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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE NEGÓCIOS Disciplina de FILOSOFIA E ÉTICA GERAL Prof.: Norman Roland Madarasz A Justiça, a Ética e a Moral em Thomas Hobbes Daniela Tramontina 2018/2 2 A Justiça, a Ética e a Moral em Thomas Hobbes RESUMO O presente artigo visa proporcionar uma reflexão sobre a visão de justiça ética, e moral tendo como um de seus principais expoentes o filósofo Thomas Hobbes, que procurou meios para organizar as diversas formas, as vontades e razões humanas, dedica um importante espaço ao universo jurídico. Em sua doutrina as leis são responsáveis pelo convívio harmônico e pacífico entre os homens e o conceito de justiça é exposto de forma a garantir a legitimidade do poder jurídico. Palavras-chaves: Justiça, ética, Thomas Hobbes. ABSTRACT This article aims to provide a reflection on the turnaround positivist concept of justice, ethic and moral, having as one of its main exponents the philosopher Thomas Hobbes, who sought ways to organize the various forms, wants and human reasons, devotes an important space to the legal universe. In its doctrine the laws are responsible for harmonious and peaceful coexistence between men and the concept of justice is exposed in order to guarantee the legitimacy of the legal power. Keywords: Justice, ethic, Thomas Hobbes. 1 - INTRODUÇÃO Primeiro filósofo moderno a articular uma teoria detalhada do contrato social, com sua obra Leviatã, escrita em 1651, Thomas Hobbes foi um filósofo inglês do século XVII. Hobbes, a princípio era um jusnaturalista, mas que se utilizava do direito positivo também em sua teoria. 3 “Hobbes é um jusnaturalista, ao partir, e um positivista ao chegar” (Bobbio, Locke e o direito natural, 1997, p. 41). Para ele, os indivíduos realizavam um contrato social, cedendo e transferindo seus direitos naturais para um poder estatal, conhecido como o grande Leviatã. E este deveria garantir-lhes ordem e segurança, protegendo-os do próprio homem, que era naturalmente egoísta e competitivo. Considerado um dos percursores do direito positivo, o Estado define leis para manter a ordem e aí está a justiça, no fato deste poder ser representativo da vontade natural dos homens. O próprio conceito de justo e injusto não existiam antes do pacto social, pois estes conceitos deveriam necessariamente estarem mensurados, segundo um padrão de ordem, o Leviatã. Lima Vaz defende que a ética tem lugar no projeto de Hobbes, “mas será um lugar circunscrito pelas premissas explicativas da natureza do corpo político” (Vaz, Escritos de Filosofia IV, 2002, p. 296). O conceito de justiça em geral, talvez seja o ponto decisivo para uma aproximação adequada entre a política e o direito. Hobbes deixou traçada as bases do positivismo, mas em nenhum momento deixou de lado o jusnaturalismo. Entendia que a legitimidade do soberano está na consciência de que sem ele o mundo seria pior e arriscado, daí a obrigação categórica de obediência ao Leviatã. 2 – O ESTADO DE NATUREZA Ao fazer a decomposição do Estado para sua análise, estuda-se seu elemento, que é o homem. Hobbes estuda o homem no seu estado natural, sem interferência de nenhuma autoridade. Ele imagina os homens convivendo sem Estado. 4 Hobbes analisa a natureza humana dentro da sua teoria hipotética sobre o prisma realista. Ele não estuda a essência dos homens, mas sim, as condições objetivas dos homens no seu estado natural. A convivência dos homens sem um Estado que os tutele, acarreta uma igualdade aproximada que leva à "guerra de todos contra todos". Neste estado de natureza todos os homens têm direito a todas as coisas. E, sabendo que os bens são escassos, quando duas pessoas desejarem um só objeto indivisível, estas são livres para lutar com todas as armas para satisfazer seu desejo. A igualdade dos homens no estado de natureza da teoria de Hobbes é a igualdade no medo, pois a vida de todos fica ameaçada. Esta igualdade é na capacidade de um destruir o outro. Nem o mais forte está seguro, pois o mais fraco é livre para usar de todos os artifícios para garantir seus desejos e sua vida. "Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de cada um, da ‘morte violenta’. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte." (Lara, O NOME DO PAÍS, e outras histórias, 2012, p 49) A "guerra de todos contra todos" pode ser melhor entendida, também, com as palavras do próprio autor, que no livro "Leviatã" escreve: "Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção. Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das 5 mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta." (Hobbes, 1988, p 76) Em sua teoria hipotética, Hobbes não tem uma concepção pessimista do homem, e sim, uma visão realista. No estado natural onde os homens encontravam-se numa total insegurança era impossível haver moralidade, os homens teriam que estar sempre preparados para a guerra, sob pena de comprometer seu bem mais precioso, a vida. Contudo, quando o homem passa a viver numa sociedade, com uma autoridade para lhe reger, as tensões se acabam e, em consequência, os homens vivem relativamente bem, pois a desconfiança que existia entre os homens em seu estado de natureza era racional. 3 - O ESTADO CIVIL Hobbes é defensor do absolutismo, e sua justificativa para essa forma de governo é estritamente racional, livre de qualquer tipo de religiosidade e sentimentalismo. Ele criou uma teoria que fundamenta a necessidade de um Estado Soberano como forma de manter a paz civil em meio ao caos da ausência da autoridade, período esse denominado pelo mesmo como estado natural. “Não há alternativa: ou o poder é absoluto, ou continuamos na condição de guerra.” (WEFFORT, Francisco. Os Clássicos da política, vol. 1, 2006, p 63) Hobbes alega que o ser humano é egoísta por natureza, e com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos contra todos. Havendo assim a 6 necessidade de um contrato social que estabeleça a paz, construindo assim uma teoria contratualista de Estado. Os seres humanos e sua natureza egoísta necessitam de um soberano que regule suas ações punindo aqueles que desobedecerem ao contrato social. “A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade” (Leviatã, cap. XVII, p 61) 4 - CONSIDERAÇÕES FINAISO ponto de partida da filosofia moral de Hobbes é a física: a explicação do comportamento humano natural resulta da aplicação – no homem – da teoria mecânica do movimento, que é inercial e anti-teleológica. Com isso, Hobbes pode concluir que o homem tende naturalmente a persistir em movimento, isto é, a procurar os meios que lhe permitem continuar vivo. As circunstâncias em que ele se encontra conjugam-se com a sua tendência ou inclinação natural à autopreservação, daí resultam as suas paixões, enquanto reações mecânicas a tais circunstâncias. Este também é o posicionamento da filósofa Inês M. Pousadela : “Trata-se do suposto de que todos os motivos e impulsos humanos decorrem da atração ou repulsão causadas por determinados estímulos externos. Toda conduta deriva do princípio da autoconservação". (POUSADELA, Inês M.. O Contratualismo Hobbesiano, 2006, p 359). 7 No entanto, hoje vivemos no mundo que Hobbes imaginava: “um mundo onde a autoridade humana é algo que requer justificação, e é aceito automaticamente por poucos, um mundo onde a desigualdade social e política também parece questionável, e um mundo onde a autoridade religiosa enfrenta disputa significativo. Ética é a parte da filosofia dedicada aos estudos dos valores morais e princípios ideais do comportamento humano. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas. Diferencia-se da moral, pois, enquanto esta se fundamenta na obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações morais exclusivamente pela razão. “Desde suas origens, a ética foi gestada como um saber que se propõe oferecer orientações para a ação, de modo que procedamos racionalmente, isto é, que tomemos decisões justas e boas. E recebe o nome de “ética” justamente porque tomar tais decisões exige o cultivo das predisposições para toma-las até que se transformem em hábito, ou mesmo em costume.” (CORTINA, Adela. As Três idades da Ética Empresarial, p 20). A Ética de Hobbes é independente de qualquer sentido religioso. Sua Ética exclui a noção de uma alma pura, e o dever não é uma obrigação a ser seguida em virtude de um ente superior. A Ética e a Moral de Hobbes Fez com que ele defendesse ideias como a do homem que, por viver num Estado de Natureza onde todos estariam 8 preocupados com os seus próprios interesses, seria necessária a existência de um governante forte para apaziguar os conflitos humanos. Nesse sentido, concluímos que a justiça para Hobbes, elemento essencial tomado para a análise de sua filosofia, é a obediência à lei de autoria do soberano como se fosse da própria autoria do súdito. Isso significa que todo o ato que o soberano vir a realizar, sob a condição de soberano é legítimo e justo. Ainda que tomada de forma anacrônica, tal situação é a de um estado de direito, no sentido de ser um Estado dependente das leis para sobreviver e determinar as regras do que é justo – regras de dever ser – e para aplicar as penalidades previamente estabelecidas àqueles que as desrespeitarem. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito: panorama histórico – tópicos conceituais. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. BOBBIO, Norberto. Locke e o direito natural. 2ª ed. Brasília: Editora UnB, 1997. CORTINA, Adela. As Três idades da Ética Empresarial, p 20 (Artigo disponibilizado pelo professor no moodle: https://moodle.pucrs.br/). FERRER, Walkiria Martinez Heinrich, Thomas Hobbe e a Natureza Humana, 2016. Disponível em: http://www.giromarilia.com.br/colunas/unimar- em-acao/thomas-hobbes-e-a-natureza-humana/6336. HOBBES, Thomas. Leviatã. Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. (Artigo disponibilizado pelo professor no moodle: https://moodle.pucrs.br/). LARA, Wlad, O NOME DO PAÍS, e outras histórias. Contos e Poesias, tudo o que produzi de bom e ruim até agora. Rio de Janeiro: Clube de Autores, 2012. FERREIRA, Walace. Justiça e Direito em Platão, Aristóteles e Hobbes. Convergências e divergências de teoria política. Teresina, ano 17, n. 3425, 2012. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/23037. LIMA VAZ, Henrique C. Escritos de Filosofia IV - Introdução à Ética Filosófica. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2002. POUSADELA, Inês M. O contratualismo hobbesiano. in Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx. BORON, Atilio A. CLACSO - Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, USP. 2006. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/secret/filopolmpt/16_pousadela.p df SECCO, Márcio, A ética como ciência em Thomas Hobbes, 2015. Disponível em:https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/135791/3356 60.pdf?sequence=1&isAllowed=y. WEFFORT, Francisco. Os Clássicos da política, vol. 1. Ática: 2006
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