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CURSO DE GESTÃO DE SEGURANÇA PRIVADA Disciplina: Psicologia da Segurança Prof: Angela Moreira Utchitel (Doutora em Psicologia) utchitel@uol.com.br angela.utchitel@estacio.br 1 (Edição revista em julho de 2014) UNIDADE I: A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA E DA PSICOLOGIA SOCIAL PARA A EXPLICAÇÃO E COMPREENSÃO DOS FATOS E EVENTOS SOCIAIS Introdução Quando usamos o termo ‘Psicologia’ ou mesmo expressões como ‘causas psicológicas’ e ‘razões psicológicas’, dificilmente nos damos conta de que estamos, com eles, definindo e circunscrevendo – de modo específico – uma forma de interpretar e compreender certos eventos, acontecimentos, ações e comportamentos humanos. Em outras palavras, temos uma representação acerca do sentido do termo Psicologia, representação esta naturalizada por um uso relativamente compartilhado entre nós e que passou a fazer parte do nosso vocabulário usual e do senso-comum. É importante ressaltar, entretanto, que, se de um lado, o termo Psicologia – derivado de palavras gregas que significam ‘estudo da mente ou da alma’ – é antigo, de outro, só foi mantido ao longo da História do Mundo Ocidental por espelhar a preocupação secular do Homem consigo mesmo e com aquilo que o faria um ser diferente dos outros elementos da Natureza. Vale lembrar que, desde o século XIX, o termo Psicologia tem um significado diferente do original, marcado não só pelas transformações sociais que atingiram a História Social e a História das Mentalidades ao longo do desenvolvimento do Ocidente, mas também pelo advento da Ciência na Era Moderna. Hoje, a Psicologia pode ser genericamente definida como a Ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. 1.1: Conceito de Psicologia: A Psicologia hoje Os assuntos investigados pelo psicólogo incluem, dentre outros, o desenvolvimento, as bases fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a consciência, a memória, o pensamento, a linguagem, a motivação, a emoção, a inteligência, a personalidade, o ajustamento, o comportamento normal e desviante (e suas formas de tratamento), as influências sociais e o comportamento social. A Psicologia é freqüentemente aplicada na clínica, na indústria, na educação, em assuntos de consumo e em muitas outras áreas, sendo tais aplicações uma conseqüência do próprio desenvolvimento da Psicologia como Ciência ao longo da História do Mundo Ocidental. Psicologia: uma Ciência unificada e completa? 2 A Psicologia não é um corpo de conhecimentos nem unificado, nem completo. Os cientistas do comportamento divergem, muitas vezes, não só quanto ao objeto primeiro da Psicologia, mas também quanto aos métodos para abordá-lo. O próprio desenvolvimento da Psicologia como Ciência, ao longo da História do Ocidente, aponta nesta direção. Vejamos: - Ao ser fundado, em 1879, o primeiro laboratório de Psicologia em uma Universidade alemã, o objeto da Psicologia era definido como a análise da experiência consciente. Neste sentido, interessava aos pesquisadores verificar de que modo os diferentes elementos que compõem uma experiência (sensações e imagens) se combinavam e relacionavam para formar uma experiência complexa. A estimulação ambiental a que era exposto um indivíduo era analisada e descrita, tendo sido na esteira da Fisiologia – que investigava as funções cerebrais – que a Psicologia nasceu como Ciência. - Inversamente, em Viena, também no final do século XIX, não foi a experiência consciente que serviu de base aos estudos e à investigação de Sigmund Freud. Para este, o comportamento humano era resultante de motivos e desejos inconscientes fora da esfera da consciência dos sujeitos. Também aquilo que orientava Freud em seus estudos se diferenciava radicalmente dos psicólogos experimentalistas que fundaram a ciência psicológica; o que interessava a Freud eram as desordens mentais, ou seja, os processos mentais que estariam na origem de múltiplas patologias psíquicas. Também diferentemente de seus antecessores, Freud não usou a experimentação como método de pesquisa, mas o estudo de casos ou método clínico. Enquanto sistema de pensamento em Psicologia, a Psicanálise criada por Freud influenciou e ainda influencia fortemente não só os rumos da Psicologia, mas também das Artes, da Literatura e da Pedagogia. - Ao longo do século XX diferentes escolas de pensamento deram origem a diferentes abordagens de pesquisa no campo da Psicologia. Destas, derivaram estudos sobre aprendizagem, percepção, comportamento grupal etc. 1.2: Psicologia Social: campos de aplicação - A Psicologia Social está referida a um campo de estudo que examina os indivíduos em seu enquadramento social e cultural. O modo como o mundo social afeta o comportamento dos indivíduos e influi em seus padrões de interação é, deste modo, objeto de pesquisa em Psicologia Social. - Devemos ter em mente que, se algumas experiências sociais nas vidas das pessoas são únicas, ligadas a determinados momentos, outras ocorrem repetidas vezes, freqüentemente na mesma seqüência ou, predominantemente, com a mesma causa e efeito. Costuma ser sobre estes processos recorrentes que os psicólogos sociais se debruçam. - No campo específico do relacionamento interpessoal, os principais estudos realizados no campo da Psicologia Social surgiram já no início do século XX, abordando aspectos referidos mais especialmente aos fundamentos sociológicos do comportamento de uma dupla forma: 3 A) de um lado, os pesquisadores se dedicaram ao estudo dos elementos que fundamentariam o comportamento social do indivíduo: a socialização, a percepção social e as atitudes; B) de outro, se detiveram sobre os elementos que estariam na base do comportamento dos grupos: a posição, o status e o papel dos indivíduos no grupo, além de estudos sobre liderança. - Deve ser ressaltado, entretanto, que os estudos mais contemporâneos sobre o comportamento social dos indivíduos não deixam de levar em consideração os aspectos psicodinâmicos da constituição psíquica, o que significa dizer que a forma como a psicanálise aborda a construção subjetiva dos humanos acaba se incorporando e se infiltrando nas abordagens acerca do comportamento social dos indivíduos, especialmente se o que está em pauta é seu caráter normal ou desviante. Como já foi dito anteriormente, a influência da Psicanálise se fez sentir de modo decisivo na história do pensamento ocidental ao longo do século XX. 1.3: Fundamentos sociológicos do comportamento: Por quê é importante para o futuro Gestor em Segurança, seja na área pública ou na área privada, estudar os fundamentos sociológicos do comportamento ou, em outras palavras, as bases do comportamento social do indivíduo? Resumidamente: para entender como se estruturam e se organizam as relações entre as pessoas, não só no ambiente de trabalho (entre subordinados, pares e superiores), como também com aquelas que são o alvo de sua ação: apopulação (no caso da Segurança Pública) e a clientela (no caso da Segurança Privada). O tema que vamos começar a abordar trata, exatamente, dos principais aspectos que tecem a relação social em diferentes contextos. Nosso objetivo aqui é apresentar os principais conceitos que estão na base do comportamento social dos indivíduos, uma vez que entender as principais bases do comportamento social do indivíduo deverá permitir ao Gestor uma melhor leitura ou compreensão dos eventos ocorridos ou gerados no interior ou no confronto das três esferas sociais mencionadas, ou seja: - a que inclui os pares e superiores hierárquicos - a que diz respeito à relação com os subordinados - e a referida à população (no caso da Segurança Pública) e à clientela (no caso da Segurança Privada). 1.4: Bases do comportamento social do indivíduo Você pode imaginar a vida sem outras pessoas? Pode se imaginar completamente sozinho no mundo? A idéia é assustadora para a maioria de nós, seres humanos. Somos criaturas que se agrupam, que dependem umas das outras, física e emocionalmente. A vida humana é, inevitavelmente, uma vida grupal: todas as informações históricas que temos nos falam de agregados humanos. Por esta razão, quem pretende compreender o comportamento humano não pode deixar de considerar o ambiente social em que ele 4 ocorre. Como já vimos, a Psicologia Social é o ramo da Psicologia que estuda os comportamentos resultantes da interação entre os indivíduos. Entende-se por interação social o processo que se dá entre dois ou mais indivíduos, em que a ação de um deles é, ao mesmo tempo, resposta a outro indivíduo e estímulo para as ações deste, ou, em outras palavras, as ações de um são, simultaneamente, um resultado e uma causa das ações de outro. Estes comportamentos – chamados interpessoais ou sociais – podem ocorrer de inúmeras formas. Por exemplo, podem ser movimentos físicos (como um soco, um abraço, um aperto de mão...), podem estar relacionados a expressões corporais e faciais (um recuo, um olhar desviado...) ou podem ser palavras proferidas oralmente ou enviadas de forma escrita. É preciso entender também que um comportamento interpessoal não necessariamente se dá apenas quando dois ou mais indivíduos estão juntos. Quando um adolescente, por exemplo, na solidão de seu quarto se apronta esmeradamente para um encontro que terá, no mesmo dia, com uma garota, está oferecendo um exemplo de comportamento interpessoal porque se comporta com referência a outra pessoa, na expectativa de uma interação. Quando este mesmo adolescente sai da festa e se recolhe tristemente em seu quarto, expressando sua frustração porque o encontro não transcorreu como desejava, também está respondendo a uma interação já ocorrida; por isto, pode-se classificar este comportamento como interpessoal ou social. Sendo assim, é fácil verificar que praticamente todos os comportamentos humanos são resultantes da interação com os demais. Observe-se, então, que a definição da Psicologia Social como o estudo dos comportamentos resultantes da interação social é muito genérica. Numa tentativa de estruturar o vasto campo de interesse da Psicologia Social, alguns estudiosos o dividem em dois níveis. No primeiro deles, a atenção recai sobre os elementos que fundamentam o comportamento social do indivíduo. No segundo, a atenção e o interesse recaem sobre a compreensão dos processos grupais, investigando as influências do grupo sobre o indivíduo. 1.4.1 - Socialização Dá-se o nome de socialização ao processo pelo qual o indivíduo adquire os padrões de comportamento que são habituais e aceitáveis nos seus grupos sociais. É um processo que começa na infância e que perdura por toda a vida, fazendo com que as pessoas ajam, sintam e pensem de forma muito semelhante aos demais com quem convivem. A família se constitui no maior agente socializante. A influência da cultura da sociedade em que vive um indivíduo é enorme na formação de sua personalidade. Quando falamos em cultura, estamos falando de um corpo de conhecimentos compartilhados, ou seja, de maneiras características de pensar e agir, de hábitos, de metas, de ideais etc. Deste modo, a maneira de ser, pensar e agir de um indivíduo está diretamente relacionada com a ‘visão de mundo’ da época e do contexto social em que vive. Dito de outro modo, a cultura do meio social influencia a construção 5 subjetiva dos indivíduos: seus motivos conscientes e inconscientes, suas atitudes, valores e ideais – produzindo aquilo que genericamente chamamos de normas sociais. As normas sociais têm poderosos efeitos sobre o comportamento, gerando expectativas compartilhadas sobre o que fazer, dizer, pensar e até sentir. De um modo geral, as pessoas honram estas normas, e tendemos a nos sentir constrangidos quando violamos estas regras, mesmo que convenções sejam triviais. Em algumas situações, o indivíduo pode chegar a se colocar em risco para não ignorar os padrões sociais. Um exemplo disto é o do indivíduo que, por se encontrar nu, acha difícil correr para fora de casa para escapar de um incêndio. Outro exemplo: cantar alto, mas bem alto, em um ônibus ou metrô, quando se está sozinho, ou seja, sem a companhia de um amigo. Muita gente dirá que é fácil fazer isto, mas ‘nem uma em cem o faria’, afirmam os pesquisadores. Em termos de aplicação prática, as noções de socialização e de normas sociais costumam servir, grosso modo, para que possamos entender que nem todos os indivíduos se organizam culturalmente, socialmente e moralmente de maneira unívoca. Muito pelo contrário, costumamos ser profundamente marcados, em nossa maneira de ser, pelo ambiente cultural em que crescemos. Ainda que, num país, a lei valha igualmente para todos, determinando em linhas gerais o que nos é permitido fazer ou não fazer, o fato é que existem diferenças na forma de cada um construir-se socialmente e estas distinções pesam no formato assumido pelas atitudes dos indivíduos, especialmente quando estão em seus grupos de origem. Qualquer grande metrópole costuma apresentar uma significativa diversidade quando observados os diferentes grupos sociais de que é composta. Esta constatação faz com que devamos nos lembrar – especialmente quando nossas ações estão dirigidas a segmentos da população – que nem sempre o comportamento social, que tais segmentos expressam, apresenta sintonia com a maneira como pessoalmente costumamos agir. Guiar-se, então, nestes casos, pelo que é lícito ou ilícito do ponto de vista legal pode ser, em linhas gerais, um bom parâmetro para que regulemos nossas ações e sentimentos. 1.4.2- Percepção Social Se o processo de socialização pode ser genericamente considerado o primeiro fundamento do comportamento social dos indivíduos, a percepção social ou percepção das pessoas pode ser considerada o segundo. A percepção social diz respeito ao processo pelo qual formamos impressões arespeito de uma outra pessoa ou grupo de pessoas. Sobre as pessoas, dificilmente formamos impressões desconexas ou isoladas; ao contrário, integramos nossa impressão numa opinião unificada, mesmo que para isto precisemos ‘inventar’ ou ‘distorcer’ características percebidas. É bem verdade que o processo de percepção social é individual. Apesar disto, entretanto, existem semelhanças e constatadas recorrências na forma pela qual formamos impressões a respeito de outras pessoas. 6 Em relação a este ponto, pesquisas sugerem, por exemplo, que as ‘primeiras impressões’ muitas vezes persistem e dominam nossa percepção do outro. Já se estudou bastante a respeito das ‘primeiras impressões’ e da sua importância. Resumidamente: nós todos temos a tendência de fazer, sobre os outros, julgamentos bastante complexos, com base em poucas informações. O interessante nisto tudo é compreender o quanto as primeiras impressões determinam em muito nosso comportamento em relação às pessoas e têm probabilidade de se tornarem estáveis, a despeito de novas informações. Sobre a formação das ‘primeiras impressões’ sabe-se que: - A aparência física, por exemplo, é especialmente influente. Pesquisadores demonstraram que a beleza física deforma as opiniões favoravelmente em diferentes situações. - As ‘primeiras impressões’ são apoiadas em sinais não-verbais, tais como expressão facial, gesticulação, direção do olhar, tom e altura da fala, ritmo, pausas etc. - Lembramos e damos importância ao comportamento social fora do comum. - Geralmente nos deixamos influenciar em nossa primeira impressão de alguém se, antes mesmo de entrar em contato com esta pessoa, uma informação sobre ela nos for transmitida. Dado que as relações entre as pessoas dependem, em muito, das impressões que formam umas das outras, a compreensão do processo de percepção social tem muita importância para o Gestor de Segurança. A este respeito, vale notar que, de um lado, as “primeiras impressões” podem ser enganadoras, produzindo pré-concepções que podem embaraçar ou constranger um cliente (no caso da Segurança Privada) ou cidadão (no caso da Segurança Pública). Além disto, podem tornar às vezes mais difíceis nossas relações com os pares, com os superiores hierárquicos ou mesmo com os subordinados, com os quais não empatizamos à primeira vista ou num primeiro contato. É importante lembrar que todos nós sofremos oscilações de humor e de disposição, sendo necessário, na relação com colegas de trabalho, dar, às vezes, tempo ao tempo para formar, a respeito deles, uma impressão menos distorcida. Por outro lado, sabemos também que a experiência no dia-a-dia com a população acaba fazendo com que os profissionais de segurança desenvolvam um certo ‘saber’ sobre a postura comportamental do indivíduo afeito ao crime ou ao ilícito. Nestas circunstâncias, este ‘saber’ adquirido não deve ser desprezado, especialmente quando relacionado a sinais não verbais e a comportamentos sociais fora do comum. 1.4.3- Conformidade A conformidade é definida como uma mudança no comportamento e/ou nas atitudes resultante de uma pressão real ou imaginária de um grupo. Estudos sobre a conformidade mostram o quanto é desconcertante, para muitos indivíduos, perceberem dados da realidade de forma diferente da maioria das pessoas. Entretanto, quando as percepções produzidas pelos demais são, de algum modo, plausíveis, é muito comum o indivíduo conformar-se a ela. 7 A conformidade de um indivíduo a um grupo tende a ser maior, principalmente, na medida em que o grupo é percebido por ele como tendo uma capacidade de vigilância (ou seja, aptidão para descobrir quem está e quem não está obedecendo) e uma capacidade coercitiva (ou seja, o poder de impor penalidades). Ainda que os psicólogos tenham encontrado traços de personalidade bastante comuns nos indivíduos mais propensos à conformidade – dentre eles, uma tendência a endossar valores convencionais e socialmente aprovados e pouca tolerância à ambigüidade – a maioria das pessoas não se conforma de modo regular. Com isto, estamos afirmando que aspectos situacionais pesam na conformidade, para além das características de personalidade do indivíduo. Em termos práticos, pode-se supor que a presença efetiva de uma autoridade, seja num grupo de trabalho, seja numa operação de rua, funciona de modo a produzir no grupo melhores níveis de conformidade, ou seja, de adaptação aos padrões de comportamento esperados. Entretanto, a questão da conformidade leva a pensar, também, na importância de que uma operação possa ‘fazer sentido’ para aqueles que dela se ocuparão; dito de outro modo, se a percepção da realidade não for compartilhada pelo grupo, alguns de seus membros poderão até executá-la, mas de modo pouco seguro e eventualmente desconcertado. 1.4.4- Obediência Quando obedecemos, abandonamos nossos juízos pessoais e cooperamos com as exigências das autoridades. Assim como no caso da conformidade, a obediência ou submissão pode ser reforçada. De um lado, por forças positivas, como a aprovação, prestígio, promoções e recompensas materiais; de outro, pelo fato de os indivíduos passarem a evitar conseqüências desagradáveis, como a desaprovação, as multas, o ostracismo, a prisão etc. Quando todos seguem regras – se estas são justas e sensatas – a vida tende a se revelar mais segura. Mas a obediência cega pode ser perigosa. Basta lembrar quantas atrocidades, ao longo da História, foram cometidas em nome da obediência, mostrando como esta, muitas vezes, entra em choque com princípios morais e humanitários. Inúmeros estudos demonstraram que a obediência depende, até certo ponto, das características da situação e do indivíduo. De qualquer modo, ficou demonstrado que a proximidade da autoridade aumenta o poder da obediência. 1.4.5- Atitudes Entende-se por atitude a maneira, em geral, organizada e coerente de pensar, agir e reagir a um determinado objeto que pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas, uma questão social, um acontecimento; enfim, qualquer evento, coisa, pessoa, idéia etc. As atitudes podem ser positivas ou negativas e são, invariavelmente, aprendidas. As atitudes têm três componentes: 8 - um componente cognitivo, formado pelos pensamentos e crenças a respeito de uma pessoa, grupo ou idéia; - um componente afetivo, referido aos sentimentos de atração ou repulsão em relação a uma pessoa, grupo ou idéia; - e um componente comportamental, representado pela tendência de reação da pessoa em relação ao que é objeto da sua atitude. Na ausência de qualquer um destes componentes, não se pode falar legitimamente em atitude. É preciso notar, no entanto, que destes três componentes, apenas um é observável diretamente: o comportamento. Os outros dois (pensamentos e sentimentos) são inferidos a partir dele. Assim, se uma pessoa coleciona artigos sobre os Beatles, compra todos os seus discos e procura assistir a filmes e documentários sobre eles,é razoável acreditar que também gosta deles e que pensa a respeito deles coisas positivas. Não se deve concluir, porém, que a atitude seja sinônimo de comportamento, porque, muitas vezes, o comportamento de alguém, numa determinada situação, não é coerente com sua atitude. Por exemplo, quando um rapaz afirma à sua namorada que gosta muito da mãe dela, não necessariamente tem mesmo uma atitude positiva em relação à provável futura sogra. Somente a observação do comportamento global e costumeiro do rapaz em relação à mãe da moça, durante um certo período de tempo, poderá responder à questão. Temos atitudes em relação a quase tudo, exceto em relação a dois tipos de objetos: os que não conhecemos e os que são de pouca ou nenhuma importância para nós. Por exemplo, é de se supor que poucos brasileiros tenham alguma atitude em relação à política interna do governo finlandês. A importância das atitudes reside no fato do comportamento ser, em geral, gerado pelo conjunto de conhecimentos e sentimentos. Assim sendo, conhecendo-se as atitudes de alguém, pode-se, ainda que sem segurança absoluta, prever o seu comportamento. Além disto, ao se pretender mudar o comportamento das pessoas, deve-se procurar formar atitudes nelas ou alterar as já existentes. As campanhas de cidadania e as campanhas publicitárias referidas a produtos e serviços operam com este objetivo. Uma característica importante das atitudes, entretanto, é a tendência para serem muito resistentes à mudança, isto é, depois de adquiridas, as atitudes são difíceis de serem mudadas. O preconceito racial permanece bastante vigoroso em várias partes do mundo, apesar das inúmeras campanhas anti-segregacionistas. A explicação para isto talvez esteja no processo de desenvolvimento das atitudes. Nossas atitudes mais básicas (e que vão pesar na aquisição de outras) são aprendidas na infância, através da interação com os pais. Geralmente, os pais são objetos de atitudes muito positivas da criança, já que eles atendem às suas necessidades, proporcionando-lhes bem-estar. Assim, tornam-se os principais modelos a serem imitados em suas atitudes. Além disto, mostrar atitudes iguais às dos pais é costumeiramente reforçado. Não é verdade, entretanto, que as pessoas tenham as mesmas atitudes que seus pais em relação a tudo. Ocorre que muitas outras influências se apresentam à medida que a criança cresce. Aprendemos atitudes com nossos amigos, escola, igreja etc. 9 As influências culturais na formação de atitudes são múltiplas, constantes e, às vezes, contraditórias. Grupos sociais diversos, organismos estatais e particulares, todos procuram fazer com que as pessoas passem a agir da forma que eles propõem. Nem sempre nos damos conta destas tentativas de influência, assim como também não percebemos sempre as nossas próprias tentativas de mudar ou formar as atitudes dos outros. A mudança numa atitude tem maior ou menor probabilidade de ocorrer dependendo de seu grau de extremismo, dentre outros fatores. Uma atitude extrema, como, por exemplo, a de ser radicalmente contra a pesquisa nuclear, tem menos chance de ser alterada do que uma atitude pouco extrema. Fontes bibliográficas: DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia.São Paulo, McGraw-Hill, 1983. PISANI, E. M., BISI, G.P., RIZZON, L. A ., NICOLETTO, U. Psicologia Geral. Petrópolis, Ed. Vozes, 1990. 1.5: O Comportamento do Grupo Vínhamos abordando, até agora, as principais bases do comportamento social do indivíduo: o modo como se socializa, as regras e normas sociais que estão na base desta socialização, o modo como costuma perceber os demais e formar sobre eles as primeiras impressões, além de duas importantes tendências que os indivíduos tendem a demonstrar em seu comportamento social: a conformidade ao grupo e a obediência ou submissão às figuras de autoridade. 10 Pudemos discutir ainda o próprio conceito de atitude e seu significado social, tendo em vista que a atitude de um indivíduo em relação a alguém ou a alguma coisa traz em seu bojo múltiplos aspectos. Se estes aspectos formam, em seu conjunto, as bases do comportamento social do indivíduo, o que vamos começar a ver agora está ligado a fenômenos que só podem ser observados quando estamos diante de um grupo. O que estamos querendo dizer é que fenômenos como liderança, desempenho de papel e posição, dentre outros, só existem porque existe um grupo. Apenas quando as pessoas formam um grupo é que a liderança, por exemplo, pode aparecer sob a forma de comportamento. Além disso, o grupo exerce influências importantes no comportamento humano em geral, razão pela qual o comportamento do grupo merece ser estudado. O campo de estudo que investiga os fenômenos grupais é, muitas vezes, chamado de dinâmica de grupo. 1.5.1: Grupo O que é um grupo? A platéia de um cinema, os metalúrgicos de uma cidade e as pessoas que aguardam o ônibus numa esquina são exemplos de grupo? A resposta é não. Um grupo, ainda que formado por vários indivíduos, só pode ser considerado como tal quando seus componentes, além de estabelecerem contato uns com os outros, têm consciência de que têm algo significativamente em comum. Interesses, crenças, tarefas, características pessoais podem ser, dentre outros aspectos, este ‘algo em comum’. Entretanto, nem todos os grupos têm a mesma natureza, sendo possível distinguí-los em alguns aspectos: Dá-se o nome de Grupo Primário àquele que, além de satisfazer os critérios mencionados acima, caracteriza-se pela existência de laços afetivos íntimos e pessoais unindo seus membros. Em geral, é pequeno e perpassado por um comportamento interpessoal informal e espontâneo; nos grupos primários, os fins comuns não são explícitos e podem ser reduzidos à própria convivência grupal. Como exemplos de grupos primários, podemos citar a família e a turma de amigos. Pode-se dizer que a importância dos grupos primários reside, principalmente, no fato de se constituírem na fonte básica da aprendizagem de atitudes e da formação da personalidade dos indivíduos. Diferentemente, os Grupos Secundários são aqueles que se caracterizam por relações mais formais e impessoais. Neste caso, ainda que o grupo não tenha, por si só, um fim em si mesmo, se constitui num meio para que seus componentes atinjam fins externos ao grupo. Portanto, nos grupos secundários, o objetivo que entra em jogo para cada indivíduo é a base para sua constituição. Dentre outros, são exemplos de grupos secundários: uma turma de alunos, uma equipe de trabalho, um time esportivo. 11 Em geral, todos nós participamos de vários grupos, alguns primários e muitos secundários. Tanto o grupo primário quanto os secundários, nos quais nos inserimos ao longo da vida, impõem a seus membros direitos e deveres que implicam em diferentes funções e distintos níveis de responsabilidade, além das várias expectativas geradas, por estesencargos, nos demais membros – o que significa dizer que cada membro de um grupo possui uma posição, um status e um papel. 1.5.2: Posição Genericamente, a posição diz respeito ao conjunto de direitos e deveres do indivíduo no grupo. Deste modo, fazer parte do corpo de gestores de uma empresa corresponde a uma posição. Por outro lado, ocupar a posição de Gestão de Segurança ou de Gestão Financeira implica em responsabilidades e deveres diferentes. No campo específico da Segurança, há ainda distinções quanto às responsabilidades e deveres, em função da Gestão se destinar à Segurança Pública ou Privada. Além disto, entre o Gestor e seus subordinados, sabemos também que deveres e direitos serão diferentes. Em função disso, pode-se dizer a posição ocupada por um indivíduo em grupos formais recobre o universo de suas funções e responsabilidades. 1.5.3: Status Aparentado com o conceito de posição, o status se refere ao valor diferencial de cada posição dentro da empresa ou instituição. A importância atribuída a cada posição costuma ser indicada por símbolos que, nas sociedades contemporâneas, vão desde o escritório mais confortável e espaçoso, até o direito a uso de automóvel da empresa, moradia financiada por ela etc. De um modo geral, quanto maior o status de uma posição, maior o espectro de benefícios oferecidos. 1.5.4: Papel Quando falamos em papel estamos nos referindo ao comportamento esperado do indivíduo, em função da posição que ocupa e do respectivo status que esta tem no grupo e na instituição ou empresa. Vocês mesmos têm um papel quando estão na posição de alunos deste curso, e outro bem diferente quando estão ocupando suas funções profissionais. Muitos daqueles que, no trabalho, já ocupam posições de chefia e têm de deliberar sobre ações de terceiros e responsabilizar-se por inúmeras decisões, ao se sentarem na sala de aula automaticamente passam a adotar uma postura mais receptiva e menos deliberativa, na 12 medida em que estão aqui não para deliberar, mas para aprender e aperfeiçoar conhecimentos específicos. Os conceitos de Posição e Papel têm importância fundamental na atividade de Gestão. De um lado, deve-se considerar que, ao se referir ao conjunto de deveres e responsabilidades, a Posição deve sempre estar muito clara e definida, incluindo-se aí a relação com outras esferas da empresa. Quanto ao Papel, uma vez definida a Posição, devemos sempre lembrar que, em função desta última, uma expectativa a nosso respeito será inevitavelmente criada por nossos subordinados e superiores. Deste modo, uma boa definição da Posição facilita a assunção do Papel. 1.5.5: Liderança De modo geral, dá-se o nome de liderança à influência exercida por um membro do grupo aos demais. Para alguns pesquisadores da área social, a liderança depende da existência do grupo para se manifestar. Assim, afirmam que ninguém é líder – apenas atua como tal em determinadas situações. Para outros pesquisadores, no entanto, mais do que dizer respeito a um fenômeno grupal, a liderança está referida a um aspecto pessoal. Para os que acentuam o grupo, liderança pode ser sinônimo de prestígio, de realização de atividades importantes para o grupo, ou de uma relação emocional entre o líder e o grupo. Para os que acentuam o indivíduo, a liderança pode significar a posse de algumas características de personalidade, tais como domínio, controle emocional e da agressividade, empatia etc. A diversidade de noções contidas nestas acepções mostra a dificuldade de encontrar um único sentido para que o termo líder seja aceitável para todos os interessados no tema da liderança. Apesar disto, podemos levantar alguns pontos a partir do tema da liderança: A liderança é chamada de informal quando o líder emerge naturalmente de dentro do grupo. Pode surgir em situações de emergência; como exemplo, podemos citar situações (inundações, incêndios etc) em que um grupo de pessoas se vê em apuros e acaba escolhendo um indivíduo como o mais apto para coordenar as tentativas de salvamento. Entretanto, a liderança informal pode surgir também em situações mais amenas, sendo comum que um time de futebol formado por amigos automaticamente se deixe liderar por um deles. A chamada liderança formal, diferentemente da anterior, ocorre quando a designação do líder é feita por uma instância superior. Num time de futebol, por exemplo, a liderança informal pode ganhar um caráter formal quando o líder informal é designado 13 ‘capitão do time’ pelo treinador. Em outras situações, no entanto, pode haver confronto velado entre o líder formal e o informal de um grupo. A liderança pode, ainda, ser chamada de situacional, na medida que alguém é escolhido como líder para um tipo específico de tarefa e não para outro. No caso de uma equipe de agentes de segurança, por exemplo, a prática da delegação de liderança situacional a um agente, por seu chefe ou supervisor, costuma ser comum, pesando na escolha de um membro em particular para esta posição suas aptidões específicas, atitudes e traços de personalidade. Vale também salientar que estudos desenvolvidos no campo da Psicologia Social e Organizacional classificam o estilo de liderança de três modos: Autocrático: neste estilo, o líder ou chefe toma sozinho a decisão e determina toda a atividade do grupo. De um modo geral, os líderes que adotam este estilo acreditam e apostam na autoridade de que são investidos. Centralizam em si as decisões e a determinação das tarefas e responsabilidades de cada um, sem colocá-las em questão com aqueles que vão executá-las. Laissez-Faire (que significa ‘deixar rolar’ ou ‘deixar correr-solto’) ou Liberal: neste estilo, o líder outorga ao grupo de subordinados total liberdade de ação e decisão. Na verdade, neste estilo são muito mais os indivíduos, e não o grupo como um todo, que tomam as decisões. Democrático: neste estilo, o grupo como um todo toma a decisão pelas ações. O líder dirige o grupo com apoio e colaboração, interpretando e sintetizando o pensamento e os anseios de seus subordinados. Vale salientar que estes diferentes estilos de liderança tendem a se adaptar a diferentes tipos de atividade profissional. Os traços dos líderes As primeiras pesquisas sobre liderança procuraram identificar as características dos líderes. Muitos estudos procuraram verificar os traços físicos, intelectuais ou de personalidade do líder para compará-los aos de seus seguidores. Infelizmente, entretanto, os resultados obtidos ao longo de muitos anos de pesquisa acabaram se mostrando contraditórios e inconclusivos, até porque os traços evidenciados para o exercício da liderança num tipo de situação acabaram se mostrando diferentes dos de outro líder em situação diferente. Por conta disto, a seleção de líderes – especialmente para o comando de atividades e tarefas específicas – deve considerar a adequação de uma pessoa para o tipode função que vai desempenhar. Questões envolvidas nas situações em que é necessário designar um líder para comandar uma ação em especial (liderança situacional) fazem com que, muitas vezes, os Gestores de Segurança se decidam a encaminhar para um treinamento em chefia e liderança alguns de seus melhores subordinados. Sobre este ponto, vale a pena lembrar que: - Pouco se tem conseguido, em termos de aperfeiçoamento, através de projetos de treinamento que se limitam a apresentar as ‘regras de liderança’. 14 - Uma abordagem situacional no treinamento costuma dar melhores resultados. - Treinamentos em equipe também costumam gerar melhores resultados do que treinamentos individuais. 1.5.6: Grupos de Trabalho É fácil deduzir, pelo que foi visto até aqui, que a interação das pessoas no grupo pode exercer forte influência no comportamento dos indivíduos dentro do grupo. O grupo pode influenciar o comportamento de seus membros de várias maneiras, tanto levando à maior coesão e produtividade, quanto ao oposto, ou seja, a sentimentos escassos de integração e baixa motivação para o trabalho, com decréscimo do desempenho do grupo como um todo. A coesão dos grupos varia muito de grupo para grupo, estando uns firmemente unidos e outros frouxamente ligados. Diferentes definições de integração ou coesão têm sido propostas. Apesar disto, pode ser considerado como um teste real de integração de um grupo a capacidade de, sob pressão, poder conservar sua estrutura de funcionamento. Em outras palavras, um grupo demonstra estar realmente integrado quando consegue manter-se, sem desorganizar sua estrutura. Neste caso, a hierarquia é preservada e as funções específicas de cada um são respeitadas, especialmente ao atuar sob condições de pressão, tanto internas quanto externas. Do ponto de vista dos membros de um grupo, a integração é grande quando todos são leais ao grupo, esforçam-se para mantê-lo e estão de acordo quanto a seus objetivos e aos meios para realizá-los. Fontes bibliográficas: CARTWRIGHYT, D. / ZANDER, A. Dinâmica de Grupo - Pesquisa e Teoria. São Paulo, Herder Editora. PISANI, E. M., BISI, G.P., RIZZON, L. A., NICOLETTO, U. Psicologia Geral. Petrópolis, Ed. Vozes, 1990. TIFFIN, J./ McCORMICK, E. J. Psicologia Industrial. São Paulo, Herder Editora. 15 UNIDADE II: PROCESSOS BÁSICOS DO COMPORTAMENTO Introdução: O caminho que percorremos até aqui concentrou-se em aspectos psicológicos referidos ao comportamento social dos indivíduos. Foram destacados tanto os elementos que formam a base do comportamento do indivíduo no grupo, quanto os fenômenos e processos que, nascidos da interação grupal, afetam o comportamento individual. Na Unidade do Programa que vamos agora iniciar, estaremos examinando o comportamento humano a partir de um outro ponto: nosso objetivo será o de destacar os processos psicológicos básicos que permitem que cada indivíduo conheça, compreenda, sinta e se movimente no ambiente à sua volta. Entender estes processos torna-se fundamental para o Gestor de Segurança, tendo em vista que é sempre com material humano que terá, fundamentalmente, que lidar. 2.1: Percepção: Embora já tenhamos utilizado anteriormente o termo percepção – quando tratamos da percepção social, ou seja, dos aspectos psicológicos que pesam na impressão primeira que fazemos a respeito dos demais – o uso que faremos aqui do termo percepção dirá respeito ao modo como apreendemos e interpretamos as sensações que nos chegam através dos órgãos dos sentidos. Se nossos sentidos podem ser considerados como nossas ‘janelas para o mundo’ ao nos trazerem informações, o fato é que não ‘lemos’ simplesmente as mensagens tal como nos são entregues. No caso da vista, por exemplo, não tomamos conhecimento do fato de que nossos olhos registram impressões de cabeça para baixo e invertidas da esquerda para a direita, e que estas imagens mudam continuamente enquanto nossos olhos se movem. Tampouco temos consciência de nosso cérebro recebe duas imagens diferentes, uma de cada olho. O fato é que as informações recebidas por nossos órgãos dos sentidos são elaboradamente transformadas, de modo a percebermos o mundo de maneira organizada em relação a certos padrões de sentido. 16 A percepção define-se como o processo de organizar e interpretar os dados sensoriais recebidos (sensações), para desenvolvermos tanto a consciência do ambiente que nos cerca, quanto a consciência de nós mesmos. Percepção implica, portanto, em interpretação. A percepção inclui sensações acompanhadas de significados que lhes atribuímos como resultado de nossa experiência anterior. Dito de outro modo, na percepção nós relacionamos os dados sensoriais com nossas experiências anteriores, o que lhes confere significado. Falar em experiência anterior implica em falar de aprendizagem. Prova disto é o fato de estímulos idênticos serem percebidos de modo tão distinto por indivíduos de diferentes sociedades. Uma criança esquimó, por exemplo, é capaz de distinguir numerosos tipos de neve. Indo mais longe, sabemos o quanto o treinamento especializado é capaz de aprimorar a percepção: os radiologistas, por exemplo, são capazes de identificar pontos específicos nas imagens acinzentadas de um Raio-X; um estudioso em sócio-linguística pode distinguir e identificar claramente o local de origem de um falante. Da mesma forma, espera-se que um agente de segurança possa, por exemplo, perceber, antes dos demais, os indícios de eclosão de um delito ou tumulto. A percepção supõe algumas atividades cognitivas. Dentre elas: - A atenção: na fase primária do processo perceptivo, a pessoa decide para o que irá atentar. Sempre que se presta atenção é mais fácil encontrar sentido nas informações. - A memória também entra no processo perceptivo de diversas formas. Afinal, para decifrar o sentido de uma informação, é necessário comparar continuamente estes dados com aqueles referidos às lembranças de experiências semelhantes. Além destas atividades cognitivas, o estado psicológico de quem percebe também se constitui num fator determinante da percepção. Em outras palavras, os motivos, emoções e expectativas fazem com que a pessoa perceba preferencialmente certos estímulos do meio ambiente. Assim, quem estiver procurando um indivíduo de camisa vermelha em meio à multidão, tem uma disposição perceptiva temporária para vestimentas vermelhas. Do mesmo modo, quem tem fome sente-se mais atraído por estímulos comestíveis e tende a percebê-los mais facilmente. A mesma coisa acontece com tendências relativamente permanentes, como os interesses profissionais das pessoas: por exemplo, ao visitarem uma mesma cidade, um médico, um botânico, um arquiteto e um especialista em segurança pública dificilmente nos darão, desta cidade, uma mesma descrição. Aspectos da situação percebidos por um acabam passando completamente despercebidos paraoutros. Também é verdade, no plano das expectativas, por exemplo, que quando estamos esperando alguém chegar, podemos ‘ouvir’ esta pessoa chegando várias vezes antes que ela apareça. Do mesmo modo e pela mesma razão, em uma leitura podemos não nos dar conta da falta de certas palavras ou da troca de algumas letras, porque esperamos naturalmente que elas estejam presentes. Complemento 1: Um fator psicológico que influi, em muito, no nosso desempenho e interfere no agenciamento de acidentes de trabalho é a atenção. Em pesquisa recente, Daniel Goleman (2014, “Foco”, Editora Objetiva) reconhece que “diante de tantas distrações 17 trazidas pelas redes sociais, smartphones etc, está cada vez mais difícil conseguir se concentrar”. Para este pesquisador, “como consequência de uma geração que interage mais com máquinas do que com pessoas, as empresas precisam ficar mais atentas e passar a ensinar seus funcionários a se concentrarem mais no que estão fazendo” (fonte: Jornal O Globo, 02/02/2014 – oglobo.com.br/boachance). Se não podemos discordar das impressões do pesquisador, a pergunta que fazemos é: como ensinar funcionários a ter mais concentração, se a atenção e a concentração estão ligadas a questões emocionais – ansiedade, medo, otimismo, pessimismo etc? Por outro lado, podemos reconhecer que o pesquisador tem o mérito de levantar um ponto importante referido à atenção. Diz ele: “há um paradoxo sobre a atenção: não prestamos muita atenção a ela. O conteúdo da nossa atenção costuma estar voltado para aquilo em que estamos pensando, à tarefa que estamos realizando, aos nossos objetivos, mas nunca à atenção em si. Pode soar estranho, mas não prestamos atenção à atenção” (fonte: Jornal O Globo, 02/02/2014 – oglobo.com.br/boachance). Aqui, então, uma sugestão importante para todos: prestar mais atenção na atenção. Isto e possível e é viável, sinalizando os momentos em que nos distanciamos – emocionalmente – daquilo que deve, profissionalmente, ser o foco de nossa atenção. Este aspecto da dispersão e da falta de atenção levou, recentemente, as empresas da construção civil de Brasília, em parceria com o Sindicato da Construção Civil, a limitarem e restringirem o uso de fones de ouvido e aparelhos celulares no canteiro de obras (http://www.seconci-df.org.br/site/html/jornais/SeconciCartilha_WEB.pdf). No trânsito, o uso de celulares ao dirigir também é proibido. Vamos às razões: ao atender o celular em quanto dirige, o motorista está usando a audição e não a atenção dirigida para guiar o carro. “Dizer que é fácil fazer as duas coisas ao mesmo tempo não é verdade: o cérebro precisa fazer contas, calcular ações e desviar a atenção do controle visual e motor para o auditivo. As reações ficam mais lentas e isso propicia a ocorrência de acidentes. A audição é decodificada em uma área no cérebro e a visão, em outra. Ou seja, ele faz duas coisas quando deveria fazer uma só”, explica o oftalmologista Eduardo de Lucca, que integra o corpo clínico do IMO (Instituto de Moléstias Oculares) (http://www.celulares.etc.br/celulares-e-transito-por-que-e-tao-perigoso-dirigir-e-falar-ao-celular-ao-mesmo-tempo.html). Para os especialistas que se dedicam ao tema, “com o celular no ouvido, o motorista reage de forma mais lenta. Dificilmente olha para o retrovisor, assume uma trajetória errática na via, reduz ou ultrapassa a velocidade compatível com o tráfego. Avança o sinal, tem dificuldade para trocar marchas e simplesmente não vê as placas de sinalização no trânsito. Cada uma dessas situações já poderia desencadear um acidente. Agora imagine o potencial de estrago da combinação delas...”, afirma o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares (http://www.celulares.etc.br/celulares-e-transito-por-que-e-tao-perigoso-dirigir-e-falar-ao-celular-ao-mesmo-tempo.html). Estes exemplos nos mostram a importância da atenção e o perigo que a ausência desta representa, especialmente quando as atividades laborais envolvem algum tipo de risco implícito, seja no uso de máquinas, equipamentos e elementos químicos potencialmente perigosos. (extraído de Palestra sobre Prevenção de Acidentes de Trabalho. Angela Utchitel) Chamamos de ilusões às interpretações falsas da realidade. Ilusões e alucinações são fenômenos diferentes. A alucinação é uma experiência sensorial sem a existência de um objeto. As ilusões perceptivas são relativamente comuns porque tendemos a acreditar mais na nossa experiência anterior do que nas informações fornecidas pelos sentidos. Ainda que a percepção seja marcada por tantas variáveis na sua expressão individual, ela diz respeito a um processo cognitivo que resulta de uma série de princípios universais e praticamente invariáveis. A constância perceptiva, por exemplo, permite que percebamos um objeto com todas as suas propriedades (tamanho, cor, forma etc), independentemente da distância que nos separa dele e da luminosidade que incide sobre ele. Por esta razão, ao olharmos do alto de um edifício para os carros que trafegam na rua, não interpretamos que os carros diminuíram de tamanho, apesar da imagem retiniana que captamos. Do mesmo modo, vemos uma moeda como redonda mesmo quando a vemos lateralmente. A constância perceptiva está intimamente associada à aprendizagem. Um segundo princípio da organização perceptiva é denominado Relação Figura-Fundo. Por causa desta relação, os objetos são apreendidos de modo integrado, e não como uma mera soma de estímulos. Qualquer percepção que tenhamos – visual, auditiva, tátil etc – é organizada por esta relação figura-fundo. Afinal, para que possamos perceber qualquer coisa, é preciso, primeiro, que esta coisa (figura) se destaque de um todo (fundo). No estabelecimento do que será figura para cada um de nós numa percepção, pesam aqueles fatores anteriormente já mencionados: motivos, emoções, interesses e expectativas. Na referência ao treinamento de agentes de segurança, sugere-se que 18 eles sejam orientados a alternar os planos de seu olhar em relação à área a ser vigiada (mais perto / mais longe), precavendo-se do risco de não perceber condutas e movimentos mais distanciados do foco natural de seu olhar. Os aspectos aqui arrolados sobre a percepção permitem entender sua importância no campo da Segurança: . Para os Gestores, a importância reside justamente no fato de poderem compreender a complexidade do processo perceptivo e suas inevitáveis variações individuais. Além disto, permite entender porque percepção e atenção andam juntas, fazendo da última uma aptidão sempre desejável nos agentes. Fontes bibliográficas: DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia.São Paulo, McGraw-Hill, 1983. PISANI, E. M., BISI, G.P., RIZZON, L. A., NICOLETTO, U. Psicologia Geral. Petrópolis, Ed. Vozes, 1990. 2.2: Emoção Não é fácil conceituar a emoção. Não podemos observá-la diretamente. Inferimos sua existência através do comportamento. O termo emoção é usado com referência aos sentimentos e estados afetivosem geral. A maioria dos estudiosos admite a presença de dois aspectos em toda emoção: a) experiência subjetiva ligada às cognições (pensamentos) e sensações (prazer ou desprazer) b) expressividade que se manifesta através de uma série de respostas (verbais, gestuais) que são acompanhadas de reações fisiológicas (batimentos cardíacos, tensão corporal etc). Portanto: Emoções são estados internos caracterizados por cognições, sensações, reações fisiológicas e comportamento expressivo específicos. Tendem a aparecer de forma súbita e ser de controle difícil. A ansiedade e a raiva são alguns estados emocionais básicos e, ao longo de nosso desenvolvimento, geralmente aprendemos a expressar nossas emoções. A expressão equilíbrio emocional ou controle emocional costuma ser usada na referência aos indivíduos que apresentam formas socialmente aceitas de expressão emocional. O desvio acentuado em relação às normas sociais estabelecidas para a expressão das emoções pode ser sinal de desajuste emocional. Três indicadores são usados para identificar as emoções: a) Relatos verbais fala ou escrita a respeito daquilo que é sentido. 19 b) Observação do comportamento observação dos gestos, da postura corporal, expressão facial etc. c) Indicadores fisiológicos dizem respeito à verificação das alterações fisiológicas e orgânicas que ocorrem durante os estados de emoção. Os principais indicadores fisiológicos são: . aumento da condutividade elétrica da pele . alteração na pressão, volume e composição do sangue . mudança no ritmo cardíaco . aumento da exsudação cutânea (sudorese) . mudança na dimensão das pupilas . alteração na secreção das glândulas salivares . tensão e tremor musculares A palavra temperamento é freqüentemente usada para designar as diferenças individuais na expressão das emoções. Em função disto, é freqüente ouvirmos que fulano é ‘frio’ ou que sicrano tem um temperamento ‘esquentado’. Tais expressões tentariam dar conta das diferenças pessoais na expressão das emoções, definindo fulano como alguém pouco emotivo e sicrano como alguém mais intenso e agressivo. Se tentarmos analisar a relação entre emoção e desempenho, veremos que a influência das emoções sobre o desempenho se dá de modo que a excitação emocional, até um determinado grau, melhora o desempenho. Este fato explica porque é comum os treinadores e técnicos esportivos fazerem uma preleção antes do jogo de seu time, preleção esta que inclui, invariavelmente, um certo incentivo à rivalidade para com o time adversário. Este procedimento é comum também em equipes policiais e tem por intuito despertar entre os membros uma certa indignação em relação a ato praticado por uma quadrilha, fugitivo ou acusado. No campo específico da segurança privada, este procedimento se aplica a situações extraordinárias (em que a prevenção dá lugar à investigação) e pode ser aplicado em reuniões de estabelecimento de rotinas, com vistas a sensibilizar os vigilantes para a importância de seu trabalho. É importante ressaltar, no entanto, que além de certo grau, a emoção tende a prejudicar o desempenho, interferindo, principalmente, no funcionamento normal das faculdades mentais e capacidades motoras. No campo da segurança, por exemplo, situações que impliquem em risco, podem afetar a atividade motora, a capacidade de mira, a percepção dos fatos, além da memorização dos acontecimentos e o próprio relato posterior dos acontecimentos. Complemento 2: Um elemento emocional muito presente na nossa vida – na vida de praticamente todos nós – é a ansiedade. A ansiedade corresponde a um mal-estar difuso, aparentemente sem explicação, mas causador de desconforto e, às vezes, de alterações orgânicas: palpitação, sudorese etc. Pois bem, a ansiedade costuma ser gerada por fatores emocionais que, via de regra, não dominamos e não controlamos do ponto de vista da consciência. A ansiedade, quando potencializada e intensa, afeta nosso desempenho, prejudicando-o. Mas, se a ansiedade está presente na vida da grande maioria dos humanos – os níveis de ansiedade é que variam, de mais leves a mais intensos – o medo (outro fator que interfere no nosso comportamento e desempenho) é outra coisa. 20 O medo, diferentemente da ansiedade, é causado por algo real e, ao mesmo tempo que nos protege, fazendo com que tenhamos reações de fuga face ao perigo, também faz com que nos atrapalhemos e interrompamos nosso raciocínio e nosso desempenho. (extraído de Palestra sobre Prevenção de Acidentes de Trabalho. Angela Utchitel) Em situações de interrogatório e acareação, é comum os investigadores atentarem para os sinais capazes de revelar se o interrogado está falando a verdade ou se está mentindo. Vale, nestas ocasiões, observar atentamente a presença de alguns indicadores fisiológicos (gestos repetidos, tiques, sudorese, alterações respiratórias) e se as respostas se coadunam com uma rede coerente de idéias. Vale lembrar, também, que pessoas inocentes, mas muito ansiosas, tendem a se deixar afetar nestas situações, não por estarem mentindo, mas porque estão sob forte tensão emocional. É este mesmo ponto que torna o uso do Polígrafo ou Detector de Mentiras tão discutido. Este aparelho, inventado em 1930 por Leonard Keller, baseia-se no registro de reações fisiológicas autônomas (ritmo de respiração, ritmo cardíaco, pressão sanguínea, temperatura da pele e resposta galvânica da pele) à situações provocadoras de emoções. A estrutura de um interrogatório com o uso do Polígrafo iremos estudar mais tarde. Por ora, vale pensar que há criminosos que não sentem ansiedade e culpa. Por outro lado, como já indicamos, há pessoas ansiosas que podem ter dificuldade em atestar sua inocência apenas a partir dos indicadores fisiológicos. Fontes bibliográficas: DAVIDOFF, L. Introdução à Psicologia.São Paulo, McGraw-Hill, 1983. PISANI, E. M., BISI, G.P., RIZZON, L. A., NICOLETTO, U. Psicologia Geral. Petrópolis, Ed. Vozes, 1990. 2.3: Aprendizagem As reações dos seres humanos ao longo da vida vão sendo continuamente modeladas por processos de aprendizagem. Estes ocorrem sem que haja necessariamente uma tentativa ou intenção deliberada de aprender, isto é, de mudar o comportamento. De um modo geral, a aprendizagem é definida como uma mudança relativamente duradoura no comportamento, induzida pela experiência. Claramente, entendemos que a aprendizagem incide desde muito cedo em nossas vidas: aprendemos a falar, a andar, a subir escadas, a escrever, a ler, a raciocinar etc. Aprendemos, também, a andar de bicicleta e a nadar, e continuamos aprendendo ao longo da vida, em função daquilo que escolhemos como atividade profissional. Assim, enquanto alguns escolhem aprender a desenhar, projetar prédios ou estradas e a calcular forças e densidade dos materiais para construir casas, prédios ou pontes, outros escolhem aprender a manejar instrumentos cirúrgicos, a conhecer em detalhes a anatomia humana, a distinguir nas imagens produzidas por um aparelho de ultrassomou de Raios X aquilo que permite chegar a um diagnóstico. 21 Do mesmo modo, um Gestor de Segurança está inserido num campo de saber que inclui aprendizagem técnica específica; seus subordinados, por sua vez, devem também ser portadores de conhecimentos e habilidades específicas. Ao tratarmos do tema da aprendizagem a seguir, estaremos mapeando as diferentes formas de aprendizagem que a Psicologia já pôde identificar. Veremos, através destas formas, que não aprendemos as coisas sempre da mesma maneira. Dependendo do tipo de atividade a ser aprendida, um tipo de processo de aprendizagem será requisitado. Antes, contudo, de passarmos à caracterização destes diferentes processos de aprendizagem, é importante atentar para o fato de que a aprendizagem não pode ser diretamente observada, tendo em vista que é um processo que ocorre dentro do organismo. Deste modo, o que de fato podemos observar é o Desempenho. Este, sim, pode ser medido e avaliado. Outro ponto importante a ser salientado é que as mudanças de comportamento observadas numa pessoa não podem ser atribuídas exclusivamente à aprendizagem. O cansaço, a motivação, o uso de drogas e as emoções também alteram, por exemplo, o comportamento e, conseqüentemente, o desempenho. Entretanto, em contraste com a aprendizagem, os efeitos da fadiga, das drogas, da motivação e das emoções tendem a ser breves. Processos ou tipos de aprendizagem: a) Condicionamento Clássico: É o tipo de aprendizagem decorrente da associação de um estímulo inicialmente neutro a um tipo de resposta específica do indivíduo. Nos animais domésticos, é muito fácil observar este tipo de aprendizagem: nossos cães e nossos gatos rapidamente associam determinados sons da cozinha ou do saco de ração ao fato de ser o momento em que serão alimentados. Assim, não precisam necessariamente sentir o cheiro do alimento para salivarem. Em nossas atividades da vida prática, este tipo de aprendizagem também é muito comum. Associar a luz vermelha do sinal de trânsito ao movimento de pisar no freio quando estamos dirigindo é efeito da aprendizagem por condicionamento clássico. Na atividade de segurança, todos os hábitos desenvolvidos pelos agentes, em função de sinais ou percepções específicas, assim como a automatização de procedimentos provavelmente surgirão como conseqüências da aprendizagem por condicionamento clássico. b) Condicionamento Operante: Este tipo de aprendizagem ocorre quando uma ação nossa é reforçada por uma situação favorável ou pelo elogio proferido por uma outra pessoa. A aprendizagem, neste caso, diz respeito a uma modificação na freqüência de uma resposta ou ação. Entretanto, da mesma forma que a resposta ou ação pode ter a freqüência aumentada 22 pelo elogio, pode ter a freqüência diminuída se o resultado esperado da ação não for nem tão bom, nem elogiado por terceiros. Por esta razão, no exercício da atividade de liderança junto a supervisores e agentes, cabe aos gestores avaliar periodicamente as ações de seus grupos e subordinados, valorizando as ações bem-sucedidas e chamando a atenção do grupo para as causas das ações mal-sucedidas ou inócuas. c) Aprendizagem por Ensaio-e-Erro: Este tipo de aprendizagem se caracteriza pela eliminação gradual das tentativas que levam ao erro e à manutenção dos comportamentos que tiveram o êxito desejado. O Ensaio-e-Erro, diferentemente do Condicionamento Operante, envolve a intenção do aprendiz desde o início. Este tipo de aprendizagem é o mais comum no desenvolvimento de habilidades motoras. É por Ensaio-e-Erro que aprendemos, por exemplo, a andar de bicicleta. É por Ensaio-e-Erro que nossos agentes aprendem a atirar com alto grau de precisão. d) Aprendizagem por Imitação ou Observação: É um processo de aprendizagem resultante da observação dos atos de uma outra pessoa, escolhida ou destacada como modelo. Observando-se mutuamente as pessoas adquirem um vasto número de comportamentos que incluem uso de vocabulário, estilos de discurso, rotinas físicas, procedimentos, desempenho de papéis etc. Colocar um subordinado novato acompanhando um veterano costuma ser rotina nos órgãos governamentais de segurança pública. Não há porque ser diferente na segurança privada. e) Aprendizagem por Insight: Insight é o termo utilizado para designar uma mudança repentina no desempenho. Popularmente, ‘insight’ significa ‘estalo’. A presença de uma solução por insight não exclui a presença de outras formas de aprendizagem. Entretanto, o Insight surge como a resposta certa para a resolução de uma situação complexa e pode contar com os seguintes elementos facilitadores: dispor, previamente, de todos os elementos componentes da solução; presença de uma motivação razoavelmente forte para resolver o problema; nível de inteligência favorecido. Pode-se pensar que a solução de uma investigação, muitas vezes, resulta de um processo de Insight, na medida em que esta solução, frequentemente, implica, simplesmente, em poder juntar, corretamente, todas as peças disponíveis. f) Aprendizagem por Raciocínio: O raciocínio é considerado um processo análogo ao Ensaio-e-Erro, mas de natureza mental. O processo de raciocínio inicia-se a partir de uma motivação relacionada à necessidade de resolver um problema. Segue-se uma análise para determinar em que consiste a dificuldade e formulam-se hipóteses, ou seja, sugestões de soluções ou possibilidades de soluções. À hipótese mais adequada será aplicado um procedimento para solucionar o problema. Pode-se pensar que a atividade de Gestão de Segurança inclui o raciocínio, especialmente quando cabe ao Gestor – junto a seus pares, ou com seus 23 subordinados – trabalhar com logística e/ou definir novas estratégias de ação ou novos procedimentos em função de dificuldades, sinistros ou impasses. Cabe, ainda, ressaltar que estudos experimentais sobre o tema sugerem que: - a memorização de informações não atrapalha a capacidade de raciocinar, sendo mesmo um requisito importante para a habilidade de raciocinar; - experiências anteriores bem sucedidas a partir de um raciocínio aplicado a um problema torna mais provável o uso do raciocínio em novas situações; - a rigidez de pensamento é um fator que dificulta o raciocínio, ao passo que a flexibilidade facilita o raciocínio. Complemento 3: (Notas sobre Flexibilidade) - Flexibilidade - O ritmo e a competitividade do mercado de trabalho, obriga a estarmos permanentemente preparados para a mudança. Saber decidir com rapidez, estar aberto a novas ideias e modos de trabalho, ter facilidade em assumir funções fora das suas tarefas habituais, cada vez mais imprescindíveis (Job Rotation). http://www.psicologia.pt/profissional/emprego/ver_artigo.php?id=114&grupo=1 - Todos temos tendência natural para fazer as coisas da forma que nos são mais fáceis ou familiares, e isto não tem problema nenhum. No entanto, para determinadas situações ou cenários pode ser redutor e apresentar-se como um obstáculo à realização de alguns objetivos ou tarefas.http://www.escolapsicologia.com/como-melhorar-a-sua-flexibilidade-de-pensamento/ - A flexibilidade é uma competência emocional que compõe 2/3 das competências necessárias para conseguirmos êxito em nossas vidas. Liderança, desafio e flexibilidade estão intrinsicamente ligados. A revista Você S/A, na sua edição 165 de março de 2012, aponta as competências que as empresas mais buscam nos candidatos. A flexibilidade é a mais requisitada seguida da boa comunicação, liderança, alta energia e pensamento estratégico. Esta capacidade de adaptação se torna fundamental no atual cenário de negócios, onde as empresas percebem a necessidade de adequação frente às constantes mutações. Passa a ser uma competência imprescindível na composição das equipes profissionais. Quando Raul Seixas compôs: “Prefiro ser essa Metamorfose Ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” retratou bem a importância que a flexibilidade exerce sobre o desenvolvimento humano. Flexibilidade é uma palavra que vem do latim tardio “flexibilitare” e significa, em seu sentido mais amplo, capacidade de adaptação, seja a situações voláteis ou na superação de obstáculos. Os líderes adaptáveis são capazes de lidar com várias demandas simultaneamente sem perder seu foco ou energia, e sentem-se à vontade com as ambiguidades inevitáveis da vida organizacional. Podem ser flexíveis na adaptação aos novos desafios, ágeis na adequação à mudança contínua e maleáveis em suas ideias diante de novas informações ou realidades. Esses indivíduos são abertos a reflexões sobre novas ideias, sendo também favoráveis a alterações que propiciem melhorias. Não descartam ajustes estratégicos ou novos rumos, desde que passem pelo crivo coerente da análise apoiada na flexibilidade. Afinal, ser flexível não é desfazer-se dos questionamentos ou avaliações muitas vezes indispensáveis na tomada de decisões que implicam no cumprimento das atividades. Cada vez mais esses profissionais são procurados pelas empresas, pois se tratam de indivíduos que realmente agregam valor, devido a sua postura receptiva a mudanças. São esses os indivíduos capazes de rever posições, conceitos, planejamentos, estratégias e atitudes. http://www.progresso.com.br/opiniao/flexibilidade-uma-competencia-emocional UNIDADE III ESTRUTURA E DINÂMICA DA PERSONALIDADE Introdução Muito provavelmente, todos vocês já ouviram um pai orgulhoso dizer que seu filho tem ‘muita personalidade’. Certamente também já ouviram de alguém, geralmente ressentido com outra pessoa, dizer sobre esta que ela ‘não tem personalidade. O que estas pessoas 24 estão querendo dizer? Pode ser que o pai esteja dizendo que seu filho exerce uma influência marcante sobre os amigos, e que a outra pessoa, quem sabe, está querendo afirmar que seu conhecido não sustenta suas opiniões em todas as situações. O que parece claro, nestes exemplos, é que a palavra personalidade está sendo usada de modo informal, estando referida a um atributo ou característica da pessoa. Assim, o termo personalidade, em seu sentido comum e não científico, estaria ligado à impressão que cada um causa nos outros. E os psicólogos, o que entendem por personalidade? Entendem o termo de maneira múltipla, variando as perspectivas em função daquilo que é privilegiado como estando no centro da questão. Assim, para a Psicologia, a Personalidade pode estar referida: 1- Aos vários traços e características do indivíduo, tanto inatos quanto adquiridos, referindo-se o termo personalidade a tudo que somos. 2- Aos hábitos e características adquiridos como resultado de interações sociais que promovem o ajustamento do indivíduo ao meio social. Neste caso, não só a personalidade se manifestaria em situações sociais, como seria impensável falar de personalidade sem considerar os contextos sociais. 3- Àquilo que organiza, integra e harmoniza todas as formas de comportamento de um indivíduo, determinando-lhes um certo grau de coerência. A personalidade ganha, aqui, a dimensão de um conceito dinâmico, sendo a personalidade de um indivíduo sempre capaz de receber novas influências e adaptar-se a novas circunstâncias. 4- À realidade individual, que marca e distingue um ser do outro. A personalidade é aqui concebida a partir do conjunto de todos os aspectos próprios do indivíduo, pelos quais ele se distingue dos outros. A partir de todas estas concepções, pode-se dizer que a Psicologia entende por Personalidade o conjunto total de características próprias a cada indivíduo, características que, integradas, estabelecem a forma pela qual ele reage costumeiramente ao meio. Em outras palavras, a personalidade está referida a padrões relativamente constantes e duradouros que permitem a um indivíduo, perceber, pensar, sentir e comportar-se e que parecem dar às pessoas identidades separadas. O conceito de personalidade é um dos mais amplos em Psicologia, abrangendo praticamente todos os tópicos estudados por esta ciência. 3.1: A formação da personalidade A configuração da personalidade de um indivíduo desenvolve-se a partir de fatores genéticos e ambientais. Os fatores genéticos estão referidos à carga de gens que respondem pela estrutura orgânica e pelos processos maturacionais. Estes últimos marcam o crescimento físico e o desenvolvimento fisiológico em diferentes momentos da vida, gerando progresso e involução em relação a alguns aspectos. Assim, da carga genética depende a eclosão, 25 por exemplo, de caracteres sexuais no corpo, bem como a determinação da cor da pele, dos cabelos e mesmo da altura. A hereditariedade não se constitui em causa direta do comportamento e sua influência se dá de forma indireta, através das estruturas orgânicas pelas quais respondemos aos estímulos. Os fatores ambientais incluem tanto o meio físico como o social. Além das condições físicas e ambientais que exercem influência sobre o desenvolvimento da personalidade, cabe salientar que a forma pela qual uma criança é esperada – aquilo que se diz sobre ela e o lugar que lhe é reservado no contexto familiar – é determinante na formação de sua personalidade. Deste modo, porque ‘somos falados’, antes mesmo de nascermos e de aprendermos a falar, nossa personalidade é muito mais determinada pela linguagem do que por aquilo que nos marca em termos orgânicos. Muitos psicólogos são unânimes em considerar que as primeiras experiências na vida de uma pessoa são as mais importantes na formação da personalidade. Freud e a maioria dos estudiosos nos informam como a estrutura da personalidade é fixada nos primeiros cinco anos de vida. Neste período, deslizamos não só de uma fase de indiferenciação dos objetos do mundo para uma outra fase, em que os objetos da realidade passam a fazer parte de nossa realidade psíquica. Neste período, dependemos integralmente do outro que cuida de nós, mas, só aos poucos, vamos começando a distinguir este outro como alguém de quem dependemos para viver. A identificação deste
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