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tutoria 4 - diferenças tissulares Maria Karoline Duque ★ Transporte de glicose sangue → célula *A glicose é uma molécula polar, insolúvel na membrana plasmática, e de alto peso molecular. *Seu transporte é realizado através de difusão facilitada, portanto a favor de seu gradiente de concentração, e dependente da presença de proteínas transportadoras (GLUTs) na superfície de todas as células. *Em células epiteliais como as do intestino delgado e do túbulo renal, os processos de absorção e reabsorção respectivamente, ocorrem através de um processo de transporte acoplado ao íon sódio, o qual promove um transporte contra gradiente de concentração de glicose e a favor do gradiente de concentração de Na+ , através de proteínas transportadoras (SGLTs) presentes no borda em escova da célula epitelial. Nestas células, a glicose concentrada no intracelular difunde-se para o extracelular por difusão facilitada através de GLUTs presentes na membrana basolateral. *Os GLUTs têm capacidade de realizar fluxo bidirecional de glicose e, de fato, é o gradiente do substrato que determinará a direção intra ou extracelular da glicose. *Considerando-se que a glicose, como substrato energético, está constantemente sendo consumida nas células, as forças de gradiente garantem um influxo do substrato na maioria dos tipos celulares, através das diferentes isoformas de transportadores . Entretanto, basta a concentração intracelular de glicose ser maior que a extracelular para que as forças de gradiente promovam um efluxo do substrato através da isoforma presente. *14 tipos de transportadores de glicose por difusão facilitada. *Essas proteínas, denominadas GLUTs 1 a 14 em ordem cronológica de caracterização, são expressas de forma tecido e célula-específicos, apresentando propriedades cinéticas e reguladoras distintas que refletem seus papéis definidos no metabolismo celular da glicose e homeostase glicêmica corporal total. Além disso, a função de uma mesma isoforma pode ser diferente de um tecido para outro, em conseqüência do processo de diferenciação celular . *A expressão dos transportadores de glicose nos tecidos está ligada aos diferentes metabolismos destes, conforme a demanda e utilização a quantidade e o tipo de transportadores pode variar. *A sensibilidade/afinidade à glicose entre os GLUTs é diferente. *A afinidade é avaliada a partir da constante de Michaelis (Km), com relação inversamente proporcional. *Alguns são sensíveis à insulina . ● GLUT1 *Expressos nas células endoteliais do cérebro, relaciona-se com o crescimento do cérebro, sendo este transportador mais abundante na infância e fase de desenvolvimento . *Possuem alta capacidade de transporte e alta afinidade pela molécula de glicose, mantendo rapidamente o nível de glicose dentro da célula. *Não tem atividade alterada pela presença da insulina. ● GLUT2 *A alta afinidade com a glicose promove que o transporte às essas células seja proporcional à glicemia. *Este transportador não tem sua atividade modulada pela insulina. ● GLUT3 *Como o transporte mínimo de glicose deve ser mantido ao cérebro, seus transportadores de glicose são independentes de insulina . *Proporciona o transporte da glicose do astrócito ao neurônio está associado à maturação funcional, quanto mais maduro e evoluído maior a expressão deste transportador. ● GLUT4 *O transportador possui a menor cinética da família dos GLUT, mas grande afinidade. *É dependente da estimulação de insulina . *Sem estimulação a densidade do GLUT4 na membrana é extremamente baixa, estando presente em vesículas citoplasmáticas , a quantidade de vesículas é variável pela atividade do tecido. Após a estimulação pela insulina, esses transportadores são translocados para a membrana e o transporte de glicose é aumentado. *Como são vários fatores envolvidos, não unicamente a presença ou não do receptor ou transportador, não há uma correlação simples entre resistência à insulina e os GLUT4, qualquer defeito na rota de translocação das vesículas determina a resistência ao estímulo da insulina, tornando assim o indivíduo um diabético tipo II. *As mais novas proteínas descritas são os GLUT9 presentes no fígado e rins, o GLUT11 presente no coração e músculo esquelético, GLUT8 expresso nos blastocistos, e o GLUT10 no fígado e pâncreas. ★ Metabolismo do glicogênio nos animais *Nos organismos, desde as bactérias até as plantas e os vertebrados, o EXCESSO de glicose é convertido em formas poliméricas de armazenamento – glicogênio nos vertebrados e em muitos microrganismos, amido nas plantas . *Nos vertebrados, o glicogênio é encontrado principalmente no fígado e no músculo esquelético . *O glicogênio é armazenado em grandes grânulos citosólicos. *Os grânulos de glicogênio são agregados complexos de glicogênio mais as enzimas que os sintetizam e os degradam, assim como a maquinaria de regulação dessas enzimas. *Os mecanismos gerais de armazenamento e mobilização do glicogênio são os mesmos no músculo e no fígado, mas as enzimas diferem em aspectos sutis, mas importantes, que refletem os papéis diferentes do glicogênio nesses dois tecidos. *O glicogênio também é obtido da dieta e degradado no intestino, e isso envolve um conjunto separado de enzimas hidrolíticas que convertem glicogênio em glicose livre. ● Músculo esquelético *O glicogênio do músculo fornece uma fonte de energia rápida para o metabolismo aeróbio e anaeróbio. *O glicogênio muscular pode ser gasto em menos de uma hora durante atividade intensa. ● Fígado *O glicogênio hepático serve como um reservatório de glicose para os outros tecidos quando não há glicose disponível (entre as refeições ou no jejum) ; isto é especialmente importante para os neurônios do cérebro, que não podem usar ácidos graxos como combustível. *O glicogênio do fígado pode ser exaurido de 12 a 24 horas. ● Glicogênese *O ponto de partida para a síntese do glicogênio é a glicose-6-fosfato . Esta pode ser derivada da glicose livre em uma reação catalisada pelas isoenzimas hexocinase I e hexocinase II no músculo e hexocinase IV (glicocinase) no fígado. D-glicose + ATP → D-glicose-6-fosfato + ADP *O glicogênio é sintetizado a partir de UDP-glicose. *Muitas das reações pelas quais as hexoses são transformadas ou polimerizadas envolvem nucleotídeos de açúcar , compostos nos quais o carbono anômero do açúcar é ativado pela união a um nucleotídeo por meio de uma ligação éster de fosfato. Os nucleotídeos de açúcar são os substratos para a polimerização de monossacarídeos em dissacarídeos, glicogênio, amido, celulose e polissacarídeos extracelulares mais complexos. *Para iniciar a síntese do glicogênio, a glicose-6-fosfato é convertida em glicose-1-fosfato na reação da fosfoglicomutase . glicose-6-fosfato ⇆ glicose-1-fosfato *O produto desta reação é convertido em UDP-glicose pela ação da UDP-glicose-pirofosforilase, em uma etapa fundamental da biossíntese do glicogênio. glicose-1-fosfato + UTP → UDP-glicose + PPi *A condensação de um nucleosídeo-trifosfato com uma hexose-1-fosfato para formar um nucleotídeo de açúcar liberaPPi, que é rapidamente hidrolisado pela pirofosfatase inorgânica, tornando sua formação metabolicamente irreversível, contribuindo para a irreversibilidade das vias biossintéticas em que são intermediários . *Na célula, a reação ocorre no sentido da formação da UDP-glicose, porque o pirofosfato é hidrolisado rapidamente pela pirofosfatase inorgânica. *A glicogenina é ao mesmo tempo o iniciador, sobre o qual são montadas novas cadeias, e a enzima que catalisa essa montagem de glicogênio (ligações AUTOcatalíticas). *A primeira etapa na síntese de uma nova molécula de glicogênio é a transferência de um resíduo de glicose da UDP-glicose para o grupo hidroxil da Tyr194 (aminoácido aromático, tirosina) da glicogenina, catalisada pela atividade glicosil-transferase intrínseca da proteína. *A cadeia nascente se alonga pela adição sequencial de mais sete resíduos de glicose, cada um derivado de uma UDP-glicose; as reações são catalisadas pela atividade de extensão de cadeia da glicogenina. Neste ponto, a glicogênio-sintase age, alongando ainda mais a cadeia de glicogênio. *A glicogenina permanece escondida dentro da partícula b, unida covalentemente à única extremidade redutora da molécula de glicogênio. *A UDP-glicose é o doador imediato dos resíduos de glicose na reação catalisada pela glicogênio-sintase. *A glicogênio-sintase não pode formar as ligações (a1→6) encontradas nos pontos de ramificação do glicogênio, as quais são formadas pela enzima de ramificação, também chamada de amilo (a1→4) a (a1→6) transglicosilase, ou glicosil-(4→6)-transferase. A enzima de ramificação do glicogênio catalisa a transferência de um fragmento terminal de 6 a 7 resíduos de glicose da extremidade não redutora de uma ramificação de glicogênio, contendo pelo menos 11 resíduos, para o grupo hidroxil C-6 de um resíduo de glicose em uma posição mais interna da mesma ou de outra cadeia de glicogênio , criando assim uma nova ramificação. *Resíduos adicionais de glicose podem ser ligados à nova ramificação pela glicogênio-sintase. *O efeito biológico da ramificação é tornar a molécula mais solúvel e aumentar o número de sítios acessíveis à glicogênio-fosforilase e à glicogênio-sintase, as quais agem somente nas extremidades não redutoras. ● Glicogenólise *Glicogênio → glicose-1-fosfato. *3 etapas. ➢ 1ª ETAPA *No músculo esquelético e no fígado, as unidades de glicose das ramificações externas do glicogênio entram na via glicolítica pela ação de três enzimas: glicogênio-fosforilase, enzima de desramificação do glicogênio e fosfoglicomutase . *A glicogênio-fosforilase catalisa a reação na qual uma ligação glicosídica (a1→4) entre dois resíduos de glicose em uma extremidade não redutora do glicogênio é atacada por um fosfato inorgânico (Pi), removendo o resíduo terminal na forma de a-D-glicose-1-fosfato. *Na fosforólise , parte da energia da ligação glicosídica é preservada pela formação do éster de fosfato, glicose-1-fosfato. *Este processo é repetitivo; a enzima remove sucessivos resíduos de glicose até que alcance a quarta unidade de glicose antes de um ponto de ramificação (a1→6), onde interrompe sua ação. *A degradação pela glicogênio-fosforilase continua somente depois que a enzima de desramificação, conhecida formalmente como oligo (a1→6) a (a1→4) glican-transferase, catalisa duas reações sucessivas que removem as ramificações. *Logo que as ramificações são removidas e o resíduo glicosil na posição C-6 é hidrolisado, a atividade da glicogênio-fosforilase pode continuar. ➢ 2ª ETAPA *A glicose-1-fosfato, o produto final da reação da glicogênio-fosforilase, é convertida em glicose-6-fosfato pela fosfoglicomutase, que catalisa a reação reversível. glicose-1-fosfato ⇆ glicose-6-fosfato *A enzima, inicialmente fosforilada em um resíduo de Ser (aminoácido fosforilado no sítio ativo), doa um grupo fosforil ao C-6 do substrato e aceita um grupo fosforil do C-1, restaurando a fosfoenzima e produzindo glicose-6-fosfato. *A glicose-6-fosfato formada no músculo esquelético a partir do glicogênio pode entrar na glicólise e serve como fonte de energia para a contração muscular. *No fígado, a degradação do glicogênio serve a um propósito diferente: liberar glicose para o sangue quando o nível de glicose sanguínea diminui, como acontece entre as refeições. ➢ 3ª ETAPA *Isso requer a presença da enzima glicose-6-fosfatase (proteína integral da membrana do retículo endoplasmático, com sítio ativo no lúmen do retículo) no fígado e no rim, mas não em outros tecidos. *A glicose-6-fosfato formada no citosol é transportada para o lúmen do retículo por um transportador específico (T1) e hidrolisada na superfície lumenal pela glicose-6-fosfatase. *Os produtos resultantes, Pi e glicose, são transportados de volta para o citosol por dois transportadores diferentes (T2 e T3), e a glicose deixa o hepatócito pelo transportador GLUT2 na membrana plasmática. *O músculo e o tecido adiposo não conseguem converter a glicose-6-fosfato formada pela degradação do glicogênio em glicose, pois não têm a enzima glicose-6-fosfatase; por isso, esses tecidos não fornecem glicose para o sangue. ★ Regulação hormonal do metabolismo do glicogênio *Os ajustes feitos minuto a minuto que mantêm a concentração de glicose sanguínea em cerca de 4,5mM envolvem as ações combinadas da insulina, do glucagon, da adrenalina e do cortisol sobre os processos metabólicos em muitos tecidos corporais, mas especialmente no fígado, no músculo e no tecido adiposo. *A regulação do metabolismo de carboidratos no músculo reflete diferenças em relação ao fígado. Em primeiro lugar, os miócitos não têm receptores para o glucagon . *A insulina sinaliza para esses tecidos que a glicose sanguínea está mais alta do que o necessário; como resultado, as células captam o excesso de glicose do sangue e o convertem em glicogênio e triacilgliceróis. *O glucagon sinaliza que a glicose sanguínea está muito baixa, e os tecidos respondem produzindo glicose pela degradação do glicogênio . *A adrenalina é liberada no sangue para preparar os músculos, os pulmões e o coração para um grande aumento de atividade. *O cortisol é responsável por mediar a resposta corporal a estressores de longa duração . *Essas regulações hormonais serão discutidas no contexto de três estados metabólicos normais – alimentado, em jejum e em inanição. ● Insulina (opõe-se a altos níveis de glicose sanguínea) *Agindo por meio de receptores na membrana plasmática, a o hormônio peptídico insulina estimula a captação da glicose pelos músculos e pelo tecido adiposo, onde a glicose é convertida em glicose-6-fosfato. *No fígado, a insulina também ativa a glicogênio-sintase e inativa a glicogênio-fosforilase, de modo que grande parte da glicose-6-fosfato é canalizada para formar glicogênio. *A secreção de insulina pelas células b (presentes nas ilhotas de Langerhans) é regulada basicamente pelo nível de glicose no sangue que irrigao pâncreas. ● Glucagon (opõe-se a baixos níveis sanguíneos de glicose) *Várias horas após a ingestão de carboidratos, os níveis de glicose sanguínea diminuem levemente devido à oxidação da glicose pelo cérebro e por outros tecidos. A diminuição da glicose sanguínea desencadeia a secreção do hormônio peptídico glucagon e reduz a liberação da insulina. *As células a das ilhotas de Langerhans secretam o glucagon. *O glucagon causa um aumento na concentração sanguínea da glicose de várias maneiras. Como a adrenalina, ele estimula a degradação do glicogênio hepático por ativar a glicogênio-fosforilase e inativar a glicogênio-sintase; ambos os efeitos são o resultado da fosforilação de enzimas reguladas, desencadeada pelo cAMP. *O glucagon inibe, no fígado, a degradação da glicose pela glicólise. *Pela estimulação da degradação do glicogênio, prevenção da glicólise nos hepatócitos, o glucagon permite que o fígado exporte glicose, restaurando seu nível sanguíneo normal. ● Adrenalina *Quando um animal é confrontado com uma situação estressante que requer atividade aumentada – lutar ou fugir, em casos extremos – os sinais neuronais originários do cérebro provocam a liberação da adrenalina e da noradrenalina da medula suprarrenal. Ambos os hormônios dilatam as vias aéreas para facilitar a captação de O2, aumentam a frequência e a força dos batimentos cardíacos, e elevam a pressão arterial, favorecendo o fluxo de O2 e de combustíveis para os tecidos. *A adrenalina age principalmente nos tecidos muscular, adiposo e hepático . Ela ativa a glicogênio-fosforilase e inativa a glicogênio-sintase pela fosforilação, dependente de cAMP, dessas enzimas, estimulando a conversão do glicogênio hepático em glicose sanguínea, o combustível para o trabalho muscular anaeróbio. *Finalmente, a adrenalina estimula a secreção de glucagon e inibe a secreção de insulina, reforçando seu efeito de mobilização de combustíveis e inibição de seu armazenamento. ● Cortisol *Uma grande variedade de agentes estressores (ansiedade, medo, dor, hemorragia, infecção, glicose sanguínea baixa, jejum) estimula a liberação do hormônio corticosteroide cortisol do córtex suprarrenal. *O cortisol age no músculo, no fígado e no tecido adiposo para suprir o organismo com combustível para resistir à situação estressante. *O cortisol é um hormônio de ação relativamente lenta, que altera o metabolismo pela mudança nos tipos e nas quantidades de determinadas enzimas sintetizadas em suas células-alvo, em vez da regulação da atividade de moléculas enzimáticas já existentes. *O efeito líquido dessas alterações metabólicas é a restauração dos níveis normais de glicose sanguínea (gliconeogênese) e o aumento dos estoques de glicogênio , pronto para dar suporte à resposta de luta ou fuga comumente associada ao estresse.