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U N O PA R M ETO D O LO G IA D O EN SIN O D A A RTE Metodologia do ensino da arte Laura Célia Sant’Ana Cabral Cava Metodologia do ensino de arte Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Cava, Laura Célia Sant’Ana Cabral ISBN 978-85-8482-170-9 1. Arte – Estudo e ensino. 2. Arte – Metodologia de ensino. I. Título CDD 707 C376m Metodologia do ensino da arte / Laura Célia Sant’Ana Cabral Cava. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2015. 166 p. : il. © 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente: Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck Gerente de Produção: Emanuel Santana Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna Gerente de Disponibilização: Nilton R. dos Santos Machado Editoração e Diagramação: eGTB Editora 2015 Editora e Distribuidora Educacional S. A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041 -100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Unidade 2 | Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica Seção 1 - Arte como conhecimento 1.1 | Papel da arte na vida do ser humano 1.2 | Campos conceituais da arte 1.3 | A arte e a criança Seção 2 - Didática do ensino de Arte 2.1 | Encaminhamentos metodológicos 2.2 | Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental 2.3 | Educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental 2.4 | Sugestão de conteúdos e objetivos das artes visuais Unidade 3 | Propostas pedagógicas em espaços de educação formal e não formal de educação em artes visuais Seção 1 - Inter-relação entre arte, cultura e educação 3.1 | Educação formal, informal e não formal Seção 2 - Fundamentos estéticos no ensino de artes visuais 3.1 | A estética e o ensino de artes visuais 3.2 | Cultura visual 3.3 | Datas comemorativas 3.4 | O ensino de artes visuais e a estética Unidade 1 | Tendências do ensino de arte no Brasil Seção 1 - Barroco: primeiro produto cultural brasileiro 1.1 | Missão jesuítica 1.2 | Barroco no Brasil Seção 2 - Aspectos históricos do ensino de Arte no Brasil 2.1 | Missão artística francesa 2.2 | Arte neoclássica 2.3 | Tendências do ensino de arte no Brasil 2.3.1 | Pedagogia liberal 2.3.1.1 | A pedagogia liberal tradicional 2.3.1.2 | A pedagogia liberal renovada 2.3.1.3 | A pedagogia liberal tecnicista 2.3.2 | Pedagogia progressista Sumário 7 11 11 16 23 23 27 30 31 31 32 33 34 45 49 49 52 53 63 63 70 72 74 87 91 91 101 101 104 118 124 Unidade 4 | Políticas públicas para a educação em artes visuais Seção 1 - Artes visuais e as políticas públicas 4.1 | Artes visuais e políticas públicas 4.2 | Políticas públicas no Brasil Seção 2 - Proposta Contemporânea para o Ensino de Artes Visuais 2.1 | Ensino multicultural 2.1.1 | Arte indígena 2.2 | Uma porta para projetos 137 141 141 142 153 153 154 158 Apresentação Caro aluno leitor! É com muita alegria que apresento a você este livro, que fará parte da disciplina Metodologia do Ensino da Arte, do Curso de Artes Visuais, que tem como objetivo formar professores da Educação Básica, ou seja, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Sou a professora Laura e convido você a conhecer e refletir sobre o ensino de Arte, com ênfase nas Artes Visuais, pois quando o professor trabalha de maneira adequada, promove uma aprendizagem significativa e possibilita experiências estéticas, a percepção do mundo e de si mais aguçada. Este livro foi elaborado com muita pesquisa, dedicação e carinho, com o objetivo de oferecer subsídios metodológicos e conhecimento científico, contribuindo assim para que você avance na compreensão do ensino e aprendizagem da Arte e, também, provocá-lo no sentido de refletir acerca desta disciplina e compreender que ela possibilita o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e estético, portanto, de extrema relevância no contexto escolar. Consta no Brasil (1997) que é limitada a experiência de quem não tem contato algum com a arte. Pensamos este livro de forma a possibilitar a você um encontro significativo com as artes visuais. Pontuamos algumas questões que consideramos relevantes e as organizamos da seguinte maneira: Na primeira unidade: Tendências do Ensino de Arte no Brasil, falaremos sobre o ensino de arte no Brasil com as Missões Jesuíticas, que tinham por objetivo a catequização indígena, para ensiná-los a doutrina da Igreja Católica. Conheceremos a arte barroca brasileira. Em seguida abordaremos sobre a Missão Artística Francesa, um grupo de artistas, arquitetos e artífices franceses, que vieram ao Brasil, a convite de D. João VI, para fundarem uma escola do ensino superior, Academia Imperial de Belas Artes e nela serem professores; veremos a Arte Neoclássica e, por fim, conheceremos as tendências pedagógicas do ensino de Arte. Na segunda unidade: apresentaremos os aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na Educação Básica, estudaremos a arte como conhecimento, pois ela é uma área do conhecimento tão importante quanto as demais e deve ser entendida e aprendida desta forma. Apresentaremos também os campos conceituais ou vertentes da Arte na Proposta Triangular trazida por Ana Mae Barbosa. Abordaremos como a criança se relaciona com a arte e, por fim, apresentaremos a Didática do Ensino de Arte, com orientações sobre o trabalho na sala de aula e certas especificidades desta disciplina. Por fim, apresentaremos conteúdos de artes visuais na Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Na terceira unidade: abordaremos propostas pedagógicas em espaços de educação formal e não formal de educação em Artes Visuais. Nesta unidade conheceremos e conceituaremos espaços formais, que dizem respeito ao ensino sistematizado; informais, que são os saberes relacionados à língua materna, tarefas domésticas, normas de comportamento, orar ou rezar, caçar, ou seja, sobreviver, sem horários ou currículos, isto é, escola da vida; e não formais, muito próximos da educação formal que inclui o estudo de línguas estrangeiras, informática, pintura e outros, com horários e períodos letivos bem definidos. Também, dando continuidade nesta seção, diferenciaremos museu de galeria, pois o ensino não formal pode acontecer nestes espaços. Apresentaremos alguns museus, com sugestões de links e a possibilidade de conhecê-los virtualmente. Também falaremos e conceituaremos a cultura visual, falaremos como os professores de Arte lidam com o conflito de trabalhar ou não as datas comemorativas e qual a melhor solução para este trabalho, e em seguida apresentaremos algumas sugestões de conteúdos para serem trabalhados no Ensino Fundamental I. Na quarta unidade: apresentaremos as Políticas públicas para a educação em Artes Visuais, refletiremos sobre as políticas públicas e suas ações com relação ao ensino de Arte, conheceremos os documentos oficiais sobre o ensino de Arte: Proposta Curricular Nacional de Arte (PCN Arte) – Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil – Artes Visuais (RCNEI – Artes Visuais) e as Diretrizes Curriculares Nacionais de Arte (DCN – Arte). Apresentaremos a Proposta Contemporânea do Ensino de Arte, fazendo articulação entre o ensino de Arte e o ensinomulticultural, como trabalhar com as artes visuais de forma interdisciplinar, a metodologia de Projetos em Artes Visuais, conheceremos a proposta de Reggio Emilia, uma região na Itália onde os Centros de Educação Infantil públicos são modelo mundial de educação e a ênfase gira em torno de projetos de artes visuais. Unidade 1 TENDÊNCIAS DO ENSINO DE ARTE NO BRASIL Nesta seção falaremos sobre o ensino de Arte no Brasil iniciando com a Missão Jesuítica, também denominada de Companhia de Jesus, uma ordem religiosa composta por padres, que tinha por objetivo a catequização indígena, para ensinar-lhes a doutrina da Igreja Católica, e o ensino de Arte foi um dos caminhos encontrados por eles. Conheceremos também a Arte Barroca brasileira, este estilo de arte foi trazido ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses. Falaremos nesta seção sobre a Missão Artística Francesa, um grupo de artistas, arquitetos e artífices franceses, que vieram ao Brasil, a convite de D. João VI, para fundarem uma escola do ensino superior, Academia Imperial de Seção 1 | Barroco: primeiro produto cultural brasileiro Seção 2 | Aspectos históricos do ensino de Arte no Brasil Objetivos de aprendizagem: • Compreender como se organizava a Missão Jesuítica no Brasil, qual seu objetivo e como se dava o ensino de arte nas Missões; • Conhecer a Arte Barroca; • Estudar sobre a Missão Artística Francesa e seu objetivo no Brasil; • Compreender a Arte Neoclássica; • Conhecer as tendências pedagógicas de arte no Brasil. Laura Célia Sant’Ana Cabral Cava Tendências do ensino de arte no Brasil U1 8 Belas Artes, e nela serem professores; veremos sobre a Arte Neoclássica, que foi trazida por eles, e por fim conheceremos as tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 9 Introdução à unidade Olá, caro aluno! Nesta unidade estudaremos sobre o início do ensino de Arte no Brasil. Talvez você esteja se perguntando: a arte se ensina? Quais foram os primeiros a ensinar arte? Sim, tanto a arte de forma geral como também a disciplina de Arte se ensinam, pois desde a Pré-história o homem primitivo usava a arte para compreender aquele mundo em que vivia, e a arte foi um dos caminhos que possibilitou este entendimento de mundo. Ela foi passada de pai para filho e ultrapassou a barreira do tempo, ou seja, acompanhou o homem desde a Pré- história até a Contemporaneidade, e no contexto da educação ela é uma área do conhecimento tão relevante quanto as demais, com conteúdos, objetivos, e contribui, por meio da mediação do professor, para que o aluno consolide seu conhecimento artístico, estético e contextualizado. Para entendermos melhor quem foram os primeiros habitantes brasileiros a aprender sobre arte, nesta unidade faremos uma viagem no tempo, que se inicia no século XVI, com a chegada dos jesuítas no Brasil, cujo objetivo era a catequização indígena para a doutrina católica. Estudaremos também um pouco do Barroco brasileiro, trazido por estes jesuítas, até chegarmos à Missão Artística Francesa, composta por um grupo de artistas e artífices franceses que chegam ao Brasil no início do século XIX, a convite de Dom João VI, com o objetivo de fundarem a Academia Imperial de Belas Artes, onde seriam professores. A Academia Imperial de Belas Artes era um sistema de ensino superior acadêmico que fortalecia o estilo artístico Neoclassicismo, trazido por eles da Europa. Acreditamos que este estudo acerca das origens do ensino de Arte no Brasil o ajudará a compreender melhor o porquê de tantas distorções sobre como ensinar Arte, e conhecer melhor as tendências pedagógicas de cada época, suas influências e como estas perduram até os dias atuais. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 10 Tendências do ensino de arte no Brasil U1 11 Seção 1 Barroco: primeiro produto cultural brasileiro Prezado aluno! Vamos iniciar nosso estudo fazendo uma viagem na história para conhecermos as primeiras iniciativas do ensino de Arte no Brasil, a chegada dos jesuítas, de D. João VI e a família real no Brasil, as ações realizadas em solo brasileiro, a chegada da Missão Artística Francesa, os estilos Barroco e Neoclássico, e as tendências pedagógicas do ensino de Arte. Portanto, convido você a viajar no tempo comigo para entendermos melhor esta disciplina, Metodologia do Ensino de Arte, e o porquê de tantos equívocos acerca do ensino de Arte. 1.1 Missão jesuítica A partir da expansão do protestantismo e a perda de muitos fiéis da Igreja Católica, em toda a Europa, surge no século XVI a Missão Jesuítica, denominada também como Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola e por São Francisco Xavier. Esta Missão era uma ordem religiosa composta por padres jesuítas e tinha um cunho evangelizador, cujo objetivo era proclamar a religião católica e trazer de volta seus fiéis. Esta reação católica ficou conhecida como Contrarreforma e foi o pontapé necessário para mudar o estilo de vida das pessoas e alterar a forma de fazer arte, pois as produções artísticas perderam o caráter liberal do Renascimento, tendo como princípio uma forte ligação a conceitos religiosos. A Companhia de Jesus foi introduzida em Portugal no ano de 1521 por D. João III. Lá, estes religiosos receberam o Colégio das Artes e o Controle da Universidade de Coimbra. Por sua organização, sua forma dinâmica de ser e pelo preparo teológico e cultural dos membros da Missão Jesuítica, aos poucos esta foi se fortalecendo. Neste livro, quando nos refererirmos à arte de forma geral, grafaremos com letra minúscula, e quando nos referirmos à disciplina de Arte, grafaremos com letra maiúscula. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 12 Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Victor_ Meirelles04.jpg>. Acesso em: 02 abr. 2015. Figura 1.1 | Obra do artista Victor Meirelles representando a Primeira Missa no Brasil dos jesuítas Na América elas também eram chamadas de Reduções, pois tratavam-se de aldeamentos indígenas que eram organizados e administrados pelos padres jesuítas. No Brasil os jesuítas chegaram em 1549 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião católica, para isso familiarizaram-se com os costumes e ritos indígenas, aprenderam a língua tupi, com o objetivo de conquistar a confiança deles e convertê-los ao catolicismo. Os dois tipos de ensino que se estabeleceram no Brasil foram: em colégios e em aldeias, onde ensinavam aos filhos de colonos a ler e escrever e aos índios. Neste contexto a arte foi entendida como apropriada para a educação, pois de acordo com os jesuítas, ela estava acessível a todos. A arquitetura e a escultura serviram como estratégia, assim como o uso das linguagens artísticas: música, dança e teatro, facilitando o sincretismo cultural ea adaptação do índio ao sistema civilizado europeu cristão. O jesuíta, além de psicologicamente ativo pela ideia de catequese, é dotado de um aparato intelectual notável: sabia construir com terra, madeira ou pedra, conhecia desenho e geometria, falava duas ou três línguas europeias, além do latim, e se movia tão à vontade nos trâmites dos negócios da Corte quanto no convés de um navio (SALA, 2002, p. 17). É bom enfatizar que antes dos jesuítas aqui chegarem, já existiam práticas educativas no Brasil pelos habitantes que aqui viviam. Mesmo que fosse de uma forma diferente, havia estas práticas. Ou seja, embora tenhamos começado a falar sobre ensino de Arte a partir dos jesuítas, é importante ressaltar que estes não foram os primeiros a introduzir processos educativos no Brasil, pois antes da chegada dos portugueses havia uma população ameríndia que possuía suas próprias ações educativas, embora a educação portuguesa as tenha anulado.Isto nos remete a Tobias (1986, p. 21-22), que diz: [...] desde o início, tanto na Terra de Santa Cruz, quanto no Brasil, houve educação brasileira, porque as aulas eram ministradas na terra brasileira, para gente brasileira, embaixo de um sol brasileiro, para crianças da gente brasileira. Aliás, nunca foi e Tendências do ensino de arte no Brasil U1 13 jamais será tão genuinamente brasileira a educação ministrada no Brasil, uma vez que, nesses primeiros séculos, a escola educava os curumins, os filhos dos indígenas do Brasil, os mais brasileiros de todos os brasileiros. De acordo com Priore (2004, p. 10), “até 1580 os jesuítas tiveram exclusividade na ação religiosa no Brasil, como missionários ‘oficiais’ da Coroa”. Com a vinda de outras ordens religiosas, o atendimento às necessidades espirituais dos colonos e o processo de urbanização das cidades foram supridos, porém, a educação, principalmente a catequese indígena, ficou como responsabilidade quase total dos jesuítas, até a sua expulsão no século XVIII. As Reduções tornaram-se grandes empresas industriais e agropecuárias, pois tinham todos os equipamentos e eram independentes. Nesse processo chegaram a constituir verdadeiras cidades, muitas com milhares de habitantes, compostas por um núcleo urbano principal com as habitações, igreja, colégio, presídio, mercado e oficinas diversas, e grandes áreas em torno com lavouras e criações de gado. E quando não conseguiam se autossustentar, eram sustentadas em parte pelos rendimentos que a Companhia de Jesus obtinha em outras atividades ou com doações da nobreza. Para compreender melhor sobre a Missão Jesuítica, assistam ao filme "A Missão", de 1986, sob a direção de Roland Joffe e tendo em seu elenco Robert de Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson, que retrata um importante período de nossa história e promove um resgate cultural fabuloso. Embora o objetivo principal desta ordem religiosa tenha sido a catequese, o processo demonstrou-se extremamente rico no que tange à construção da história artística brasileira. O envolvimento dos jesuítas na cultura indígena, de modo a conhecer suas lendas, crenças e histórias nativas, forneceu subsídio para a utilização deste material na realização de festas, montagem de peças teatrais no intuito de convencer os indígenas da existência de um Deus e de um Demônio, do céu e do inferno. Fonte: Disponível em: <http://maniacolorida.blogspot. com.br/2010/03/os-jesuitas-e-sua-influencia-no-ensino_28.html>. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 14 Não havia um modelo único de redução, pois com a diversidade de contextos geográficos, culturais e econômicos, isto se tornou impossível. Houve reduções modestas e outras não. O envolvimento dos jesuítas na cultura indígena fez com que se iniciasse, silenciosamente, uma espécie de “reescrita” da cultura indígena, a ponto de os jesuítas tentarem eliminar alguns costumes considerados impróprios, como a pintura corporal, os corpos nus, a poligamia e a antropofagia. Este processo de educação dos índios perdurou por cerca de dois séculos e meio. Neste período foram construídos colégios destinados à educação de professores, padres e de uma elite que seria de suma importância na disseminação do modelo cultural europeu na nova terra. De acordo com Amsberg D. (2014), esta prática: A mesma autora faz um paralelo desta afirmação com a fala da arte-educadora Ana Mae Barbosa em sua vivência com relação à elaboração de currículos de arte contemporâneos, é possível perceber nitidamente a herança cultural que permeia o ensino desta área do conhecimento: Voltando às Missões Jesuíticas: e a arte, como foi se desenvolvendo? A arte dramática brasileira se deve principalmente ao padre José de Anchieta. A música e a dança nativas, por atraírem os jesuítas, se fundiram com a música europeia. Foram produzidas grandes quantidades de artesanato, como tapetes, luminárias, móveis, utensílios de cozinha, moringas e outros artefatos. A arquitetura das igrejas, seu estilo e imagens presentes tinham destaque. Coloridas, deram origem à pintura brasileira. fez com que sempre se desprezasse a cultura popular, influenciada pelos indígenas e negros e que permaneceu marginal e condenada à expectativa de homogeneização, uma vez que a cultura erudita e europeizada era o modelo a ser seguido. No que diz respeito à cultura local, pode-se constatar que quase sempre apenas o nível erudito dessa cultura é admitido na escola. As culturas de classes sociais economicamente desfavorecidas continuam a ser ignoradas pelas instituições educacionais, mesmo pelos que estão hoje envolvidos na educação dessas classes. (BARBOSA, 2008a, p. 19-20). Tendências do ensino de arte no Brasil U1 15 Por volta do século XVII inicia-se um considerável público, que tinha posses e era voltado às produções artísticas, isto porque configurou-se uma nova classe social. Houve um crescimento dos povoados, uma larga produção de ouro, com isto surgiu um grande número de comerciantes, artesãos, pequenos empresários. Estes faziam saraus, usavam instrumentos musicais e tinham residências ricas. Neste período, a arte vinda da Europa era a Barroca. Desta forma, como as irmandades eram ricas, cada uma procurava se destacar mais do que a outra, com isto, investiam muito dinheiro na ornamentação dos templos. Isto contribuiu para o crescimento do patrimônio de arquitetura barroca religiosa, o que posiciona o Brasil no quadro de importante grandeza internacional. Outro fato relevante que enriqueceu o panorama artístico brasileiro, neste mesmo período, foi a invasão de Pernambuco pelos holandeses. Recife, neste contexto, é remodelada e sua paisagem é enriquecida por palácios, pontes, canais, lojas, oficinas e até um certo clima de tolerância religiosa. Isto porque o príncipe Maurício de Nassau tinha Dentro das missões, os indígenas aprenderam técnicas de trabalhos manuais e ofícios destinados à sua mantença e subsistência. As artes integravam grande parte de suas atividades cotidianas. O canto, a manipulação de instrumentos musicais, bem como a fabricação dos mesmos, ficavam a cargo dos índios. O resultado desta atividade, embora totalmente voltada aos preceitos cristãos, enriqueceu consideravelmente a cultura local e contribuiu para a configuração de nossa produção de arte ao longo da história. Fonte: Disponível em: <http://maniacolorida.blogspot.com. br/2010/03/os-jesuitas-e-sua-influencia-no-ensino_28.html>. Seria esta uma mistura ou sobreposição de culturas? Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/Albert_Eckhout#/ media/File:Albert_Eckhout_Mameluca_woman_circa_1641-1644.png>; <https://commons.wikimedia.org/wiki/Albert_Eckhout#/media/File:Mulher_ Africana.jpg>; <https://commons.wikimedia.org/wiki/Albert_Eckhout#/media/File:India_tupi. jpg>. Acesso em: 25 mar. 2015. Figura 1.2 | A tupinambá, a mameluca e a negra Tendências do ensino de arte no Brasil U1 16 uma comitiva de arquitetos, artistas e intelectuais, dentre eles Albert Eckhout, que em cenas do cotidiano retratou negros e índios, inclusive com os corpos nus. Com isto estabelece-se uma cultura local diferente da dos jesuítas, favorecendo a abertura e descentralização da produção artística, até então focada no sagrado. No período que compreende os séculos XVII e XVIII, surgiram grandes obras primas da arte religiosa brasileira. Dentre os artistas desta época destacou-se Manuel Dias de Oliveira Brasiliense, conhecido como “o Romano”, pintor retratista da família real. Os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal no século XVIII, mais precisamente 1759, deixando para trás um trabalho de grande relevância artística, um legado cultural que permanece até os dias de hoje. Por outro lado, é evidente que toda esta construção foi a responsávelpela extinção de uma cultura originalmente brasileira e anterior a esta, sendo assim, podemos dizer que a origem de nossa arte recebeu influência de outros povos, influência europeia, e, em contrapartida, talvez outros povos receberam influência da arte indígena brasileira. Já que falamos sobre o estilo Barroco trazido pelos jesuítas, faz-se necessário recordar sobre este estilo. O Barroco foi uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente nas artes plásticas e depois se manifestou na literatura, no teatro e na música. O berço do Barroco foi a Itália, ele iniciou-se no século XVII, espalhou-se por vários países europeus e encerrou-se no século XVIII. O Barroco se desenvolve após o processo de reformas religiosas, ocorrido no século XVI, em que a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. A Arte Barroca surge neste contexto e expressa todo o contraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da Idade Média com o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento. 1.2 Barroco no Brasil Cem anos após o surgimento do Barroco na Europa, este chegou ao Brasil, trazido pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses. Sendo assim, este foi o nosso primeiro produto cultural de origem erudita, assumindo diversas características ao longo de seu tempo e, mais que um estilo artístico, era um estilo de vida. A Arte Barroca era profundamente católica e foi usada como forma de expressão da mensagem religiosa da Contrarreforma. Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e pelo clero. As obras de pintura e escultura deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam as emoções da vida e do ser humano. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 17 A palavra “barroco” tem um significado que representa bem as características deste estilo. Significa "pérola irregular" ou "pérola deformada" e representa de forma pejorativa a ideia de irregularidade. Diego Rodríguez de Silva y Velázquez foi um importante pintor espanhol do século XVII. Destacou-se na pintura de retratos, principalmente de integrantes da nobreza espanhola. Fez parte do movimento artístico conhecido como Barroco. FONTE: <http://www.suapesquisa.com/biografias/velasquez.htm>. Fonte: Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Las_Meninas_01.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 24 mar. 2015. Figura 1.3 | As Meninas - Velázquez Tendências do ensino de arte no Brasil U1 18 Devido à situação econômica brasileira frente à sofisticação europeia, o Barroco brasileiro tornou-se uma produção tecnicamente inferior. A função da Arte Barroca no Brasil foi para fins religiosos, ou seja, conversão à fé católica dos negros, índios e, com o passar do tempo, os artesãos populares. Principais características do estilo Barroco: • acentuado contraste de claros-escuros, contrastes; • expressão dos sentimentos – era um recurso que visava intensificar a sensação de profundidade; • linhas curvas; • emoção e intensidade dramática. Emoção sobre razão, seu propósito é impressionar os sentidos do observador. Escolha de cenas no seu momento de maior intensidade dramática; • estilo dinâmico; • narrativo; • composição assimétrica, em diagonal –que se revela num estilo grandioso, monumental, retorcido, substituindo a unidade geométrica e o equilíbrio da arte renascentista; • entrelaçamento entre a arquitetura e a escultura; • busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas; • efeitos de luz – luz de holofote; • pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida; • paisagem/natureza morta/cenas da vida cotidiana; • realista, abrangendo todas as camadas sociais. Representantes: Caravaggio (1573-1610), Velázquez (1599-1660), Rubens (1577-1640), Rembrandt (1606- 1669), Vermeer (1632-1675), Bernini (1598-1680), Mansart (1646-1708), Van Dyck e Frans Hals. Fonte: Disponível em: <http://www.jornaldastribos.com.br/barroco-resumo-historico-artes-e-cultura/>. Acesso em: 24 mar. 2015. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 19 Em comparação com as obras renascentistas, o Barroco rompe com o equilíbrio entre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciência dos artistas renascentistas, pois neste tipo de arte predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista. Há no estilo Barroco uma tentativa de conciliar forças antagônicas: bem e mal; Deus e Diabo; céu e terra; pureza e pecado; alegria e tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e matéria. No Brasil, a maior produção de obras barrocas foi em Minas Gerais, no século XVIII, isto porque as cidades eram ricas e possuíam uma intensa vida cultural e artística em pleno desenvolvimento. O artista que mais se destacou no Brasil, no estilo Barroco, foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa, também conhecido como Aleijadinho. Suas obras eram feitas em madeira e pedra-sabão e tinham um forte teor religioso. Vejam a seguir "Os Doze Profetas" e "Cristo carregando a cruz", Santuário de Congonhas, em Congonhas do Campo (MG), esculpidas por Aleijadinho. O Barroco iniciou-se com uma grande produção sacra de estátuas, disseminada por todo o litoral e em algumas regiões do interior do Brasil. Este tipo de arte encontrava espaço tanto no templo como no domicílio privado. As primeiras peças barrocas vieram com os missionários, mas a partir do século XVII começaram a se formar escolas conventuais locais de escultura, compostas principalmente por religiosos franciscanos e beneditinos, mas com alguns artesãos laicos, que trabalhavam principalmente o barro. Já os jesuítas esculpiam na madeira. Os índios das Reduções, tanto do Sul como Fonte: Disponível em: <http://www.jornalwebminas.com.br/interior_noticia.php?noticia=116508>. Acesso em: 26 mar. 2015 Figura 1.4 | Barroco no Brasil Tendências do ensino de arte no Brasil U1 20 do Nordeste, também esculpiram santos, apresentando muitas vezes traços étnicos índios no rosto das imagens. O pintor mineiro Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim também se destacaram neste estilo de arte. Em Salvador (BA), o Barroco destacou-se na decoração das igrejas, por exemplo, a de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Francisco. A partir do século XVI foram construídos alguns edifícios sacros que foram considerados importantes, por exemplo, em Olinda e Salvador. A técnica utilizada era muito simples, do pau-a-pique, eram cobertas com folhas de palmeira. Já os jesuítas se preocupavam com o aspecto, a durabilidade e solidez dos edifícios, preferindo sempre edificar com pedra e cal, embora muitas vezes, por circunstâncias variadas, foram obrigados a usar a taipa de pilão ou o adobe. Realizadas sobre pranchas de madeira, em um estilo proto-barroco ou maneirista, e subsidiárias à decoração em talha, as primeiras pinturas brasileiras barrocas surgiram. Fonte: Disponível em: <http://cean2c.blogspot.com.br/2011/11/ os-profetas-e-os-doze-passos-da-paixao.html>. Acesso em: 26 mar. 2015. Fonte: Disponível em: <http://pt.wikipedia. org/wiki/Escultura_dos_Sete_Povos_das_ Miss%C3%B5es>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.5 | Apóstolos – Congonhas do Campo-MG Figura 1.6 | Escultura dos Sete Povos das Missões Fonte: Disponível em: <http://bar-roco. blogspot.com.br/>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.7 | Igreja de S. Francisco Tendências do ensino de arte no Brasil U1 21 Fonte: Disponível em: <http://bar-roco. blogspot.com.br/>. Acesso em: 26 mar. 2015. Fonte: Disponível em: <http://abstracaocoletiva.com. br/2013/05/02/manuel-da-costa-ataide-biografia/>. Acesso em: 26 mar. 2015 Figura 1.8 | Primeiras pinturas brasileiras barrocas Figura 1.9 | Ascensão de Cristo,de Mestre Ataíde 1. O Barroco se contrapõe à arte renascentista. Apresente algumas características opostas entre o Barroco e a arte renascentista. 2. Qual era a missão da Companhia de Jesus no Brasil? Tendências do ensino de arte no Brasil U1 22 Tendências do ensino de arte no Brasil U1 23 Seção 2 Aspectos históricos do ensino de arte no Brasil Falaremos nesta seção sobre a Missão Artística Francesa, um grupo de artistas, arquitetos e artífices franceses, que vieram ao Brasil, a convite de D. João VI, para fundarem uma escola do ensino superior, a Academia Imperial de Belas Artes, e nela serem professores. Veremos sobre a Arte Neoclássica, que foi trazida por eles, e por fim conheceremos as tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil. Caros alunos, vimos na seção anterior as primeiras manifestações artísticas realizadas no Brasil, conhecemos algumas obras de arte do estilo Barroco brasileiro, e agora daremos continuidade neste breve retorno histórico para compreendermos melhor a trajetória do ensino de Arte no Brasil, o porquê de tantas distorções acerca desta disciplina e a forma de ser trabalhada. Para isto, convido você, prezado aluno, a juntos refletirmos sobre estas questões e começarmos a mudar o rumo desta história no sentido de, como professores, darmos o verdadeiro valor e significado à disciplina de Arte, tão importante no contexto escolar. 2.1 Missão artística francesa Para melhor entendimento sobre a disciplina de Arte, antiga Educação Artística, faz-se necessário um breve retorno histórico para, também, compreendermos alguns equívocos com relação à sua importância e ao conteúdo, que até hoje perduram nas escolas brasileiras. Desta forma, iniciaremos nossa conversa com a vinda de D. João VI e a família real de Portugal ao Brasil em 1808. Chegaram aqui em 14 navios. Além da família real, vieram também centenas de funcionários, criados, assessores e pessoas ligadas à Corte portuguesa. Trouxeram muito dinheiro, obras de arte, documentos, livros, bens pessoais e outros objetos de valor. Com a chegada de D. João VI e sua comitiva, este inicia uma série de ações para acomodar a Corte. Vieram com a família real mais ou menos 15 mil pessoas, e após 1822, muitos destes voltaram a Portugal. Das ações econômicas e culturais que favoreceram o desenvolvimento brasileiro, podemos citar: estímulo ao estabelecimento de indústrias no Brasil, construção de estradas, cancelamento da lei que não permitia a criação de fábricas no Brasil, reformas Tendências do ensino de arte no Brasil U1 24 em portos, criação do Banco do Brasil e instalação da Junta de Comércio. Foram criados o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico. Vários cursos, como agricultura, cirurgia, química, desenho técnico, dentre outros, foram criados nos estados da Bahia e Rio de Janeiro. Desta forma, a família real acomodou-se e deslocou definitivamente o eixo da vida administrativa da Colônia para o Rio de Janeiro, mudando também as fisionomias da cidade. Entre outros aspectos, esboçou-se uma vida cultural. Em setembro de 1808 veio a público o primeiro jornal editado na Colônia, Gazeta do Rio de Janeiro, com as notícias: “abriram-se teatros, bibliotecas, academias literárias e científicas”. Foram construídos chafarizes, para que houvesse fornecimento de água, pontes e calçadas, ruas e estradas, e a iluminação pública foi instalada. D. João VI não tinha uma imagem muito boa para os brasileiros, pois assim que chegou ao Rio de Janeiro, com a comitiva, obrigou muitos moradores a cederem seus imóveis privados para que a Coroa abrigasse todos. Os que o acompanhavam podiam escolher a residência que quisessem. Feita a escolha, as casas eram marcadas com as letras P. R. (Príncipe Regente), e os moradores tinham um tempo determinado para desocuparem os imóveis. Com tantas inovações e construções realizadas por D. João VI, estes moradores que cederam suas casas podiam arranjar emprego, foi este o intuito. Uma das ações de D. João VI foi convidar um grupo de artistas franceses, que era composto por artistas de reconhecido talento; estes pintavam, desenhavam, esculpiam no estilo Neoclássico, ou seja, à moda europeia. Este grupo foi denominado de Missão Artística Francesa, e eles vieram com o objetivo de fundar a Academia Imperial de Belas Artes, uma escola de ensino superior de Arte, onde os alunos aprenderiam as artes e os ofícios artísticos, onde eles seriam os professores. Sendo assim, em 26 de março de 1816 aportam no Rio de Janeiro, liderados por Joachim Lebreton, o pintor histórico Debret, o paisagista Nicolas Taunay e seu irmão, o escultor Auguste Marie Taunay, o arquiteto Grandjean de Montigny e o gravador de medalhas Charles-Simon Pradier, dentre outros. De acordo com Marcelo O. Uchoa: Composta por importantes nomes das artes francesas, veio para ser o marco inicial do ensino de arte no Brasil. Por ser uma empreitada grandiosa formada por um número grande de profissionais, 18 no total e contando com artistas de reconhecido talento e merecida estima, sempre suscitou desconfianças sobre como realmente surgiu a ideia de sua criação e de que forma ocorreram as negociações entre os artistas e os representantes da Coroa portuguesa que culminaram com a partida para o Brasil deste grande número de imigrantes franceses. Foram os franceses realmente convidados pela Coroa portuguesa Tendências do ensino de arte no Brasil U1 25 A Academia Imperial de Belas Artes foi fundada dez anos mais tarde, em 1826. Com relação à vinda da Missão Artística Francesa, há algumas versões: a de autoexílio, pois com a derrota de Bonaparte na Batalha de Waterloo e da restauração da monarquia na França, os antigos partidários de Napoleão passam a sofrer perseguições e perder cargos públicos, dentre eles, muitos artistas, sendo assim, estes se integram à Missão Artística Francesa. Há também a versão de que a organização da Missão Artística Francesa foi ideia do Marquês de Marialva, embaixador português em Paris, com o intuito de auxiliar o seu círculo de amizades, constituído de artistas e intelectuais franceses. Há a versão de que o Conde de Barca foi quem deu a sugestão para Dom João VI para fazer o convite. Outros ainda afirmam que os próprios franceses solicitaram ao governo português o exílio no Brasil, em busca de tranquilidade e prosperidade financeira. para criarem uma escola de artes no Brasil? Ou, pelo contrário, diante da desestruturação da sociedade francesa abalada por fortes acontecimentos políticos e sociais, procuraram estes, sendo seu representante o senhor Lebreton, a Coroa portuguesa e ofereceram seus préstimos e talentos? Fonte: <http://www. historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=963>. Fonte: Disponível em: <http://www.raulmendesilva.pro.br/projetobrasil/images/034.jpg>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.10 | Estilo Barroco - G. F. Guercino, Anjos velando o Cristo morto, 1618 Tendências do ensino de arte no Brasil U1 26 Nesse meio tempo, da chegada até a construção da Academia Imperial, os artistas franceses realizaram trabalhos para a Corte portuguesa. Montigny, Debret e Auguste Taunay participaram da organização dos cerimoniais da chegada da Imperatriz Leopoldina em 1817, aclamação de D. João VI em 1818 e a coroação de D. Pedro I em 1822. Enquanto a arte brasileira era a barroca, a Missão Artística Francesa trazia o estilo Neoclássico. O Brasil, especialmente em Minas Gerais, vivia naquele tempo a explosão do estilo Barroco, que defendia a ideia de beleza baseada no contraste, no exagero e na emocionalidade, e esse Neoclassicismo foi incorporado pelas elites brasileiras e classes dirigentes. A arte adquiriu a conotação de “luxo”, privilegiando a elite e desmerecendo as manifestações artísticas que nãose enquadravam nesses padrões, que seguiam os padrões do estilo Barroco. Vejamos a seguir duas pinturas, uma no estilo Barroco e outra no estilo Neoclassicista. Fonte: Disponível em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/06/01/939488/conheca-morte- marat-jacques-louis-david.html>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.11 | A Morte de Marat, de Jacques-Louis David - 1793 Caso queira conhecer mais o estilo Barroco: <http://arte-barroca.info/>. Agora conheça o estilo Neoclássico: <http://www.coladaweb.com/artes/neoclassicismo>. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 27 2.2 Arte neoclássica Características: • formalismo na composição refletindo racionalismo dominante; • exatidão nos contornos; • harmonia do colorido; • retorno ao passado, pela imitação dos modelos antigos greco-latinos; • academicismo nos temas e nas técnicas, ou seja, sujeição aos modelos e às regras ensinadas nas escolas ou academias de belas-artes; • arte entendida como imitação da natureza, um verdadeiro culto à teoria de Aristóteles; • os pintores deveriam seguir algumas regras da pintura, tais como: inspirada nas esculturas clássicas gregas e na pintura renascentista italiana, sobretudo em Rafael, mestre inegável do equilíbrio da composição e da harmonia do colorido. A Arte Neoclássica surgiu no final do século XVIII e nas três primeiras décadas do século XIX, tratava-se de uma nova tendência estética que predominou nas criações dos artistas europeus. Neoclassicismo (neo+novo), que expressou os valores próprios de uma nova e fortalecida burguesia, que assumiu a direção da sociedade europeia após a Revolução Francesa e, principalmente, com o Império de Napoleão. Fonte: <http://goo.gl/JPmE9u<>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.12 | Igreja de Santa Genoveva Tendências do ensino de arte no Brasil U1 28 A arquitetura Neoclássica, tanto nas construções civis quanto nas igrejas, seguiu o modelo dos templos greco-romanos ou o das edificações do Renascimento italiano. Veja a seguir a Igreja de Santa Genoveva, transformada depois no Panteão Nacional, em Paris: Conheça mais sobre o pintor Jacques-Louis David <http://abstracaocoletiva.com.br/2012/10/26/jacques-louis-david- biografia/>. Conheça um pouco mais sobre Jean-Baptiste Debret <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=688>. Fonte: Disponível em: <https://www.epochtimes.com.br/jacques-louis-david-representante-estilo-neoclassico-parte-1/#. VTAvefnF87c>.. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.13 | Jacques-Louis David Tendências do ensino de arte no Brasil U1 29 Fonte: <http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Ficheiro:Debretarruda.jpg>. Acesso em março / 2015 Fonte: Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/obras/melancolia_ld.htm>. Acesso em: 26 mar. 2015. Figura 1.14 | Vendedor de Arruda Figura 1.15 | Negra tatuada vendendo caju Tendências do ensino de arte no Brasil U1 30 Jean-Baptiste Debret foi um pintor francês de grande importância para a história da arte no Brasil. Viveu durante 15 anos no Brasil e desenvolveu uma intensa relação pessoal e emocional com o território brasileiro. Seu trabalho é considerado de grande importância para o Brasil, na medida em que se dedicou a retratar o cotidiano e a sociedade do século XIX, especialmente no Rio de Janeiro. Mesmo sendo considerado um pintor neoclássico, aluno e seguidor de seu primo David, Debret está numa posição de transição entre o neoclassicismo e o romantismo. Suas representações dos indígenas apresentam condições idealizadas, há um privilégio da emoção valorizando o individualismo, o sofrimento amoroso, a religiosidade cristã, a natureza e os temas do passado. Fonte: <http://www.infoescola.com/biografias/jean-baptiste-debret/>. 2.3 Tendências do ensino de arte no Brasil Dando continuidade a este retorno histórico, nossa conversa agora será sobre o ensino de Arte no Brasil. Conheceremos as tendências pedagógicas, pois o professor precisa conhecê-las para poder entendê-las e compreender o porquê de algumas distorções acerca da disciplina de Arte. Muitos arte-educadores, ao longo da história, lutaram para uma melhora no ensino de Arte nas últimas décadas. É importante sabermos como a Arte vem sendo ensinada, suas relações com a educação escolar e com o processo histórico- social. A partir dessas noções poderemos nos reconhecer na construção histórica, esclarecendo como estamos atuando e como queremos construir essa nossa história. (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 20-21). Vamos conhecer as tendências pedagógicas pelas quais o ensino de Arte passou. Para isto, nos baseamos em Libâneo (1989, p. 21), que propõe a seguinte classificação: Pedagogia liberal * tradicional * renovadora progressista * renovadora não diretiva * tecnicista Tendências do ensino de arte no Brasil U1 31 2.3.1 Pedagogia liberal 2.3.1.1 A pedagogia liberal tradicional Na pedagogia tradicional, o professor, elemento principal desse processo, transmite informações aos seus alunos e estes são agentes passivos, aos quais não é permitida nenhuma forma de manifestação. Esta tendência ficou marcada pela preocupação com a universalização do conhecimento, do treino intensivo, da repetição e da memorização. Dissociados da vivência dos alunos e de sua realidade social, os conteúdos na pedagogia tradicional são verdades absolutas. Os métodos se pautam na exposição verbal dos conteúdos, que são apresentados de forma linear e numa progressão lógica, sem levar em consideração as características próprias dos alunos. O professor é detentor do saber e deve avaliar o seu aluno por meio de provas escritas, orais, exercícios e trabalhos de casa. A avaliação se estabelece com ameaças, punições e até mesmo redução de notas em função do comportamento do aluno durante as aulas. Na questão do ensino e da aprendizagem da Arte, na tendência tradicional, esta continua restringindo-se à cópia e à repetição de modelos propostos pelo professor, com o objetivo de desenvolver a coordenação motora e a percepção visual do aluno, que se exercita ao copiar fielmente, o mais completo possível, do modelo original. Valorizavam as habilidades manuais, os “dons artísticos”, os hábitos de organização, precisão, coordenação motora, de limpeza, mostrando uma visão utilitarista e imediatista da arte, voltada essencialmente para o domínio técnico e na reprodução de modelos. Os trabalhos deveriam preparar para a vida profissional, servindo à ciência e à produção industrial, utilitária. Essa concepção está presente na maioria dos cursos de arte espalhados pelo país ainda hoje. Dando continuidade, vamos entrar no século XX. Em meados dos anos 50, a música começou a fazer parte do currículo, iniciam-se também disciplinas como “artes domésticas”, “trabalhos manuais” e “técnicas industriais”. A disciplina de Desenho era considerada mais pelo seu aspecto funcional, isto é, uma qualificação para o trabalho, do que uma experiência em arte. As atividades de teatro e dança só apareciam em festividades escolares, com uma finalidade única de ser apresentada, coisa que equivocadamente ainda perdura em muitas escolas contemporâneas. Em música, a tendência tradicionalista teve seu representante máximo no Canto Pedagogia progressista * libertadora * libertária * crítico-social dos conteúdos Tendências do ensino de arte no Brasil U1 32 Orfeônico, projeto preparado pelo compositor Heitor Villa-Lobos. Esse projeto foi uma referência importante, por ter levado a linguagem musical a todo o país. O Canto Orfeônico difundia ideias de coletividade e civismo, princípios condizentes ao momento político de então. Entre as décadas de 50 e 60, surge a influência de um movimento denominado Escola Nova, já presente na Europa e nos Estados Unidos desde o final do séculoXIX. Fortemente sustentado pela estética modernista e com base na escolanovista, o ensino da Arte volta-se para o desenvolvimento natural do aluno, centrado no respeito às suas necessidades e aspirações, valorizando suas formas de expressão e compreensão do mundo. A ênfase nesse momento volta-se para os processos de desenvolvimento do aluno e de sua criação. Dessa forma, o ensino direciona-se para a livre expressão, refletindo, muitas vezes, uma concepção espontaneísta e a valorização do processo de trabalho. A pedagogia é centrada no aluno, o professor é um mero espectador, seu papel é dar oportunidades para que o aluno se expresse de forma espontânea, pessoal, tendo como máxima a valorização da criatividade no ensino de Arte. Como todo processo artístico deveria vir do aluno, o conteúdo dessas aulas era quase exclusivamente um “deixar fazer” e acrescentava muito pouco ao aprendizado em Arte. 2.3.1.2 A pedagogia liberal renovada De acordo com Libâneo, a tendência renovada manifesta-se por meio de duas versões: "renovada progressista ou renovada programática”, que tem em Anísio Teixeira seu principal expoente, e "renovada não diretiva”, com Carl Roger como elemento de destaque, o qual enfatiza também a igualdade e o sentimento de cultura como desenvolvimento de aptidões individuais. Com relação às concepções: renovada progressista e renovada não diretiva, na primeira, cabe à escola adequar os conteúdos à vida do aluno, ao seu contexto, ou seja, as necessidades do indivíduo ao meio social em que está inserido; já a segunda - renovada não diretiva, se preocupava com os aspectos psicológicos, ao invés dos aspectos pedagógicos ou sociais, pois passa à escola o papel de formar atitudes. A pedagogia renovada é também conhecida como Escola Nova ou Escolanovismo. Este movimento buscava reformas educacionais urgentes, e aconteceu paralelamente com a pedagogia tradicional. "Por educação nova entendemos a corrente que trata de mudar o rumo da educação tradicional, intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a esse movimento o nome de `escola ativa´" (LUZURIAGA, 1980, p. 227). A Escola Nova rompe com as "cópias de modelos", e parte para a criatividade e a livre expressão. A estética moderna privilegia a inspiração e a sensibilidade, acentuando o respeito à individualidade do aluno, pois ele é o centro. Na concepção escolanovista, Tendências do ensino de arte no Brasil U1 33 2.3.1.3 A pedagogia liberal tecnicista cabia à educação adaptar os estudantes ao seu ambiente social. Os educadores que adotam essa concepção acreditam em uma sociedade mais justa e igualitária. "Do ponto de vista da Escola Nova, os conhecimentos já obtidos pela ciência e acumulados pela humanidade não precisariam ser transmitidos aos alunos, pois acreditava-se que, passando por esses métodos, eles seriam naturalmente encontrados e organizados" (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 28). Sem dúvida alguma, a pedagogia escolanovista teve sua importância, pois rompeu com os padrões estéticos e metodológicos tradicionais, no entanto, criou-se uma postura não diretiva, onde tudo em arte era permitido em nome da livre expressão. Com isso, houve também um entendimento equivocado quanto às concepções da Escola Nova, a preocupação em Artes Visuais passa a ser com o "desenho livre" e o conhecimento é deixado de lado, gerando um espontaneísmo. Seu objetivo principal é o desenvolvimento da criatividade. Assim como a pedagogia tradicional, ela também está presente em nossos dias, influenciando as aulas de Arte. A educação passa por um período de estagnação, com a ditadura militar. A Escola Nova é afastada do poder e, consequentemente, o ensino-aprendizagem da arte fica adormecido por mais um tempo, até que surge outro movimento, contrapondo-se à pedagogia tradicional, que origina a Educação pela Arte, propondo a livre expressão, onde a arte é considerada essencialmente expressiva, portanto "não se ensina, se expressa". Na década de 60, com a redemocratização, após a ditadura, tenta-se recuperar algumas características da Escola Nova, que infelizmente não retoma seu enfoque verdadeiro e original, pois interesses políticos desvirtuam sua proposta inicial. Mesmo assim, essa década caracteriza-se pelas tentativas de mudanças nas áreas social, educacional e cultural. Neste movimento Educação pela Arte, Augusto Rodrigues é elemento fundamental, isto porque ele criou a Escolinha de Arte do Rio de Janeiro (1948). Na união entre a arte e a educação, o intuito era transformar a educação e os professores, ou seja, unir arte com a educação, com isso acreditavam que conseguiriam o respeito integral à livre expressão das crianças. Este sonho foi concretizado e a criança pôde exercer sua capacidade de criar em liberdade, tendo ao seu lado o professor que lhe facilitava o acesso aos materiais e lhe possibilitava a autoexpressão. Esse movimento restringe-se ao ensino não formal, extracurricular e extraescolar, pois a escola de visão tradicional só mais tarde recebe o reflexo de seus ensinamentos. A preocupação é com as técnicas, e o conhecimento também é deixado de lado. Introduzida no Brasil entre 1960 e 1970, a Pedagogia Liberal Tecnicista, que surgiu nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, pregava que o homem era Tendências do ensino de arte no Brasil U1 34 um produto do meio. É uma consequência das forças existentes em seu ambiente. A consciência do homem é formada nas relações acidentais que ele estabelece com o meio ou controlada cientificamente através da educação. A Pedagogia Liberal Tecnicista visava a um acréscimo de eficiência da escola, objetivando a preparação de indivíduos mais “competentes” e produtivos, conforme a solicitação do mercado de trabalho com o processo de industrialização e desenvolvimento econômico. Sendo assim, visava adequar o sistema educacional com a proposta econômica e política do regime militar, preparando, dessa forma, mão de obra para ser aproveitada pelo mercado de trabalho. O professor passa a ser considerado como um “técnico” responsável por um competente planejamento dos cursos escolares. No ensino de Arte a tendência tecnicista elimina fundamentos teóricos em detrimento do "saber construir" e "saber exprimir-se". Nessa fase, percebe-se grande ênfase no uso de materiais alternativos, conhecidos na maioria das escolas como sucata e lixo limpo. O professor de Arte busca socorro para suas dúvidas nos livros didáticos que estão no mercado para serem consumidos desde o final dos anos 70. Em 1971, com a Lei nº 5692, foi criado o componente curricular “Educação Artística”. A lei determinava que fossem abordados conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas nos cursos de 1º e 2º graus (Ensino Fundamental e Ensino Médio), com um único professor para dominar todas as linguagens. Em apenas dois anos, em cursos de Licenciatura Curta (mais tarde Plena), poderiam ser contratados ou prestar concurso para assumir a área de Educação Artística. Tais cursos visavam à polivalência em arte. Colocavam no mercado de trabalho profissionais totalmente distanciados da arte e da prática educacional. É banido das escolas o espírito crítico e reflexivo, e a tendência tecnicista firma- se nos anos 70, alicerçada no princípio da otimização: racionalidade, eficiência e produtividade. Com sua organização racional e mecânica, visava corresponder aos interesses da sociedade industrial. Os professores de Desenho, Música, Trabalhos Manuais, Canto Coral e Artes Aplicadas, que vinham atuando segundo os conhecimentos específicos de suas linguagens, viram esses saberes repentinamente transformados em "meras atividades artísticas". Desde a sua implantação, observa-se que a Educação Artística é tratada de modo indefinido, o que fica patente na redação de um dos documentos explicativosda lei, ou seja, o Parecer nº 540/77: "Não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses" (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 37-38). 2.3.2 Pedagogia progressista A partir da inquietação de professores na década de 60, surge a tendência Tendências do ensino de arte no Brasil U1 35 progressista, pois estes estavam angustiados com relação ao rumo que vinha tomando a educação. Desta forma, iniciam discussões e questionamentos relacionados à educação, com ênfase na escola pública, no que diz respeito à real contribuição desta para a sociedade. Já em meados dos anos oitenta, professores de Educação Artística começaram a se reunir em seminários, grupos de estudos, congressos e outros, para discutir questões relacionadas ao ensino de Arte. Desses encontros constituiu-se um movimento denominado Arte-Educação, inicialmente com a finalidade de conscientizar e organizar profissionais de Educação Artística. O movimento Arte-Educação ampliou discussões sobre a valorização e o aprimoramento deste profissional. As ideias e princípios multiplicaram-se em diversas regiões do Brasil. O objetivo dessas reuniões era formar associações que discutissem questões referentes aos cursos de Educação Artística, desde a Educação Infantil até a universidade, pois a situação em que as aulas vinham sendo ministradas era caótica. Havia muita distorção com relação à disciplina e aos seus conteúdos. Ainda hoje é comum as aulas de Arte serem confundidas como lazer, terapia, descanso das aulas “sérias”, o momento para fazer a decoração da escola, preparar as festas, comemorar determinada data cívica e muitas outras posturas e ações equivocadas em torno da disciplina. Estes encontros e congressos do Movimento Arte-Educação geraram concepções e novas metodologias para o ensino e a aprendizagem de Arte nas escolas. Eles contribuíram para uma pequena mudança, conquistando, assim, um espaço no cenário nacional, se bem que ainda há muito a percorrer. Qual foi o objetivo do Movimento Arte-Educação? Finalmente, nos anos 90, a disciplina de Arte, antiga Educação Artística, é reconhecida como disciplina, consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96), aprovada em 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 26, parágrafo 2º: “O ensino da Arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Com relação à nomenclatura dessa disciplina, em janeiro de 2006, no Artigo 26 da LDBEN nº 9394/96 e a Resolução nº 01/2006 – CNE/CEB informam que as escolas municipais que ofertam o Ensino Fundamental de 1ª à 4ª e de 5ª à 8ª séries, terão suas matrizes curriculares alteradas, a nomenclatura da disciplina de “Educação Artística” (0701) para “Artes” (0725). Desta forma, oficialmente, até 2010, Tendências do ensino de arte no Brasil U1 36 passou a ser chamada de ARTES (no plural). Houve na época uma grande polêmica quanto a esta nomenclatura, pois na LDB 9.394/96 o nome da disciplina vinha no singular “ARTE”. Infelizmente, o Conselho cometeu um equívoco na época, de acordo com Sueli Mello, funcionária do MEC/ DCOCEB/COEF, porque deveria acompanhar a LDB Nº 9.394/96, já promulgada e que designava a área como "Arte" - e não "Artes". Com a atualização das Diretrizes em 2010 (Parecer e Resolução Nº 7/2010), o que ficou em vigor foi a nomenclatura "Arte", no singular. Sendo assim, a nomenclatura que está em vigor até o momento é ARTE. Outra questão relevante envolvendo a disciplina de Arte diz respeito à Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003: Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Art. 1º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: Art. 26- A. Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. §1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. §2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Licenciatura e História Brasileiras. Art. 79-B O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Art.2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2003 (BRASIL, 1996). Em 1997 os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte já apresentavam uma proposta de ensino multicultural, o conhecimento e apreciação de obras de arte diversas, seus produtores e manifestações artísticas em geral. A sugestão era a realização de leituras de obras de arte de origem: Europeia, Americana, Africana, Asiática e da Oceania, dentre outros, sem direcionamentos e sem preconceitos a esta ou aquela obra e seu produtor. As leituras são sugeridas tanto de obras de arte eruditas como também as de cultura popular, as renomadas, como as pouco conhecidas (do bairro, cidade, regionais, nacionais e internacionais), as antigas e as contemporâneas e assim Tendências do ensino de arte no Brasil U1 37 por diante, portanto, quando mencionamos “obras de arte diversas”, subentende-se que a escolha aconteça sem distinção de época, cultura e etnia. Outra alteração, em relação à disciplina de Arte, diz respeito ao projeto de lei que o Senado aprovou e que inclui o aprendizado de música nas grades curriculares das escolas. A Lei n.º 11.769, publicada no dia 18/08/08 no Diário Oficial da União, inclui na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira o ensino de música como conteúdo obrigatório. A proposta altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - nº 9.394/96), que já determina o aprendizado de arte nos ensinos Fundamental e Médio, mas sem especificar o conteúdo. Pelo projeto, o ensino musical deveria ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do ensino de Arte no currículo regular da educação básica. Os sistemas de ensino terão três anos letivos para se adaptar às exigências estabelecidas. Embora tantas décadas se passaram, permanecem norteando a prática de grande parte dos professores as tendências tradicionais – escolanovista e tecnicista, nas escolas brasileiras, tanto na educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), bem como no Ensino Superior. Em um artigo publicado em 1981, Saviani descreveu com muita propriedade certas confusões que se emaranham na cabeça de professores [...]. Ele escreveu: "Os professores têm na cabeça o movimento e os princípios da Escola Nova. A realidade, porém, não oferece aos professores condições para instaurar a escola nova, porque a realidade em que atuam é tradicional" [...]. A essa contradição se acrescenta uma outra [...], o professor se vê pressionado pela pedagogia oficial que prega a racionalidade e a produtividade do sistema e do seu trabalho, isto é, ênfase nos meios (tecnicismo) [...] (LIBÂNEO, 1989, p. 20). 1. Percebe-se que na Educação Básica, em escolas brasileiras, a influência, referente ao ensino de Arte, persiste em seguir algumas tendências pedagógicas. Quais as tendências mais utilizadas pelos professores? Assinale a alternativa correta. a. ( ) Tradicionais – contemporânea e moderna. b. ( ) Tradicionais - escolanovista e tecnicista. c.( ) Moderna - tradicional e tecnicista. d. ( ) Contemporânea - escolanovista e tecnicista. e. ( ) Tradicionais - escolanovista e Escola Nova. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 38 2. Com relação à metodologia do ensino de Arte, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (BRASIL, 1997) se baseiam em qual proposta? a. ( ) Triangular de Ana Mae Barbosa. b. ( ) Quadrangular dos PCNs. c. ( ) Tendência Pedagógica Tradicional. d. ( ) Na metodologia de projetos. e. ( ) triangular de Mirian Celeste Martins. A partir dessas tendências pedagógicas estudadas, em qual você acha que se enquadram suas aulas de Arte ou Educação Artística? Tradicional, Escolanovista, Tecnicista? Linha do tempo do ensino de Arte no Brasil 1816 Durante o governo de Dom João VI, chega ao Rio de Janeiro a Missão Artística Francesa e é criada a Academia Imperial de Belas Artes. Seguindo modelos europeus, é instalado oficialmente o ensino de Arte nas escolas. 1900 Até o início do século 20, o ensino do Desenho é visto como uma preparação para o trabalho em fábricas e serviços artesanais. São valorizados o traço, a repetição de modelos e o desenho geométrico. 1922 Apesar da efervescência das manifestações da Semana de Arte Moderna, o ensino segue as tendências da escola tradicional, que defende a necessidade de copiar modelos para treinar habilidades manuais. 1930 O compositor Heitor Villa-Lobos, no governo de Getúlio Vargas, institui o projeto de canto orfeônico nas escolas. São formados corais, que se desenvolvem pela memorização de letras de músicas de caráter folclórico e cívico. 1935 O escritor Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do município de São Paulo, promove um concurso de desenho para crianças Tendências do ensino de arte no Brasil U1 39 com tema livre. O ganhador recebe uma quantia em dinheiro. 1948 É criada no Rio de Janeiro a primeira "Escolinha de Arte", com a intenção de propor atividades para o aluno desenvolver a autoexpressão e a prática. Em 1971, chega a 32 o número de instituições particulares desse tipo no país. 1960 As experimentações que marcam a sociedade, como o movimento da Bossa Nova, influenciam o ensino de Arte nas escolas de todo o país. É a época da tendência da livre expressão se expandir pelas redes de ensino. 1971 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Educação Artística (que inclui artes plásticas, educação musical e artes cênicas) passa a fazer parte do currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio. 1973 Criação dos primeiros cursos de licenciatura em Arte, com dois anos de duração e voltados à formação de professores capazes de lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico. 1989 Desde 1982 desenvolvendo pesquisas sobre três ideias (fazer, ler imagens e estudar a história da arte), Ana Mae Barbosa cria a Proposta Triangular, que inova ao colocar obras como referência para os alunos. 1996 A LDB passa a considerar a Arte como disciplina obrigatória da Educação Básica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que ela é composta de quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. Fonte: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/conhecer- cultura-soltar-imaginacao-427722.shtml?page=4>. Acesso em: 03 abr. 2015. As principais questões trabalhadas na unidade levaram os alunos a conhecerem, refletirem e compreenderem: • a Missão Jesuítica no Brasil, também denominada de Companhia de Jesus, cujo objetivo era a catequização indígena, utilizando o ensino de Arte como um dos caminhos encontrados por eles. Sua influência na cultura da época e no ensino de Arte e o legado deixado; • o Barroco brasileiro, um estilo de arte que foi trazido ao Brasil Tendências do ensino de arte no Brasil U1 40 pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses, suas principais características, os artistas brasileiros que mais se destacaram; • a Missão Artística Francesa, um grupo de artistas, arquitetos e artífices franceses, que vieram ao Brasil, a convite de D. João VI, para fundarem uma escola do ensino superior, a Academia Imperial de Belas Artes, e nela serem professores. Quais artistas se destacaram neste grupo e qual enfoque era dado ao ensino de Arte; • a arte Neoclássica, trazida pela Missão Artística Francesa, suas principais características; • as tendências pedagógicas do ensino de Arte no Brasil e a proposta contemporênea para este ensino. Chegamos ao final desta unidade, esperamos tê-los provocado no sentido de instigá-los a pesquisar, a querer saber mais sobre o ensino de Arte no Brasil, sobre as influências sofridas, o porquê de tantas distorções e como você, prezado aluno, pode contribuir para melhorar o ensino de Arte, mais especificamente, artes visuais em espaços educativos. 1. Leia com atenção as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta de acordo com as afirmações. I. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96), aprovada em 20 de dezembro de 1996, estabelece em seu artigo 26, parágrafo 2º: o ensino da arte poderá constituir componente curricular obrigatório, portanto é facultativo ter este complemento educacional nas escolas. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 41 II. A Missão Jesuítica era uma ordem religiosa composta por padres jesuítas e tinha um cunho evangelizador, cujo objetivo era proclamar a religião católica e trazer de volta seus fiéis. III. Em 1808, com a vinda da família real de Portugal para o Brasil, inicia-se uma série de ações para acomodar a Corte, e uma dessas ações foi a vinda de um grupo de artistas franceses, em 1816, a pedido de Dom João VI. Esse grupo ficou conhecido por Missão Artística Francesa. a. ( ) Apenas as alternativas I e III estão corretas. b. ( ) Todas as alternativas estão corretas. c. ( ) Apenas as alternativas II, III estão corretas. d. ( ) Todas as alternativas estão incorretas. e. ( ) Apenas as alternativas I e II estão corretas. 2. Assinale a alternativa correta: Em 1816, a pedido de Dom João VI, chega ao Brasil a Missão Artística Francesa. a. A tarefa desse grupo no Brasil era fundar a Academia Imperial de Belas Artes, na qual eles atuariam também como professores. Um dos destaques deste grupo era Jean-Baptiste Debret, que retratou, por intermédio de suas aquarelas, cenas do cotidiano do Rio de Janeiro. b. A tarefa desse grupo no Brasil era ensinar arte para os índios. Um dos destaques deste grupo era Jean-Baptiste Debret, que retratou, por intermédio de suas aquarelas, cenas do cotidiano do Rio de Janeiro. c. A tarefa desse grupo no Brasil era introduzir a arte barroca. Um dos destaques deste grupo era Jean-Baptiste Debret, que retratou, por intermédio de suas aquarelas, cenas do cotidiano do Rio de Janeiro. d. A tarefa desse grupo no Brasil era fundar um jornal. Um dos destaques deste grupo era Jean-Baptiste Debret, que retratou, por intermédio de suas aquarelas, cenas do cotidiano do Rio de Janeiro. e. A tarefa desse grupo no Brasil era incrementar a vida cultural brasileira fundando jornais, museus e escolas. Um dos destaques deste grupo era Jean-Baptiste Debret, que retratou, por intermédio de suas aquarelas, cenas do cotidiano do Rio de Janeiro. Tendências do ensino de arte no Brasil U1 42 3. A Missão Jesuítica era uma ordem religiosa composta por padres jesuítas e tinha um cunho evangelizador. Quando chegaram os jesuítas no Brasil e qual era o objetivo? a. ( ) No Brasil os jesuítas chegaram em 1749 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião protestante. b. ( ) No Brasil os jesuítas chegaram em 1849 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião católica. c. ( ) No Brasil os jesuítaschegaram em 1949 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião católica. d. ( ) No Brasil os jesuítas chegaram em 1549 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião católica. e. ( ) No Brasil os jesuítas chegaram em 1549 e o seu objetivo era catequizar os índios à religião protestante. 4. A arte vinda da Europa era a Barroca, desta forma, como as irmandades eram ricas, cada uma procurava se destacar mais do que a outra. Com isto, investiam muito dinheiro em ornamentação dos templos. Marque a alternativa que apresenta todos os ítens como características do estilo Barroco. a. Composição simétrica, em diagonal – entrelaçamento entre a arquitetura e escultura – equilíbrio. b. emoção e intensidade dramática – unidade geométrica - emoção e intensidade dramática – pintura abstrata. c. linhas curvas – equilíbrio, simetria – formas geométricas - emoção e intensidade dramática. d. jogos claros-escuros, contrastes – simetria – pintura abstrata – equilíbrio – estilo dinâmico. e. jogos claros-escuros, contrastes – emoção e intensidade dramática – estilo dinâmico – composição assimétrica, em diagonal. 5. Atualmente, percebe-se nas escolas brasileiras de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, bem como no Ensino Superior, a influência persistente de algumas tendências pedagógicas. Assinale a alternativa correta. f. ( ) tradicionais – contemporânea e moderna g. ( ) moderna – tradicional e tecnicista h. ( ) contemporânea – escolanovista e tecnicista i. ( ) tradicionais – escolanovista e tecnicista j. ( ) tradicionais – escolanovista e Escola Nova U1 43Tendências do ensino de arte no Brasil Referências AMSBERG, D. Os jesuítas e sua influência no ensino e na arte brasileira. O Ensino dos jesuítas. Disponível em: <http://maniacolorida.blogspot.com.br/2010/03/os-jesuitas- e-sua-influencia-no-ensino_28.html>. Acesso em: 27 jun. 2014. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2008a. _________. Ensino da arte: memória e história. São Paulo: Perspectiva, 2008b. _________. Inquietações e mudanças no ensino da arte. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008c. CAVA, Laura Célia Sant’Ana Cabral. Ensino das artes: pedagogia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. FUSARI, Maria F. R.; FERRAZ, Maria H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítica-social dos conteúdos. 8. ed. São Paulo: Loyola, 1989. 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Seção 1 | Arte como conhecimento Objetivos de aprendizagem: • refletir a arte como conhecimento; • os campos conceituais da Arte sugeridos pela Proposta Triangular trazida ao Brasil por Ana Mae Barbosa, e que tipo de conhecimento eles promovem; • compreender o que seja uma aula contextualizada; • saber a didática do ensino de Arte; • apresentar conteúdos de artes visuais na Educação Infantil e Ensino Fundamental I. • organizar o espaço da sala de aula, a disposição dos móveis e materiais e possibilitar o manuseio de diferentes materiais, ferramentas e técnicas; • saber fazer um planejamento e avaliar em artes visuais. Laura Célia Sant’Ana Cabral Cava Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica U2 46 Nesta seção refletimos sobre a didática do ensino e aprendizagem de artes visuais, sobre a organização do espaço na sala de aula e na composição artística, sobre a diversidade de materiais oferecidos e como utilizá-los, e também sobre alguns procedimentos metodológicos nas aulas de artes visuais; falaremos da importância do desenho na vida da criança, como trabalhar com propostas de desenhos que não possibilitem a criação de modelos estereotipados. Por fim, apresentaremos conteúdos de artes visuais na Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Seção 2 | Didática do ensino de Arte Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica U2 47 Introdução à unidade Caro aluno! Você já conheceu o histórico do ensino de Arte no Brasil, recordou sobre duas tendências artísticas: Barroco e Neoclássica. Agora, nesta unidade, vamos refletir sobre a arte como conhecimento, vamos refletir um pouco mais sobre as distorções com relação aos conteúdos e objetivos do ensino de Arte, a metodologia sugerida na contemporaneidade e sobre a didática do ensino de Arte. Existem muitos entendimentos equivocados sobre: por que ensinar Arte, o que ensinar e como ensinar. Sendo assim, será sobre estes assuntos e tantos outros que apresentaremos. Vamos compreender também como a arte é entendida pela criança, pois vocês se formarão professores da educação básica, para trabalhar na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Sendo assim, torna-se relevante pensar no ensino de Arte desde a Educação Infantil. Acredito que esta disciplina, Metodologia do Ensino de Arte, provocará você, prezado aluno, a querer melhorar o ensino de Arte neste cenário educacional brasileiro, lecionando a Arte, mais especificamente, as artes visuais, da melhor maneira possível, como tantos outros arte-educadores o fizeram e lutaram para que houvesse mudanças. E algumas aconteceram, embora haja muito ainda a mudar. Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica U2 48 Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica Aspectos metodológicos do ensino das artes visuais na educação básica U2 49 Seção 1 Arte como conhecimento Vamos iniciar a primeira seção refletindo sobre a arte desde a Pré-história até nossos dias. Pensando no contexto escolar, sua importância e também seu aspecto lúdico para a criança. Estudaremos a arte como conhecimento, embora ela mexa com emoções e sentimentos. Desta forma, prezado aluno, espero que com esta leitura você consolide seus conhecimentos e compartilhe comigo experiências sensíveis. 1.1 Papel da arte na vida do ser humano A arte comunica? Existem pessoas que se expressam por meio da palavra, outras por meio
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