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Alterações patológicas relacionadas à hemoglobina Formação de metemoglobina A metemoglobina de cor acastanhada é formada quando o ferro ferroso normal da hemoglobina é oxidado por nitritos e outras toxinas, transformando-se em ferro férrico. A metemoglobina não se liga ao oxigênio; assim, a capacidade de oxigênio do sangue é reduzida. Em condições fisiológicas, a cada dia, cerca de 3% da hemoglobina é oxidada em metemoglobina, mas ela novamente é reduzida em hemoglobina, principalmente pela ação da enzima NADH-metamoglobina redutase. Há relato de deficiência hereditária dessa enzima em várias raças de cães e gatos. O nitrito pode ser ingerido diretamente em alimentos deteriorados, mas os ruminantes mais frequentemente formam nitrito no rúmen após a ingestão de alimentos ricos em nitrato, como sorgo ou forrageiras altas. Uma enzima, a metemoglobina redutase, que está presente nos eritrócitos para reduzir as pequenas quantidades normais de metemoglobina em hemoglobina, é inadequada na presença de oxidação excessiva, sendo, portanto, necessário o tratamento adequado utilizando agentes redutores, como o azul de metileno. Formação de carboxi-hemoglobina A hemoglobina tem o poder de combinar-se não apenas com o oxigênio, mas também com determinados gases como o monóxido de carbono (CO). O composto resultante é a carboxi-hemoglobina. O CO liga-se ao ferro do heme no mesmo sítio do oxigênio, com muito mais avidez, evitando a ligação do oxigênio, dessa forma, interfere no fornecimento de oxigênio aos tecidos. Como resultado da alta afinidade do CO pela hemoglobina, a exposição a níveis de CO menores que 1% no ar pode saturar a hemoglobina e substituir o oxigênio, levando à morte. Felizmente, estes baixos níveis de CO precisam ser respirados por algum tempo para liberar monóxido de carbono suficiente para saturar toda a hemoglobina do sangue; assim, os efeitos tóxicos não são imediatos. O tratamento da intoxicação com CO requer a remoção da fonte de CO e a administração de oxigênio para substituir o monóxido de carbono da hemoglobina. Porfirias A síntese da hemoglobina ocorre nos precursores eritroides, em que moléculas de protoporfirina, ferro e globina unem-se, originando uma molécula de hemoglobina funcional. A síntese do radical heme da molécula é complexa e requer muitas enzimas. A deficiência hereditária dessas enzimas resulta em acúmulo de precursores de porfirina, bem como inadequada síntese de hemoglobina; tais disfunções são denominadas porfirias eritropoéticas, descritas em humanos, bovinos, suínos e gatos; algumas ocasionam anemia hemolítica. Produtos tóxicos, especialmente chumbo, podem inativar várias das enzimas envolvidas na síntese do grupo heme. Porfirinas são pigmentos marrom-avermelhados com fluorescência vermelha característica quando expostos à luz ultravioleta; coram vários tecidos, inclusive ossos e dentes. Antigamente, a porfiria eritropoética congênita em bovinos era denominada “dente róseo”. Nesses animais, as porfirinas são excretadas excessivamente em todos os líquidos corporais, inclusive em urina, fezes, saliva, suor e lágrimas. Uma das anormalidades mais comuns é a fotossensibilidade, resultando em dermatite em áreas pouco pigmentadas da pele. A maioria das porfirias são hereditárias e se caracterizam pelo aumento na concentração sanguínea de protoporfirina e na excreção de uroporfirinas e coproporfirinas. Porfiria eritropoética congênita bovina Há relato de porfiria eritropoética congênita bovina em animais das raças Holandesas Holstein e Shorthorn, causada por deficiência parcial do uroporfirinogênio III cossintetase, resultando em acúmulo de uroporfirina I e coproporfirina I, que se acumulam nos tecidos e são excretados na urina e nas fezes, em maiores quantidades. Os sinais clínicos incluem pigmentação de tecidos, inclusive de dentes, anemia e fotossensibilização. Esse distúrbio hereditário tem uma característica autossômica recessiva. Os animais acometidos apresentam anemia hemolítica A meia-vida dos eritrócitos é mais curta devido ao distúrbio na síntese de heme e à lesão induzida pela porfirina em lipídios da membrana de eritrocitária. A luz ultravioleta pode agravar a hemólise devido à exposição de eritrócitos na superfície capilar. Em bovinos, a doença foi quase completamente extinta. Porfiria em gatos Há relatos de duas formas de porfiria em gatos. A primeira, descrita em uma família de gatos Siameses, deve-se à deficiência parcial de uroporfirinogênio III cossintetase e é semelhante ao distúrbio em seres humanos e bovinos. Os gatos acometidos apresentavam fotossensibilização e anemia hemolítica grave, assim como a doença renal. A segunda forma foi descrita em gatos domésticos nos quais os sinais clínicos eram apenas manchas nos dentes e alteração na cor da urina devido à presença de uroporfirina, coproporfirina e porfobilinogênio. Não se constataram anemia e fotossensibilização. Essa anomalia hereditária que acomete gatos domésticos é autossômica dominante. Corpúsculos de Heinz A desnaturação oxidativa da hemoglobina resulta na formação de corpúsculos de Heinz. Aproximadamente de 1 a 2% dos eritrócitos de gatos normais contêm esses corpúsculos, possivelmente devido a uma propensão incomum de desnaturação da hemoglobina pelo fato de a molécula de hemoglobina felina conter duas vezes a quantidade de grupos sulfidrila (da porção globina) reativos em comparação à molécula de hemoglobina de outras espécies. A presença deles reduz a deformação da célula, tornando-a mais suscetível às hemólises intra e extravascular. Caso um grande número de eritrócitos seja afetado, pode ocorrer anemia hemolítica grave. Medicamentos e substâncias oxidantes que sabidamente induzem a formação de corpúsculos de Heinz incluem cebola, alho, Brassicas spp., folhas murchas ou secas de bordo- vermelho (Acer rubrum), benzocaína, zinco, cobre, paracetamol, propofol, fenazopiridina, fenotiazina, fenilidrazina, naftaleno, vitamina K, azul de metileno e propilenoglicol. Gatos enfermos podem desenvolver uma alta quantidade de corpúsculo de Heinz, mesmo sem terem sido expostos a medicamentos ou a substâncias químicas. Os distúrbios mais comuns associados ao aumento da concentração de corpúsculo de Heinz em gatos incluem diabetes melito, linfoma e hipertireoidismo; entretanto, também é possível verificar aumento do número desses corpúsculos simultaneamente a várias outras doenças Fonte: - KLEIN, Bradley G. Cunningham tratado de fisiologia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. - REECE, William O. Dukes fisiologia dos animais domésticos. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. - GONZALEZ, F.H.D, DA SILVA, S. C. Introdução a Bioquímica Clínica Veterinária 2 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2006. - THRALL, M. A., WEISER, G. A., ROBIN, W., CAMPBELL,T. W. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2ª Ed.. Brasil: Editora Roca, 2014.
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