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Química fisiológica - Aula 2 – 12/08/19 Metabolismo das hemácias: Os eritrócitos maduros dos mamíferos são células anucleadas que normalmente circulam por alguns meses apesar de sua limitada capacidade sintética e do fato de se expor repetidas vezes a insultos mecânicos e metabólicos. O fato de não possuírem núcleo e outras organelas impossibilita a síntese de ácidos nucléicos ou proteínas. A perda da mitocôndria durante a maturação resulta na perda da capacidade de realizar o Ciclo de Krebs e a fosforilação oxidativa para obtenção de energia necessária para realizar suas funções relacionadas à troca gasosa, manutenção da manutenção da forma, deformabilidade, fosforilação dos fosfolipídeos e proteínas de membrana, transporte ativo de várias moléculas, entre outras. Estas funções requerem energia sob a forma de ATP (adenosina trifosfato). Embora as demandas metabólicas sejam menores do que as de outras células, as hemácias ainda precisam de energia. Na maioria das espécies de mamíferos, a glicose oriunda do plasma é o substrato primário para a obtenção de energia, a qual será metabolizada por meio da glicólise anaeróbica. Uma vez que a glicose entra na célula, ela é fosforilada a glicose 6- fosfato (G6P) pela enzima hexoquinase (HK). A G6P é então metabolizada pela via de Embden-Meyerhof ou pela via das pentoses. Através da via de Embden-Meyerhof, cada molécula de glicose é metabolizada em duas moléculas de lactato e neste processo são geradas duas moléculas de ATP. Normalmente apenas uma porção (5 a 10%) da glicose metabolizada pelos eritrócitos é destinada para a via das pentoses, produzindo NADPH necessário para a manutenção da integridade da membrana celular durante o tempo de vida da hemácia, protegendo contra oxidantes. Defeitos nesta via podem tornar os eritrócitos suscetíveis a danos oxidativos. Hemoglobina A hemoglobina presente nas hemácias dos mamíferos, consiste em quatro unidades, cada uma contendo um grupo heme e sua proteína associada (globina). A globina é um polipeptídeo composto por 140 a 150 aminoácidos. O grupo heme é constituído por protoporfirina e ferro ferroso no centro. Cada ferro ferroso (Fe2+) pode combinar-se reversivelmente com uma única molécula de oxigênio. Assim, a molécula completa de hemoglobina apresenta quatro hemes, cada um com sua globina associada, podendo combinar-se reversivelmente com até quatro moléculas de oxigênio, formando oxi-hemoglobina. Sem a presença da globina, o oxigênio iria oxidar o ferro ferroso (Fe2+) em ferro férrico (Fe3+). Os aminoácidos da porção globina envolvem a proção heme e limitam o acesso do oxigênio ao ferro ferroso. Isto previne a oxidação, e permite a captação e liberação do oxigênio. A produção de hemoglobina, como já foi demonstrado na aula de eritropoiese, ocorre no citoplasma das células precursoras de hemácias na medula óssea (nucleadas). Metabolismo do ferro O ferro, elemento necessário para a síntese da hemoglobina, pode ser obtido de duas formas, por meio da dieta e pela degradação da hemoglobina presente nas hemácias (hemocaterese). Nos alimentos, o ferro aparece sob duas formas, a ferrosa, encontrada nas carnes e a iônica, presente em vegetais e grãos. As principais etapas no metabolismo do ferro são a sua absorção pela parede intestinal, a circulação para os tecidos, o armazenamento no organismo e a sua cinética na medula óssea. O ferro é absorvido no intestino delgado e sua absorção é favorecida pelo ácido clorídrico estomacal que reduz os componentes férricos (Fe3+), transformando-os em ferrosos (Fe2+), por outro lado, ela pode ser inibida por outras substâncias encontradas nos alimentos. A absorção do ferro é regulada pelas necessidades do organismo. Após sua absorção, o ferro passa do citoplasma das células intestinais para o sangue, onde se liga à proteína apotransferrina, passando a ser denominado transferrina. Dessa forma, o ferro é distribuído aos tecidos, sendo os principais, a medula óssea, baço e fígado. Na medula óssea, o ferro se dissocia da apotransferrrina e se liga aos precursores de hemácias (ou precursores eritroides), para ser incorporado ao grupo heme para constituir a hemoglobina (forma ferrosa). O ferro não utilizado na síntese de hemácias, vai para o fígado e baço (além de outros tecidos), onde pode ser armazenado na forma de ferritina e hemossiderina (forma férrica) nas células parenquimatosas do fígado e em macrófagos desses órgãos. Na medula óssea também pode ser encontrada essa forma de armazenamento. Quando há necessidade, essas formas de reserva são utilizadas. Uma quantidade pequena de ferro está contida na mioglobina e algumas enzimas do organismo. Todo esse metabolismo do ferro (absorção, armazenamento e liberação) é regulado pela hepcidina, um hormônio sintetizado por células do fígado (hepatócitos). Resumindo, o ferro corporal está distribuído 50 a 70% compondo a hemoglobina das hemácias, 25 a 40% na forma de armazenamento (ferritina e hemossiderina) e menos de 5% compondo a mioglobina e outras moléculas. Degradação da hemoglobina e metabolismo da bilirrubina Como já foi falado, as hemácias têm um tempo de vida útil que varia de acordo com a espécie animal. Com o envelhecimento, essas células vão diminuindo a sua capacidade de deformabilidade da membrana, prejudicando as suas funções. A perda de eritrócitos é continuamente balanceada por uma liberação de reticulócitos ou células jovens da medula óssea para o sangue periférico. No estado de saúde normal, o eritrócito deixa a circulação por duas vias: fagocitose por macrófagos em órgãos do sistema monocítico fagocitário, particularmente o baço (hemólise extravascular), que é a principal e a hemólise intravascular, com liberação de hemoglobina (esquema apresentado nos slides). Independente da via, os macrófagos vão desempenhar o papel inicial de degradação da hemoglobina, o ferro da fração heme e os aminoácidos da fração globina são reciclados para uso. A protoporfirina é degradada em biliverdina (pela enzima heme microssomal oxigenasse) e a biliverdina é então convertida à bilirrubina (pela enzima bilirrubina redutase). A bilirrubina liberada no plasma, também chamada de bilirrubina indireta ou não conjugada, é pouco solúvel, por isso liga-se a albumina para ser transportada no sangue até as células hepáticas, onde se desprende da albumina, é captada pelas células do fígado e é conjugada ao ácido glicurônico pela enzima glicuronil transferase. A bilirrubina conjugada é normalmente excretada através dos canalículos biliares junto à bile no intestino delgado. No trato intestinal a bilirrubina é degrada a urobilinogênio (pla ação de bactérias) para a sua excreção nas fezes (90%), com reabsorção parcial (10%) para a circulação sanguínea. Uma parte passará novamente pelo ciclo hepático e será re-excretada pela bile e uma pequena quantidade de bilirrubina conjugada e urobilinogênio normalmente escapam à re-excreção hepática e são eliminadas pela urina. Condições patológicas A falha no metabolismo da bilirrubina leva ao acúmulo desse pigmento no sangue, causando a icterícia (tecidos com a coloração amarelada devido à impregnação de bilirrubina). Icterícia/hiperbilirrubinemia pode ser classificada quanto à sua origem de três formas: - Icterícia pré-hepática: Aumento da produção de bilirrubina (indireta), causado por algum distúrbio hemolítico (uma patologia que leva à destruição massiva de hemácias, assim há maior degradação de hemoglobina e maior formação de bilirrubina não conjugada). Exemplos: Parasito de hemácias como a Babesia e Mycoplasma.- Icterícia hepática: Distúrbio hepático caracterizado por falha na conjugação hepática devido a uma disfunção com redução na capacidade enzimática, dessa forma, a bilirrubina não conjugada, aquela que se associa a albumina para ser transportada ao fígado, acumula-se na circulação sanguínea pois o fígado lesado não processa com rapidez. - Icterícia pós-hepática: Nesse caso, o acúmulo de bilirrubina direta (conjugada) ocorre porque há deficiência na eliminação, causada por obstrução das vias biliares (canalículos/ductos), assim a bilirrubina conjugada acumula-se. Essa obstrução do fluxo biliar é denominada colestase. Pode ser resultante de cálculos, tumores, abcessos, parasitos. Fonte consultada: - KLEIN, Bradley G. Cunningham tratado de fisiologia veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. - GONZALEZ, F.H.D, DA SILVA, S. C. Introdução à Bioquímica Clínica Veterinária 2 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2006. - THRALL, M. A., WEISER, G. A., ROBIN, W., CAMPBELL,T. W. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. 2ª ed. Brasil: Editora Roca, 2014. - GARCIA-NAVARRO, C.E.K. Manual de hematologia veterinária. 2 ed. São Paulo, Livraria Varela, 2005.
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