 8. meio ambiente um instrumento de realização da cidada- nia e da dignidade da pessoa humana. Os danos cau- sados ao meio ambiente não dizem respeito à pessoa, mas à coletividade, incidindo difusamente, razão pela qual nos crimes ambientais o bem jurídico protegido, em face do dano social, é o meio ambiente em toda a sua amplitude. Nesses termos, podemos apontar o dano ou o objeto do delito, isto é, aquilo contra o que se dirige a conduta humana: objeto jurídico do delito ambiental: entendido x como o bem ou interesse que a norma penal tutela, na hipótese, a natureza de per si; objeto material: entendido como a coisa sobre x a qual recai a conduta do sujeito ativo, é a noção jurídica de meio ambiente prevista no Art. 3º, inciso i, da Lei n. 6.938/81; sujeito passivo: é a coletividade. x Outro destaque importante a se fazer é relativo à responsabilidade civil, que se traduz na obrigação de indenizar, atribuída a quem causou prejuízo alheio, inde- pendentemente de ter agido com qualquer espécie de culpa. Ou seja, fundamenta-se na ideia de que a pessoa que cria o risco deve reparar os danos advindos do seu empreendimento. Os danos ao meio ambiente humano são àqueles que prejudicam a saúde, a segurança e o bem estar da população; criam condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetam as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e quando se lança matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais. Entre os deveres específicos atribuídos ao Poder Público, como forma de atenuar os danos à Constituição, determina obrigatoriedade da “educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Para Silvia Czapski (1998), este simples inciso – que representa um enorme ganho para a educação ambiental – impul- sionou um extenso debate de vários anos, resultando na produção de ações muito importantes ainda nos anos 80 do século XX, entre elas as seguintes: Em fevereiro de 1989, o Governo Federal criou x o instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (ibama). Nesse novo órgão, a EA tornou-se uma divisão do Departamento de Divulgação Técnico-Científica e Educação Ambiental pertencente à Diretoria de incentivo à Pesquisa e Divulgação. A partir de 1989, todos os Estados e Municí- x pios refizeram suas leis maiores: muitas cons- tituições estaduais e leis orgânicas municipais repetiram as propostas da Constituição Fede- ral, incluindo um capítulo do meio ambiente, com referências à EA. Ao lado dessas leis, ocorreu a promulgação de outras leis ambientais, que são fundamentais para quem trabalha com educação ambiental, já que podem moti- var debates e ações neste setor. um exemplo é a Lei dos Direitos Difusos, que permite ao Ministério Público propor ações civis públicas, sem custo para o cidadão, no caso de danos ambientais. Ainda, outras leis mais antigas foram revisadas, constituindo igualmente um apoio à ação dos cidadãos e, por isso, mais um instru- mento para a educação ambiental. Esse período histórico foi decisivo na formulação de uma base jurídico-institucional para a educação ambien- tal, fato que aconteceu devido à forte pressão social nessa década. Com o fim do regime militar, a luta pelas eleições diretas para presidente e a elaboração de uma nova Constituição, os movimentos sociais efervesceram e trouxeram à tona os mais variados temas, entre eles a educação ambiental. Nesse caso, é importante fixar alguns dos principais momentos que marcam a história da educação ambiental no Brasil, para que possamos avançar na reflexão sobre o objeto desta pesquisa. 2.3 A mobilização social para a educação ambiental No início de 1997, o instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (ibope) elaborou uma pesquisa em todas as regiões do país, com jovens, adultos e idosos. Essa pesquisa teve por objetivo conhecer as percep- ções, os sentimentos e as atitudes dos brasileiros em relação ao meio ambiente. Nesse mesmo ano ocorreu a 1ª Teleconferência Nacional de Educação Ambiental, promovida pelo Minis- tério da Educação e do Desporto (MEC). Foi transmitida EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 9. simultaneamente nos 62 postos da Embratel, nos mais de 1,5 mil telepostos brasileiros de educação à distância, nas 50 mil escolas ligadas à TV Escola e para milhares de casas de todo o país, que acessam a TV executiva do MEC pela antena parabólica ou pela TV a cabo. Essa teleconferência apresentou, em primeira mão, alguns resultados surpreendentes da pesquisa nacional, que ganhou o nome: “O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade”. Os dados apresentados apontaram um grande orgulho de ser brasileiro e que, entre os motivos deste orgulho, estão as belezas naturais do país. Também comprovou que quase dois terços dos brasileiros (65%) não aceitam a poluição como preço para a garantia de empregos. E mais: apesar de todas as difi- culdades econômicas vividas pela população, quase metade dos entrevistados (47%) concorda com a ideia de que o meio ambiente deve ter prioridade sobre o crescimento econômico. A pesquisa nacional descobriu outro fato importante para os pesquisadores em educação: para 95% dos brasileiros, a educação ambiental deve ser obrigatória nas escolas. Ou seja, a maioria absoluta entende que essa é a grande chave para a mudança das pessoas em relação ao ambiente em que vivem. No caso da pesquisa sobre o que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente, segundo o MEC (1998), foram apresentados os seguintes resultados: Quando questionados sobre o que é meio a. ambiente, a pesquisa revelou que a maioria dos brasileiros cita elementos naturais, como a água, o ar, as matas e os animais. Porém, só 38%, ou seja, pouco mais de um terço das pessoas, lembra que os seres humanos e as cidades também fazem parte do meio ambiente. A pesquisa também descobriu que quase três b. quartos da população (72%) mostram-se dispostos a separar o lixo doméstico. A acei- tação é maior entre pessoas mais instruídas e entre moradores de cidades de mais de 100 mil habitantes. Mais da metade dos brasileiros (55%) acre-c. dita que se o uso da água não for controlado, em pouco tempo não teremos mais água para beber. Boa parte da população ainda questiona essa ideia, pois, até há pouco tempo, aprendia-se que água era um recurso renovável, dando-se a entender que por isso ela seria infindável e sempre disponível para consumo humano. Mais da metade (52%) declarou que con-d. corda em participar em campanhas contra o desperdício de água. No caso de campanhas para reduzir o consumo de energia e de gás, a adesão foi de 41%. Muitosentrevistados se declararam favoráveis a mutirões para plantar árvores. A pesquisa também revelou disposição da e. população para o trabalho voluntário, sobretudo entre os jovens. 80% dos brasileiros aprovam as organizações que atuam na defesa do meio ambiente. No entanto, poucos entrevistados conseguiram lembrar o nome de alguma orga- nização ambientalista. Quase metade da população (46%) já ouviu f. falar do efeito estufa, ou aquecimento global do planeta, e 39% tem conhecimento da Rio-92. Apenas 28% dos entrevistados ouviu falar do perigo da desertificação e 21% da ameaça de perda de biodiversidade, ou diver- sidade da vida. Somente 4% ouviu falar da Agenda 21 e que g. ele contém centenas de propostas práticas para garantir a preservação do Planeta Terra para as gerações futuras. Sorrentino (1998) identificou onde e que tipo de educação ambiental era feita no período pré-Rio-92 e gerou uma lista de motivos que podem ter levado pes- soas de tantos setores a se preocuparem, ao mesmo tempo, com a educação ambiental. Concluiu que nas universidades, instituições de pesquisa e escolas, a sen- sibilização para a EA surgiu a partir de estudos de eco- logia natural e social. Nas organizações estudantis, associações de classe e de moradores, sindicatos e outras organizações não governamentais, essa conscientização nasceu nas lutas pela democracia, direitos humanos e melhores condi- ções de vida. Nas organizações conservacionistas, em defesa de vida e grupos de indivíduos sensibilizados por discursos alternativos, ela resultou de influências EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 10. diversas: o desencanto com utopias políticas, científicas e religiosas à influência dos meios de comunicação e popularização do tema ecologia. Além de perceber as origens, o autor em questão agrupou as experiências de acordo com quatro tipos de instituições promotoras, para melhor visualizar os tipos de educação ambiental que eram desenvolvidos. Organizações não governamentais – ONGsa. Desde grupos profissionalizados de pesquisa ou assessoria aos movimentos populares, até organizações dos movimentos sociais não ligados a instâncias de governo. Foram se multiplicando e, em 1992, o Fórum Brasileiro das ONGs e Movimentos Sociais já cadastrara mais de 1,2 mil instituições. Além disso, a par- tir dos anos 80 do século XX, elas foram se desenvolvendo de dois modos: associações ambientalistas e de cidadania, unindo a ação voluntária de indivíduos de diferentes forma- ções em tomo de uma questão (muitas vezes, a partir disso, amplia-se o âmbito de ação); associações profissionalizadas, com pessoas contratadas trabalhando com projetos. Empresas privadas e estataisb. No Brasil, até meados dos anos 80 do século XX, o discurso mais comum entre os empre- sários era o de acusar os ecologistas de lou- cos, ingênuos, românticos, radicais, comunis- tas e/ou anarquistas. Mas, no fim da década, o discurso do setor empresarial passou a demonstrar uma grande sintonia com as anti- gas reivindicações dos ecologistas e com as legislações ambientais. Essa nova postura teria quatro motivos: a popularização da questão ecológica e o retorno comercial positivo para aqueles que têm uma imagem de amigo do verde; o fato de os governos passarem a dedi- car maior atenção à questão ecológica (com a exigência, por exemplo, de estudos de impacto ambiental); popularização do conhecimento científico a respeito das graves consequên- cias dos danos causados ao ambiente global (efeito estufa, buraco na camada de ozônio, esgotamento dos recursos hídricos, etc.); fim do fantasma comunista, que gerava “posições paranoico-defensivas” a qualquer contestação ao estilo de vida dominante. Estadoc. Nível municipal: no final dos anos 80 do x século XX ocorreu um aumento significa- tivo de prefeituras que criaram secretarias, coordenadorias e departamentos de meio ambiente, com obrigação, entre outros, de desenvolver atividades de educação ambiental. Várias prefeituras passaram para associações ambientalistas ou de moradores algumas responsabilidades, como fiscalização de poda de árvores, produção de mudas e ações de educa- ção ambiental, cooperando com recursos materiais e financeiros. Nível estadual: foram localizadas ações x referentes a programas de educação e interpretação ambiental, em diferentes categorias de unidades de conservação, em diversos estados; cursos de recicla- gem e capacitação de professores; pro- dução de bons livros, cartazes e vídeos. Nível federal: até 1992, as ações do x Governo Federal em educação ambiental foram insuficientes, houve só alguns cur- sos e tímidas publicações e protocolos de intenções entre a Sema e o MEC. Escolasd. Foram localizadas muitas propostas educacio- nais voltadas à questão ecológica/ambiental dentro das escolas, muitas vezes em parceria com empresas, governos e ONGs e, frequente- mente, ultrapassando os muros das instituições de ensino. Só que, pelo menos até outubro de 1992, um bom número de experiências, apesar de terem características de educação ambien- tal, não se autointitulavam assim. Na avaliação dessas experiências localizaram-se algumas carências, como a deficiência de programas de treinamento e atualização (havia cursos em todo o país, mas não o suficiente para todos os professores) e a dificuldade de manter, ao longo do tempo, o acompanhamento avaliativo e apoio à ação do educador na escola. Durante os anos 90 do século XX, as pesquisas em educação ambiental se multiplicaram, principalmente após a Rio-92. Em 1997, o professor Luiz Afonso Vaz de Figueiredo e o especialista em EA, Roberto Mônico EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 11. Júnior, divulgaram um levantamento, ainda preliminar, de teses e monografias sobre questões ambientais realiza- das desde 1970. Constataram que o maior número de estudos é posterior a 1988. Além disso, 61 trabalhos, o que representa 42% do total, tinham relação direta ou indireta com educação ambiental. Apesar da amostragem limitada, os pesquisadores puderam confirmar que as pesquisas cresceram, mas que houve divulgação insufi- ciente. Eles também lamentaram a falta de um veículo de comunicação para mostrar, de forma sistematizada, tanto a produção acadêmica, como as experiências em EA. 2.4 Ações governamentais e não governamentais O Governo Federal também foi influenciado pelo ritmo ascendente da educação ambiental. A crono- grafia preparada pelo professor Genebaldo Freire Dias para seu livro Educação ambiental: princípios e práticas, apresenta fatos em que houve participação de órgãos federais, entre 1989 (ano da Resolução 44/228, da ONu) e a véspera da Rio-92. Até 1990, os destaques ainda eram cursos e eventos. Em 1989, em Pernambuco, houve um semi- x nário para debater um projeto-piloto para EA no ensino técnico-agrícola da América Latina (promoção MEC/unesco). Em 1989, em Pernambuco, aconteceu o 1º x Encontro Nacional sobre Educação Ambiental no Ensino Formal (promoção ibama/universi- dade Federal de Pernambuco). Em 1990, realizou-se o iV Curso de Especia- x lização em Educação Ambiental, para formar especialistas no setor da universidade Fede- ral do Mato Grosso, pelo Programa de Meio Ambiente da ONu, com o ibama, a Capes e o CNPq. Esse curso, que já ocorrera na universi- dade de Brasília (uNB), aconteceu por quatro anos no Mato Grosso, até ser extinto. Em 1989 e 1990, o ibama viabilizou mais dois x seminários universidade e Meio Ambiente. Em 1991, o MEC e a Secretaria de Meio x Ambiente da Presidência da República, com apoio da unesco e da Embaixada do Canadá, promoveram o Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a Educação Ambiental. Em 14 de maio de 1991, a Portaria n. 678 x do MEC, determinou quea educação escolar deveria contemplar a educação ambiental, permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Outra Portaria, de número 2.421, de 20 de x novembro do mesmo ano, instituiu o Grupo de Trabalho para a Educação Ambiental, com o objetivo de, junto com as secretarias nacionais de educação, definir as metas e estratégias para implantar a EA no Brasil, além de elaborar a pro- posta de atuação do MEC nesta área para a edu- cação formal e informal e, também, na Rio-92. Em 20 de agosto de 1991, uma cerimônia x no Palácio do Planalto marcou o lançamento do Projeto de informações entre ibama e MEC, que consistiu num encarte da revista Nova Escola, contendo um breve histórico e a expli- cação do que é educação ambiental, e mais dezessete dicas de atividades práticas. No primeiro semestre de 1992, o novo Grupo x de Trabalho do MEC, coordenado por Néli Gonçalves de Melo, promoveu cinco Encontros Técnicos Regionais de EA, para definir critérios e estratégias de ação. 1º Jornada internacional de Educação Ambien- x tal, um dos encontros do Fórum Global (nome dado à constelação de eventos da Praia do Flamengo), atraiu cerca de 600 educadores do mundo todo, que debateram uma agenda comum de ação. Na área não governamental, os educadores ambientais formaram uma Rede Brasileira de Educação Ambiental que começou a ser concebida durante o pro- cesso preparatório da Conferência da ONu, mas só se tornou real durante a Jornada de Educação Ambiental de 1992. Seus objetivos seriam a troca de informações e experiências, o apoio a redes estaduais de educação ambiental, bem como a integração com redes interna- cionais e a articulação nacional para a implementação das diretrizes apontadas na Rio 92. Em maio de 1993, o MEC, por meio da Portaria n. 773, criou um Grupo de Trabalho para a EA, que seria a semente da futura Coordenação de Educação Ambiental (COEA) do Ministério. Entre os objetivos desse grupo de trabalho estavam o de concretizar as recomendações EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 12. aprovadas na Rio-92, coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para implementação da educação ambiental nos sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades. igualmente, em 1993, a EA reingressou na Câmara dos Deputados, com um projeto de lei para criar uma Política Nacional de Educação Ambiental, pela qual se estabeleceria um sistema nacional para o setor, interligando os sistemas nacionais do meio ambiente e da educação. A 1ª Conferência Nacional de Educação Ambiental, realizada entre 7 e 10 de outubro de 1997 em Brasília, apontou que, nesse ano, as prefeituras foram as cam- peãs em parceria para as ações de educação ambiental. Só que, dessa vez, elas “abocanharam” uma fatia menor de que no início da década: 28,8% dos projetos, desen- volvidos por setores como as secretarias municipais de educação, saúde ou meio ambiente. Em segundo lugar, mais uma vez entraram os governos federais e estaduais (13,7%) e universidades (13%), sendo que as ONGs fica- ram logo abaixo, com 9,79%, o que também foi conside- rado significativo. Quanto às empresas, a participação na promoção da educação ambiental revelou-se reduzida: apenas 3,6%. Mas, na avaliação do levantamento, elas foram consideradas como “uma tendência interessante”. Quanto aos temas geradores, nas duas pesquisas, as respostas têm semelhanças: com um grande número de projetos priorizando, em 1997, problemas da realidade local e geral (47,2%), lixo (32,6%), ambiente urbano (20,2%), ações comunitárias (19,4%) e o contexto esco- lar (45,1%). Durante o encontro houve reuniões paralelas e até uma assembleia dos participantes, em que se cri- ticou, por exemplo, o fato de se ter “perdido a oportuni- dade” de discutir as bases para uma Política Nacional de Educação Ambiental, por meio de uma comissão paritária entre sociedade civil e governo. Parte dessas críticas aca- baram sendo incorporadas no documento final. 3 . A Política Nacional de Educação Ambiental 3.1 A PNEA: princípios e objetivos Em 1997, foi sancionada a Lei Federal de Edu- cação Ambiental, Lei n. 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil. Esta Lei diz que a Educação ambiental deve ser um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (Art.13). Ou seja, as ações e práticas edu- cativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, com a participação e parceria de Escolas, universidades e Empresas. Na lei fica esta- belecido o conceito geral da Educação Ambiental, nos seguintes termos: Art. 1º. Entendem-se por educação ambien- tal os processos por meio dos quais o indi- víduo e a coletividade constroem valores sociais,conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Em seu Art. 4º, a lei esclareceu princípios básicos da Educação Ambiental, a saber: o enfoque humanista, holístico, democrático a. e participativo; a concepção do meio ambiente em sua tota-b. lidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; o pluralismo de ideias e concepções pedagó-c. gicas, na perspectiva da inter, multi e transdis- ciplinaridade; a vinculação entre a ética, a educação, o traba-d. lho e as práticas sociais; a garantia de continuidade e permanência do e. processo educativo; a permanente avaliação crítica do processo f. educativo; a abordagem articulada das questões ambien-g. tais locais, regionais, nacionais e globais; o reconhecimento e o respeito à pluralidade e h. à diversidade individual e cultural. Com base nestes princípios lei no seu Art. 5º indica os objetivos fundamentais da educação ambiental, a serem cumpridos: o desenvolvimento de uma compreensão inte-a. grada do meio ambiente em suas múltiplas e EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 13. complexas relações, envolvendo aspectos eco- lógicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; a garantia de democratização das informações b. ambientais; o estímulo e o fortalecimento de uma cons-c. ciência crítica sobre a problemática ambiental e social; o incentivo à participação individual e coletiva, d. permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; o estímulo à cooperação entre as diversas e. regiões do País, em níveis micro e macror- regionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fun- dada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, res- ponsabilidade e sustentabilidade; o fomento e o fortalecimento da integração f. com a ciência e a tecnologia; o fortalecimento da cidadania, autodetermina-g. ção dos povos e solidariedade como funda- mentos para o futuro da humanidade. A lei também condiciona que estes princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambien- tal devem envolver programas e ações dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama; das instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, dos órgãos públicos da união, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; das organizações não governamen- tais com atuação em educação ambiental. Devem ser desenvolvidas ações na educação em geral e na edu- cação escolar, por meio da capacitação de recursoshumanos; desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; produção e divulgação de material educativo; acompanhamento e avaliação. 3.2 PNEA: responsabilidade social Segundo a política nacional a sociedade como um todo deve manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identifi- cação e a solução de problemas ambientais. A Educação Ambiental deve estar presente na educação nacional, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal, incumbindo ao Poder Público, nos termos dos Arts. 205 e 225 da Constituição Federal, o dever de definir polí- ticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, deve definir diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e obje- tivos da Política Nacional de Educação Ambiental. Deve incentivar a difusão da EA nos meios de comunicação, campanhas e programas educativos relacionados ao tema meio ambiente. Deve garantir ampla participação dos setores civis, não governamentais e setores priva- dos e a sensibilização geral para a educação ambiental. Além do Poder Público, é dever das instituições educativas promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desen- volvem. Os meios de comunicação de massa devem colaborar de maneira ativa e permanente na dissemi- nação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação. As empresas, entidades de classe, insti- tuições públicas e privadas devem promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores para o meio ambiente, visando à melhoria dos processos produtivos e controle efetivo sobre os impactos do processo pro- dutivo no meio ambiente. A abrangência das responsabilidades atribuídas pela lei em matéria de EA não formal é estabelecida na Seção iii, Art. 13, ao estipular que “Entendem-se por educação ambiental não formal as ações e práticas edu- cativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: a difusão, por intermédio dos meios de comu-I. nicação de massa, em espaços nobres, de EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 14. programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; a ampla participação da escola, da universi-II. dade e de organizações não governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não formal; a participação de empresas públicas e privadas III. no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universi- dade e as organizações não governamentais; a sensibilização da sociedade para a importân-IV. cia das unidades de conservação; a sensibilização ambiental das populações tra-V. dicionais ligadas às unidades de conservação; a sensibilização ambiental dos agricultores;VI. o ecoturismo”.VII. A lei adquire uma dimensão social, na medida em que abre amplas possibilidades para o engajamento de diferentes atores sociais, nas mais variadas formas (empresas, escolas, institutos, associações populares, ambientalistas, indígenas, agricultores, artistas, e outros tantos). No entanto os desafios de sua implantação estão diante de cada um dos envolvidos com esta matéria. 3.3 Educação ambiental nos sistemas de ensino A lei deixa muito clara a sua abrangência quando na sua Seção ii, Art. 9 diz: “Entende-se por educa- ção ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: Educação Básica: infantil; Ensino Fundamental x e Médio; Educação Superior; x Educação Especial; x Educação Profissional; x Educação de Jovens e Adultos. x A lei exige que todos os cursos das universidades, principalmente as licenciaturas e programas de forma- ção de professores, revisem os seus currículos para fazer com que o meio ambiente esteja colocado trans- versalmente da EA se coloque como dimensão opera- cional desse processo, conforme o Art. 11 estipula que: “A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas”. A implementação desta dimensão nos projetos político-pedagógicos e programas de ensino formal é um desafio com responsabilização especial dos atuais cursos de formação de docentes e magistério em nível médio e técnico e/ou dos seus sucessores. uma questão especial que gerou incessantes deba- tes sobre a implantação nos sistemas de ensino está no Art. 10 “A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal”. Em seus incisos deixa claro o processo de implantação nos sistemas de ensino: § 1º. A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no cur- rículo de ensino. § 2º. Nos cursos de pós-graduação, exten- são e nas áreas voltadas ao aspecto meto- dológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica. § 3º. Nos cursos de formação e especializa- ção técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas. Em relação aos currículos de formação de pro- fessores, a EA deve constar em todos os níveis e em todas as disciplinas. No parágrafo único deste artigo fica explícito que “Os professores em atividade devem rece- ber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumpri- mento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.” Como vimos a Educação Ambiental, foi assumida como uma necessidade a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais, somente na Constituição de 1988. No entanto, até meados da década de 1990, não se havia definido completamente, uma política em termos nacionais. A edição da Política Nacional de Edu- cação Ambiental, neste sentido pode ser considerada EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 15. o marco institucional jurídico e político principal, e que definiu uma nova postura de Estado brasileiro diante da formação de cidadãos aptos para o enfrentamento dos desafios sociais e ambientais deste século. 3.4 Educação ambiental no ensino escolar Segundo a unesco, por meio do PNuMA (Programa das Nações unidas sobre Meio Ambiente), de 1990, a Educação Ambiental representa uma das dimensões da educação geral que deve ser implementada em todos os níveis de forma interdisciplinar. No Brasil, esta dimen- são é reconhecida na Lei Federal n. 9.795/99 (Política Nacional de Educação Ambiental Brasileira) que afirma a necessidade de que a dimensão ambiental da educação esteja integrada com a ciência e a tecnologia, a partir de princípios axiológicos, de valores – tendo-se em vista um futuro sustentável da humanidade. Segundo Carneiro (2002, p. 62-67), “não seria, pois, coerente, sob os pontos de vista epistemológico e pedagógico, considerá-la uma disciplina curricular e, muito menos uma educação especial”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais trazem esta preocupação ao definir a proposta do meio ambiente como tema transversal. Esta proposta diretiva, oficiosa, é de plena validade e atualidade nesse aspecto.Com efeito, ela pressupõe a complexidade das questões ambientais, na medida em que abre caminho para uma contribuição conjunta das ciências naturais e sociais na análise e na busca de compreensão das questões de meio ambiente, desde a escolarização básica; nesse sentido, as reflexões e experiências educativas, metodologicamente, devem ser proporcionais em abrangência e profundi- dade de conteúdos ao nível de desenvol- vimento e condições de aprendizagem dos alunos (CARNEiRO, 2002, p. 64). A preocupação em implantar a educação ambien- tal no ensino formal já havia se manifestado em outros países. Em 1968, a proposta pedagógica dos países europeus nórdicos (Suécia, Noruega, Finlândia, islândia e Dinamarca) incluiu a dimensão ambiental nas diversas disciplinas curriculares, no nível da Educação Básica. Segundo Carneiro (2002), por iniciativa da unesco, ocorreu, na época, uma série de eventos relacionados à EA no ensino formal, como a Oficina internacional de Educação, em Genebra (1968) e a Reunião internacio- nal sobre EA nos currículos escolares, em Paris (1970); o objetivo de tais eventos era o de construir, gradativa- mente, uma concepção consistente de EA e suas diretri- zes metodológicas a partir destas bases pedagógicas: uma educação relacionada a valores, em vista a. da formação de atitudes e aptidões, por parte de educadores e educandos, em relação às questões ambientais; O tratamento da dimensão ambiental em b. todas as disciplinas, de modo integrado, con- tínuo e permanente; O entendimento de meio ambiente sob o enfo-c. que interrelacional e a condução das práticas educativas a partir do ambiente imediato das escolas e dos educandos. Estas diretrizes apontam para a integração do currículo escolar e a inclusão da Educação Ambien- tal como uma dimensão teórico-metodológica a ser implementada no âmbito legal, institucional e de abran- gência nacional. 3.5 O Programa Nacional de Educação Ambiental Em 1994, é elaborado o Programa Nacional de Educação Ambiental – Pronea. De acordo com o docu- mento assinado pelo presidente da República, ele seria um programa desenvolvido pelos ministérios da educa- ção (MEC) e do meio ambiente (MMA), com a parceria de mais dois ministérios: o da Cultura e o da Ciência e Tecnologia. Também foram apontadas duas perspecti- vas de ação: a primeira destinada ao aprofundamento e à a. sistematização da Educação Ambiental para as atuais e para as novas gerações, tendo o sistema escolar como instrumento; a segunda se direciona à boa gestão ambien-b. tal, visando à formação da consciência pública ou à produção da informação adequada nos mais diversos segmentos da sociedade. Na proposta inicial, já havia a indicação de sete linhas de ação, para abranger desde o ensino formal EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 16. até a articulação das comunidades em favor da EA e a criação de uma rede de centros especializados. Com a incumbência de acompanhar e estimular as mais diversas atividades de Educação Ambiental, o Pronea passou a atuar inclusive na área de formulação de políticas para o setor. O Pronea ganhou três reforços, em 1996. Em maio, o Plano Plurianual do Governo 1996/1999, criado pela Lei n. 9.276/96, incluiu a “promoção da Educação Ambiental, através da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentá- veis de recursos naturais”. Em outubro, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) criou seu Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, pela Portaria n. 353196. E em dezembro assinou-se um Protocolo de intenções entre MMA e MEC, para a cooperação técnica e institucional em edu- cação ambiental. Disto nasceria a 1º Conferência Nacio- nal de Educação Ambiental – Brasil, 20 Anos de Tbilisi não por acaso programada para outubro de 1997. Esse evento, que mobilizou educadores e autoridades de todo o país, envolveu também a Rede Brasileira de Educação Ambiental. O Pronea prevê a implementação da EA no ensino formal e não formal, incorporando em seus princípios e objetivos as definições dos tratados internacionais, tor- nando-se uma das bases para a discussão e proposição da PNEA (Lei n. 9.795/99). O MEC e o MMA assinaram em 1996 o Protocolo entre Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Educação, cuja finalidade é estabelecer um canal formal para que ambos os órgãos desenvol- vam ações conjuntas e formular políticas para implan- tação da EA no ensino formal e não formal, cabendo a cada um implementar na sua área de abrangência. As informações geradas pelo Censo Escolar da Educação Básica de 2001, realizado pelo iNEP – insti- tuto de Pesquisas Educacionais, a pedido da COEA, se tornaram a base de dados mais apurada que se teve até o presente, no tocante ao tratamento da EA nas escolas. O Censo atingiu 177.780 escolas de ensino fundamen- tal no Brasil todo e gerou, a partir de perguntas elabora- das, informações que podem contribuir para a reflexão sobre a prática da EA na atualidade. Ao perguntar sobre o trabalho com temática ambiental e sua inclusão nas propostas curriculares, o Censo obteve um retorno positivo de 71%, aproxima- damente 11 milhões de estudantes da 5ª a 8ª séries (nomenclatura alterada) e cerca de 70% da 1ª a 4ª séries (nomenclatura alterada), o que corresponde a aproximadamente 14 milhões de estudantes. Estes e outros dados forneceram a COEA, subsídios para inser- ção do tema transversal, meio ambiente, no currículo e nos projetos educativos da escola por meio da elabora- ção de materiais para formação em serviço dos profes- sores. O resultado foi a elaboração do Programa Parâ- metros em Ação – Meio Ambiente na Escola (Pama), lançado no dia internacional do Meio Ambiente (5 de junho de 2001). A realização do Congresso Brasileiro de Qualidade na Educação promovido pela Secretaria de Ensino Fun- damental SEF/MEC – outubro de 2001, reuniu 3000 participantes, na sua maioria professores da rede pública para discutir uma programação sobre o meio ambiente e seus principais eixos articuladores. No 2º Encontro Nacional das Secretarias de Educa- ção promovido pela COEA – novembro de 2001, reuniu os técnicos das Seducs e Semeds, ampliando mais a rede de educadores, este evento pode medir o avanço da implementação da EA, constatou-se que na maioria das secretarias estaduais a EA ainda estavam vinculadas aos departamentos/diretorias de currículos ou estudos pedagógicos do Ensino Fundamental e que em todas elas existia pelo menos um técnico que atualmente res- ponde pela EA. As Secretarias municipais de educação, por sua vez são as mais fragilizadas pela falta de técni- cos específicos para tratar da EA, assim ela acaba se tornado apenas mais um conteúdo a ser trabalhado com algumas matérias. No entanto a própria comissão ao avaliar os resulta- dos nas escolas chega a seguinte conclusão: Em geral, as escolas restringem sua prática de Educação Ambiental a projetos temáticos, desarticulados do currículo e das possibilida- des de diálogo das áreas de conhecimento com a temática. Frequentemente são cam- panhas isoladas, ou ações isoladas em datas comemorativas. Muitas vezes são iniciativas de um professor ou de alguns professores inte- ressados, que acabam por desenvolvê-los de forma extracurricular. Além disso, os projetos de Educação Ambiental em geral não estão articulados ao projeto educativo da escola e não podem oferecer aos professores con- EDuCAçãO AMBiENTAL: PROGRAMAS, PROJETOS E AçõES 17. dições espaciais, temporais e materiais para trabalhar coletivamente e de forma integrada. Esse quadro dificulta um trabalho com a trans- versalidade e a interdisciplinariedade propos- tas para a prática da Educação Ambiental. Há inúmeros projetos com objetivos genéricos e pouco claros, estratégiasimprecisas e dirigi- das a ações localizadas e efêmeras. Muitas vezes são descontextualizados, sem se basear em diagnósticos regionais e locai, e/ou con- centram em aspectos puramente ecológicos, deixando de lado os fatores culturais, políticos, econômicos e sociais que são parte integrante da temática ambiental. Outra característica desses projetos é a tendência a trabalhar uma visão catastrófica do mundo, do futuro e das ações do ser humano e basear-se em situa- ções problemáticas. Poucas vezes os projetos são pensados a partir das potencialidades das regiões em que a escola está inserida (MEC/ COEA, 2002, p. 21). Os dados revelados pela COEA sobre a situação das Secretarias Estaduais de Educação em relação a EA, revelam um processo de crescimento na implemen- tação da PNEA, abrindo uma perspectiva de avanço na questão ambiental no país. Com base nos dados da COEA e nos relatórios emitidos entre 1999-2002 pode-se perceber que os sistemas públicos passaram a incorporar gradativamente as novas demandas públicas e pode auxiliar na reflexão sobre os sistemas de ensino estaduais e municipais. 4 . A dimensão ambiental na educação 4.1 O meio ambiente nos PCN Em 1997, são publicados os novos Parâmetros Cur- riculares Nacionais – PCN, fruto de um longo processo de discussão sobre as reformas curriculares, iniciadas nos anos 1980. Como forma de promover o exercício da cidadania, a necessidade de articulação e integração do sistema de ensino e das instâncias de governo, o documento ressaltou a importância do projeto educativo da escola. A escola pode inserir procedimentos, atitudes e valores no convívio escolar e responder a necessidade de tratar de alguns temas que atingem diretamente a sociedade. Os temas deverão ser abordados de forma transversal: meio ambiente, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo (com a possibili- dade das escolas e/ou comunidade elegerem outros de importância em sua realidade). A publicação do MEC também destacou os prin- cípios que foram listados na Recomendação n. 2 da Conferência de Tbilisi, e que até hoje são referência para quem atua no setor. Eles foram transformados em doze pequenos mandamentos, que podem guiar as ”boas ações” de quem pratica educação ambiental: Considerar o meio ambiente em sua totalidade x nos seus aspectos: natural, tecnológico, social, econômico, político, histórico, cultural, técnico, moral, ético e estético. Construir um processo permanente e contínuo, x durante todas as formas do ensino formal, desde o início da Educação infantil. Aplicar um enfoque interdisciplinar, aprovei- x tando o conteúdo específico de cada área, de modo a se conseguir uma perspectiva global da questão ambiental. Examinar as principais questões ambientais x do ponto de vista local, regional, nacional e internacional. Concentrar-se nas questões ambientais atuais x e naquelas que podem surgir, levando-se em conta a perspectiva histórica. insistir no valor e na necessidade da coopera- x ção local, nacional e internacional, para preve- nir os problemas ambientais. Considerar explicitamente os problemas x ambientais nos planos de desenvolvimento e crescimento. Promover a participação dos alunos na organi- x zação de todas as suas experiências de apren- dizagem, dando-lhes a oportunidade de tomar decisões e aceitar suas consequências. Estabelecer para os alunos de todas as ida- x des uma relação entre a sensibilização ao meio ambiente e a aquisição de conheci- mentos, habilidades e atitudes, para resolver problemas e clarificar valores, procurando, principalmente, sensibilizar os mais jovens para os problemas ambientais existentes na sua própria comunidade. EDuCACãO, DiVERSiDADE E CiDADANiA 18. Ajudar os alunos a descobrirem os sintomas e x as causas reais dos problemas ambientais. Ressaltar a complexidade dos problemas x ambientais [...], a necessidade de se desen- volver o sentido crítico, e as atitudes necessá- rias para resolvê-los. utilizar diversos ambientes com finalidade edu- x cativa, e uma ampla gama de métodos para transmitir e adquirir conhecimento sobre o meio ambiente, ressaltando principalmente as atividades práticas e as experiências pessoais. No documento meio ambiente é apresentado como um tema transversal, a ser trabalhado nos currículos do ensino fundamental e médio. Essas diretrizes apontadas pelo documento estão baseadas na necessidade do desenvolvimento de valores, atitudes e posturas éticas. Os seus procedimentos apontam no sentido de oferecer aos alunos conhecimentos que lhes permitam posicio- nar-se frente às questões ambientais. Com base nesta ideia, foi apresentada uma seleção de conteúdos que seguiram os seguintes critérios: A importância dos conteúdos para uma visão x integrada da realidade, especialmente sob o ponto de vista socioambiental. A capacidade de apreensão e necessidade de x introdução de hábitos e atitudes já no estágio de desenvolvimento em que se encontram. A possibilidade de desenvolvimento de pro- x cedimentos e valores básicos para o exercício pleno da cidadania. Os conteúdos selecionados foram distribuídos em três blocos: Os ciclos da natureza – o aluno deve observar x determinado fenômeno, perceber as relações e fluxos, no espaço e no tempo. Os mais importan- tes indicados foram os ciclos da água, da matéria orgânica, das teias e cadeias alimentares e por fim todas a relações e correlações que eviden- ciam fluxos na natureza, no espaço e no tempo; A sociedade e o meio ambiente – o estudos x dos agrupamentos humanos e as relações com o ambiente, desenvolvidas por meio da cultura, da arte e do trabalho. Neste estudo são sugeridas abordagens sobre diversidade cultu- ral, limites do desenvolvimento humano, carac- terísticas das diferentes paisagens e ambientes ocupados pelo homem e as relações entre o campo e a cidade; O manejo e conservação ambiental – o desenvol- x vimento do censo crítico no aluno que o permita detectar a utilização inadequada dos recursos naturais, noções sobre a produção, distribuição e consumo de águas, ciclos de materiais inorgâ- nicos, índices de poluição, noções sobre impacto ambiental e práticas de preservação. Os Parâmetros Curriculares sugerem que a partir do conhecimento científico e de um conjunto de pro- cedimentos, o professor desenvolverá com os alunos a capacidade da observação e compreensão da reali- dade de modo integrado. Do ponto de vista atitudinal e comportamental fica a critério da escola, promover todas as formas de integração e participação do aluno na construção de sua aprendizagem. Os professores, pelo contato direto com os alunos, poderão observar suas especificidades e orientar para o entendimento da realidade. Criando oportunidades de integração social, estimulando a participação, a solidariedade e a intera- ção, discutindo preconceitos e diferenças e fundamen- tando valores universais. Esse documento aponta ainda para a adoção dos princípios assinalados na Conferência intergovernamen- tal de Educação Ambiental de Tiblisi (1997). Enfatizando a necessidade da participação da comunidade escolar no processo de discussão da temática ambiental. Além da convivência interna da comunidade esco- lar, o documento salienta também, a relação com os diversos setores envolvidos com a questão ambiental, as universidades, as Organizações Governamentais e as Não Governamentais, as instituições próximas à Escola, como percebemos nesta citação: “A convivên- cia democrática, a promoção de atividades que visem o bem-estar da comunidade escolar com a participação dos alunos são fatores fundamentais na construção da identidade desses alunos como cidadãos” (PCN, p. 75). O documento também faz considerações a respeito da formação dos professores.
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