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NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO 
 
 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
Coordenação Pedagógica – IBRA 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
 
 
 
TEORIA DO CRIME 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Índice 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 4 
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL ........................................................................................... 5 
1.1 Anterioridade da Lei ..................................................................................................... 5 
1.2 Lei Penal no Tempo ...................................................................................................... 5 
2. CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES ................................................................................. 7 
2.1) Crimes comuns ............................................................................................................. 7 
2.2) Crimes próprios ou especiais ..................................................................................... 8 
2.3) Crimes de mão própria ................................................................................................ 8 
2.4) Crime de dano .............................................................................................................. 9 
2.5) Crimes de perigo .......................................................................................................... 9 
2.6) Crimes materiais .......................................................................................................... 9 
2.7) Crimes formais ...........................................................................................................10 
2.8) Crimes de mera conduta ...........................................................................................10 
2.9) Crimes comissivos .....................................................................................................10 
2.10) Crimes omissivos .....................................................................................................11 
2.11) Crimes comissivos por omissão ............................................................................11 
2.12) Crimes instantâneos ................................................................................................11 
2.13) Crimes permanentes ...............................................................................................11 
2.14) Crimes instantâneos de efeito permanente .........................................................12 
2.15) Crime continuado .....................................................................................................12 
2.16) Crimes principais .....................................................................................................12 
2.17) Crimes acessórios ...................................................................................................12 
2.18) Crimes condicionados e crimes incondicionados ...............................................13 
2.19) Crimes simples e crimes complexos ....................................................................13 
2.20) Crime progressivo ....................................................................................................14 
2.21) Crime putativo ..........................................................................................................14 
2.22) Crime de flagrante esperado ..................................................................................14 
2.23) Crime de flagrante preparado ................................................................................15 
2.24) Crime putativo provocado .......................................................................................15 
2.25) Crime impossível......................................................................................................16 
2.26) Crime consumado e crime tentado .......................................................................17 
2.27) Crime falho ................................................................................................................17 
2.28) Crimes plurissubsistentes e unisubsistentes .......................................................18 
2.29) Crime exaurido .........................................................................................................18 
2.30) Crime doloso e crime culposo ................................................................................18 
2.30.1) crime preterdoloso ............................................................................................19 
2.31) Crime simples ...........................................................................................................20 
2.32) Crime privilegiado ....................................................................................................20 
2.33) Crime qualificado .....................................................................................................20 
2.34) Crime subsidiário .....................................................................................................21 
2.35) Crime vago ................................................................................................................21 
2.36) Crime de ação múltipla ...........................................................................................21 
2.37) Crime habitual ..........................................................................................................21 
2.38) Crime a distância e crime plurilocal ......................................................................22 
2.39) Crimes hediondos ....................................................................................................22 
3. TEMPO DO CRIME ......................................................................................................... 23 
 
3 
 
 
 
 
 
4. LUGAR DO CRIME ...........................................................................................................24 
5. TEORIA DO CRIME ..........................................................................................................25 
5.1 Fato Típico ....................................................................................................................26 
5.1.1 Conduta .................................................................................................................27 
5.1.2 Resultado ..............................................................................................................29 
5.1.3 Nexo causal ..........................................................................................................32 
5.1.4 Tipicidade ..............................................................................................................34 
5.2 Antijurídico (ilícito) .......................................................................................................35 
5.2.1 Estado de necessidade .......................................................................................36 
5.2.2 Legítima Defesa ...................................................................................................37 
5.2.3 Estrito Cumprimento do dever legal ..................................................................38 
5.2.4 Exercício Regular do Direito ...............................................................................39 
5.2.5 Excesso nas excludentes de ilicitude................................................................40 
5.2.6 Causas supralegais de exclusão de ilicitude ...................................................40 
5.3 Culpabilidade ...............................................................................................................41 
5.3.1 Imputabilidade ......................................................................................................455.3.2 Potencial Conhecimento da Ilicitude .................................................................49 
5.3.3 Inexigibilidade de Conduta Diversa ...................................................................50 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................53 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Sejam bem-vindos ao curso de Especialização em DIREITO PENAL 
oferecido pelo IBRA. 
Esforçamo-nos para oferecer um material condizente com a graduação 
daqueles que se candidataram a esta especialização, procuramos referências 
atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. 
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar ser, não são neutras, 
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos 
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou 
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e 
provado pelos pesquisadores. 
Não obstante, que o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, 
colocamo-nos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que 
nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e 
melhorar nosso trabalho. 
Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, os 
alunos são livres para estudar da melhor forma para que possam se organizar, 
lembrando que: aprender e refletir sobre a própria experiência se somam e que a 
educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a 
formação dos nossos alunos. 
Esta apostila contempla os seguintes conteúdos: Teoria do Crime; Aplicação 
da Lei Penal; Tempo, Lugar e Classificação dos Crimes. 
Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos 
serem os mais importantes para a disciplina. 
Desejamos um bom estudo a todos e caso surjam algumas lacunas, ao final 
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar 
dúvidas e aprofundar os conhecimentos. 
 
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TEORIA DO CRIME 
 
 
1. APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
 
1.1 Anterioridade da Lei 
 
O artigo 1º do Código Penal trata do princípio da legalidade, sendo este 
identificado pela maioria da doutrina como o mais importante se seus princípios. 
 
Código Penal (BRASIL, 1940): 
ANTERIORIDADE DA LEI 
Art. 1. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia 
cominação legal. 
 
 
Este princípio pode ser fracionado em outros dois subprincípios: 
anterioridade e reserva legal. Sendo que a anterioridade está definida na primeira 
parte do artigo 1º (Não há crime sem lei anterior que o defina) e a reserva legal 
definida na parte subseqüente (Não há pena sem prévia cominação legal). 
É chamado princípio da reserva legal, pois que a definição dos crimes e das 
respectivas penas deve ser dada apenas e exclusivamente pela lei. Sua 
complementação ocorre com o princípio da anterioridade que consigna a 
necessidade de a lei estabelecer previamente as condutas consideradas criminosas 
com a cominação das penas que julgar adequadas. 
 
 
1.2 Lei Penal no Tempo 
 
A Eficácia da Lei Penal no tempo vem regulada pelo art. 2º do Código Penal: 
 
 
Código Penal (BRASIL, 1940): 
Lei penal no tempo 
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de 
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais 
da sentença condenatória. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
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Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, 
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença 
condenatória transitada em julgado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
 
 
Assim, como nenhuma forma de manifestação de vida consegue evitar a 
ação corrosiva e implacável do tempo, a lei penal também nasce, vive e morre. E, 
desde que uma lei entra em vigor, ela rege todos os atos abrangidos por sua 
destinação, até que cesse a sua vigência. A lei anterior, como regra, perde sua 
vigência quando entra em vigor uma lei nova regulando a mesma matéria 
(BITENCOURT, 2012, p. 159). 
Entre estes dois limites — entrada em vigor e cessação de sua vigência — 
situa-se a sua eficácia. A Lei não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou depois 
dos dois limites extremos: não retroage nem tem ultra-atividade. É o princípio 
tempus regit actum1. (DAMÁSIO DE JESUS, 1988, p. 61). 
Portanto, a lei penal produzirá efeitos, em regra, no período da sua vigência, 
de acordo com a lei vigente na época do fato. Uma vez praticado um crime, as 
regras aplicadas serão aquelas vigentes naquela data. Entretanto, existe exceção à 
regra supracitada, que ocorre nos casos de extra-atividade da lei penal, que abrange 
a retroatividade da lei mais benéfica e sua ultra-atividade. 
Extra-atividade é a possibilidade de a lei penal, depois de revogada, 
continuar a regular fatos ocorridos durante a sua vigência (ultra-atividade) ou 
retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor 
(retroatividade). 
Ocorre a Ultra-atividade quando a lei, mesmo depois de revogada, continua 
a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência. Ocorre a Retroatividade quando 
se possibilita à lei penal retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos 
anteriormente à sua entrada em vigor. 
Nos termos do artigo 5º, XL, da CF/88 a lei penal não retroagirá, salvo para 
beneficiar o réu. Adota-se como regra a proibição da retroatividade in pejus (para 
prejudicar o agente), permitindo somente a retroatividade in melius (para beneficiá- 
lo). 
 
 
1 
Tempus regit actum é uma expressão jurídica latina que significa literalmente o tempo rege o ato, no sentido 
de que os atos jurídicos se regem pela lei da época em que ocorreram. Porém, existem duas exceções possíveis 
que consistem na validade da lei a algo ocorrido anteriormente ao início de sua vigência (retroatividade) e 
futuramente à revogação da referida (ultratividade). 
 
7 
 
 
 
 
 
Nos termos do parágrafo único do artigo 2º do Código Penal, a lei nova, 
editada posteriormente à conduta do agente, pode conter dispositivos que o 
beneficiem ou que o prejudiquem. Se beneficiá-lo, será considerada uma novatio 
legis in mellius. Se prejudica-lo será considerada uma novatio legis in pejus. 
A novatio legis in mellius terá sempre efeito retroativo, sendo aplicada aos 
fatos ocorridos anteriormente à sua vigência, ainda que já tenha havido sentença 
com trânsito em julgado. 
Necessárias são as lições de (ESTEFAM E GONÇALVES, 2012, p. 214): 
 
 
A lei penal benéfica (lex mitior) se biparte em: novatio legis in mellius e 
abolitio criminis. Ambas retroagirão, posto que benéficas e, pelo mesmo 
motivo, aplicar-se ão a fatos ocorridos sob sua vigência, quando revogadas 
por leis mais gravosas. Por novatio legis in mellius, entende-se a nova lei 
penal que, mantendo a incriminação, dá ao fato tratamento mais brando, 
ampliando a esfera de liberdade individual. São exemplos de tratamento 
benéfico: a redução da pena prevista, a autorização de concessão de 
benefícios legais antes proibidos, a redução dos prazos prescricionais, o 
abrandamento dos regimes de cumprimento de pena. Abolitio criminis 
significa a nova lei penal que descriminaliza condutas, ou, ainda, a lei 
supressiva de incriminação. Vale dizer, deixa de considerar determinado 
fato como infração penal. O que antes era crime ou contravenção penal 
torna-se algo penalmente irrelevante. 
 
 
Abolitio Criminis é o fenômeno pelo qual o legislador, atento às mutações 
sociais,resolve não mais incriminar determinada conduta, retirando do ordenamento 
jurídico-penal a infração que a previa. O efeito da descriminalização de uma conduta 
é a extinção de sua punibilidade2. 
 
 
2. CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES 
 
Para estudar a teoria do crime, necessário se faz a compreensão da 
classificação, elaborada pela doutrina, das suas diversas modalidades: 
 
 
2.1) Crimes comuns 
 
 
 
 
2 
Extinção da punibilidade - é a perda do direito do Estado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, ou 
seja, é a perda do direito de impor sanção penal. As causas de extinção da punibilidade estão espalhadas no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
 
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Crimes comuns são aqueles que não exigem qualquer qualidade especial 
seja do sujeito ativo ou passivo do crime. O crime de homicídio é comum: pode ser 
praticado por qualquer pessoa contra qualquer pessoa. Nessa categoria, enquadra- 
se a maioria das infrações penais. 
 
 
2.2) Crimes próprios ou especiais 
 
O crime próprio, por sua vez, é o crime que exige uma qualidade especial do 
sujeito; qualidade esta exigida no próprio tipo penal. O crime de estupro, antes da 
reforma introduzida no Código Penal pela Lei nº 12.015/09 era um crime próprio, 
pois exigia a qualidade “mulher” do sujeito passivo. 
A antiga redação do crime dispunha: 
Art. 213 - Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou 
grave ameaça. 
Hoje, no entanto, trata-se de crime comum, pois a nova redação prevê que o 
crime de estupro constitui-se em: 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter 
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato 
libidinoso. 
Portanto, crimes próprios são aqueles que estão definidos no Direito Penal 
Especial, porque pressupõe no agente uma particular qualidade ou condição 
pessoal. 
 
 
2.3) Crimes de mão própria 
 
São aqueles que somente podem ser praticados pela pessoa 
expressamente indicada no tipo penal. Ex: falso testemunho. Apenas admitem 
participação, não aceitando coautoria, pois não se delega a prática da conduta 
infracional à terceira pessoa. 
 
9 
 
 
 
 
 
2.4) Crime de dano 
 
Crime de dano ou de lesão é aquele em que a consumação somente se 
efetiva com a lesão do bem jurídico tutelado. Ex: lesões corporais. 
 
 
2.5) Crimes de perigo 
 
Crime de perigo são aqueles que se consumam com a mera exposição do 
bem jurídico tutelado à uma situação de perigo. 
Subdividem-se em: 
a) crime de perigo abstrato - basta a prática da conduta, havendo 
presunção juris et de jure3 de exposição a perigo de dano, ex: tráfico de drogas; 
b) crime de perigo concreto - consuma-se com a efetiva comprovação da 
exposição a perigo, ex: crime de perigo para a vida ou saúde de outrem (art. 132 do 
código penal); 
c) crime de perigo individual - atinge uma pessoa ou um determinado 
número de pessoas, ex: perigo de contágio venéreo; 
d) crime de perigo comum ou coletivo - o perigo já está ocorrendo, ex: 
abandono de incapaz; 
e) crime de perigo iminente - o perigo está prestes a ocorrer; 
f) crime de perigo futuro ou mediato - o perigo se projeta para o futuro, ex: 
porte ilegal de arma. 
 
 
2.6) Crimes materiais 
 
Crimes materiais ocorrem quando há a necessidade de um resultado externo 
à ação, descrito na lei, e que se destaca lógica e cronologicamente da conduta. Ex: 
Homicídio, furto e roubo. 
Sobre os crimes materiais (ESTEFAM E GONÇALVES, 2012, p. 159): 
 
 
 
 
3 
juris et de jure - de direito e por direito (falando de presunção estabelecida pela lei como expressão da 
verdade). 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
Os crimes materiais ou de resultado são aqueles em que o tipo penal 
descreve uma conduta e um resultado material (ou naturalístico) e exige 
ambos para efeito de consumação. É o caso do homicídio. O tipo penal 
encontra-se assim redigido: “matar alguém”. Note-se que nessa sucinta 
definição legal há uma conduta e um resultado descritos, pois o ato de 
“matar” uma pessoa envolve um comportamento com o objetivo letal e a 
obtenção desse resultado, como efeito da conduta do homicida. Além disso, 
o crime de homicídio somente se considerará consumado quando a vítima 
morrer. Se esta, por circunstâncias alheias à vontade do agente, sobreviver, 
ele responderá por homicídio tentado (CP, art. 121, c/c o art. 14, II). 
 
 
 
 
2.7) Crimes formais 
 
São aqueles em que a lei descreve uma ação e um resultado, no entanto, o 
delito restará consumado no momento da prática da ação, independentemente do 
resultado, que se torna mero exaurimento do delito. É o que acontece no crime de 
extorsão mediante sequestro, previsto no art. 159 do Código Penal, que se consuma 
quando o agente sequestra a vítima (ação), mesmo que não obtenha a vantagem 
ilícita almejada com o resgate (resultado). (NUCCI, 2006). 
 
 
 
2.8) Crimes de mera conduta 
 
São aqueles em que a lei descreve apenas uma conduta, e não um 
resultado. Sendo assim, o delito consuma-se no exato momento em que a conduta é 
praticada. Pode-se citar como exemplo o crime de violação de domicílio, previsto no 
artigo 150, do Código Penal, em que a lei tipifica a conduta de ingressar ou 
permanecer em domicílio alheio sem autorização do morador, independente da 
ocorrência de qualquer resultado naturalístico. (NUCCI, 2006). 
 
 
2.9) Crimes comissivos 
 
Crimes comissivos são aqueles que necessitam de uma ação positiva do 
agente, como o homicídio, onde o criminoso precisa matar a vítima. 
 
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2.10) Crimes omissivos 
 
São aquele em que o autor comete o crime ao deixar de fazer alguma coisa. 
São os crimes omissivos em essência, aqueles em que o próprio texto da lei 
prevê uma omissão, ou seja, a própria norma penal descreve um não fazer 
considerado proibido, sendo que o agente pratica esta infração por meio da pura e 
simples omissão de uma ação mandada, e a sua punibilidade fundamenta-se na 
violação de um dever geral de agir imposto pela norma incriminadora (p. ex.: 
omissão de socorro – art. 135, CP). 
 
 
2.11) Crimes comissivos por omissão 
 
Já nos comissivos por omissão, ocorre uma transgressão do dever legal de 
impedir o resultado. Como por exemplo, um médico que deixa de prestar socorro a 
um indivíduo que necessita de socorro médico. 
 
 
2.12) Crimes instantâneos 
 
São aqueles em que a consumação do crime ocorre em um só momento, 
sem se prolongar no tempo. Por exemplo, no crime de lesão corporal, previsto no 
art. 129 do código penal, consuma-se o crime no instante em que a vítima é 
lesionada pelo golpe do autor. 
 
 
2.13) Crimes permanentes 
 
São aqueles em que a consumação se prolonga no tempo por ação do autor 
do crime. Exemplo clássico é o crime de seqüestro, previsto no art. 148 do Código 
Penal, já que a consumação ocorre no exato momento em que a vítima tem sua 
liberdade tolhida e que continua a consumar-se enquanto a vítima permanece no 
cárcere. 
 
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2.14) Crimes instantâneos de efeito permanente 
 
São aqueles em que a consumação ocorre em determinado momento no 
tempo, mas que as consequências do crime, seus efeitos são permanente. No crime 
de homicídio, por exemplo, ocorre a consumação com a morte da vítima, mas seus 
efeitos no tempo são permanentes. 
 
 
2.15) Crime continuado 
 
Trata-se de um benefício conferido ao agente que comete dois ou mais 
crimes da mesma espécie, mediante mais de uma ação ou omissão, utilizando-se do 
mesmo "modus operandi", desde que dentro de um prazo razoável a caracterizar a 
continuidade entre eles e dentro de uma mesmacomarca, pois, a fim de abrandar a 
punição, aplicar-se-á a pena de apenas um dos crimes, se idênticos, ou do mais 
grave, se diversas, aumentada de um sexto a dois terços em ambos os 
casos (MIRABETE, 2006). 
 
 
2.16) Crimes principais 
 
Principais são os crimes que existem independentemente de qualquer outro 
crime (furto, homicídio etc.). 
 
 
2.17) Crimes acessórios 
 
Acessórios (ou remetidos) são os crimes que pressupõem a existência de 
outro ou outros crimes (receptação, lavagem de capitais, uso de documento falso 
etc.). Crime acessório não é a mesma coisa que crime subsidiário, que se verifica 
quando não corre o crime mais grave (exemplos: arts. 132 – perigo de vida – e 146, 
do CP: constrangimento ilegal), (GOMES, 2007, p. 528). 
 
13 
 
 
 
 
 
 
 
2.18) Crimes condicionados e crimes incondicionados 
 
Condicionados são os que exigem uma condição objetiva de punibilidade. 
Só se tornam puníveis quando preenchidas essas condições. Incondicionados não 
exigem essa condição. 
As condições objetivas de punibilidade (por exemplo: art. 7º, §2º, do CP) são 
condições exigidas para a punibilidade do fato. Sem elas não há que se falar em fato 
punível (leia-se: o crime, nesse caso, não conta com efetividade penal por falta de 
punibilidade ou ameaça efetiva de pena), (GOMES, 2007, p. 528). 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
(...) 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam 
julgados. 
(...) 
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do 
concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a 
pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não 
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
 
 
 
2.19) Crimes simples e crimes complexos 
 
 
 
etc.). 
 
Crime simples: apresenta um tipo penal único (homicídio, lesões corporais 
 
 
Crime complexo: resulta da fusão entre dois ou mais tipos penais (latrocínio 
= roubo + homicídio; estupro qualificado pelo resultado morte = estupro + homicídio; 
extorsão mediante sequestro = extorsão + seqüestro, etc.). Não constituem crime 
complexo os delitos formados por um crime acrescido de elementos que 
isoladamente são penalmente indiferentes, por exemplo, o delito de denunciação 
 
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caluniosa (CP, art. 339), que é formado pelo crime de calúnia e por outros elementos 
que não constituem crimes (CAPEZ, 2011, p. 289). 
 
 
2.20) Crime progressivo 
 
O crime progressivo é aquele em que o autor, para alcançar um resultado 
mais gravoso, passa por outro materialmente menos grave. Ou seja, o crime 
progressivo quando vai ser praticado viola norma penal menos grave, por exemplo, 
as lesões corporais que são praticadas para alcançar a morte da vítima. 
 
 
2.21) Crime putativo 
 
Crime putativo ou imaginário. Só existe na imaginação do agente que esta 
praticando um crime com sua ação, entretanto, falta norma penal que qualifique sua 
conduta como criminosa. 
Também chamado de delito putativo, é verificado quando o agente acredita 
que a conduta por ele praticada constitui crime, porém, na verdade, é um fato 
atípico, não havendo qualquer consequência jurídica. Como exemplo pode-se citar a 
mulher que pratica o aborto sem estar grávida (NUCCI, 2006). 
 
 
2.22) Crime de flagrante esperado 
 
Ocorre crime putativo por obra do agente provocador quando alguém de 
forma insidiosa provoca o agente à prática de um crime ao mesmo tempo em que 
toma providências para que o mesmo não se consume. (DAMÁSIO DE JESUS, 
1988, p. 176). 
Trata-se de modalidade de crime impossível, pois, embora o meio 
empregado e o objeto material sejam idôneos, há um conjunto de circunstâncias 
previamente preparadas que eliminam totalmente a possibilidade da produção do 
resultado. Assim, podemos dizer que existe flagrante preparado ou provocado 
quando o agente policial ou terceiro, conhecido como provocador, induz o autor à 
 
15 
 
 
 
 
 
prática do crime, viciando a sua vontade, e, logo em seguida, o prende em flagrante 
(CAPEZ, 2006, pp. 253-254). 
 
 
2.23) Crime de flagrante preparado 
 
 
Com relação ao flagrante esperado, pode-se entender sua ocorrência 
quando uma autoridade policial ou terceiro previamente informado acerca de um 
crime, trata de promover diligências a fim de prender o agente que poderá praticar o 
crime, sendo a prática da autoridade policial ou de terceiro apenas a espera da 
ocorrência do crime, sem qualquer provocação. Nesse sentido, conclui-se que o no 
flagrante esperado não há a figura do agente provocador, como ocorre no flagrante 
preparado, sendo que o papel da autoridade policial ou do terceiro reside em 
simples aguardo, vigilância, não havendo positiva atuação no cometimento do crime, 
sendo apenas uma ação monitorada e sem nenhum tipo de interferência 
(TOURINHO FILHO, 1993). 
 
 
 
2.24) Crime putativo provocado 
 
Sobre o crime putativo provocado (CELSO DELMANTO, 2002) leciona: 
 
 
Crime putativo provocado como preceitua a Súmula 145 do STF: "não há 
crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua 
consumação". Todavia, tal súmula tem sido objeto de dúvidas quanto à sua 
extensão. Para alguns, basta que "a consumação seja impossível, dado o 
artifício empregado contra o indiciado, sendo irrelevante que o flagrante 
tenha sido preparado exclusivamente pela polícia ou com o auxílio da 
pretensa vítima" (voto do relator Min. CUNHA PEIXOTO, no RHC 54.654 do 
STF,RTJ84/399). Ao contrário, para outros julgados, que hoje predominam, 
"a interpretação correta da citada ementa é a que promana destas palavras 
que lhe deviam formar o contexto: não há crime quando o fato é preparado, 
mediante provocação ou induzimento, direto ou por concurso, de 
autoridade, que o faz para o fim de aprontar ou arranjar o flagrante" (STF, 
RTJ98/136; Pleno,RTJ82/140;RF263/277; TJSC,RT540/345). 
 
 
No entendimento exposto acima há que se fazer a distinção entre as duas 
situações: na 1ª situação, quando o agente atua por provocação, direta ou indireta, 
 
16 
 
 
 
 
 
da polícia e na 2ª situação quando não houve intervenção prévia da polícia, que, 
avisada, interfere para surpreender o agente durante a prática do crime. 
 
 
2.25) Crime impossível 
 
O crime impossível vem expressamente descrito no art. 17 do Código Penal: 
 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Crime Impossível 
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou 
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
 
Convencionou chamar de crime impossível a atitude do agente, quando o 
objeto pretendido não pode ser alcançado dada a ineficácia absoluta do meio, ou 
pela absoluta impropriedade do objeto (ROSA, 1995, p.312). 
O crime impossível também é chamado pela doutrina de quase-crime, 
tentativa inadequada ou inidônea. 
Nesse sentido decidiu o Tribunal de Justiça do Mato Grosso: 
 
 
E M E N T A. "CRIME IMPOSSÍVEL - FURTO - AUSÊNCIA DE BENS A 
SUBTRAIR - EXECUÇÃO INIDÔNEA - INIDONEIDADE ABSOLUTA DO 
OBJETO - CARACTERIZAÇÃO DA CONDUTA ATÍPICA - RECURSO 
PROVIDO. Restando comprovadoa impropriedade absoluta do objeto, não 
há falar-se em tentativa, mas sim em crime impossível. Inteligência do 
art. 17 do Código Penal . (Tribunal de Justiça de Mato Grosso - Relator 
convocado composta pelo Dr. Adilson Polegato de Freitas - Primeira 
Câmara Criminal. Recurso de Apelação Criminal n.º 10049/2006 - Classe I - 
14 - Comarca de Tangará da Serra) ". 
 
 
Infere-se, portanto, que crime impossível, é aquele cujo objeto material é 
inidôneo por sua total impropriedade para a consumação do crime ou, ainda, o meio 
empregado pelo agente para a execução é absolutamente desprovido de força para 
produzir o efeito e o resultado desejado para o cometimento do crime. 
Nesse caso, para a configuração do crime impossível, o direito brasileiro 
adota teoria objetiva temperada ou moderada que exige que o meio empregado pelo 
agente ou o objeto sobre o qual recairá a ação seja absolutamente inidôneos para 
produzir a finalidade e o resultado buscado. 
 
17 
 
 
 
 
 
Dois exemplos clássicos do crime impossível são: a) da ineficácia absoluta 
do meio quando na tentativa de homicídio utiliza-se como meio para seu 
cometimento um revólver sem munição; b) na absoluta impropriedade do objeto ao 
tentar matar um cadáver. 
 
 
2.26) Crime consumado e crime tentado 
 
Os crimes: consumado e tentando estão previstos no art. 14 do Código 
Penal que assim estabelece: 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 14 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime consumado (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição 
legal; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Tentativa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por 
circunstâncias alheias à vontade do agente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
Pena de tentativa(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a 
pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
O crime é consumado quando o agente realizou todos os elementos que 
compõem a descrição do tipo penal. Os crimes materiais se consumam no momento 
em que o resultado é produzido. Os crimes formais se consumam com a mera 
atividade. O próprio inciso II dá a definição de tentativa, ao dizer que o crime é 
tentado quando, após iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. Ou seja, o tipo não se completa, ficando interrompido 
durante o seu desenvolvimento. Portanto, tentativa é a execução começada de um 
crime, que não chega à consumação por motivos alheios à vontade do agente. 
Possui os seguintes elementos: Início de execução da figura penal + falta de 
consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente + dolo (DELMANTO, 
2002, p. 69). 
 
 
2.27) Crime falho 
 
18 
 
 
 
 
 
Crime falho ou tentativa perfeita é aquele em que o agente percorre todo o 
iter criminis, mas não consegue consumar o por circunstâncias alheias à sua 
vontade. 
O iter criminis ou caminho do crime consubstancia-se num processo que tem 
seu início ainda no foro íntimo da pessoa, com o surgimento da idéia criminosa na 
mente do agente (BECKER, 2004. p. 51) e que culmina na consumação do delito, 
quando da reunião de todos os elementos do tipo penal (ZAFFARONI e 
PIERANGELI, 1998. p 13). 
Para chegar à fase de consumação, o delinquente transita por uma série de 
etapas, que constituem o iter criminis – o caminho do crime, o desenvolvimento da 
ação delituosa. Assim procede em busca da meta optada – o seu escopo, o 
resultado final. (GARCIA, 1972, p. 230): 
 
 
2.28) Crimes plurissubsistentes e unisubsistentes 
 
Crimes unissubsistentes são aqueles cuja conduta se revela mediante um 
único ato de execução, capaz de por si só produzir a consumação. Já os 
plurissubsistentes, são aqueles cuja conduta se exterioriza por meio de dois ou mais 
atos, os quais devem somar-se para produzir a consumação (MASSON, 2010). 
 
 
2.29) Crime exaurido 
 
Delito em que o agente obtém o resultado material desejado, mas que não 
era necessário para a consumação da infração penal. O exaurimento, posterior à 
consumação, a esta se vincula por relação de causa e efeito. 
 
 
2.30) Crime doloso e crime culposo 
 
Assim estabelece o art. 18 do Código Penal: 
 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime doloso (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
19 
 
 
 
 
 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi- 
lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, 
negligência ou imperícia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser 
punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica 
dolosamente. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
O dolo (crime doloso) é a vontade livre e consciente de praticar o crime. É a 
vontade de consumar o ato criminoso. Ocorre, ainda, quando conscientemente a 
pessoa assume a possibilidade de que tal ato ocorra. O crime doloso é consciente, 
pois o agente o faz por vontade própria, querendo ou assumindo o resultado. 
Já culpa (crime culposo) é dividida em três formas: negligência, imprudência 
ou imperícia. Nelas, o ato não é consciente ou não é desejado pelo criminoso. 
Na negligência, o crime ocorre por distração, esquecimento, falta de atenção 
devida. 
 
 
Na imprudência, o agente assume o risco de cometer o crime, mas não 
acredita que ele vá acontecer e não deseja seu resultado. 
Na imperícia, ocorre a falta de aptidão técnica ou prática. A pessoa que 
comete o delito o faz por erro, geralmente ligado a alguma atividade. 
 
 
2.30.1) crime preterdoloso 
 
 
 
penal: 
 
O crime preterdoloso ou crime híbrido está descrito no artigo 19 do código 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Agravação pelo resultado (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o 
agente que o houver causado ao menos culposamente. (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
No crime preterdoloso, o agente pratica um crime diferente do que havia 
planejado cometer, ocorrendo um resultado mais grave, decorrência de negligência, 
imprudência ou imperícia. 
Trata-se de espécie de crime qualificado pelo resultado, havendo verdadeiro 
concurso de dolo e culpa no mesmo fato. Uma vez que ocorre dolo no crime 
 
20 
 
 
 
 
 
antecedente, naquela conduta que pretendia conscientemente realizar, e culpa no 
crime subseqüente, aquele no qual o resultado não era desejado conscientemente. 
Exemplo clássico é a lesão corporal seguida de morte, onde o agente 
tencionava lesionar a vítima que acaba morrendo. 
 
 
2.31) Crime simples 
 
Crime simples é aquele que contém as elementares do delito em sua figura 
fundamental. Podemos citar como exemplos o crime de homicídio simples, cuja 
descrição é "matar alguém" (art. 121, "caput", do CP), e o furto simples (art. 155 do 
CP). Não traz qualquer circunstância que diminua ou aumente a sua gravidade. 
(NUCCI, 2006). 
 
 
 
2.32) Crime privilegiado 
 
Crime privilegiado é aquele que, ao tipo básico, a lei acrescentada 
circunstância que o torna menos grave, diminuindo, em consequência, suas 
sanções. São crimes privilegiados,por exemplo, o homicídio praticado por relevante 
valor moral (eutanásia, por exemplo), previsto no artigo 121, § 1º, o furto de pequeno 
valor praticado por agente primário (art. 155, § 2º); o estelionato que causa pequeno 
prejuízo, desde que primário o autor (art.171, § 1º) etc. Nessas hipóteses, as 
circunstancias que envolvem o fato típico fazem com que o crime seja menos 
severamente apenado. Os tipos qualificados e privilegiados são, em contraposição 
aos tipos básicos, tipos derivados (MIRABETE, 2002). 
 
 
2.33) Crime qualificado 
 
Crime qualificado é aquele em que ao tipo básico a lei acrescenta 
circunstância que agrava a sua natureza, elevando os limites da pena. Não surge a 
formação de um novo tipo penal, mas apenas uma forma mais grave de ilícito. 
Chama-se homicídio qualificado, por exemplo, aquele praticado ‘’mediante paga ou 
 
21 
 
 
 
 
 
promessa de recompensa ou por outro motivo torpe’’ (art. 121, § 2º, I); denomina-se 
furto qualificado o praticado ‘’com destruição ou rompimento de obstáculo à 
subtração da coisa’’ (art. 155, § 4º, I); considera-se qualificado o delito de injúria 
consistente em violência ou vias de fato (art. 140, § 2º, primeira parte) etc. 
(MIRABETE, 2002). 
 
 
2.34) Crime subsidiário 
 
É aquele em que tipo penal tem aplicação subsidiária, isto é, só se aplica se 
não for o caso de crime mais grave. Por exemplo, no caso do crime previsto no art. 
132 do Código Penal (periclitação da vida ou saúde de outrem) em que só ocorre o 
crime se o agente não tinha a intenção de ferir ou matar. 
 
 
2.35) Crime vago 
 
É aquele que tem por sujeito passivo entidade sem personalidade jurídica, 
como a coletividade. 
 
 
2.36) Crime de ação múltipla 
 
É também denominado crime de conteúdo variado ou plurinuclear. É aquele 
em que a lei descreve várias condutas (vários verbos), que são separadas pela 
conjunção alternativa "ou". Assim, nestes casos, a prática de mais de uma conduta 
pelo agente, em relação à mesma vítima, constitui crime único. Podemos citar como 
exemplo o crime de participação em suicídio, previsto no artigo 122 do Código 
Penal, que ocorre quando o agente induz, instiga ou auxilia outrem a cometer 
suicídio. Nesta hipótese, se o agente praticar os três verbos contra a mesma vítima, 
terá praticado apenas um delito (NUCCI, 2006). 
 
 
2.37) Crime habitual 
 
22 
 
 
 
 
 
O crime habitual exige uma prática reiterada de determinada conduta, por 
exemplo, casa de prostituição. 
Assim estabelece o artigo 229 do Código Penal: 
 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou 
lugar destinado a encontros para fim libidinoso, haja, ou não, intuito de lucro 
ou mediação direta do proprietário ou gerente: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
 
O crime habitual e a habitualidade criminosa não se confundem. 
A habitualidade criminosa ocorre quando o agente faz do crime sua atividade 
frequente como meio de subsistência, por exemplo, o ladrão. 
 
 
2.38) Crime a distância e crime plurilocal 
 
Os crimes à distância constituem as infrações em que a ação ou omissão se 
dá em um país e o resultado ocorre em outro. Como por exemplo, um estelionato 
praticado no Brasil e consumado na Argentina (ou vice-versa). Nos termos do 
art. 6º do Código Penal, incide a lei brasileira, desde que: a) aqui tenham sido 
praticados todos ou alguns atos executórios (lugar em que ocorreu a ação ou 
omissão, no todo ou em parte), ou, b) aqui se tenha produzido o resultado do 
comportamento criminoso, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o 
resultado, (DELMANTO, 2002). 
Crimes plurilocais são aqueles em que o "iter criminis" atinge o território de 
mais de uma comarca, mas dentro do mesmo país. 
 
 
2.39) Crimes hediondos 
 
É o crime considerado de extrema gravidade. Em razão disso, recebe um 
tratamento diferenciado e mais rigoroso do que as demais infrações penais. É 
considerado crime inafiançável e insuscetível de graça, anistia ou indulto 
(BECHARA, 2005). 
 
23 
 
 
 
 
 
Taxativamente o artigo 1º da Lei 8.072/90 com redação determinada pela Lei 
8.930/94 considerou como hediondos os seguintes tipos penais, tanto nas formas 
consumadas, quanto tentadas: 
I. Homicídio (Art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de 
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art. 121 § 
2º. I, II, III, IV e V); 
II. Latrocínio (Art. 157 §3º); 
III. Extorsão qualificada pela morte (Art. 158 §2º); 
IV. Extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (Art. 159, caput e §§ 
1º, 2º e 3º); 
V. Estupro (Art. 213 e sua combinação com o artigo 233, caput e parágrafo 
único); 
 
 
VI. Atentado violento ao pudor (Art. 214 e sua combinação com o Art. 233, 
caput e parágrafo único); 
VII. Epidemia com resultado de morte (Art. 267, §1º), bem como falsificação, 
corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou 
medicinais (Art. 273, caput, e §1º, §1ºA e §1ºB). 
O parágrafo único da Lei 8.072/90 considera também hediondo o crime de 
genocídio previsto nos artigos 1º, 2º e 3º da Lei 2.889/56. 
Ressalte-se que a prática de tortura, o tráfico de entorpecentes e drogas 
afins e o terrorismo não são considerados crimes hediondos, mas assemelhados, 
com as mesmas conseqüências penais e processuais penais. 
 
 
 
 
3. TEMPO DO CRIME 
 
Tempo do Crime é o marco adotado para estabelecer o momento (tempo) do 
cometimento de um crime. 
Assim estabelece o artigo 4º do Código Penal: 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Tempo do crime 
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, 
ainda que outro seja o momento do resultado.(Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 1984) 
 
24 
 
 
 
 
 
 
 
Existem três teorias principais sobre o tempo do crime: 
a) Teoria da Atividade: Que considera como sendo o momento da pratica do 
crime o momento em que se deu a ação ou omissão pelo agente, mesmo que o 
momento do resultado tenha sido outro. É a teoria adotada pelo código penal como 
se verifica pelo art. 4º do acima transcrito. 
Assim, se o agente, com inequívoco animus necandi4, atira contra a vítima 
em data de 01 de janeiro de 2015, vindo este a óbito em data de 01 de fevereiro do 
mesmo ano, em razão do ferimento provocado, ter-se-á como praticado o crime de 
homicídio em 01/01/2015. 
b) Teoria do Resultado: ao contrário da teoria da atividade, aqui se considera 
praticado o crime no momento do resultado. 
c) Teoria da Ubiquidade ou mista: segundo esta teoria, levar-se-á em conta 
tanto o momento da ação ou omissão, como do resultado. 
Logo, por exemplo, se um indivíduo menor de idade dispara sua arma para 
matar alguém e essa vítima vem a falecer dois meses depois de internada em um 
hospital, mesmo que na data do óbito (resultado) o agente já tenha completado a 
maioridade, o agente responderá como menor (data da ação), (RODRIGUES, 2012, 
p. 49). 
 
 
 
4. LUGAR DO CRIME 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Lugar do crime (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou 
omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria 
produzir-se o resultado.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
 
 
O Código Penal definiu em seu art. 6º o lugar do crime, adotando a teoria da 
ubiquidade ou mista, segundo a qual o crime se considera praticado tanto no lugar 
da conduta quanto naquele em que se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
 
4 
Animus necandi - Termoem latim que significa dolo, vontade. É a intenção de matar, ou seja, de tirar a vida 
de outra pessoa. 
 
25 
 
 
 
 
 
A preocupação do legislador foi estabelecer quais crimes podem ser considerados 
como ocorridos no Brasil e, por via de consequência, a quais delitos se aplica a lei 
penal brasileira. O dispositivo rege, portanto, a “competência internacional” 
(ESTEFAM E GONÇALVES, 2012, p. 223). 
Sobre as teorias que se referem ao lugar do crime (FERNANDO CAPEZ, 
2011) leciona: 
 
Uma vez esclarecido qual o território em que vigora a lei penal brasileira, 
cumpre investigar quando nele se deve considerar cometida a infração. 
Existem três teorias a respeito do lugar do crime: 1ª) Teoria da atividade: 
lugar do crime é o da ação ou omissão, sendo irrelevante o local da 
produção do resultado. 2ª) Teoria do resultado: lugar do crime é aquele em 
que foi produzido o resultado, sendo irrelevante o local da conduta. 3ª) 
Teoria da ubiquidade ou mista: lugar do crime é tanto o da conduta quanto o 
do resultado. Será, portanto, o lugar onde se deu qualquer dos momentos 
do iter criminis. Essa teoria é também conhecida por teoria mista. Observe- 
se que os simples atos preparatórios não constituem objeto de Cogitação 
para determinar o locus delicti, pois não são típicos. 
 
 
 
Por considerar tanto o local da conduta como o local do resultado, essa 
teoria consegue solucionar o problema dos crimes à distância e também os conflitos 
de Direito Penal internacional, fazendo com que o Direito brasileiro tome a frente de 
questões que apesar de serem começadas ou terminadas em outros países, sejam 
resolvidas e decididas de acordo com as normas do nosso país. 
 
 
 
5. TEORIA DO CRIME 
 
 
No Brasil, só há dois tipos de infrações penais: 1) Os crimes, também 
chamados delitos e 2) as contravenções. Na verdade, inexiste um dado que sirva de 
divisor entre crime e contravenção. Tanto os crimes como as contravenções são 
comportamentos que infringem mandamentos legais que contêm, como sanção, a 
imposição de pena. A única distinção entre crimes e contravenções reside na maior 
ou menor gravidade com que a lei vê tais condutas, denominando "contravenções" 
às mais leves e "crimes" às mais graves. Entretanto, dependendo da vontade do 
legislador, um comportamento que hoje é crime pode passar, amanhã, a 
 
26 
 
 
 
 
 
contravenção e vice-versa. As contravenções são conhecidas como delitos anões 
(delitti nani). (DELMANTO, 2002). 
Em sentindo amplo pode-se definir o crime utilizando-se como ponto de 
referência a lei: sendo o crime, portanto, o fato individual que a viola; a conduta 
humana que infringe a lei penal. Nesse sentido, crime é a conduta humana que lesa 
ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal. Sua essência é a ofensa 
ao bem jurídico, pois toda norma penal tem por finalidade sua tutela. 
Entretanto, para a caracterização legal do crime há a dependência da 
existência de elementos objetivos elencados pela doutrina e pelo arcabouço jurídico 
penal, sendo assim, para o direito: 
O que é crime? 
 
Pela corrente majoritária crime é: 
+ Fato Típico 
+ Antijurídico (ilícito) 
+ Culpável 
 
Esses são os elementos do crime 
Esta é a definição segundo a corrente TRIPARTIDA 
 
 
 
 
5.1 Fato Típico 
 
 
Em um conceito analítico, fato típico é o primeiro substrato do crime, ou seja, 
o primeiro requisito ou elemento do crime. No conceito material, fato típico é um fato 
humano indesejado norteado pelo princípio da intervenção mínima consistente numa 
conduta produtora de um resultado e que se ajusta formal e materialmente ao direito 
penal. É o fato humano descrito abstratamente na lei como infração a uma norma 
penal. 
Fato Típico é o comportamento humano que se amolda perfeitamente aos 
elementos constantes do modelo previsto na lei penal. A primeira característica do 
crime é ser um fato típico, descrito, como tal, numa lei penal. Um acontecimento da 
vida que corresponde exatamente a um modelo de fato contido numa norma penal 
incriminadora, a um tipo. 
 
27 
 
 
 
 
 
Para que o operador do Direito possa chegar à conclusão de que 
determinado acontecimento da vida é um fato típico, deve debruçar-se sobre 
ele e, analisando-o, decompô-lo em suas faces mais simples, para verificar, com 
certeza absoluta, se entre o fato e o tipo existe relação de adequação exata, fiel, 
perfeita, completa, total e absoluta. Essa relação é a tipicidade. 
Para que determinado fato da vida seja considerado típico, é preciso que 
todos os seus componentes, todos os seus elementos estruturais sejam, igualmente, 
típicos. 
Os componentes de um fato típico são a conduta humana, a 
consequência dessa conduta se ela a produzir (o resultado), a relação de causa e 
efeito entre aquela e esta (nexo causal) e, por fim, a tipicidade. 
Na falta de qualquer destes elementos, o fato passa a ser atípico e, por 
conseguinte, não há crime. 
 
 O Fato Típico (1º Elemento do Crime, é composto de 4 sub-elementos): 
 
 
a) Conduta 
b) Resultado 
c) Nexo Causal 
d) Tipicidade 
 
 
 
5.1.1 Conduta 
 
A conduta é o 1º elemento do fato típico. 
Ação ou omissão: É toda ação ou omissão, dolosa ou culposa, consciente e 
voluntária, dirigida a uma finalidade. 
A conduta (ação ou omissão), pedra angular da Teoria do Crime, é produto 
exclusivo do Homem. A capacidade de ação, e de culpabilidade, exige a presença 
de uma vontade, entendida como faculdade psíquica da pessoa individual, que 
somente o ser humano pode ter (BITENCOURT, 2012, p. 227). 
 
28 
 
 
 
 
 
Por ser o crime uma ação humana, somente o ser vivo, nascido de mulher, 
pode ser autor de crime, embora em tempos remotos tenham sido condenados, 
como autores de crimes, animais, cadáveres e até estátuas (LEAL, 1991). 
A conduta possui três teorias mais conhecidas que a definem: 
 
 
 
Conduta 
a) Teoria Naturalista ou Causal 
b) Teoria Finalista (adotada pelo Brasil) 
c) Teoria Social 
 
 
A) Teoria Naturalista ou causal – ação é uma mera causação do 
resultado, seja ela qual for. Se eu tenho uma conduta e essa 
conduta causa um resultado, seja ele qual for, se ele tiver presente 
na lei penal como crime, eu respondo pelo crime. Na verdade nessa 
teoria não se valoriza a conduta e sim o resultado, ou seja, basta 
que com a conduta eu cause um resultado e se esse resultado 
estiver presente na lei penal, eu respondo pelo crime. Na época da 
teoria naturalista ou causal não interessava, para que se 
respondesse pelo crime que a conduta tivesse sido praticada com 
dolo ou culpa, era irrelevante. Portanto, se houvesse uma conduta, 
um resultado e um nexo causal, havia o crime, havia a chamada 
responsabilidade objetiva (a conduta independia de dolo ou culpa). 
Foi criada por volta de 1900 pelo alemão Frans Von List. 
 
B) Teoria Finalista da Ação – criada em 1920 por Hans Welzel que 
acreditava que para se criar uma teoria da conduta não interessava 
o resultado, o que interessava, na verdade, era a conduta. 
Transferiu-se então o dolo e a culpa da culpabilidade para dentro da 
conduta. A responsabilidade do direito penal deixa de ser objetiva 
para ser subjetiva. O que é uma responsabilidade subjetiva? Existe 
dolo e culpa dentro da conduta. 
 
29 
 
 
 
 
 
C) Teoria Social da Conduta – manteve-se o dolo e a culpa dentro da 
conduta. Diz que o que vale é o que ocorra um resultado e que esse 
resultado seja socialmente relevante para que haja crime. 
 
Delitos comissivos são os que exigem atividade positiva produtora do 
evento. Crimes omissivos são os que ofendem o bem jurídico,mediante inação, 
constituindo, esta, elemento integrante do tipo. Assim, o crime do art. 269 - "deixar o 
médico de denunciar..." - o do art. 135 - "deixar de prestar assistência..." - trata-se 
de crimes omissivos próprios. São impróprios ou comissivos-omissivos, quando a 
omissão é meio ou forma de se alcançar um resultado posterior: o homicídio, em 
que a mãe deixa de aleitar o filho (NORONHA, 2009). 
 
 
 
 
5.1.2 Resultado 
 
É o 2º elemento do fato típico. É a modificação do mundo exterior praticado 
pela conduta (Teoria do Resultado Naturalístico). Resultado é a consequência da 
conduta. 
Sobre o resultado lecionam ESTEFAM e GONÇALVES (2012, p. 282): 
 
 
A expressão resultado tem natureza equívoca, já que possui dois 
significados distintos em matéria penal. Pode se falar, assim, em resultado 
material ou naturalístico e em resultado jurídico ou normativo. O resultado 
naturalístico ou material consiste na modificação no mundo exterior 
provocada pela conduta. Trata-se de um evento que só se faz necessário 
em crimes materiais, ou seja, naqueles cujo tipo penal descreva a conduta e 
a modificação no mundo externo, exigindo ambas para efeito de 
consumação. O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou ameaça 
de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Todas as infrações 
devem conter, expressa ou implicitamente, algum resultado, pois não há 
delito sem que ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem 
penalmente protegido. A doutrina moderna dá preferência ao exame do 
resultado jurídico. Este constitui elemento implícito de todo fato penalmente 
típico, pois se encontra ínsito na noção de tipicidade material. 
 
 
Assim estabelece o art. 13 do código penal: 
 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
 
30 
 
 
 
 
 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão 
sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 
Superveniência de causa independente 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, 
entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
 
Relevância da omissão 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia 
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do 
resultado. 
 
 
 
crime: 
Nem todo crime possui resultado, quanto a isso existem 3 espécies de 
 
 
1) Crimes materiais – que são crimes de resultado, a lei estabelece uma 
conduta, um resultado e a necessidade de ocorrência do resultado para a 
consumação. 
2) Crimes formais – que são crimes em que a lei prevê o resultado, mas 
não exige que ele ocorra para que haja consumação. Sendo o resultado mero 
exaurimento. 
3) Crimes de mera conduta – que são os crimes totalmente sem resultados 
previstos na lei. 
 
Dentro do resultado encontra-se o inter criminis, que é o caminho 
percorrido pelo agente para a realização do crime, possuindo quatro fases: 
Cogitação – o sujeito pensa, idealiza, prevê, antevê o crime (não punível). 
Preparação – escolhe o lugar, os meios, maneira, em regra não é punível, a 
não ser que se configure crime autônomo. 
Execução – que é a realização da conduta descrita no tipo. 
Consumação – Ocorre quando todos os elementos da disposição legal 
estão completos. A consumação não está ligada ao resultado, já que existem crimes 
sem resultado, que se consumam com a conduta. 
 
Na execução pode ocorrer os seguintes Estatutos: 
 
31 
 
 
 
 
 
1) Tentativa – quando o agente inicia a execução do crime, mas não chega 
à consumação por circunstâncias alheias à sua vontade: a) tentativa perfeita, 
acabada, crime falho – ocorre quando o agente pratica todos os atos de execução, 
sem consumação; b) tentativa imperfeita, inacabada – quando o agente pratica 
apenas alguns atos da execução; c) tentativa branca ou incruenta – o agente não 
consegue atingir a vítima e; d) tentativa cruenta – o agente atinge a vítima. 
A pena da tentativa é a mesma do crime consumado diminuída de 1/3 a 2/3, 
dependendo da menor ou maior proximidade com a consumação. 
 
2) Desistência Voluntária – o agente inicia a execução do crime, mas não 
chegar à consumação por vontade própria (desiste de prosseguir na execução), 
desiste antes de terminar os atos de execução. 
 
3) Arrependimento Eficaz – o agente impede que o resultado se produza, 
termina todos os atos de execução, mas se arrepende. 
 
4) Crime Impossível – não se pune a tentativa quando por ineficácia 
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto é impossível consumar-se 
o crime. Também chamada de tentativa inidônea, tentativa inadequada, quase crime 
ou crime oco: o meio utilizado para praticar o crime é absolutamente ineficaz; ou o 
objeto em que recairá a conduta do agente é impróprio. 
O Flagrante preparado ou provocado é mais uma causa de crime impossível 
(súmula 145 do STF), também conhecido como delito de ensaio, delito de 
experiência ou delito putativo, por obra do agente provocador. Quando a autoridade 
policial induz o agente a provocar o crime ao mesmo tempo em que toma 
providências para que não se chegue à consumação, o agente é protagonista de 
uma farsa. 
 
SÚMULA Nº 145 - STF - DE 13/12/1963 
Enunciado: 
Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna 
impossível a sua consumação. 
Data da Aprovação: 13/12/1963 
Fonte de Publicação: Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo 
Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 
1964, p. 82. 
 
32 
 
 
 
 
 
5.1.3 Nexo causal 
 
É o 3º elemento do fato típico. É o elo, é a ligação, é a ponte entre a conduta 
e o resultado. 
 
O nexo causal consiste em uma mera constatação acerca da existência de 
relação entre conduta e resultado. A sua verificação atende apenas às leis 
da física, mais especificamente, da causa e do efeito. Por essa razão, sua 
aferição independe de qualquer apreciação jurídica, como, por exemplo, da 
verificação da existência de dolo ou culpa por parte do agente. Não se trata 
de questão opinativa, pois ou a conduta provocou o resultado ou não. 
Exemplo: um motorista, embora dirigindo seu automóvel com absoluta 
diligência, acaba por atropelar e matar uma criança que se desprendeu da 
mão de sua mãe e precipitou-se sob a roda do veículo. Mesmo sem atuar 
com dolo ou culpa, o motorista deu causa ao evento morte, pois foi o carro 
que conduzia que passou por sobre a cabeça da vítima. Assim, para se 
saber sobre a sua existência, basta aplicar um utilíssimo critério, conhecido 
como critério da eliminação hipotética, que adiante será estudado e 
segundo o qual sempre que, excluído um fato, ainda assim ocorrer o 
resultado, é sinal de que aquele não foi causa deste. (CAPEZ, 2011, p. 
179). 
 
 
Existem algumas teorias apontadas para o nexo causal: 
 
 
a) Teoria da equivalência dos antecedentes causais (teoria das 
condições ou teoria da conditio sine qua no): causa é tudo aquilo que de alguma 
maneira produziu o resultado, utiliza-se a eliminação hipotética, tudo que está na 
cadeia causal, na linha de desdobramento causal, no nexo causal, e que se for 
eliminado hipoteticamente alteraria o resultado é considerado causa. 
Nos crimes materiais existe o nexo causal como necessário, já nos crimes 
formais o nexo causal é dispensável. Nos crimes de mera conduta sequer existe 
resultado. 
A responsabilidade no direito penal é subjetiva, poissó haverá se estiver 
presente o dolo e a culpa. 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão 
sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
 
33 
 
 
 
 
 
b) Teoria da causalidade adequada (art. 13, §1º): causa do resultado será 
apenas o que for apto e idôneo a produzir o resultado. 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 13 (...) 
Superveniência de causa independente 
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a 
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, 
entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
 
c) Teoria da Imputação objetiva: Toda vez que o agente agir com risco não 
permitido ou com risco não tolerado ele responderá pelo crime (risco proibido ou 
risco não tolerado na sociedade). Mas não basta a criação do risco, é necessário 
que o resultado esteja dentro do âmbito da conduta. 
 
Superveniência causal: 
O que é causa? É tudo aquilo que produz de alguma maneira o resultado. 
 
 
1) Causa dependente – é uma causa que se insere dentro da linha de 
desdobramento causal, dentro do nexo causal, que de alguma maneira produz o 
resultado. 
 
2) Causa independente – é aquela que está fora do nexo causal: 
a) causa absolutamente independente – é aquela que além de estar fora do 
nexo causal, é totalmente alheia à conduta do agente, a causa produz o resultado 
totalmente independente da conduta do agente, se divide em três: 
a1) causa pré-existente – causa que vem antes 
a2) causa concomitante – vem durante 
a3) causa superveniente – vem depois 
Isso com relação à conduta do agente. 
 
3) Causa relativamente independente – são aquelas que se ligam à 
conduta do agente. 
a1) causa pré-existente – responde pelo resultado 
a2) causa concomitante – responde pelo resultado 
a3) causa superveniente – não responde pelo resultado (teoria da 
causalidade adequada) 
 
34 
 
 
 
 
 
 
 
A superveniência da causa relativamente independente, quando ela, 
por si só, produz o resultado, o agente não responde pelo resultado, mas responde 
apenas pelos atos que praticou. 
 
 
 
5.1.4 Tipicidade 
 
É o 4º elemento do fato típico. Consiste no enquadramento, no amoldamento 
da conduta praticada pelo agente ao tipo penal. 
Como último elemento do fato típico tem-se a tipicidade, que é a 
correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e a 
descrição contida na lei. Como o tipo penal é composto não só de elementos 
objetivos, mas também de elementos normativos e subjetivos, é indispensável para 
a existência da tipicidade que não só o fato, objetivamente considerado, mas 
também sua antijuridicidade e os elementos subjetivos se subsumam a ele. Há 
tipicidade no homicídio se o agente pratica a conduta de "matar alguém" (elementos 
objetivos), mas só há violação de segredo profissional se a revelação ocorrer "sem 
justa causa" (elemento normativo), e somente haverá rapto se o arrebatamento da 
mulher for praticado "para fim libidinoso" (elemento subjetivo). Só existe fato típico 
quando o fato natural estiver também preenchido pelo tipo subjetivo (MIRABETE, 
2002, p. 90). 
 
Tipicidade Conglobante (do argentino Zaffaroni) - a tipicidade penal 
engloba duas espécies de tipicidade: 
1) Tipicidade Formal – enquadramento da conduta no tipo penal. 
2) Tipicidade Conglobante – que possui dois elementos: a) a conduta deve 
ser anti-normativa; b) tipicidade material (o fato deve ter relevância para o direito, ex. 
furto de bagatela). 
 
Teoria da Fase do caráter indiciário da ilicitude – todo fato típico 
(enquadramento na lei penal) em princípio também é ilícito (contrário ao direito) a 
não ser que ocorram as causas excludentes de ilicitude. 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
5.2 Antijurídico (ilícito) 
 
ILICITUDE ou descriminantes, justificantes, justificativas, causas de 
justificação (2º Elemento do Crime): 
É a contradição entre a conduta praticada e o ordenamento jurídico. É toda 
ação que é contrária ao ordenamento jurídico considerado como um todo, uma vez 
que, embora existam condutas que possam ser típicas (definidas por lei como 
criminosas) podem perder o caráter ilícito frente a causas que excluem sua ilicitude. 
São causas que justificam a conduta. 
Assim estabelece o art. 23 do Código Penal: 
 
 
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Excesso punível (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, 
responderá pelo excesso doloso ou culposo.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
 
 
 
agente: 
Portanto, são causas Excludentes de ilicitude da conduta praticada pelo 
 
 
I – Estado de Necessidade 
II – Legítima Defesa 
III – Estrito Cumprimento do Dever Legal 
IV – Exercício Regular do Direito 
 
Existem as causas excludentes legais que estão presente na parte geral do 
código penal (art. 1º ao art. 120), assim como existem outras causas presentes na 
parte especial do código penal, como o aborto necessário, onde há risco de vida 
para a mãe e o aborto sentimental, que é aquele que decorre de estupro. 
 
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54) 
Aborto necessário 
 
36 
 
 
 
 
 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de 
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
 
 
As excludentes, presentes na parte geral, possuem elementares. As 
elementares objetivas (que não pertencem ao agente) e elementares subjetivas 
(que fazem parte do conhecimento do agente). 
Os tipos penais descrevem as condutas ilícitas e estabelecem assim os seus 
elementos essenciais. Esses fatores que integram a descrição da conduta típica são 
as chamadas elementares do tipo, ou elementos essenciais constitutivos do delito. 
Como tivemos oportunidade de afirmar, elementares do crime são dados, fatos, 
elementos e condições que integram determinadas figuras típicas. Certas 
peculiaridades que normalmente constituiriam circunstâncias ou condições podem 
transformar-se em elementos do tipo penal e, nesses casos, deixam de circundar 
simplesmente o injusto típico para integrá-lo (BITENCOURT, 2012, p. 583). 
 
 
 
Elementares – é tudo aquilo que se eu retirar do tipo penal 
este tipo desaparece ou se transforma em outro. 
Circunstâncias – é o que está a redor do crime. 
 
 
 
5.2.1 Estado de necessidade 
 
Como primeira causa de exclusão da ilicitude, arrolada no inciso I do artigo 
23 do Código Penal, o estado de necessidade se configura quando a prática de 
determinado ato, descrito como crime, é voltado à defesa de direito do autor ou de 
outrem, motivado por situação de fato que ele não provocou e que também era 
inevitável. Aqui, mesmo sendo delituosa, a ofensa a outro bem jurídico serve para 
salvar direito próprio ou de terceiro, cujo sacrifício não era razoável, diante das 
circunstâncias. 
Estado de necessidade é uma situação de perigo atual. 
Assim estabelece o art. 24 do código penal: 
 
37CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para 
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de 
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a 
pena poderá ser reduzida de um a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
 
 
 
Elementos objetivos do Estado de Necessidade: 
 
a) Situação de perigo atual (presente); 
b) 
c) 
Ameaça a direito próprio ou de terceiro; 
Perigo não causado voluntariamente 
 
pelo 
 
agente 
(majoritário = só o perigo causado dolosamente não dá margem ao 
estado de necessidade); 
d) Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo; 
e) Inevitabilidade de comportamento (se não há outro meio); 
f) Razoabilidade do sacrifício (o bem sacrificado deve ser de 
igual valor ou de valor menor do que o bem salvaguardado). 
 
Existem duas teorias para o estado de necessidade: 
1)Teoria Unitária (adotada pelo Código Penal) – todo estado de 
necessidade é justificante independentemente do valor do bem sacrificado: a) ou 
serve de excludente (se de igual ou menor valor), ou, b) serve de redução de pena 
(se de valor maior). 
2) Teoria Diferenciadora (adotada pelo Código Penal Militar) – ora o estado 
de necessidade será justificante (bem sacrificado igual ou menor); ora será 
esculpante (bem sacrificado de valor maior). 
 
 
5.2.2 Legítima Defesa: 
 
Nos termos do art. 25 do Código Penal, age em legítima defesa quem, 
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou 
 
38 
 
 
 
 
 
iminente, a direito seu ou de outrem. Assim, diante de uma injusta agressão, não se 
exige o commodus discessus, ou seja, a simples e cômoda fuga do local. Por isso, 
se uma pessoa empunha uma faca e vai em direção à outra, e esta, para repelir a 
agressão, saca um revólver e mata o agressor, não comete crime, por estar 
acobertada pela legítima defesa (GONÇALVES, 2012, p. 192). 
Assim estabelece o art. 25 do código penal: 
 
 
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
ou de outrem.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
 
 
direito); 
São elementos objetivos da Legítima Defesa: 
a) Repulsa a injusta agressão (sempre a um ato de ser humano contrário ao 
 
 
b) Agressão atual (imediatamente) ou iminente (quase imediatamente); 
c) A direito próprio ou de terceiro; 
d) Usando os meios necessários (à disposição ou menos lesivo); 
e) Moderação (maneira pela qual o meio necessário será usado); 
 
 
 
5.2.3 Estrito Cumprimento do dever legal 
 
Diferentemente do que fez com o "estado de necessidade" e com a "legítima 
defesa", o Código Penal não definiu o conceito de "estrito cumprimento de dever 
legal", limitando-se a dizer que: 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
(...) 
III – em estrito cumprimento de dever legal... 
 
 
Sua conceituação, porém, é dada pela doutrina, como por exemplo, 
(FERNANDO CAPEZ, 2002), que assim define o "estrito cumprimento do dever 
legal": É a causa de exclusão da ilicitude que consiste na realização de um fato 
típico, por força do desempenho de uma obrigação imposta por lei, nos exatos 
 
39 
 
 
 
 
 
limites dessa obrigação. Em outras palavras, a lei não pode punir quem cumpre um 
dever que ela impõe. 
O fundamento do dispositivo é óbvio. Se o agente atua no cumprimento de 
dever legal, seu comportamento não é antijurídico. O dever que ele cumpre pode ser 
imposto por qualquer norma legal (lei, decreto, regulamento etc.) e não apenas por 
leis de natureza penal. O CP requer que o agente se conduza em estrito 
cumprimento, sendo, pois, necessário que obedeça, rigorosamente, aos limites do 
dever. Caso ele ultrapasse tais limites, haverá abuso de direito ou excesso de 
poder—ou o excesso punível do parágrafo único — e não exclusão da ilicitude (ou 
antijuridicidade). Admite-se que o dever seja referente não só a funcionário público, 
como, também, a particular (DELMANTO, 2002, p. 89). 
Só podem atuar os agentes públicos e particulares que exerçam função 
pública. 
 
 
 
5.2.4 Exercício Regular do Direito 
 
Atua licitamente todo aquele que age exercendo um direito que lhe tenha 
sido outorgado pelo ordenamento jurídico, desde que atue dentro dos limites 
estabelecidos na lei, também se punindo normalmente os excessos, podem atuar os 
particulares de maneira geral (RODRIGUE, 2012, 148). 
Previsto na 2ª parte do art. 23, III do Código Penal, o exercício regular de um 
direito compreende ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito 
definido em lei e condicionadas a regularidade do exercício desse direito. 
 
Código Penal (BRASIL, 1940) 
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
(...) 
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
 
 
O exercício regular de direito são situações em que o Estado não pode estar 
presente para evitar a lesão ao bem jurídico ou recompor a ordem pública. Como 
pode ser também “Direito de castigo”, que consiste na educação e no exercício do 
poder familiar. 
 
40 
 
 
 
 
 
O exercício regular do possui 3 requisitos: 
1º) Indispensabilidade (impossibilidade de recurso útil aos meios coercitivos 
normais); 
2º) Proporcionalidade; 
3º) Conhecimento da situação de fato justificante (subjetivo). 
Um exemplo de adoção prática ao exercício regular do direito, dentro da 
realidade das grandes cidades, são os ofendículos, consistentes em aparato 
preordenado para a defesa do patrimônio. Ex.: cacos de vidro no muro, cerca 
elétrica, lanças nos portões, etc. 
 
 
5.2.5 Excesso nas excludentes de ilicitude 
 
É a intensificação desnecessária de uma situação inicialmente justificada. 
Espécies de excesso: 
a) Excesso doloso – intensificação com dolo, com intenção. 
b) Excesso culposo – excesso em razão de imprudência, 
negligência e imperícia. 
c) Excesso acidental – excesso em virtude de caso fortuito ou força 
maior (não responde pelo crime). 
d) Excesso esculpante – a pessoa se excede em razão de medo ou 
pavor (não responde por nada). É o caso de inexigibilidade de conduta 
diversa. 
 
 
5.2.6 Causas supralegais de exclusão de ilicitude 
 
 
Da mesma forma que as causas de exclusão da antijuricidade ou ilicitude 
prevista no artigo 23 do código penal (legitima defesa, estado de necessidade, 
exercício legal do direito e estrito cumprimento do dever legal) o direito segue em 
direção à aceitação do “consentimento do ofendido” como causa supralegal de 
exclusão da ilicitude. 
Para a doutrina, quando o consentimento do ofendido for elementar do crime 
é causa de exclusão da tipicidade. 
 
41 
 
 
 
 
 
Para o consentimento excluir a tipicidade é necessário: 
1) o consentimento deve ser obtido sem vício, fraude, coação; 
2) deve ser implícito ou explícito; 
3) deve existir capacidade para consentir; 
4) o bem deve ser disponível e; 
5) o consentimento é revogável a qualquer tempo. 
Considerando que o consentimento exclui a ilicitude do fato quando se trata 
de interesse jurídico

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