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Educação a Distância
GRUPO
Caderno de Estudos
HISTÓRIA DA ÁFRICA
 Prof.ª Tânia Cordova
UNIASSELVI
2010
NEAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br
Copyright  UNIASSELVI 2010
Elaboração:
Prof.ª Tânia Cordova
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
 
960
C796h Cordova, Tânia.
 História da África/ Tânia Cordova. Centro Universitário
 Leonardo da Vinci – Indaial:Grupo UNIASSELVI,
 2010.x ; 201. p.: il
 
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-301-3
 1. História da África 2. África – História e Formação
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
 
HISTÓRIA DA ÁFRICA
APRESENTAÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)!
Iniciamos nossos estudos sobre a História da África. Com essa disciplina buscamos 
romper com uma historiografia fundamentada numa visão eurocêntrica da História.
Esta é uma disciplina importante à formação do professor de História, haja vista a 
obrigatoriedade, desde 2003, da temática África e Afro-brasileiros no currículo da Educação 
Básica. Todavia, para além desta obrigatoriedade, o conhecimento relacionado ao Continente 
Africano, é essencial para que possamos conhecer e trabalhar com a formação histórica, social, 
cultural e econômica do Brasil.
Ao observarmos a composição social em que vivemos, podemos confirmar que os 
negros africanos possibilitaram importantes contribuições para a construção do Brasil. Depois de 
retirados à força do Continente Africano, terem atravessado a duras penas o oceano Atlântico, 
serem obrigados a mudar sua maneira de viver, com a adaptação de seus costumes e suas 
tradições a um novo ambiente, os que aqui chegaram misturaram-se à sociedade já existente 
e configuraram novos elementos à cultura. Nesse sentido, é inegável a presença e a influência 
dos diferentes povos africanos à História do Brasil.
A primeira unidade trata do contexto do surgimento da Lei nº 10.639 que institui a 
obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana no currículo da 
Educação Básica no Brasil. A opção por iniciar este caderno partindo desta discussão se 
justifica por acreditar ser necessário refletir sobre o surgimento desta nova disciplina no Curso 
de História. Assim, teremos conhecimento que esta disciplina não surgiu a esmo, e nem do 
nada, pelo contrário, ela é fruto de reivindicações sociais pautadas e fundamentadas na luta 
pelos direitos de uma sociedade mais justa, mais igualitária.
A segunda unidade busca compreender o Continente Africano anterior à presença 
europeia. Para esse intento, optou-se por apresentar a diversidade (cultural, política, religiosa 
e econômica) deste continente. Nesta unidade, foram abordados os reinos, bem como as 
relações comerciais, sociais e culturais desenvolvidas pelas sociedades africanas anteriores 
ao contato com os europeus.
Finalmente, a terceira unidade, dividida em cinco tópicos tem o objetivo de apresentar 
o tráfico negreiro, as transformações ocorridas a partir do tráfico e a inserção do africano no 
mundo atlântico.
Como você pode perceber, esta é uma disciplina densa e tem uma carga enorme de 
conteúdo, afinal, estudar a história de um continente milenar, não é uma tarefa fácil. Pelo 
iii
HISTÓRIA DA ÁFRICA iv
UNI
Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. 
Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus 
estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. 
Desejo a você excelentes estudos! 
 UNI
contrário, exigirá, além do Caderno de Estudos, outras fontes de pesquisa. Lembre-se: a 
pesquisa é uma prática que deve ser inerente ao trabalho do professor.
Sucesso nos seus estudos!
Prof.ª Tânia Cordova
HISTÓRIA DA ÁFRICA
SUMÁRIO
UNIDADE 1: A ÁFRICA NA SALA DE AULA ................................................................... 1
TÓPICO 1: POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E AFRICANOS NO BRASIL? ... 3
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
2 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO BÁSICA .................................. 4
2.1 O MOVIMENTO NEGRO E A LUTA PELA INSERÇÃO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA ... 5
2.1.1 Um panorama das lutas e conquistas das ações afro no Brasil .............................. 5
2.2 AÇÕES AFIRMATIVAS E AS COTAS PARA AFRODESCENDENTES NAS 
UNIVERSIDADES ....................................................................................................... 8
3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO DAS 
 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA 
 AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA .............................................................................. 11
3.1 POLÍTICAS DE REPARAÇÕES, DE RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO 
 DE AÇÕES AFIRMATIVAS ......................................................................................... 11
3.2 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS ................................................... 12
3.3 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: PRINCÍPIOS 
NORTEADORES DO TRABALHO PEDAGÓGICO .................................................. 12
3.3.1 Consciência política e histórica da diversidade ...................................................... 13
3.3.2 Fortalecimento de identidade e de direitos ............................................................ 13
3.3.3 Ações educativas de combate ao racismo e a discriminação ................................ 14
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 17
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 18
TÓPICO 2: A LEI nº 10.639 E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............................. 19
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19
2 ENSINAR A RIQUEZA E A DIVERSIDADE DA HISTÓRIA E 
CULTURA AFRICANA .................................................................................................... 20
3 PROBLEMÁTICA DIDÁTICA ....................................................................................... 20
3.1 AS FONTES DE ENSINO PARA HISTÓRIA DA ÁFRICA .......................................... 20
4 AS NOVAS ABORDAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA ...................... 21
4.1 OS NOVOS DESAFIOS ............................................................................................ 23
4.2 A CULTURA NEGRA EM SALA DE AULA: ERROS E ACERTOS ............................. 23
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 25
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 26
TÓPICO 3: A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, 
AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS ........................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 27
2 AS REPRESENTAÇÕES DO NEGRO NOS LIVROS DIDÁTICOSDE HISTÓRIA .... 29
2.1 AS CONSEQUÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE 
v
HISTÓRIA DA ÁFRICA vi
NEGRA NO BRASIL ........................................................................................................ 31
2.2 O NEGRO E A LITERATURA .................................................................................... 33
3 ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NAS VIDEOTECAS ....................... 34
4 ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NOS BRINQUEDOS 
E BRINCADEIRAS .......................................................................................................... 37
RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 41
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 42
TÓPICO 4: SUBSÍDIOS PARA TRABALHAR A HISTÓRIA DA ÁFRICA ..................... 43
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 43
2 POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES PARA O ENSINO DE 
 HISTÓRIA DA ÁFRICA ................................................................................................ 44
2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE HISTÓRIA .................. 45
2.2 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A GEOGRAFIA ......................................... 45
2.3 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A EDUCAÇÃO FÍSICA ............................. 46
2.4 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA E A DISCIPLINA DE ARTE .......................... 48
2.5 A LÍNGUA PORTUGUESA, A LITERATURA E A HISTÓRIA DA ÁFRICA ................. 49
2.6 A BIOLOGIA E O ENSINO DA HÍSTÓRIA DA ÁFRICA ............................................. 50
2.7 A SOCIOLOGIA E O ENSINO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA ........................................ 50
3 ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO, RESGATE E DIFUSÃO DA MEMÓRIA, 
 DA HISTÓRIA E DA CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA .......................... 51
RESUMO DO TÓPICO 4 ................................................................................................. 53
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 54
AVALIAÇÃO .................................................................................................................... 55
UNIDADE 2: A INVENÇÃO DA ÁFRICA ........................................................................ 57
TÓPICO 1: AS MUITAS ÁFRICAS: ASPECTOS DA HISTORIOGRAFIA AFRICANA .. 59
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 59
2 RACISMO E RACIALISMO ......................................................................................... 60
3 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EXTERNO SOBRE A ÁFRICA .......................... 60
4 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO INTERNO SOBRE A ÁFRICA ........................... 62
4.1 A HISTORIOGRAFIA “AFROCÊNTRICA” ................................................................. 62
4.2 O PENSAMENTO DE CHEIK ANTA DIOP ................................................................ 65
4.3 O PENSAMENTO DE JOSEPH KI-ZERBO .............................................................. 66
5 PROBLEMAS METODOLÓGICOS ............................................................................. 67
6 AS FERRAMENTAS HISTORIOGRÁFICAS ............................................................... 67
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 70
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 71
TÓPICO 2: FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES AFRICANAS ............ 73
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 73
HISTÓRIA DA ÁFRICA vii
2 ÁFRICA, BERÇO DA HUMANIDADE ......................................................................... 73
3 ÁFRICA, BERÇO DA CIVILIZAÇÃO ........................................................................... 74
4 CIVILIZAÇÕES AFRICANAS: POVOS E REINOS ..................................................... 75
4.1 OS POVOS AFRO-ASIÁTICOS ................................................................................ 76
4.2 OS POVOS NILO-SAARIANOS ................................................................................ 76
4.3 OS POVOS NÍGER-CONGOLESES ......................................................................... 77
4.4 OS POVOS KHOI-SAN ............................................................................................. 78
5 AS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS ANTIGAS ............................................................... 78
5.1 O DESERTO DO SAARA .......................................................................................... 79
5.1.1 No Oriente: Egito, Sudão, Núbia e Aksum ............................................................. 80
5.2 O SAHEL ................................................................................................................... 81
5.2.1 A África Ocidental ................................................................................................... 82
5.2.2 O Reino de Gana .................................................................................................... 82
5.2.3 Os Reinos Iorubás e o Benim ................................................................................. 85
5.2.4 O reino do Congo ................................................................................................... 87
5.2.5 O reino do Monomotapa ......................................................................................... 89
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 91
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 92
TÓPICO 3: AS RELAÇÕES COMERCIAIS EM ÁFRICA ............................................... 93
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 93
2 ORGANIZAÇÃO DO COMÉRCIO EM ÁFRICA ANTERIOR A PRESENÇA 
 EUROPEIA ................................................................................................................... 93
3 O MAR MEDITERRÂNEO E O MAR VERMELHO ...................................................... 94
3 A ÁFRICA CENTRAL: A DISPERSÃO DOS BANTOS ............................................... 95
4 AS RELAÇÕES COM O LITORAL DO OCEANO ÍNDICO ......................................... 97
5 PELO OCEANO ATLÂNTICO ...................................................................................... 98
6 O COMÉRCIO TRANSAARIANO .............................................................................. 100
7 A ÁFRICA E A RELAÇÃO COM O SOBRENATURAL ............................................. 101
RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 105
TÓPICO 4: A ÁFRICA E O ISLAMISMO ...................................................................... 107
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 107
2 A ISLAMIZAÇÃO DO NORTE DA ÁFRICA ............................................................... 109
2.1 A CONQUISTA DE IFRIQIYA ....................................................................................110
2.2 O CALIFADO FATÍMIDA ........................................................................................... 110
2.3 O MAGREBE SOB OS ALMORÁVIDAS .................................................................. 111
3 O SAHEL SOB A INFLUÊNCIA ISLÂMICA ................................................................ 111
3.1 O REINO DO MALI ................................................................................................... 112
3.1.1 Mansa Musa .......................................................................................................... 113
3.1.2 As estruturas do Reino do Mali .............................................................................. 115
3.2 O IMPÉRIO SONGHAI DE GAÔ .............................................................................. 116
HISTÓRIA DA ÁFRICA viii
3.3 O SUDÃO CENTRAL: O KANEM-BORNU E OS HAÚÇAS ..................................... 118
3.3.1 O Kanem-Bornu ..................................................................................................... 118
3.3.2 Os Estados Hauçás ............................................................................................... 118
4 A ÁFRICA ORIENTAL E O ISLÃ ................................................................................ 119
4.1 OS CONFLITOS RELIGIOSOS NA ETIÓPIA ........................................................... 119
4.2 A CIVILIZAÇÃO SWAHILLI ..................................................................................... 120
5 O COMÉRCIO NA ÁFRICA ISLÂMICA ..................................................................... 120
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 122
RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 126
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 127
AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 128
UNIDADE 3: ESCRAVIDÃO: A ÁFRICA ESCRAVISTA E ESCRAVIZADA ................. 129
TÓPICO 1: O ESCRAVO NA ÁFRICA .......................................................................... 131
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 131
2 O CONCEITO DE ESCRAVIDÃO E ESCRAVISMO .................................................. 132
2.1 A SEMÂNTICA E A ESCRAVIDÃO .......................................................................... 133
2.2 O DIREITO E A ESCRAVIDÃO ............................................................................... 134
2.3 PARENTES E ESTRANHOS ................................................................................... 135
3 TORNAR-SE ESCRAVO NA ÁFRICA ....................................................................... 135
3.1 A GUERRA .............................................................................................................. 136
3.2 PROCEDIMENTOS JUDICIAIS .............................................................................. 136
3.3 A ESCRAVIZAÇÃO VOLUNTÁRIA .......................................................................... 137
4 OS USOS DO ESCRAVO NA ÁFRICA ...................................................................... 137
5 A ESCRAVIDÃO PRÉ-MODERNA ............................................................................ 140
5.1 A ESCRAVIDÃO E O ISLAMISMO .......................................................................... 140
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 141
RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 143
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 144
TÓPICO 2: A RELAÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS ENTRE EUROPEUS E 
AFRICANOS .............................................................................................. 145
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 145
2 A ESTRUTURA SOCIAL E A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA ....................................... 146
3 O COMÉRCIO DE ESCRAVOS ................................................................................. 147
4 AS FORMAS DE CAPTURA ...................................................................................... 149
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 151
RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 155
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 156
TÓPICO 3: TRANSFORMAÇÕES NAS SOCIEDADES AFRICANAS 
 DECORRENTES DO COMÉRCIO ATLÂNTICO ....................................... 157
HISTÓRIA DA ÁFRICA ix
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 157
2 O ESVAZIAMENTO DO INTERIOR ........................................................................... 157
2.1 A DESTRUIÇÃO DO CONGO ................................................................................. 158
2.2 A CRISE DO SAHEL OCIDENTAL .......................................................................... 159
3 AS TROCAS DE ELEMENTOS CULTURAIS ............................................................ 160
RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 162
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 163
TÓPICO 4: A DIÁSPORA AFRICANA .......................................................................... 165
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 165
2 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS ................................................................................ 166
3 A DISPUTA PELA COSTA AFRICANA ...................................................................... 168
4 O APOGEU DO TRÁFICO ......................................................................................... 168
5 O COMÉRCIO ILEGAL DE AFRICANOS .................................................................. 170
6 OS NÚMEROS DO TRÁFICO .................................................................................... 173
7 A TRAVESSIA ATLÂNTICA ....................................................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 4 ............................................................................................... 178
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 179
TÓPICO 5: OS AFRICANOS NO BRASIL ................................................................... 181
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 181
2 QUEM ERAM OS AFRICANOS TRAZIDOS PARA O BRASIL ................................ 182
3 O COMÉRCIO DE ESCRAVOS ................................................................................. 185
4 O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL .................................................................... 188
5 RESISTÊNCIA NEGRA À ESCRAVIDÃO ................................................................. 190
6 MOVIMENTOS ABOLICIONISTAS ............................................................................ 191
7 CULTURA AFRO-BRASILEIRA ................................................................................192
8 O FIM DA ESCRAVIDÃO E O NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: 
 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ................................................................................ 193
RESUMO DO TÓPICO 5 ............................................................................................... 195
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 197
AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 198
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 199
HISTÓRIA DA ÁFRICA x
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UNIDADE 1
A ÁFRICA NA SALA DE AULA
OBjETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:
	compreender o contexto histórico e social de surgimento da Lei nº 
10.639;
	refletir sobre a formação de professores e a obrigatoriedade da 
temática da História e Cultura Africana e Afro-brasileira;
	perceber a construção da imagem do negro no Brasil em diversos 
contextos;
	avaliar as possibilidades do trabalho interdisciplinar e a temática 
África e Afro-brasileiros na escola.
TÓPICO 1 – POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO E 
AFRICANOS NO BRASIL?
TÓPICO 2 – A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO DE 
PROFESSORES
TÓPICO 3 – A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES 
SOBRE ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-
BRASILEIROS
TÓPICO 4 – SUBSÍDIOS PARA TRABALHAR A HISTÓRIA 
DA ÁFRICA
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada 
um deles você encontrará atividades que o(a) auxiliarão na apropriação 
dos conhecimentos aqui disponibilizados.
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POR QUE ESTUDAR ÁFRICA, TRÁFICO 
E AFRICANOS NO BRASIL?
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A inserção do africano no mundo atlântico foi consequência de um processo que teve 
o objetivo de exploração do trabalho. Do século XVI ao XIX, aproximadamente 4.010.000 
indivíduos foram trazidos de suas terras de origem, na África, amontoados em porões de navios 
e submetidos como escravos no Brasil. Hoje, o contingente dos afrodescendentes chega a cerca 
de 80 milhões de pessoas, 46,2% da população nacional, o que tem levado à afirmação de que 
o Brasil seria a segunda maior nação com população de origem africana no mundo, ficando 
atrás da Nigéria. Nestes quase cinco séculos, o trabalho negro possibilitou que a metrópole 
portuguesa num primeiro momento e as elites brancas nativas em outro constituíssem fortunas.
Este grande amálgama que se convencionou chamar de cultura brasileira é também 
devedor das línguas, das habilidades e dos saberes africanos. Das apreciações culinárias aos 
movimentos corporais, das expressões idiomáticas às produções musicais, das formas de 
convivência às manifestações religiosas, cada um de nós brasileiros, traz um pouco daquelas 
Áfricas ancestrais dentro de si. No entanto, a tão propalada democracia racial de que tanto 
nos orgulhamos, e que está presente no discurso das condições de igualdade no Brasil, ainda 
está longe de ser realidade.
Há muito já se percebeu que a grande riqueza cultural e o diferencial do Brasil residem 
em ser um país mestiço em que povos se misturaram. São negros, brancos e amarelos; bantos, 
iorubas, nagôs, tupinambás, guaranis, carijós, portugueses, italianos, alemães, japoneses e 
tantos outros.
No entanto, no processo de construção histórica e social do Brasil, alguns desses povos 
não foram reconhecidos pelas suas contribuições e acabaram sendo ignorados, inferiorizados, 
invisibilizados ou tratados de forma desqualificada na historiografia nacional, mencionados em 
muitas vezes como os dominados, incivilizados. Entre esses povos encontram-se os africanos.
A nova historiografia brasileira e estudos recentes vêm avançando na crítica aos 
UNIDADE 1TÓPICO 14
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preconceitos embutidos nos discursos científicos de século XIX e XX. Vêm também resignificando 
visões distorcidas da presença africana e resgatando as multifacetadas presenças negras no 
país. 
No Brasil, o início do século XXI é o marco que representa este avanço e a concretização 
de um novo olhar ao Continente Africano. Em 9 de janeiro de 2003, foi aprovada a Lei nº 10.639, 
tornando obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileiras nos níveis de 
Ensino Fundamental e Médio. Os currículos deverão incluir temáticas que orientem a presença, 
a contribuição africana e afrodescendente nas disciplinas escolares.
Se no Brasil, os primeiros anos do século XXI são importantes, pois concretizaram os 
resultados de ações em prol das reivindicações dos movimentos negros, o ano de 2010 projetará 
o Continente Africano mundialmente. Os olhares estarão voltados para este continente, que é 
sede da Copa do Mundo. 
Assim, espera-se nessa unidade, não responder, mas alinhar conhecimentos no sentido 
de compreendermos a importância do porque estudar África, tráfico e africanos no Brasil.
IMP
OR
TAN
TE! �
Caro(a) acadêmico(a)! Cabe aqui orientar que o Continente 
Africano está inserido em quatro momentos das divisões temporais 
da história ocidental: A Pré-História, a Idade Antiga, a Idade 
Moderna e a Idade Contemporânea. No entanto, não se pode 
desconsiderar que a menção a este continente se faz dentro de 
uma situação de imposição de uma historiografia eurocêntrica que 
coloca o Continente Africano como palco de acontecimentos e ações 
que favoreceram os europeus. Desta forma, chamamos atenção 
para a compreensão de que os marcos da história ocidental não 
auxiliam na compreensão da História da África.
Para reforçar essa orientação, leia ao final deste tópico o texto de Joseph Ki-Zerbo.
2 UM CONTINENTE NO CURRÍCULO 
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Diversas políticas de reparação, reconhecimento e valorização da população afro-
brasileira vem sendo concretizadas. Uma dessas ações é a Lei nº 10. 639, de 9 de janeiro 
de 2003, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e afro-brasileira no 
currículo oficial.
UNIDADE 1 TÓPICO 1 5
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Esta lei é importante na medida em que a sociedade brasileira reconhece o valor da 
história e da cultura africana, trazida pelos escravizados para o Brasil e hoje, da afro-brasileira, 
dos descendentes destes escravizados. 
No entanto, esta Lei é resultante da atuação de alguns políticos e, principalmente, da 
pressão exercida por grupos de defesa dos direitos dos negros. Ou seja, a Lei 10. 639 não é um 
produto da burocracia, mas um produto da união de forças vindas da sociedade brasileira. Desta 
forma, passamos a conhecer um pouco das ações que culminaram nessas diretrizes curriculares.
2.1 O MOVIMENTO NEGRO E A LUTA PELA 
INSERÇÃO DA HISTÓRIA DA ÁFRICA
Como já sinalizado, as reivindicações dos grupos de defesa das ideologias africanas 
e afro-brasileiras foram fundamentais para compreender a determinação da Lei nº 10.639.
Neste item, busca-se abordar ações que precederam a instituição dessa lei.
2.1.1 Um panorama das lutas e conquistas 
das ações afro no Brasil
O entendimento de que os movimentos sociais pelos direitos culturais, políticos, seja 
ele qual for, não é um ato neutro, mas é fundamental para a discussão do contexto das lutas e 
reivindicações dos grupos que defendem a ideologia africana e afro-brasileira. Para iniciarmos 
um diálogo sobre essas ações no Brasil, é necessário conceituar movimentos sociais.
Movimentos sociais são movimentos populares de representação de um grupo de 
interesses cuja ação social é orientada, o que descaracterizacomo espontâneo, a fim de 
obter transformações políticas e econômicas em um novo cenário de transformações naturais, 
e sociais, levando em consideração a metodologia adotada, sua organização, seu contexto 
geográfico, seus representantes, ideologia, políticas, vitórias, derrotas, estrutura e experiência 
para se consolidar como representativo dentro de uma sociedade. (BRAGA, 1999).
 
As primeiras expressões do Movimento Negro no Brasil podem ser representadas a partir 
das formas de resistência dos africanos a escravidão ainda nos navios que os transportavam 
até o continente americano. Os quilombos, que representam no período escravista a expressão 
concreta da resistência negra são também configurações desse movimento negro.
No final do século XIX, algumas iniciativas de denúncia à discriminação racial se fazem 
presentes no cenário brasileiro. Entre elas, pode ser citada a criação do jornal paulista O 
Menelick, em 1915, que foi seguido de vários outros jornais, que buscaram denunciar a condição 
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do negro na sociedade brasileira. Todavia, é somente a partir dos anos 30 do século XX, que 
organizações em defesa aos direitos dos negros começaram a surgir no Brasil.
A população negra em São Paulo, sentindo a necessidade de 
um movimento de identidade étnica e enfrentando as barreiras 
de uma imprensa branca (grande Imprensa) impermeável aos 
anseios e reivindicações da comunidade, recorreu à solução 
mais viável, que era fundar uma imprensa alternativa, em que 
os seus desejos, as denúncias contra o racismo, bem como a 
sua vida associativa, cultural e social se refletissem. Para mais 
informações sobre O Menelick acessar o texto: SANTOS, P. de 
S.; SALVADORI, M. A. B. CIDADANIA E EDUCAÇÃO DOS NEGROS 
ATRAVÉS DA IMPRENSA NEGRA EM SÃO PAULO (1915-1933). 
Disponível em: <http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/
arquivos/323PedroSouzaSantos _e_Maria AngelaSalvadori.pdf>. 
Acesso em: 24 abr. 2010.
Em 1931, Henrique Cunha e José Correia Leite fundaram a Frente Negra Brasileira 
(FNB), que chegou a transformar-se em partido político em 1936.
O Primeiro congresso afro-brasileiro, realizado em Recife em 1934, reuniu intelectuais 
e homens do povo interessados em compreender a influência africana na formação do Brasil. 
O congresso buscou valorizar a tradição africana a fim de torná-la mais próxima da sociedade 
que ainda relutava em reconhecer e aceitar sua presença na cultura nacional. Esse Congresso 
foi organizado por Gilberto Freyre e pelo psiquiatra Ulisses Pernambucano. Participaram 
ainda nomes proeminentes da sociedade brasileira como: o pintor Cícero Dias, Jorge Amado 
e Renato Mendonça.
O Teatro Experimental do Negro (TEN) fundado em 1944, no Rio de Janeiro, por Abdias 
do Nascimento, foi responsável por expressiva produção teatral em que se buscava dinamizar 
a consciência da negritude brasileira e combater a discriminação racial. Ainda sob a orientação 
do TEN, foi realizado em 1950, na cidade do Rio de Janeiro o Congresso do Negro Brasileiro 
que trouxe para o cenário temas, como: a sobrevivência religiosa e folclórica africana e afro-
brasileira, formas de luta (capoeira, batuque, pernada), línguas africanas, entre outros temas 
abordados pelos integrantes de diversas entidades de defesa ao direito do negro.
Ainda nos anos 50, iniciaram-se os primeiros estudos sobre preconceitos e estereótipos 
raciais em livros didáticos no Brasil. Estes estudos foram coibidos pela ditadura militar instaurada 
no Brasil na década posterior. O regime militar oficializou a democracia racial e a militância que 
ousou desafiar esse mito foi acusada de imitadora dos ativistas norte-americanos.
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Nos anos 80, com a redemocratização do país, os estudos sobre preconceitos 
e estereótipos raciais em livros didáticos são retomados. Os resultados desses estudos 
apresentavam a depreciação de personagens negros, associada a uma valorização dos brancos.
A Comissão de Educação do Conselho de Participação e Desenvolvimento da 
Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros promoveram, em 1984, 
no estado de São Paulo, discussões com professores de várias áreas sobre a necessidade de 
rever o currículo e introduzir conteúdos não discriminatórios na educação.
Atendendo a reivindicações do Movimento Negro, o estado da Bahia, em 1986, inseriu 
a disciplina Introdução aos Estudos Africanos na Educação Básica das escolas estaduais.
Em 1996, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) instituiu como critério de 
avaliação dos livros didáticos comprados e distribuídos as temáticas que abordavam as 
questões raciais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em 1998, apresentavam a inclusão da 
Pluralidade Cultural entre os temas transversais, como orientação ao trabalho do professor.
Em 2003, a publicação da Lei nº 10.639 tornou obrigatório o ensino de História da África 
e dos afro-brasileiros na Educação Básica.
Entre as entidades que buscaram denunciar o racismo e organizar a comunidade Negra 
no Brasil, podemos destacar:
•	 O Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971.
•	 O CECAN (Centro de Estudos e Arte Negra), fundado em São Paulo em 1972.
•	 O SINBA (Sociedade de Intercâmbio Brasil-África), inaugurado no Rio de Janeiro em 1974.
•	 O Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador, também no ano de 1974.
•	 O MNU (Movimento Negro Unificado), criado em São Paulo em 1978. A segunda Assembleia 
Nacional do MNU, realizada em Salvador no mesmo ano, declarou a data de 20 de novembro, 
dia da morte de Zumbi dos Palmares como o Dia da Consciência Negra.
Na comemoração do centenário da abolição no Brasil, uma série de manifestações 
denunciava as condições dos negros no país. Aprovava-se uma nova constituição, e duas 
importantes reivindicações do MNU viraram textos constitucionais – a criminalização do 
racismo (Art. 5º) e o reconhecimento da propriedade das terras de remanescentes de 
quilombos (Art. 68) do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Com o 
governo Fernando Henrique Cardoso, foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial para a 
Valorização da População Negra, dando a partida nas primeiras iniciativas de ação afirmativa 
na administração pública federal. Em 2001, foi realizada a III Conferência Mundial de Combate 
ao Racismo, na cidade de Durban na África do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do 
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Movimento Negro e resultou em novos acontecimentos, como a reserva de vagas para negros 
em algumas universidades do país e novos compromissos assumidos pelo Estado em âmbito 
internacional. (FCRCN-MG - Fundação Centro de Referência da Cultura Negra).
FONTE: Adaptado de: <http://www.webartigos.com/articles/20706/1/MOVIMENTO-NEGRO/pagina1.
html>. Acesso em: 28 jun. 2010.
E ainda, em março de 2003, o governo Federal criou a Seppir (Secretaria Especial de 
Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e instituiu a Política Nacional de Promoção da 
Igualdade Racial. O objetivo dessas ações é promover alteração positiva na realidade vivenciada 
pela população negra e rumar para uma sociedade democrática, justa e igualitária, revendo os 
desumanos séculos de preconceitos, discriminação a que foram submetidos os afro-brasileiros.
Nesse sentido, podemos afirmar que atualmente no Brasil, se tem criado condições para 
uma maior abertura para se discutir os problemas da sociedade negra, como as conferências 
contra a intolerância racial. Esse movimento se organizou em associações, grupos de apoio, 
fundações etc., com os objetivos de buscar a efetivação dos direitos à igualdade, promovera 
equidade entre a sociedade, através de ações afirmativas e políticas de integração social. Mas 
as velhas demandas continuam sendo lutas constantes do genérico Movimento Negro, como a 
luta pelo fim do racismo e exclusão da sociedade negra no mercado de trabalho e do conjunto 
de direitos que constituem dignamente um cidadão ativo no meio em que vive.
2.2 AÇÕES AFIRMATIVAS E AS COTAS PARA 
AFRODESCENDENTES NAS UNIVERSIDADES
Ocorrida em Durban, na África do Sul, entre os dias 31 de agosto e 8 de setembro de 
2001, a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância 
Conexa reuniu mais de 2.500 representantes de 170 países, incluindo 16 chefes de Estado, 
cerca de 4.000 representantes de 450 organizações não governamen tais (ONG) e mais de 
1.300 jornalistas, bem como representantes de organismos do sistema das Nações Unidas, 
instituições nacionais de direitos humanos e público em geral. Essa conferência representou 
um evento de importância primordial nos esforços empreendidos pela comunidade internacional 
para combater o racismo, a discriminação racial e a intolerância em todo o mundo.
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Remissão a Leituras – Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundar os 
seus conhecimentos no que diz respeito à Conferência Mundial 
contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância 
conexa, sugerimos a leitura do documento resultante desse 
movimento. Disponível em: <https://www.safernet.org.br/site/
sites/default/files/Racismo.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2010.
Entre as ações resultantes desta conferência, encontra-se no plano educacional a 
adoção do sistema de cotas para negros nas universidades.
O que justificaria a adoção das ações afirmativas para afrodescendentes no sistema 
educacional brasileiro? Para responder essa questão vamos ler o texto de Flavia Piovesan, 
em que são apresentados elementos para refletir sobre esse questionamento. 
TRÊS SÃO OS ARGUMENTOS QUE SUSTENTAM A NECESSIDADE DE 
TAIS MEDIDAS NO CASO BRASILEIRO
O primeiro deles refere-se à própria exigência de uma educação voltada para valores 
e para a promoção da diversidade étnico-racial. Se o objetivo maior do processo educacional 
há de ser o pleno desenvolvimento da personalidade humana, guiado pelo valor da cidadania, 
do respeito, da pluralidade e da tolerância, afirma-se como absolutamente legítimo o interesse 
da Universidade em promover a diversidade étnico-racial, o que traduziria o benefício de 
maior qualidade e riqueza do ensino e da vivência acadêmica, contribuindo, ainda, para a 
eliminação de preconceitos e estereótipos raciais. 
O segundo argumento é de ordem político-social. Se se pretende uma sociedade mais 
democrática, com a transformação de organizações, políticas e instituições, o título universitário 
ainda remanesce como um passaporte para ascensão social e para a democratização das 
esferas de poder, com o “empoderamento” dos grupos historicamente excluídos. Para ampliar 
o número de afrodescendentes juízes(as), advogados(as), procuradores(as), médicos(as), 
engenheiros(as), arquitetos(as), dentre outros, o título universitário mostra-se essencial. 
Acentua-se, ainda, que os afrodescendentes constituem menos de 2% dos estudantes 
nas Universidades públicas brasileiras, embora sejam 45% da população brasileira, que 
é a segunda maior população negra do mundo, com exceção da Nigéria. A pirâmide dos 
estudantes universitários brasileiros aponta na sua base os negros(as) provenientes das 
escolas públicas, seguidos dos brancos(as) das escolas públicas, por sua vez, seguidos dos 
negros(as) de escolas privadas e tendo em seu ápice os brancos(as) de escolas privadas. 
As ações afirmativas, enquanto medidas especiais e temporárias, simbolizariam medidas 
compensatórias, destinadas a aliviar o peso de um passado discriminatório, que faz do 
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Brasil um dos últimos países a abolir a escravidão. Significariam, ainda, uma alternativa 
para enfrentar a persistência da desigualdade estrutural que corroeu a realidade brasileira, 
por sucessivas décadas. Além disso, permitiriam a concretização da justiça em sua dupla 
dimensão: redistribuição (mediante a justiça social) e reconhecimento de identidades 
(mediante o direito à visibilidade de grupos excluídos).
Por fim, há o argumento jurídico, pois a ordem constitucional, somada aos tratados 
internacionais de proteção dos direitos humanos ratificados pelo Brasil (em especial a 
Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial), acolhem não 
apenas o valor da igualdade formal, mas também da igualdade material. Reconhecem que 
não basta proibir a discriminação, sendo necessário também promover a igualdade, por meio 
de ações afirmativas. Além disso, a Constituição Federal de 1988 estabelece o princípio do 
pluralismo no campo do ensino e consagra como objetivos fundamentais da República, a 
construção de uma sociedade justa e solidária, com a redução das desigualdades sociais – o 
que vem a conferir lastro jurídico aos demais argumentos já expostos.
FONTE: PIOVESAN, Flavia. STF e a Diversidade Racial. Disponível em: <http://www.mundojuridico.
adv.br>. Acesso em: 24 abr. 2010.
 
O sistema de cotas para afrodescendentes nas universidades justifica-se diante da 
constatação de que a universidade brasileira, ao longo da história desta instituição no Brasil, 
foi um espaço de formação profissional de maioria esmagadoramente branca, valorizando 
assim apenas um segmento étnico, onde a condição racial constituiu um fator de privilégios 
para brancos e de exclusão e desvantagens para os não brancos.
No entanto, se por um lado as políticas de ação afirmativa representam uma conquista, 
por outro, elas representam uma série de impactos sociais a exemplo: 
•	 instauração, no espaço acadêmico, de um mecanismo reparador das perdas infringidas à 
população negra brasileira; 
•	 acusar a existência do racismo e combatê-lo de forma ativa; 
•	 possibilidade de avaliação das consequências da inclusão de negros e negras na vida 
universitária; 
•	 convivência plural e diária com a diversidade humana em sua variedade de experiências e 
perspectivas; 
•	 estímulo da confiança de crianças e adolescentes negros em sua capacidade de realização; 
•	 estímulo aos estudantes negros para demandar de suas escolas um melhor nível educacional; 
•	 conscientização sobre o que é ser negro no Brasil; 
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•	 irradiação dessas influências benéficas para todo o país.
3 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A 
EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E 
PARA O ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-
BRASILEIRA E AFRICANA
A Lei nº 10.639, de 2003, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira 
em seu artigo 26 A, oportunizou a elaboração de um documento com vistas a orientar o 
trabalho na educação. 
Art. 26 – A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e 
particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo 
de História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira 
e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas 
áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura afro-B=brasileira serão ministrados 
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de 
Literatura e História Brasileiras.
FONTE: Disponívelem: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 22 
abr. 2010.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e 
para o Ensino de História e Cultura afro-brasileira e Africana destinadas a orientar os trabalhos 
educacionais, fundamentar a prática docente e dar sustentação à obrigatoriedade da Lei 
nº 10.639, foi posto em circulação, a partir de março de 2004. Neste item, vamos buscar 
compreender os princípios que norteiam este documento.
3.1 POLÍTICAS DE REPARAÇÕES, DE 
RECONHECIMENTO E VALORIZAÇÃO DE 
AÇÕES AFIRMATIVAS
As chamadas políticas de ação afirmativa ou políticas compensatórias são muito recentes 
na história das ideologias antirracistas. Estas ações visam oferecer aos grupos discriminados e 
excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devidas à sua situação 
de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação.
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As ações afirmativas atendem as determinações do Programa Nacional de Direitos 
Humanos, aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, com o intento de combater 
o racismo e a discriminação, como a Conferência da ONU em Durban, África do Sul em 2001.
3.2 EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
3.3 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA: 
PRINCÍPIOS NORTEADORES DO TRABALHO PEDAGÓGICO
As relações étnico-raciais dizem respeito à reeducação de diferentes grupos étnicos, 
no caso brasileiro em específico, aos grupos negros e não negros. Dependendo de ações que 
priorizem trabalhos conjuntos, articulações entre processos educativos escolares, políticas 
públicas e movimentos sociais. Vale a pena destacar que as mudanças éticas, culturais, 
pedagógicas e políticas nas relações étnico-raciais nãos se limitam à escola. Mas exigem 
esforços da sociedade como um todo.
De acordo com as Diretrizes Curriculares, a educação das relações étnico-raciais deverá 
oportunizar aprendizagens, troca de conhecimento, desenvolvimento de projetos que visem à 
construção de uma sociedade justa, igual, equânime aos diferentes grupos étnicos.
É importante compreendermos que a obrigatoriedade da inclusão da História e Cultura 
afro-brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica não apresenta o objetivo em 
mudar, ou substituir o foco etnocêntrico assentado nas raízes europeias por um africano. 
Todavia, o de ampliar o foco nos currículos escolares para a diversidade cultural, racial, social 
e econômica brasileira.
Assim, é preciso ter a clareza que o art. 26 A, acrescido à Lei nº 9.394/96, promove bem 
mais que a inclusão de novos conteúdos. Ele oportuniza o repensar das relações étnico-raciais, 
sociais, pedagógicas no sentido de orientar a reelaboração de estratégias que promovam novos 
olhares para a educação.
Para exemplificar, citamos alguns dos princípios que estruturam as Diretrizes Curriculares
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3.3.1 Consciência política e histórica da diversidade
3.3.2 Fortalecimento de identidade e de direitos
Este princípio deve conduzir:
•	 à igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos;
•	 à compreensão de que a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos 
étnico-raciais distintos, que possuem cultura e história próprias, igualmente valiosas e 
que em conjunto constroem, na nação brasileira, sua história;
•	 ao conhecimento e à valorização da história dos povos africanos e da cultura afro-brasileira 
na construção histórica e cultural brasileira;
•	 à superação da indiferença, injustiça e desqualificação com que os negros, os povos 
indígenas e também as classes populares às quais os negros, no geral, pertencem, são 
comumente tratados.
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
O princípio deve orientar para:
•	 o desencadeamento de processo de afirmação de identidades, de historicidade negada 
ou distorcida;
•	 o rompimento com imagens negativas forjadas por diferentes meios de comunicação, 
contra os negros e povos indígenas; 
•	 as excelentes condições de formação e de instrução que precisam ser oferecidas, nos 
diferentes níveis e modalidades de ensino, em todos os estabelecimentos, inclusive os 
localizados nas chamadas periferias urbanas e nas zonas rurais.
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
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3.3.3 Ações educativas de combate 
 ao racismo e a discriminação
O princípio encaminha para:
•	 a conexão dos objetivos, estratégias de ensino e atividades com a experiência de vida 
dos alunos e professores, valorizando aprendizagens vinculadas às suas relações com 
pessoas negras, brancas, mestiças, assim como as vinculadas às relações entre negros, 
indígenas e brancos no conjunto da sociedade;
•	 condições para professores e alunos pensarem, decidirem, agirem, assumindo 
responsabilidade por relações étnico-raciais positivas, enfrentando e superando 
discordâncias, conflitos, contestações, valorizando os contrastes das diferenças;
FONTE: Lei nº 10.639, 9 jan. 2003.
LEITURA COMPLEMENTAR
OS QUADROS CRONOLÓGICOS
Os quadros cronológicos da história da África põem também um problema muito 
delicado: tudo depende da região considerada. Certos setores, como a costa oriental ou a orla 
sul do Sara, evoluíram durante longos períodos, a par e passo com o mundo árabe. Outros, 
desde o início do tráfico de escravos (a costa da Guiné), estiveram estreitamente ligados à 
Europa. Enquanto certas regiões apenas tomarão contato com o mundo moderno no século 
XX. A data de 1591 (Tondibi), tão significativa para o Sudão ocidental, não tem o mesmo valor 
para os reinos Luba ou Lunda. Mas, por outro lado, datas como a tomada de Constantinopla 
(1453), que não exerceram qualquer influência direta na história da África, não podem ser 
utilizadas como pontos de referência. As expressões Idade Média e Renascimento não terão, 
portanto, o mesmo sentido (se algum tem) para a nossa história. Da mesma maneira, as datas 
da Magna Carta inglesa, das Revoluções Americanas e Francesa, da Revolução Soviética 
de Outubro, por muito significativas que sejam para a história universal, não podem servir de 
marcos específicos para a história da África. Mesmo a data da colonização, tão importante 
para a história recente da África e para a delimitação das atuais fronteiras dos Estados, não 
constitui a única e nem a principal charneira em torno da qual se ordenaria toda a história destes 
países. O único método justo consistiria ao que parece, em estabelecer divisões de base que 
englobem as grandes épocas históricas dominadas pelo mesmo complexo de fenômenos. No 
interior dessas épocas é necessário demarcar regiões históricas caracterizadas por situações 
e condições particulares no decorrer de todo o período, e apenas no decorrer dele. Enfim, 
no interior de cada região histórica, em primeiro lugar analisada como tal, é preciso observar 
políticas que oferecem uma originalidade suficiente. Tendo em conta estes princípios, poder-
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se-iam distinguir as fases seguintes:
1º As civilizações paleolíticas caracterizadas por leadership incontestável da África.
2º A revolução neolítica e as suas consequências (desenvolvimento demográfico, migrações 
etc.).
3º A revolução dos metais ou a passagem dos clãs e reinos e impérios.
4º Os séculos de reajustamento: primeiros contatos europeus; tráfico de escravos e suas 
consequências (século XV-XIX).
5º A ocupação europeia e as reações africanas até ao movimento de libertação após a segunda 
guerra mundial.
6º A independência e os seus problemas.
É bem evidente quenunca existe uma separação perfeitamente nítida e que nem todas 
as regiões de África entram ao mesmo ritmo em cada um destes períodos. Mas o cenário geral 
não deixa de ser este.
Esta divisão tem a vantagem de pôr em realce os principais elementos motores da 
evolução humana, ou seja, os fatores socioeconômicos. É por esta razão que as grandes 
viragens não podem ser assinaladas pelos famosos marcos cronológicos em que a data de 
uma batalha leva à mudança de capítulo em certos compêndios escolares. De resto, ainda que 
se quisesse utilizar datas precisas, isso seria as mais das vezes impossível. Não se vá dizer, 
por esse motivo, que seja impossível escrever uma história da África, nem que se tenha de 
fazer tantas histórias quantas as regiões com ritmo de evolução diferente. Não se escreveram 
histórias da Europa quando, por exemplo, a revolução industrial em Inglaterra precedeu por 
vezes de um século a sua chegada à Europa meridional e central? Aliás, mesmo no interior 
de cada país não se veem ritmos históricos absolutamente diferentes? Não acederam certas 
regiões à vida moderna um ou dois séculos depois de outras?
Poder-se-ão assim distinguir como grandes regiões os países da África Ocidental até ao 
Kanem, subdividindo talvez os países da savana e os da floresta; os países da África do Norte, 
da África Oriental, da África Central e da África do Sul. No entanto, deve-se sublinhar de forma 
bem clara que se trata apenas de divisões, digamos, operacionais, metodológicas, para maior 
comodidade. Com efeito, as relações que uniram fortemente todas estas partes integrantes são 
suficientes, apesar dos obstáculos naturais e do nível medíocre das técnicas de deslocação, 
para que se possa afirmar que tem havido, desde a pré-história, certa solidariedade histórica 
continental entre o vale do Nilo e o Sudão até à floresta guineense; entre aquele mesmo vale 
e a África Oriental, com, entre outras coisas, a dispersão dos Lwos; entre o Sudão e a África 
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Central pela diáspora dos Bantos; entre a África Central e a África Oriental pelo comércio 
transcontinental, etc. houve trocas inter-africanas que constituem um puzzle apaixonante e 
explicam as analogias surpreendentes que se verificam através do continente do ponto de 
vista das estruturas políticas e das culturas materiais ou artísticas.
FONTE: KI–ZERBO, Joseph. Os quadros cronológicos. In: História da África Negra. Publicações 
Europa-América, s/d. p. 32-34.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:
•	 A Lei nº 10.639 não é um produto da burocracia, mas um produto da união de forças vindas 
da sociedade brasileira.
•	 As reivindicações dos negros por melhores condições sociais no Brasil não é recente. Pelo 
contrário, desde a chegada do africano ao Brasil, já são perceptíveis indícios de que os 
africanos não foram totalmente submissos ao processo que os escravizou.
•	 Em 2001, a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo realizado em Durban, na África 
do Sul, delineou os contornos das ações que resultaram no movimento pela reserva de cotas 
para afro-brasileiros nas Universidades brasileiras.
•	 A compreensão de como estão estruturadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a 
Educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura afro-brasileira e 
Africana, é fundamental para a inserção da temática em sala de aula.
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Caro(a) acadêmico(a)! Resolva as questões a seguir:
1 Dos aspectos a seguir, quais você associaria à imagem do continente africano? Quais 
sinônimos você associaria a este continente? Após as suas escolhas, justifique sua 
resposta.
•	 A África é sinônimo de:
a) Riqueza.
b) Pobreza.
•	 A África é sinônimo de:
a) Estabilidade política.
b) Instabilidade política.
•	 A África é sinônimo de:
a) Atraso.
b) Desenvolvimento.
•	 A África é sinônimo de:
a) Saúde.
b) Doença.
•	 A África é sinônimo de:
a) Tribo.
b) Civilização.
2 A Lei nº 10.639 não é um produto da burocracia, mas um produto da união de forças 
vindas da sociedade brasileira. A partir desse apontamento, elabore um texto a respeito 
da luta pelas reivindicações do direito negro no Brasil. 
FONTE: Disponível em: <http://www.
guiageografico.com/mapas/mapa/
africa-globe.gif>. Acesso em: 25 
abr. 2010.
FIGURA 1 – IMAGEM DO CONTINENTE 
AFRICANO
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A LEI 10.639 E A FORMAÇÃO 
DE PROFESSORES
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
UNIDADE 1
As diretrizes curriculares para a educação étnico-racial e para o ensino de História 
e Cultura Afro-brasileira e Africana sinalizam que entre os direitos dos cidadãos brasileiros, 
encontram-se o de cursar cada um dos níveis de ensino e de serem orientados por professores 
qualificados e com formação para lidar com as tensas relações produzidas pelo racismo e 
discriminações, sensíveis e capazes de conduzir a reeducação das relações entre diferentes 
grupos étnicos.
O fator chave para a implementação da Lei nº 10.639 é a formação dos professores. 
Eles serão os atores fundamentais desse processo. Para isso é necessário difundir, divulgar a 
proposta dessa lei, bem como ampliar o acesso à produção histórica em relação ao Continente 
Africano. 
Os conteúdos pertinentes ao ensino de história da África vêm se constituindo como uma 
realidade aos cursos de formação de professores. Essa realidade é problemática, sobretudo, 
porque se tem a obrigatoriedade da inserção dos conteúdos referentes a essa temática no 
currículo da educação básica. Mas as iniciativas em proporcionar formação específica nessa 
temática ao professor se encontram em processo de construção no ensino brasileiro. No entanto, 
não se pode negar e nem deixar de citar os núcleos de estudos afro-brasileiros e africanos junto 
às universidades federais, estaduais e também as iniciativas em âmbito estadual, municipal, 
privadas entre outros, engajados em divulgar e difundir as questões relacionadas aos estudos 
da África.
Desta forma, este tópico objetiva delinear e refletir sobre os desafios em introduzir 
a temática história e cultura afro-brasileira e africana nas salas de aula. O professor ao 
trabalhar com esta temática deve atentar para não reproduzir a condição de inferioridade e, 
em contrapartida, também, deve estar atento para não criar uma ideia de enaltecimento das 
sociedades africanas. Seu trabalho deverá possibilitar o entendimento do processo histórico, 
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social, político e econômico que coloca a África na pauta de discussão em alguns momentos 
da História Geral e do Brasil.
2 ENSINAR A RIQUEZA E A DIVERSIDADE DA 
HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA
Para nós brasileiros, a África, como já sinalizado, tem uma importância peculiar, sendo 
juntamente com Portugal uma das grandes matrizes da nossa sociedade.
No entanto, como apresentar um continente rico em sua diversidade, como alinhar 
a significativa contribuição africana ao processo de construção histórica do Brasil. Se, esse 
mesmo continente é ainda alvo da divulgação de imagens depreciativas, onde os conflitos 
étnicos, genocídios, crianças famélicas e aidéticas, líderes corruptos e cruéis são apontados 
como sendo a realidade das muitas sociedades que compõem a mosaica África. 
Essa realidade é indicativa de que não basta fazer referência à África e à história e 
cultura afro-brasileira nas salas de aula, é preciso atentar para a abordagem dos conteúdos que 
serão trabalhados. Ela aponta, também, para anecessidade da formação docente, uma vez 
que os problemas decorrem da estratificação de um imaginário sobre a África, que a concebe 
como um continente pobre, subdesenvolvido, subalterno e incivilizado.
3 PROBLEMÁTICA DIDÁTICA
3.1 AS FONTES DE ENSINO PARA HISTÓRIA DA ÁFRICA
Considerando o olhar negativo sobre a África e africanos que predominou na sociedade 
brasileira durante um longo período, a questão abordada diz respeito ao problema com as 
fontes para ensino de História desse continente. O problema reside em: onde buscar leituras 
que propiciem informações sobre o Continente Africano, sua história e sua diversidade?
Como só há pouco tempo o tema passou a fazer parte do currículo escolar e a incorporar 
as preocupações dos pesquisadores, a carência de material e de fontes é relevante.
Nortear os estudos sobre a África na perspectiva de desnaturalizar, de desmistificar a 
imagem negativa e errônea que se construiu ao longo do tempo, requer um esforço didático 
sobre um corpo de obras interdisciplinares desprovidas de preconceitos ideológicos e que 
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4 AS NOVAS ABORDAGENS NO ENSINO 
DE HISTÓRIA DA ÁFRICA
levem a compreender a configuração histórica desse continente e das sociedades africanas.
No Brasil existe um descompasso entre a produção acadêmica e os saberes que 
circulam nos espaços da educação básica, isto é, o conhecimento científico produzido nas 
universidades, nem sempre chegam às escolas.
O livro didático, instrumento importante na difusão do conhecimento, nem sempre é 
produzido à luz de novos saberes.
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Caro(a) acadêmico(a)! No próximo tópico, abordaremos com 
mais profundidade as questões acerca da História da África e a 
produção do livro didático.
Para mudar a forma como em geral lidamos com conteúdos relativos à África e os 
africanos, é indispensável conhecer acerca de suas realidades passadas e presentes. Para 
isso, já sinalizamos a importância de um esforço didático. Para auxiliá-lo disponibilizamos no 
ambiente virtual, um acervo contendo indicações de leituras sobre a História da África.
DIC
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Disponível no ambiente virtual da Uniasselvi – favor inserir o link 
da uniasselvi.
No entanto, é relevante lembrar que não são somente as fontes escritas que proporcionam 
conhecimento sobre a África.
Caro(a) acadêmico(a)! Para compreendermos a dinâmica que transfere um continente 
desprovido de história, constituído por sociedades ditas incivilizadas, composto por sujeitos 
inferiorizados para um continente rico em diversidade cultural, formado por diferentes sociedades 
com estruturas políticas, religiosas específicas, que viveram processos históricos variados e 
que devem ser entendidos como parte da história da humanidade. Precisamos voltar um pouco 
na história das disciplinas que compõem o Curso de História da Uniasselvi.
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A disciplina de Processos Historiográficos possibilitou-nos compreender a dinâmica 
das novas correntes historiográficas que nos revelaram a existência, a possibilidade de novos 
olhares para a História. Ou seja, que existe uma variedade de abordagens históricas (como a 
questão de gênero, das migrações, da elaboração dos padrões próprios de organização política, 
econômica e social, dos valores estéticos, filosóficos e culturais, entre vários outros). A África 
também se insere nessa perspectiva de um novo olhar para a história.
Precisamos romper com a visão de que esse continente se constitui num bloco 
monolítico. Isto é, precisamos perceber a existência de várias Áfricas dentro de um extenso 
território. Áfricas que apresentaram e apresentam diferenças e semelhanças.
É fundamental que se entenda que a História desse continente não começa com a vinda 
dos escravos para as Américas, que não inicia com o colonialismo dos séculos XV e XVI e 
que também não começa e nem se esvai com a história da civilização egípcia. Na verdade, a 
história da África pré-colonial é uma história rica, em que povos estão organizados, no mínimo 
em clãs. Muitos deles formando reinos, estados e impérios, portanto com estruturas políticas 
diferentes (algumas com mais governo centralizado, outras com governo menos centralizado), 
mais estruturas políticas definidas.
Importante evidenciar que os africanos que vieram para as Américas, em específico 
para o Brasil, como cativos e que aqui se tornaram escravos, muitas vezes eram originários 
da nobreza africana.
DIC
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Livro “Reis Negros no Brasil Escravista – História da Festa de Coroação 
de Rei Congo” (Editora UFMG, 2002, 390 páginas), de Marina de Mello 
e Souza, professora de História da África na Universidade de São Paulo.
FONTE: Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/
images/sps4_19.jpg>. Acesso em: 25 abr. 2010.
FIGURA 2 – CAPA DO 
LIVRO REIS NEGROS 
NO BRASIL ESCRAVISTA
O livro busca traçar o processo histórico no 
qual as festas de coroação de Rei Congo se 
constituíram, privilegiando a perspectiva do 
encontro de culturas diferentes, que, em 
dado contexto de dominação social produziu 
manifestações culturais mestiças. Para tanto, 
foi necessário aprofundar o conhecimento 
da história e da cultura da África Centro-
Ocidental, que compreende a região chamada 
pelos portugueses, dos séculos XVI ao XIX, 
de Congo e Angola e preencher uma lacuna 
nos estudos de manifestações culturais afro-
brasileiras, no que diz respeito às contribuições 
do mundo banto.
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4.1 OS NOVOS DESAFIOS
4.2 A CULTURA NEGRA EM SALA DE 
AULA: ERROS E ACERTOS
Um dos objetivos do acesso à História da África é possibilitar elementos que 
desnaturalizem a África como terra de escravos e os africanos como inferiores.
O professor engajado nesse desafio será, num primeiro momento, obrigado a desconstruir 
os estereótipos e preconceitos que povoam o imaginário social em relação à África.
 
E ainda, compreender que a história desse continente requer a conjunção de dois fatores 
essenciais: construir uma sensibilidade empática para com a experiência histórica dos povos 
africanos, e uma constante atualização dos referenciais sobre África, africanos e afro-brasileiros.
A obrigatoriedade do ensino da História da África está atrelada às múltiplas interações 
do corpo social brasileiro, estimulando o surgimento do que há de melhor, mas também 
aguçando as tendências mais conservadoras ligadas a um passado escravista mal assumido. É 
nesse sentido que o novo esforço do educador pode se transformar num fator democratizante. 
(WEDDERBURN, 2005).
Ainda segundo esse autor, um novo olhar sobre a África se converte numa exigência 
pragmática, acadêmica, cultural e política. As medidas capazes de garantir a generalização 
do ensino da história da África num país onde prepondera cultural e demograficamente o 
componente surgido desse continente, correspondem, efetivamente, a uma perspectiva de 
construção nacional de longo alcance.
Desta forma, inserir a história de um continente em sala de aula não será uma tarefa 
fácil, como já sinalizado, exigirá comprometimento e constante pesquisa.
Abordar questões como discriminação, racismo, preconceito, nem sempre é algo 
confortável. Tratar de temas que geram polêmicas são, ainda, práticas inovadoras no universo 
da escola.
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Preconceito racial é o conceito negativo com relação a 
uma determinada raça. Discriminação racial implica ações 
discriminadoras baseadas em princípios preconceituosos.
As discussões que envolvem o Continente Africano, certamente,não fugirão de 
discussões, reflexões, posicionamento, enfim, a inserção dessa temática dará novos contornos 
às aulas.
Seguem sugestões sobre como abordar o tema.
Erros 
Abordar a história dos negros a partir da 
escravidão.
Acertos
Aprofundar-se nas causas e consequências 
da dispersão dos africanos pelo mundo 
e abordar a história da África antes da 
escravidão.
Apresentar o continente africano cheio 
de estereótipos, como o exotismo dos 
animais selvagens, a miséria e as 
doenças, como a AIDS.
Enfocar as contribuições dos africanos para 
o desenvolvimento da humanidade e as 
figuras ilustres que se destacaram nas lutas 
em favor do povo negro.
Pensar que o trabalho sobre a questão 
racial deve ser feito somente por 
professores negros para alunos negros.
A questão racial é assunto de todos e 
deve conduzir para a reeducação das 
relações entre descendentes de africanos, 
de europeus e de outros povos.
Acreditar no mito da democracia racial. Reconhecer a existência do racismo no 
Brasil e a necessidade de valorização e 
respeito aos negros e à cultura africana.
FONTE: BENCINI, Roberta. Educação não tem cor. Revista Nova Escola. Ano XIX, n. 177, nov. 
2004, p. 47-53.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu:
•	 A inserção da temática História e Cultura Africana e Afro-brasileira é um desafio na educação 
brasileira.
•	 A África, junto com Portugal, é uma das grandes matrizes da sociedade brasileira.
•	 Não basta fazer referência à África e à história e cultura africana e afro-brasileira na sala de 
aula. É preciso atentar para a abordagem dos conteúdos que serão trabalhados.
•	 Precisamos romper com a visão de que o Continente Africano se constitui num bloco 
monolítico. Precisamos perceber as diversas Áfricas que compõem esse extenso continente.
•	 Desnaturalizar a África como terra de escravos e africanos como inferiores.
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Exercite seus conhecimentos adquiridos, resolvendo as questões a seguir:
1 Elabore um pequeno texto sobre a importância das fontes para o ensino da História 
da África. Sugestão: Aponte dificuldades, possibilidades e o uso em sala de aula. 
2 Reflita sobre o seguinte apontamento: O livro didático, instrumento importante na 
difusão do conhecimento, nem sempre é produzido à luz de novos saberes.
3 Aponte os novos desafios ao ensino de história da África.
4 No item 4.2 desse tópico, apresentamos possíveis erros e acertos à abordagem da 
História e Cultura Africana e Afro-brasileira. Escolha um desses itens e escreva um 
texto analisando a possibilidade desse tipo de abordagem em sala de aula.
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A CONSTRUÇÃO DAS 
REPRESENTAÇÕES SOBRE ÁFRICA, 
AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 3
UNIDADE 1
As ideias e imagens que povoam os cenários mentais da sociedade brasileira sobre 
a África e os africanos são resultados de um intenso processo de apropriação e invenção 
do diversificado e heterogêneo conjunto de formas e sentidos utilizados para observar às 
sociedades daquele continente. Representações formadas por elementos herdados de uma 
longa e multifacetada tradição e por outros fabricados a partir das experiências históricas que 
mostram os africanos e afro-brasileiros como submissos, inferiorizados, incivilizados e passíveis 
de escravização, o certo é que, boa parte dessas imagens, associa os africanos a uma série 
de leituras depreciativas, apesar de existirem também os esforços em sentido contrário. 
A imagem caricatural do africano na sociedade brasileira é a do negro acorrentado aos 
grilhões do passado, imagem construída pela insistência e persistência das representações 
da África como a terra de origem dos negros escravizados, de um continente sem história e 
repleto de amimais selvagens. A África é tida sempre como a diferente com relação aos outros 
continentes, há um bloqueio sistemático em pensar o africano sem o vínculo da escravidão. 
 O imaginário social brasileiro tem dificuldades no processo do exercício da 
cidadania na formulação do modelo de origem dos afro-brasileiros. E são essas imagens que, 
ainda, povoam os livros didáticos no Brasil.
 Para delinear essa reflexão acerca da representação do continente africano no 
imaginário social brasileiro, leia o fragmento do texto de Anderson Ribeiro Oliva.
VISÕES SOBRE A ÁFRICA
Em recente viagem à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou a 
intenção do Estado brasileiro, pelo menos de forma simbólica, de quebrar o silêncio de 
algumas décadas nas relações econômicas e diplomáticas mais vantajosas entre as duas 
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margens do Atlântico. Deixando de lado as perspectivas figurativas do tour pela região sul 
do Continente – São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Namíbia e África do Sul - o 
presidente, em seus improvisados, e, portanto, mais reveladores discursos, cometeu o que 
foi para alguns uma gafe, para outros uma dura ofensa à África. Ao fazer comentários sobre 
a limpeza e organização de Windhoek, capital da Namíbia, Lula evidenciou as imagens que 
incorporamos e perpetuamos sobre o Continente. Não tiremos as palavras do presidente, 
sua íntegra nos ajuda à reflexão sobre nosso imaginário acerca da África e dos africanos. 
Estou surpreso porque quem chega a Windhoek [capital da Namíbia], não 
parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, 
tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão extraordinário como tem 
essa cidade [...]. A visão que se tem do Brasil e da América do Sul é de que 
somos todos índios e pobres. A visão que se tem da África é de que também 
é um continente só de pobre (CORREIO BRAZILIENSE, 2003, p. 2).
Não iremos crucificar o presidente como outros fizeram. Não que concordemos com 
tal disparate conclusivo, até porque, tendo oportunidade de se corrigir nos dias seguintes, 
Lula afirmou que apenas constatou o óbvio. Porém, é muito mais enriquecedor analisar 
os pensamentos do nosso chefe de Estado por outra dimensão. Independente de Lula ter 
formação superior ou não, ser presidente ou cidadão comum, nordestino ou gaúcho, pobre 
ou rico, sua postura de admiração com uma “cidade limpa” na África é surpreendentemente 
comum. Para ser mais claro: excluindo um seleto grupo de intelectuais e pesquisadores, uma 
parcela dos afrodescendentes e pessoas iluminadas pelas noções do relativismo cultural, 
nós, brasileiros, tratamos a África de forma preconceituosa. Reproduzimos em nossas ideias 
as notícias que circulam pela mídia, e que revelam um Continente marcado pelas misérias, 
guerras étnicas, instabilidade política, AIDS, fome e falência econômica. As imagens e 
informações que dominam os meios de comunicação, os livros didáticos incorporam a 
tradição racista e preconceituosa de estudos sobre o Continente e a discriminação à qual 
são submetidos os afrodescendentes aqui dentro. A África não poderia ter, fazendo uma 
breve inversão do olhar presidencial, ruas limpas, um povo extraordinário e bela arquitetura. 
Seguindo esse raciocínio, a viagem não poderia ter outra dimensão do que a econômica, 
e o Brasil não poderia ter outra postura do que a de ajuda humanitária à África, já que, por 
sermos tão melhores do que eles, seria ilógico esperar algo de lá.
 Para além da educação escolar falha, é certo afirmar que as interpretações racistas 
e discriminatórias elaboradas sobre a África e incorporadas pelos brasileiros são resultado 
do casamento de ações e pensamentos do passado e do presente. Neste caso, percebe-se 
que as representações deturpadassobre o Continente Africano não são uma exclusividade 
brasileira dos dias do presidente Lula. As distorções, simplificações e generalizações de sua 
história e de suas populações são comuns a várias partes e tempos do mundo ocidental. Dessa 
forma, sem continuarmos a reproduzir leituras e falas como a citada, é muito provável que o 
imaginário de nossas futuras gerações sobre a África não sofra modificações significativas.
FONTE: OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares: representações e 
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imprecisões na literatura didática. p. 421-461. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2003000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 
abr. 2010.
2 AS REPRESENTAÇÕES DO NEGRO NOS 
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
Até que ponto a imagem retratada do negro nos livros didáticos, de forma 
mascarada, contribuiu para a formação de uma cultura que discrimina e exclui? Esse 
questionamento está presente nas discussões que envolvem a produção do livro didático no 
Brasil. E, vem colocando este importante veículo de difusão de saberes e conhecimentos 
como um dos agentes responsáveis pelo processo que retirou os africanos e afro-brasileiros 
da construção da história do Brasil.
Os livros didáticos costumam resumir a participação dos africanos e seus descendentes 
ao papel de escravos no Brasil Colônia, e a uma breve menção à escravidão, mais do que aos 
próprios escravos, no período imperial. Nesse caso, não é raro se mencionarem brevemente as 
leis emancipacionistas (Lei Eusébio de Queiroz, Lei do Ventre Livre e Lei dos Sexagenários) e se 
falar mais demoradamente da Lei Áurea – mesmo que, em um esforço crítico, tente-se questionar 
o caráter “redentor” da lei e da Princesa que a assinou. Sobre a África, pouquíssimo; dificilmente 
as referências vão além da escravidão moderna, da partilha imperialista e, no período pós-
Segunda Guerra Mundial, do processo de descolonização – sempre em pouquíssimas linhas. 
Há exceções, é claro, mas por serem poucas e pouco difundidas, elas acabam confirmando a 
regra: o ensino de História da África no Brasil é muito deficiente. 
Além disso, essa abordagem, longe de proporcionar elementos para que o estudante 
possa compreender a África, os africanos e as nossas origens culturais (e, muitas vezes, 
suas próprias origens familiares), contribui para difundir ainda mais o preconceito: o africano 
é apresentado como escravizado, primitivo, tutelado, explorado. Não se fazem referências às 
diversas civilizações africanas, antigas e originais, muitas delas extremamente ricas e influentes 
em sua época, nem aos complexos modos de vida que se desenvolveram no continente. Pior 
ainda: algumas tentativas de aprofundar um pouco o tema servem, ao contrário, para reforçar o 
preconceito, como ao mencionarem apressadamente a escravidão africana anterior à presença 
europeia. Este é um terreno perigoso, pois, se não compreendermos o conceito de escravidão 
em seu contexto correto, corremos o risco de acreditar que a escravidão, por já existir na África 
por volta de 1500, seria plenamente justificável quando praticada pelos europeus.
Caro(a) acadêmico(a)! Para nos aprofundarmos nas discussões em torno da produção 
do livro didático e da história da África vamos ler o texto que segue.
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O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA ENTRE REPRESENTAÇÕES
Se levarmos em consideração que a grande maioria dos autores de livros didáticos são 
historiadores, ou pelo menos professores de História, os manuais escolares – com seus textos 
escritos e imagéticos – ganham o status de serem representações da História. Da mesma 
forma, seria natural pensar que as mesmas serão (re)significadas pelos seus leitores, sejam 
eles professores ou alunos. Entendemos, portanto, que os textos e os recursos imagéticos 
presentes em um livro didático – mapas, figuras, fotografias, pinturas, charges ou desenhos 
– são produtos da interpretação e da representação de certa realidade pelos seus autores.
Os próprios manuais guardam uma larga possibilidade de entendimento a partir do 
contexto no qual foram fabricados, do momento historiográfico vivenciado, das diversas 
demandas e influências que se apresentaram na elaboração desse tipo de material e de 
ideologias ou mentalidades circulantes. Ao escrever um texto sobre a formação dos Estados 
nacionais europeus e ignorar a multiplicidade étnica da África pré-colonial, ou utilizar imagens 
de africanos escravizados e brutalizados e não aquelas em que aparecem resistindo ou 
interagindo ao tráfico, o autor está fazendo uso de uma série de critérios: sua formação 
acadêmica, suas convicções ideológicas, seu contexto histórico, o público para quem está 
elaborado o material, a intenção das editoras, as limitações de sua formação para tratar 
todos os assuntos e as pressões do mercado editorial. De certa forma, seu trabalho final é o 
resultado de seus olhares direcionados e cheios de significados e interpretações, resultando 
num tipo de representação da história. O livro didático
[...] é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma 
ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstraram como textos e 
ilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores dos grupos 
dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, de acordo 
com os preceitos da sociedade branca [...]. (BITTENCOURT, 1997, p. 72).
A partir das palavras e imagens – significantes – presentes nos livros, os próprios 
alunos irão construir suas representações – significados – ou somente absorverão as 
representações elaboradas pelos autores. De acordo com Zamboni
Com relação à produção do conhecimento em sala de aula, lidamos direta-
mente com a construção e elaboração de imagens e palavras. Neste aspecto, 
a compreensão dos sentidos das palavras é de fundamental importância [...] 
Quando uma palavra adquire determinado significado, pode ser aplicada a 
outras situações: é a aplicação de um conceito a novas situações concretas, 
é um tipo de transferência. (ZAMBONI, 1998, p. 94-95).
Entretanto, acreditamos que a construção de significados em sala de aula não se 
limita às palavras ou textos escritos. As imagens, além de contribuírem para o processo de 
ensino-aprendizagem em História (ibidem: 75), também informam uma maneira de os alunos 
olharem os indivíduos ou grupos sociais que convivem com eles.
A imagem enquanto representação do real estabelece identidade, distribui 
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papéis e posições sociais, exprime e impõe crenças comuns, instala modelos 
formadores, delimita territórios, aponta para os que são amigos e os que se 
deve combater. (MEIRELES, 1995, p. 101).
Seria plausível, então, pensar que se uma criança africana, europeia ou brasileira 
for acostumada a estudar e valorizar apenas ou majoritariamente elementos, valores ou 
imagens da tradição histórica europeia elas irão construir interpretações ou representações 
influenciadas pelas mesmas. Da mesma forma, se as imagens reproduzidas nos livros 
didáticos sempre mostrarem o africano e a História da África em uma condição negativa, 
existe uma tendência da criança branca em desvalorizar os africanos e suas culturas e das 
crianças africanas em sentirem-se humilhadas ou rejeitarem suas identidades.
FONTE: OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares: representações e 
imprecisões na literatura didática. p. 421-461. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2003000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 
abr. 2010.
No entanto, não se desconsideraque o PNLD e a legislação brasileira têm estado 
atentos à representação de negros (e indígenas) nos materiais didáticos. A questão vem sendo 
tratada em concordância com as principais tendências do movimento negro, sob dois ângulos: a 
proibição do racismo em livros e outros materiais didáticos, a exortação à inclusão dos aportes 
de negros (inclusive da África contemporânea) e indígenas na história e construção do país.
2.1 AS CONSEQUÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO 
DA IDENTIDADE NEGRA NO BRASIL
A identidade negra é uma construção social, histórica, cultural e plural. Implica a 
construção do olhar de um grupo étnico-racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo 
sobre si mesmo, a partir da relação com o outro. Construir uma identidade negra positiva em 
uma sociedade que, historicamente, ensinou ao negro, desde muito cedo, que para ser aceito 
é preciso negar-se a si mesmo, é um desafio enfrentado pelos afro-brasileiros. Será que, a 
escola está atenta a essa questão? Será que incorporamos essa realidade de maneira séria 
e responsável quando discutimos a importância da diversidade cultural? 
Assim, quando pensamos a articulação entre educação, cultura e identidade negra, 
falamos de processos densos, movediços e plurais, construídos pelos sujeitos sociais no 
decorrer da história, nas relações sociais e culturais. Processos que estão imersos na articulação 
entre o individual e o social, entre o passado e o presente, entre a memória e a história.
 Nessa perspectiva, quando pensamos a escola como um espaço específico de 
formação, inserida num processo educativo bem mais amplo, encontramos mais do que 
currículos, disciplinas escolares, normas, projetos. Encontramos um espaço passível de interferir 
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na construção da identidade negra.
O olhar lançado sobre o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades 
e diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-las. É 
importante lembrar que a identidade construída pelo negro se dá não só por oposição ao branco, 
mas também, pela negociação, pelo conflito e pelo diálogo com este. As diferenças implicam 
processos de aproximação e distanciamento. Nesse jogo complexo, vamos aprendendo, aos 
poucos, que as diferenças são imprescindíveis na construção da nossa identidade. 
Sendo entendida como um processo contínuo, construído pelos negros nos vários 
espaços institucionais ou não em que circulam, podemos concluir que a identidade negra 
também é construída durante a trajetória escolar desses sujeitos. Nesse percurso, os negros 
deparam-se, com diferentes olhares sobre o seu pertencimento racial, sobre a sua cultura, 
sua história, seu corpo e sua estética. Muitas vezes esses olhares se chocam com a sua 
própria visão e experiência da negritude. Estamos no complexo campo das identidades e das 
alteridades, das semelhanças e diferenças e, sobretudo, diante das diversas maneiras como 
estas são tratadas pela sociedade.
DIC
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Caro(a) acadêmico(a)! Como sugestão assista ao documentário 
Vista a minha pele, dirigido por Joel Zito de Araújo.
Nesta história invertida, os negros são a classe dominante e os 
brancos foram escravizados. Os países pobres são Alemanha e 
Inglaterra, enquanto os países ricos são, por exemplo, África do 
Sul e Moçambique. Maria é uma menina branca, pobre, que estuda 
num colégio particular graças à bolsa de estudo que tem pelo fato 
de sua mãe ser faxineira nesta escola. A maioria de seus colegas 
a hostilizam, por sua cor e por sua condição social, com exceção 
de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado 
em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade. 
Maria quer ser “Miss Festa Junina” da escola, mas isso requer um 
esforço enorme, que vai desde a superação do padrão de beleza 
imposto pela mídia, onde só o negro é valorizado, à resistência 
de seus pais, à aversão dos colegas e à dificuldade em vender 
os bilhetes para seus conhecidos, em sua maioria, muito pobres. 
Maria tem em Luana uma forte aliada e as duas vão se envolver 
numa série de aventuras para alcançar seus objetivos. O centro 
da história não é o concurso, mas a disposição de Maria em 
enfrentar essa situação. Ao final, ela descobre que, quanto mais 
confia em si mesma, mais capacidade terá de convencer outros 
de sua chance de vencer.
Outra opção pode ser o filme “A família da Noiva”, que apresenta um preconceito às 
avessas do que costuma ser apresentado pelos meios de comunicação.
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Elenco: Bernie Mac, Ashton Kutcher, RonReaco Lee, Gus Lynch, 
Phil Reeves, Zoe Saldana, Sherri Shepherd, Amanda Tosch.
Direção: Kevin Rodney Sullivan
FONTE: Disponível em: <http://www.itapevacity.com.br/cinema/
afamiliadanoiva.jpg> . Acesso em: 25 abr 2010.
2.2 O NEGRO E A LITERATURA
A temática afro-brasileira é uma temática marginal na literatura culta brasileira. No 
entanto, na literatura popular, há a existência de uma escrita que é também negra. De uma 
escrita onde duas culturas se sucederam. A negra africana, que foi trazida pelos cativos 
escravizados e a negra brasileira, que se desenvolveu no Brasil, a partir da primeira, mas com 
certa autonomia.
A literatura africana, em consequência a afro-brasileira, se origina a partir do resgate 
da tradição oral. Na África, a cultura parte de uma tradição oral, como forma de conhecimento, 
como forma de herança.
A resistência do mercado editorial no Brasil a esse tipo de literatura, ainda é significativa, 
haja vista, a pouca divulgação de obras com essa temática. No entanto, o acesso ao pensamento 
africano, a forma de ser, de viver, que é diferente da cultura europeia, cultura esta que se faz 
presente no currículo da educação básica, precisa ser acessada. Os professores precisam 
chamar a atenção para a importância do contato com esse tipo de literatura.
FIGURA 3 – CARTAZ DO 
FILME O PAI DA 
NOIVA 
Gênero: Comédia
Distribuidora: Fox Film
Sinopse: A Família da Noiva é uma 
nova versão para o filme Adivinhe Quem 
Vem para o Jantar, de 1967. Kutcher 
interpreta um jovem branco que 
enfrenta problemas quando começa a 
namorar uma bela garota negra, já que 
o pai dela não vê o relacionamento com 
bons olhos devido à diferença racial.
FONTE: <http://www.cinepop.com.br/
filmes/familiadanoiva.htm>. Acesso 
em: 25 abr. 2010.
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Numa cultura oral como a africana, o griot conserva a memória coletiva. A figura do griot tem 
uma enorme importância na conservação da palavra, da narração, do mito. Na prática, eles funcionam 
como escritores sem papel. Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na 
memória e no coração dos seus familiares e conterrâneos, no sentido de manter incrustada 
a identidade do seu ser e das suas raízes, fundamentada, em grande parte, no seu passado. 
Os griots são os guardiães, intérpretes e cantores da História oral de muitos povos africanos.
FONTE: Disponível em: <HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/Griot>. Acesso em: 25 
abr. 2010.
3 ÁFRICA, AFRICANOS E 
 AFRO-BRASILEIROS NAS VIDEOTECAS
A imagem do negro difundido nos meios midiáticos, geralmente, é apresentada de 
forma superficial estereotipada, ou ainda, é pautada na depreciação, minimização ou negação 
existencial. Na maioria, personalidades negras e fatos históricos, fora do âmbito euro-norte-
americano, têm sua participação ignorada ou minimizada na obra. (JÚNIOR et al., 2000).
A produção televisionada no Brasil é projetada mundialmente a partir da produção de 
telenovelas, que têm seus direitos comprados por países estrangeiros, ou seja, a produção da 
dramaturgiabrasileira é veiculada em diversos países.
Se a televisão possibilita a difusão de informações acessível a todos, sem distinção 
social e cultural, é imprescindível perceber o lugar destinado aos personagens negros. 
As telenovelas ao caracterizar o negro de maneira estereotipada trazem para o mundo 
da ficção, um imaginário que permeia as relações entre brancos e negros no Brasil, revelando 
o universo presente nessas relações, atualizam e perpetuam crenças e valores pautados por 
esse imaginário, que não modernizou as relações interétnicas na sociedade brasileira. (LIMA; 
MOTTER; MALCHER, 2000).
FIGURA 4 – GRIOTS DE SAMBALA, REI DE MEDINA (POVO FULA, MALI), 1890
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Até a década de 80 do século passado, a propaganda publicitária apresentava 
negros desempenhando funções subalternas – como trabalhadores braçais de vários tipos. A 
presença era caracterizada pela secundariedade da ação mostrada na mídia, ou seja, o negro, 
geralmente, não ocupava o lugar de destaque na publicidade. Sua presença estava associada 
a complementar o cenário, nunca a de beneficiário de determinado produto.
Nos anos 90, quando afro-brasileiros passam a ser vistos como consumidores, a 
imagem do negro na mídia torna-se recorrente. Criam-se produtos específicos destinados aos 
negros. Com isso modelos e atores afro-brasileiros ganham destaque e espaço nos meios de 
comunicação. (LAHNI et al., 2007).
Apesar do aumento de novelas com maior participação de negros em papéis até 
mesmo principais, em grande parte, eles ainda são representados de maneira negativa 
e estereotipados: de morador de favela ou de caráter duvidoso. Poucos representam 
personagens com sucesso profissional. Portanto, discutir acerca desses estereótipos 
existentes na mídia é uma maneira de contribuir para reflexão acerca de ideias racistas e 
preconceituosas na televisão e na sociedade brasileira.
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DIC
AS!
Caro(a) acadêmico(a)! Sugerimos uma série de filmes e 
documentários que abordam as questões africanas e afro-
brasileiras na mídia e que poderão ser utilizados para trabalhar 
essa temática.
KIRIKU E A FEITICEIRA
D i r e ç ã o : M i c h e l O c e l o t , 7 0 m i n u t o s , 2 0 0 2 . 
Uma história que celebra a coragem, a curiosidade e a astúcia 
sobre uma comunidade subjugada. 
NARCISO RAP
Direção: Jéferson De, 18 min, 2003.
 
FALA TU
Direção: Guilherme Coelho, 74 minutos, 2004. 
CAFUNDÓ
Direção: Paulo Betti e Clóvis Bueno, 102 minutos, 2005.
 
FILHAS DO VENTO
Direção: Joel Zito Araújo, 85 minutos, 2005. 
 
ALMA NO OLHO
Direção: Zózimo Bulbul, 11 minutos,1974.
 
ANICETO DO IMPÉRIO EM DIA DE ALFORRIA
Direção: Zózimo Bulbul, 12 minutos,1981.
 
PEQUENA ÁFRICA
Direção: Zózimo Bulbul, 14 minutos, 2002.
 
SAMBA NO TREM
Direção: Zózimo Bulbul, 22 minutos, 1999/2000.
 
REPÚBLICA TIRADENTES
Direção: Zózimo Bulbul, 36 minutos, 2005.
 
ABOLIÇÃO
Direção: Zózimo Bulbul, 160 minutos, 1988.
 
 
CAROLINA
Direção: Jéferson De, 15 minutos, 2003.
 
A NEGAÇÃO DO BRASIL
Direção: Joel Zito Araújo, 92 minutos, 2000.
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4 ÁFRICA, AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS 
NOS BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
Chicotinho Queimado, Escravos de Jô, Samba Lelê, entre outros são brincadeiras que 
perpassam o universo infantil no Brasil, sejam nos espaços formais como a escola, ou nos 
espaços informais, como as brincadeiras de rua.
Se por um lado, essas brincadeiras renovam os contextos de opressão onde foram 
construídas. Por outro, carregam uma memória afetiva difícil de ser apagada. Nesse sentido, 
as brincadeiras infantis que reiteram ou descartam a desumanização sofrida pelos negros, 
podem ser também, aliadas no processo de resgatar a valorização das ações afirmativas 
que têm o negro como centro. Músicas, danças, jogos podem ser instrumentos para a maior 
densidade da referência africana e afro-brasileira. Para compreendermos esse universo das 
representações infantis, vamos ler o texto a seguir.
REDESCOBRINDO BRINQUEDOS CANTADOS NA AFRICANIDADE BRASILEIRA
Todos os povos têm suas brincadeiras pertinentes às necessidades expressivas de 
cada cultura. Como sonhar acordado, brincar é expor-se de dentro para fora. Segundo a 
Musicoterapia o som tem propriedades físicas que incidem sobre o corpo humano de forma 
objetiva e subjetiva, movendo o sujeito afetivamente, interferindo no seu desenvolvimento 
biopsicossocial. Vamos fazer uma breve leitura de alguns brinquedos do folclore brasileiro 
que perpassam as instâncias da arte de brincar, cantar, dançar e imaginar.
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular. Geralmente são 
cantigas anônimas acompanhadas de movimentos expressivos, saltitantes e ou dramatizados. 
Nestes brinquedos, em geral, as crianças imitam o mundo do adulto vivenciando emoções, 
sensações e conflitos como veículos de elaboração e amadurecimento.
Dos três povos que inicialmente formaram a cultura brasileira, o português trouxe 
maior influência para os brinquedos cantados. A oralidade que caracteriza o processo de 
transmissão das brincadeiras e brinquedos cantados de certa forma transformou as cantigas 
e os modos de brincar, ocorrendo a mistura dos costumes africanos com os lusitanos, além 
das variações regionais de uma mesma brincadeira (CASCUDO,1988). No entanto, os ritmos 
e danças africanas deram um tempero mais brejeiro ao legado lúdico brasileiro. 
Até o século XIX, as brincadeiras das crianças eram muito limitadas pela rigidez 
patriarcal imposta ao comportamento infantil, e porque os infantes eram vistos como 
miniadultos. Freyre (2005) conta que muitas crianças brancas eram criadas pelas escravas 
africanas juntamente com seus filhos negros, os quais eram mais habilidosos com a natureza, 
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mais dados a traquinagens e à criatividade devido a sua condição servil.
Outro aspecto característico das brincadeiras infantis no tempo colonial brasileiro, é 
que as crianças ao acompanharem seus pais no labor cotidiano da casa grande ou do eito 
repetiam em suas brincadeiras estes afazeres e também o contexto de violência vivido na 
época. (FREYRE, 2005).
Nos brinquedos cantados, encontra-se o canto, a poesia, a dança, a brincadeira, 
o compartilhar, devido à simplicidade musical, riqueza simbólica e ludicidade peculiar; as 
vivências através destes elementos lúdicos conquistam a criança como aquilo que é próprio 
do seu tempo.
Os termos brincar e jogar são referenciados como sinônimos por Cascudo (1988). 
Nos principais idiomas internacionais (inglês, francês, alemão e espanhol), brincar e jogar 
também serve para definir atividades artísticas como a interpretação teatral ou musical (Santa 
Roza,1993). Na língua portuguesa, o termo “brincar” vem do latim vinculum e significa laço, 
união. No entanto, é o termo lúdico da nossa língua, também proveniente do latim “ludus”, 
que melhor abrange e define as atividades artísticas, culturais, brincadeiras e jogos. (ibid.)
Passando para o lado prático, vamos brincar com quatro exemplos curiosos do 
cancioneiro infantil brasileiro. O primeiro se chama “Uma, duas angolinhas”, é um brinquedo 
cantado tipo parlenda em roda, com as crianças sentadas e um solista ao meio dando beliscos 
nas mãos de cada colega enquanto cantam as quadrinhas:
Uma, duas angolinhas, Finca o pé na pampulhinha
O rapaz que faz o jogo faz o jogo de capão
Capão sobre capão, Fica aí Mané João
Aquele que tirar a mão por último vai levar um be-lis-cão.
Além do beliscão refletindo a ideia da galinha d’angola beliscando as mãos de cada 
participante,a protagonista da música, uma ave, é um dos mais importantes mitos iorubanos 
sobre a origem da criação do mundo; conta Lopes (2004) que “a galinha d’angola ciscou 
sobre as águas iniciais uma porção de terra e a espalhou por todas as direções fazendo 
nascer terra firme”. Por este mito e outras razões ela também é considerada a primeira iaô 
e é o animal mais importante dentro da tradição dos orixás.
No divertido brinquedo cantado “O Saci Pererê”, as crianças em pé na roda, devem 
cantar e imitar as habilidades do saci mostradas na música:
O Saci Pererê, pula numa perna só,
Ele toca o tambor, toca como ele só.
O Saci Pererê, pula numa perna só,
Ele toca o pandeiro, toca como ele só. (...)
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Esta brincadeira é aberta a improvisações na letra, onde se podem colocar quantos 
instrumentos quiser para o Saci tocar e consequentemente para as crianças imitarem. O 
Saci Pererê, elemento tradicional no nosso folclore, aproxima-se de várias figuras da mítica 
iorubana como: Exu (em suas traquinagens); Arôni (duende iorubano de uma perna só, ligado 
a Ossãim, e que vive nas matas); e ainda é referenciado a uma palavra do campo semântico 
da magia e do sortilégio em ioruba “Ásasí”, conforme assinalado em Lopes (2004 e 2006).
Outro brinquedo cantado de significado muito expressivo é o Tangolomango; as 
crianças brincam em roda também para contagem de números decrescentes, no qual um 
participante deve deixar a roda ao final de cada verso. Eis algumas quadras desta cantiga:
Eram dez irmãs numa casa, Uma delas foi tocar o fole,
Deu um Tangolomango nela, E das dez ficaram nove.
Eram nove irmãs numa casa, Uma delas foi fazer biscoito,
Deu um Tangolomango nela, E das nove ficaram oito.
Eram oito irmãs numa casa, Uma delas foi amolar canivete,
Deu um Tangolomango nela, E das oito ficaram sete. [...]
A simbologia contida nesta brincadeira em que cada momento uma criança deixa de 
fazer parte do grupo acometida pelo Tangolomango vai de encontro às diversas referências 
a esta palavra como “Uma doença atribuída a feitiçaria, bruxedo, azar, infelicidade, morte” 
(LOPES, 2004). Nota-se que este assunto é bastante difícil para o entendimento das crianças 
e carregado de discriminação e preconceito racial, social entre outros. 
Como é de praxe, vamos terminar em samba com uma brincadeira muito conhecida 
no sudeste brasileiro, onde as crianças finalizam a música sambando conjuntamente na 
roda – como fazem os adultos.
Samba Lelê tá doente, Tá com a cabeça quebrada,
Samba Lelê precisava, É de umas boas lambadas,
Samba, samba, samba ô Lelê, Samba, samba, samba ô Lalá. (bis)
Nosso velho conhecido samba não poderia ficar de fora das brincadeiras das crianças. 
Samba é um nome genérico para várias danças brasileiras e para a própria música; contudo, 
foi registrado em Angola o verbo samba querendo dizer “cabriolar, brincar, divertir-se”; é 
remetido também a palavra semba de origem Bantu significando o mesmo que umbigada. 
A propósito, “Lê” é o nome do menor dos três atabaques da orquestra ritual dos candomblés 
jeje-nagô (LOPES, 2004). As crianças se divertem aprendendo e ensinando a dança do 
samba umas às outras. Este parece ser o maior objetivo dos brinquedos cantados: transmitir 
a cultura pela oralidade e pela corporeidade, favorecendo a vivência, a elaboração e o 
desenvolvimento da criança.
Buscamos neste trabalho retomar um pouco o tema da africanidade permeada em 
nossa cultura desde a infância. Há centenas de outros exemplos, mas, precisaríamos de 
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um espaço específico para mostrá-los.
Acredito que dar à criança a oportunidade de brincar, cantar e dançar é investir num 
caminho de busca da essência do ato, da mente, da voz e do pertencimento inventando o 
prazer de ser feliz! Para ambientar o final deste artigo, deixo alguns versos de uma música 
popular brasileira do compositor Gonzaguinha que é um exemplo de ciranda:
REDESCOBRIR
Como se fora brincadeira de roda (memória)
Jogo do trabalho na dança das mãos (macias)
O suor dos corpos na canção da vida (história)
O suor da vida no calor de irmãos (magia) (...).
FONTE: GUERRA, Denise. Redescobrindo brinquedos cantados na africanidade brasileira. 
Revista África e Africanidades. Ano 2. n. 5. Maio 2009. Disponível em: <http://www.
africaeafricanidades.com>. Acesso em: 26 abr. 2010.
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Neste tópico, você viu que:
•	 As ideias e imagens que povoam os cenários mentais da sociedade brasileira sobre a 
África e os africanos são resultados de um intenso processo de apropriação e invenção 
do diversificado e heterogêneo conjunto de formas e sentidos utilizados para observar as 
sociedades daquele continente.
•	 Às imagens e informações que dominam os meios de comunicação, os livros didáticos 
incorporam a tradição racista e preconceituosa de estudos sobre o Continente e a 
discriminação a que são submetidos os afrodescendentes aqui dentro.
•	 Até que ponto a imagem retratada do negro nos livros didáticos, de forma mascarada, 
contribuiu para a formação de uma cultura que discrimina e exclui?
•	 A identidade negra é uma construção social, histórica, cultural e plural. Implica a construção 
do olhar de um grupo étnico-racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo sobre 
si mesmo, a partir da relação com o outro.
•	 A escola não é um espaço passível de interferir na construção da identidade negra.
•	 O olhar lançado sobre o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades e 
diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-las.
•	 A literatura africana, em consequência a afro-brasileira, se origina a partir do resgate da 
tradição oral. Na África, a cultura parte de uma tradição oral, como forma de conhecimento, 
como forma de herança.
•	 As brincadeiras infantis que reiteram ou descartam a desumanização sofrida pelos negros, 
podem ser também, aliadas no processo de resgatar a valorização das ações afirmativas 
que tem o negro como centro.
RESUMO DO TÓPICO 3
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AUT
OAT
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Exercite seus conhecimentos adquiridos, resolvendo as questões a seguir.
1 No item 2.1 desse tópico, refletimos sobre a construção da identidade negra no Brasil. 
A partir das questões apresentadas, elabore um texto compreendendo o papel da 
escola nesse processo.
2 Reflita sobre o papel do negro nas telenovelas brasileiras. Sugestão: se possível, 
estabeleça um contraponto do lugar ocupado pelos personagens negros, anterior e 
posterior a Lei nº 10.639. Utilize para a construção do texto exemplos da teledramaturgia 
brasileira.
3 As brincadeiras infantis, muitas vezes reforçaram o imaginário coletivo, isto é, 
possibilitam a perpetuação de imagens e estereótipos que são difíceis de romper. 
No item 4 deste tópico, refletimos sobre algumas brincadeiras de conotação africana. 
Nesse sentido, aponte brinquedos e brincadeiras infantis que tenham feito parte do 
cotidiano de sua infância, analisando-as como possibilidade de terem reforçado esse 
imaginário distorcido em relação aos africanos e afro-brasileiros.
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SUBSÍDIOS PARA TRABALHAR A 
HISTÓRIA DA ÁFRICA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 4
UNIDADE 1
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, retificando a posição 
da Constituição Federal de 1988, determina que “o ensino da História do Brasil levará em 
conta as contribuições das diferentes etnias para a formação do povo brasileiro (art. 26, § 4º).
Em cumprimento a este dispositivo legal,o Ministério da Educação (MEC), elaborou 
para o Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A grande inovação 
dessa proposta são os temas transversais (Convívio Social e Ética, Pluralidade Cultural, Meio 
Ambiente, Orientação Sexual, Saúde, Trabalho e Consumo). Estas temáticas deverão perpassar 
as diferentes áreas do conhecimento na escola, ou seja, os temas transversais serão abordados 
pelas disciplinas curriculares (Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências e 
Artes) permitindo com isso, práticas interdisciplinares.
A temática Pluralidade Cultural de acordo com o Documento do MEC, 
[...] diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e 
culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às 
desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias 
e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a 
possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e 
algumas vezes paradoxal. 
Esse mesmo documento aponta como objetivos do ensino fundamental o conhecimento 
e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural do país, bem como aspectos 
socioculturais de outros povos e nações, devendo os alunos e professores se posicionarem 
contra quaisquer formas de discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, 
de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. 
Somado a esses esforços, em 2003, foi sancionada a Lei nº 10.639, que estabeleceu 
as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino 
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a da temática História e Cultura Afro-brasileira. Tornando obrigatório o estudo da História da 
África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na 
formação da sociedade nacional. A lei determina, ainda, que os conteúdos pertinentes a essa 
temática sejam trabalhados no contexto de todo o currículo escolar, especialmente no âmbito 
das disciplinas de Arte, Literatura e História do Brasil.
No entanto, as outras áreas do conhecimento escolar não estão isentas de integrarem 
essa temática à produção e resignificação de seus saberes. Pelo contrário, se hoje, o discurso 
que perpassa a escola é um discurso pautado na interdisciplinaridade do conhecimento, como 
não agregar esse tema a outras disciplinas do currículo.
Assim, vamos refletir sobre a prática docente e a prática interdisciplinar para a 
resignificação da história da África e afro-brasileira.
2 POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES 
PARA O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA
O trabalho interdisciplinar converge para um ponto unitário, em que a integração 
das áreas do conhecimento e a relação delas com a realidade de quem aprende, tornam o 
conhecimento dinâmico sob o ponto de vista da aprendizagem.
A interdisciplinaridade vem vislumbrando novos territórios de integração entre os saberes, 
buscando um conhecimento comum e que se contraponha à repartição epistemológica do saber. 
De acordo com as Diretrizes Curriculares vigentes na educação brasileira, o grande 
objetivo da educação no país, hoje, é propiciar ao educando uma aprendizagem interdisciplinar. 
As disciplinas que compõem o currículo da Educação Básica são entendidas como campos do 
conhecimento e se identificam pelos respectivos conteúdos estruturantes e por seus quadros 
teóricos conceituais. Nesse sentido, se tornam pressupostos para a interdisciplinaridade. A 
partir das disciplinas, as relações interdisciplinares se estabelecem quando:
•	 conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à discussão e auxiliam a 
compreensão de um recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina;
•	 ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos quadros conceituais de 
outras disciplinas referenciais teóricos que possibilitem uma abordagem mais abrangente 
desse objeto.
Entendida nessa perspectiva, a interdisciplinaridade rompe a hierarquia entre as 
disciplinas e alinha os saberes entre elas. Possibilitando a resignificação dos saberes dessas 
áreas iniciada sob o olhar de uma disciplina.
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Assim, a temática África e afro-brasileiros que tem seu ponto de partida na História, 
poderá ser trabalhada em outras disciplinas. Embora a Lei 10. 639 cite as disciplinas de História, 
Artes e Língua Portuguesa como norteadoras do trabalho, é possível a interação das diferentes 
áreas do conhecimento no processo de inserção dessa temática na produção do conhecimento 
escolar. Vamos refletir sobre algumas disciplinas e a temática África e afro-brasileiros.
2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA 
E A DISCIPLINA DE HISTÓRIA
2.2 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA 
E A GEOGRAFIA
Em História, como já sinalizado, torna-se necessário desmistificar visões equivocadas 
acerca do negro somente como escravo, da África como continente primitivo e atrasado, da 
passividade quanto à escravidão e do mito da democracia racial.
Como exercício introdutório, é pertinente abordar as representações elaboradas sobre os 
africanos, identificando e desconstruindo os argumentos racistas e estereótipos. É importante, 
também, destacar o uso adequado de conceitos, evitando o anacronismo e o esquecimento 
das características das históricas africanas.
Deverão ser estudados os grandes reinos africanos (Mali, Congo, Zimbábue, Egito, entre 
outros) e suas organizações políticas, sociais, religiosas, econômicas; os povos escravizados 
trazidos para o Brasil e as consequências da Diáspora Africana; os movimentos de resistência 
dos africanos em solo brasileiro, enfim, delinear a presença dessa etnia na sociedade brasileira.
Segundo as Diretrizes Curriculares para o ensino de geografia, esta área de conhecimento 
deve criar estratégias que levem os alunos a pensar a realidade geograficamente e despertar 
a consciência espacial. Para isto, deverá ser empreendida uma educação que contemple a 
heterogeneidade, a diversidade, a desigualdade e a complexidade do mundo atual. 
Tendo esta disciplina como conteúdos estruturantes a dimensão econômica da produção 
no/do espaço; geopolítica, dimensão socioambiental e a dinâmica cultural e demográfica 
poderá, em consonância com a Lei nº 10.639/03, focar o processo de miscigenação de povos; 
a distribuição espacial da população afrodescendente no Brasil e suas contribuições na 
construção da nação; a diáspora africana; composição da população brasileira pela cor, segundo 
o último censo, abrangendo as diferenças de renda e escolaridade; discussões sobre práticas 
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de segregação racial, sobre o mito da democracia racial no Brasil; fazer um levantamento das 
comunidades quilombolas locais, entre tantas outras.
O uso de mapas é um recurso que possibilita mostrar esse continente na escola. Pois 
possibilitam tanto a reprodução das características geográficas quanto da distribuição das 
múltiplas sociedade e hegemonias políticas africanas. Outra possibilidade é apresentar a 
reinvenção dos contornos políticos nos últimos dois séculos a partir da ação colonial europeia 
e dos processos de independência africana, que fazem parte da história contemporânea desse 
continente.
2.3 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA 
E A EDUCAÇÃO FÍSICA
A Educação Física, tendo como conteúdos estruturantes: esporte; jogos e brincadeiras; 
dança; ginástica e lutas, poderá explorar as práticas corporais nas danças como o batuque, 
frevo, jongo, samba, lundu, maracatu, congada e a capoeira (única luta que é praticada ao som 
de instrumentos e cantos), buscando seusignificado no contexto histórico social; brinquedos 
e brincadeiras da cultura africana. 
As Diretrizes Curriculares que orientam o ensino da Educação Física, trazem a capoeira 
como conteúdo básico por meio de uma abordagem teórico-metodológica que procure “estudar 
o histórico da capoeira, a diferença de classificação e estilos da capoeira, enquanto jogo/luta/
dança, musicalização e ritmo, ginga, confecção de instrumentos, movimentação, roda etc.” 
Um grupo de capoeira da comunidade poderia ser convidado a fazer uma apresentação 
para toda a escola ao término do estudo. Ou poderiam ser mostrados jogos de origem africana 
como o apresentado a seguir.
UM jOGO DE TABULEIRO QUE VEIO DA ÁFRICA
Há mais de 200 jogos africanos conhecidos por mancala, que simulam uma semeadura. 
Eles podem ser jogados individualmente ou até por quatro pessoas e são compostos pelos 
mesmos tipos de peça – um tabuleiro de madeira com covas e sementes populares da África. 
Um deles é o Kalah, que, por ter regras simples, é indicado para crianças a partir de 6 anos. 
O Kalah ajuda a desenvolver a atenção e a concentração das crianças, pois uma 
jogada errada se transforma em vantagem para o adversário. A capacidade de antecipação 
é outra importante competência que os alunos adquirem. O objetivo dos competidores é 
acumular o maior número de sementes, mas nem sempre a melhor jogada é a que possibilita 
conseguir uma grande quantidade delas de uma só vez. Durante a brincadeira, os pequenos 
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também vão ficar craques na contagem, já que precisam controlar as sementes a cada jogada.
REGRAS
A cada jogada, participam duas crianças, sentadas frente a frente e tendo o tabuleiro 
entre elas. Cada jogador fica com um potinho à sua direita (chamado de casa de acumulação 
ou reservatório). São colocadas três sementes em cada cova. O primeiro jogador pega as 
sementes de uma delas e as redistribui, uma por cova, no sentido anti-horário. Sempre que o 
percurso incluir o próprio reservatório, ele deposita ali uma semente - que passa a pertencer 
apenas ele. Ao passar pelo reservatório adversário, o jogador não coloca sementes. Toda 
vez que a última semente cair no reservatório da própria criança, ela joga de novo. Ela pode 
partir de qualquer cova de seu campo. Há outra maneira de se apropriar de sementes do 
monte que está sendo distribuído cair em uma cova vazia do próprio campo, o jogador pode 
pegar todas as sementes que estão na cova da frente, no campo adversário. O jogo termina 
quando as sementes já estiverem nos reservatórios dos jogadores ou quando não houver 
mais sementes no próprio campo para jogar. Vence que acumular mais sementes.
FONTE: Adaptado de: MARAGON, Cristiane. Um jogo de tabuleiro que veio da áfrica. Revista Nova 
Escola. Ano XX, n. 187, novembro 2005. p. 64-65.
FONTE: Disponível em: <http://www.katiachedid.com.br/files/atividades/57e43e61a9155933c2be63b
fa c09d0f9.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2010.
DIC
AS!
Caro(a) acadêmico(a)! Para saber mais sobre Educação Física e 
o ensino da cultura africana e afro-brasileira sugerimos a leitura 
das Diretrizes Curriculares. Disponível em: 
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/
File/diretrizes_2009/2_edicao/edfisica.pdf>. Diretrizes Curriculares 
da Educação Básica Educação Física. 
FIGURA 5 – FORMAS DE JOGAR O KALAH
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2.4 O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA 
E A DISCIPLINA DE ARTE
As habilidades e competências desenvolvidas a partir da disciplina de Arte levam o aluno 
a compreender a importante contribuição dos elementos culturais africanos nas expressões 
artísticas brasileiras.
De acordo com a Lei nº 11.769/08 que estabelece a obrigatoriedade do ensino da música 
na educação básica, na disciplina de Arte, norteada pelos conteúdos estruturantes “movimentos 
e períodos”, há possibilidades de se trabalhar a música africana e a música popular brasileira, a 
contribuição da cultura africana na formação da Música Popular Brasileira por meio da origem do 
batuque, do lundu e do samba até chegar ao Movimento Hip Hop (Movimento norte-americano 
constituído por três vertentes: o RAP - música; o Break – dança e o grafite – artes plásticas). 
Esse movimento chegou ao Brasil em 1980 e sofreu a influência da cultura local onde o RAP 
ganhou influência do samba e o break tem um paralelo com a capoeira. 
Em “Artes Visuais” poderão ser feitas máscaras, esculturas, ornamentos, pintura corporal 
e penteados característicos da cultura africana explorando a estrutura de Fractais (Física e 
Matemática). A inserção da arte africana na escola contribui para o rompimento da hegemonia 
da cultura europeia, ainda presente nas escolas brasileiras.
No entanto, em relação ao trabalho docente, isso irá requer comprometimento e muita 
pesquisa, pois não podemos esquecer que as contribuições culturais dos africanos e posterior 
dos afro-brasileiros é rica e se apresenta sob uma significativa diversidade.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_
da_%C3%81frica>. Acesso em: 28 abr. 2010.
FIGURA 6 – MÁSCARA DO SÉCULO XVI, NIGÉRIA, EDO, CORTE DE 
BENIN, MARFIM, METROPOLITAN MUSEUM OF ART
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2.5 A LÍNGUA PORTUGUESA, A 
LITERATURA E A HISTÓRIA DA ÁFRICA
No campo da literatura, existem excelentes trabalhos direcionados para o ensino 
fundamental. Contos, romances e ficções históricas possibilitam acessar parte da mentalidade 
africana.
Existe no Brasil uma série de obras que evidenciam as tradições, a cultura, as relações 
sociais, aspectos econômicos, políticos entre outros que permitem compreender o pensar sobre 
a construção da memória, da identidade e como esta se transforma em narrativa de experiências. 
No entanto, ao trabalhar a narrativa literária de forma interdisciplinar na perspectiva de utilizá-
la como aporte teórico metodológico na compreensão da História da África, devemos estar 
atentos para o fato de que a obra literária mostra uma realidade que lhe é própria, ou seja, a 
sua realidade ficcional. Mas, que é possível através dela compreender processos sociais, e 
uma possível reflexão sobre determinada estrutura social.
A apresentação de escritores como Joel dos Santos Rufino, Ana Maria Machado, Geni 
Guimarães, Aroldo Macedo, entre outros, bem como de compositores e cantores como Gilberto 
Gil, Milton Nascimento, artistas como Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral 
que incluem a figura do negro em suas obras são possibilidades que mostram e valorizam 
o pensamento africano e afro-brasileiro nas expressões culturais e, que oportunizam ações 
didáticas em sala de aula.
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Escrito por Joel do Santos Rufino, O 
Presente de Ossanha conta a história de 
dois meninos e dois mundos distintos. 
Um negro, pobre, escravo e sem 
nome; o outro branco, com nome, 
rico e o direito de fazer do negrinho 
um ‘brinquedo’. Baseado em um conto 
de José Lins do Rêgo, o autor recria a 
história sob o ponto de vista do menino 
sem nome acrescentando informações 
da cultura africana e do mundo mítico 
do moleque escravo.
FONTE: Disponível em: <http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/
resenha/resenha.asp?nitem=3193757&sid=892722135106456192
3505667&k5=20153902&uid>. Acesso em: 26 abr. 2010.
FIGURA 7 – CAPA DO LIVRO 
O PRESENTE DE 
OSSANHA
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Escrito por Ana Maria Machado o 
livro Menina Bonita do Laço de Fita 
conta a história de um coelhinho bem 
branquinho que faz de tudo para ficar 
pretinho como aquela menina do laço 
de fita que ele acha linda. Mas ele nãosabe como a menina herdou aquela cor.
FONTE: Disponível em: <http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/
resenha/resenha.asp?nitem=93908>. Acesso em: 26 abr. 2010.
2.6 A BIOLOGIA E O ENSINO DA 
HISTÓRIA DA ÁFRICA
2.7 A SOCIOLOGIA E O ENSINO 
DA HISTÓRIA DA ÁFRICA
Em Biologia, a discussão deverá estar voltada para a desmitificação das teorias racistas 
através do estudo das características biológicas dos diversos povos; pesquisa e análise das 
condições de vida e de saúde das populações africanas e afrodescendentes relacionando-as 
com os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais das respectivas comunidades. 
As competências e habilidades desenvolvidas na disciplina de Biologia levam o aluno 
a perceber que o planeta é habitado por diferentes tipos biológicos. E que nenhuma diferença 
biológica deve justificar a superioridade ou a inferioridade entre as etnias.
A Sociologia, cujo papel histórico está além da leitura e de explicações teóricas para a 
sociedade, tem como tarefa primordial explicitar e explicar problemáticas sociais concretas e 
contextualizadas, desconstruindo pré-noções e preconceitos que quase sempre dificultam o 
desenvolvimento da autonomia intelectual e de ações políticas direcionadas à transformação 
social. Enquanto disciplina, fundamentada em conteúdos estruturantes como: “O processo de 
socialização e as instituições sociais”, “A cultura e a indústria cultural”, “Trabalho, produção e 
movimentos sociais”, “Poder, política e ideologia”, “Cidadania e movimentos sociais” e tendo 
FIGURA 8 – CAPA DO LIVRO 
MENINA BONITA DO 
LAÇO DE FITA
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3 ESPAÇOS DE VALORIZAÇÃO, RESGATE E 
DIFUSÃO DA MEMÓRIA, DA HISTÓRIA E DA 
CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
como tarefa inadiável a formação de novos valores, de nova ética e de novas práticas sociais que 
apontem para a possibilidade de construção de novas relações sociais, poderá se incumbir de 
pesquisar a luta do afrodescendente pelo direito de igualdade através do Movimento Negro, da 
Lei nº 10.639/03, das cotas raciais para o ingresso nas universidades. Também poderá abordar o 
aspecto religioso através da desmitificação da umbanda e do candomblé (sincretismo religioso). 
Repensar a história africana com vistas à sua valorização e perceber que não existe cultura 
superior ou inferior, mas conhecer e respeitar as diferenças é o que busca a Lei nº 10.639/03.
Caro(a) acadêmico(a)! Lembramos também das outras áreas do conhecimento 
como: matemática, física, língua estrangeira, filosofia, que poderão articular saberes para a 
ressignificação e releitura da História da África e afro-brasileira.
Tratar da importância e valorização da cultura negra dentro da escola, criando espaços 
para manifestações que proporcionem reflexão crítica da realidade e afirmação positiva dos 
valores culturais negros pertencentes a nossa sociedade será um dos desafios que farão parte 
do seu trabalho enquanto professor. No entanto, para uma temática recente na historiografia, 
será necessária a busca por recursos teóricos metodológicos. Nesse sentido, a pesquisa será 
uma ferramenta indispensável ao seu trabalho.
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Como já sinalizado, ao longo do texto desta unidade, existe uma 
diversidade de fontes de pesquisa que lhe serão indispensáveis 
de consulta, para o trabalho com a temática da História da África 
e afro-brasileira. No entanto, com o intento de contribuir ao seu 
trabalho, apontamos alguns recursos de pesquisa aos espaços de 
difusão da cultura africana e afro-brasileira, tais como:
Os museus como o Ilê Ohun Lailai – Museu do Ilê Axé Opô Afronjá 
– em Salvador na Bahia – <www.geocities.com/ileaxeopoafonja>. 
 
<http://www.museuafrobrasil.com.br/apresentacao.asp>. 
Localizado no Parque Ibirapuera em São Paulo, o Museu Afro 
Brasil está voltado à pesquisa, conservação e exposição de objetos 
relacionados ao universo cultural do negro no Brasil.
<http://museucapixabadonegro.blogspot.com>. Localizado em 
Vitória no Espírito Santo. O Museu é um marco da resistência da 
cultura de origem africana neste estado. Desenvolve diversas 
atividades no campo das artes, da história, das ciências sociais 
e antropologia.
Os portais como: 
<www.ceert.org.br>. Centro de Estudos das Relações de Trabalho 
e Desigualdades. 
<http://portaldaculturanegra.wordpress.com/>. Portal da Cultura 
Negra que divulga informações sobre pesquisas, congressos e 
eventos sobre a temática.
<http://www.bnb.df.gov.br/>. A Biblioteca Nacional criou uma 
seção onde são apresentados documentos sobre o tráfico de 
escravos.
Destacamos os Núcleos de Estudo e Pesquisa Afro-brasileiras (NEAB) que se 
desenvolvem junto às universidades brasileiras. Estes espaços têm como objetivo constituir 
centros de referência que articule e promova atividades de ensino, pesquisa e extensão 
relacionadas ao campo de estudos afro-brasileiros. Dentre os NEAB, citamos os seguintes: 
NEAB/UFPR; NEAB/UFJF; NEAB/UFSCAR; NEAB/UFU; NEAB/UDESC; NEAB/UERJ entre 
outros.
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Neste tópico, você viu que:
•	 A grande inovação dos Parâmetros Curriculares Nacionais são os temas transversais que 
possibilitam a inserção de outros conteúdos em sala de aula para que sejam trabalhados 
de forma interdisciplinar.
•	 A Lei 10.639 determina que os conteúdos relacionados à temática História e Cultura Africana 
e Afro-brasileira sejam trabalhados, preferencialmente, em todas as disciplinas da Educação 
Básica.
•	 O grande objetivo da educação no país, hoje, é propiciar ao educando uma aprendizagem 
interdisciplinar.
•	 A interdisciplinaridade rompe a hierarquia entre as disciplinas e alinha os saberes entre elas.
•	 Em História, torna-se necessário desmistificar visões equivocadas acerca do negro somente 
como escravo, da África como continente primitivo e atrasado, da passividade quanto à 
escravidão e do mito da democracia racial.
•	 O uso de mapas é um recurso que possibilita mostrar o continente africano na escola.
•	 As habilidades e competências desenvolvidas a partir da disciplina de Arte levam o aluno a 
compreender a importante contribuição dos elementos culturais africanos nas expressões 
artísticas brasileiras.
•	 No campo da literatura, existem excelentes trabalhos direcionados para o ensino fundamental.
RESUMO DO TÓPICO 4
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1 Caro(a) acadêmico(a)! Ao longo desse tópico, procuramos estabelecer uma relação 
entre as áreas do conhecimento e a temática História e Cultura Africana e Afro-
brasileira, de forma a compreender a interdisciplinaridade entre essas áreas. O desafio 
para essa autoatividade é a elaboração de um planejamento de ações docentes que 
apresentem um trabalho interdisciplinar. Então mãos à obra!
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Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da 
Unidade 1, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.
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UNIDADE 2
A INVENÇÃO DA ÁFRICA
OBjETIVOS DE APRENDIZAGEM
Nessa unidade vamos:
	compreender as propostas teóricas para a escrita da História da 
África;
	refletir sobre as diferentes formas de organização política, 
econômica e cultural na África;
	perceber as configurações internas e externas das relações de 
comércio no Continente Africano;
	analisar a influência do mundo islâmico sobre o Continente Africanona perspectiva de perceber as alterações em âmbito econômico, 
social, político e cultural ocorridos neste continente.
TÓPICO 1 – AS MUITAS ÁFRICAS: ASPECTOS DA 
HISTORIOGRAFIA AFRICANA
TÓPICO 2 – FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DAS 
SOCIEDADES AFRICANAS
TÓPICO 3 – AS RELAÇÕES COMERCIAIS EM ÁFRICA
TÓPICO 4 – A ÁFRICA E O ISLAMISMO
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada 
um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e a 
fixar os conhecimentos abordados.
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AS MUITAS ÁFRICAS: ASPECTOS 
DA HISTORIOGRAFIA AFRICANA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
UNIDADE 2
Em 1972, o historiador africano Joseph Ki-Zerbo questionava a circulação e a difusão 
dos saberes sobre a África. Apontava ele para o fato de que a valorização do passado desta 
terra estava associada a fatores de ordem interna e externa a este continente. De ordem interna, 
o autor apontava ser o interesse resultado do ardor subjetivo ao processo de independência 
de numerosos países africanos.
Durante a colonização, a sua história não passava de mero apêndice, de 
acrescento à história do país colonizador. [...]. Quebrado que foi o parêntese 
colonial, estes países assemelham-se um pouco ao escravo libertado que se 
põe à procura dos seus e quer saber a origem dos antepassados. Quer também 
transmitir aos filhos aquilo que encontrou. Daí a vontade de integrar a história 
africana nos programas escolares. (KI-ZERBO, 1972, p. 8)
Inicia-se uma intensa produção historiográfica dentro do continente africano com o 
objetivo de resgatar a historicidade desse continente e projetá-lo no espaço mundial. Várias 
correntes africanistas se difundem em diversos países. De resto, a África saía da obscuridade 
para integrar o cenário da história em âmbito mundial, tornando-se um tema de interesse às 
outras áreas do conhecimento. Muitos eram os que se perguntavam: mas, no fundo, quem 
são estes africanos, que estão no ponto fulcral da atualidade? Que fizeram até aqui? Donde 
vêm? Por que só é possível conhecer bem um povo, como um indivíduo, se esse conhecimento 
alcança certa dimensão histórica? Para julgar ou extrapolar não é suficiente o conhecimento 
da realidade atual. É o conhecimento de toda a curva que conta. (KI-ZERBO, 1972).
Nesse sentido, inicia-se um movimento de projetar a história do continente africano 
distanciada de uma história fragmentada. Lembrando que estudamos na Unidade 1 que a 
História da África está inserida em alguns períodos da História Geral, pois não existiam, até 
então, linhas de pesquisa histórica que trouxesse o Continente Africano como ator principal 
no processo historiográfico. A partir desse movimento, é perceptível o interesse em escrever 
uma história que fosse capaz de mostrar uma “História da África Total”, isto é, uma história que 
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retornasse aos primórdios deste continente e que o historicizasse ao longo dos anos.
No entanto, a historiografia sobre a África padeceu, durante muito tempo, dos 
preconceitos racistas dos estudiosos. São inúmeros os casos de historiadores que simplesmente 
não conseguiam acreditar que os povos africanos fossem capazes de criar culturas originais 
e civilizações sofisticadas. Atribuíam a formação dos impérios africanos a povos brancos, 
chamados hamíticos ou camitas, que teriam espalhado misteriosamente sua sabedoria sobre 
populações ignóbeis. O historiador burquinense Joseph Ki-Zerbo (1995, p. 14) nos indica que 
essa tendenciosidade tem várias motivações entre as quais uma das mais importantes é, 
certamente, o racismo. Também são elementos importantes a conjuntura colonialista em que 
se criaram os estudiosos (que de certa forma engendrou o próprio racismo) e o pensamento 
pós-colonialista. Mas, o principal problema, para ele, seria a própria dificuldade de se trabalhar 
com as fontes em relação à história da África.
As perspectivas historiográficas em relação ao continente africano organizam-se sob 
dois olhares: um de ordem interna e outro de ordem externa. Nesse sentido, temos muitas 
Áfricas que serão descobertas ao longo de nossos estudos.
2 RACISMO E RACIALISMO
3 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO 
EXTERNO SOBRE A ÁFRICA
O filósofo ganês Kwame Anthony Appiah (1997) estabeleceu uma distinção entre racismo 
e racialismo. Racialismo, no seu entender, seria simplesmente a concepção de que existem 
grupos humanos – raças – essencialmente diferentes entre si, por algumas características 
físicas que são parte de um conjunto. Cada raça, então, teria determinadas características 
específicas, que permitiriam identificar a qual delas um determinado indivíduo pertence apenas 
por suas características físicas. Mas, essa noção não estabelece juízo de valor ou gradação 
moral entre as raças; fazer-se isso já configuraria racismo, ou seja, a crença de que cada raça 
tem um lugar determinado e um valor intrínseco, geralmente estabelece-se uma hierarquia moral 
entre elas. Na forma que o racismo assumiu em nossa cultura, mesmo entre os estudiosos até 
algumas décadas atrás, isso iria ao ponto de tentar-se negar a capacidade da “raça negra” de 
produzir civilizações originais por conta própria, dependendo sempre de viajantes capazes, 
brancos, para lhes trazer cultura. Em outros termos, o racismo chega a negar a inteligência e, 
portanto, a plena humanidade dos africanos e de seus descendentes.
Em 1830, em seu curso intitulado Curso sobre a Filosofia da História, Hegel declarava 
que “A África não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimentos, progressos a mostrar, 
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movimentos históricos próprios dela. Quer isto dizer que a sua parte setentrional pertence 
ao mundo europeu ou asiático. Aquilo que entendemos precisamente pela África é o espírito 
a-histórico, o espírito não desenvolvido, ainda envolto em condições de natural e que deve ser 
aqui apresentado apenas no limiar da história do mundo”. (KI-ZERBO, 1972, p. 10).
O manual L’Historie de l’Afrique Orientale, escrito por Coupland, em 1928, fazia a 
seguinte referência sobre as sociedades africanas: pode-se dizer que a África propriamente 
dita não tivera história. A maior parte de seus habitantes tinha permanecido durante tempos 
imemoriais, mergulhados na barbárie. Tal fora, ao que parece, o desígnio da natureza. Eles 
permaneciam no estagnamento, sem avançar nem recuar.
Em 1957, Gaxotte escreveu para a Revue de Paris: estes povos (referindo-se aos 
africanos) nada deram à humanidade. “E deve ter havido qualquer coisa neles que os impediu. 
Nada produziram. Nem Euclides, nem Aristóteles, nem Galileu, nem Lavoisier, nem Pasteur. 
As suas epopeias não foram cantadas por nenhum Homero”. (KI-ZERBO, 1972, p. 11).
Essas visões sobre a África explicam-se a partir do movimento científico do século 
XIX, século da organização das ciências, quando as crenças científicas, provenientes das 
concepções do Darwinismo Social e do Determinismo Racial, colocaram os africanos nos últimos 
degraus da evolução das raças humanas. Apontados como: infantis, atrasados, primitivos, 
incapazes de aprender ou fazer, incapazes de evoluírem, os povos africanos se tornavam 
objetos da benfazeja ajuda europeia por meio das intervenções imperialistas no continente. 
Não podemos esquecer que neste mesmo período o pensamento histórico está passando por 
adequações, surgindo uma espécie de história científica.
Esta ciência histórica desconsiderava a história vivenciada no Continente Africano, ou 
seja, os povos africanos não possuíam papel de destaque na história da humanidade. Primeiro 
em função da ausência,em grande parte das sociedades abaixo do Saara, de códigos escritos 
– havia a predominância da tradição oral entre esses povos e segundo por serem classificados 
em sociedades que não possuíam mobilidade. Estas reflexões circulavam nas perspectivas 
historiográficas até aproximadamente a década de 60 do século XX.
A mudança dessa perspectiva é anterior aos movimentos de independência das colônias 
africanas, iniciadas na década de 50 e estendidas até o final da década de1970. De certa forma, 
pode-se afirmar que neste período, inicia-se uma espécie de revolução nos estudo sobre a 
África. As pesquisas e investigações sobre este continente se diversificaram e ampliaram suas 
abordagens.
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4 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO 
INTERNO SOBRE A ÁFRICA
O movimento de independência de alguns países africanos, iniciados nos anos de 
1950 e estendidos até o final da década de 1970, de certo modo, forçava a construção de 
histórias nacionais para cada região “inventada” pelos europeus e reinventada pelos africanos. 
A independência criou, por parte de uma nova elite política e intelectual, a necessidade da 
elaboração das identidades africanas dentro do continente e deste diante do mundo. Para esse 
intento, era necessário retornar ao passado em busca de elementos que legitimassem uma 
História Africana rica e diversificada, tanto quanto a História da Europa.
Segundo Appiah (1997), era necessário ter qualidades e forças em um mundo competitivo 
em uma África submersa em problemas dos mais diversos tipos. Para o filósofo africano, 
entre esses primeiros pensares pós-independência estaria o aparecimento de ideologias que 
defendiam e resignificavam a identidade africana: o pan-africanismo e a negritude. Estas 
duas ideologias buscavam enfatizar a existência de uma identidade comum que serviria como 
símbolo distintivo e de qualificação dos africanos em relação ao resto da humanidade. Essas 
ideias tiveram grande influência nos movimentos negros para além da África.
4.1 A HISTORIOGRAFIA “AFROCÊNTRICA”
Após as independências nacionais africanas, como já foi sinalizado, diversos estudiosos 
se dedicaram a combater a ideia de que a África seria um continente sem história, como 
tradicionalmente entendia a historiografia eurocêntrica a respeito. Buscando valorizar a 
história africana e principalmente combater os preconceitos acadêmicos a respeito, esses 
historiadores, muitos deles africanos formados em prestigiosas universidades dos Estados 
Unidos ou da Europa – procuraram utilizar, em seus estudos, dos mesmos argumentos e da 
mesma metodologia que tradicionalmente se utiliza para a história europeia. Dessa forma, esses 
historiadores “afrocêntricos” procuraram valorizar os grandes reinos e grandes monumentos 
erguidos pelos africanos, destacando a originalidade das civilizações do continente e, 
especialmente, denunciando a grande desarticulação pela qual a África passou com o advento 
da escravidão moderna. Em seu entender, a história africana seria merecedora de estudos 
em vista da grandiosidade que atingiram vários povos, e que a presença europeia destruiu 
sem procurar conhecer. Por vezes, chegavam a afirmar a superioridade africana em relação 
às demais regiões do mundo. Dentre esses estudiosos, incluem-se Basil Davidson, Roland 
Oliver e Joseph Ki Zerbo. Ki-Zerbo (1922-2006), autor de diversas obras, entre elas História da 
África Negra – foi um dos maiores estudiosos africanos de todos os tempos e um dos principais 
articuladores da independência de Burkina Faso.
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Muitos foram os críticos dessa perspectiva. Um deles alegou que, se a África é uma 
região de grande autonomia e criatividade, não necessita de parâmetros europeus para ser 
estudada (OLIVA, 2003). Os críticos certamente têm razão em suas argumentações. No entanto, 
é importante termos em mente que, dado o nível de desconhecimento geral da população sobre 
a História da África, e em vista do enorme preconceito que ainda recai sobre os africanos e os 
afrodescendentes, uma abordagem que ressalte a originalidade e a riqueza da África anterior 
aos europeus, sem exageros, por certo, não apenas tem cabimento, como se torna essencial. 
Em outras palavras, os desafios vivenciados pelos historiadores dos anos 1960 e 1970, no 
que diz respeito ao preconceito contra os africanos, ainda estão longe de serem solucionados.
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Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundarmos nosso conhecimento 
em relação às teorias afrocêntricas vamos ler o texto de Molefi Kete 
Asante, traduzido pelo professor Renato Nogueira Júnior, ativista 
e intelectual, engajado em pesquisas e práticas afrocentradas no 
Laboratório de Estudos Afro-brasileiros da UFRRJ (Universidade 
Federal Rural do Rio de Janeiro).
Afrocentricidade é um paradigma baseado na ideia de que os povos africanos 
devem reafirmar o sentido de agência para atingir a sanidade. Durante os anos de 1960, um 
grupo de intelectuais afro-americanos inseriram os Estudos Negros nos departamentos das 
universidades, começando a formular maneiras originais de análise do conhecimento. Em 
muitos casos, estes novos modos foram denominados de conhecimento numa “perspectiva 
negra” como oposição ao que tem sido considerado “perspectiva branca” da maior parte 
do conhecimento na academia americana. No fim dos anos de 1970, Molefi Kete Asante 
começou a falar sobre a necessidade de uma orientação Afrocêntrica da informação. Em 
1980, ele publicou o livro Afrocentricidade: a teoria da mudança social, o que promoveu 
pela primeira vez um debate detalhado do conceito. Embora o termo seja anterior ao livro 
de Asante e tenha sido usado por muitas pessoas, incluindo Asante nos anos de 1970 e 
Kwame Nkrumah na década de 1960, a ideia intelectual não tinha base enquanto conceito 
filosófico antes de 1980.
O paradigma Afrocêntrico é uma mudança revolucionária no pensamento proposto 
como uma correção construtural da desorientação negra, descentramento e falta de 
agência negra. A Afrocentrista formula a pergunta: “O que as pessoas africanas fariam se 
não existissem pessoas brancas”? Em outras palavras, quais as respostas naturais que 
se deveriam dar nos relacionamentos, atitudes em relação ao meio ambiente, padrões 
de parentesco, preferências por cores, tipo de religião, referências históricas de povos 
africanos se não tivesse ocorrido nenhuma intervenção do colonialismo e escravização? 
Afrocentricidade responde esta questão assegurando o papel central do sujeito africano 
dentro de seu contexto histórico, por conseguinte, removendo a Europa do centro da realidade 
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africana. Deste modo, Afrocentricidade promove uma ideia revolucionária porque estuda 
ideias, conceitos, eventos, personalidades e processos políticos e econômicos de um ponto 
de vista do povo negro como sujeito e não como objeto, baseando todo conhecimento na 
autêntica interrogação sobre a localização.
Isso torna legítimo perguntar: “Donde vem a mina?” ou “onde tá o mano?” “Você 
tá sufocado com a pressão?” Estas são avaliações e questões relevantes que permitem à 
pessoa que investiga precisar cuidadosamente o lugar da resposta, o lugar psicológico ou 
cultural. Como o paradigma da afrocentricidade admite a centralidade de africanas(os), isto é, 
ideais e valores negros são tomados como as formas mais elevadas de expressão da cultura 
africana, sua conscientização é um aspecto funcional para uma abordagem revolucionária 
do fenômeno. O aspecto estrutural e o aspecto cognitivo de um paradigma são incompletos 
sem o aspecto funcional. Há algo além do conhecimentonum sentido afrocentrado; existe 
também o fazer. Afrocentricidade sustenta que todas as definições são autobiográficas.
Uma das suposições-chave da(o) afrocentrista é que todas as relações são baseadas 
em centros e margens e nas distâncias de cada lugar do centro ou da margem. Quando povo 
negro tem seu ponto de vista centrado, tomando nossa própria história como centro; então, 
nos enxergamos como agentes, atores e participantes, ao invés de marginalizados na periferia 
da experiência política ou econômica. Com este paradigma, seres humanos descobriram 
que todos os fenômenos são expressos através de duas categorias fundamentais espaço e 
tempo. Além disso, no momento que compreendemos que as relações se desenvolvem e o 
conhecimento se amplia nos tornarmos aptos a apreciar as questões considerando espaço 
e tempo.
A intelectual ou ativista afrocentrada sabe que um modo de expressar afrocentricidade 
se chama demarcação. Quando uma pessoa traça uma fronteira cultural em torno de um 
espaço cultural particular num tempo humano, isto é denominado de demarcação. Isto pode 
ser feito através do anúncio de um determinado símbolo, da criação de laços especiais ou da 
menção de heroínas e heróis da história e cultura africana. O que significa que fora a citação 
de pensadores revolucionários da nossa história, ou seja, além de Amilcar Cabral, Frantz 
Fanon, Malcom X e Kwane N’kruman nós devemos estar preparados para ações imediatas 
conforme nossa interpretação do que é melhor e mais interessante para o povo negro, isto 
é, de pessoas negras enquanto população historicamente oprimida. Isso é extremamente 
necessário para o avanço neste processo político. Afrocentricidade é a essência de nossa 
regeneração porque ela é a orientação com a qual filósofos contemporâneos como Haki 
Madhhubuti e Maulana Karenga, entre outros, têm articulado uma imagem mais interessante 
do povo africano. O que é melhor do que operar e agir segundo nosso próprio interesse 
coletivo? O que é mais gratificante do que enxergar o mundo com nossos próprios olhos? O 
que repercute mais nas pessoas do que compreender que somos o centro de nossa história 
e não qualquer um? Se nós podemos, durante o processo de conscientização, reivindicar 
nosso espaço como agentes da transformação progressiva, então podemos modificar nossa 
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condição e mudar o mundo. Afrocentricidade mantém nossa reivindicação por espaço, 
exclusivamente, se entendermos as características gerais da afrocentricidade também como 
aplicações práticas de campo.
As cinco características do método afrocêntrico:
•	 O método afrocêntrico considera que nenhum fenômeno pode ser apreendido 
adequadamente sem ser localizado primeiro. Um fenômeno deve ser estudado e analisado 
a partir das relações de tempo e espaço psicológicos. Ele deve sempre ser localizado. 
Ou seja, este é o único modo para investigar as complexas inter-relações entre ciência e 
arte, projeto e execução, criação e manutenção, geração e tradição e tantas outras áreas 
atravessadas pela teoria.
•	 O método afrocêntrico considera o fenômeno múltiplo, dinâmico e em movimento e, 
portanto, ele é imprescindível para uma pessoa anotar cuidadosamente e registrar de 
modo preciso a localização do fenômeno em meio às flutuações. O que significa que o(a) 
investigador(a) deve saber onde ele ou ela se encontra no processo.
•	 O método afrocêntrico é uma forma de crítica cultural que examina a ordem e os usos 
etimológicos das palavras e termos para reconhecer a localização das fontes de um(a) 
autor(a). O que nos permite articular ideias com ações e ações com ideias baseadas no 
que é pejorativo e ineficaz, e, baseado no que é criativo e transformador em níveis políticos 
e econômicos.
•	 O método afrocêntrico procura descobrir o que está por trás das máscaras da retórica 
do poder, privilégio e hierarquia para estabelecê-lo como o principal lugar de produção 
de mitos. O método estabelece uma reflexão crítica que revela que a percepção 
do poder monolítico não passa da projeção de uma armação de aventureiros. 
•	 O método afrocêntrico localiza a estrutura imaginativa de sistemas econômicos, partidos 
políticos, política de governo, forma de expressão cultural através da atitude, direção e 
linguagem do fenômeno, seja ele texto, instituição, personalidade, interação ou evento.
FONTE: Disponível em: <http://conscienciarevolucionaria-kassan.blogspot.com/2009/11/dr_17.html>. 
Acesso em: 12 maio 2010.
4.2 O PENSAMENTO DE CHEIK ANTA DIOP
O historiador, antropólogo e médico senegalês Cheik Anta Diop (1923-1986) foi um dos 
principais críticos da historiografia tendenciosa sobre a África. Na década de 1950, defendeu a 
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tese de que a civilização egípcia antiga havia sido uma cultura formada por negros africanos. 
Essa é apenas uma de suas teorias controversas (mas cada vez mais aceitas, com ressalvas, 
pelos estudiosos). A originalidade e a fecundidade de suas ideias merecem uma menção 
destacada neste tópico introdutório sobre a História da África.
O ponto central da tese de Diop, mencionada anteriormente, era a dificuldade de se 
estabelecer com precisão o significado de “negro”. Buscando eliminar o estigma que a palavra 
carregava, Diop apontou que o conceito de “negro” deveria ser expandido para se assemelhar 
ao de “branco”. A definição corrente de “negro”, entre os estudiosos da época, era tão restrita 
que excluía povos como os núbios e os egípcios – que eram classificados como “brancos” 
ou como tendo origens supostamente europeias. Para Diop, era a ideologia (ou o racismo, 
poderíamos dizer) a origem dessa restrição: a intenção seria negar à “raça negra” qualquer 
iniciativa de civilização, por considerá-la incapaz disso. A controversa origem dos egípcios, no 
seu entender, negava completamente essas teorias.
Diop afirmava que o Egito, longe de ser uma cultura formada a partir de uma vertente 
europeia (ou euro-asiática) de civilização, era parte de um berço civilizatório de origem africana. 
As características desse berço meridional seriam, em muitos pontos, opostas às do berço 
euro-asiático: por ser uma região de recursos naturais muito abundantes, a África ensejaria 
mais a cooperação e a paz do que as disputas territoriais e a agressividade das populações; 
as sociedades seriam matriarcais e o papel social da mulher, consideravelmente maior. Os 
estudiosos atuais são reticentes em relação a essas ideias, que parecem criar uma dicotomia 
entre civilizações do Norte e do Sul. Ao fazer isso, Diop estaria mitificando as sociedades 
africanas, apresentando-as como harmoniosas e pacíficas, em oposição às culturas europeias.
Algumas das ideias de Diop, formuladas em uma época que não permitia a sua 
verificação, revelaram-se corretas: ele postulava que haveria uma forte conexão entre as 
línguas de diversas partes do continente, especialmente entre as do Egito e de regiões ao 
sul do Saara, como o wolof do Senegal. Diop rejeita a ideia de ‘brancos civilizadores’ entre 
os africanos. Estudiosos modernos, embora questionem essa relação específica, percebem 
outras que Diop não notou, como as línguas do Chade, línguas cuxíticas do norte da África e 
línguas semíticas da Etiópia (como o amárico).
4.3 O PENSAMENTO DE JOSEPH KI-ZERBO
Pertencente a uma das principais gerações de pensadores africanos, o historiador 
Joseph Ki-Zerbo, assim como Diop, defendia a ideologia de uma África historicizada “A África 
que o mundo necessita é um continente capaz de ficar de pé, de andar em seus próprios pés. É 
uma África consciente do seu próprio passado e capaz de continuar reinvestindo este passadoUNIDADE 2 TÓPICO 1 67
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5 PROBLEMAS METODOLÓGICOS
6 AS FERRAMENTAS HISTORIOGRÁFICAS
em seu presente e futuro”. (KI-ZERBO, 1972, p. 80)
A perspectiva histórica difundida por este historiador estava associada à iniciativa de 
modificar as leituras e visões sobre a África, procurando redimensionar sua história, inclusive 
colocando-a como ponto de partida para explicar a História Ocidental. Devendo as investigações 
focarem a África em sua trajetória. As histórias dos reinos e civilizações africanas foram utilizadas 
como exemplo de capacidade e organização, transformação e produção africanas, que nada 
ficava a dever aos padrões europeus.
À parte os preconceitos raciais dos estudiosos do século XIX e apesar das modernas 
metodologias historiográficas, que passaram a dar mais importância a registros de outras 
naturezas, além das fontes escritas – em uma linha denominada história total, é inegável que 
os historiadores se ressentem da carência de fontes históricas escritas sobre a África. Além 
disso, as poucas fontes disponíveis não estão bem distribuídas por épocas e por regiões, 
concentrando-se em algumas partes do continente, ao passo que outros locais e períodos 
passam praticamente “em branco”. É claro que isso dificulta um pouco o trabalho do historiador, 
que se sente obrigado, mais do que simplesmente atraído por uma opção metodológica, a se 
utilizar de outros tipos de fontes para realizar sua tarefa. Mas isso certamente não inviabiliza 
estudos consistentes sobre a História da África.
As fontes escritas sobre a História da África antiga são, em sua maioria, provenientes 
dos relatos de viajantes muçulmanos (árabes ou não) pelas regiões sob a influência do Islã – 
para citar alguns, Ibn Hawkal, Al Bakri, Mahmud Kati, Al Idrisi e o célebre Ibn Battuta. Por esse 
motivo, são mais comuns nas regiões do norte da África e no Sahel, ao passo que as regiões 
de floresta e outras mais ao sul praticamente não foram relatadas. Mas, além dessas fontes, 
têm-se descoberto documentos espalhados por toda a África, em diversas línguas: hauçá, 
bamum, suaíle. Certamente esses documentos não são tão numerosos quanto se gostaria e 
deixam ainda muito mais lacunas do que preenchem. Esse não é, como nos lembra Ki-Zerbo, 
um quadro tão diferente da Idade Média europeia, quando uma quantidade mínima de pessoas 
era alfabetizada e os documentos escritos eram bastante raros.
Por outro lado, a Arqueologia e a Linguística têm um papel extremamente relevante 
para os estudos de história da África. A primeira, por recolher os objetos que permitem suprir 
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a carência de informações escritas, e muitas vezes de forma mais verdadeira do que um 
documento que pudesse ser produzido “para ser encontrado”. A segunda, porque o estudo das 
influências que uma língua africana exerceu sobre outra nos dá pistas sobre o modo de vida 
original dessas populações e sobre as relações de parentesco étnico entre os vários povos. 
Além do mais, os relatos da tradição oral têm permitido confirmar muitas das informações 
transmitidas pelos viajantes e, com base nessas relações de parentesco étnico, é possível fazer 
inferências sobre o comportamento de povos sobre os quais se tem pouca informação direta.
A partir dos anos 1980, a historiografia africana ganhou um grande impulso com a 
publicação de uma coleção organizada pela UNESCO intitulada História Geral da África, em oito 
volumes. Editada em várias línguas, dentre elas o português. A coleção trata em profundidade 
de todos os períodos da história africana, em artigos escritos por especialistas em cada área. 
Fato raro em obras de História, mas perfeitamente compreensível em um trabalho dessa 
magnitude, a coleção não foi organizada por um único historiador, mas por um grande comitê, 
com cada volume a cargo de pelo menos um historiador diferente. A História Geral da África 
da UNESCO tem servido, desde a sua publicação, como obra essencial de referência sobre a 
história africana, e deu um considerável impulso a esses estudos em todo o mundo.
DIC
AS!
Prezado(a) Acadêmico(a)! Fica então a sugestão: procure a coleção 
História Geral da África e retire de lá toda a informação que puder. 
Para os temas desta Unidade, em especial, os volumes mais 
relevantes são o Volume I – Metodologia e Pré-História Africana, 
organizado por Joseph Ki-Zerbo; o Volume IV – África do Século 
XII ao Século XVI, organizado por Djibril T. Niane. Também os 
volumes VI e VII, que tratam da dominação colonial, são bastante 
importantes.
LEITURA COMPLEMENTAR
A ÁFRICA
Nei Lopes
Com uma vasta extensão de terras que somam cerca de 8.000 km de norte a sul, 7.600 
km de leste a oeste, totalizando 30.000.000 km2 de superfície, o continente africano pode ser 
dividido em cinco grandes regiões.
A primeira seria a África do Norte, que se estende do Atlântico ao Mar Vermelho, 
compreendendo o Saara, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito. A segunda, a África Ocidental, 
seria aquela região situada abaixo do Saara e do deserto da Líbia, a oeste do planalto da Etiópia 
e acima da grande floresta tropical e dos pântanos do Alto Nilo, compreendendo a Mauritânia, 
Senegal, Gâmbia, cabo Verde, Mali, Níger, Chade (parte), Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Serra 
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Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Burkina Faso, Togo, Benin, Nigéria e parte da República 
dos Camarões.
A essas duas macrorregiões que são as que mais de perto interessam ao nosso trabalho, 
poderíamos acrescentar:
•	 África Central – abaixo de uma linha imaginária que vai de Duala, no Camarões, até a região 
dos Grandes Lagos (Vitória, Tanganica etc.), compreendendo Camarões (parte), República 
Centro-Africana, parte do Sudão, parte do Chade, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, Zaire 
e as ilhas de São Tomé e Príncipe, no Atlântico.
•	 África Oriental – a leste e abaixo do planalto da Etiópia, incluindo a região dos grandes lagos 
e compreendendo Sudão (parte), Etiópia, Djibuti, Quênia, Tanazânia, Ruanda, Burundi, 
Somália, Uganda e as ilhas Madagascar, Comores, Maurício, Reunião e Seychelles, no 
Oceano Índico.
•	 África Austral – compreendendo Angola, Zâmbia, Malaui, Moçambique, Zimbábue, Botsuana, 
Namíbia, Lesoto, Suazilândia e África do Sul.
Essas macrorregiões comportam também regiões bastantes características, como o 
Saara; o Sael que é a zona situada entre o Saara e a Savana e que se estende pelos atuais 
países Mali, Níger e Chade; o Darfur na República do Sudão; a grande floresta tropical; o 
deserto de Calaari etc.
E dentro dessas regiões, muito importante é a presença e a vida do Nilo, do Congo, do 
Zambese e do Níger, os quatro maiores rios africanos.
FONTE: (LOPES, 2006)
FONTE: Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/
continente-africano/imagens/mapa-da-africa.gif>. Acesso em: 16 
maio 2010.
FIGURA 9 – CONTINENTE AFRICANO
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Neste tópico, você estudou que:
•	 Para podermos ensinar história da África adequadamente, precisamos nos desfazer de uma 
série de preconceitos que cercam esse continente. Esses preconceitos tiveram reflexos nos 
estudiosos até pouco tempo atrás.
•	 Para combater os preconceitos racialistas (que supõem a existência de raças) e racistas 
(que dizem que uma é inferior à outra) de vários estudiosos, Cheikh Anta Diop devotou sua 
carreira. Várias de suas conclusões são controvertidas, mas em geral os estudiosos atuais 
lhe dão razão em grande parte de suas conclusões.
•	 Para combater o pensamento eurocêntrico que cercava os estudos de história da África, 
uma corrente de estudiosos,nos anos 1960 e 1970, criou uma historiografia “afrocêntrica”. 
Apesar de criticados por alguns exageros, as obras desses estudiosos são fundamentais 
para a revisão dos conceitos sobre o continente.
 
•	 A historiografia sobre a África sofre de alguns problemas metodológicos, como a carência 
de fontes escritas. Para contorná-los, o estudioso precisa, muitas vezes, recorrer a outras 
fontes, como a Arqueologia, a Linguística e os relatos orais.
•	 O filósofo ganês Kwame Anthony Appiah estabeleceu uma distinção entre racismo e 
racialismo.
•	 A ciência histórica do século XIX desconsiderava a história vivenciada no continente africano, 
ou seja, os povos africanos não possuíam papel de destaque na história da humanidade. 
•	 Afrocentricidade é um paradigma baseado na ideia de que os povos africanos devem reafirmar 
o sentido de agência para atingir a sanidade.
•	 A perspectiva histórica difundida por Joseph Ki-Zerbo estava associada à iniciativa de 
modificar as leituras e visões sobre a África, procurando redimensionar sua história, inclusive 
colocando-a como ponto de partida para explicar a História Ocidental.
RESUMO DO TÓPICO 1
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Resolva as questões a seguir para exercitar seus conhecimentos:
1 Tente observar a si mesmo(a) e perceber quais são as suas próprias ideias a respeito 
da África, dos africanos e de seus descendentes. Você classificaria essas ideias como 
preconceituosas? De que forma você acredita que isso pode vir a influenciar a sua 
relação com os estudos e o ensino de História da África?
2 Defina Afrocentrismo. E quais as suas implicações para a História da África?
3 Faça um pequeno texto explicando as ideias sobre o Continente Africano e o 
pensamento de Cheik Anta Diop e o pensamento de Joseph Ki-Zerbo (Dica: aponte 
as diferenças e as semelhanças entre estes autores).
4 Defina: África Central; África Oriental e África Austral.
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FORMAS DE ORGANIZAÇÃO 
DAS SOCIEDADES AFRICANAS
1 INTRODUÇÃO
2 ÁFRICA, BERÇO DA HUMANIDADE
TÓPICO 2
UNIDADE 2
Durante muito tempo, estudiosos europeus consideraram que a África seria uma região 
desprovida de história. Misturando argumentos metodológicos e ideologias preconceituosas, os 
pesquisadores argumentavam que os poucos registros escritos que havia da ocupação humana 
anterior à presença europeia – ou, pelo menos, da presença muçulmana – no continente não 
seriam suficientes para conferir aos povos do “Continente Negro” o status de povos históricos.
Nada mais falso. Como já discutimos no tópico anterior, uma grande diversidade de fontes 
de pesquisa nos permitem traçar um quadro histórico do continente que é, se não completo (e 
quando o é?), pelo menos relativamente abrangente. Os historiadores da corrente pan-africanista 
argumentavam – talvez com certo exagero – que as lacunas presentes na história da África 
pré-colonial não seriam maiores do que as da Europa medieval, que lhe é contemporânea.
E o quadro que emerge das fontes disponíveis é surpreendente. As enormes riquezas do 
continente e a engenhosidade do povo africano criaram sociedades sofisticadas no continente 
desde que se tem notícia. Isso vem ocorrendo pelo menos desde os primeiros cronistas, 
por volta do século VIII d.C., mas em algumas regiões do continente, há sólidos registros 
de ocupação muito anterior. No presente tópico, vamos estudar o início disso tudo: como a 
população africana chegou a ser o que é e de que forma algumas sociedades se organizaram 
antes que o Islamismo atingisse com toda a sua intensidade o continente.
Como você já sabe, a partir de seus estudos sobre a Pré-História, o gênero humano 
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surgiu no continente africano. Há cerca de dois milhões de anos, o Homo erectus havia 
desenvolvido ferramentas de pedra rudimentares, mas bastante adequadas ao seu modo de 
vida. Posteriormente, a nossa espécie Homo sapiens surgiu também em território africano e de 
lá se espalhou por todo o mundo. Importante notar que a conformação física do homem original, 
ao contrário do que costumam apresentar os manuais a respeito, era muito mais semelhante 
à das populações africanas modernas do que do fenótipo “europeu” de ser humano, branco, 
que costuma aparecer no início da fila evolutiva.
Em seus estudos, o historiador Joseph Ki-Zerbo, aponta que as técnicas desenvolvidas 
pela espécie homo e que são características das diferentes fases da Pré-História parecem ter-
se sobreposto e coexistido durante longos períodos na África. Essa posição de Ki-Zerbo vem a 
reforçar a importância da História da África para a história da humanidade de uma perspectiva 
africanista. Vamos ler um excerto da proposição de Ki-Zerbo:
Onde se passou este primeiro ato grandioso de um drama que ainda não terminou? Foi 
quase por certo em África, pois era aí que as condições se apresentavam mais favoráveis. Foi 
também que, embora a prospecção arqueológica esteja apenas a dar os primeiros passos e a 
conservação dos restos fósseis seja muito difícil por causa da acidez dos solos, se descobriu a 
mais numerosa, a mais completa e a mais contínua série de restos pré-históricos. É em África, 
e apenas em África, sobretudo nos planaltos orientais e meridionais, que se encontram todos 
os elos que nos ligam aos mais longínquos antepassados do homem. De resto, é também em 
África, que se encontram “antepassados” ou, antes, os parentes presumíveis do homem. Como 
observa W.W. Howells, “os grandes macacos de África, gorilas e o chipanzé, estão mesmo 
mais próximos do homem que qualquer dos três em relação ao orangotango da Indonésia”. 
Já Darwin declarava: “É provável que os nossos primeiros antepassados tenham 
vivido na África, em vez de em qualquer outra parte”. Esta intuição é confirmada todos os 
dias por novas descobertas. O P.e Teilhard de Chardin, quando a si, escreve: “Deve ter sido 
no coração da África que o homem emergiu pela primeira vez”.
FONTE: KI-ZERBO, Joseph. A Hominização. In: História da África Negra. Publicações Europa-
América, s/d. p. 54-55.
O excerto denota uma valorização, por parte do autor. Lembre-se caro(a) acadêmico(a), 
que refletimos no tópico anterior sobre as correntes afrocêntricas.
3 ÁFRICA, BERÇO DA CIVILIZAÇÃO
A África também foi o local de origem de diversas culturas extremamente sofisticadas, 
que realizavam todas as atividades do que costumamos definir como civilização: agricultura, 
criação de animais, metalurgia do ferro etc. Dessa maneira, a concepção preconceituosa que se 
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4 CIVILIZAÇÕES AFRICANAS: POVOS E REINOS
teve, durante muito tempo, da incapacidade dos africanos de produzirem civilizações originais 
é completamente descabida. Nem mesmo as explicações baseadas em um povo “hamítico” 
fazem sentido, pois as civilizações africanas foram capazes de desenvolver técnicas próprias 
bastante avançadas, se comparadas às técnicas de outros lugares do mundo na mesma época 
e mesmo posteriormente.
Além disso, os povos africanos sempre estiveram plenamente envolvidos no concerto 
mundial e estabeleceram relações comerciais com praticamente todas as regiões do mundo. 
Antes da chegada dos europeus ao continente, os povos africanos haviam navegado os mares 
(inclusive o Oceano Atlântico) à procura de novos mercados e novas terras, tendo estabelecido 
contatos com a Arábia, a Europa, a Índia, a China e a Ásia Oriental. Especula-se a possibilidade 
de eles terem atingido inclusive o Continente Americano.Nossos estudos tendem a perceber uma África rica em sua diversidade. Queremos dizer 
que há diferenças entre os povos africanos – perceptíveis a qualquer um que procure fugir do 
lugar-comum de considerar os africanos “todos iguais, por serem negros” – e, evidentemente, com 
enormes diferenças linguísticas e culturais. Apesar disso, são relativamente poucos os grandes 
grupos linguísticos originais dos povos africanos, pelo menos até onde as fontes disponíveis 
permitem aos estudiosos postular. Estudos modernos delimitaram a existência de quatro grandes 
grupos linguísticos na África: afro-asiáticos, Níger-Congo, Nilo-Saariano e Cóisan.
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_RIJcj0D4__M/SrMb_
WGbGQI/AAAAAAAAADk/cNkHoZZQil8/S259/mapa+ling+africa.
png>. Acesso em: 12 maio 2010.
FIGURA 10 – DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS ÉTNICO-LINGUÍISTICOS 
AFRICANOS
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4.1 OS POVOS AFRO-ASIÁTICOS
4.2 OS POVOS NILO-SAARIANOS
O ramo africano do tronco linguístico afro-asiático (composto também de línguas 
semíticas como o árabe, o hebraico e o aramaico, entre outras) compreende povos que vivem 
em toda a região entre o Chifre da África (Somália e Etiópia) e o deserto do Saara, até a região 
do Magrebe (Marrocos e Argélia). São povos formados pela mistura entre os povos autóctones e 
os migrantes de outros continentes, especialmente do Oriente Médio. A maioria dos estudiosos 
acredita que o local de origem desse tronco linguístico – inclusive das línguas semíticas – seja 
o nordeste da África, entre o Egito e a Etiópia. Estes povos se espalharam pela costa e pelo 
interior do continente, pelo vale do rio Nilo, pela Etiópia, chegando ao atual Marrocos.
Dentre os principais povos dessa origem estão os berberes, azenagues e tuaregues 
do deserto do Saara.
ATEN
ÇÃO!
Prezado(a) acadêmico(a)! Lembre-se das teorias de Cheikh Anta 
Diop, discutidas no tópico anterior. Diop afirmava que o Egito 
foi um centro irradiador de cultura, o que parece se confirmar a 
partir da análise das origens linguísticas de toda aquela região – 
inclusive dos povos do Oriente Médio.
Os povos nilo-saarianos espalhavam-se das nascentes do rio Nilo (próximo ao Lago 
Vitória) até o coração do deserto do Saara e eram, portanto, em sua maioria, nômades ou 
criadores de gado. Havia, no entanto, alguns povos desse grupo que praticavam a agricultura 
e o artesanato, ou que passaram a beneficiar-se do comércio transaariano e em função desta 
atividade, geralmente, se convertiam ao islamismo, ou a formas africanas de islamismo.
Disputaram com os bantos a ocupação da região dos lagos Vitória e Tanganica.
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4.3 OS POVOS NÍGER-CONGOLESES
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 Prezado(a) acadêmico(a)! Há uma relação muito íntima entre 
as atividades comerciais transaarianas dos povos que viviam no 
Sahel e a adoção da religião islâmica, que será vista em mais 
detalhes no próximo tópico.
Nos últimos anos, estabeleceu-se um consenso de que a enorme variedade de línguas 
existentes nas regiões do litoral atlântico (no Senegal) até o Oceano Índico (em Moçambique 
e no Quênia) e da República Centro-Africana até o Natal (na África do Sul) tem uma origem 
comum. Os povos do grupo Níger-Congo ocupam, assim, a maior parte do continente africano 
e mantêm características linguísticas semelhantes – em especial, a alternância entre vogais 
e consoantes na mesma sílaba, a nasalisação e o sistema tonal, que dá às línguas, como o 
iorubá e o banto, ouvidos nas cerimônias das religiões afro-brasileiras, suas características 
tão peculiares.
O grupo níger-congolês é dividido em cinco subgrupos. O mais numeroso é o dos 
bantos, que teriam surgido provavelmente na região da atual Nigéria e, ao longo de mais de 
2.500 anos, empreenderam uma grande migração por toda a região central da África, até 
o Oceano Índico. Conforme a região onde se estabeleciam, receberam nomes diferentes: 
ovimbundos, cassanjes, bacongos e lundas na região de Angola e do Congo, zulus, sesotos 
e suazis no sul, iaôs na costa do Índico. Nessa região, o idioma suaíli, de origem banta e com 
influência do árabe e de outras línguas da região, tornou-se uma língua franca. Os demais 
grupos se estabeleceram na África Ocidental: os kwa (como os ashantis, os iorubás e os ibos) 
das florestas do baixo Níger; os mandê (como os songai e os soninquê), que vivem no alto 
Níger e construíram alguns dos impérios mais notáveis da África, ao sul do Saara; os fulas, 
mandingas e jalofos do litoral atlântico, no atual Senegal; e os mossis, que vivem no Alto Volta 
(no atual Burkina Faso).
Os povos desse grande grupo linguístico estão diretamente relacionados à história 
do Brasil, pois os escravos trazidos para cá eram originários de diversos pontos da enorme 
região geográfica que ocupavam. Conforme a origem, eram denominados bantos, quando 
eram do grupo étnico de mesmo nome, ou sudaneses, quando originados dos outros grupos 
níger-congoleses. Também por esse motivo nossos estudos sobre a História da África se 
concentrarão, direta ou indiretamente, sobre os povos originados deste grupo.
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4.4 OS POVOS KHOI-SAN
5 AS CIVILIZAÇÕES AFRICANAS ANTIGAS
No extremo sul da África, nas regiões da atual Namíbia e norte da África do Sul, a 
expansão dos bantos não conseguiu assimilar ou exterminar alguns povos autóctones, 
caçadores e coletores, mas que aprenderam a pastorear o gado. Os povos dessa região – os 
hotentotes (chamados de cóis) e os bosquímanos (conhecidos como sãs) – são conjuntamente 
conhecidos como cóisans. A principal característica de seus idiomas são os sons de estalidos 
(golpes com a língua), que servem como consoantes comuns; são características que não 
ocorrem em nenhuma outra língua do mundo, exceto alguns idiomas bantos de povos que vivem 
próximos aos seus territórios (como o xhosa e o zulu, povos da África do Sul), que os receberam 
por influência. Estudos recentes com DNA mitocondrial, que tentam apontar as relações de 
parentesco entre os diversos povos, indicam que os povos khoi-san são, provavelmente, os 
grupos geneticamente mais próximos da matriz original de todos os seres humanos.
O olhar histórico restrito que a nossa cultura tradicionalmente põe sobre a África, 
centrado nas realizações e na sociedade europeias, acaba reforçando uma imagem 
extremamente negativa do continente, que reduz os africanos a escravos. Ora, essa visão ignora 
deliberadamente a longa e complexa história africana ocorrida antes da chegada dos europeus, 
que por mais de cinco mil anos legaram à África um papel muito relevante na história mundial. 
Uma das intenções desta Unidade é apresentar algumas das civilizações que fizeram parte 
dessa história, em diversas épocas diferentes. Bem como perceber que algumas sociedades 
em África formaram grandes reinos, como o Egito, o Mali, Daomé, que praticavam atividades 
ligadas ao comércio e à mineração. E outras se constituíram em pequenos agrupamentos 
que subsistiam da caça, coletavam o que a natureza oferecia ou plantavam para o sustento 
do grupo. Todavia, todas, das mais complexas as mais singulares, se organizavam a partir 
da fidelidade ao chefe e as relações de parentesco. Nesse sentido, o chefe, cercado de seus 
dependentes era o núcleo básico da sociedade em África.
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5.1 O DESERTO DO SAARA
FONTE: Disponível em: <http://ancientafricah.wikispaces.com/file/view/kingdoms.
jpg/30343384/kingdoms.jpg>. Acesso em: 16 maio 2010.
O deserto do Saara é o mais extenso de todos os desertosquentes do mundo, embora 
não seja o mais inóspito. Estendendo-se do litoral do oceano Atlântico, nos territórios da 
Mauritânia, Saara Ocidental e Marrocos, até o Mar Vermelho, no Egito, o deserto do Saara se 
constituiu em uma barreira praticamente intransponível para os seres humanos até a introdução 
do camelo na África, vindo da península Arábica, em algum momento por volta do século III 
d.C. O rio Nilo, que nasce na região do Lago Vitória, é o único grande curso de água a cruzar 
o Saara.
O deserto atingiu sua conformação atual progressivamente. Após a última era glacial, há 
cerca de 10 mil anos, a região era consideravelmente mais úmida do que hoje e, aos poucos, 
a faixa arenosa foi aumentando. Estudos recentes indicam que ainda hoje o deserto avança 
rapidamente em direção ao sul – cerca de 50 quilômetros por ano.
Existem indícios de ocupação humana muito antiga no deserto, não apenas no vale do 
FIGURA 11 – REINOS E IMPÉRIOS AFRICANOS
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Nilo, onde a ocupação pré-dinástica, mas já em uma sociedade complexa e organizada em 
torno dos excedentes de produção agrícola, data pelo menos de 6000 a.C. Mesmo no interior, 
civilizações complexas se desenvolveram há muito tempo. O povo dos garamantes, de origem 
berbere, é um bom exemplo: construiu um sofisticado sistema de irrigação no interior da atual 
Líbia, e foi mencionado por Heródoto (484 – 425 a.C.) e Tácito (56 – 117 d.C.).
5.1.1 No Oriente: Egito, Sudão, Núbia e Aksum
A civilização egípcia é, de todas as que surgiram na África, a mais célebre e uma das 
mais antigas. Suas grandes realizações são lembradas até hoje como maravilhas da técnica 
e suas concepções religiosas influenciaram diversas culturas, rituais e correntes filosóficas 
futuras. E foi uma cultura desenvolvida por uma população que era, em sua maioria, negra.
Os egípcios se fixaram no vale do rio Nilo durante o processo de desertificação do Saara, 
e o grande afluxo de migrantes para essa região tão estreita obrigou a uma organização muito 
elaborada. Por outro lado, a própria conformação do vale do Nilo dava à região uma unidade 
natural, que levava os governantes dos reinos do Norte e do Sul a se enfrentarem, buscando 
unificar as duas regiões. O período Dinástico se iniciou por volta de 3500 a.C., quando o reino 
do norte foi conquistado pelo sul.
Ainda mais ao sul, acima da primeira catarata, vivia um povo que os gregos denominaram 
Cush – os Núbios. Era uma região bastante rica em ouro e, ainda que também fizesse parte do 
vale do Nilo, não havia sido tão favorecida pela natureza quanto o Egito. A produtividade era 
menor, e por isso a região não atingiu a mesma prosperidade dos vizinhos do norte. A Núbia 
seria, assim, explorada por eles em um primeiro momento, para mais tarde impor seu domínio 
sobre as regiões egípcias.
Mais ao sul surgiu o reino de Aksum, que mais tarde se tornaria a Etiópia. A presença 
estrangeira na região tradicionalmente foi bastante marcante. Situada em posição estratégica, 
separada da Arábia e do Iêmen pelo mar Vermelho, a Etiópia logo se tornou um ponto de 
encontro de diversas etnias. As lendas da rainha de Sabá, que teria seduzido o rei hebreu 
Salomão, fazem referência à presença de judeus negros (os Falachas) na região, possivelmente 
emigrados na época da expansão islâmica. O Cristianismo foi introduzido pelo monge 
Fromentius, no século IV, mas logo a igreja etíope separou-se do rito ortodoxo e adotou rituais 
próprios, baseados em celebrações judaicas e animistas e um calendário de origem egípcia 
(copta). O cristianismo copta da Etiópia ofereceu uma resistência feroz ao avanço muçulmano, 
e ainda hoje encontra seguidores no país.
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5.2 O SAHEL
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A expansão do Cristianismo: o cristianismo nasceu do judaísmo, 
religião a que pertencia Jesus, cuja pregação está calcada nos 
escritos judaicos. Foram os seguidores de Jesus que propagaram 
a crença de que ele era o Cristo, filho de Deus e que ressuscitou 
dentre os mortos antes de ascender aos céus.
De todos os apóstolos propagadores do evangelho, isto é, da boa-
nova, São Paulo se destacou como o mais ativo, pregando pelo 
Mediterrâneo. A conversão de todos os povos conhecidos à nova 
religião, criada a partir de Cristo, era a meta dos pregadores que 
divulgavam o cristianismo. O Império Romano, o mais influente 
e poderoso da época, cujos governantes haviam ordenado a 
crucificação de Jesus e uma perseguição cruel aos primeiros 
cristãos, até mesmo decapitando São Paulo e crucificando São 
Pedro, aderiu ao cristianismo no século IV.
No século VI, alguns principados da Núbia e o reino da Etiópia 
eram os únicos estados cristãos fora da área de influência do 
Império Romano. Sua ocupação pelos bárbaros não eliminou o 
cristianismo, que se tornou religião sob a qual os reinos europeus 
se estruturaram. No século XVI, Portugal e Espanha, envolvidos 
em Grandes Navegações, se tornaram os grandes centros difusores 
do catolicismo, ao justificar seu direito sobre as terras e os 
povos com quem entravam em contato em nome de sua missão 
evangelizadora.
FONTE: Souza (2007)
Sahel é o nome que se dá à faixa de savana que ocorre ao sul do deserto do Saara. 
O termo vem do árabe sahil, ‘costa’, pois a região era referida como sendo uma praia para o 
verdadeiro ‘mar interior’ que é o Saara. 
Por volta de 5000 a.C., as populações do Sahel plantavam sorgo, uma variedade de 
arroz e criavam galinhas d’angola. Mil anos mais tarde, o avanço do deserto do Saara moveu 
a faixa do Sahel cada vez mais para o sul. As populações do Sahel se adaptaram a um modo 
de vida seminômade, movendo seus rebanhos centenas de quilômetros para o norte ou para 
o sul, de acordo com o regime de chuvas.
O principal rio que percorre o Sahel é o Níger, que apresenta características bastante 
peculiares: apesar de ter sua nascente relativamente próxima do oceano, corre para dentro do 
continente, em direção ao deserto. Ao passar por um complexo de lagos e pântanos no interior 
do Sahel (chamado o ‘delta interior do Níger’), o rio altera seu curso para o sul em direção 
ao oceano, onde deságua em um grande delta na atual Nigéria. Em toda sua extensão, e 
particularmente nos deltas interior e exterior, o Níger permite uma produção agrícola considerável 
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e a formação de inúmeros agrupamentos humanos, de pequenas aldeias a grandes impérios, 
como os de Gana, do Mali e de Gaô.
Além das atividades agrícolas, esses assentamentos se dedicavam, muitas vezes, ao 
comércio transaariano. Apesar de se adaptar com perfeição ao deserto do Saara, o camelo 
não conseguia fazer o mesmo no Sahel, de modo que era preciso transferir as cargas para 
outros meios de transporte mais adequados. Assim, surgiram no Sahel inúmeros entrepostos 
comerciais, como Timbuktu, Jenné e Gaô, na bacia do Níger, Kanem e Bornu, na região do 
lago Chade e, ainda mais a leste, Darfur, no atual Sudão.
5.2.1 A África Ocidental
5.2.2 O Reino de Gana
A África Ocidental, como descrita aqui, corresponde às regiões do Sahel Ocidental 
e das florestas do litoral entre a Costa do Marfim e a Nigéria. Os árabes denominavam esta 
região – bem como o Sahel oriental, próximo à costa do Oceano Índico – de Bilal Al-Sudan (o 
país dos negros). Por esse motivo, muitas vezes a região é chamada de Sudão Ocidental. A 
presença árabe, por sinal, é um elemento importante praticamente desde o início do Islamismo. 
Foram os cronistas muçulmanos a maior fonte de informações de que dispomos sobre essa 
região. Mesmo assim, durante um tempo sua influência foi indireta,concentrando-se no 
estabelecimento de rotas comerciais com a região do Sahel, ao passo que nas florestas mais 
ao sul, sua presença mal foi notada. A partir do século XII, no entanto, a presença muçulmana 
seria mais intensa. Neste momento, descreveremos apenas a primeira fase. A presença islâmica 
mais direta será tratada no próximo tópico.
O comércio transaariano, descrito anteriormente, permitiu o surgimento de diversos 
núcleos de poder na região do Sahel. A necessidade de comércio e a incapacidade de 
adaptação dos camelos às regiões menos desérticas teriam favorecido a consolidação dos 
domínios políticos na região. Em relação ao camelo, enquanto propriedade material, Costa e 
Silva (2006) aponta ter sido essa prática responsável pela formação de uma elite e também 
pela intensificação do comércio transaariano. 
A primeira grande organização política que se beneficiou do comércio transaariano 
parece ter sido o reino de Gana. A região foi organizada em uma posição estratégica no Sahel – 
ao norte das curvas divergentes que fazem os rios Senegal e Níger, a meio caminho do deserto 
e das ricas minas de ouro e de sal da bacia do Senegal. A composição étnica era uniforme: a 
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população era composta principalmente de soninquês (também chamados saracolês), povos 
da família mandê (um dos grupos Níger-Congoleses descritos anteriormente).
O autor africano Joseph Ki-Zerbo (1972) aponta a hipótese descrita no Tarik al Fettach, 
que Gana teria sido originada por uma dinastia de príncipes brancos e que os soninquês teriam 
tomado o controle do Império e então, dessa suposta miscigenação teria surgido uma dinastia 
puramente negra. O autor aponta ainda, a fragilidade da hipótese, haja vista, que foi escrita 12 
séculos depois do acontecimento e serve mais do que outra coisa para dar prestígio para as 
famílias nobres depois da dominação islâmica. A origem a partir dos soninquês é a que parece 
mais aceitável, pois eles teriam se fortalecido e se fechado para se defender de ataques.
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_lrnheGDims4/SxbxRT-qlmI/
AAAAAAAAC-g/ZlqWFrpBsl8/s1600-h/imp%C3%A9rio+de+gana.gif>. 
Acesso em: 16 maio 2010.
Mas Gana não era um estado nacional, nem tinha uma estrutura semelhante a um 
império europeu. Ao que tudo indica, o território nem tinha um nome oficial. O nome Gana 
parece ser o título do soberano, de acordo com os relatos de Abu-Bakri, que lá esteve no 
século XI. Também não havia um território organizado, delimitado e administrado por uma 
estrutura rígida de governo. Para Gana, importava menos a extensão de seus territórios do que 
a relação que estabelecia com os seus dominados. A principal motivação das guerras era a 
conquista de aldeias e grupos humanos que pudessem fornecer tributos, escravos requisitados 
pelos comerciantes do Magrebe e soldados, para defenderem a região dos reinos vizinhos de 
Takrur, Gaô e outros, bem como dos berberes do Saara. O objetivo da conquista era, portanto, 
a captura de pessoas que traziam dos territórios que ocupavam. Do exército de Gana, dizia-se 
FIGURA 12 – LOCALIZAÇÃO DO REINO DE GANA
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que o soberano conseguia reunir cerca de 200 mil homens em um breve espaço de tempo, 
dos quais 40 mil arqueiros. Era, portanto, um exército poderoso, embora se utilizasse muito 
mais da infantaria (soldados a pé) do que da cavalaria.
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Prezado(a) acadêmico(a)! Perceba que essa forma de conquista 
é praticamente oposta ao estilo europeu, especialmente na Idade 
Média. Lá, o objetivo eram as conquistas territoriais, que trariam 
consigo, entre outros benefícios, o contingente de vassalos e 
servos que lá habitavam.
O poder de Gana atingiu seu apogeu por volta da virada dos séculos X - XI, quando as 
disputas com os vizinhos cessaram. A enorme riqueza proporcionada pelo comércio de ouro, 
sal e outros produtos, como a noz-de-cola, estimulante muito procurado pelos muçulmanos e 
escravos, permitiu que o soberano de Gana criasse uma corte cheia de pompa, que impressionou 
até os viajantes muçulmanos habituados ao luxo. O sal era uma mercadoria tão necessária 
que chegou a ter o mesmo valor do abundante ouro, possivelmente até mais. A capital, Kumbi 
ou Kumbi Saleh, de acordo com as descrições dos cronistas Ibn Hawkal e Abu Bakri, era 
composta de duas cidades gêmeas, uma habitada pelos animistas e a outra por comerciantes 
e dignatários muçulmanos, situadas a seis milhas de distância uma da outra e unidas por uma 
larga avenida. A cidade real (animista) era rodeada de bosques sagrados, e, por isso, os árabes 
a denominaram El-Ghaba (a floresta).
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A noz-de-cola é um produto muito valorizado entre as sociedades 
mulçumanas. Deste fruto é extraído um sumo de gosto amargo, 
que saciava a sede e produzia uma sensação de bem-estar devido 
ao seu alto teor de cafeína.
Era um dos poucos estimulantes permitidos entre os povos 
islamizados, tinha alto valor de troca. 
No Brasil, é utilizado na realização de alguns cultos africanos.
FONTE: Disponível em: <http://www.infonetnews.com/images/noz1.jpg>. 
Acesso em: 15 maio 2010.
FIGURA 13 – NOZ-DE-COLA
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Caro(a) acadêmico(a)! O excerto abaixo descreve uma prática do 
reino de Gana. Leia-a com atenção e reflita sobre as semelhanças 
com outras civilizações, por exemplo: os incas e os astecas na 
América executavam práticas semelhantes em seus rituais.
Quando morreu Gana, ergueu-se uma grande cabana de madeira 
para acolher seu corpo. Ali se colocavam suas vestes, suas armas, 
os objetos que usara para comer e beber, e comida e bebida. 
Conduziram-se para dentro do túmulo os criados que tinham 
servido ao rei. Ki-Zerbo diz que isso era para prevenir para que 
não ocorressem envenenamentos. Vedava-se a porta. O povo 
jogava terra sobre a cabana, até que houvesse uma espécie de 
colina. Ao redor, cavava-se um fosso. Ao morto, eram oferecidos 
sacrifícios humanos e bebidas fermentadas.
Fonte: O Fascinante Mundo da História.
FONTE: Disponível em: <http://www.google.com.br/
imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_lrnheGD>. Acesso 
em: 16 maio 2010. 
A partir do século XI, no entanto, esse reino próspero entrou em convulsão. Aos poucos, 
as províncias do sul deixaram de ser leais a Gana e a maciça presença de muçulmanos no 
reino provavelmente contribuiu para desestabilizar o governo e colocá-lo à mercê dos exércitos 
vindos do norte. A nova dinastia dos Almorávidas, que comandava o Magrebe (atuais Marrocos 
e Argélia) e a península Ibérica, investiu contra o reino de Gana e conseguiu conquistá-lo em 
1076. O vácuo de poder na região duraria algumas décadas, até o surgimento do reino do 
Mali, no século XII.
5.2.3 Os Reinos Iorubás e o Benim
As regiões de floresta do baixo Níger, na atual Nigéria, passaram a ser ocupadas, 
possivelmente entre os séculos VI e XI, pelo grupo étnico ibo, também denominado iorubá. Sua 
estrutura de organização era bastante democrática para os padrões da região: organizavam-se 
em aldeias, que chegavam a reunir milhares de habitantes. As aldeias eram independentes 
umas das outras, embora, às vezes, ligadas pelas devoções a uma mesma divindade e por 
ancestrais em comum. Assim, não se pode falar propriamente na formação de reinos iorubás, 
mas antes de confederações de cidades.
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FONTE: Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.
bp.blogspot.com/_lrnheGDims4/SxLMDa53UlI>. Acesso em: 16 
maio 2010.
As origens dos ibos estão mergulhadas em relatos mitológicos, de modo que é muitodifícil determinar com precisão sua validade. A cosmologia dos iorubás é repleta de divindades 
(chamadas orixás), que possivelmente se referiam aos ancestrais reais, divinizados após a 
morte. O grande antepassado de todos os ibos é Odudua, que teria dado origem aos sete 
reinos iorubás: Owu, Sabé, Popo, Benim, Ilé, Ketu e Oyó. No candomblé brasileiro, ligado 
diretamente às tradições iorubás, Odudua é cultuado como um orixá feminino, o que remete à 
herança matrilinear dos povos ibo. A descendência era reconhecida pela via materna, já que 
era a única de que se poderia ter completa certeza.
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Prezado(a) acadêmico(a)! Se você tiver interesse em saber mais 
sobre as crenças e a cosmologia ioruba, que foi reinterpretada 
no Brasil e se constituiu no Candomblé. Uma ótima introdução 
é o livro de Juana Elbein dos Santos, Os nàgô e a morte: Pàdè, 
Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1986.
A cidade de Ilé Ifé era reconhecida por todos os iorubás como a fonte de poder e de 
legitimidade dos soberanos. Para lá eram levados seus restos mortais; o soberano de Ifé, 
chamado Oni, era considerado o grande sacerdote dos orixás. Mesmo após a Diáspora (nome 
dado atualmente pelos estudiosos para a migração forçada dos africanos para trabalharem 
como escravos na América), Ifé manteve a reputação de local sagrado.
FIGURA 14 – LOCALIZAÇÃO DO REINO IORUBÁ 
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No século XVI, enquanto outros reinos iorubás ascenderam, Ifé entrou em declínio. A 
presença de comerciantes na costa atlântica fortaleceu as cidades mais próximas dos lugares 
em que ancoravam, trazendo em seus navios novas mercadorias, que passaram a ser desejadas 
pelos chefes africanos. Mas, mesmo com a ascensão de outros reinos e o seu empobrecimento 
econômico, Ifé manteve a importância religiosa. Todos os chefes das várias cidades-estados 
que teriam sido fundadas por descendentes de Odudua iam até Ifé para terem seus poderes 
confirmados pelo oni.
O reino de Oyó, legendariamente fundado por Oranyan e comandado por seu filho 
Xangô, localizava-se ao norte, na confluência dos rios Níger e Benue e chegou a ter uma grande 
proeminência na região. Seus governantes, os alafngs, recebiam seu poder dos orixás, que lhes 
emprestavam um poder de atuação sobre a natureza – axé. Mas seu poder não era absoluto, e 
estava sujeito a inúmeras formas de controle por parte de um Conselho de Estado. Eles eram 
eleitos pelo Conselho e seu reinado parece ter sido limitado, inicialmente, a quatorze anos.
Também dos descendentes de Oranyan teria surgido o reino do Benim. Ali, no entanto, 
o poder estava bem mais centralizado na figura do soberano (Obá) do que em Oyó. Detinha 
um poder absoluto, mas era vigiado de perto pelo Conselho de Estado. Como soberano, tinha 
o monopólio das transações comerciais, o que lhe proporcionava (e ao reino) riqueza suficiente 
para erguer uma capital que deslumbrou os viajantes que a conheceram.
O reino do Benin entrou em contato com os portugueses nos últimos anos do século 
XV, quando uma expedição portuguesa chegou à capital do reino e estabeleceu os primeiros 
contatos com o Oba que foi favorável aos portugueses autorizando práticas comerciais. O 
comércio com os portugueses envolvia além de escravos, armas, pimentas, vestimentas, 
marfim etc.
O líder do reino Benin ainda permitiu que missionários cristãos construíssem igrejas 
no reino, que seus súditos batizassem, no entanto ele não se converteu ao cristianismo, como 
fez o rei do Congo (Manikongo).
5.2.4 O reino do Congo
Mais ao Sul, na margem meridional do baixo rio Congo, existiu um reino que se tornou 
conhecido não só pela influência que teve sobre os povos da região. Mas porque mantiveram 
estreitos laços com os europeus. Estes por sua vez mantiveram uma significativa produção 
de observações sobre estes povos, que foram utilizadas como fontes para a compreensão da 
estrutura social, econômica e política desses povos. Estes viviam a margens do rio Gongo.
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FONTE: Souza (2007)
Os membros desse grupo, que seguiam a liderança de Nimi a Lukeni, passaram a ser 
chamados de muchicongos e ocuparam terras já habitadas por outros povos bantos. Por meio 
de casamentos e alianças, os recém-chegados se misturaram aos antigos moradores dessas 
áreas, mas guardavam para si as posições de maior autoridade e poder. Sob a liderança dos 
muchicongos, radicados na capital (Banza Congo), se formou uma federação de províncias 
às quais pertenciam conjuntos de aldeias. Nestas aldeias continuaram em vigor os poderes 
tradicionais das famílias, as candas, que as haviam fundado. Nas aldeias, um chefe e seu 
conselho tratavam de todos os assuntos referentes à vida da comunidade. Já um conjunto 
delas estava submetido à autoridade de um chefe regional, que fazia a ligação delas com a 
capital, de onde o ntotila, ou mani Congo, governava todo o reino. (SOUZA, 2007).
O reino do Congo se formou a partir da mistura, por meio de casamentos, de uma elite 
tradicional com uma elite nova, descendente de estrangeiros que vieram do outro lado do rio.
 
O primeiro contato com os portugueses aconteceu por volta de 1483, que encontraram 
uma sociedade hierarquizada, com aglomerados populacionais que funcionavam como capitais 
regionais e uma capital central, na qual o mani Congo, como o oba do Benin e muitos outros 
chefes de diversos grupos, vivia em construções grandiosas, cercado por mulheres e filhos, 
conselheiros, escravos ritos. (SOUZA, 2007).
No reino do Congo viviam agricultores que muitas vezes participavam dos conflitos 
internos ao reino e externos. As aldeias (lubatas) e cidades (banzas) pagavam tributos ao 
mani Congo, geralmente com o que produziam: alimentos, tecidos, sal, metais como o cobre 
por exemplo.
FIGURA 15 – LOCALIZAÇÃO DO REINO DO CONGO
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Nos mercados regionais eram trocados produtos de diferentes regiões do reino. A capital 
do reino, Banza Congo, encontrava-se na confluência de várias rotas comerciais. O mani Congo 
controlava o comércio, o trânsito de pessoas, recebia os impostos, exercia a justiça, buscava 
garantir a harmonia das pessoas do reino. (SOUZA, 2007).
Os limites eram traçados pelo conjunto de aldeias que pagavam tributos ao poder 
central, devendo fidelidade e recebendo proteção, tanto dos assuntos desse mundo, como 
dos assuntos do além, pois o mani Congo era responsável, também, pelas boas relações com 
os espíritos e ancestrais.
Quando os portugueses entraram em contato com esse reino, perceberam que seria um 
bom parceiro comercial. Trataram de manter relações amistosas com ele. Em contrapartida, 
o mani Congo e os chefes, também perceberam a importância de uma boa relação com os 
portugueses. Por mais de três séculos os portugueses e congoleses mantiveram relações 
comerciais, políticas pautadas pela independência dos dois reinos, mas os portugueses 
acabaram por controlar a região, que hoje corresponde ao norte de Angola.
5.2.5 O reino do Monomotapa
Uma das mais impressionantes demonstrações da sofisticação cultural dos bantos 
pode ser encontrada no sul da África. É um conjunto de ruínas monumentais feitas de pedra, 
chamados Zimbabués. Eram enormes muralhas de pedra chegando a 5 metros de altura por 
mais 2 de largura sem nada para uni-los a não ser a sobreposição de uma pedra na outra. 
Existem vários desses zimbabués no país que recebeu esse nome e no norte da África do Sul. 
Essas construções estavam articuladas em um reino que os portugueses, quando chegaram até 
lá, denominaram Monomotapa – de Mwene Mutapa, título dado ao soberano. O Monomotapa erabastante próspero, rico em marfim, ouro e outros metais, e estabeleceu um contato comercial 
bastante intenso com os outros continentes. 
Os xonas habitavam também essa região e comercializavam sal, cobre e gado com 
seus vizinhos do interior. Vivendo em terras férteis e envolvidos com intercâmbios comerciais, 
desenvolveram uma sociedade muito pouco conhecida, mas provavelmente com uma chefia 
centralizada, que combinava poderes administrativos com poderes religiosos. (SOUZA, 2007).
A presença de comerciantes árabes e portugueses no interior do continente, querendo 
controlar o comércio de ouro e marfim, aumentou os conflitos e as tensões existentes entre os 
diferentes povos. Mesmo sem encontrar as riquezas esperadas, os portugueses se instalaram 
naquelas terras, procurando manter relações amistosas com os chefes locais. Muitas vezes 
se casavam com as filhas destes, fortalecendo os laços que os uniam a eles. Desta forma, 
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se formou naquela região um grupo que ocupava lugar privilegiado no comércio por trocarem 
ouro e o marfim vindos do interior por tecidos, contas, objetos de metal trabalhados, barras de 
cobre e sal oriundo da costa. (SOUZA, 2007).
Por volta dos séculos XVII e XVIII, houve um comércio de escravos. No entanto, foi 
um comércio que não atingiu as proporções da costa ocidental da África. Estes escravos 
destinavam-se à Índia, enquanto que os escravos da costa ocidental eram enviados para o 
Brasil e o resto do continente americano.
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Neste Tópico, você estudou que:
•	 O deserto do Saara ofereceu uma barreira natural à passagem humana até a introdução do 
camelo, por volta do século III d.C. Após esse momento, o deserto se transformou em uma 
importante rota comercial.
 
•	 Dos quatro grandes grupos linguísticos, nos quais os estudiosos dividem a África, o mais 
extensamente representado é o dos Níger-Congoleses, que se estende da região do Senegal 
até a costa do Oceano Índico.
•	 Na região ao sul do deserto do Saara, chamada Sahel, desenvolveram-se vários reinos 
africanos importantes. O primeiro de que se tem notícia é o de Gana.
•	 Nas florestas da Nigéria, os povos iorubá desenvolveram uma estrutura política bastante 
descentralizada.
•	 A expansão dos bantos pelo centro do continente africano foi uma das maiores migrações 
humanas de que se tem notícia e teria durado por volta de 2.500 anos.
•	 No sul da África, as imponentes construções de pedra chamadas zimbabués fizeram parte 
de um reino conhecido como Monomotapa.
•	 No século VI, alguns principados da Núbia e o reino da Etiópia eram os únicos estados 
cristãos fora da área de influência do Império Romano.
•	 A presença de comerciantes árabes e portugueses no interior do continente, querendo 
controlar o comércio de ouro e marfim aumentou os conflitos e as tensões existentes entre 
os diferentes povos em África.
RESUMO DO TÓPICO 2
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Para exercitar seus conhecimentos, resolva as questões a seguir:
1 Elabore uma descrição sobre o reino de Gana.
2 Elabore uma descrição sobre o reino do Congo.
3 “A presença de comerciantes árabes e portugueses no interior do continente, querendo 
controlar o comércio de ouro e marfim, aumentou os conflitos e as tensões existentes 
entre os diferentes povos em África”. Essa afirmação representa um processo de 
transformação interna e externa ao continente africano. Reflita sobre essa afirmação e 
elabore um texto onde estejam presentes apontamentos referentes a esta afirmação.
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AS RELAÇÕES COMERCIAIS 
EM ÁFRICA
1 INTRODUÇÃO
2 ORGANIZAÇÃO DO COMÉRCIO EM ÁFRICA 
ANTERIOR A PRESENÇA EUROPEIA
TÓPICO 3
UNIDADE 2
As sociedades africanas desenvolveram formas de vida adequadas a cada região, 
vivendo, durante muito tempo, do que conseguiam retirar da natureza. A relação de trocas 
permitiu que diversos grupos tivessem acesso a coisas que não produziam. Por exemplo, as 
populações costeiras e as que viviam às margens de rios e lagos trocavam peixes por grãos 
cultivados nas regiões de savana, que também trocavam coisa com produtores de tubérculos 
e criadores de animais. Trocavam-se ainda, sal, tecidos, ferro, ouro, noz-de-cola, marfim e 
escravos. 
Os diferentes grupos trocavam seus produtos por meio de comércio de longa e curta 
distância. O comércio era um mecanismo importante nas relações estabelecidas entre as 
diferentes sociedades em África, pois possibilitava, não somente a troca de produtos, mas 
também de elementos culturais que muitas vezes foram incorporados às tradições locais das 
diferentes sociedades africanas. Um exemplo foi a influência do islamismo exercida em algumas 
regiões da África a partir das caravanas e dos comerciantes que circulavam nas bordas e no 
interior deste continente.
O objetivo deste tópico é possibilitar que você perceba que o continente africano 
estabeleceu contato com outros povos para além da África anterior ao contato com o europeu, 
em específico os portugueses.
As relações comerciais entre as sociedades africanas e povos vindos de outras regiões 
além da África, organizavam-se da seguinte forma: comércio de longa distância e de curta distância.
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O comércio de longa distância era o mais lucrativo, pois nele se trocavam mercadorias 
de maiores valores, mercadorias raras, que apenas os mais poderosos podiam pagar. Esse 
tipo de atividade exigia um investimento maior, pois era preciso comprar mercadorias a serem 
negociadas; providenciar o transporte e a segurança das cargas; esperar o melhor momento 
para negociar. No entanto, a margem de lucro era suficientemente grande para sustentar um 
grupo de comerciantes ricos, próximos dos poderes centrais das sociedades nas quais viviam. 
(SOUZA, 2007).
O comércio a curta distância se organizava a partir da vida da aldeia, das cidades 
próximas, das províncias, envolvendo as regiões vizinhas. O excedente de um grupo era 
trocado pelo de outro.
Se nem todos os povos africanos estavam envolvidos com o comércio a longa distância, 
como o que estava presentes nas cidades do Sael, nas cidades da costa oriental e na costa 
atlântica a partir do século XV, quase todos os povos mantinham algum tipo de troca com seus 
vizinhos mais ou menos próximos. Rotas fluviais e terrestres existiam nas bacias dos rios mais 
importantes e nas regiões entre eles. A vitalidade do comércio dentro do continente africano, 
de curta e longa distância, põe por terras a ideia de sociedades isoladas umas das outras, 
vivendo voltadas apenas para si mesmas. (SOUZA, 2007).
3 O MAR MEDITERRÂNEO E O MAR VERMELHO
O mar Mediterrâneo foi desde o início da História uma região de intenso comércio, de 
intensas trocas de bens, experiências, invenções e ideias. Se lembrarmos dos distintos períodos 
da História que já estudamos, conseguimos perceber que o mar Mediterrâneo sempre esteve 
presente nas relações entre povos em diferentes períodos. Estava ligado pelas embarcações 
e pelas caravanas ao resto da Europa e Ásia. O que se inventava numa terra distante não 
demorava a circular pelas águas do Mediterrâneo.
A ligação entre o norte da África e o mar Mediterrâneo possibilitou a entrada do 
cristianismo, que já no século IV estava presente na região de Cartago, atual Tunísia.
A partir do século VII o islã se expandiu pelo norte da África, pelo vale do rio Nilo, pelas 
rotas do Saara, e também pela costa ocidental, através do mar Vermelho, do golfo de Áden 
e dooceano Índico. Seus ensinamentos foram levados pelos exércitos e pregadores, uns 
submetendo os povos, outros os convertendo. No entanto, foram os mercadores os principais 
intermediários entre o que vinha de fora e o que já existia no continente. O comércio, como já 
sinalizado, permitiu que povos distantes entrassem em contato, mesmo que indiretamente, o 
que facilitou a transmissão de conhecimentos e crenças. (SOUZA, 2007).
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3 A ÁFRICA CENTRAL: A DISPERSÃO DOS BANTOS
Os mercadores da península Arábica tinham acesso à região do rio Nilo e da Etiópia desde 
o tempo do Império Egípcio. Pelo golfo de Áden chegavam navios de mais longe onde eram feitas 
as trocas de mercadorias, que só compensavam porque eram comercializadas a altos preços.
Em meados do século XI, os povos da região do Marrocos adotaram o islamismo, 
levando-o para as regiões do Senegal e Níger. Os povos do Sudão central, como os Bornu e 
Canem, somente incorporaram essa religião a partir do século XIII, pois se encontravam ligados 
ao norte da África por camelos e comerciantes que atravessavam o Saara. 
Darfur e Senar também sofreram a intervenção islâmica. Nesta perspectiva, todo o Sael 
entrou em contato com a religião islâmica e adotou em maior ou menor grau elementos da 
sociedade árabe. (SOUZA, 2007).
A palavra banto foi usada para designar as numerosas falas aparentadas presentes 
em uma superfície do Continente Africano que compreende aproximadamente 9 milhões de 
quilômetros quadrados ao sul deste continente, da baía de Biafra a Melinde.
A semelhança entre as línguas bantas fez supor que haviam se propagado de um núcleo 
original. Em 1913, o africanista H. H. Johnston apontava ter sido a propagação da língua banta 
resultado de conquistas militares que havia imposto o uso da língua aos dominados.
Banto significa “povo”, ou “os homens”. É o plural de mundo, o “homem”. O termo existe 
em quase todas as línguas bantas. E é o mais antigo com a sua acepção. (SILVA, 2006).
O núcleo banto de onde estes iniciaram um movimento de dispersão ficava próximo ao 
médio Benué, na fronteira da Nigéria com os Camarões. De acordo com Silva (2006), seriam 
populações que ali viviam desde muito tempo e que possivelmente moravam a distância uma 
das outras. Viviam da agricultura, da pesca e da coleta e da caça, criavam animais, necessitando 
para isso de um vasto espaço geográfico. Os que ocupavam o norte foram lentamente se 
deslocando para o sul, devido ao ressecamento saariano.
O agricultor mudava de sítio tão logo se esgotava o solo e o solo quando pobre 
exauria-se em três ou quatro anos. O pastor deixava-se conduzir pelas cabras 
e bois. A coleta arrastava quem fazia as inesperadas distâncias, pois as árvores 
frutíferas, as plantas tuberoras se disseminavam pelo largo espaço. A própria 
natureza da caça pede amplas áreas vazias de homens: ela tem de ser itine-
rante, para não se esgotarem os animais. E, se a vida de aldeia recomenda 
a proximidade dos rios e das fontes, a pesca a exige. (SILVA, 2006, p. 213).
Em torno do ano 1000 da nossa era, os bantos já ocupavam a região que ocupam até hoje, 
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nos atuais estados de Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, República Democrática do Congo, 
República do Congo, Angola, Uganda, Ruanda, Burundi, Quênia, Tanzânia, Maláui, Moçambique, 
Suazilândia, Lesotto, Zimbábue, Zâmbia, Botsuana e República da África. Nestes três últimos 
países, há uma parcela significativa de povos falantes de cóisan (hotentotes e bosquímanos), 
que se concentraram nessa região depois da expansão banta. (SOUZA, 2007). 
Inicialmente, como sinalizado, nômades, caçadores, coletores, os povos bantos 
tornaram-se agricultores vivendo em aldeias e passaram a dominar a técnica de metalurgia. 
Atividade essa, que lhes conferiu certa superioridade sobre os povos que não a conheciam.
O povo banto configurava-se por grupos de populações aparentadas pela língua, com 
modos de vida semelhantes, mas com particularidades culturais que os diferenciavam uns 
dos outros. Ambundos, imbangalas, bacongos, cassanjes, ovimbundos, lubas, lundas, quiocos 
são alguns dos grupos banto que viviam na região das florestas e savanas da África centro-
ocidental e central. (SOUZA, 2007).
Ao sul viviam os remanescentes dos povos coletores e caçadores desalojados pelos 
bantos, os bosquímanos e os hotentotes, que pastoreavam o gado. Lembrando que esse 
animal era muito importante para essas sociedades, constituindo-se em moeda de troca com 
outros grupos.
Na parte sul oriental e centro-oriental, na região dos rios Limpopo e Zambeze, habitava 
grande variedade de povos bantos, como zulus, xonas, maraves e iaôs. No interior, na região 
dos lagos Vitória e Tanganica, pastores vindos do Sael se misturaram aos bantos agricultores. 
Coexistindo por muito tempo de forma harmônica.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/9/9b/Bantu_expansion.png>. Acesso em: 18 maio 
2010.
FIGURA 16 – EXPANSÃO DOS POVOS BANTOS
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Todavia, alguns povos que os bantos encontraram pelo caminho foram desalojados, 
exterminados ou assimilados, a ponto de restarem hoje poucos grupos humanos descendentes 
dessas populações autóctones. A maior parte deles está concentrada no sul da África, nas regiões 
do entorno dos desertos de Kalahari e da Namíbia e constituem o já mencionado grupo cóisan.
UNI
Caro(a) acadêmico(a)! Como sugestão 
assista ao filme Os Deuses devem estar 
loucos I (Ano: 1980Direção: Jamie Uys). O 
filme tem início no deserto do Kalahari, no 
Botswana, junto à África do Sul, numa pacata 
e semidesértica paisagem, coberta por uma 
vegetação arbórea esparsa, mostrando 
uma cena da vida quotidiana de um grupo 
de bosquímanos quando uma garrafa de 
coca-cola é lançada por um piloto de uma 
aeronave de pequeno porte. A partir desse 
fato, a vida do chefe bosquímano muda 
radicalmente. O filme propicia uma imagem 
da paisagem africana.
FONTE: Disponível em: <http://www.filmesraros.com/loja/product_
info.php?products_id=151>. Acesso em: 17 maio 2010.
4 AS RELAÇÕES COM O LITORAL 
 DO OCEANO ÍNDICO
Observando o mapa acima, percebemos que o movimento do povo de origem banta 
abrangeu uma área extensa no continente africano. De acordo com Silva (2006), quando os 
bantos começaram a se espalhar pelas praias do Índico, ali já existiam, pequenos entrepostos 
comerciais aonde vinham ter navios de nações distantes – romanos, árabes, persas. Vinham 
buscar incenso, marfim, chifres de rinoceronte, peles de pantera. E traziam em troca, lanças, 
adagas e machados de ferro, tecidos de algodão, vidros, vasos de cerâmica.
A conversão de povos africanos ao islamismo intensificou as relações comerciais. Os 
mercadores mulçumanos passaram a buscar no interior os produtos que desejam adquirir, 
constituindo, assim, rotas comerciais no interior do continente. Silva (2008) referindo-se ao 
comércio mulçumano aponta que, mesmo que transpostas as praias, na maior parte da região 
a terra era hostil, coberta por uma vegetação espinhenta, a nyka, em que estava presente a 
mosca tse-tsé. No entanto, a ambição da riqueza faria com que os habitantes do litoral ameno 
se arriscassem a entrar no interior. Entravam com os mercadores, mas não contribuíam para 
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a difusão de novas técnicas, de novos instrumentos e de novas ideias, a não ser o islamismo 
e, posteriormente, as armas de fogo, que tornaria menos perigosas as caçadas.
Além dos árabes, também os indianos frequentavam o litoral oriental da África econtribuíram para o aspecto variado das cidades, nas quais se dava o comércio com povos 
do interior, de onde vinham principalmente ouro e marfim.
Quando o europeu chegou a essa parte da África encontrou relações comercias já 
constituídas, como mostra a figura a seguir:
FONTE: Hernandez (2008)
5 PELO OCEANO ATLÂNTICO
A costa atlântica foi à última região da África a manter contato com povos vindos de 
fora. A exploração desta parte da África pelos portugueses aconteceu no início do século XV. 
Nesta região, os estrangeiros entraram em contato com povos berberes islamizados, muitas 
vezes atacados e aprisionadas para serem vendidos como escravos na Europa e até mesmo 
no norte da África. De acordo com Souza (2007), à medida que os portugueses navegavam 
mais para o sul, iam entrando em contato com povos negros. Em 1445, construíram em Arguim 
FIGURA 17 – INTERCÂMBIO COMERCIAL NA COSTA DO OCEANO ÍNDICO
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a primeira fortaleza que serviria de base para o comércio com os povos locais.
Dois acontecimentos foram importantes no final do século XV e marcaram a 
intensificação da circulação europeia, em específico, os portugueses no continente africano: 
em 1489, Bartolomeu Dias chegou ao extremo sul do continente e em 1498, Vasco da Gama 
chegou até a Índia contornando o sul da África. Por meio desta viagem tem-se o conhecimento 
das cidades da costa africana oriental, que eram movimentados centros de comércio, com 
forte presença árabe. Se naquela costa os nativos e seus parceiros comerciais de velha data 
quase não deixaram espaço para os portugueses agirem, também na costa atlântica houve 
resistência ao contato. No entanto, pouco a pouco, os portugueses, e depois os ingleses, 
franceses e holandeses foram se tornando mais presentes na costa atlântica até que algumas 
populações passaram a depender inteiramente das relações comerciais estabelecidas com 
esses países. (SOUZA, 2007).
Assim como os mulçumanos, os portugueses iniciaram um movimento de difusão da 
crença cristã, pois acreditavam ser sua missão levar o catolicismo entre as populações africanas. 
Entretanto, nos primeiros séculos a difusão do catolicismo entre os africanos foi insignificante. 
Se a circulação da fé católica em África, nos primeiros séculos não alterou o modo 
de vida dos povos africanos, não se pode afirmar isso da perspectiva social. O fato novo que 
interferiu radicalmente nas sociedades africanas depois da chegada dos portugueses foi a 
busca por escravos. Fato que provocou mudanças significativas nas regiões que entraram em 
contato direto ou indireto com eles.
Os centros da ação dos mercadores europeus na costa atlântica da África foram as 
regiões dos rios Senegal e Gâmbia, onde compravam escravos; da região do forte da Mina, 
onde eram comercializados ouro com os portugueses; do golfo do Benin, terra de povos iorubás, 
onde os escravos eram a principal mercadoria; do delta do rio Níger, onde eram negociados 
escravos e marfim; da foz do rio Congo e do rio Cuanza.
Na região do rio Gâmbia e em Luanda, atual Senegal, no século XVI, a parceria comercial 
entre portugueses e africanos é aos poucos substituída pela presença francesa e no delta do 
Níger pela presença inglesa.
A presença de estrangeiros nessa costa provocou significativas mudanças nas 
sociedades que se envolveram com eles. A compra de escravos que serviriam de mão de obra 
nas colônias americanas era o principal interesse desses países europeus. Do século XVI ao 
XIX foi em torno do tráfico de escravos que se firmaram as relações comerciais entre africanos e 
europeus (SOUZA, 2007). Nessa perspectiva, o próximo tópico contempla a circulação islâmica 
no continente africano, a percepção da cultura islâmica junto à África é fundamental para que 
possamos, num segundo momento, compreender a ação europeia sobre este continente. 
Ação esta, como já foi comentado trará transformações significativas em África e no continente 
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americano.
6 O COMÉRCIO TRANSAARIANO
As trocas regulares de produtos deram origem ao desenvolvimento de redes comerciais 
internas na África. Desde o século VII, as regiões africanas estabeleciam contatos entre si.
A inserção dos árabes neste continente intensificou e ampliou a circulação comercial 
entre os séculos XII e XVI, “estendendo-se em especial da zona sahelo-sudanesa ao Magrebe. 
Seguindo os itinerários dos principais produtos africanos, pode-se constatar a complexidade 
e o dinamismo das relações comerciais e culturais entre cidades de diferentes regiões do 
continente. (HERNANDEZ, 2008).
Os produtos que circulavam por estas rotas eram: sal, ouro, cobre, marfim, noz-de-cola, 
entre outros. O sal extraído das minas de Teghazza, por exemplo, supria os mercados do Sudão 
ocidental. Já em Arwill, o sal extraído das margens do rio Senegal abastecia o interior do Níger. 
Nessa perspectiva, o sal era utilizado como moeda comercial entre as sociedades africanas.
No século X, registrou-se a ocorrência do comércio de ouro desde a África Ocidental 
até o sul do Saara. Quatro séculos mais tarde o reino Mali influiu decisivamente na expansão 
do mercado de ouro evidenciando a importância da rota de Tombuctu a Kayrawam, passando 
por Wargla.
FONTE: Hernandez (2008 p. 41)
FIGURA 18 – ROTAS COMERCIAIS TRANSAARIANAS
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7 A ÁFRICA E A RELAÇÃO COM O SOBRENATURAL
O Sudão Central e a região do Chade, onde se situavam o reino de Bornu-Kanem e as 
cidades Hauça, foram importantes pontos de desenvolvimento do comércio intracontinental. 
Exportavam sal, cobre, presas de elefante, produtos manufaturados e escravos.
[...] é oportuno lembra que havia três importantes rotas do Chade para o norte: 
de Kanem para o Egito, passando pelas minas de sal; do lago Chade indo 
para leste (onde, no Tibesti, eram exploradas pedras preciosas), para alcançar 
Aswan e, por fim, o Cairo; Kanem para Ghat e Ghadames, de onde se bipartia, 
com um ramo indo para a Túnis e outro para Trípoli. Nessas rotas comerciais, 
destacavam-se os hauçás, que, envolvidos com comércio de longa distância, 
eram os intermediários entre a savana e a floresta, estabelecendo inclusive 
contato com as cidades do delta do Níger como Oió, Ifé, Benin e Ibo de Ikwu. 
(HERNANDEZ, 2008, p. 40).
O comércio de sal e de outros produtos foi também praticado na rota que atravessava 
o interior da Etiópia até o Zambeze. Mostrando que a floresta equatorial não foi uma barreira 
entre as savanas setentrionais e meridionais. Existem registros de trocas de técnicas, objetos 
e estatuetas entre a Nigéria e Angola. A tradição oral é rica em referências às trocas de ideias 
e à migração de povos de uma região à outra.
O conhecimento do intercâmbio comercial entre as regiões em África, conduzido 
pelos próprios africanos ou por agentes externos (como os árabes, por exemplo), auxilia na 
concretização de uma unidade histórica como a de dinamismo cultural do continente africano, 
apresentando intecâmbios entre diversas organizações políticas de complexidade e extensão 
notáveis (HERNANDEZ, 2008). Afastando a noção de um continente cortado em duas partes 
incomunicáveis e ao mesmo tempo rompe com a ideia de uma África homogênea.
A religião é uma das atividades mais universais conhecidas pela humanidade, sendo 
praticada por todas as culturas desde o início dos tempos. Todavia não há uma definição de 
religião universalmente aceita, até hoje. A religião parece ter surgido do desejo de encontrar 
um significado e propósito definitivos para a vida, geralmente centrado na crença e ritual a um 
ser (ou seres) sobrenatural.As sociedades em África não fugiam a essa prática. Os ritos, as crenças, as práticas e 
a difusão da religiosidade africana associam-se ao sobrenatural. Ao que muitas vezes, nos é 
desconhecido. Vamos ler, com muita atenção, o texto de Marina de Mello e Souza, em que a 
autora discute sobre a relação da religiosidade africana e o sobrenatural.
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O SOBRENATURAL
O mundo natural é o concreto, que tocamos, sentimos, no qual vivemos. O mundo 
social é resultado de nossa vida em grupo e em determinado meio ambiente. O mundo 
sobrenatural é o das religiões, da magia, a que os homens só têm acesso parcial, por 
meio de determinados ritos e cerimônias. Ele é mais ou menos importante, dependendo da 
sociedade. Numa sociedade como a nossa, em que quase tudo é explicado pela ciência e 
pelo pensamento lógico e racional, o espaço do sobrenatural é bastante limitado. Já nas 
sociedades africanas, onde foram capturados os escravos trazidos para o Brasil, toda a vida 
na terra estava ligada ao além, a dimensão que só especialistas, ritos e objetos sacralizados 
podiam atingir.
Na costa da África que vai do Senegal a Moçambique, ou seja, aquela onde 
portugueses e outros povos europeus negociavam escravos, e nas regiões do interior ligadas 
a esses litorais, quase tudo era explicado e resolvido por forças sobrenaturais, manipuladas 
por curandeiros, adivinhos, médiuns e sacerdotes, que foram chamados de feiticeiros pelos 
portugueses que primeiro chegaram à África. Estes, guiados pelo seu ponto de vista e usando 
seu vocabulário chamaram de feitiço as práticas mágico-religiosas que viam os africanos 
fazer. Mas, para os diferentes grupos de africanos, assim como a linhagem da qual a pessoa 
fazia parte, definia o seu lugar no grupo, no que diz respeito ao conhecimento, à explicação 
das coisas e à possibilidade de interferir no rumo da vida. Tudo girava em torno da relação 
entre o mundo natural e o sobrenatural.
A orientação de como agir diante de várias situações da vida era traçada valendo-
se do além, dos antepassados, dos ancestrais, dos heróis fundadores, dos deuses, dos 
espíritos e da grande variedade de seres sobrenaturais que habitavam dimensões com as 
quais era possível fazer contato sob certas condições específicas. Geralmente infortúnios 
eram considerados fruto de ações humanas impróprias conscientes ou inconscientes, que 
desestabilizavam a harmonia. Esta podia ser rompida quando não se cumpria um preceito, 
como uma oferenda a um espírito ancestral, ou quando se manipulavam de maneira mal-
intencionada forças sobrenaturais em beneficio próprio e com prejuízo de alguém. Assim, se 
um filho ficasse doente, se uma seca arruinasse a plantação, se uma mulher não conseguisse 
engravidar, ou se fosse preciso descobrir que havia furtado algo, oráculos eram consultados 
para que as forças do além mostrassem as soluções. Ritos de possessão eram realizados 
para que os espíritos pudessem orientar os vivos.
As lideranças nessas comunidades também eram em grande parte sustentadas 
pelos membros dos seus grupos. Os chefes tinham de ser confirmados pelos sacerdotes 
mais importantes, que trabalhavam pelo bem-estar de toda a comunidade. Esses sacerdotes 
consultavam as entidades sobrenaturais adequadas, fossem elas espíritos ancestrais, deuses 
locais, espíritos de chefes fundadores de comunidades ou espíritos responsáveis pelos 
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recursos naturais da região. Por meio de ritos apropriados, os chefes eram confirmados 
pelas forças sobrenaturais e tornavam-se os mais importantes intermediários entre elas e 
os membros da comunidade. Além de serem a autoridade máxima, eles eram também os 
mais importantes representantes do além entre os seres vivos.
Se considerarmos que a relação com o sobrenatural e todas as crenças e cerimônias 
necessárias para que ela se estabeleça são formas de religião, podemos dizer que esta era 
um elemento central em todas as sociedades africanas. A religião estava presente no exercício 
do poder, na aplicação das normas de convivência do grupo, na garantia da harmonia e do 
bem-estar da comunidade. O mundo era decifrado e controlado pela religião, que nessas 
sociedades tinha um papel equivalente ao que a ciência e a tecnologia têm para a nossa 
sociedade.
FONTE: Hernandez (2008)
Os cultos aos Orixás eram praticados somente entre os iorubás ou nagôs, povo que 
vive no sudoeste da Nigéria e no sudeste da atual República do Benin. Como outras religiões 
africanas, a dos orixás é constituída de um conjunto de cultos locais, ligados a santuários 
próprios. Quando os africanos foram trazidos para as Américas e tiveram que se ajustar a 
uma nova condição, seu culto, seus ritos, seus deuses também atravessaram o Atlântico e se 
instalaram no novo continente.
Em África, a religião dos orixás não se expandiu, grupos como: os sereres, banhuns, 
ibos, andongos, iacas, angicos, xonas, macuas, zulus ou outros povos não foram adeptos 
dessa manifestação. Todavia, nas Américas, sobretudo no Brasil e em Cuba, que ela se tornou 
religião universal, com deuses que não pertencem exclusivamente a um povo, mas a toda a 
humanidade. No Brasil, esta manifestação religiosa dos orixás dez adeptos não só entre os 
originários de outras nações africanas, mas também entre descendentes de portugueses, 
espanhóis, guaranis, pataxós e muitos outros povos.
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Neste tópico, você estudou que:
•	 A relação de trocas permitiu que diversos grupos tivessem acesso a coisas que não 
produziam.
•	 Os diferentes grupos trocavam seus produtos por meio de comércio de longa e curta distância. 
O comércio era um mecanismo importante nas relações estabelecidas entre as diferentes 
sociedades em África, pois possibilitava, não somente a troca de produtos, mas também de 
elementos culturais que muitas vezes foram incorporados às tradições locais das diferentes 
sociedades africanas.
•	 A partir do século VII, o islã se expandiu pelo norte da África, pelo vale do rio Nilo, pelas 
rotas do Saara e também pela costa ocidental, através do mar Vermelho, do golfo de Áden 
e do oceano Índico.
•	 Inicialmente, os povos de origem banta eram nômades, caçadores, coletores. Posteriormente, 
tornaram-se agricultores vivendo em aldeias e passaram a dominar a técnica de metalurgia. 
Atividade essa, que lhes conferiu certa superioridade sobre os povos que não a conheciam.
•	 Quando o europeu chegou a algumas regiões da África, encontrou relações comercias já 
constituídas.
•	 Os centros da ação dos mercadores europeus na costa atlântica da África foram as regiões 
dos rios Senegal e Gâmbia, onde compravam escravos.
•	 A orientação de como agir diante de várias situações da vida era traçada valendo-se do 
além, dos antepassados, dos ancestrais, dos heróis fundadores, dos deuses, dos espíritos 
e da grande variedade de seres sobrenaturais que habitavam dimensões com as quais era 
possível fazer contato sob certas condições específicas.
RESUMO DO TÓPICO 3
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Exercite seus conhecimentos, resolvendo as questões a seguir:
1 Explique como acontecia o comércio entre os diferentes grupos africanos, antes do 
contato com os árabes.
2 Os bantos iniciaram um processo de expansão territorial e ocuparam uma extensa 
região na África. Elabore um pequeno texto indicando como se deu essa expansão 
e quais as consequências para o continente africano.
3 O filme Os Deuses Devem Estar Loucos, indicado nesta unidade, apresenta o 
modo de vida de um grupo social africano. Que grupoera esse? Se você assistiu ao 
filme, faça um pequeno relato procurando identificar esse modo de vida africano e 
socialize-o com o seu grupo.
4 Leia o texto “O sobrenatural” e identifique as características das religiões africanas.
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A ÁFRICA E O ISLAMISMO
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 4
UNIDADE 2
A partir do século VII, mas especialmente do século X em diante, as sociedades africanas 
começaram a sofrer a influência e a resignificar elementos de uma cultura vinda de outro 
continente: o islamismo. Ainda no século VII, a expansão muçulmana levou a fé islâmica até 
as regiões do Egito e do norte da África. Imbuídos do espírito de propagação da fé islâmica, 
os árabes fizeram do norte da África (chamado por eles de Magrebe, que significa extremo 
ocidente) o ponto de partida para a conquista da Península Ibérica. Embora tenham sido 
rechaçados mais ao norte, a presença muçulmana na península e na África foi duradoura. Em 
todas as regiões do entorno do deserto do Saara, a religião predominante é, desde então, o Islã.
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Caro(a) acadêmico(a)! Já estudamos na disciplina de História 
Medieval sobre a cultura e a civilização islâmica. Todavia, 
vamos relembrar algumas questões referentes à fé deste povo, 
representada pela religião islâmica e a expansão desta fé por 
outros continentes.
Maomé, que viveu entre Meca e Medina de 570 a 632, foi 
o fundador do Islã, que significa submissão a deus, único e 
onipotente. No mundo moderno, o judaísmo, o cristianismo e 
o islamismo são as três principais religiões monoteístas, isto é, 
que preconizam a existência de um único deus, criador de todas 
as coisas. Elas se guiam por textos sagrados, estabelecidos em 
momentos diferentes: a Tora, a Bíblia e o Alcorão. O islã foi 
rapidamente difundido pela pregação de Maomé e seus seguidores, 
e, no século VIII, estava presente desde a Pérsia até a Península 
Ibérica, passado por toda a Arábia, pelo Império Turco e pelo 
norte da África.
A religião vinha acompanhada de maneiras de viver e de governar 
próprias do mundo árabe, chamadas de mulçumanas. Segundo a 
religião islâmica, povos variados podem ser agregados em torno 
de uma comunidade de ideias e crenças capazes de produzir 
uma unidade chamada umma. Os cinco principais deveres de 
todo adepto do islã são: a profissão de fé, isto é, a declaração da 
crença em um só Deus e em Maomé como seu profeta; a oração 
cinco vezes ao dia; o pagamento de imposto religioso; o jejum 
no mês de Ramada e a peregrinação a Meca pelo menos uma vez 
na vida. (SOUZA, 2007).
Mas a influência da cultura e da religião islâmica não se limitou, na África, à estreita 
faixa de terra localizada entre o mar Mediterrâneo e o deserto do Saara. Também ao sul do 
deserto, as civilizações do Sahel e das florestas próximas sofreram a influência dessa religião 
e terminaram por se integrar, de forma ativa ou indiretamente, ao mundo islâmico. Na África 
Oriental, em frente ao mar Vermelho, a proximidade com a Península Arábica faz parecer óbvia 
a influência muçulmana sobre a cultura - embora tenha havido, ali, duros enfrentamentos com 
os cristãos coptas da Etiópia. Também na região central da África, nas proximidades do lago 
Chade, o Islamismo ganhou força e terminou por se tornar predominante no reino de Kanem-
Bornu. No mapa que segue, podemos ter uma dimensão da propagação da fé islâmica no 
continente africano no século XIII, percebamos que para além do norte da África, essa fé 
propagou-se para a costa do oceano Índico.
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FONTE: Disponível em: <http://www.islam.org.br/africa_mapa.gif>. Acesso em: 19 
maio 2010.
2 A ISLAMIZAÇÃO DO NORTE DA ÁFRICA
O Islamismo tinha muito a oferecer aos povos africanos com os quais entrava em 
contato. Excelentes guerreiros e mercadores, os árabes, em poucas décadas, expandiram 
seus domínios do litoral do Oceano Atlântico até o subcontinente indiano, o que lhes permitiu 
integrar sob uma mesma fé uma imensa e variadíssima região do mundo. Ao promoverem 
essa expansão, entraram em contato com povos muito distintos e souberam administrar as 
diferenças culturais e religiosas com habilidade: contrariamente à impressão preconceituosa 
que muitos têm, hoje em dia, da religião islâmica, os muçulmanos eram bastante tolerantes 
com as crenças anteriores e os costumes dos povos que conquistavam.
A relação dos muçulmanos com os povos dominados por eles muitas vezes desafiava, 
no tocante à conversão, a lógica evangelizadora do cristianismo. Embora por todas as regiões 
sob seu domínio circulassem os ulemás, estudiosos eruditos que transitavam pelo Islã dedicados 
à propagação da fé muçulmana, e os povos dominados fossem sempre bem recebidos se 
decidissem converter-se, os muçulmanos não exigiam deles que adotassem a nova crença. 
Ao contrário, geralmente não era do seu melhor interesse que as populações do Sahel, por 
exemplo, se convertessem, pois elas forneciam um enorme e constante contingente de escravos 
e a lei muçulmana proibia a escravização de féis. Além disso, pela lei islâmica, os indivíduos 
não convertidos estavam obrigados ao pagamento de um imposto especial, a jizyah, como 
prova de submissão. Tornava-se, assim, vantajoso economicamente para os muçulmanos 
FIGURA 19 – EXPANSÃO ISLÂMICA NA ÁFRICA NO SÉCULO XIII
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manterem populações não convertidas sob seu domínio. Já para as populações dominadas, 
em contrapartida, a conversão era vantajosa, justamente por esses motivos. Além disso, 
algumas atividades econômicas, como o comércio, eram executadas com mais facilidade por 
muçulmanos, pois a religião lhes permitia estabelecer contatos mais sólidos em todo o Islã.
2.1 A CONQUISTA DE IFRIQIYA
2.2 O CALIFADO FATÍMIDA
Após a morte de Maomé o poder no mundo islâmico passou a ser controlado pelo 
califado Omíada (Ummayyad), que empreendeu incessantes campanhas de conquistas 
territoriais: ocupou a Síria (onde estabeleceu sua capital, em Damasco), a Ásia Central (no atual 
Afeganistão) e o norte da África. Na região, que até então estivera sob o domínio bizantino, 
os conquistadores fundaram a cidade de Kairouan, que se constituiu, juntamente com Túnis, 
no centro da província de Ifriqiya (correspondente mais ou menos à atual Tunísia e norte da 
Líbia) – a antiga província romana da África, de onde retirou o nome.
Os omíadas enfrentaram a oposição feroz dos berberes, povo originário da região, 
que terminaram por conquistar Kairouan em poucos anos. A conquista berbere facilitou a sua 
conversão ao Islamismo e, a partir de então, árabes e berberes atuaram juntos na expansão 
muçulmana; era berbere o líder dos exércitos que ocuparam Al-Andalus (a Espanha muçulmana), 
em 711. A partir de 800, sob a dinastia dos Aglábidas, a região de Ifriqiya prosperou e Kairouan 
se tornou uma das cidades mais importantes do mundo muçulmano. De lá partiam caravanas 
para o interior do continente, que entrou em uma longa fase de apogeu entre os séculos VIII 
e XVI. De acordo com o historiador árabe Ibn Battuta, o comércio era realizado por enormes 
caravanas, que chegavam a reunir mil camelos de uma só vez. O comércio transaariano permitiu 
o grande desenvolvimento do reino de Gana, como já sinalizado.
Na região de Ifriqiya surgiu, em 909, uma nova dinastia: a dos Fatímidas. O nome provém 
de Fátima, filha do profeta Maomé, de quem os fatímidas se diziam descendentes. Após um 
rápido avanço, a nova dinastia conquistou todaa região do Magrebe (atuais Argélia e Marrocos, 
região mais ao norte do continente africano) e estendeu-se até o Egito – onde fundou a cidade 
do Cairo – e de lá se expandiu por uma vasta região no Oriente Médio, até Meca.
Após se mudarem para o Cairo, os fatímidas deixaram Ifriqiya e o Magrebe sob o 
comando de chefes vassalos. Uma crise econômica, causada pela decadência do comércio 
transaariano, levou-os a romper com os Fatímidas (que eram xiitas) e adotarem a vertente 
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2.3 O MAGREBE SOB OS ALMORÁVIDAS
3 O SAHEL SOB A INFLUÊNCIA ISLÂMICA
sunita do Islamismo. A reação fatímida levou à destruição de Kairouan, o que contribuiu para 
a decadência da região – ocupada, por volta de 1130, pela nova dinastia dos almorávidas.
Os almorávidas eram uma dinastia sunita originada dos berberes do deserto do Saara, 
que seguia uma rígida disciplina militar e religiosa. Por volta de 1050, começaram a espalhar 
sua fé pelas regiões vizinhas e também para alguns reinos do outro lado do deserto do Saara; 
foi o caso de Takrur, um pequeno reino no atual Senegal. Com a conquista de Sijilmasa (na 
atual Argélia) e de Audaghost (no sul da atual Mauritânia), os almorávidas abriram uma rota 
comercial importante para o Sahel. A cidade de Audaghost havia sido conquistada pelo reino 
de Gana em 1070 e, cinco anos depois, sucumbiu sob o poder dos almorávidas. A conquista 
foi fatal para o reino de Gana, que entrou em colapso em seguida.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dc/Almohad_
dynasty_1147_-_1269_%28AD%29.PNG>. Acesso em: 20 maio 2010.
A influência do islamismo sobre a região do Sahel foi apenas indireta durante vários 
séculos. Os comerciantes muçulmanos que tomaram conta das rotas cameleiras que cruzavam 
o deserto traziam as ideias e a religião junto com as mercadorias. No entanto, não havia um 
esforço de conversão em massa das populações ao sul do Saara. Alguns comerciantes do 
FIGURA 20 – A DINASTIA DOS ALMORÁVIDAS (1147-1269) EM SUA MAIOR EXTENSÃO
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Sahel, porém, convertiam-se, por conveniência comercial – pelos contatos que lhes traria – ou 
por adesão sincera à nova fé. O reino de Gana beneficiou-se amplamente dessas relações 
comerciais, e sua capital chegou a abrigar uma enorme população muçulmana. Mais a leste, 
as regiões do Kanem-Bornu se tornaram também importantes pontos de ligação entre o Sahel 
e o norte da África.
FONTE: Disponível em: <http://exploringafrica.matrix.msu.edu/students/
images/west_african_kindomsempires.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.
3.1 O REINO DO MALI
Após a queda do reino de Gana, o poder local foi ocupado pelo reino de Kaniaga, 
formado por uma população do mesmo povo soninquê de Gana. Mas o reino de Kaniaga tinha, 
assim como seu antecessor, uma fraqueza: não controlava diretamente as jazidas de ouro que 
faziam a sua prosperidade. Assim, em 1235, o poder regional foi ocupado, e seria mantido por 
dois séculos, por um novo reino: o Mali. As origens do reino do Mali são obscuras. Os povos 
mandingas ou malinquês viviam na região das minas de ouro, no alto Senegal e alto Níger. 
Por volta de 1050, o rei Baramendana teria se convertido ao Islamismo, após uma terrível seca 
que assolava seu reino. As informações disponíveis sobre o reino e seus soberanos são muito 
poucas até o início do século XIII, quando reinou sobre o Mali o célebre Sundiata. Após tomar 
o trono, conseguiu reunir um exército para derrotar o rei Kaniaga Sumaoro e estabeleceu seus 
domínios desde o Delta do Níger e o Adrar dos Iforas até o oceano Atlântico, garantindo, além 
das tradicionais minas de ouro de sua região original, também para o Bambuque, a segunda 
maior jazida de ouro do Sudão ocidental.
O império controlava as rotas comerciais transaarianas da costa sul ao norte. Os 
principais produtos comercializados eram: ouro, sal, peixe, cobre, escravos, couro de animais, 
noz-de-cola e cavalos.
FIGURA 21 – AO REINOS E IMPÉRIOS DO SAHEL OCIDENTAL, SOBRE AS 
DIVISÕES POLÍTICAS ATUAIS
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3.1.1 Mansa Musa
FONTE: Disponível em: <http://www.metmuseum.org/TOAH/HD/mali/hg_d_mali_
d1map.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.
Todo esse ouro garantiu aos reis do Mali uma riqueza sem precedentes, que seria 
exibida com orgulho por Mansa Musa I (1312-1332). Em 1324, Mansa Musa partiu em 
peregrinação a Meca com o óbvio objetivo de impressionar a todos com sua riqueza. Deve ter 
levado tributos especiais do império, em mantimentos, cavalos, dromedários e ouro. Quando 
teve tudo disposto, pôs-se em marcha, acompanhado por milhares de pessoas – grandes da 
corte, soldados, escravos – e com cem camelos apinhados de metal amarelo (SILVA, 2006). 
Foi tão grande o impacto da passagem de Mansa Musa que o ouro ficou desvalorizado no 
Cairo por diversos anos. Mas a visita teve o poder de literalmente colocar o Mali no mapa; a 
partir daquele momento, até os mapas europeus fariam menção ao “rex Melli”.
O antecessor de Mansa Musa, chamado Abubakar II (sobrinho de Sundiata), protagonizou 
uma das explorações mais inusitadas de que se tem notícia: decidido a provar que o mundo não 
tinha limites, organizou duas expedições de exploração do Oceano Atlântico, as primeiras a 
navegar em direção à América do Sul. Mas a falta de recursos técnicos adequados (não havia 
bússolas, por exemplo) impediu o sucesso das expedições, que não conseguiram atravessar 
as tempestades do Oceano.
FIGURA 22 – O REINO DO MALI EM SUA MAIOR EXTENSÃO
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Mansa Musa aparece no mapa-múndi do maiorquino Angelino 
Dulcert – vestido à europeia, com cetro e coroa, tendo a mão 
direita uma grande pepita de ouro, que parece mostrar e oferecer 
a um azenegue a camelo, ele está representado no mapa do 
também maiorquino Abrão Cresques, desenhado em 1375, o 
chamado Atlas Catalão de Carlos V da França. Sua fama era de 
um rei riquíssimo, a do senhor do ouro.
FONTE: SILVA (2006)
FONTE: Disponível em: <http://www.pitt.edu/~natrooms/africa/t4a_files/image007.jpg>. 
Acesso em: 20 maio 2010.
A extensão territorial do Mali era extensa, o ouro ostentado pelo mansa provinha 
possivelmente dos armazéns onde ele e seus antecessores haviam acumulado os tributos das 
regiões auríferas e impostos derivados a distancia.
Esse comércio, de acordo com Silva (2006), era essencial ao estado, à corte, ao rei. 
Pouco influía na vida simples das populações. Com a taxa do tráfico de ouro, cobre, sal, 
escravos, tecidos, noz-de-cola e outros, o mansa comprava no Magrebe os cavalos necessários 
aos seus exércitos, adquiria tecidos e outros artigos de luxo com que presenteava a aristocracia 
e os chefes vassalos, e dava, com pompa e prodigalidade, provas de seu poder.
Enquanto o mansa esbanjava riquezas, quase todos os súditos – mandês, tucolores, 
saracolês, bambaras, jalofos ou songais – viviam em vilarejos, em casebres de barro socado, a 
FIGURA 23 – REI DO MALI – MANSA MUSA EM VISITA A MECA
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cultivar o milho, o sogro e o arroz, sem outro recurso que não o da vara de furar ou da enxada 
curta. Do tráfico transaariano só se beneficiavam do sal, que lhe era indispensável. O comércio 
que lhe interessava era o que fazia chegar o peixe seco e os cereais às regiões que não os 
produziam. (SILVA, 2006).
Onde o Islão se impusera, chegaram turbantes e longos camisolões à marroquina. E, 
com seu uso, a tecelagem da lã e do algodão. No entanto, na maioria das regiões do império, 
anudez se cobria com simples tanga de couro.
As cáfilas traziam do Mediterrâneo os artigos de luxo e alguns comerciantes letrados 
e doutores da fé, que em breve se adaptavam ao novo ambiente. Pelo Mali não se difundiram 
nem as ideias, nem a arte, nem as técnicas, nem os costumes florescentes no Magrebe e no 
Egito. As novidades ficavam restritas a diminuta elite, nos grandes centros urbanos. Nestes 
centros, o islame era a religião predominante e a gente andava vestida. Nas regiões do Mali, o 
maometanismo era credo de poucos – da nobreza, dos comerciantes, de algumas comunidades 
que haviam abandonado as crenças tradicionais e deixado de fazer sacrifícios aos deuses da 
natureza e aos antepassados. (SILVA, 2006).
Após a morte de Mansa Musa, seus sucessores não conseguiram manter a unidade 
de um território tão extenso. Aos poucos, os conflitos locais e as intrigas palacianas foram 
colocando o reino do Mali em situação delicada. Segundo Silva (2006), o declínio do império do 
Mali foi lento, ao longo de todo o século XV. Perdida a obediência dos soniquês, dos tuculores, 
dos songais e de outros povos que dele faziam parte, o Mali foi se reduzindo, ao norte, às 
suas antigas dimensões de país dos maliquês. Para o sudoeste, continuou a expandir-se, a 
esforçar-se para conservar o controle sobre o comércio do ouro, da cola e do sal – este a ter 
por fonte não mais as minas do deserto, e sim as praias do Atlântico. A unidade que o Sundiata 
dera aos mandingas vai custar a perde-se: não deixará de existir senão nos últimos dias do 
século XVI, e sobre um território bem mais amplo do que o tradicional, pois não se perderam 
as áreas colonizadas pelos malinquês nos rios Gâmbia e Casamansa. Mesmo ao norte, sobre 
os bancos do Níger e do Bani o mansa conservará, por algum tempo, entre os bambaras, 
muitos vassalos.
3.1.2 As estruturas do Reino do Mali
Ao contrário do antigo império de Gana, em que os muçulmanos eram estrangeiros bem 
recebidos, o império do Mali contou, desde cedo, com líderes convertidos. Isso não parece 
significar, no entanto, que eles fossem muçulmanos fervorosos, ou pelo menos que seguissem 
estritamente as regras da religião: Mansa Musa, de acordo com cronistas, desrespeitava 
preceitos do Alcorão (como o de ter apenas quatro mulheres) e era comum o consumo de 
carnes proibidas aos féis. Ao mesmo tempo, o rei era tratado em sua corte como se fosse um 
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deus, o que remetia às crenças tradicionais. No entanto, há igualmente demonstrações de fervor 
religioso entre eles. Algumas etnias, como os soninquês e os diúlas, que estavam em contato 
há mais tempo com o Islã, exibiam grande devoção. Por terem sido desligados de suas terras 
originais e se dedicarem ao comércio, eram sempre candidatos mais fortes à fé muçulmana.
O império do Mali também diferia de Gana em um aspecto importante: era um império que 
congregava muito mais grupos étnicos distintos. Essa característica, aliada à enorme extensão 
territorial do império, tornava bastante complexa a sua administração. A solução encontrada 
foi a descentralização: as cerca de quatrocentas cidades tinham suas administrações próprias 
e os domínios fronteiriços eram, muitas vezes, apenas reinos tributários ou protetorados, sem 
uma subordinação mais estrita ao imperador. Toda essa flexibilidade favorecia enormemente 
o comércio transaariano, ao dar estabilidade ao império. Desta forma, o Mali conseguiu atingir 
uma prosperidade sem precedentes até aquele momento. Alguns cronistas afirmam que este 
teria sido o império mais rico do mundo, em sua época.
FONTE: Disponível em: <http://www.ricardocosta.com/pub/images/imperiosnegros_
arquivos/36.%20Mali%20e%20seus%20vassalos.jpg>. Acesso em: 20 maio 
2010.
3.2 O IMPÉRIO SONGHAI DE GAÔ
O povo songhai havia criado, já no século XII, um reino centrado na cidade de Gaô, que 
por sua localização geográfica favorável, nas margens do rio Níger, tornara-se mais importante 
do que a antiga cidade de Kukya. As caravanas de sal que atravessavam o deserto garantiam, 
assim como em Gana e no Mali, a prosperidade do reino. Sabe-se que o Dia (rei) Kossoi se 
FIGURA 24 – REINOS VASSALOS DO IMPÉRIO MALI
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converteu ao Islamismo em 1019, mas seu povo manteve as crenças tradicionais. No final do 
século XIII, o reino do Mali conquistou e incorporou Gaô, onde Mansa Musa I construiu uma 
mesquita, ao retornar de sua peregrinação. Como vimos, a estrutura do reino do Mali era flexível, 
de modo que os governantes de Gaô se tornaram apenas tributários dos mandingas, mantendo 
a autoridade sobre o território. Mas a situação começou a mudar quando a dinastia Sunni tomou 
o poder em Gaô e passou a dedicar-se à expansão territorial. Aos poucos, os ataques-relâmpago 
sobre o Mali deram lugar a uma política de expansão que levou os songhais a conquistarem 
grande parte da antiga potência regional, que ficou reduzida à sua porção ocidental.
FONTE: Disponível em: <http://www.metmuseum.org/TOAH/HD/sghi/hg_d_sghi_
d1map.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.
A posição geográfica favorável, a combinação de uma agricultura eficiente e um 
comércio rentável permitiram, assim como haviam feito com os reinos predecessores, que o 
Gaô dominasse a região. A organização administrativa do império era bastante original: ao 
contrário dos reinos de Gana e do Mali, que eram governados como confederações. Em Gaô, 
o poder se concentrava nas mãos do rei e uma estrutura hierárquica rígida e centralizada foi 
estabelecida. Cissoko (apud UNESCO, 1982) compara a estrutura de Gaô à das monarquias 
europeias, que se formavam na mesma época, e considera que a centralização administrativa e 
a monarquia absoluta davam-lhe “um sabor moderno”. Ao mesmo tempo, as cidades comerciais, 
predominantemente muçulmanas, gozavam de uma autonomia maior para determinar seus 
destinos.
Já a população songhai, por sua vez, não aceitou a nova religião, como os vizinhos 
malinquês haviam feito. Até o século XVI, a população de Gaô mantinha suas crenças 
tradicionais e a forma de Islamismo praticado pelo rei, chocava e enfurecia os muçulmanos. 
Isso não impediu, contudo, que uma elite muçulmana letrada se dedicasse a desenvolver os 
estudos religiosos. A prosperidade da região atraía estudiosos e o ambiente de tolerância 
FIGURA 25 – O IMPÉRIO SONGHAI (DE GAÔ) EM SUA MÁXIMA EXTENSÃO
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religiosa cultivado pelos reis permitia a livre circulação de ideias. Desse modo, a região do 
Sahel originou uma corrente humanista que exerceu grande influência sobre todo o mundo 
muçulmano a partir do século XV. O maior centro difusor de cultura estava em Timbuctu, onde 
surgiu uma importante universidade que chegou a comportar mais de 180 escolas corânicas. 
Ensinava-se teologia, exegese, hadiths (tradições) e jurisprudência, juntamente com gramática, 
retórica, lógica, astronomia, história e geografia. Mas toda essa tradição não tinha bases na 
sociedade local e estava restrita a uma elite islamizada. Por esse motivo, praticamente nada 
sobreviveu para a posteridade, com a destruição das cidades em que se desenvolvia.
3.3 O SUDÃO CENTRAL: 
 O KANEM-BORNU E OS HAÚÇAS
3.3.1 O Kanem-Bornu
3.3.2 Os Estados Hauçás
Ao redor do lago Chade surgiram povoações em que se encontravam nômades e 
sedentários, pelo menos, a partir do ano 800 d.C. Os primeiros povos a criarem um reino na 
região eram provavelmente negros, de acordo com os indícios que se podem retirar de diversos 
relatos. A região, que ficou conhecida como Kanem, recebeu influência do Islamismo a partir 
do final do séculoXI – no entanto, assim como nas demais regiões do Sahel, a religião não 
foi adotada pela população, que manteve suas crenças tradicionais. No século seguinte, os 
reis do Kanem promoveram uma política de conquistas, chegando até os estados hauçás, no 
oeste, e até as montanhas do Tibesti, ao norte.
No século XIV, uma guerra civil de origem religiosa levou à ocupação do Bornu, no 
lado oposto do lago Chade. A região do Kanem-Bornu tornou-se, com as conquistas sobre os 
hauçás um dos maiores reinos africanos da época. Sua influência estendia-se até a região de 
Camarões, ao sul, e chegava mesmo ao Egito e à Tripolitânia (atual Líbia), ao norte. Assim como 
no Mali e no Songhai, uma das atividades mais lucrativas, e motivo de boa parte da expansão 
do Kanem-Bornu, era a captura e comércio de escravos destinados aos muçulmanos.
Os povos hauçás viviam em uma região estratégica: a meio caminho entre as rotas 
comerciais do Songhai e do Kanem-Bornu, o que lhes possibilitava ganhos econômicos, 
mas tornava a defesa uma das suas principais preocupações. As cidades hauçás, por isso, 
tornaram-se verdadeiras fortalezas, que garantiam proteção aos camponeses quando dos 
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4 A ÁFRICA ORIENTAL E O ISLÃ
4.1 OS CONFLITOS RELIGIOSOS NA ETIÓPIA
frequentes ataques dos povos vizinhos. Essa segurança permitiu o amplo desenvolvimento 
do comércio, que atravessou um período de prosperidade durante o século XV. Nessa época, 
os hauçás parecem ter adotado uma forma bastante sincera de Islamismo, o que não deixava 
de ser incomum para a região. Mas as principais cidades hauçás – Zaria, Cano e Katsina – 
envolveram-se em constantes lutas pela hegemonia local, o que terminou por enfraquecer todas 
elas. Desse modo, os estados hauçás, já intrinsecamente frágeis por sua reduzida dimensão 
e sua posição estratégica, acabaram sucumbindo aos estados vizinhos, mais fortes, de Bornu 
e do Songhai.
Neste item, estudaremos os conflitos religiosos na Etiópia entre cristãos e muçulmanos 
e a civilização Swahilli, principalmente sua cultura e idioma.
A atitude inicial dos reinos etíopes com o islamismo foi bastante cordial. Diz a tradição 
que, quando Maomé anunciou sua missão ao mundo, apenas o rei da Etiópia respondeu, 
saudando-o; apesar de não ter continuado cristã, a Etiópia foi entendida pelos muçulmanos 
como um local contra o qual não se poderia fazer a guerra santa. Essa cordialidade, no entanto, 
não durou muito: preocupados com o avanço etíope no Mar Vermelho, os califas conquistaram 
a região e relegaram a Etiópia a um reino interior. Ao mesmo tempo, a região entrou em conflito 
com o patriarcado cristão de Alexandria e uma dinastia de reis não salomônicos passou a 
governar. O mais célebre desses reis foi Lalibela, que ordenou a construção de várias igrejas 
escavadas na rocha – formava-se um cubo pela extração da rocha ao redor, formando-se um 
fosso. O resultado é um edifício robusto e impressionante, que demonstrava uma elevada 
habilidade arquitetônica.
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FONTE: Disponível em: <http://saiporai.files.wordpress.com/2009/09/277.jpg>. 
Acesso em: 20 maio 2010.
4.2 A CIVILIZAÇÃO SWAHILLI
5 O COMÉRCIO NA ÁFRICA ISLÂMICA
Próximo dali, na costa oriental africana (a região conhecida como Chifre da África, 
na Somália, e as regiões dos atuais Quênia e Tanzânia), os árabes também serviam como 
intermediários do comércio de ouro e escravos vindos das bacias do Limpopo e do Zambeze. 
Por volta do ano 1000, instalaram-se nas ilhas litorâneas, especialmente em Quíloa. O tipo 
de comércio que realizavam não levou sua influência direta para o interior do continente. No 
entanto, no litoral, começou a surgir uma cultura híbrida, composta por uma população mestiça 
que se intitulava xiraze e que falava um idioma de origem banta com grande influência árabe: 
o swahilli (ou suaíle).
No Tópico 3 desta unidade, estudamos sobre as relações comerciais em África, 
percebemos a importante relação de comércio com os árabes e a presença islâmica neste 
continente. Vimos que, o período que corresponde aos séculos XII a XVI significaram, para a 
África, um período generalizado de progresso econômico. A presença do Islamismo, em grande 
parte do continente, como vimos, permitiu um grande desenvolvimento, não apenas econômico, 
mas também nos planos político e cultural. Sob a influência muçulmana, surgiram novos e 
poderosos reinos, um intercâmbio cultural muito intenso e um maciço aumento populacional. 
A África aparecia, nesse período, como uma gigantesca e próspera fronteira econômica – 
situação que seria completamente quebrada a partir do século XVI, com a presença europeia.
As principais rotas comerciais da África pré-colonialista eram as percorridas pelas 
FIGURA 26 – A IGREJA DE SÃO JORGE, EM LALIBELA (ETIÓPIA)
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caravanas cameleiras através do deserto (no Tópico 3, apresentamos um mapa das rotas 
comerciais transaarianas). A principal dessas rotas, mencionada por Al Yakubi no Kitab al 
Boudan (o Livro dos Países), ligava Sijilmassa, no Marrocos, a Walata e Timbuktu, no Sahel. 
Essa rota acabou prevalecendo sobre as rotas para Awdaghost, que eram utilizadas durante o 
apogeu de Gana. A razão principal dessa mudança – que certamente ajudou o reino do Mali a 
consolidar seu domínio sobre o Sudão ocidental – era a exploração das minas de sal-gema de 
Teghazza, comprado a peso de ouro. Com o tempo, as necessidades das caravanas levaram 
as rotas mais para oeste. Assim, Wargla tomou o posto de Sijilmassa como principal destino 
caravaneiro.
Outro produto importante era o cobre, extraído do Wadai e do Darfur e amplamente 
comercializado no Kanem-Bornu – juntamente, é claro, com escravos. Este produto, aliás, era 
praticamente a única constante no comércio caravaneiro; acompanhava tanto os carregamentos 
de peles, marfim, goma, pimenta e noz-de-cola vindos do Sahel Ocidental quanto as cargas 
de sal, ferro, cobre, tecido etc., vindas do Magrebe e do Leste. 
Para compreendermos um pouco mais sobre a relação do Islão e o tráfico de escravos 
em África, vamos ler com muita atenção o texto do historiador Paul E. Lovejoy, em que o 
autor sinaliza que a escravidão islâmica ocorridas nos séculos VIII, IX e X traziam consigo 
a cultura de escravizar sociedades de parentesco. As guerras santas que expandiam o Islã 
aprisionavam escravos, e justificavam o ato como base na religião. O uso dado aos escravos 
eram os seguintes: nos serviço militar, administrativo e doméstico. Em algumas sociedades 
islâmicas, os escravos também executavam tarefas que eram mais diretamente relacionadas 
com a produção e o comércio. Na tradição islâmica, a escravidão era vista como um meio de 
converter os não mulçumanos. Esses diferentes usos dos escravos, a distinção mais clara entre 
escravos e livres e o emprego ocasional de cativos nas atividades produtivas demonstram uma 
diferença nítida entre a escravidão nas sociedades baseadas no parentesco e a escravidão 
da lei e da tradição islâmicas.
Se a relação da escravidão do africano no mundo islâmico atendia a um propósito que 
não tinha como eixo condutor a obtenção de lucros e nem a exploração da mão de obra. No 
mundo Atlântico, o comércio de escravos não atenderá a mesma lógica. Na próxima unidade, 
estudaremos o tráfico de africanos e o mundo Atlântico. Indicamos o filme Amistad como 
atividade. A indicação deste filme se justifica pela necessidade de buscarmos visualizar alguns 
elementos presentes na estrutura do tráfico entre a África e a América como: a captura de 
africanos, o transporte, a viagem pelo Atlântico,entre outros.
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AS!
AMISTAD (AMISTAD, EUA, 1997)
DIREÇÃO: STEVEN SPIELBERG
O filme é baseado em uma história real ocorrida em 1839. Nessa 
data, os escravos que eram transportados da África se rebelam e 
assumem o comando do navio. Entretanto, como desconheciam 
os mecanismos de navegação, numa frustrada tentativa de voltar
FONTE: Disponível em: <http://faceaovento.files.wordpress.com/2009/11/
amistad-jpeg.jpg>. Acesso em: 20 maio 2010.
LEITURA COMPLEMENTAR
O FATOR ISLÂMICO
A existência de escravos em sociedades que enfatizavam o parentesco e a dependência 
pessoal permitia a sua integração numa vasta rede de escravidão internacional. Essa integração 
provavelmente já se difundia no passado, mas apenas para aquelas áreas mais perto da bacia 
do Mediterrâneo, do golfo Pérsico e do oceano Índico. Nos séculos VIII, IX e X, o mundo islâmico 
tinha se tornado o herdeiro dessa longa tradição de escravidão, continuando o padrão de 
incorporar escravos negros da África às sociedades ao norte do Saara e ao longo das costas 
do oceano Índico. Os Estados muçulmanos desse período interpretavam a antiga tradição 
escravista de acordo com a sua nova religião, mas muito dos usos dados aos escravos eram 
os mesmos de anteriormente – eles eram utilizados nos serviços militares, administrativos 
e domésticos. As designações, os tratamentos das concubinas e outras características da 
escravidão foram modificados, mas a função dos cativos na política e na sociedade era em 
grande parte a mesma. Apesar da antiga tradição, a principal preocupação aqui é com a 
consolidação da escravidão no seu contexto islâmico, pois durante mais de setecentos anos 
antes de 1450, o mundo islâmico era praticamente o único eixo de influência externa na 
economia da África.
FIGURA 27 – CAPA DO 
FILME AMISTAD
ao seu país de origem, acabam sendo 
capturados por um navio americano na 
costa dos Estados Unidos.
Talvez o que mais chame a atenção 
no filme seja a forma brutal em que 
os negros eram tratados durante o 
transporte transatlântico. Os escravos 
eram mantidos sob péssimas condições. 
Recebiam pouca comida e água, sofriam 
estupros, e eram mantidos acorrentados 
em espaços muito pequenos. Além 
disso, muitos contraiam doenças que, 
naquelas condições, eram fatais. Poucos 
conseguiam sobreviver à viagem.
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Inicialmente os escravos eram prisioneiros capturados nas guerras santas que 
expandiram o Islã da Arábia pelo norte da África e através da região do golfo Pérsico. A 
escravização era justificada com base na religião, e aqueles que não eram mulçumanos eram 
legalmente passiveis de escravização. Antes que os primeiros califados fossem estabelecidos, os 
escravos vinham em grande parte das áreas de fronteira onde a guerra santa era ainda travada. 
Assim, uma antiga divisão foi estabelecida entre as terras islâmicas centrais e a fronteira, e o 
grau de especialização passou a definir este sistema de escravidão. As províncias islâmicas 
centrais constituíam o mercado para os escravos; o abastecimento vinha das regiões de fronteira. 
Os cativos não eram necessariamente negros, embora os negros sempre constituíssem 
uma porção significativa da população escrava. Eles também vinham da Europa Ocidental e 
das estepes do sul da Rússia. Eram muitas vezes prisioneiros de guerra, não muçulmanos que 
tinham resistido à expansão do islamismo. A escravidão era concebida como uma espécie de 
aprendizagem religiosa para os pagãos. Anteriormente, aos judeus e cristãos residentes era 
concebido um status especial de “pessoas do livro”, sendo reconhecidos como homens livres 
sujeitos a taxas e limitações especiais sobre as liberdades civis, mas livres de escravização. 
Alguns cristãos eram escravizados durante as guerras, principalmente na Europa Ocidental, 
mas a maioria dos escravos vinha de outros lugares.
A natureza da demanda por escravos revela alguns aspectos importantes do comércio. 
As mulheres e crianças eram preferidas em maior número que os homens. Tinham também 
mais probabilidade de serem incorporadas à sociedade mulçumana. Os meninos, fossem 
eles eunucos ou não, eram treinados para o serviço militar ou doméstico, e alguns dos mais 
promissores eram promovidos. As mulheres também se tornavam domésticas e as consideradas 
mais belas eram colocadas em haréns, um fator que influenciava fortemente os preços de 
escravos. Os homens adultos e a mulheres menos atraentes eram destinados às tarefas mais 
baixas e trabalhosas, e sua população tinha que ser constantemente reabastecida através 
de novas importações. Essa escravidão não era uma instituição autoperpetuadora, e aqueles 
nascidos no cativeiro formavam uma parcela relativamente pequena da população escrava. 
A maioria dos filhos de escravos era assimilada pela sociedade mulçumana, apenas para 
serem substituídos por novas importações. Emancipação, concubinato, servidão doméstica, 
postos políticos e posição militar também dificultavam o estabelecimento de uma classe de 
escravos com uma distinta consciência de classe própria. A raça também era minimizada como 
um fator na manutenção da condição servil. A exigência religiosa de que os novos escravos 
fossem pagãos e a necessidade de importações contínuas para manter a população escrava 
tornou a África negra uma importante fonte de escravos para o mundo islâmico. Como a 
África subsaariana inicialmente estava além das terras islâmicas, os mulçumanos e outros 
comerciantes procuravam por escravos na África. Guerras locais, criminosos condenados, 
sequestros e provavelmente dívidas eram fontes de escravos para os comerciantes visitantes, 
que reuniam os cativos em pequenos grupos para transporte através do mar Vermelho e subindo 
a costa oriental africana, ou se reuniam para formar caravanas para a marcha através do Saara. 
O comércio de exportação foi relativamente modesto antes do século XV e na verdade não 
se expandiu consideravelmente até o século XIX. As exportações chegavam a uns poucos 
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milhares de escravos por ano na maioria das vezes, e como as áreas afetadas eram quase 
sempre muito extensas o impacto local era geralmente minimizado.
Na tradição islâmica, a escravidão era vista como um meio de converter os não 
muçulmanos. Assim, uma das tarefas do senhor era a instrução religiosa, e teoricamente os 
muçulmanos não podiam ser escravizados, embora na prática isso fosse muitas vezes violado. 
A conversão não levava automaticamente à emancipação, mas a assimilação à sociedade 
do senhor, julgada de acordo com a observância à religião, era considerada um pré-requisito 
para a emancipação e normalmente garantia melhor tratamento. Um aspecto da tradição 
religiosa e da tradição legal era que a emancipação, como um ato de libertação dos escravos, 
e de mudança da sua condição, estava claramente definida. Nas sociedades baseadas no 
parentesco, a emancipação era um processo reconhecido pela integração progressiva de 
sucessivas gerações através do casamento, até que as pessoas pertencessem integralmente 
ao grupo. Muitas vezes, não havia ato de emancipação no sentido exato da palavra. Na prática 
islâmica, havia.
As funções desempenhadas pelos escravos eram também diferentes, em parte porque 
as estruturas das sociedades islâmicas eram frequentemente de uma escala maior que entre 
os grupos de parentesco. Nos grandes estados islâmicos da bacia do Mediterrâneo, por 
exemplo, os cativos eram usados no governo e no serviço militar, ocupações que não existiam 
em sociedades sem estado. Oficiais e soldados escravos muitas vezes mostravam-semuito 
leais por causa da dependência pessoal para com o seu senhor. Os eunucos formavam uma 
categoria especial de escravos que não parece ter sido característica da maioria das sociedades 
não muçulmanas baseadas no parentesco. Os eunucos, que podiam ser utilizados em funções 
administrativas e como fiscais dos haréns, eram particularmente dependentes, sem nem mesmo 
a chance de estabelecer interesses que fossem independentes do seu senhor. Sob a influência 
do Islã, a prática se difundiu pela África subsaariana, junto com o emprego de escravos no 
exército e na burocracia.
A visão islâmica das mulheres escravas também era diferente daquela baseada 
no parentesco. A lei islâmica limitava o número de esposas a quatro, embora apenas as 
considerações materiais e os caprichos pessoais limitassem o número de concubinas. Tanto 
em contextos islâmicos quanto em não islâmicos, os homens podiam ter quantas mulheres 
pudessem sustentar, mas a determinação legal era diferente. O costume islâmico enfatizando 
uma linha mais clara entre escravos livres, permitia a emancipação de concubinas que tivessem 
filhos de seu amo. Legalmente, elas tornavam-se livres com a morte de seu senhor, mas não 
podiam ser vendidas uma vez que tivessem filhos. Na prática, também as esposas de origem 
escrava das sociedades baseadas no parentesco raramente eram vendidas, e essa posição 
aumentava a probabilidade de que se tornassem membros do grupo familiar, e, por conseguinte 
livres. Os termos de referência diferiam, mas a prática era bastante similar. 
Em muitas sociedades islâmicas, os escravos também executavam tarefas que eram 
mais diretamente relacionadas com a produção e o comércio. Certamente a escala de atividade 
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econômica nas bacias do Mediterrâneo e o oceano Índico envolvia maior comércio, um nível 
mais alto de desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de exploração mais especializada 
do trabalho escravo do que na maior parte da África negra até a época recente. Na verdade, 
aos escravos frequentemente eram designadas tarefas que não eram diretamente produtivas, 
as quais, pelo contrário, alimentavam uma hierarquia política e social que explorava uma 
população de camponeses livres, artesãos e populações servis não escravas. Embora os 
escravos fossem mais frequentemente utilizados em funções domésticas (incluindo sexuais) 
ou no governo e no serviço militar, ocasionalmente eles eram empregados na produção, como 
nas minas de sal da Arábia, da Pérsia e do norte do Saara. Outros cativos eram utilizados 
nos empreendimentos agrícolas em larga escala e na fabricação artesanal. A frequência e a 
escala desse trabalho, muito embora não fosse a principal relação de produção, eram bastante 
diferentes da utilização de cativos nas economias menos especializadas das sociedades 
africanas baseadas no parentesco.
Esses diferentes usos dos escravos, a distinção mais clara entre escravos e livres 
e o emprego ocasional de cativos nas atividades produtivas demonstram uma diferença 
nítida entre a escravidão das sociedades baseadas no parentesco e a escravidão da lei e da 
tradição islâmicas. A diferença mais importante era que o escravismo nas terras islâmicas 
tinha passado por uma transformação parcial do tipo que Finley identifica como significativa 
na institucionalização da escravidão. Um sistema econômico plenamente baseado no trabalho 
escravo não tinha aparecido na maior parte do mundo islâmico entre 700 e 1400, apesar da 
importância dos cativos administrativos e militares na manutenção da sociedade islâmica. 
Concubinas e escravos domésticos eram comuns e afetavam a natureza do casamento como 
uma instituição e a organização das famílias abastadas. A adaptação de práticas similares na 
África subsaariana igualmente envolveu mudanças.
FONTE: Lovejoy (2002)
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Neste tópico, você estudou que:
•	 O Islamismo exerceu uma profunda influência sobre as populações africanas, tanto ao norte 
como ao sul do Saara.
 
•	 O avanço muçulmano pelo Continente Africano levou à conquista de toda a região do Egito, da 
Tripolitânia (Líbia), Ifriqyia (Tunísia) e Magrebe (Marrocos) nos primeiros anos de existência 
da religião.
•	 Ao sul do Saara, a presença dos comerciantes muçulmanos incentivou a formação de reinos, 
como o de Gana, Mali, Gaô e Kanem-Bornu, que prosperaram com o comércio de ouro, sal, 
noz-de-cola e escravos.
•	 Uma demonstração da riqueza do Mali foi dada por seu rei Mansa Musa I, que, em sua 
peregrinação a Meca, levou uma enorme comitiva e gastou tanto ouro no Cairo que chegou 
a manter desvalorizada a moeda local por vários anos.
•	 A região da Etiópia passou a sofrer com os conflitos entre os cristãos coptas e os 
muçulmanos.
•	 No Chifre da África, a ocupação árabe, a partir do século X, deu origem à cultura e ao idioma 
swahilli.
•	 O uso dado aos escravos eram os seguintes: no serviço militar, administrativo e doméstico.
•	 Os cativos não eram necessariamente negros, embora os negros sempre constituíssem uma 
porção significativa da população escrava.
•	 Assistir ao filme Amistad é fundamental para o estudo da próxima unidade.
RESUMO DO TÓPICO 4
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Exercite seus conhecimentos adquiridos, resolvendo as questões a seguir:
1 Elabore um texto descrevendo as estruturas dos impérios do Mali.
2 Qual é a principal diferença entre os estados hauçás e seus vizinhos do Gaô e do 
Kanem-Bornu?
3 Que papel teve o comércio intercontinental para a África até o século XVI?
4 Observe a história em quadrinhos abaixo. Ela representa um fato histórico do reino 
do Mali. Descreva esse fato indicando as implicações sobre os povos africanos.
AUT
OAT
IVID
ADE �
FONTE: Disponível em: <http://www.omurtlak.com/resim.
php?resim=http%3A//www.chestercomix.com/images/
comics/ancient-africa-2.gif>. Acesso em: 20 maio 2010.
5 Leia o texto “O Fator islâmico” e em seguida elabore um pequeno texto identificando 
a condição do escravo neste período.
FIGURA 28 – A VIAGEM DE MANSA MUSA
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Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da 
Unidade 2, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.
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UNIDADE 3
ESCRAVIDÃO: A ÁFRICA ESCRAVISTA E 
ESCRAVIZADA
OBjETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:
•	 compreender o comércio entre Europa, África e América. Comércio 
este que criou uma comunidade transnacional;
•	 refletir sobre a estrutura do comércio de escravos na África, 
para que se possa compreender as relações de troca que se 
estabeleceram entre africanos e europeus;
•	 refletir sobre as transformações ocorridas a partir do tráfico de 
escravos no continente africano e também no mundo além África;
•	 compreender os mecanismos que retiraram da África milhares de 
pessoas e as inseriram em uma nova realidade social, econômica 
e cultural;
•	 visualizar os números do tráfico atlântico;
•	 compreender a circulação do africano enquanto escravo na 
sociedade brasileira;
•	 compreender que os povos africanos inseridos no mundo atlântico 
não foram somente receptores de elementos culturais foram 
também, transmissores e mantenedores desta cultura;
•	 avaliar as contribuições da cultura africana na construção da 
sociedade e da cultura no Brasil.
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada 
um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e a 
fixar os conhecimentosabordados.
TÓPICO 1 – O ESCRAVO NA ÁFRICA
TÓPICO 2 – A RELAÇÃO DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS ENTRE 
EUROPEUS E AFRICANOS
TÓPICO 3 – TRANSFORMAÇÕES NAS SOCIEDADES AFRICANAS 
DECORRENTES DO COMÉRCIO ATLÂNTICO
TÓPICO 4 – A DIÁSPORA AFRICANA
TÓPICO 5 – OS AFRICANOS NO BRASIL
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A escravidão é uma ação praticada desde a antiguidade clássica até a época recente, 
tornando-se um importante fenômeno da história. Segundo Lovejoy (2002), a África esteve 
intimamente ligada a esta história, tanto como fonte principal de escravos para as antigas 
civilizações, o mundo Islâmico, a Índia e as Américas, quanto como uma das regiões onde a 
escravidão era comum. De maneira geral, a escravidão se expandiu e se tornou o eixo central 
da economia africana. De acordo com o mesmo autor, a expansão escravista ocorreu em 
dois níveis ligados ao comércio exterior. Em primeiro lugar, a escravidão ocupou uma área 
geográfica cada vez maior, difundindo-se para fora daquelas regiões diretamente envolvidas 
com comércio exterior de cativos. Em segundo lugar, o papel dos escravos na economia e na 
sociedade tornou-se crescentemente importante o que resultou em transformações da ordem 
social, econômica e política. 
Não que a escravidão não existisse na África antes da chegada dos europeus, pelo 
contrário. Nas unidades anteriores sinalizamos que a estrutura escravista já era prática 
pertinente às diversas sociedades africanas. Existem registros de escravidão em alguns reinos 
africanos ao sul do Saara, bem como nas regiões do norte do continente que faziam parte do 
mundo islâmico. Mas essa escravidão era de um tipo completamente diferente da que veio a 
se instalar dali por diante. Não é possível comparar os dois sistemas em termos de quantidade 
de cativos, natureza das atividades que desempenhavam e crueldade de tratamento que 
recebiam. Tampouco se podem igualar as consequências que trouxeram, falando demográfica 
e sociologicamente. A escravidão moderna, promovida pelos europeus, causou danos muito 
mais severos ao continente – dos quais a África até hoje não se recuperou adequadamente.
No entanto, a crise do Continente Africano não pode ser atribuída exclusivamente aos 
europeus. Os próprios africanos se tornaram parte integrante do comércio de escravos que 
se tornou cada vez mais lucrativo. Também alguns reinos muçulmanos, até então satisfeitos 
com um papel de intermediários comerciais, lançaram-se em campanhas de conquista que 
O ESCRAVO NA ÁFRICA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
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desarticularam antigos reinos ao sul do Saara. Embora isso não justifique nem diminua o impacto 
nefasto da presença europeia (antes pelo contrário, no caso dos reinos africanos fornecedores 
de escravos), é uma ressalva importante a ser feita, a fim de evitar que se caia no maniqueísmo 
de se atribuir todos os males da África exclusivamente aos europeus, embora seja deles grande 
parte da responsabilidade.
Desta forma, esta unidade tratará do processo de escravidão buscando compreender o 
comércio entre Europa, África e América. Comércio este que criou uma comunidade transnacional 
que integrou os territórios dos dois lados do oceano Atlântico. Observe o mapa a seguir, ele 
indica a relação de um mundo sem fronteiras, unido pela mercantilização de humanos.
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_lOSe7CxJx6Q/SXk3YGdqqBI/
AAAAAAAAAfo/wGQD1RbW4dI/s400/Mapa+Escravos.jpg>. Acesso em: 
23 maio 2010.
2 O CONCEITO DE ESCRAVIDÃO E ESCRAVISMO
Antes de iniciarmos nossos estudos, vamos pensar sobre o que significa de fato, 
escravidão e escravismo. Aparentemente, não há grande dificuldade em compreendermos o 
primeiro termo (escravidão), pois ele parece se referir a uma situação em que seres humanos 
são tratados como mercadoria, como seres destituídos de autonomia e mesmo de vontade, 
livremente comprados e vendidos, e não tem qualquer direito reconhecido. No entanto, a 
realidade não é tão simples assim.
Grande parte das sociedades humanas, ao longo da história, estabeleceu relações 
FIGURA 29 – AS ROTAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AFRICANOS PARA AS 
AMÉRICAS
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2.1 A SEMÂNTICA E A ESCRAVIDÃO
entre seus membros que podem ser descritas como escravistas. Mas, justamente por isso, 
podemos imaginar que esse conceito tem servido a relações de dominação bastante diferentes 
entre si. Essa noção se torna fundamental quando estudamos a história da África, pois sem 
ela não podemos colocar no contexto correto uma afirmação que se costuma repetir sobre 
esse continente: havia escravidão na África desde antes da presença europeia, possivelmente 
desde tempos imemoriais. Essa frase, tomada em um contexto inadequado, traz muito mais 
danos do que benefícios, pois poderia servir para uma justificativa da escravidão europeia: já 
havia escravos por lá, os europeus não teriam feito nada de muito diferente do que já existia.
Várias definições foram propostas para saber o que é ou não um escravo. No geral se 
aceita que uma pessoa destituída de seus direitos sociais, afastada de seu grupo de origem, 
obrigada a cumprir tarefas determinadas pelo seu senhor (quase sempre desagradáveis e 
penosas), passível de ser fisicamente castigada e, principalmente, vendida, é um escravo. 
Nessa perspectiva, um cativo só se torna escravo quando era comprado. (SOUZA, 2007).
Já o escravismo é um conceito bem mais preciso. Refere-se a sociedades fundadas na 
utilização do trabalho escravo, dentre as quais as antigas colônias americanas são o exemplo 
mais bem-acabado. A apropriação do trabalho de outrem no interior de uma sociedade não 
faz com que ela seja definida como escravista, sendo necessário para isto que esta forma de 
exploração seja central para a economia em questão, como ocorreu no Brasil até o final do 
século XIX. O continente africano não conheceu o escravismo, talvez com exceção apenas de 
algumas economias monocultoras do século XIX, voltadas para a exportação de mercadorias 
como óleo de palmeira (dendê), amendoim, café, algodão e cravo. Salvo esses poucos 
exemplos, decorrentes da atuação de comerciantes europeus em algumas regiões, ou de 
sociedades da Antiguidade, como o Egito, o trabalho escravo não foi o motor das sociedades 
africanas (SOUZA, 2007). Assim, o sentido da escravidão nas Américas constitui-se em um 
processo dessemelhante em número e uso em relação ao escravo em África.
O antropólogo francês Meillassoux (1995) estudou a fundo os significados da escravidão, 
especialmente na África, em seu clássico “Antropologia da escravidão: o ventre de ferro e 
dinheiro”, leitura obrigatória para os que desejam entender esse fenômeno. O autor apresenta 
os diferentes significados da escravidão e coloca no contexto correto a escravidão africana 
pré-moderna (ou pré-islâmica) com relação a outros tipos de escravidão.
Meillassoux (1995) parte do conceito ocidental de escravidão, para demonstrar o quanto 
ele é limitado e contraditório. Para ele, duas categorias no pensamento ocidental são utilizadas 
para definir escravidão: o direito e a semântica. Em outras palavras, a escravidão se tornou, na 
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cultura ocidental, um conceito e uma forma de exploração prevista em lei. O grande erro que se 
costuma cometer é aplicar esse conceito, da forma como ele é entendido pela cultura ocidental, 
as formas de exploração existentes em outras culturas, utilizando-o indiscriminadamente para 
descrevê-las. Segundo ele:
Nas sociedades africanas, como nas sociedadesantigas (Vidal-Naquet, 
1965-1967), os termos traduzidos como “escravo” também podem se aplicar 
a categorias mais extensas, às vezes a todos aqueles que estão ou estiveram 
em uma relação qualquer de sujeição leiga ou religiosa com um parente mais 
velho, um soberano, um protetor, um líder etc. Geralmente, esses termos sig-
nificam subjugado, submetido, dependente, servo, algumas vezes discípulo. 
Em contrapartida, a maioria das sociedades escravagistas possui vocabulário 
extenso, recobrindo diversas condições de sujeição que não têm mais equi-
valentes em nossas línguas e que traduzem uniformemente como “escravo”. 
(MEILLASSOUX, 1995, p. 9).
O problema está no termo escravidão, presente nos idiomas ocidentais, que é abrangente 
demais para descrever tantas relações distintas e complexas, sobretudo quando não havia, de 
fato, um interesse em compreender cada sociedade dentro de suas próprias especificidades 
culturais. Com isso, criou-se um conceito pouco útil, que serve mais para encobrir do que para 
revelar e pior, dotado de uma forte carga ideológica negativa.
2.2 O DIREITO E A ESCRAVIDÃO
Mesmo em relação ao direito a confusão existe. A noção que se tem comumente de 
escravo, como objeto de direito, é de uma mercadoria, que pode ser comprada e vendida 
livremente, a cargo de seu proprietário, um objeto. No entanto, Meillassoux (1995), argumenta 
que isso nunca aconteceu. Todas as atividades que os escravos executam, por mais simples 
que sejam, sempre fazem referência à sua humanidade e pressupõem inteligência. Até 
porque, do contrário, seria mesmo impossível conseguir sua obediência. Ou seja, o escravo-
objeto é uma ficção ideológica, que se transformou em uma ficção jurídica quando teve que 
ser colocado em lei.
Por outro lado, também é um equívoco comum definir-se a escravidão simplesmente 
a partir da subordinação a um senhor. Os escravos não são os únicos subjugados – também 
as mulheres, os filhos, os agregados e outros estão, em diversas sociedades, submetidos ao 
poder absoluto do chefe da família e, portanto, podem ser até mesmo espancados e mortos por 
ele. Em contrapartida, muitos escravos gozam de privilégios, acumulam poder e propriedades, 
são letrados e chegam a ter, eles próprios, seus escravos.
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2.3 PARENTES E ESTRANHOS
3 TORNAR-SE ESCRAVO NA ÁFRICA
O que faria, então, de alguém um escravo, na África Ocidental? Como foi a escravidão 
antiga, aquela que “já existia” quando os europeus chegaram? Meillassoux (1995) aponta que 
as sociedades tradicionais, baseadas na agricultura e na unidade dos clãs, tratavam a todos 
os seus membros – que eram ligados por laços de parentesco – como iguais. Isso acontecia 
porque cada membro era um ativo produtor de alimentos e contribuiria para reproduzir a própria 
sociedade e era nisso que consistia sua vinculação com a comunidade. Mas as comunidades 
não poderiam ser muito fechadas, para se evitar a endogamia. Assim, era sempre necessário 
recrutar estrangeiros, que pudessem contribuir para reconstruir seus contingentes. Aqui, no 
entanto, há uma diferença entre o papel que uma mulher e um homem podem desempenhar: 
cada mulher aumenta muito o potencial de reprodução da sociedade, o que não acontece com 
um homem. Se, portanto, não é como reprodutor que o homem tem sua principal utilidade 
– a menos que seja adotado por algum membro da comunidade –, ele deverá se tornar um 
produtor. Como ele não possui vinculação com nenhuma família, torna-se privado de direitos, 
e seu trabalho será apropriado por toda a comunidade. Ele é, em tese, um escravo, ou seja, 
incapaz de ser parente.
Porém, as sociedades escravistas não passam a existir com um escravo ou dois. 
Isso só ocorre quando há um contingente tão grande deles, renovável de forma contínua 
e institucional, a ponto de o seu trabalho permitir liberar toda uma classe de membros da 
comunidade. Essa classe passaria, então, a dedicar-se à exploração do trabalho dos escravos e 
à sua reprodução – geralmente por meio de guerras periódicas ou a compra regular (exemplos 
são, respectivamente, as escravidões romanas e árabes). Claro que isso está fora do alcance 
de sociedades de economia de subsistência. É apenas em economias integradas ao mundo 
exterior que isso se torna possível. (MEILLASSOUX, 1995).
A forma mais simples de conseguir escravos eram as guerras, com os prisioneiros sendo 
postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores. Todavia, um homem podia se tornar 
escravo caso perdesse seus direitos de membro da sociedade. Geralmente, esses direitos 
eram perdidos devido às seguintes situações: impossibilidade de pagar dívidas, condenação 
por transgressão e crimes cometidos ou mesmo incapacidade de manter-se. Na África, era 
comum, famílias se entregarem como escravas a quem pudesse salvá-las, isto ocorria devido 
à falta de alimentos para a sobrevivência. Neste último caso, a escravização era compreendida 
como voluntária. 
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Vamos analisar algumas das formas de ser (tornar-se) escravo na África a partir da 
perspectiva de Paul Lovejoy.
3.1 A GUERRA
3.2 PROCEDIMENTOS JUDICIAIS
A escravidão quase sempre tinha início por meio de violência, que reduzia a posição 
de uma pessoa de uma condição de liberdade para uma condição de escravo. O tipo mais 
comum de violência era a guerra, na qual os prisioneiros eram escravizados. Variações na 
organização de tal violência – incluindo ataques cujo objetivo era adquirir escravos, banditismo 
e sequestro – indicam que a escravização violenta pode ser vista como inserida em uma 
sucessão contínua da ação política em larga escala, em que a escravização pode ser apenas 
um subproduto da guerra e não a sua causa, ou como uma atividade criminal em pequena 
escala, em que escravizar é o único objetivo da ação. Tomados em conjunto, as guerras, os 
ataques em busca de escravos e o sequestro foram responsáveis pela maior parte de novos 
escravos na história. Mesmo quando o objetivo da guerra não era a captura de escravos, a 
ligação entre guerra e escravidão era muito estreita. (LOVEJOY, 2002).
FONTE: Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra4/africa.html>. Acesso em: 
23 maio 2010.
Na história dos povos africanos, algumas fontes apontam para o fato de que procedimentos 
judiciais foram responsáveis por alguns episódios de escravização. A escravidão era entendida 
como uma forma de punição principalmente para crimes como assassinato, roubo, adultério e 
FIGURA 30 – CAPTURA DE NEGROS DESTINADOS À ESCRAVIDÃO, 
NA REGIÃO DO CONGO
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3.3 A ESCRAVIZAÇÃO VOLUNTÁRIA
4 OS USOS DO ESCRAVO NA ÁFRICA
bruxaria. Os métodos pelos quais os criminosos suspeitos eram escravizados variavam bastante, 
e muitas vezes eles eram vendidos para fora de suas próprias comunidades. Não obstante, essa 
forma de escravização estava mais uma vez fundamentada na violência, apesar de legitima aos 
olhos da sociedade em questão. A posição social de uma pessoa era radicalmente reduzida: o 
novo escravo podia perder sua qualidade de membro da comunidade, e a sua punição podia 
confirmar um status que era transmitido aos seus descendentes. (LOVEJOY, 2002).
Essa prática entre os povos africanos era recorrente quando a ameaça de morrer 
de fome não deixava à pessoa nenhum outro recurso. Todavia, esse não era um caso de 
violência consciente por parte da sociedade ou de um inimigo. Podia haver causas estruturais 
que colocavam pessoas em situações nas quais elas não podiam ter assegurada a sua 
sobrevivência e achavam necessário escravizar a si mesmas. Essa dimensão estruturalpodia 
trazer com ela uma dimensão que era em última análise de exploração e violência. No entanto, 
a escravização voluntária não era comum, e provavelmente foi responsável por apenas uma 
pequena percentagem dos escravos na maioria dos lugares. Além disso, a possibilidade de 
escravização voluntária dependia da existência de uma instituição escravista na qual a violência 
era fundamental, se não existisse tal instituição, uma pessoa não poderia tornar-se um escravo, 
mas um cliente ou algum outro tipo de dependente. O fato de que a posição de escravo pudesse 
ser atribuída em tais circunstâncias indica que outras posições servis não eram adequadas, 
seja porque fossem raras ou porque sua definição excluía tais casos. (LOVEJOY, 2002).
Na África, o escravo era a única forma de propriedade privada reconhecida por lei. 
Como a terra abundava e era um bem coletivo, o fator escasso na produção de bens era a 
mão de obra. Os africanos usavam escravos, sobretudo, na agricultura, e como esse trabalho 
era realizado por mulheres, a maioria dos escravos nas sociedades africanas era do sexo 
feminino. Uma vez que um homem podia se casar com várias mulheres, muitas escravas eram 
incorporadas à família dos seus senhores, aumentando assim o poder da linhagem deles na 
comunidade local. Os africanos também escravizavam crianças, pois elas poderiam assimilar 
facilmente os valores culturais do grupo dominante. (SILVA, 2002).
Os escravos eram ainda usados em funções tais como: tarefas domésticas, serviços 
burocráticos e até militares, chegando a ocupar cargos que iam de simples soldados até 
comandantes.
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O cativo devia lealdade somente a seu amo. Essa prática permitiu aos escravizados 
ocuparem importantes postos junto à vida política de alguns estados africanos, pois à medida 
que os soberanos viam seu poder limitado por oficiais rivais, eles logo os substituíam por cativos. 
Um exemplo desse uso de escravos na administração política ocorreu entre os anos de 1754 a 
1774, quando os governantes do Império Oió, no interior da Nigéria, vincularam muitos escravos 
à administração dos territórios que ligavam o império à costa africana.
Para compreendermos a circulação de escravos e as atividades desenvolvidas por estes 
em diversas sociedades africanas, vamos ler com muita atenção o texto a seguir: 
A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA
Se considerarmos a escravidão como: situação na qual a pessoa não pode transitar 
livremente nem pode escolher o que vai fazer, tendo, pelo contrário, fazer o que manda seu 
senhor; situação na qual a pessoa pode ser castigada fisicamente e vendida caso seu senhor 
assim ache necessário; situação na qual o escravo não é visto como membro completo da 
sociedade em que vive, mas como inferior e sem direitos, então a escravidão existiu em 
muitas sociedades africanas bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo 
oceano Atlântico.
Nas sociedades organizadas em torno dos chefes de linhagens, em aldeias ou 
federações de aldeias, podiam viver estrangeiros, capturados em guerras ou trocados por 
produtos como sal e cobre que eram subordinados a um senhor e podiam ser chamados 
de escravos. Eles podiam ser castigados ou vendidos e tinham de fazer o que seu senhor 
determinasse. Dava-se preferência a mulheres, que cultivavam a terra, preparavam os 
alimentos e tinham filhos. Os filhos das escravas com homens livres da família do seu senhor 
ou com ele mesmo geralmente não eram escravos. A princípio não tinham os mesmos direitos 
dos filhos de mulheres livres, trazendo a marca da escravidão, mas a cada geração esta ia 
diminuindo, até desaparecer. Ter escravas que aumentassem a capacidade de trabalho e 
de reprodução da família era uma forma de uma linhagem se fortalecer diante das outras.
Nos reinos que reuniam várias aldeias e federações de aldeias e nos quais o rei vivia 
numa capital, cercado de sua corte, de suas mulheres e de seus soldados, era a maior e mais 
frequente a presença de escravos. As guerras de expansão ou para sufocar rebeliões eram 
a principal maneira de adquiri-los, mas estes podiam ainda ser comprados ou condenados 
a pagar com a perda da liberdade o desrespeito às regras locais. As mulheres, além dos 
trabalhos rurais e domésticos, também eram recrutadas para aumentar o harém do rei; os 
homens, além de trabalhar no campo, engrossavam os exércitos e faziam parte das caravanas 
como carregadores ou remadores.
Entre os acãs os escravos eram encarregados de minerar o ouro, e entre os tuaregues 
eram encarregados de minera sal. Em algumas sociedades, como a dos tuaregues, havia 
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castas de escravos, que viviam à parte, embora o mais comum era que se integrassem 
gradualmente à descendência da família de seu senhor. Alguns poucos podiam se destacar 
pelos trabalhos prestados, sendo, por exemplo, condutores de caravanas ou chefes militares, 
podiam se tornar poderosos, conquistar privilégios, acumular riquezas e mesmo possuir 
escravos, sem, no entanto deixarem de serem considerados escravos.
Essa situação era mais comum nas sociedades islamizadas, nas quais a escravidão 
se assemelhava à que existia no mundo árabe. Nos reinos do Sudão ocidental e nas cidades-
estado do Sael, governados por elites muçulmanas, os escravos trabalhavam em vastas 
plantações de grãos, pertencentes aos grandes chefes e aos reis, carregavam cargas, 
conduziam camelos e canoas, faziam parte dos exércitos, mas também podiam estar próximos 
aos centros de poder, como conselheiros dos reis, como comandantes de exércitos, como 
eunucos que tomavam conta dos haréns, formados em grande parte por escravas. Os filhos 
desta com os homens da família de seus senhores eram livres, elas também eram libertadas 
depois de darem filhos. Aliás, não era raro o senhor libertar seus escravos, principalmente 
se estes lhe prestassem bons serviços.
Havia, assim, uma hierarquia dentro da condição de escravo que ia desde o mais 
desprezado, como aquele que fazia os serviços desagradáveis e extenuantes como trabalhar 
no campo e carregar cargas, até o que ocupava postos de responsabilidade e era admirado 
pelos seus talentos. O que fazia deste último um escravo, apesar de seu prestígio, era o fato 
de, por ser estrangeiro, não ter laços de parentesco ou solidariedade na sociedade em que 
vivia, na qual era reconhecido como membro na qualidade de subordinado a um senhor. Não 
fossem a proteção deste e as oportunidades dadas por ele, o escravo não seria ninguém; 
por isso mantinha-se fiel a ele. Se o traísse e escapasse com vida, seria reduzido ao último 
nível da escala social.
A escravidão estava mais presente nas capitais dos reinos, nas cidades-estado 
e nos grandes centros de comércio, onde havia maior circulação de riquezas, maiores 
possibilidades de acumulação de bens e diferenças mais marcadas entre os grupos sociais. 
Além de os escravos serem integrados nessas sociedades, também eram uma mercadoria 
importante nas rotas do Saara. Parte dos cativos, obtidos geralmente por meio de guerras ou 
ataques a aldeias desprotegidas, era negociada com os comerciantes que os levariam para 
o norte da África. Os que não ficavam trabalhando ali podiam ser mandados para o outro 
lado do Mediterrâneo, mas iam principalmente para a península Arábica, sendo preferidas 
as mulheres. As escravas belas e jovens podiam alcançar preços bastante elevados, pagos 
pelos que as desejavam ter entre suas esposas e podiam arcar com o seu preço.
Além de serem comerciados entre as sociedades africanas não islamizadas e nas 
rotas do Sael e do Saara, esta sim islamizadas, os escravos estavam entre as mercadoriasexportadas para a península Arábica pelos portos da costa oriental, pelos quais podiam 
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também ser levados para a Pérsia e a Índia, junto com mercadorias de luxo, como marfim, 
ouro, peles e essências naturais. Assim, quando os primeiros europeus chegaram à costa 
atlântica africana, e entre outras coisas se interessaram por escravos, abriu-se mais uma 
frente do comércio de gente, mas este já era velho conhecido de muitos povos africanos.
FONTE: Souza (2007, p. 47-49)
5 A ESCRAVIDÃO PRÉ-MODERNA
5.1 A ESCRAVIDÃO E O ISLAMISMO
Ao contrário do que imagina o senso comum, escravidão não foi um fenômeno restrito 
à Idade Antiga e ao período moderno. A Idade Média também foi época de uma acentuada 
atividade de escravização de pessoas, em diversas partes do mundo. Não era comum, portanto, 
apenas entre os muçulmanos. Ao contrário, mesmo a Europa abrigava escravos nesse período.
A base da escravidão medieval eram as guerras justas, ou guerras santas. Era permitido 
aos cristãos escravizar muçulmanos e vice-versa. Ambos podiam escravizar livremente os povos 
pagãos e o fizeram com muita frequência. A própria palavra escravo se origina de sklavinoi, 
termo grego para eslavo, pois era esse povo que ocupava as regiões planas do norte da Europa 
que os cristãos (e também muçulmanos) retiravam a maior parte dos cativos. Os árabes, além 
de buscarem os eslavos (denominados saqaliba, da mesma raiz grega de escravo, e com o 
mesmo significado), tinham à disposição os cristãos capturados pelas incursões de piratas no 
Mar Mediterrâneo e os africanos trazidos do sul do Saara pelas caravanas.
Os escravos destinados aos árabes, geralmente, eram recrutados para servirem aos 
muçulmanos mais ricos, realizando quaisquer tipos de atividades. Os homens muitas vezes 
eram castrados (eunucos) para servirem como camareiros, guardas do harém, soldados e 
trabalhadores em geral. As mulheres costumavam se tornar concubinas ou serviçais do palácio. 
A posse de escravos, no mundo muçulmano, era principalmente um luxo, que demonstrava o 
status social de seu proprietário. O escravo era, portanto, sobretudo um bem de consumo, muito 
diferente de sua função na América, que era, sobretudo, ferramenta de trabalho. Uma prova 
disso era a elevada proporção de mulheres em relação a homens: enquanto na escravidão 
americana os homens costumavam ser muito mais numerosos (duas, cinco ou até quinze 
vezes). Na escravidão árabe a proporção era inversa.
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Eunuco é o escravo castrado, que alcançava altos preços nos 
mercados muçulmanos. Valiosos como guardiões dos haréns dos 
sultões, governantes das cidades islâmicas, muitas vezes também 
eram conselheiros muito próximos dos chefes, que acreditavam na 
sua fidelidade excepcional. A maioria dos eunucos vinha do Sudão 
central, havendo povos que dominavam conhecimentos especiais 
relativos à técnica de castração que minimizavam a porcentagem 
de mortos em decorrência da mutilação. (SOUZA, 2007).
LEITURA COMPLEMENTAR
O TRÁFICO DE ESCRAVOS EM MOÇAMBIQUE
Marina de Mello Souza
Antes da circum-navegação do continente africano pelos portugueses, cidades-estado 
da costa oriental eram bases avançadas de comerciantes árabes, persas e indianos, que lá 
iam buscar cascos de tartaruga, chifres de rinoceronte, madeira, peles, âmbar, cobre, ferro, 
escravos, ouro e marfim. A chegada dos portugueses, no início do século XVI, modificou essa 
situação, pois eles não só construíram fortalezas na costa como entraram no continente, 
onde teceram laços com as sociedades locais, casaram com as filhas dos chefes, dos seus 
parceiros comerciais, dos que lhes deixavam se instalar no território que controlavam. Ponto 
de apoio para as expedições que iam para a Índia, as fortalezas não eram a única marca da 
presença portuguesa nessa costa. No interior, os portugueses e seus descendentes iam se 
africanizando cada vez mais e serviam de elo entre as sociedades locais e os interesses da 
Coroa e dos comerciantes, ao mesmo tempo em que defendiam seus próprios interesses, nem 
sempre coincidentes com os da política lusitana.
Os afro-potugueses que se instalaram na Zambézia usavam escravos nos exércitos, 
nos trabalhos agrícolas e domésticos, mas o seu comércio nos portos do litoral só se tornou 
significativo a partir do fim do século XVIII. Se até o século XIX tinham sido poucos os africanos 
da África oriental traficados no Brasil, na fase final do comércio de pessoas eles foram muitos. 
Em 1830 eram embarcados cerca de 30 mil escravos por ano naqueles portos.
O aumento da vigilância britânica sobre os navios negreiros que navegavam pelo golfo 
do Benin e a crescente procura por escravos por parte de algumas economias americanas 
coincidiu ainda com fatores internos ao continente africano que facilitaram a captura de pessoas 
para serem vendidas como escravos. No início do século XIX, grandes secas, seguidas de 
invasões de gafanhotos, afetaram por décadas a economia de povos que habitavam ao sul do 
rio Limpopo, fundada na agricultura e no pastoreio, atividades que foram praticamente extintas 
pelas catástrofes naturais. Nesse quadro, o banditismo ganhou força, com grupos armados 
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atacando os mais fracos, que eram saqueados e escravizados; houve uma intensificação das 
migrações e dos conflitos, com diferentes grupos disputando as terras menos áridas; houve 
uma proliferação dos senhores da guerra, à frente de exércitos que podiam proteger os fracos 
que se juntassem a eles, ou saquear os que lhes resistissem.
As antigas chefaturas xonas, tongas, carangas e maraves, que habitavam os férteis 
planaltos do interior do Zambeze, a região das grandes zimbabués e do antigo reino do 
Monomotapa, tiveram de ceder espaço aos angúnis que partiram do sul em direção ao norte 
fugindo das secas e dos gafanhotos, promovendo guerras, ocupando novos territórios e 
capturando pessoas que muitas vezes acabavam vendidas como escravas para o tráfico dirigido 
tanto para a América como para as colônias francesas do Índico, as plantações de cravo em 
Zanzibar, e outras zonas de influência mulçumana.
FONTE: Souza (2007)
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Neste tópico, você estudou que:
•	 Existem registros de escravidão em alguns reinos africanos ao sul do Saara, bem como nas 
regiões do norte do continente que faziam parte do mundo islâmico.
•	 Escravidão, diz respeito a uma situação em que seres humanos são tratados como mercadoria, 
como seres destituídos de autonomia e mesmo de vontade, livremente comprados e vendidos 
e que não têm qualquer direito reconhecido. 
•	 Escravismo é um conceito que se refere a sociedades fundadas na utilização do trabalho 
escravo, dentre as quais as antigas colônias americanas são o exemplo mais bem-acabado. 
•	 A forma mais simples de conseguir escravos eram as guerras, com os prisioneiros sendo 
postos a trabalhar ou sendo vendidos pelos vencedores.
•	 Na África, o escravo era a única forma de propriedade privada reconhecida por lei.
RESUMO DO TÓPICO 1
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Exercite seus conhecimentos, resolvendo as questões a seguir:
1 Explique os termos escravismo e escravidão. Aponte as diferenças ou semelhanças 
entre esses dois conceitos.
2 Redija um texto sobre a condição do escravo na África. Evidencie as formas de se 
tornar escravo nas sociedades africanas, as diferenças entre ser escravo na África 
e em outras regiões como nas colônias na América.
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OATIVID
ADE �
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A RELAÇÃO DO COMÉRCIO DE 
ESCRAVOS ENTRE EUROPEUS 
E AFRICANOS
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
UNIDADE 3
As relações comerciais entre a África e a Europa não foram diferentes do comércio 
internacional nesse período, pois os africanos foram comerciantes experientes, e de modo 
algum foram dominados pelos mercadores europeus em razão do controle comercial ou da 
superioridade técnica em manufatura ou no comércio. (THORNTON, 2004).
 
Os estudos em História da África (podem ser citados historiadores como: Paul Lovejoy, 
Jhon Thornton, Walter Rodney, entre outros), e mais especificamente sobre a estrutura do 
tráfico negro, evidenciam a cumplicidade de sociedades africanas nesse processo. Ou seja, a 
historiografia apresenta uma discussão de que o tráfico de africanos só foi possível e tomou 
enormes proporções entre os séculos XV e XIX devido à cooparceria estabelecida entre 
africanos e europeus.
A presença do europeu no tráfico de escravos ampliou e intensificou as relações de 
comércio. No entanto, as sociedades africanas imprimiam a escravidão um significado diferente 
da escravidão na Europa ou nas Américas coloniais. Nesse sentido, o comércio de escravos não 
deve ser visto como um impacto externo e funcionando como uma espécie de fator autônomo 
na História da África. Ao contrário, ele desenvolveu-se e foi organizado de forma racional pelas 
sociedades africanas que dele participaram, as quais tinham completo controle sobre o mesmo, 
até que os escravos embarcavam nos navios europeus para levá-los para as sociedades do 
Atlântico. (THORNTON, 2004).
Este tópico terá como objetivo refletir sobre a estrutura do comércio de escravos na 
África, para que possamos compreender as relações de troca que se estabeleceram entre 
africanos e europeus.
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2 A ESTRUTURA SOCIAL E A 
 ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA
Os europeus negociavam escravos com Estados centralizados, e com sociedades 
descentralizadas. Entre as sociedades descentralizadas citam-se os balantas da Guiné-Bissau, 
que resistiram às invasões de seus vizinhos por meio do tráfico. Os balantas vendiam escravos 
em troca de metais, que transformavam em ferramentas que lhes serviam para expandir a 
agricultura, garantindo-lhes a independência. Ou ainda, grupos africanos como os: efiques, 
ibibios e ibos da Baía de Biafra que viram no comércio de escravos uma oportunidade para 
enriquecer.
Esses grupos comercializavam escravos com ingleses e franceses. Portanto, seja 
para sobreviver, seja para lucrar, as sociedades africanas encontraram espaço suficiente para 
estruturar, participar e manter o comércio de escravos.
Como já foi mencionado anteriormente, a escravidão estava fundamentada em estruturas 
legais e institucionais das sociedades africanas.
O escravo era uma forma de propriedade privada que produzia rendimentos reconhecidos 
nas leis africanas. Como a terra abundava e era vista como um bem coletivo, o fator escasso 
na produção de bens era a mão de obra. O que levou a escravidão ser tão difundida nas 
sociedades africanas foi à ausência de propriedades privadas de terras.
Para o historiador Thornton (2004), a posse territorial é em última instância uma simples 
ficção legal. Ser proprietário não significa mais do que possuir a terra, e o que realmente 
importava, entre as sociedades africanas, era a posse do produto que ela produz. Nessa 
perspectiva, a posse ou o controle do trabalho (pessoas ou escravos) poderia prover o direito 
da posse a terra. Assim, quanto mais escravos, mais seria garantida a produção na terra e isso 
lhe dava o direito da posse sobre essa terra.
Essa estrutura das sociedades africanas em relação a terra divergia da estrutura 
europeia, onde a terra, durante muito tempo foi o bem mais importante. No entanto, essa 
estrutura permitiu às elites políticas e econômicas da África vender um grande número de 
escravos e, assim fomentar o comércio atlântico. Essa característica expandiu a escravidão, o 
seu comércio e o papel em produzir uma riqueza estável aliado ao desenvolvimento econômico 
(Thornton, 2004). E é precisamente nesse ponto, que a escravidão foi tão importante na África e 
levou a exercer um papel tão significativo no continente, se os africanos não eram proprietários 
de um fator de produção (a terra), eles poderiam possuir outro, o trabalho. Ou seja, os africanos 
detinham o meio de produzir nesta terra – a mão de obra.
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3 O COMÉRCIO DE ESCRAVOS
A forma como o comércio de cativos ocorria na África variava de acordo com a 
organização interna de cada sociedade africana com quem os europeus negociavam. Essa 
questão já foi mencionada no início deste tópico. Nas sociedades com governo centralizado, os 
soberanos garantiam um abastecimento regular de escravos nos portos onde as embarcações 
estrangeiras ancoravam para negociar com o encarregado pelo comércio externo do Estado. 
Alguns desses portos haviam sido reinos independentes que foram tomados por vizinhos mais 
poderosos, como por exemplo: os reinos de Aladá e Ajudá, na Baía do Benin, conquistado pelo 
reino de Daomé nos anos de 1724 e 1727.
Segundo Thornton (2004), muitos grandes estados africanos eram coleções de outros 
menores incorporados por meio de aliança ou conquista. De forma geral, os governantes 
desses estados menores constituídos continuavam a exercer autoridade local e o poder do 
estado mais importante era confrontado por eles. Um exemplo é apresentado pela descrição 
anônima do Império do Grande Fulo, escrita no século XVI que mostra que ele dominava todo 
o vale do Senegal e compunha-se de cerca de vinte unidades menores.
O desenvolvimento de recursos privados próprios foi um importante recurso utilizado 
pelos governantes para criar um estado centralizado. Os escravos que poderiam ser propriedade 
privada do rei ou de outro membro da elite poderiam ser também propriedade do Estado e 
formavam um conjunto de trabalhadores e soldados.
Os escravos eram encontrados em todas as partes da África atlântica, desempenhando 
todo tipo de tarefas. Quando os europeus chegaram à África e se ofereceram para comprar 
escravos, não é surpreendente que tenha sido imediatamente aceitos. Pois, além de os escravos 
serem encontrados em profusão na África, existia um comércio de escravos bem desenvolvido. 
Os europeus penetraram nesse mercado da mesma forma que qualquer africano ou muçulmano 
penetrava. (THORNTON, 2004).
Todavia, os europeu buscavam permissão dos soberanos para instalar feitores na 
costa. Muitas dessas feitorias concorriam para conseguir a exclusividade no comércio com os 
africanos, em detrimento de outras nações europeias. Algumas das importantes feitorias foram: 
Elmina, Cabo Corso e a Ilha de Goréa transformadas, posteriormente em polos comerciais 
(atualmente são centros turísticos).
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FONTE: Disponível em: <http://www.farolcomunitario.com.br/imagens/elmina_fort.
jpg>. Acesso em: 25 maio 2010.
As relações de comércio com as sociedades africanas com o governo descentralizado, 
como já informado neste tópico, ocorriam de forma mais informal. As embarcações ancoravam 
nos portos da costa, onde recebiam pessoas interessadas em negociar. Muitas vezes, o africano 
“negociante” deixava seus próprios cativos ou até familiares como penhor pelas mercadorias 
que levavam para trocar por escravos. Quando retornavam com escravos, esses africanos 
“negociantes” os entregavam ao capitão da embarcação que devolvia os penhores junto com 
o pagamento. No entanto, caso esses africanos“negociantes” retornassem sem escravos e 
sem mercadoria, os capitães partiam, levando os penhores humanos a bordo.
Sabemos que os escravos vendidos no tráfico vinham de diversas partes do interior 
da África. Por exemplo: de Serra Leoa, eles vinham de áreas próximas à costa, mas os que 
embarcavam no Congo ou Angola vinham de terras mais distantes. Os comerciantes os trocavam 
por bens trazidos da costa, mas quando isso era impossível, trocavam escravos por: manilhas 
de ferro ou cobre, conchas de cauril (um molusco africano) e por tecidos. As caravanas de 
cativo percorriam longas distâncias e geralmente marchavam de mãos atadas e ligados uns 
aos outros pelo pescoço com forquilhas de madeira.
 Quando chegavam a costa, os comerciantes entregavam os escravos aos intermediários 
do trafico, que negociavam com os capitães das embarcações negreiras. Durante o período de 
espera pela concretização das negociações, os escravos permaneciam presos nas fortalezas, 
feitorias ou quintais de propriedade dos intermediários. Ficavam muitas vezes expostos à 
subnutrição prolongada e a doenças contagiosas. Os intermediários do tráfico procuravam 
concluir logo as transações para evitar a perda da “mercadoria”.
No século XIX, quando o tráfico de escravos se tornou ilegal, as condições para o 
embarque de escravos pioraram, pois os negociantes não podiam mais contar com uma estrutura 
FIGURA 31 – FORTE ELMINA EM GANA, ÁFRICA, FOI CENTRO DE COMÉRCIO 
ESCRAVO
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dirigida para facilitar a atividade. Nesse período, uma prática comum entre os negociantes do 
tráfico foi encher os barracões situados em lugares distantes da costa africana, a fim de ocultá-
los da fiscalização responsável pela supressão do tráfico.
Diante de tudo isso, não podemos entender os africanos como simples vítimas do 
tráfico de escravos. A intensificação do comercio de cativos apoiava-se em um sistema bem 
desenvolvido de escravidão, de mercado, de escravos e de distribuição que preexistia a qualquer 
contato com a Europa.
De acordo com Thornton (2004), a instituição da escravatura era disseminada na África 
e aceita em todas as regiões exportadoras, e a captura, o transporte e a venda de escravos 
eram circunstâncias normais na sociedade africana. A organização social preexistente foi, 
também, responsável pelo desenvolvimento do comércio atlântico de escravos.
FONTE: Disponível em: <http://www.temalivre.net/wp-content/uploads/2010/01/
escravos_haiti-vertentes.ufba_.br_.jpg>. Acesso em: 25 maio 2010.
4 AS FORMAS DE CAPTURA
A captura dos escravos era, também, promovida por companhias especializadas, que 
inicialmente recebiam o direito de monopólio de exploração. Inglaterra, França, Portugal e 
Espanha exploravam indiscriminadamente esta atividade, cujos números cresciam ano após 
ano. Em 1697, a Coroa inglesa extinguiu o monopólio e os números explodiram. A atividade 
era favorecida pela necessidade de se criarem estruturas muito simples na própria África 
para a exploração. Em vez de grandes cidades, bastavam simples feitorias que abrigavam 
uns poucos europeus e contavam com os próprios africanos para fazerem todo o serviço: das 
incursões para o interior, munidos de espingardas e munição compradas dos europeus, muitas 
FIGURA 32 – ESCRAVOS SENDO CONDUZIDOS PARA FORTALEZAS PARA 
SEREM COMERCIALIZADOS
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vezes por quinquilharias, até a manutenção dos barracões onde ficavam os capturados até 
a chegada do próximo navio.
O tratamento dos escravos era cruel. O francês Pruneau de Pommegorge (apud Ki- 
Zerbo, p. 273), relatou uma situação em que se viu compelido a comprar uma escrava que 
estava prestes a ser separada de seu filho, que “à noite [...] seria atirado às feras”. O local 
de cativeiro enquanto aguardavam o carregamento despertava nos africanos um sentimento 
incontrolável de revolta. Pommegorge relata o tratamento que receberam alguns desses 
revoltosos (KI-ZERBO, p. 274):
[...] Ao regressarem do trabalho, os escravos são cercados, postos a ferros e bem 
amarrados. No dia seguinte são todos chamados. Mas o processo é intentado contra dois ou 
três cabecilhas, que eram chefes na sua região. Os dois chefes, longe de negarem o fato ou 
de procurarem subterfúgios, responderam, com afoiteza e coragem, que era perfeitamente 
verdade, que deviam tirar a vida a todos os brancos da ilha, não porque os odiassem, mas 
para que não se pudessem opor à sua fuga e ao meio que lhes era oferecido de se irem 
juntar ao seu jovem rei. Que todos sentiam a maior das vergonhas por não haverem morrido 
por ele, com as armas na mão, no campo de batalha, mas que atualmente, uma vez que não 
podiam fazê-lo, preferiam a morte ao cativeiro. A esta resposta, verdadeiramente romana, 
todos os outros cativos gritaram num coro unânime: ‘Denguela, denguela!’ — ‘É verdade, é 
verdade!’ Reuniu-se o conselho da direção para deliberar. Para dar um exemplo a todo o país, 
foi decidido que os dois chefes da revolta fossem mortos no dia seguinte diante de todos os 
cativos e da população da ilha reunida… No dia seguinte são reunidos na savana todos os 
cativos. Em frente desta abertura foram colocados dois pequenos canhões, carregados, não 
com bala, mas apenas com a bucha. Enfim, na extremidade desta abertura foram postos os 
dois chefes da revolta e mortos pelo artilheiro, servindo eles de projétil. Os infelizes foram 
atirados e caíram mortos a quinze passos do ponto donde haviam sido disparados. Todos 
os outros cativos, impressionados com tão terrível exemplo de severidade, entraram para os 
barracões na maior das consternações. Se esta execução parece horrenda e desumana, ela 
é uma consequência necessária do comércio infame que quase todos os europeus fazem 
naquelas paragens.
Guerras, sequestros, razias foram responsáveis pela maioria dos cativos, tanto daqueles 
exportados como daqueles retidos em África. O processo de escravidão envolveu as potências 
europeias, as colônias na América e, sobretudo a própria África. Ao articular a captura de escravos 
na África, a colonização da América e o desenvolvimento da indústria na Europa, o comércio 
negreiro criou uma rede comercial internacional. O fluxo dessa rede circulava nos três mundos 
(África, América e Europa). Para entendermos essa articulação entre o comércio de escravos e a 
circulação de pessoas que foram responsáveis por esse processo, vamos ler, com muita atenção, 
o texto de Alberto Costa e Silva sobre um importante negociante de escravos baiano: Francisco 
Félix de Souza, o Chachá, um dos exemplos de pessoas que serviram de intermediário entre 
mundos diferentes facilitando as relações econômicas e sociais entre eles.
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LEITURA COMPLEMENTAR
O SENHOR DOS DESGRAÇADOS
Por volta de 1800, desembarcou na Costa dos Escravos, no Golfo do Benim, um baiano 
chamado Francisco Félix de Souza. Tinha 46 anos de idade, se realmente nascera em 1754, 
em Salvador, de pai branco e mãe ameríndia, cabocla ou cafuza. De seus tempos no Brasil 
nada se sabe, exceto que estudou o suficiente para se tornar guarda-livros e escrivão do forte 
português de S. João Batista de Ajudá, no reino do Daomé, hoje República do Benin. Dizia-
se na época que talvez fosse foragido da justiça ou condenado ao desterro. Se, em 1803, 
já estava no forte em Ajudá, vivera antes em Badagry e Popô Pequeno (ou Anexô), onde se 
casara com a filha do soberano de Gliji, Comalangã. A moça chamava-se Jijibu e, menina, 
havia estudado na Bahia.
É provável que o sogro o tenha ajudado a iniciar-se como negreiro, entregando-lhe 
cativos para que oscomercializasse. Isso explicaria ter-se tornado traficante de gente quem 
disse ter descido na África sem um centavo, para pagar o que comer, recolhia cauris, conchas 
usadas como moedas, depositados nos altares dos voduns. Tinha um organismo tão forte que 
resistiu às privações e às doenças de uma região insalubre. Em cada dez recém-chegados, 
seis morriam no primeiro ano, vítimas de doenças tropicais. Francisco Félix manteve-se, porém, 
com boa saúde até a velhice.
O baiano começou a prestar serviços a mercadores europeus ou brasileiros e logo lhes 
ganhou a confiança. No negócio de escravos não faltava lugar para auxiliares, prepostos e 
parceiros menores. Rapidamente, Francisco foi-se firmando como comerciante de escravos. Deve 
tê-lo favorecido o seu cargo no forte de S. João Batista, sobretudo após 1806, quando, havendo o 
governo português abandonado a fortaleza, dela passou a cuidar como se fosse o comandante. 
Um de seus trunfos seria a facilidade com que aprendia idiomas. Não tardou em tornar-se, por 
ter aprendido as línguas locais, um excelente intermediário entre os nativos e os capitães dos 
navios. O outro trunfo foi o de ter-se tornado rapidamente apreciado pela “integridade inflexível 
e indiscutível” com que “conduzia todas as suas operações comerciais” – palavras de um oficial 
britânico, que tinha tudo para lhe ser hostil. Com a fama de honesto, pôde participar no sistema 
de crédito que sustentava o tráfico: contra a promessa de futura entrega de cativos, era comum 
que se adiantassem mercadorias em confiança aos reis e mercadores.
No início, Francisco negociava para os outros, mas, com os ganhos, começou a operar 
por conta própria. E a guardar os seus escravos em depósitos próximos ao litoral, à espera do 
melhor momento para vendê-los aos navios.
A fim de evitar que as febres e as diarreias causassem estragos nas tripulações, os 
barcos negreiros paravam o menor tempo possível em cada porto. Que dispusesse de escravos 
armazenados tinha condições, por isso, de vendê-los a um melhor preço, determinado pela 
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ânsia do capitão de fechar o carregamento. Francisco Félix não tardou em aprender essa lição. 
O que não aprendeu foi muito a lidar com o soberano do Daomé, Adandozan.
No início da segunda década do século XIX, Francisco já devia ser um comerciante de 
importância. Tinha sócios e financiadores na Bahia, que lhe mandavam as mercadorias com 
que adquiria escravos. E o seu grande fornecedor era o rei.
A Adandozan, Francisco adiantava mercadorias. Quando o rei se descuidou do 
pagamento, o baiano foi à capital Abomé para queixar-se. O soberano recebeu-o numa varanda 
do palácio. Recostado em almofadas, estava de torso nu. Tinha duas centenas de mulheres ao 
redor, de fuzil na mão, a abaná-lo com flabelos ou a espantar as moscas com rabos de cavalo 
encastoados em prata. Uma delas, de joelhos diante dele, sustentava uma escarradeira de 
ouro. Guarda-sóis grandes e coloridos completavam a girar a cena.
Ao cobrar o que o rei lhe devia, Francisco mostrou-se desrespeitoso. Irritado, 
Adandozan mandou prendê-lo. E, a fim de que perdesse a petulância de branco, determinou 
que periodicamente o mergulhassem num tonel de índigo, para escurecer-lhe a pele.
Na prisão, Francisco ajustou com um príncipe daomeano, Gapê, um pacto de sangue, 
que os obrigava a se ajudar mutuamente até a morte. Daí que Gapê não tenha tardado em 
arranjar a fuga de Francisco da prisão. Da região de Popô Pequeno, onde se refugiou, o baiano 
passou por sua vez, a abastecer Gapê de armas de fogo e também tecidos, tabaco e outros 
bens, que, distribuídos com largueza, conquistavam aderentes. Pôs-se, assim, em marcha 
uma conjura, da qual resultou a deposição de Adandozan.
Gapê subiu ao poder com nome de Guezo. E mandou buscar Francisco Félix, a quem 
fez cabeceira, grande chefe. Concedeu-lhe terras em Ajudá e, mais importante ainda, o tornou 
seu único agente comercial. Ao nobilitá-lo, Guezo transformou em título a alcunha que o 
baiano ganhara após a fuga da prisão. Ao atravessar numa piroga, escondido sob esteiras, o 
rio Mono, os guardas indagaram dos remeiros o que levavam, e esses responderam: chachá, 
isto é esteiras. Há que diga, porém, que o cognome significaria andar com passos curtos e 
apressados, ou seria uma corruptela de “já já”, imperativo de que abusava.
Como o Chachá era o agente de Guezo, os demais mercadores só podiam fazer suas 
transações depois que ele vendesse todos os escravos do rei e os dele próprio. Tornou-se com 
isso senhor quase absoluto do mercado. Não foi, como se disse, o vice-rei de Ajudá, o “chefe 
dos brancos” ou yovogan. Mas isso não o impediu de tornar-se, graças à irmandade com o 
rei o mais poderoso de Ajudá, o mais rico do Daomé e talvez o maior mercador de escravos 
de seu tempo.
Á sua condição de agente e amigo de Guezo somava-se a de funcionário informal de 
d. João VI, pois continuava a cuidar do forte. Não vivia, porém, nele. Construía um casarão 
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enorme, Singbomey, numa área próxima, o futuro Bairro Brasil. Símbolo de riqueza e poder. 
Singbomey era a um só tempo fortificação, residência, entreposto, banco, hospedaria e oficina, 
tendo ao lado o depósito de escravos. Possuía também um mirante, de onde o Chachávigiava 
as manobras do esquadrão britânico que, desde 1816, combatia a exportação de escravos 
de Ajudá.
O colar de lagunas, esteiros, furos e riso que corria paralelo ao litoral dificultava a ação 
britânica. Os traficantes iludiam os poucos navios do esquadrão antitráfico, ao transferirem, 
pelas águas internas, os escravos de um porto para outro. O Chachá tornou-se mestre nesses 
deslocamentos. Contava, ao longo da costa, não só com informantes que o mantinham a par 
dos movimentos britânicos, mas também com sócios e agentes. E navios próprios, pois passara 
a ser dono também de embarcações.
Por essa época, já era enorme a prole de Francisco Félix. Casado pelas normas 
daomeanas com várias mulheres, conhecem-se pelos nomes 63 de seus filhos, mas se diz 
que seriam mais de 100. O Chachá deles exigia que procedessem na rua como europeus. 
Não trajavam como daomeanos, mas à brasileira: os homens de branco, de botas e chapéus 
de panamá; as mulheres, de vestidos longos, cintados e sem decotes, calçadas com sapatos 
fechados. O pai exigia que frequentassem a escola e a igreja que mantinha no forte. Ali 
aprendiam a ler e escrever em português, rudimentos de matemática e a doutrina cristã. A 
alguns mandou completar a educação na Bahia ou em Portugal.
Vinculado pelos matrimônios a muitas outras famílias, Francisco tinha a base de poder 
ampliada pelos agregados, escravos domésticos e outros dependentes. E o número dos que 
a ele se arrimaram cresceu ainda mais, graças aos ex-escravos que retornavam do Brasil. 
O Chachá conseguia de Guezo terras onde assentá-los e os apoiava em tudo. Tornou-se o 
protetor e o líder deles. E não é impossível que, entre aqueles que ajudou, figurassem alguns 
que ele próprio, anos antes, vendera.
Os ingleses, que tanto o combateram, deixaram dele esta descrição: um homem afável, 
hospitaleiro e prestativo, “o mais generoso e o mais humano das costas da África”, para usar 
as palavras de um cônsul britânico. Seria assim com os seus iguais, porém duríssimo com os 
escravos que endereçava à venda. Exercia um ofício fundado na crueldade.
A sua casa-grande dividia-se em duas partes: numa, com dependências próprias para 
cada uma de suas mulheres, vivia com a família; noutra, acolhia os capitães dos navios que 
aportavam em Ajudá. Não devia cobrar a hospedagem, mas tinha meios de arrancar-lhes 
dinheiro, sem desdouropara a hospitalidade que lhe atribuíam, pois montara uma casa de 
jogos, com belas mulheres, bilhares, roleta e tudo o mais.
Sua hospitalidade estendia-se até mesmo, no auge da repressão ao tráfico, aos 
comandantes dos cruzadores britânicos. Não hesitava recebê-los para jantar, a mesa arrumada 
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com talheres de prata, copos de cristal, pratos de porcelana e tolhas de linho. Quando em 
1843, o príncipe de Joinville ali jantou, serviram-no em baixela de prata, numa sala iluminada 
por tocheiros e candelabros de igreja, tudo de prata maciça. O brinde aos reis da França foi 
acompanhado por 21 salvas de canhão.
A pompa do jantar ao príncipe disfarçava a decadência. No apogeu de sua carreira, 
estimou-se a fortuna do Chachá em US$ 120 milhões, uma enormidade à época. No fim, ele 
mal tinha como pagar suas dívidas em Salvador e em Havana, e essas cresciam porque não 
abandonara seu comportamento perdulário. Avançado nos anos, não mais memorizava os 
empréstimos e perdera a energia para cobrá-los. Os devedores, entre os quais, o próprio Guezo, 
não lhe pagavam. E seus filhos, a quem passara parte dos negócios, não tinham as qualidades 
dele, nem um pacto de sangue com o rei. O pior de tudo é que os britânicos estavam a somar 
êxitos na repressão. Não só apresaram numerosos carregamentos pelos quais o Chachá era 
responsável, mas até mesmo navios de sua propriedade – 34, conforme Joinville.
Francisco Félix de Souza faleceu em 8 de maio de 1849, com 94 anos de idade. Correu 
à época que teria sido envenenado por Guezo, mas a acusação era evidentemente falsa. O rei 
o estimou até o fim. Não só fez representar por dois dos seus filhos e oitenta amazonas nos 
ritos funerários, como enviou sete pessoas para serem imoladas no túmulo do amigo. Esses 
e outros sacrifícios humanos teriam sido feitos em honra do Chachá, apesar da oposição de 
seus filhos. Mas há que diga que prevaleceram as razões desses últimos. Certo é que as 
festividades fúnebres duraram alguns meses, com amazonas a dançarem na praça de Ajudá, 
e sacerdotes a imolarem pombos, bodes e outros animais, e muitos batuques, e muitos tiros.
Se havia naquela época um padre em Ajudá, esse certamente encomendou o corpo de 
Francisco Félix e rezou a missa de sétimo dia. O Chachá era católico e devoto de São Francisco 
de Assis. Não perdia missa, mas patrocinava também um santuário dedicado ao vodum Dagoun, 
que, dizia-se, trouxera do Brasil. Foi nisso e em tudo o mais um centauro cultural: europeu 
e africano. Do mesmo modo que, após 1822, ficou sendo brasileiro e português. Nos seus 
domínios hasteava a bandeira das quinas ou a verde-amarela, conforme as conveniências do 
momento. Saía à rua de chapéu, calças, colete e paletó, mas coberto por um grande guarda-sol 
e acompanhado de tambores, pífanos e amazonas a dispararem para o ar as suas espingardas.
FONTE: KI-ZERBO. História da África Negra, volume I. Publicações Europa-América, s/d.
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Neste tópico, você estudou que:
•	 As relações comerciais entre a África e a Europa não foram diferentes do comércio 
internacional nesse período, pois os africanos foram comerciantes experientes, e de modo 
algum foram dominados pelos mercadores europeus em razão do controle comercial ou da 
superioridade técnica em manufatura ou no comércio. (THORNTON, 2004).
•	 A presença do europeu no tráfico de escravos ampliou e intensificou as relações de comércio. 
•	 Ser proprietário não significa mais do que possuir a terra, e o que realmente importava, entre 
as sociedades africanas, era a posse do produto que ela produz.
•	 A forma como o comércio de cativos ocorria na África variava de acordo com a organização 
interna de cada sociedade africana com quem os europeus negociavam.
•	 Os europeus constituíram feitorias na África com o objetivo de manterem o comércio de 
escravos.
•	 Guerras, sequestros, razias foram responsáveis pela maioria dos cativos, tanto daqueles 
exportados como daqueles retidos em África.
RESUMO DO TÓPICO 2
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Exercite seus conhecimentos adquiridos resolvendo as questões a seguir:
1 “A presença do europeu no tráfico de escravos ampliou e intensificou as relações de 
comércio. No entanto, as sociedades africanas imprimiam à escravidão um significado 
diferente da escravidão na Europa ou nas Américas”. Explique essa afirmação.
2 Qual era a relação das sociedades africanas com a posse da terra? Explique quais 
eram as formas de acessar e manter a terra entre as sociedades africanas.
3 Como ocorriam as negociações entre africanos e europeus em relação ao comércio 
de escravos?
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TRANSFORMAÇÕES NAS 
SOCIEDADES AFRICANAS 
DECORRENTES DO COMÉRCIO 
ATLÂNTICO
1 INTRODUÇÃO
2 O ESVAZIAMENTO DO INTERIOR
TÓPICO 3
UNIDADE 3
O impacto da presença europeia sobre o continente africano foi devastador. Em diversas 
regiões do continente, as sociedades se desagregaram por causa do comércio de escravos, 
como foi o caso do Congo e do Sahel Ocidental. Ao longo de mais de três séculos, milhões de 
africanos foram retirados de sua terra natal para servirem de mão de obra à produção econômica 
em larga escala no Continente Americano. As justificativas que os europeus encontraram para 
esse comércio humano trariam, a longo prazo, outras consequências igualmente devastadoras. 
Vistos como atrasados, subumanos ou incapazes, os africanos e seus descendentes foram 
vítimas, e continuam sendo até hoje, de um preconceito racial extremamente difundido e 
danoso à sociedade. O impacto negativo da escravidão, portanto, estendeu-se por um tempo 
muito maior do que a sua vigência na sociedade ocidental e não parece estar próximo do fim.
O intento deste tópico é refletir sobre as transformações ocorridas a partir do tráfico de 
escravos no continente africano e também no mundo além África. Pois o comércio de escravos 
não provocou, somente, transformações entre as sociedades africanas, provocaram mudanças, 
rupturas nas estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais nas sociedades onde estes 
africanos foram inseridos como mão de obra.
O tráfico de escravos passou a ser um negócio tão lucrativo para europeus e africanos 
que acabou gerando consequências dramáticas do ponto de vista demográfico. Esta foi a 
principal diferença, geograficamente falando, entre a escravidão moderna e suas formas 
anteriores, para o Continente Africano: a quantidade muitas vezes maior de escravos capturados.
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Alguns estudiosos tentaram diminuir o impacto da escravidão europeia por meio de 
sofismas, como o de que a escravidão teria ajudado a concentrar população no litoral do 
continente. Isso, mais do que desonestidade intelectual, parece desconsiderar de propósito o 
fato de que, para que isso acontecesse, diversas regiões do interior do continente se tornaram 
despovoadas. A captura de escravos no Sahel desorganizado pela invasão marroquina (que 
será descrita logo adiante) foi tão maciça que diversos grupos étnicos se desfizeram. Diversos 
reis do interior tentavam se aproveitar da situação. 
Veja o que diz Ki-Zerbo (p. 281-282) sobre isso:
O tráfico de escravos instalava, enfim, em estado crônico, a guerra, a violência 
intratribal e intertribal. E esta guerra fazia-se a partir daí com meios mais destrutivos. 
Como mais escravos permitem comprar mais espingardas e mais espingardas permitem 
ter mais escravos, os príncipes do litoral eram colhidos numa engrenagem infernal,posta em marcha, por sua vez, pelo negreiro e que eles próprios alimentavam, como diz 
Peroneal de Pommegorge, uma testemunha: “Pela nossa criminosa avidez, foram estes 
povos transformados em animais ferozes. Só fazem guerra uns aos outros e só destroem 
reciprocamente para venderem os seus compatriotas a senhores bárbaros. Os próprios reis 
apenas veem os seus súditos como uma mercadoria que lhes pode servir para alcançarem 
o que os seus caprichos desejam”. 
O tráfico de escravos provocou, portanto, um traumatismo moral e ideológico em 
numerosos africanos. Os que se ocupavam desta caça já não olhavam para o homem da 
mesma maneira e os Congueses, de que os primeiros europeus diziam que tinham uma 
elevada ideia de si próprios, haviam perdido essa ideia. O mesmo acontecia na Costa do 
Ouro, onde o adúltero era punido com a perda da liberdade. Com a escravatura, certos reis 
vieram a ter por sua conta “um grande número de mulheres que não tinham outro emprego 
que não fosse seduzir todas as noites jovens sem experiência”. Consumado o crime, ou 
mesmo durante a sua consumação, denunciavam o infeliz que tinham cativado. O processo 
é rápido e o culpado segue logo para o mercado. Por vezes, ao que se diz, as mulheres 
desempenhavam este papel, em combinação com o marido.
2.1 A DESTRUIÇÃO DO CONGO
O contato dos portugueses com o Congo foi muito facilitado pelo fervor religioso do 
manicongo (rei) Afonso. Seu enorme respeito pelos portugueses levou o rei dom Manuel a exigir 
de seus emissários tratamento equivalente ao manicongo. O português Rui de Sousa afirmava 
que o rei parecia conhecer melhor a doutrina religiosa do que os próprios portugueses. Com 
apoio de Portugal, o rei Afonso reformulou o Congo, construindo escolas em que as crianças 
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2.2 A CRISE DO SAHEL OCIDENTAL
pudessem ser educadas na fé cristã e não se cansava de pedir emissários e padres para 
instruir a população.
Mas a política portuguesa não tinha como objetivo associar-se a um estado-irmão 
na África, e sim assimilar o Congo para a corte de Lisboa e a cristandade. Aos poucos, o 
manicongo foi perdendo o controle do seu reino e os emissários, que sempre chegavam em 
número menor do que ele pedia, serviam mais como intermediários para a dominação. A partir 
da ilha de São Tomé, na costa africana, não muito longe da foz do rio Congo, os flibusteiros 
portugueses comandados por Fernando de Melo tomaram conta do tráfico de escravos do 
continente. Nem as crianças da escola escaparam. Por fim, a região foi totalmente submetida 
à autoridade portuguesa (inclusive religiosamente, pois São Tomé foi transformada em sede da 
diocese que englobava o Congo) e desabou diante da sanha escravizadora dos portugueses.
Em 1665, na localidade de Ambuíla, houve um grande enfrentamento militar entre 
tropas luso-africanas, que contavam com brasileiros, e tropas do reino do Congo, que foram 
completamente destruídas apesar de se estimar que contassem com mais de cem mil homens. 
Nessa batalha morreram o rei do Congo (dom Antônio I), pessoas importantes da nobreza 
congolesa e soldados. Do lado português morreram vinte e cinco soldados (dos quais apenas 
um era branco) e feriram-se 161 pessoas (apenas onze eram portugueses). A partir desta 
batalha o reino do Congo entrou num processo de desagregação e de guerras entre suas 
diferentes províncias. O poderoso reino havia sido reconhecido como cristão na Europa no 
século XVI, quando fornecia escravos e cobre aos portugueses, nunca mais voltou a força de 
antes. Depois desse período conturbado, os portugueses foram aprofundando suas raízes em 
Angola, passando a privilegiar as alianças e formas mais sutis de dominação, deixando que 
as guerras fossem travadas entre os africanos apenas. (SOUZA, 2007).
Nem todos os problemas que a África atravessou a partir do século XVI podem ser 
creditados diretamente à escravidão ou aos europeus. Os próprios africanos, como vimos, 
engajaram-se no tráfico de escravos, fornecendo os cativos para os navios europeus. Porém, 
não foi apenas desta forma que os africanos lutaram entre si. Houve diversos episódios, pelo 
menos a partir do século XVI, em que eles próprios contribuíram para enfraquecer outros povos 
africanos. Lembre-se sempre de que não existia, entre eles, o conceito de África como uma 
terra explorada e dominada que deveria se unir por um bem maior e expulsar os dominadores. 
Desta forma, os conflitos entre povos africanos não são em nada diferentes dos conflitos entre 
povos de quaisquer regiões do mundo, nem depõem contra o caráter dos africanos em geral.
Para exemplificar essa relação de conflito entre as sociedades africanas associadas 
ao tráfico de escravos descreve-se um episódio de luta entre dois povos africanos, que 
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ocorreu durante o início da busca europeia por escravos e que contribuiu grandemente para o 
enfraquecimento das regiões do sul do Saara e, com isso, possivelmente, para o fortalecimento 
da escravidão moderna: a destruição, pelos sultões do Marrocos, do reino do Songhai.
Durante muito tempo, o Marrocos havia exercido apenas um papel de intermediário 
no comércio transaariano, em uma relação que era benéfica tanto para o próprio país quanto 
para as regiões do Sahel. Foi dessa forma que puderam prosperar os reinos de Gana, do Mali 
e do Songhai. No entanto, no século XVI, os sultões do Marrocos passaram a voltar os olhos 
cobiçosos para o outro lado do deserto, desejando conquistar as ricas minas de sal de Teghazza. 
Após algumas incursões sobre o Sahel, no terceiro quartel do século XVI – em uma delas, em 
1578, morreram o sultão Mohammed XI, o rei Sebastião I de Portugal e o sultão Abdul Malik 
–, o sultão Al-Mansur aproveitou-se de uma crise no Songhai para invadir a região, inclusive 
com o apoio de mercenários ingleses e espanhóis e armas de fogo.
Como resultado, o Songhai foi saqueado e dividido e a anarquia passou a ser a norma 
dali em diante. Os longos períodos de crise social, fome e epidemias que assolaram a região 
nos séculos seguintes podem ter relação com essa decadência. Períodos de inundações, 
alternados com períodos de seca, destruíram a economia da região e praticamente reduziram as 
opulentas regiões do Sahel ocidental a um estado selvagem. Esta situação de desorganização 
política contribuiu, em grande medida, para o fortalecimento da escravidão na região.
O tráfico de escravos aumentou o número de guerras, os atos de violência contra 
aldeias e pessoas desprotegidas fortaleceu os chefes guerreiros, influindo na história dos 
reinos que com ele se envolveram, uns sendo superados por outros conforme mudam as zonas 
de apresamento e as rotas de comércio. Além disso, o tráfico e a presença de portugueses 
em algumas regiões africanas como Angola e Moçambique promoveram a criação de uma 
sociedade mestiça, na cor, na pele e nos hábitos, misturando formas de ser africanas e formas 
de ser europeias. (SOUZA, 2007).
3 AS TROCAS DE ELEMENTOS CULTURAIS
Se o comércio de escravos provocou transformações internas no continente africano, 
como vimos anteriormente. A inserção de milhares de africanos na Europa e nas colônias da 
América, também provocou profundas transformações nas sociedades que os receberam.
De acordo com Thornton (2004), a atuação do africano no mundo atlântico teve um 
duplo impacto. Por um lado, eles foram trazidos para trabalhar e servir, e, em razão do esforço 
pessoal e de seu grande número, contribuíram significativamente para a economia. Por outro 
lado, eles trouxeram uma herança cultural de linguagem, estética e filosofia que ajudou a 
formar a nova cultura do mundoatlântico. Esses elementos da dupla contribuição dos africanos 
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eram inter-relacionados. De muitos modos a natureza do trabalho dos africanos e seu lugar 
na economia e nas sociedades do Atlântico colonial também concorreram para moldar seu 
papel como atores culturais ao permitir ou negar seu acesso aos prazos, às matérias-primas 
e à supervisão da produção.
Nesse sentido, a inserção do africano na Europa e nas colônias na América configuraram 
e condicionaram seu papel como transmissores de uma cultura africana e fomentadores de 
uma nova cultura afro-atlântica, a qual eles também compartilharam com os nativos da América, 
com europeus e com euro-americanos.
Apesar das dinâmicas do comércio, das condições de travessia do Atlântico, das 
condições de trabalhos a que foram submetidos, não podemos entender o africano como 
um mero receptor de cultura nas sociedades europeias e americanas, eles foram também, 
doadores, transmissores e mantenedores de elementos culturais que configuraram a cultura 
nesse lugares. Isto é, a viagem da África até os locais de recepção de escravos e posterior 
distribuição, não tornaram submissos os africanos. Não os anularam culturalmente, ao contrário, 
as sociedades africanas encontraram meios, criaram estratégias para manter, transformar 
e transmitir elementos culturais vindos da África. Todavia, não podemos pensar que esses 
escravos recomeçaram uma cultura africana no Novo Mundo. O fato de terem encontrado 
pessoas de sua nação que ajudaram a manter vivos elementos culturais como: linguagem, 
crenças, estética, entre outros, não significa que elas tenham se mantido intactas. Afinal, eles 
encontravam-se em um novo mundo, onde novos elementos culturais perpassavam o cotidiano 
desses africanos.
Para reforçarmos esse apontamento buscamos subsídio em Thornton (2004), que também 
afirma que os africanos trazidos como escravos para o Novo Mundo, entravam em um novo 
cenário, com um sistema político, econômico, social e cultural diferentes. Eles comunicavam-
se com pessoas que não compartilhavam sua herança e não eram seus vizinhos na África, 
inclusive europeus e euro-americanos. Mesmo que fossem capazes de transmitir sua cultura 
para uma nova geração, ela não seria a mesma da África. A cultura afro-americana tornou-se 
muito mais homogênea do que as diversas culturas africanas que a compuseram, fundindo-as 
e incorporando a cultura europeia. Nesse aspecto, podemos citar a cultura brasileira que é o 
resultado de sincretismos e justaposições de elementos culturais indígenas, africanos e europeus.
UNI
Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundar mais essa relação de trocas 
culturais entre as sociedades em que os africanos foram inseridos 
e a cultura das diferentes sociedades africanas, recomendamos a 
seguinte bibliografia: THORNTON, John K. A África e os africanos 
na formação do mundo atlântico, Rio de Janeiro: Elsevier – 
Campus, 2004, em específico os capítulos 7 e 8, que tratam dessa 
justaposição cultural na perspectiva de compreender o africano 
enquanto mantenedor, receptor e transmissor de cultura.
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Neste tópico você estudou que:
•	 O impacto da presença europeia sobre o continente africano foi devastador. Em diversas 
regiões do continente, as sociedades se desagregaram por causa do comércio de escravos.
•	 O tráfico de escravos instalava a guerra, a violência intratribal e intertribal. 
•	 O contato dos portugueses com o Congo foi muito facilitado pelo fervor religioso do 
manicongo.
•	 O tráfico de escravos aumentou o número de guerras, os atos de violência contra aldeias 
e pessoas desprotegidas fortaleceu os chefes guerreiros, influindo na história dos reinos 
que com ele se envolveram, uns sendo superados por outros conforme mudam as zonas 
de apresamento e as rotas de comércio.
•	 A inserção de milhares de africanos na Europa e nas colônias da América, também provocou 
profundas transformações nas sociedades que os receberam.
•	 Apesar das dinâmicas do comércio, das condições de travessia do Atlântico, das condições 
de trabalhos a que forma submetidos, não podemos entender o africano como um mero 
receptor de cultura nas sociedades europeias e americanas, eles foram também, doadores, 
transmissores e mantenedores de elementos culturais que configuraram a cultura nesses 
lugares.
RESUMO DO TÓPICO 3
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Exercite suas atividades estudadas, resolvendo as questões a seguir:
1 As consequências do comércio de escravos foram significativas para o continente 
africano. Elabore um texto indicando essas consequências.
2 Qual a relação do Congo com o cristianismo?
3 De acordo com Thornton (2004), a atuação do africano no mundo atlântico teve um 
duplo impacto. A partir desta colocação, redija um texto enfatizando a presença do 
africano no mundo atlântico.
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A DIÁSPORA AFRICANA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 4
UNIDADE 3
Em 1442, o português Antão Gonçalves raptou, na costa atual Mauritânia, um casal de 
africanos, que foram levados para Portugal, como prova de que estivera na “Terra dos Negros” 
(KI-ZERVO, 1972). Este fato dá início à modalidade do tráfico que iria modificar as estruturas 
sociais, econômicas, políticas e culturais da África e de outros países. Podemos considerar 
que foram ou europeus, talvez os portugueses, que introduziram essa forma degradante 
de escravidão, em que o africano era transformado em objeto, em mercadoria valorável 
economicamente e desprovido de qualquer direito. 
Nos primeiros 150 anos do tráfico, os portugueses foram quase os únicos a comercializar 
escravos. No entanto, já no século XVII, holandeses, dinamarqueses, espanhóis, franceses e 
ingleses passaram a compor esse cenário com impacto crescente para o continente africano. 
No século XVIII e XIX, as elites coloniais e pós-coloniais no continente americano (brasileira e 
cubana) passaram a fazer parte da comercialização de escravos africanos.
O tráfico negreiro provocou um dos maiores deslocamentos populacionais da história 
da humanidade. O banco de dados coordenado pelo professor David Eltis, da Universidade 
de Emory, nos Estados Unidos, apresenta informações que, entre os séculos XVI e XIX mais 
de 12,5 milhões de africanos foram capturados, escravizados e exportados para a Europa, 
América e algumas ilhas localizadas no oceano Atlântico. Todavia, nem todos resistiram a vigem, 
estimasse que destes 12,5 milhões de africanos, somente 10,7 milhões teriam completado 
a travessia atlântica. Assim, este tópico tem o objetivo de refletir o mecanismo que retirou 
da África milhares de pessoas e as inseriu em uma nova realidade bem como visualizar os 
números do tráfico atlântico.
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AS!
Prezado(a) acadêmico(a)! Estudiosos do tráfico africano, entre 
eles encontram-se o professor David Eltis, da Universidade Emory 
(EUA); o professor Manolo Florentino da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro (UFRJ); o professor David Richardson, da Universidade 
de Hull (Inglaterra), criaram um banco de dados que pode ser 
consultado online. Para acesso, buscar o seguinte endereço: <www.
slavevoyages.org>. 
2 O PIONEIRISMO PORTUGUÊS
A historiografia aponta várias ações para o pioneirismo português em relação às 
navegações do século XV. Entre elas, encontram-se a formação de um estado centralizado, e 
a localização geográfica que favorecia este país,localizado na Península Ibérica. Em 1434, os 
portugueses abriram caminho para a exploração da África subsaariana, depois de cruzarem o 
Cabo Bojador. Este marco representa o avanço dos portugueses sobre o continente africano.
O cabo Bojador conhecido também como Cabo do Medo ou Cabo Não, está localizado 
na costa do Saara Ocidental e era considerado um ponto intransponível para a época. Lendário 
e temido pelos europeus por acreditarem que este ponto marcava o início do fim do mundo e 
começo do chamado Mar Tenebroso. Acreditava-se que se a barreira de recifes fosse ultrapassada, 
o caminho seria sem volta. O imaginário da época acreditava que os ventos empurravam as 
embarcações para um abismo e que monstros marinhos habitavam a região.
Em 1434, Gil Eanes, navegador de Sagres, ultrapassa esta barreira marcando uma das 
ações mais importantes da navegação portuguesa.
FONTE: Disponível em: <http://epoca.globo.com/
especiais/500anos/990830.jpg>. Acesso em: 24 maio 2010.
FIGURA 33 – CABO BOJADOR
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Nas primeiras décadas de 1470, os portugueses chegaram à Baía de Biafra, na região 
dos atuais Nigéria e Camarões. Todavia, o principal objetivo era a busca por terras, mercados, 
ouro e uma rota marítima para chegar ao Oriente. A mão de obra africana, não era, ainda, o 
principal objeto de interesses dos portugueses.
Ao longo dos anos, os portugueses foram conquistando e se instalando nas ilhas do 
Atlântico e começaram a utilizar o trabalho forçado africano. Um exemplo foi a implantação do 
modelo de exploração mercantilista em São Tomé, que seria, posteriormente, implantado em 
boa parte das Américas. Este modelo baseava-se no tripé propriedade, monocultivo e trabalho 
escravo. O uso da mão de obra escrava africana seria transposto para outras regiões da Europa 
e para as colônias na América. 
O pioneirismo significou para os portugueses um predomínio quase absoluto no início do 
tráfico. O primeiro concorrente foi a Espanha que atraído pelo ouro e pelo comércio de escravos, 
recorreu ao papa (lembrando que os reinos de Portugal e da Espanha eram reinos Católicos, 
isto justifica a recorrência à autoridade máxima da Igreja Católica), para reivindicar também 
a participação nos negócios com a costa africana. No entanto, o papa deu causa de ganho 
para os portugueses que continuaram dominando as relações comerciais na costa africana.
Nesse período, a descoberta e a conquista da América acarretaram um novo impulso ao 
comércio de escravos. Os lusitanos comercializavam com os espanhóis através de sistema de 
asientos, este era o nome dado a uma permissão que a coroa espanhola concedia aos seus súditos 
para comercializar escravos com a coroa portuguesa. As plantações surgidas no Caribe e a montagem 
dos sistemas mineradores estimularam a inserção de africanos nas colônias espanholas.
Os primórdios do tráfico atingiram a costa atlântica. O principal polo de exportação 
era a África Ocidental, região que englobava o território entre os atuais Senegal e Camarões. 
Sendo que a região da Senegâmbia representava a principal fonte de venda de cativos, sendo 
seguida pela região congo-angolana.
Na segunda metade do século XVI aparecem as primeiras ameaças concretas ao 
comércio negreiro português. Após a Reforma Anglicana, os ingleses iniciaram uma intensa 
expansão marítima. Atraídos pelo ouro, a Inglaterra iniciou uma exploração sistemática ao litoral 
africano, logo chegando a Baía de Benin. Semelhante, ao que ocorreu com os portugueses, 
o comércio de escravos não era inicialmente o objetivo principal dos ingleses. Todavia, não 
podemos pensar que os ingleses não se interessavam ou comercializavam escravos, pelo 
contrário, negociavam africanos por meio de pirataria contra naus portuguesas. O interesse 
inglês pelo comércio negreiro se intensificará a partir de 1570.
Os franceses, assim como os ingleses também não constituíram um interesse primordial 
pelo comércio de escravos. No século XVI, o tráfico francês se restringia ao litoral entre os rios 
Senegal e Gâmbia.
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3 A DISPUTA PELA COSTA AFRICANA
4 O APOGEU DO TRÁFICO
Se no século XVI, o comércio de africanos não se configurava no principal objetivo 
das potências europeias, no século XVII este cenário foi diferente. Outros países (França, 
Inglaterra, Espanha, entre outros), passaram a traficar. Os novos países traficantes, assim 
como os portugueses, criaram feitorias e fortes ao longo do litoral. 
As colônias na América viviam um período de desenvolvimento das grandes fazendas 
especializadas na produção de um único produto para exportação, chamado de sistema de 
plantation. A base desse sistema era o trabalho escravo. Na América portuguesa, a cana de 
açúcar requisitava extensa e intensa mão de obra que era suprida com a vinda de escravos 
da África. O boom desse sistema aumentou extraordinariamente a demanda por escravos no 
século XVII, os europeu importavam quase sete vezes mais africanos do que no século anterior.
Nesse período, a Holanda também passa a interessar-se pelo tráfico de escravos e se 
constituirá numa ameaça ao comércio negreiro português. Os holandeses constroem fortes na 
África. O primeiro deles, o forte Nassau, foi construído na Costa do Ouro em 1611. 
Na Senegâmbia, os holandeses construíram dois fortes na ilha de Goréa, na costa do 
Senegal. Em 1638, entraram em conflito direto com os portugueses instalados na região. Esse 
conflito resultou no deslocamento dos portugueses do forte em Elmina, localizado na região 
da atual Gana, para a Baía de Benin e Biafra. 
Nesse período, os franceses já haviam instalado uma feitoria na região de Ajudá (costa 
do Benin). Em 1670, os franceses expulsaram os holandeses do Senegal.
Os holandeses também entraram em conflitos com os ingleses. Na Costa do Ouro, por 
exemplo, os holandeses perderam o domínio do comércio negreiro. E a Inglaterra consolidou 
seu poder nessa região, dominando também o comércio em partes do Senegal e Serra Leoa. 
Todavia, a corrida por escravos não se restringiu à África Ocidental, no século XVII, outras 
partes da África iniciaram a diáspora africana.
A Inglaterra do século XVIII foi palco de um período de significativas transformações 
econômicas. A Revolução Industrial vivida pela Inglaterra neste século influenciou diretamente 
no tráfico de escravos. O sul dos Estados Unidos, no século XVIII, se especializava na produção 
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de algodão que abastecia a nascente Revolução Industrial na Inglaterra. As plantations na 
América do Norte comercializavam escravos africanos para serem utilizados como mão de 
obra nas fazendas de algodão que seria exportado para a metrópole inglesa e aqueceria a 
indústria têxtil nesse país.
No Brasil, a extração de ouro na região de Minas Gerais demandava o trabalho escravo. 
E, nas colônias espanholas, a produção açucareira atingiu seu desenvolvimento máximo, com 
destaque para Saint-Domingue (atual Haiti).
Essas atividades econômicas, dependentes do trabalho escravo, foram responsáveis 
pela vinda de cerca de 5,6 milhões de africanos para as Américas no século XVIII. Portugueses, 
ingleses, franceses e holandeses disputavam ferozmente o controle das rotas negreiras.
Em 1760, algumas regiões da África Ocidental poderiam ser identificadas a partir do 
comprador europeu. A primeira, de domínio francês, correspondia à região do cabo Branco, na 
atual fronteira entre o Marrocos e a Mauritânia, até Serra Leoa. Porém, os ingleses circulavam e 
monopolizavam o comércio de escravos entre o rio Casamansa no atual Senegal e Serra Leoa.
Outraregião da costa africana estava sob o monopólio do holandeses e se estendia da 
região entre os cabos Palma e Três Pontas (no atual Gana).
O mais disputado ponto costeiro era a região leste que se estendia do cabo Três Pontas 
ao rio Volta. Nesta região, a hegemonia inglesa era indiscutível. Porém, outras nações tentaram 
dominar o comércio, como os holandeses.
Na região leste localizavam-se ainda outros dois pontos costeiros exportadores de 
escravos. O primeiro era a faixa litorânea que se estendia do rio Volta até Badagri, na atual 
Nigéria e o segundo localizava-se até o cabo Formosa, essas duas zonas sofreram a presença 
portuguesa.
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FONTE: Disponível em: <http://lh4.ggpht.com/_5ZVfrqNx7ZM/S19fsL2AcxI/AAAAAAAAPzc/
XIfRX8eGtmk/Fluxo%20de%20escravos%201601-1700%5B11%5D.jpg>. Acesso em: 23 
maio 2010.
Se as primeiras décadas do século XVIII foram responsáveis pela inserção de 
aproximadamente 5,6 milhões de africanos, as últimas décadas deste século foram responsáveis 
pelo início do fim do tráfico africano. O cenário europeu, no final do século XVIII, foi marcado 
por turbulências políticas, econômicas, sociais que culminaram em reivindicações pelo fim do 
tráfico de africanos. A primeira turbulência é marcada pela Independência das colônias inglesas 
na América em 1776 (reconhecida pela Inglaterra em 1783 depois de uma longa guerra), 
seguida pela Revolução Francesa, em 1789, que culminou na disseminação de um discurso 
onde os ideiais de igualdade contribuiriam para a proibição do comércio negreiro, primeiro na 
Inglaterra. Na América, a revolução Haitiana em 1791, também foi importante para o fim do 
tráfico e representou a independência do Haiti no início do século XIX.
5 O COMÉRCIO ILEGAL DE AFRICANOS
As transformações ideológicas no final do século XVIII abriram caminho para a ascensão 
da burguesia e do capitalismo. Na França, após a Revolução de 1879, os traficantes franceses 
tiveram suas atividades proibidas pelo governo francês, que passaram a estimular outros 
tipos de comércio com os povos africanos. A Inglaterra mergulhada num intenso processo de 
industrialização, de aperfeiçoamento técnico, de expulsão dos camponeses das terras que 
cultivavam e de concentração de mão de obra barata nos centros urbanos, onde se localizavam 
as indústrias. Estas precisavam de matérias-primas, que seriam transformados em produtos 
FIGURA 34 – FLUXO DE ESCRAVOS 1701-1800
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industrializados consumidos por cada vez mais pessoas. (SOUZA, 2007).
Pioneira no processo de industrialização na Europa, a Inglaterra tornou-se a principal 
entusiasta destas transformações. Tendo abolido o comércio de seres humanos a partir de maio 
de 1808 e a própria escravidão em suas colônias em 1833, os ingleses passaram a defender 
intensamente a supressão do tráfico internacional de escravos junto às demais nações europeias 
e americanas, conseguindo enorme progresso a partir de 1820.
A Inglaterra deu início a uma série de ações para coibir o tráfico de africanos para as 
Américas. Para aprofundarmos um pouco mais sobre as ações inglesas de repressão ao tráfico 
negreiro, vamos ler um trecho do texto de Fábio Konder Comparato, onde o autor traça um 
panorama dessas estratégias inglesas de supressão ao tráfico.
[...]
No tratado de aliança e amizade entre a Inglaterra e Portugal, assinado no Rio de 
Janeiro em 1810, o príncipe regente português, declarando-se “plenamente convencido 
da injustiça e má política do comércio de escravos”, obrigou “a que aos seus vassalos não 
será permitido continuar o comércio de escravos em outra parte da Costa da África que não 
pertença atualmente aos domínios de Sua Alteza Real”. Por cláusula secreta do mesmo 
tratado, D. João, em troca dos bons ofícios da Inglaterra para a restituição a Portugal de alguns 
territórios, notadamente aquele compreendido nos antigos limites da América Portuguesa ao 
lado de Caiena, comprometeu-se a abolir de pronto todo o comércio e tráfico de escravos 
nos estabelecimentos de Bissau e Cacheu. 
Cinco anos mais tarde, por um tratado assinado em Viena com a mesma Inglaterra, 
Portugal declarava proibir doravante, a todos os seus nacionais, “o comprar escravos ou traficar 
neles em qualquer parte da costa da África ao Norte do Equador”. Esse compromisso foi 
complementado por uma convenção assinada em Londres, em 1817, pela qual se reconhecia 
à Inglaterra o direito de visita e busca das naus portuguesas, suspeitas de servirem ao tráfico 
negreiro. 
Os tratados de paz de Paris de 1814 e 1815, bem como as Declarações do Congresso 
de Viena de 1815 e a Declaração de Verona de 1822, reconhecendo que o tráfico de escravos 
violava “os princípios de justiça e de humanidade”, exortaram os Estados signatários a tomar, 
cada qual no âmbito de sua competência, as medidas apropriadas para reprimi-lo. 
Os tratados de 1831 e 1833 entre a França e a Grã-Bretanha, o tratado de Londres 
de 1841 e o tratado de Washington de 1862 ocuparam-se da repressão do transporte de 
escravos africanos por via marítima, estabelecendo poderes recíprocos de visita, busca e 
captura dos navios suspeitos de servir ao tráfico negreiro. 
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Tornado independente, o Brasil celebrou com a Inglaterra, em 1826, uma convenção, 
segundo a qual o tráfico que se fizesse depois de três anos da troca de ramificações seria 
equiparado à pirataria. Em 1835 a Inglaterra, verificando o reiterado descumprimento dessa 
convenção, conseguiu obter do Brasil a aceitação de alguns artigos adicionais ao texto de 
1826. Mas tudo continuou letra morta, levando o parlamento britânico a votar, em 1845, o 
chamado Bill Aberdeen, pelo qual os cruzadores ingleses foram autorizados a apresar os 
navios negreiros Brasileiros, mesmo em alto-mar, e submetê-lo a julgamento perante as 
Cortes do Almirantado. Uma das justificativas britânicas para esse recurso unilateral à força 
foi o fato de que, pelo tratado de 1826, o transporte ilegal de escravos por via marítima seria 
considerado um ato de pirataria. Foi apenas cinco anos mais tarde, em 4 de setembro de 
1850, poucos meses depois que o Almirantado britânico havia dado ordem a seus navios de 
guerra para fazerem a repressão ao tráfico até mesmo em águas e portos do Brasil, que a 
Assembleia Geral do Rio de Janeiro votou a lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico negreiro 
e estabelecendo severas punições para os infratores. Em 1885, com o continente africano 
praticamente ocupado in totum pelas potências europeias, o Ato Geral da Conferência de 
Berlim procurou reprimir não apenas o tráfico, como também a própria prática da escravidão. 
Mas as suas disposições aplicavam-se apenas à região do Congo. 
Finalmente, toda essa série de tratados culminou com a assinatura do Ato Geral da 
Conferência de Bruxelas, 1890, subscrito por dezessete Estados, o qual estendeu as medidas 
de repressão do tráfico a toda a África negra e criou a primeira organização internacional 
encarregada de coordenar as medidas repressoras. Num texto longo, (quase 100 artigos), 
em estilo de regulamento administrativo, foram tomadas disposições pormenorizadas de 
proteção à populações autóctones e de repressão ao tráfico negreiro. O acordo admitiu, 
porém, expressamente, a continuidade da escravidão doméstica, nos países signatários 
onde ela ainda subsistia. 
Não obstante representar um inegável avanço no campo da proteção internacional 
dos direitos humanos, o Ato Geral da Conferência de Bruxelas realizou o consenso da 
comitas gentium quanto à repressão do tráfico negreiro, no momento em que elese tornava 
praticamente insignificante no âmbito mundial. Os Estados Unidos haviam posto fim ao 
ciclo escravocrata com a guerra civil de 1860-65. No Brasil, que fora o principal mercado 
importador de escravos na primeira metade do século, o tráfico reduziu-se drasticamente 
após a lei proibidora de 1850 e o próprio instituto da escravidão foi abolida dois anos antes 
da assinatura do Ato Geral de Bruxelas. Recentemente, estimou-se que a importância do 
tráfico de escravos no total do comércio africano com as Américas, após atingir um pico de 
94% no final do século XVIII, declinou para 81% em torno de 1820, chegando a menos de 
1% a partir de 1860. 
FONTE: Disponível em: <http://africanomundo.blogs.sapo.pt/2007/10/?page=2>. Acesso em: 30 jun. 
2010.
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Por detrás das pressões britânicas, estava a consciência da forte dependência do 
escravismo brasileiro em relação à importação de africanos. Sem esta, a escravidão com força 
preponderante de trabalho no Brasil estaria com os seus dias contados. Ou seja, o corte no 
fornecimento de escravos, oriundos da África, iria produzir uma séria falta de braços no 
Brasil e desferir grande golpe no sistema monocultor brasileiro. Nesse aspecto, a interrupção 
do tráfico seria um golpe mortal para o sistema econômico no Brasil. Na América, Cuba e Brasil 
foram os últimos países da América a traficar escravos pelo Atlântico.
6 OS NÚMEROS DO TRÁFICO
A migração forçada de milhões de africanos e a escravidão atlântica foram capítulos 
traumáticos e complexos da história. Durante 400 anos, africanos foram retirados de suas terras 
e inseridos em outras partes do mundo sendo forçados e submetidos a mais degradante forma 
de escravidão. Os dados a seguir apresentam um panorama estatístico do número de africanos 
que foram forçados a deixar a África e inseridos em uma nova realidade, a escravidão. 
Os dados que compõem as tabelas, foram retirados do endereço site <www.slavevoyages.
org>. Esta plataforma digital apresenta uma quantidade de informações referentes ao tráfico 
atlântico, sendo o resultado de pesquisas realizadas por diversos estudiosos do continente 
africano como: Manolo Florentino, David Eltis, entre outros.
Escravos Exportados da África %
Século XVI 277.505 2,22
Século XVII 1.875.631 14,98
Século XVIII 6.494.619 51,87
Século XIX 3.873.582 30,94
Total 12.521.337 100,00
TABELA 1 – APRESENTA O NÚMERO DE ESCRAVOS EXPORTADOS DA ÁFRICA
TABELA 2 – APRESENTA O NÚMERO DE ESCRAVOS DESTINADOS A DIFERENTES REGIÕES
FONTE: Disponível em: <www.slavevoyages.org>. Acesso em: 24 maio 2010.
FONTE: Disponível em: <www.slavevoyages.org>. Acesso em: 24 maio 2010.
Regiões de Desembarque %
Brasil 4.864.374 45,41
Caribe Britânico 2.318.252 21,64
América Espanhola 1.292.912 12,07
Caribe Francês 1.120.215 10,46
América Holandesa 444.728 4,15
América do Norte 388.746 3,63
Caribe Dinamarquês 108.998 1,02
Europa 17.722 0,16
África 155.569 1,45
Total 10.711.516 100,00
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7 A TRAVESSIA ATLÂNTICA
Os dados apresentados pelas tabelas no item anterior, revelam que o comércio de 
escravos africanos atingiu proporções gigantescas. No entanto, é necessário percebê-lo como 
algo além de números e estatísticas. Não podemos deixar de pensar na dimensão humana 
e o que essa experiência representou na vida dos milhares de africanos cativos trazidos da 
África e que foram introduzidos nas várias regiões que se utilizaram da mão de obra escrava.
A experiência vivida por aqueles que foram brutalmente arrancados de sua terra natal e 
cruzaram o Atlântico para uma vida de exploração conta com poucos relatos. Apesar disso, podemos 
ver nas descrições disponíveis, outra faceta do horror que marcou essa gananciosa ação. 
Depois de capturados e negociados com os mercadores europeus, os africanos 
apresados sofriam várias punições físicas e eram submetidos a diversas privações. A falta de 
alimento era uma das terríveis táticas pela qual os traficantes buscavam garantir o controle 
dos africanos escravizados. Quando alimentados (a alimentação era escassa e controlada), 
os africanos recebiam uma débil dieta composta por carne seca, farinha de mandioca, feijão 
e um pouco de arroz. A ausência de nutrientes provocava doenças como, por exemplo, o 
escorbuto, provocado pela carência de vitamina C, a fama dessa doença acabou fazendo com 
que fosse também popularmente conhecida como “o mal de Luanda”, região de onde saía uma 
significativa quantidade de escravos para o Novo Mundo.
 No século XVI, as taxas de mortalidade nos navios negreiros variavam de acordo com 
a distância entre o porto de exportação e o de recepção. Estima-se que 30% dos africanos 
transportados, não chegavam ao local de desembarque. A precariedade da tecnologia naval, 
naquele período, contribuiu para essa mortalidade, as embarcações não possuíam condições 
adequadas para o transporte.
No entanto, não podemos pensar que a situação dos africanos a bordo dos navios 
se resumia à completa desolação. Para que o número de escravos mortos durante a viagem 
diminuísse, alguns marinheiros organizavam pequenos grupos que circulavam pelo navio para se 
exercitar e tomar um pouco de sol. Dessa forma, as “mercadorias” poderiam ser valorizadas nas 
praças do continente americano. Essas medidas para garantir o desembarque da “mercadoria”, 
surtiram efeitos. No século seguinte, a mortalidade média dos escravos caiu substantivamente 
em relação ao século XVI, e fixou-se na média de 20% por viagem. Já no século XVIII, essa 
média diminuiu para 14% por viagem.
O medo de motins era uma constate dentro dos navios negreiros. Os comerciantes de 
escravos temiam que os africanos se revoltassem durante as longas viagens. No longo período 
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em que permaneciam juntos, muitos africanos passavam a se solidarizar e tramar planos de 
rebelião contra seus algozes. Por isso, era sempre importante ter algum marinheiro ou tripulante 
que fosse capaz de compreender aquilo que era conversado entre os cativos. Além disso, os 
africanos eram mantidos longe das armas, principalmente as armas de fogo.
Acreditando que a experiência vivida nos navios negreiros marcaria os últimos 
instantes de sua vida, muitos escravos manifestavam certa alegria ao chegarem vivos na 
costa americana. A oportunidade de sobreviver aos horrores em alto mar era um alento que 
transformava a preservação de si em uma missão diária. Dessa forma, vários dos traços do 
mosaico cultural africano influíram em diversas práticas das culturas dos povos americanos. A 
seguir apresentamos imagens de navios negreiros, para que sejam observadas as condições 
de transporte desses escravos.
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_5aOFOu8RCys/SV1KpMl8XI/AAAAAAAAABs/
WTJ9O9crKAA/S742/bn2f523(navio).jpg>. Acesso em: 25 maio 2010.
Os navios negreiros representam a ligação entre a África e o comércio de seres 
humanos destinados a suprirem a demanda de trabalho escravo na Europa e nas colônias da 
América. Nos porões das embarcações negreiras, milhares de seres humanos foram trancados 
e obrigados a viverem longos períodos de privações. Muitos morreram na travessia. Mas, os 
que sobreviveram foram enviados para trabalharem em diversas funções que demandavam 
trabalhos escravos. 
Desta forma, sugerimos que seja realizada a leitura do texto a seguir, comparando-a 
a imagem queilustra o Livro Viagem Pitoresca e histórica ao Brasil. Esta imagem foi pintada 
FIGURA 35 – ESQUEMA DE UM NAVIO NEGREIRO PUBLICADO POR ABOLICIONISTAS 
NO SÉCULO XIX
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pelo artista bávaro Johan Moritz Rugendas em 1835, e retrata as condições de transporte a 
que eram submetidos os africanos nos porões dos navios negreiros. Cabe aqui lembrar, que 
nos deparamos com esta imagem nos livros didáticos que tratam deste capítulo da História.
FONTE: Disponível em: <http://racismoambiental.net.br/images/navio-negreiro-
rugendas.jpg>. Acesso em: 24 maio 2010.
A TECNOLOGIA A SERVIÇO DO COMÉRCIO DE HUMANOS
Quando imaginamos um navio negreiro, a imagem que nos vem à mente é a de um 
porão apertado e repleto de gente que quase não cabe naquele espaço escuro. Algo bastante 
semelhante à a conhecida pintura do pintor e viajante bávaro Johann Mortiz Rugendas, 
Negros no porão do navio, feita por volta de 1835.
Nessa e em outras figuras bastante divulgadas, com os cortes longitudinais de navios 
negreiros, o porão é a representação mais comum do tráfico, independentemente do tempo 
e das mudanças que tenham ocorrido na forma de construir essas embarcações.
Focalizando os porões reduzidos, escuros e repletos de escravos, essas imagens 
cristalizadas do tráfico fazem dos navios negreiros um objeto sem história, pois parecem ter 
sido iguais em todos os tempos e lugares. As gravuras de Rugendas ou os desenhos divulgados 
nos escritos abolicionistas do século XIX são praticamente as únicas representações desse 
tipo de embarcações e foram transformados em retratos fiéis desse espaço físico, como se 
ele não tivesse sofrido transformações entre os séculos XVI e XIX.
Os traficantes foram pioneiros no uso de novas tecnologias. Em meados do século 
XVIII, por exemplo, capitães negreiros ingleses, brasileiros e portugueses começaram a 
encomendar navios com uma camada de cobre que protegia o casco. O custo era alto, mas 
garantia mais velocidade e durabilidade às embarcações, dificultando a fixação de cracas 
no casco.
FIGURA 36 – NEGROS NO PORÃO DO NAVIO
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Contudo, a maior novidade tecnológica veio no século XIX, quando os navios 
passaram a usar as máquinas a vapor, que já eram utilizadas no Brasil desde a década de 
1830. Esses aparatos facilitavam a viagem, mas apresentavam desvantagem de ocupar 
muito espaço no porão.
As tecnologias levaram à criação de novas formas de execução do trabalho a bordo, 
permitindo, até mesmo, uma diminuição no número de tripulantes (ainda que, nos navios 
negreiros, a tripulação continuasse grande para reprimir possíveis revoltas a bordo). As 
novidades também tiveram consequências na vida dos escravos embarcados, por diminuírem 
o tempo da viagem e, assim, aumentarem as chances de sobrevivência de quem vinha no 
porão.
FONTE: Rodrigues, J. Revista História Viva, Ano VI, n. 66.
A partir do texto, podemos perceber que havia uma preocupação por parte dos 
traficantes, em buscarem estratégias para garantir a chegada das “mercadorias humanas”, 
nos porto de recepção e posterior distribuição desses cativos.
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Neste tópico, você estudou que:
•	 Nos primeiros 150 anos do tráfico, os portugueses foram quase os únicos a comercializar 
escravos.
•	 O tráfico negreiro provocou um dos maiores deslocamentos populacionais da história da 
humanidade. 
•	 A descoberta e a conquista da América acarretou um novo impulso ao comércio de escravos.
•	 No século XVII, outros países da Europa comercializaram escravos. Entre eles destacaram-
se: França, Inglaterra, Espanha e Holanda.
•	 O final do século XVIII e o início do XIX representam um boom no comércio de africanos.
•	 No século XIX, a Inglaterra deu início a uma série de ações para coibir o tráfico de africanos 
para as Américas.
•	 Durante 400 anos, africanos foram retirados de suas terras e inseridos em outras partes do 
mundo sendo forçados e submetidos a mais degradante forma de escravidão.
•	 Depois de capturados e negociados com os mercadores europeus, os africanos apresados 
sofriam várias punições físicas e eram submetidos a diversas privações.
RESUMO DO TÓPICO 4
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Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, resolva as questões que seguem:
1 Quais vantagens Portugal apresentava em relação aos outros países da Europa em 
relação ao acesso do comércio de cativos com a África?
2 No século XVII, outros países da Europa interessaram-se pelo comércio de escravos. 
Quais países europeus passaram a compor o cenário do tráfico negreiro?
3 Neste tópico, apresentamos o texto de Fábio Konder Comparato, que traçou um 
panorama das ações inglesas que objetivavam suprimir o comércio de africanos. 
Elabore uma síntese desse texto e apresente-o ao grupo. Busque evidenciar os 
interesses ingleses nessa proibição.
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IVID
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OS AFRICANOS NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 5
UNIDADE 3
Não se pode ignorar que o tráfico de negros da África para o Brasil decorreu do processo 
de colonização portuguesa iniciado na segunda metade do século XV. O modelo econômico 
baseado na monocultura e extratividade, com utilização de mão de obra escrava, caracterizava 
as colonizações da época, mas nem por isso pode se deixar de ser visto e compreendido como 
desumano e absurdo.
O tráfico de escravos da África para o Brasil faz parte da nossa história. Mesmo que se 
tente esquecer ou esconder, como fez Rui Barbosa quando mandou queimar a documentação 
existente sobre escravidão no Brasil, não se pode ignorar sua existência. Conhecer o tráfico e 
o comércio de escravos no Brasil é entender um pouco a importante contribuição dos africanos 
na formação da cultura brasileira.
O Brasil recebeu mais de 4 milhões de africanos, cerca de 40% de todo o contingente 
desembarcado nas colônias da América (colônias inglesas, francesas, holandesas, espanholas). 
Todavia, enganam-se aqueles que pensam que no Brasil, os africanos foram transportados 
somente para o nordeste colonial, para as áreas de mineração e depois para as plantações 
cafeeiras do sudeste.
Regiões brasileiras como a Amazônia no século XVII, o Rio Grande do Sul no século 
XVIII, receberam escravos que desempenharam as mais diversas funções dentro da sociedade 
colonial brasileira. Estes escravos também estavam presentes na criação de gado no Sergipe, 
nas lavouras de fumo na Bahia, no Grão-Pará, no Maranhão trabalhavam na produção de 
algodão, arroz e anil e ainda Goiás e Mato Grosso. O trabalho escravo constituiu-se na base 
da produção dirigida para a exportação, setor que mais trouxe prosperidade para o país.
Na sociedade colonial brasileira, a norma era possuir escravos que fizessem os trabalhos 
pesados e desagradáveis e que trouxessem retorno financeiro para os seus senhores, que 
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tinham apenas de mandá-los e controlá-los. Mesmo após a independência política de Portugal, 
o trabalho escravo continuou sendo a base da economia brasileira.
O escravismo foi a principal forma de utilização do trabalho africano e esteve na base 
da organização da sociedade brasileira durante mais de trezentos anos. Para sua manutenção, 
além da importância econômica, foi montado um sistema de justificação e legitimação da 
escravização de seres humanos. Teólogos, juristas e intelectuais argumentaram durante

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