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Perry Anderson absolutismo Marx transição Pirrene transição Dobb transição Sweezy transição Max Weber religião A IDADE MÉDIA Como se formou o feudalismo? A gênese do feudalismo vêm de um colapso catastrófico e convergente de dois modos de produção: escravista e germânico. Por conta disso, o feudalismo conserva um caráter híbrido (união de dois modos de produção diferentes). O historiador Perry Anderson é marxista ( segue o materialismo histórico) e tem como foco de estudo a sociedade feudal do séc IX-XIII. Ele analisa os modos de produção: as relações de produção (trabalhador, servo, senhor) e os fatores de produção (técnicas de produção e como se da a divisão do trabalho). O feudalismo se originou a partir da antiguidade clássica e do primitivismo germânico. A Antiguidade Clássica tinha como característica um modo de produção escravista, um universo de cidades que era sustentado pelos pela produção agrícola e baixa divisão do trabalho/baixa produtividade. Sua crise se deu pela queda no número de escravos acoplada a estagnação econômica, que impediu o contínuo crescimento da cidade. O Primitivismo germânico tinha um modo de produção comunitário e, assim como os romanos, possuíam guerras, comércio e estratificação social. A partir desses dois sistemas surge o feudalismo. Suas principais características são uma estrutura produtiva com papel central do campo, sendo a renda vinda da terra. Haviam latifúndios, que nem na antiguidade e enclaves comunais, como no primitivismo germanico. O modo de produção era a servidão (pouca mobilidade jurídica) e havia extração do excedente pela classe dominante por meio coercitivo. Além disso, a organização política era por meio da suserania e vassalagem. Os feudos, por sua vez, eram uma estrutura econômica que possuía uma conotação jurídico-política, em que o servo não é livre (tem obrigações servis), mas detem os meios de produção. A CONSTITUIÇÃO DA ECONOMIA MUNDO (Wallerstein) Para Wallerstein o marco teórico da formação da economia mundo foi o fim do sistema feudal. Ele analisa o sistema mundial de uma perspectiva nacional). Na economia mundo há uma unidade econômica, ou seja, o desenvolvimento econômico integrado do mundo que faz essa união - e não do Estado. As origens e condições do sistema mundial (1450-1640) foram: as Grandes Navegações por terem propiciado uma expansão do território econômico (necessidade) e por terem consolidado os Estados Nacionais (noção de Estado), a superação da crise do feudalismo e o fato da europa não ser o único projeto de economia mundo, havendo também na China, Rússia e nas cidades italianas. No século XIV se deu o limite do modelo com um ciclo decrescente da sociedade feudal por conta da Peste Negra, que gerou fome e necessidade de novas áreas produtivas. A necessidade por novas áreas produtivas fez com que houvesse um maior controle da produção (Mercantilismo) e a exploração de novos territórios (expansão geográfica). O sistema mundial europeu formou uma periferia com bens de baixa categoria e mão de obra mal remunerada (Divisão Internacional do Trabalho), que serviriam a necessidades externas e uma arena exterior, formada por outros sistemas mundiais para o intercâmbio de bens de luxo. ○ ex: Leste europeu x Rússia trigo → ocidente centralização política nobreza poderosamercado interno sofisticado exportador comércio de manufaturas e bens de luxo MERCANTILISMO (Eli Hecksher) O mercantilismo criou-se para fortalecer o Estado, servindo-se das forças produtivas. O poder do Estado tinha o objetivo de legitimar a prática econômica mercantilista para o acúmulo de metais preciosos. Para Eli Hecksher, o mercantilismo foi um sistema de poder unificador com práticas intervencionistas. A política econômica mercantilista teve diferentes momentos de início em cada Estado, mas todos tiveram fim no absolutismo (que foi um intermediário entre a sociedade feudal e liberal). O conceito mercantilista pode ser definido como o conjunto de fenômenos econômicos para consolidação dos Estados cujo objeto é o próprio Estado, em que medidas econômicas tem como fim a consolidação do Estado. A mudança com relação ao sistema feudal foi um sistema unificador que superou o particularismo feudal tornando o Estado um campo econômico homogêneo e criando um mercado nacional. O poder de um Estado se mede frente ao poder de outros Estados. O mercantilismo extrapola limites econômicos que serão corrigidos no absolutismo com o protecionismo, a balança de comércio favorável (monopólio colonial) e com o metalismo (Pacto Colonial). Para Dobb os principais aspectos do mercantilismo foram: 1) O Pacto Colonial (PT e ES) 2) O Colbertismo-Industrialismo (FR) 3) A Inglaterra → 1640: Atos de Navegação → criação de companhias marítimas para exploração de outros territórios para colonização O parlamento representou a ascensão da burguesia, que depende do Mercantilismo para caminhar na transição de poder. O Mercantilismo, portanto, não era o poder do Estado, mas o poder de determinado grupo. O sistema mercantilista por si só não diz nada, mas representa a ascensão do grupo (burguesia) que estava realizando a acumulação primitiva de capital (bancos e dívidas públicas, estrutura agrária) através do comércio internacional e do desenvolvimento do mercado interno. O ESTADO ABSOLUTISTA: FORMAÇÃO E SENTIDO (Perry Anderson) Perry Anderson busca entender o porquê da formação e manutenção do Estado Absolutista. O autor realiza esse estudo à luz do materialismo histórico para compreender a dinâmica de classes e evitar perspectivas típicas dos historiadores (que são muito específicos e perdem a noção do geral) e dos filósofos (perspectivas muito generalistas demais). Para essa análise, ele olha 2 modelos de absolutismo: da Europa Ocidental (mão de obra menos servil, crises mais violentas e áreas mais populosas) e da Europa Oriental (caminha para segunda servidão fortalecendo estruturas feudais). O ponto de partida para o início dos Estados Absolutistas na Europa Ocidental foi a crise do Feudalismo, no século XIV (limite do modo de produção feudal) e a centralização de poder (crise no sistema de vassalagem). Seguem os autores que analisam qual o significado do Estado Absolutista: 1) Para Engels representa um equilíbrio de poder entre nobreza e burguesia, mas centralizado no rei, em que houve uma expansão do poder político e econômico. 2) Para Marx e Poulantzas, o absolutismo surgiu a partir de instituições burguesas (controle do clero, burocracias, política). Além disso, há um Estado mais centralizado (racional) e eliminação gradual de elementos do feudalismo (como odesaparecimento gradual da servidão, o processo de cercamentos). 3) Para Perry Anderson houve alteração na relação de servidão, mas não sua superação. A propriedade ainda era aristocrática: há ausência de mercado livre de terras (servo ainda é dependente do senhor) e de mobilidade do trabalho. Pode-se concluir então, que, para Perry Anderson o Estado ainda é feudal, mas com um novo aparelho de dominação (muda apenas a estética). A principal mudança do Feudalismo para o Absolutismo foi um processo de acumulação política (ampliação do poder no absolutismo para sustentar a estrutura feudal). As principais mudanças de um sistema para outro foram: (1) a mudança no caráter da servidão (antes os servos davam produtos agropecuários que eram resultado de seu trabalho para o senhor feudal, agora passam a dar dinheiro), (2) o desaparecimento gradual da servidão (busca por maiores ganhos econômicos), (3) centralização da burguesia nascente nas cidades (ampliação das atividades econômicas) e (4) a centralização do Estado. Conclui-se, portanto, que o absolutismo realizou uma ordem feudal através do exército (tropas mercenárias), do sistema fiscal burocrático (nobreza assume cargos), da burguesia compra cargos, dos camponeses que passaram a pagam impostos, do Mercantilismo, que servia como política econômica em função do enriquecimento do Estado e da diplomacia (mas que servia à dinastia, não à nação). Houve nesse período economicamente: uma expansão do comércio e do mercado interno e uma ascensão da burguesia. Politicamente voltou-se a usar um sistema político-jurídico romano. * Estado Absolutista é o estado feudal ampliado e reorganizado, sobredeterminado pela expansão do capitalismo ACUMULAÇÃO PRIMITIVA DE CAPITAL (Marx) Para Marx, a subordinação da produção ao capital é o divisor crucial entre o antigo modo de produção e o novo. A acumulação primitiva se deu por meio especulativo, extraeconômico ( que ainda não é o modo clássico capitalista), com a expropriação dos meios de produção dos trabalhadores, a ascensão da burguesia (realizava hipotecas feudais que aumentavam a dívida pública) e com a colonização. Como resultado da acumulação primitiva houve o surgimento de uma nova classe de trabalhadores que eram livres e assalariados, a criação do conceito de propriedade privada e o desenvolvimento das forças produtivas. Ainda segundo Marx, a acumulação primitiva é o pecado original, pois fez com que a produção deixasse de ser apenas para a sobrevivência, fazendo com que houvesse uma decadência dos grupos ligados a esse antigo modo de produção e, finalmente, levando a concretização da mudança técnica com a Revolução Industrial. A crise na sociedade feudal da Inglaterra (séc XV-XVI) se deu com a ampliação dos conflitos, com a substituição das obrigações por rendas monetárias e com os cercamentos. Os cercamentos ocorreram em 2 fases: na 1ª fase (séc XV) houve a substituição dos servos pela maior demanda de pastagens (pela crescente indústria têxtil), com a expropriação dos servos e das terras da igreja (Reforma Anglicana) e na 2ª fase (séc XVI) com os cercamentos parlamentares (regulamentação da terra com a ideia de propriedade privada). Esse processo de cercamentos, incentivado por uma legislação sanguinária (como dizia Marx por colocar o trabalhador nessa situação, sem que ele escolha fazer parte dela), criou uma tendência de concentração de terras, de exploração das terras dos servos e, principalmente, criou uma massa de novos trabalhadores assalariados (camponeses livres). Há ainda uma ascensão da burguesia, que teve o Estado como impulso para a formação da mão de obra e para a diminuição do salário pela maior oferta de trabalhadores. Essa burguesia lucra em cima do Estado através das hipotecas feudais, em que os senhores feudais, sem perceber o aumento da inflação gerado pelo Renascimento, passavam a dever cada vez mais para esses burgueses, além da transferência de renda através dos juros. O Mercantilismo foi uma política econômica do Estado que favoreceu o Estado como um todo e também essa burguesia comercial/produtiva. A TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO (por Pirenne) Para Pirenne, a transição do feudalismo para o capitalismo se deu por meio de elementos exógenos, estranhos a típica estrutura feudal. A cidade representa liberdade (oportunidade) e a valorização do indivíduo para o autor, em que quanto mais imersos na vida urbana, maior é a noção de liberdade (em oposição ao campo, que tem poucas oportunidades), sendo a concepção de vida dos camponeses mudada quando se tem a possibilidade da cidade. O ponto de partida do historiador é a instabilidade econômica e social da idade média que excluiu o comércio enquanto durou, a partir do fechamento do grande comércio com o mediterrâneo e da formação uma sociedade de caráter agrícola. A recuperação do comércio se deu com o seu renascimento (séc X-XII), quando conseguiu-se ter controle desse cenário de instabilidade. Houve um período de restauração da paz e reconstrução de dinastias mais centralizadas, fazendo com que houvesse um aumento da população, aumento da produção, novas fronteiras e reconquistas de territórios através das cruzadas. As principais cidades que serviriam de base para a tese de Pirenne foram: Veneza (região tradicional de defesa das invasões), Lombardia (grande produção de manufaturas) e Norte da Europa (Flandres, que foi centro do comércio europeu para indústria têxtil). As consequências dessa maior estabilidade da Europa e crescimento do comércio foram as quebras das estruturas feudais gradualmente (com, por exemplo, as rotas comerciais que libertaram a Europa do “imobilismo”), os excedentes do campo passam a ser usados de subsistência para a cidade (possibilidade de um novo padrão de consumo) e as cidades passam a ser fonte de renda para os senhores e para os servos. O comércio desenvolve o homem livre a partir da mudança profunda na hora deste encarar a economia, com uma nova noção de riqueza (cada vez mais mercantil). Portanto, para Pirenne, o foco da análise são os elementos de fora do sistema (variáveis exógenas ao sistema feudal) que aumentam a renda dos senhores, criam uma burguesia urbana e dão uma noção de formação do capitalismo como uma lógica de busca pela riqueza. A CRISE NO MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL (Dobb) Não é possível negar a existência do capitalismo nesse momento, segundo Dobb. As possíveis interpretações do capitalismo são dadas pela: 1) Escola austríaca: ● O capitalismo é relacionado ao método de produção, ou seja, como se organiza a produção (qual é o papel da indústria e em que ambiente está inserida). Para eles, o capitalismo depende do ambiente favorável a existência do indivíduo e da empresa capitalista(ambiente liberal). ● Para Dobb a Escola Austríaca é que existe capitalismo com intervenção do Estado, ou seja, o capitalismo não se resume a um Estado Liberal (por exemplo, o fascismo e o New Deal tiveram intervenção do Estado e, mesmo assim, estão inseridos no capitalismo). 2) Concepção sociológica do capitalismo: ● Segundo W. Sombart (1925), a identidade do capitalismo reside no espírito burguês (que é o conjunto de ações econômicas racionais e a busca racional por lucro). Max Weber (1904) também segue essa corrente defendendo o espírito do capitalismo. ● Para Dobb, o “espírito capitalista” poderia estar presente em outros períodos que não apenas esse, ou seja, não é o suficiente para caracterizar o capitalismo. 3) Concepção mercantil (histórica) ● Segundo, Pirenne o capitalismo é caracterizado pela expansão do comércio e da produção voltada para o mercado a partir do renascimento comercial. ● Para Dobb, essa explicação não poderia estar correta pois houve períodos com amplo desenvolvimento do comércio (como a antiguidade) que contavam com escravidão e não eram caracterizados como capitalismo. 4) Concepção dos modos de produção - Dobb concorda ● Para Marx o capitalismo é caracterizado pelas relações de produção, em que o trabalhador é livre mas não detém os meios de produção, podendo vender o seu trabalho e tornando, dessa maneira, o seu trabalho um objeto comercial (trabalho torna-se mercadoria que é vendida por um certo capital) ● Para Dobb, Marx está correto sobre a definição de capitalismo, em que, para haver essa separação dos meios de produção e do trabalhador, é preciso ter consciência de propriedade privada e da concentração da propriedade. O capitalismo é caracterizado, principalmente, pela maior divisão do trabalho e pelo aumento de novas técnicas, tendo o objetivo de acumulação de capital (mais-valia). A TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO (por Dobb) Para Dobb, a definição de feudalismo era de uma economia natural (versus a economia de troca que seria a capitalista). Os modos de produção feudal era a servidão, caracterizada pelo controle dos meios de produção, pela falta de liberdade do servo, pela baixa divisão do trabalho e pelo baixo nível técnico. A dissolução do Feudalismo para Pirenne se deu por conta do renascimento comercial e do aumento da circulação monetária, com o crescimento das cidades. Os serviços passam a ser intermediados pela moeda e aumentam-se os arrendamentos. A principal crítica de Dobb a Pirenne é o fato da Europa Oriental ter passado pelo desenvolvimento do comércio, mas isso só ter aumentado as relações de servidão na região, caindo para a segunda Servidão. Para Dobb, a transição do feudalismo para o capitalismo se deu por mecanismo endógenos ao sistema feudal (luta de classes). As evidências para o seu argumento foram o aumento da pressão sobre os servos, pelo fato dos senhores feudais desejarem mais renda (ou seja, mais trabalho dos servos para aumentar sua arrecadação). O aumento da exploração pelos senhores feudais se deu pelo aumento do desejo por bens de luxo, pelo aumento da classe parasitária (nobreza), pela subfeudação (menos terras para os camponeses pois precisava de mais terras para a nobreza) e dos gastos militares decorrentes do maior número de guerras. As consequências dessa maior exploração foram a fuga dos servos para as cidades e o aumento das revoltas e das repressões nos feudos. Se para Pirenne, o ator da transformação foram os burgueses, para Dobb foram os camponeses (servos) que desenvolveram as estruturas feudais capazes de realizar a transformação revolucionária. No séc XIV houve a crise da estrutura feudal e o período de transição rumo ao capitalismo, comandada pelos camponeses. A crise foi maior na Europa Ocidental, que mudou suas relações monetárias, enquanto na Europa Oriental houve a segunda servidão. O processo de mudança para o capitalismo contou com o desaparecimento das obrigações feudais, o surgimento do trabalho assalariado e dos arrendamentos de terra, sendo a conclusão do processo marcada pela Revolução Inglesa (em que a servidão foi, finalmente, abolida e transformada no trabalho assalariado) O DEBATE DA TRANSIÇÃO (Dobb x Sweezy) A partir da perspectiva de Dobb, Sweezy elaborou sua tese. Dobb era economista marxista inglês que caracterizava o feudalismo como servidão, com baixo nível técnico e trabalho individual, onde a produção buscava atender necessidades imediatas e havia descentralização política (poder jurídico concentrado no senhor) Paul Sweezy, também marxista mas americano, afirmava que se o feudalismo é estático, as mudanças são externas e, além disso, para o autor a servidão não abrange todo o feudalismo como afirma Dobb, é preciso analisar todo o sistema de produção (dinâmica comercial). a) MUDANÇA NO MODO DE PRODUÇÃO Para Dobb o aumento da necessidade de rendas por parte dos senhores feudais foi o fator interno que fez com que houvesse pressão sobre os trabalhadores, fazendo com que surgissem os efeitos da mudança no modo de produção. Esse aumento da necessidade de rendas veio por conta do aumento de guerras, do aumento da classe parasitária e do aumento de bens de luxo. Sweezy critica esses pontos afirmando que as guerras foram comuns durante todo o feudalismo, que a classe parasitária aumentou tanto quanto os camponeses e que a explicação para o aumento do comércio de luxo é o comércio exógeno. b) FIM DOS FEUDOS Os motivos dados por Dobb para o fim dos feudos, foram o aumento da classe parasitária que fez uma maior exploração sobre os servos e que, devido a essa maior exploração, os camponeses tiveram uma queda nos seus próprios consumos levando a fugas, revoltas e abandono de obrigações, transformando, dessa forma, as relações de produção. Sweezy retoma Pirenne afirmando que o feudalismo tinha uma tendência ao imobilismo, então não haveria uma maior exploração sobre os servos a não ser que um elemento externo causasse uma instabilidade no sistema, como foi com o Renascimento Comercial. O aumento da monetarização e da vida urbana nas cidades, segundo Sweezy, proporcionou uma liberdade e individualidade nos camponeses que mudou as suas concepções de vida. c) ATORES DA TRANSIÇÃO Para Dobb o ator principal da transição do feudalismo para o capitalismo foi o pequeno produtor através de uma via revolucionária (putting out system) que criou novos métodos de produção e lutou contra a servidão, concretizando essa mudança com a Revolução Inglesa. Sweezy argumenta que o pequeno produtor não seria capaz de realizar uma mudança tão grande no sistema e que o principal agente da transição foi a grande burguesia comercial através dos arrendamentos e junto aos artesãos,que estavam subordinados ao grande comerciante. d) COMO SE DEU A TRANSIÇÃO Para Dobb, o feudalismo só acabou com a Revolução Inglesa que consolidou o novo modo de produção. Para Sweezy, houve durante 200 anos, um sistema pré-capitalista de mercadorias que foi capaz de acabar com o feudalismo, mas que não teve forças o suficiente para permanecer frente ao capitalismo. A ORIGEM AGRÁRIA DO CAPITALISMO Brenner, segue a leitura de Dobb e afirma que o que ocasionou a transição para o capitalismo foi a mudança no modo de produção feudal, ou seja, os fatores endógenos foram os que ocasionaram o fim do feudalismo. A queda na produtividade e o aumento de demanda das rendas feudais foram os principais aspectos internos que fizeram a estrutura feudal se modificar. No entanto, Brenner discorda de alguns pontos com relação a Dobb: 1) acumulação política (perda de capacidade de sustentação do sistema) → hipertrofia da nobreza → formação do poder Absolutista ● necessidade de preservação das estruturas feudais ● busca por elevação das receitas ● conquista de novas terras, maior coerção do Estado 2) transição ocorre na Inglaterra ● arrendamentos: tributos → renda ● lógica capitalista no campo (de coerção extra econômica para coerção do mercado) ● propriedade privada: investimentos 3) agentes da produção ● Dobb: pequenos produtores ● Brenner: novos mercadores (burguesia) ○ introdutores da inovação ○ arrendamentos: jornada de trabalho (mão de obra assalariada) Para Ellen Wood, o feudalismo na Europa é variado e apenas um deles se transformou em capitalismo (o inglês): ○ INGLATERRA: capitalismo ○ ITÁLIA: Renascimento (cidades) ○ FRANÇA: Absolutismo aprofundado A autora afirma que o feudalismo foi caracterizado pela servidão e que o capitalismo representou uma mudança qualitativa em tal sistema. O excedente produzido pelo servo passou a ser apropriado por meios econômicos, o que não ocorria anteriormente. Além disso, ela critica a concepção de que o capitalismo surgiu por conta do comércio externo, indo contra a opinião de Pirenne e Sweezy. Na sua concepção foi resultado de um processo quantitativo de acumulação do comércio, que acabou gerando naturalmente o capitalismo. A existência do mercado torna-o um regulador da vida social, gerador de compulsão sistêmica. O momento da mudança ocorreu no séc XVI e XVII, de mercantilismo/capitalismo comercial para capitalismo propriamente dito. A transição foi na Inglaterra, em que houve uma crise feudal e busca por rendas excessivas por parte dos senhores feudais. A produtividade é impositiva e há uma maior concentração de terras, havendo uma ascensão da propriedade privada, aumento da produtividade, aumento da busca por lucros e maior desenvolvimento científico. ÉTICA PROTESTANTE: RELIGIÃO E SOCIEDADE Segundo Max Weber, a força motivadora da expansão do capitalismo é o desenvolvimento do espírito do capitalismo. Os aspectos culturais que influenciaram esse espirito capitalista foram a racionalidade (ciência empirismo), a influência das decisões individuais e a cultura ocidental. O capitalismo moderno surgiu no séc XVI/XVII e Weber busca compreender o que aconteceu nesse período que fez a concepção da sociedade sobre o mundo mudar. Para o autor capitalismo é a racionalização da vida econômica e uma forma pacífica de busca pelo lucro com a utilização planejada de recursos (baseadas no cálculo e na previsão). Há o capitalismo aventureiro (que se baseia em especulações, o colonizador que não busca habitar aquele continente) e o capitalismo burgues (que se baseia em ações racionais, aquele que vem com a família para a colônia e compra uma propriedade. O grande ponto de mudança na concepção da sociedade que foi capaz de realizar a transformação do feudalismo para o capitalismo é a capacidade e disposição dos indivíduos para adotar praticas racionais, ou seja, individuo que não está mais apegado a sua forma camponesa de viver e está disposto a dar um passo nessa racionalidade econômica. Essa disposição surge do espírito capitalista, em que tempo é dinheiro e a acumulação não se dá mais pela necessidade material, mas pela virtude (gera mais acumulação). A valorização do esforço individual e a vocação (sinai que a vida emite) transformam a noção de acumulação, sendo a reforma religiosa (calvinismo) grande parte nesse processo já que permitiu o indivíduo a encarar relações econômicas e sociais de outra maneira. * O ascetismo religioso é o ponto de partida que Weber classifica como capitalismo moderno a merdida que da ao burgues a chance de racionalizar a produção e tomar lucro no final. A partir do momento que essa base esta garantida, o ascetismo não é mais importante como no momento inicial e o capitalismo moderno se desenvolve de forma mais mecânica. A MODERNA ECONOMIA COMO ECONOMIA DE MERCADO - John Hicks: oposição ao debate marxista - se aproxima de economistas neoclássicos, usa a teoria econômica para explicar seus conceitos - critica o método tacitológico: enviesa algo para chegar à conclusão pretendida - ponto de partida (agentes econômicos não têm pleno controle de suas decisões) ● economia de costumes: tradicionais ● economia de comando (dos agentes econômicos): aspectos político-militares (feudais) predominam - processo de transformação: nascimento do mercado → caminha para uma estrutura ideal ● economia moderna: especialização da produção (aumento da divisão do trabalho) ○ aumento da produtividade e das manufaturas - economia de mercado necessita de: proteção das propriedades e dos contratos → liberdades e garantias - resultado: industrialização (norte europeu) ● momento auge da expansão do modelo: séc XIX (Liberalismo, Política Econômica Clássica) ● aumento do desenvolvimento científico ● acumulaçnao de capital - limites desse desenvolvimento: interesses políticos nacionais: regulação do comércio, protecionismo ● intervenções: inflação, desequilíbrio comercial, desordem monetária INSTITUIÇÕES E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - tese (North e Thomas, para compreender o mundo ocidental): mudanças nos preços relativos de produtos e fatores de produção induzem a um conjunto de mudanças institucionais, gerando aumento de produtividade ● instituições ocidentais são o que estimula a produtividade no sistema: direitos de propriedade, contratos (garantidos pelo Estado) - ciclo malthusiano: superação na Revolução Industrial ● Inglaterra (1680): construção das instituições que marcam o mundo ocidental ● herança de um crescimento econômico (acumulação primitiva) → novas produções, comércio regional ● mudanças institucionais: patente (direito de propriedade) → aumento de produtividade- Teoria da Mudança Institucional a) instituições (arranjos entre unidades econômicas com caráter de competição [patente] ou cooperação) b) inovação institucional: sentido é incentivar o investidor individual c) inovações: voluntárias + governamentais d) resultado: aumento de produtividade (economia de escala, custo de transação menor [diminuem os riscos]) → aumento do investimento - contexto: Mercantilismo → Liberalismo ● economia com melhores instituições para o desenvolvimento econômico: menos monopólios, menos riscos, menos custos de transação, mais estímulos para o agente individual ● Inglaterra: bancos, companhias, sociedades anônimas + leis para inovação - conclusão: ● instituições: papel da História ● problema: passam a encarar instituições liberais como as únicas permitem o desenvolvimento econômico O conceito de capitalismo e a maneira como este surgiu é tema altamente debatido por autores que possuem diferentes visões relativas aos diversos aspectos que contemplam o período de transição entre o feudalismo e o capitalismo. Essa resposta busca elucidar a maneira como alguns desses autores abordam o tema, assim como dialogar com o parágrafo sugerido. A análise desse conceito pode-se iniciar a partir das seguintes definições de capitalismo: pela Escola Austríaca, que acredita que o capitalismo é conceito relativo ao papel da indústria e ao ambiente em que essa indústria está inserida (ambiente liberal); pela concepção sociológica, que é mencionada por Max Weber, defendendo um espírito capitalista (onde o indivíduo não está mais apegado a sua forma camponesa de viver e está disposto a dar um passo na racionalidade econômica, inclusive relativo a relações morais e religiosas); pela concepção mercantil, que segue a maneira como Pirenne (retomado por Sweezy) avalia o conceito, caracterizando-o pela expansão do comércio e da produção voltada para o mercado a partir do renascimento comercial; e, finalmente, pela concepção dos modos de produção, abordada por Marx (com os mesmos pré-requisitos do capitalismo exigidos por Dobb) de que o capitalismo é caracterizado pelas relações de produção, em que o trabalhador é livre, mas não detém os meios de produção, ou seja, pode vender o seu trabalho tornando-o objeto comercial. O trecho aborda os seguintes aspectos relevantes: a civilização capitalista, que para Sweezy já estava presente no período “pré-capitalista de mercadorias”, enquanto que para Dobb só surgiu a partir da Revolução Industrial; a civilização liberal, mencionada no parágrafo anterior, como era definida pela Escola Austríaca e criticada por Dobb (que levou o termo ao pé da letra e questionou a existência de capitalismo durante o fascismo); o avanço da ciência e o progresso moral, que foi tema também abordado no parágrafo anterior, em que Max Weber acredita ser essa ciência empírica acoplada a um ascetismo religioso a grande força motivadora da expansão do capitalismo; e a centralidade na Europa, que, segundo a grande maioria dos autores estudados, foi o berço de todas essas mudanças. Portanto, o trecho mencionado pode-se valer de diversas interpretações, tendo em vista que analisa o período pós Revolução Industrial, ou seja, pós transição do feudalismo para o capitalismo, em um momento que a sociedade já está mais concretizada. Vale notar como o conceito de capitalismo muda conforme a interpretação dessa transição é analisada pelos autores, sendo possível estabelecer relações e debates entre eles que possam ser interessantes para o estudo em questão, como o debate entre Dobb e Sweezy ou como as outras interpretações mais generalistas que também diferem entre si.
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