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.(>·_ . t". <� Uz � � �� '� � li ;::J � ·� o� < i .§ � u � 2 t,:) - u :z: 4.IJ - u § Fundação Calouste Gulbenkian George . C. Pimentel QUÍMICA UMA CitNCIA EXPERIMENTAL FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN QUÍMICA-UMA CI�NCIA EXPERIMENTAL George C. Plmentel Nasceu em I 922. Doutorou-se em 1949 pela Universidade de Califórnia em Berkeley, onde é professor de Química. Em 1968 foi-lhe atribuído o Campus Teaching Award at the University of Ca/i fornia, sendo também membro de diver sas Academias científicas. Além dos 160 artigos de investigação e do presente livro do qual assumiu as funções de editor, são de sua autoria as obras: 1ntroductory Quantitative Chemistry, 1956. The Hydrogen Bond, 1960. Understanding Clzemistry, 1971. Vitor Pereira Crespo Nasceu em Dezembro de 1932. Licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Facul dade de Ciências de Coimbra em 1956, obtém em Janeiro de 1962 o grau de "Doctor of Philosophy" pelo "Graduate Council of the Berkeley Division of the University of California", e em Novem bro do mesmo ano o de Doutor em Ciências Ffsico-Qufmicas pela sua Uni versidade de origem. Contratado ime diatamente como 1.0 assistente da Facul dade de Ciências de Coimbra, foi nomeado, depois da prestação das res pectivas provas, professor extraordinário (1966) e professor catedrático (1968) da mesma Faculdade. De Outubro de 1966 a Dezembro de 1971, encontra-se, em comissão de Serviço, na Universidade de Lourenço Marques, de que vem a ser nomeado Reitor em 1970, cargo que desempenhou até ser chamado a exercer, em Janeiro de 1972, as funções de Director Geral do Ensino Superior. Apresentou comunicações em diversos congressos c reuniões cientificas, é mem bro da Sociedade Portuguesa de Ffsica e Qufmica, da "A m e r i c a n C h e m i c al Society" da "American Physical Society" e da " Society of the Sigma Xi". É ainda autor de valiosa bibliografia da sua espe cialidade dispersa por revistas nacionais e estrangeiras. Joio E. Slmlo Nasceu em 1929. Licenciou-se em C. Físi eo-Qufmicas pela Universidade de Coim bra em 1959 e doutorou-se em Qufmica Flsica pela Universidade de Bonn em 1967. Em 1969 obteve o grau de doutor em Qufmicn pela Universidade de Coim bra, onde fora assistente de f 960 a 1963. De 1967 a f 970 desempenhou essas fun ções na Universidade de Lourenço Mar ques. Desde f 970 é professor auxiliar de Qufmica na Universidade de Coimbra. Edições da F U N DA Ç Ã O CALOUSTE GULBENKIAN Manuais Universitários 66 volumes publicados Próximas publicações: Economia - Uma análise introdutória, 11 vol.- P. Samuelson. História da Língua Alemã-P. von Polenz. A Obra de Arte Literária - R. Ingarden. Textos Clássicos 6 volumes publicados Próxima publicação: Princípios de Economia Política e dt Tributação - David Ricardo. Cultura Portugues; 3 volumes publicados Próximas publicações: Obra c o m p l e t a de Delfim Santo1 li volume. Obras Completas do Condestável Do1 Pedro - Luis Fonseca. capa de Sebastião Rodrigues QUADRO PERIÓDICO .r... •· - --,__.. !.t!"'""'·"""' �.. . 1 • .. - .. ... -- . ..... -- ·- . - ..... .... .. - .. ..... - .. � ... . .-.; Os fJalores entre parênteses são os números de massa dos isótopos de semi-período mais longo. PESOS ATÓMICOS INTERNACIONAIS * NÚMEl(Q PESO NÚMERO PESO NOME S(MDOLO ATÓMICO ATÓMICO NOME SÍMBOLO ATÓMICO ATÓMICO Actínio A c 89 (227) Lantânio La 57 138,9 Alumínio Al 13 27,0 Laurêncio Lw 103 (257) Amerício Am 95 (243} Lítio Li 3 6,94 Antimónio Sb 51 121,8 Lutécio Lu 71 175,0 Argon Ar 18 39,9 Magnésio Mg 12 24,3 Arsénio As 33 74,9 Manganésio Mn 25 54,9 Astato At 85 (210) Mendelévio Md 101 (256} Bário Ba 56 137,3 Mercúrio Hg 80 200,6 Berílio Be 4 9,01 Molibdénio Mo 42 95,9 Berkélio Bk 97 245 Neodímio Nd 60 144,2 Bismuto Bi 83 209,0 Néon Ne 10 20,2 Boro B 5 10,8 Neptúnio Np 93 {237) Bromo Br 35 79,9 Nióbio Nb 41 92,9 Cádmio Cd 48 112/• Níquel Ni 28 58,7 Cálcio C a 20 40,1 Nitrogénio N 7 14,01 Califórnio Cf 98 (251) Nobélio No 102 {253) Carbono c 6 12,01 Ósmio Os 76 190,2 Cério Ce · 58 140,1 Ouro Au 79 197,0 Césio Cs · 55 132,9 Oxigénio o 8 16,00 Chumbo Pb 82 207,2 Paládio Pd 46 106,4 Cloro Cl 17 35,5 Platina Pt 78 195,1 Cobalto C o 27 : 58,9 Plutónio Pu 94 {242} Cobre Cu 29 63,5 Polónio Po 84 210 Crípton Kr 36 . 83,8 Potássio K 19 39,1 Crómio C r 24 . 52 o Praseodímio · Pr 59 140,9 Curchatóvio Ku. 104 (261) Prata Ag 47 107,9 Cúrio Cm 96 {247) Promécio Pm 61 (147) Disprósio Dy 66 162,5 Protactínio Pa 91 (231} Einsteínio Es 99 (254} Rádio R a 88 (226} Enxofre s 16 32,1' Rádon Rn 86 (222) Érbio E r 68 167,3 Rénio R e 75 186,2 Escândio Se 21 45,0 Ródio R h 45 102,9 Estanho Sn. 50 118,7 Rubidio Rb 37 85,5 Estrôncio Sr 38 87,6 Ruténio Ru 44 101,1 Európio Eu 63 152,0 Samário Sm 62 '150,4 Férmio Fm 100 (253} Selénio Se 34 79,0 Ferro Fe 26 55,8 Silício Si 14 28,1 Flúor F 9 19,0 Sódio Na 11 23,0 Fósforo p 15 31,0 Tálio TI 81 204,4 Frâncio Fr 87 (223} Tântalo Ta 73 180,9 Gadolínio Gd 64 157,3 Tecnécio Te 43 (99) Gálio Ga 31 69,7 Telúrio Te 52 127,6 Germânio Ge 32 72,6 Térbio Tb 65 158,9 Háfnio Hf 72 178,5 Titânio Ti 22 47,9 Hânio H a 105 {262) Tório Th 90 232,0 Hélio H e 2 4,00 Túlio Tm 69 168,9 Hidrogénio H 1 1,008 Tungsténio w 74 183,9 Hólmio H o 67 164,9 Urânio u 92 238,0 1ndio ln 49 114,8 Vanádio v 23 50,9 Iodo I 53 126,9 Xénon X e 54 131,3 Irídio Ir 77 192,2 Itérbio Yb 70 173,0 Zinco Zn 30 65,4 1trio y 39 88,9 Zircónio Zr 40 91,2 Os números entre parênteses referem-se aos elementos radioactivos. Representam normalmente o número de massa (não o peso atómico) do isótopo de maior: vida média. * Últimos valores recomendados pela União Internacional de Química Pura e Apli- cada (I. U. P. A. C.), 1961. .. QUÍMICA UMA CI�NCIA EXPERIMENTAL GEORGE C. PIMENTEL QUÍMICA UMA CIÊNCIA EXPERIMENTAL Tradução de VÍTOR P. CRESPO Com a colaboração de JOÃO E. SIMÃO FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN I LISBOA From CHEMISTRY AN EXPERIMENTAL SCIENCE Editor: George C. Pimentel Professor of Chemistry University of California, Berkeley Produced by The Chemical Education Material Study Copyright by the Regents of the University of California AI! rights reserved Original edition in English by W. H. Freeman & Co. San Francisco, California Portuguese edition by Fundação Calouste Gulbenkian Lisboa Reservados todos os direitos de harmonia. com o. lei Edição da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Av. de Berna 1 Lisboa RESPONSÁVEIS PELA EDIÇÃO INGLESA Editor: GEORGE C. PIMENTEL, University of California, Berkeley, California Editores associados BRUCE H. MAHAN, University of California, Berkeley, California A. L. McCLELLAN, California Research Corporation, Richmond, California KEITH MacNAB, Sir Francis Drake High School, San Anselmo, California MARGARET NICHOLSON, Acalanes High School, Lafayette, California Colaboradores ROBERT F. CAMPBELL Miramonte High Schoo/, Orinda, Ca/ifornia JOSEPH E. DAVIS, JR. A,firamonte High School, Orinda, Califomia SAUL L. GEFFNER Fores/ Hi/ls High School, Fores/ Hills, New York THEODORE A. GEISSMAN University of California, Los Angeles, Ca/ifomia MELVIN GREENSTADT Fairfax High Se/too/, Los Angeles, Ca/ifomia CARL GRUHN South Pasadena High School, South Pasadena, Ca/i[ornia EDWARD L. HAENISCH T-Jiabash College, Crawfordsville, Indimza ROLFE H. HERBER Rutgers University, New Brunswick, New Jersey C. ROBERT HURLEY Sacramento State College, Sacramento, California LAWRENCE D. LYNCH, JR. Beverly Hil/s High Se/too/, Bever/y Hi//s, Ca/i{omia LLOYD E. MALM University o[ Utah,Salt Lake City, Utah CLYDE E. PARRISH Cubberley Senior High Schoo/, PaiJ Alto, California ROBERT W. PARRY University of Michigan, Amt Arbor, Michigan EUGENE ROBERTS Polytechnic High School, San Francisco, Cali[ornia MICHELL J. SIENKO ComeU University, Itltaca, New York ROBERT SILBER American Chemica/ Society, Washington, D. C. HARLEY L. SORENSEN San Ramon Va/ley Union High Se/soo/, Danville, California LUKE E. STEINER Ober/in College, Oberlin, Ohio MODDIE D. TAYLOR Howard University, Washington, D.C. ROBERT L. TELLEFSEN Napa High School, Napa, California Director: J. ARTHUR CAMPBELL, Harvey Mudd College, Claremont, California Presidente: GLENN T. SEABORG, UniYersity of California, Berkeley, California PREFÁCIO A Química ocupa-se de todas as substâncias que constituem o mundo que nos rodeia. Trata também das transformações que nelas se verificam- transformações que estabelecem a diferença entre um planeta frio e inanimado e um outro pleno de vida e crescimento. A Química ajuda-nos a compreender os caminhos maravilhosos da natureza e a tirar benefício deles. A Química é uma parte importante daquilo a que chamamos Ciencia. Já que todas as fases da nossa vida diária são afectadas pelos frutos da actividade científica, todos nós devíamos saber o que é essa actividade, o que ela pode fazer e como o faz. O estudo da Química ensinar-nos-á estas coisas. QUÍMICA- Uma Ciência Experimental apresenta-nos a Química tal como ela é hoje. E fá-lo pondo em realce a sua parte mais inte ressante: a experiência. Os princípios unificadores são desenvolvidos tendo por base o trabalho laboratorial, como é próprio dum moderno curso de Química. Uma vez familiarizados com estes princípios de larga aplicação, nunca mais teremos necessidade da infindável memo rização de inúmeros dados químicos. Ver como estes princípios vão surgindo das observações feitas no laboratório, dá-nos uma imagem válida da maneira como todos os avanços científicos começam. Isto permite-nos a entrega à actividade científica, tornando-nos, assim, até certo ponto, cientistas. Ao chegarmos ao fim do curso não saberemos tudo acerca da Química, mas esperamos saber química suficiente, e o bastante sobre ciência, para sentir que a parte que não sabemos é compreensível e não misteriosa. Talvez apreciemos o grande poder dos métodos cien tíficos e avaliemos as suas limitações. Esperamos ter-nÓs habituado a fazer observações inesperadas, a pesar os factos e a formular conclusões válidas. Teremos adquirido o hábito de inquirir e de procurar perceber, em vez de ficarmos satisfeitos com a aceitação cega de asserções dogmá ticas. Esperamos que o leitor ficará contagiado pelo entusiasmo da ciência e sentirá o inesquecível prazer que provém da descoberta. Se a maior parte destas nossas esperanças se realizarem, o leitor terá tido, através da Química, uma óptima introdução à ciência. Nada poderia contribuir mais decisivamente para a sua formação numa época em que a ciência está a modelar toda a nossa vida. Janeiro, 1963 IX GEORGE C. PIMENTEL Editor para o Chemical Education Material Study PRÓLOGO Este livro foi preparado, durante um período de três anos, por um gr�po de professores de Química da Universidade e do Ensino Médio, sob o patrocínio da National Science Foundation. O projecto, chamado CHEM Study, foi organizado e orientado, em grandes linhas, por uma Comissão Directiva formada por professores de renome nacional e cientistas proeminentes nos vários domínios da Química. Esta Comissão Directiva, presidida por Glenn T. Seaborg, Prémio Nobel, procurou atrair para este estudo os cientistas universitários e os pro fessores mais capazes do País. Os professores universitários foram seleccionados em todos os Estados Unidos, tendo por base os seus demonstrados conhecimentos científicos e o reconhecido domínio no campo do ensino. Os nomes dos colaboradores deste texto já aparecem em mais de uma dúzia de compêndios de nível pré-uni versitário largamente aceites. Foram também convidados como cola boradores outros tantos qualificados professores de Química, todos eles escolhidos individualmente com base nas entusiásticas recomen dações dos seus colegas. Estes professores participaram em todas as fases da preparação deste curso. O esforço de todas estas pessoas altamente qualificadas, totalizando mais de quinze anos-homem, está condensado no CHEM Study. A National Science Foundation é digna de louvores por tornar possíveis tais actividades; nunca, antes, fora congregada igual força de talento para fazer um curso de Química de nível secundário. O compêndio, QUÍMICA- Uma Ciência Experimental, foi pla neado para ser um curso de introdução à Química no ensino secun dário e está intimamente ligado ao Manual de Laboratório, que o acompanha, e a um conjunto de filmes apropriados. Fez-se também um Guia do Professor explicativo para ajudar os professores a fami liarizarem-se com o curso. As primeiras edições do texto e do Manual de Laboratório, escritas durante o verão de 1960, foram usadas no curso de 1960-1961 em 23 escolas e um colégio por cerca de 1 300 estu dantes. Durante este primeiro ano manteve-se contacto semanal com os professores pioneiros. Com base na experiência colhida, as matérias foram revistas durante o verão de 1961 e escreveu-se o Guia do Professor. Esta segunda edição foi seguida em 123 escolas e três colégios, espa lhados por todo o País, atingindo cerca de 13 000 estudantes. Mais uma vez a experiência colhida ditou a terceira e final revisão. O curso, essencialmente na forma apresentada aqui, foi usado em 1962-1963 em 560 liceus de 46 Estados por uns 45 000 estudantes escolhidos ao acaso. O seu valor didáctico ficou a:s:segurauo. O título, QUÍMICA- Uma Ciência Experimental, define o tema deste curso de um ano. Começa-se por apresentar, com todo o cuidado, XI XII uma imagem clara e válida dos passos pelos quais a ciência progride, imagem que depois vai ser usada muitas vezes. As observações e medidas experimentais levam ao desenvolvimento dos princípios unificadores e, depois, usam-se estes princípios para relacionar entre si fenómenos diversos. Dá-se particular ênfase ao trabalho laborato rial, de forma a poderem extrair-se os princípios químicos directamente das experiências dos estudantes. Com isto, não só se dá uma visão correcta e não autoritária da origem dos princípios químicos, como também se concede a máxima oportunidade para a descoberta, que é a parte mais excitante da actividade científica. Os temas experimentais são apoiados por um conjunto de filmes, que proporcionam as provas experimentais necessárias, quando estas não estão fàcilmente à mão na aula, em virtude do perigo inerente, da sua raridade, ou do seu custo. O conjunto inicial de experiências e os primeiros capítulos do texto estabelecem os fundamentos do curso. Expõem-se, imediata mente a seguir, os elementos da actividade científica, incluindo o papel da incerteza. Vêm, depois, a . teoria atómica, a natureza da matéria nas suas várias fases e o conceito de mole. Seguidamente, dedica-se uma extensa parte do curso à dedução de princípios químicos importantes a partir de experiências laboratoriais apropriadas. Os prin cípios considerados incluem: energia, velocidade e características de equilíbrio das reacções químicas, periodicidade química e ligação quí mica em gases, líquidos e sólidos. O curso conclui com alguns capítulos de química descritiva, em que o valor e a aplicabilidade dos princípios químicos, antes deduzidos, são repetidamente confirmados. Há bastantes diferenças entre este curso e os cursos mais tradi cionais. As mais evidentes são, sem dúvida, as que resultam de termos de deslocar a ênfase da química descritiva para os princípios químicm;,a fim de podermos apresentar, de forma apropriada, a transformação da Química verificada ao longo das últimas duas décadas. Esta recons trução de todo o curso fornece, naturalmente, uma oportunidade única para fazer desaparecer a terminologia obsoleta e as matérias desadap tadas. Menos evidente, mas talvez mais importante, é o desenvolvi mento sistemático da afinidade entre a experiência e a teoria. Procurou-se abrir a Química gradual e logicamente e não apresentá-la como uma colecção de factos, sentenças e dogmas. Esperamos trans mitir o conhecimento do significado e das capacidades da actividade científica, que ajudará o futuro cidadão a avaliar, calma e sàbiamente, o crescente impacto dos avanços tecnológicos no seu ambiente social. Finalmente, pugnámos por uma interligação mais íntima de matérias e pedagogia entre os cursos das escolas secundárias e os modernos cursos de Química, com vista àqueles estudantes que irão continuar o seu treino científico. Cremos que o curso CHEJI1 Study alcança os objectivos que nos propusemos. A experiência demonstrou que o curso é interessante, dentro da compreensão do estudante médio do ensino secundário, e que ele incita e estimula os alunos melhor dotados. O seu conteúdo XIII proporciona uma base sólida para o estudante universitário. Uma pergunta surge inevitàvelmente: <<Este curso é melhor do que (ou tão bom como) o tradicional?>>. Não se encontra fàcilmente uma resposta em provas comparativas. Um estudante do CHEM Study pode estar em desvantagem numa prova que ponha pouca ênfase em princípios, que esteja carregada de perguntas descritivas memo rizadas, ou que empregue termos obsoletos. Ao contrário, uma prova gizada especificamente para o moderno conteúdo do CHEM Study redundaria certamente em prejuízo do estudante de preparação tradi cional. A questão não pode ser completamente resolvida «com objectivi dade>> porque, em última análise, nela estão implicados juízos de valor. Se os objectivos do CHEM Study são válidos ou não, e se o seu método é lógico, isso deve ser decidido tendo na devida conta a experiência dos professores e as credenciais dos que desenvolveram as matérias. Por inúmeras razões o CHEM Study está reconhecido à Univer sidade da Califórnia e ao Harvey Mudd College pela concessão de facilidades, de pessoal e de apoio. Agradecemos o estímulo e o apoio que recebemos da National Science Foundation. Finalmente, a equipa de redacção sente-se profundamente grata a quantos contribuíram, de forma tão enérgica e entusiástica, para a preparação das matérias do CHEM Study. Estamos gratos à Comissão Directiva pela sua valiosa e benéfica orientação. Agradecemos aos colaboradores, cujos nomes aparecem no início deste livro, a dedicação, o interesse e os largos talentos para este esforço. Reconhecemos especialmente os papéis chave de Mr. Joseph Davis, Mr. Saul Geffner, Mr. Keith MacNab, Miss Margareth Nicholson e Mr. Harley Sorensen. Estas individuali dades não só usaram as matérias do CHEM Study nas suas aulas, como também foram continuamente membros da equipa. O seu contributo e as suas críticas aumentaram grandemente o valor didác tico do curso CHEM Study. Agradecemos aos professores, e foram muitos, que utilizaram as edições experimentais nas suas aulas; o seu exame cuiqadoso do texto e do Manual de Laboratório, bem como as muitas e valiosas sugestões, forneceram uma base firme para as rev1soes. Por fim, agradecemos aos inúmeros estudantes que traba lharam com as versões experimentais do CHEJI!I Study. Todas as suas reacções- desgosto ou prazer, entusiasmo ou tédio, centelha ou apatia - foram anotadas e ajudaram a melhorar o curso. J. ARTHUR CAMPBELL Director, Chemical Education Material · Study Harvey Mudd College GEORGE C. PIM:ENTEL Editor, Compêndio University of California Berkeley, Califórnia Janeiro, 1963 LLOYD E. MALM Editor, Manual de Laboratório University of Utah A. L. MC CLELLAN Editor, Guia do Professor California Research Corporation DAVID RIDGWAY Produtor, Filmes AGRADECIMENTOS· As citações que aparecem nas pagmas abaixo indicadas foram extraídas, com a devida autorização, das seguintes fontes: Página 1 History of Science, W. Dampier. New York: Cambridge University Press, 1949. 25 Principia, Isaac Newton. Tradução de Mott revista por F. Cajori. Berkeley: University of California Press, 1934, pág. 673. 55 New Systems of Chemical Philosophy, John Dalton. Manchester, Inglaterra, 1810. 71 Readings in the Literature of Science, W. C. Dampier and M. Dampier. New York: Harper and Row, 1959, pág. 100. 94 Solutions, W. Ostwald. London: Longmans, Green and Co., 1891. 123 Comunicação de J. A. R. Newlands, Chemical News, Vol. 10, 1864, pág. 94. 157 Chemical Thermodynamics, A Course of Study, Frederik T. Wall. San Francisco: W. H. Freeman and Company, 1958, pág. 2. 181 O Deslocamento Para o Equilíbrio, H. Eyring, de Science in Progress, quarta série, editado por G. A. Baitsell, New Haven: Yale University Press, 1945, pág. 169. 206 Thermodynamics, G. N. Lewis and M. Randall. New York: McGraw ·Hill Book Co., Inc. , 1923, pág. 18. 239 Solubility of Non-electrolytes, J. H. Hildebrand. New York: Reinhold Publishing Corp., 1936, pág. 13. 262 Elements of Chemistry, A. Lavoisier. New York, 1806, pág. 14. 293 Previsões e Especulação em Química, W. M. Latimer, Chemical and Engineering News, Vol. 31, 1953, pág. 3366. 331 Textboook of Quantitati11e Inc·rganic Analysis, I. M. Kolthoff and E. B. SandeU. New York: Macmillan, 1936, pág. 2. 344 The Rise of Scientific Philosophy, Hans Reichenbach. Berkeley: Uni versity of California Press, 1956, pág. 168. 371 Valence, C. A. Coulson. New York: Oxford University Press, 1961, pág. 3. 403 Chemical Analysis by lnfrared, Bryce Crawford, Jr . . New York: Scientific American, Out. 1953. 441 The Nature of the Chemical Bond, L. Pauling. Ithaca: Cornell Univer sity Press, 1939, pág. 422. 470 Les Prix Nobel, 1947, alocução Nobel por R. Robinson. Stockholm: Norstedt and Soner, 1947, pág. 110. 617 Da Química Quântica à Bioquímica Quântica, Alberte Pullman and Bernard Pullman, in Albert Szent-Gyoergyi and Modern Biochemistry, XV XVI editado por René Wurmser. Paris: Institute of Biology, Physics, Chemistry, 1962. 639 Origem da vida, J. B. S. Haldane, in The Earth and Its Atmosphere, editado por D. R. Bates. New York: Basic Books, Inc., 1960. As seguintes fotografias foram utilizadas com autorização das fontes indi cadas. Fron tespicio Página ? 7 7 70 136 156 205 292 A Química duma vela acesa, por Bernard Abramson. Fusão do gelo, por Ross H. McGregor. Fusão do alumínio, cortesia de Aluminum Corporation of America. Fusão da solda, por Charles L. Finance. G. N. Lewis, cortesia de Hagemeyer Collection, Bancroft Library, University of California. Cortando o potássio, por Charles L. Finance. D. Mendeleev, cortesia da Universidade de Leninegrado. H. Eyring, cortesia de H. Eyring. S. Arrhenius, cortesia de The Bettmann Archive. 440 . L. Pauling, cortesia de The California Institute of Technology. 454 Silicatos em cadeia, por Charles L. Finance. 458 Cristais de cloreto de sódio, por Charles L. Finance. 468 P. Debye, cortesia da Cornell University. 5'15 R. Robinson, cortesia de Canadian Industries Limited. 566 A. Stock, cortesia de The American Chemical Society. 616 G. T. Seaborg, cortesia de California Research Corporation, Richmond Laboratory, Richmond, California. 638 R. B. Woodward, cortesia de The American Chemical Society. Estampas Elementos e compostos, por Charles L. Finance. II Cores dos indicadores, por Charles L. Finance. II I Espectrógrafo, por Charles L. Finance. ,. A QUÍ.tlfiCA DUMA VELA ACESACapítulo 1 QUÍMICA: UMA CI:ÍTINCIA EXPERIMENTAL . .. As ciências que não nascem, da experiência, a mãe de toda a certeza, são vãs e cheias de erros . . . LEONARDO DA VINCI, 1452-1519 Muitas palavras se têm dito e escrito em resposta às perguntas : <<Qual é a natureza do estudo científico ?>> <<Qual é a natureza da química ?>> Procuraremos encontrar as respostas neste curso não apenas por meio de palavras, mas à custa de experiências. Ninguém pode descrever completamente por meio de palavras a excitação e o interesse da descoberta cientifica. Por isso veremos a natureza da ciência, entre gando-nos a uma actividade científica. Veremos a natureza da química, considerando problemas que interessam aos químicos. O nosso ponto de partida basear-se-á mais em exemplos das acti vidades da ciência do que em definições. Realizaremos essas actividades, começando por assuntos familiares. Em tais assuntos, em que já conhecemos a resposta, veremos melhor as fases através das quais a ciência progride. 1.1 As actividades da ciência Toda a forma de vida <<sente>> o seu ambiente de uma maneira ou de outra. Em resposta a esta sensação, ela comporta-se de acordo com um processo determinado que tende a prolongar a sua existência. Uma árvore é iluminada pelo sol matinal. Como reacção, as folhas da árvore voltam-se, nos seus pecíolos, de forma a apresen tarem toda a sua superfície à luz. Este movimento faz com que elas interceptem mais luz, fonte de energia que move a espantosa fábrica química accionada pela árvore. A árvore cresce. 1 2 Um urso sente que o Verão acabou - talvez pelo comprimento do dia ou pela cor das folhas de Outono, talvez por determinado alma naque ursino que os homens não podem ler. Como reacção, procura um canto onde durma uma soneca ao longo de todo o Inverno. Durante esta hibernação, a pressão sanguínea e a temperatura do corpo baixam, a digestão pára. O urso usa o mínimo de energia necessário para permanecer vivo. Não é coincidência que isto ocorra durante a estação em que é mais difícil encontrar alimento e em que o tempo é insu porUtvel. De todos os seres vi,·os, o homem é quem sente o seu ambiente e a ele reage da maneira mais complexa. É o mais curioso dos animais. Por meio do seu intelecto usa os sentidos com maior eficiência do que o antílope que foge do leão à espreita. Desenvolveu a capacidade de comunicação muito para além do grasnar de aviso de um pato-sentinela ou da chamada de acasalamento do alce solitário. O intelecto do homem, juntamente com a sua capacidade comunicativa, permitem-lhe reagir ao meio de maneira singularmente benéfica. Acumula infor mações sobre o seu ambiente, organiza estas informações, procura regularidades nelas, pergunta a si próprio porque é que as regularidades existem e transmite as suas descobertas à geração seguinte. São estas as actividades básicas da ciência : acumular informações por meio de observação ; organizar estas informações e procurar nelas regularidades ; perguntar a si próprio porque é que as regularidades existem ; comunicar a outros as descobertas. Assim as actividades da ciência começam com a observação. A observação é mais útil quando as condições que a afectam são cuida dosamente verificadas. Uma condição é verificada quando é fixa, conhecida e pode ser modificada deliberadamente, se o desejarmos. Esta verificação é obtida da melhor maneira num local especial - num laboratório. Quando a observação é feita debaixo de cuidadosa veri ficação, dignificamo-la com um nome especial- uma sequência (Jeri ficada de obser(Jações é uma experiência. Toda a ciência se constrói sobre os resultados da experiência. 1.1.1 Observação e descrição Cada um de nós se julga um bom observador. Todavia, para uma boa observação não basta o simples olhar. É preciso concentração, um sentido de alerta ao pormenor, engenho e, muitas vezes, simples mente paciência. É mesmo preciso prática! Consideremos um exemplo da nossa própria experiência. Pensemos quanto podemos escrever acerca de um objecto tão familiar como uma vela a arder! Evidentemente, é necessária uma observação cuidadosa - uma experiência cuidadosa. I sto significa que a vela deve ser observada num laboratório, isto é, num lugar onde as condições podem ser (Jerificadas. Mas como podemos 3 saber quais as condições que necessitam de ser verificadas? Prepa remo-nos para surpresas! Por vezes as condições importantes são difíceis de descobrir. Eis aqui algumas condições que são importantes em algumas experiências, mas não são importantes neste caso : A experiência é feita no segundo andar. A experiência é feita durante o dia. As luzes da sala estão acesas. Aqui estão algumas condições que poderão ser importantes neste caso: A mesa do laboratório está próximo da porta. As janelas estão abertas. O experimentador encontra-se tão próximo da vela que a sua respiração a atinge. Fig. 1.1 Um cientista faz observações cuidadosas. Porque é que estas condições são importantes ? Têm alguma coisa de comum ? Sim, há o factor comum de que a vela não arde de maneira normal numa corrente de ar. As condições são importantes porque influenciam os resultados da experiência. As condições importantes muitas vezes não se reconhecem tão fàcilmente como estas. Um bom experimentador presta muita atenção à descoberta de condições que devem ser verificadas. O seu êxito é muitas vezes determinado pela sua capacidade em verificá-las. Rever a descrição que cada um de vós fez da vela a arder e compará-la com a qua se encontra no Apêndice 1 . Quantas das vossas observações se incluem lá? Quantas das enumeradas no Apên dice não existem na vossa descrição ? V e mos que a vela a arder é um objecto complicado e fascinante, quando sujeito a obserçação cuidadosa e descrição pormenorizada. 1.1.2 A procura de regularidades A observação leva-nos inevitàvelmente a fazer perguntas. Uma das primeiras perguntas que geralmente se faz é : <<Que regularidades aparecem>> ? A descoberta de regularidades permite uma simplificação 4 das observações. E, em vez de cada observação permanecer isolada, podem classificar-se conjuntamente várias observações e assim é possível utilizá -las de forma mais eficiente. Devemos estar alerta aos perigos que existem na procura de regularidades. A procura é cheia de meandros e, muitas vezes, toma-se um caminho errado. É inerente à exploração do desconhecido o facto de nem todos os passos representarem um avanço. Todavia, não há outra maneira de avançar senão dando passos. A maneira como a pesquisa prossegue pode ver-se melhor na seguinte fábula. O desenvolvimento de um exemplo tão claro pode ajudar-nos a ver como o cientista procura as regularidades. Fábula: Uma criança perdida que procura aquecer-se Era uma vez uma criancinha que se perdeu. Como o tempo estava frio , decidiu juntar objectos para fazer uma fogueira. À medida que os ia trazendo para o local da fogueira, descobriu que alguns ardiam e outros não. Para evitar trazer substâncias sem utilidade, a criança começou a tomar nota dos objectos que ardiam e dos que não ardiam. (Organizou as suas informações). Depois de algumas excursões, a sua lista continha as informações indicadas na Tabela 1-1. Tabela ]-]. I N F L A l\1 A B I L I D A D E ARDEM Ramos de árvores Paus de vassoura Lápis Pernas de cadeira Paus de bandeira NÃO ARDEM Rochas Amoras Mármores Pisa-papéis Esta organização das informações era uma verdadeira ajuda nas suas diligências para conseguir aquecimento. Todavia, à medida que os ramos de árvores e os paus de vassoura iam rareando, a criança pro curou encontrar uma regularidade que a guiasse para novos materiais combustíveis. Observando a pilha de objectos que não ardiam e comparando-a coma pilha de objectos que ardiam, a criança veri ficou o aparecimento duma regularidade. Propôs então uma <<generali zação>> possível. Talvez: <<Os objectos cilíndricos ardem>>. Este é um dos processos lógicos elementares por meio dos quais se sistematizam as informações recolhidas. É chamado raciocínio indutii.Jo e significa que se cri a uma regra geral tendo como base uma série de obseri.Jações indii.Jiduais (ou <<factos>>). Para que serve o processo indu tivo ? É uma maneira eficiente de recordarmos as observações feitas. 5 No dia seguinte , a criança saíu à procura de materiais combus tíveis, mas esqueceu-se de levar a lista. Lembrava-se contudo da generalização a que chegara. Po r iss o voltou ao acampamento arras tando um ramo de árvore, uma bengala velha e três bastões de baseball (previsões bem sucedidas!) . Mais ainda, verificou com prazer que se não tinha dado ao trabalho de trazer alguns outros objectos : um radiador de automóvel, um bocado de uma corrente e uma porta grande. Uma vez que estes objectos não eram cilíndricos, não havia razão para esperar que ardessem. Sem dúvida que pode objectar-se que esta generalização não é realmente verdadeira! Mas muito pelo contrário! A generalização afirma uma regularidade descoberta entre todas as observações exis tentes; e, contanto que as observações sejam restritas aos objectos da lista, a generalização é aplicável. Uma generalização é de confiança dentro dos limites definidos pelas experiências que levaram ao estabe lecimento da regra. Contanto que nos limitemos aos objectos da Tabela 1- I (juntamente com bengalas e bastões de baseball) é certa mente verdadeiro que todos os objectos cilíndricos ardem! Fig. 1.2 Os objectos cilíndricos ardem. Devido ao êxito das suas previsões, a criança ganhou confiança na generalização feita. No dia seguinte, deixou deliberadamente a lista no acampamento. Desta vez, com a ajuda da regra, voltou muito carregada com três bocados dum cano, duas garrafas de <<ginger ale>> e o eixo de um carro velho, rejeitando uma enorme caixa de cartão cheia de jornais. Durante a longa e fria noite que se seguiu chegou a estas conclusões : 1- A forma cilíndrica de um objecto combustível pode não estar, afinal, intimamente associada à sua capacidade de arder. 2 - Muito embora a regra <<cilíndrica>> deixasse de ser útil, é certo que ardem os rumos de úrvorcs, os paus de vassoura, 015 lápis e 015 ouLrol5 materiais combustíveis da Tabela 1 - I . 3 - Será melhor levar a lista amanhã. 6 Mas, reflectindo sobre a lista toda, descobriu uma noça regula ridade que satisfazia a Tabela 1-I assim como as informações recen temente adquiridas : Talvez: <<Os objectos de madeira ardem)>. Qual a utilidade desta nova regra em face da desilusão anterior? Bem, ela fez com que a criança voltasse atrás e trouxesse a porta que tinha desprezado dois dias antes, mas não a levou a procurar a corrente, o radiador do automóvel, ou a caixa de papelão cheia de jornais. Não pensemos que isto é uma anedota - é exactamente o que sucede com a ciência! Fazemos algumas observações, organizamo-las e procuramos regularidades para nos ajudar no uso efectivo do nosso conhecimento. As regularidades são enunciadas como generali zações que se chamam teorias. Uma teoria mantém-se enquanto for consis tente com os factos da natureza conhecidos ou enquanto for uma ajuda na sistematização do nosso conhecimento. Podemos estar certos que um dia virá em que um bom número dos nossos conceitos científicos actuais parecerá tão absurdo como <<objectos cilíndricos ardem)>. Mas sentir-nos-emos então orgulhosos com os conceitos melhores que foram introduzidos. Os progressos titubeantes da criança - ela ainda não verificou que a caixa de jornais arde - não devem desanimar-nos. Esta criança é um cientista e os seus passos titubeantes conduzi-la-ão aos jornais. São os mesmos passos que nos levaram à compreensão actual da relatividade, à descoberta da vacina contra a poliomielite e à propulsão de foguetões para a Lua. UMA GE IERALIZAÇÃO ACERCA DA FUSÃO DOS SÓLIDOS Por meio de experiências, nós próprios descobrimos uma regula ridade importante no comportamento das substâncias sólidas. Um sólido funde com formação de um líquido quando se ele()a sufi cientemente a sua temperatura. A temperatura a que o sólido funde é característica. Quando o líquido quente é arrefecido, solidifica a essa mesma temperatura. Esta generalização é de grande valor. É baseada exactamente sobre o tipo de experiências que se realizaram. Temos confiança na regra por que este tipo de experiências tem sido realizado com êxito em centenas de milhares de substâncias. O comportamento na fusão é um dos métodos mais ()Ulgarmente utilizados para caracterizar uma substância. Leva-nos a perguntar se qualquer sólido pode ser convertido num líquido, se elevarmos suficientemente a temperatura. Além disso, leva-nos também a perguntar se qualquer líquido pode ser convertido num sólido, se baixarmos suficientemente a temperatura. Fi:;. 1 . .'3 Um sólido funde com for mação de um líquido a uma temperatura característica. ALGUMAS SUGESTOES DE TERMINOLOGIA 7 Descobrimos que um sólido pode ser convertido num líquido aquecendo-o até ao seu ponto de fusão ou acima deste. O sólido pode depois voltar a ser obtido pelo simples arrefecimento. O sólido e o líquido são semelhantes em muitos aspectos e um pode ser fàcilmente obtido a partir do outro. Por isso se diz que são fases diferentes da mesma substância. O gelo é a fase sólida da água, e, à temperatura ambiente, a água encontra-se na fase líquida. A transformação que ocorre, quando um sólido se derrete ou um líquido congela, denomina-se mudança de fase. 1.1.3 O inquirir dos porquês Já entrámos em contacto com algumas das actividades da ciência. Primeiro vimos a observação cuidadosa em condições verificadas, depois a organização das informações e a procura de regularidades no comportamento. Existe aipda uma outra actividade que, tal como a sobremesa, vem, como deve ser, em último lugar. Pode chamar-se a esta actividade <<O inquirir dos porquês>> e resulta do nosso desejo irresistível de conhecer mais do que simplesmente <<o que acontece>>. 8 Devemos também procurar uma resposta para a pergunta <<porque é que acontece?>> Esta actividade é, provàvelmente, a parte da ciência mais criativa e a mais compensadora. Qual é o processo ? O que é que significa responder a uma pergunta que começa por <<porque é que?>> EXPLICAÇÕES Vejamos o que significa procurar uma explicação. Consideremos uma criança que enche um balão. À medida que ela sopra no balão, este expande-se e torna-se <<mais duro>>. É evidente que o gás <<empurra>> a parte interior do balão , esticando as suas paredes elásticas. Porque é que o gás empurra para fora cada vez mais as paredes do balão à medida que se enche? Porque é que o gás continua a empurrar para fora <<sem se cansar>> ou <<ficar exausto>>? Tais perguntas são do tipo <<porque é que>>. Há duas maneiras de prosseguir ao tentar responder a estas questões. Já examinámos uma dessas maneiras- olhar mais de perto para o balão, registar cuidadosamente o que vemos, e procurar regu laridades no. que observamos. A segunda maneira é deixar de olhar para o balão e procurar um comportamento semelhante noutra situação que compreendemos melhor. Talvez isto nos permita obter uma explicação da pressão do gás em termos de uma situação que compreen demos melhor. Por vezes surge-nos uma explicação útil numa direcção totalmente inesperada. Consideremos o movimento de uma bola de bilhar. Depois de levar uma tacada, ela move-se até colidir com a tabela, donde rico cheteia sem diminuição aparente de velocidade. Move-se numa nova direcção até bater noutra tabela,onde muda novamente a direcção. Pode continuar a mover-se até ter batido na tabela 6 ou 7 vezes. A bola de bilhar parece quase incansável ricocheteando repetidas vezes nas <<paredes>> da mesa de bilhar. Poderá existir uma ligação entre o movimento «incansável» da bola de bilhar e a pressão <<incansável>> do gás num balão ? Fig. 1.4 O ressalto de uma bola de bilhar sugere uma explicação possíçel para a pressão dum gás. 9 As bolas de bilhar têm de há longo tempo fascinado tanto homens ociosos como curiosos. Este último grupo verificou que o movimento da bola de bilhar pode ser descrito partindo do princípio de que cada colisão com a tabela é perfeitamente elástica. Quando a bola bate na tabela, empurrando-a, a tabela responde empurrando por sua vez a bola que a deixa sem perda de velocidade. O seu movimento pode ser aproximadamente previsto, baseando-nos na hipótese de colisões elásticas. Talvez o comportamento de um gás possa ser explicado nestes termos. Suponha-se que consideramos um gás como uma colecção de partículas que se movem interminàvelmente num reci piente, em colisão elástica com as paredes, tal como bolas de bilhar em miniatura. Cada vez que uma destas partículas bate na parede <<empurra-a>> afastando-se dela novamente. Se houver muitas partículas, haverá muitas destas colisões por segundo, o que explica a pressão do gás. Se se adicionar gás ao balão, haverá ainda mais partículas, por conseguinte mais colisões por segundo contra a parede, portanto maior pressão. Assim, o modelo da bola de bilhar oferece uma resposta à nossa pergunta. Com este exemplo podemos agora ver o significado de uma expli cação. Começou com uma pergunta <<porque é que>>. Pergunta : Porque é que o balão se expande quando se enche ? Resposta possí()el: Talvez o gás colocado no balão seja formado por uma colecção de pequenas partículas que ressaltam das suas paredes, exactamente como as bolas de bilhar ressaltam das tabelas de uma mesa de bilhar. Ao ressaltarem da parede do balão as partí culas empurram-no. Quando se adicionam mais partículas, aumenta por segundo o número de tais colisões contra a parede, aumen tando por conseguinte os empurrões na parede do balão. O balão expande-se. Isto é o tipo característico de uma explicação. Começa-se com um <<porque é que?>> que inquire acerca de um processo que não é bem entendido. Arranj a-se uma resposta em termos de um processo que é bem entendido. No nosso exemplo, o processo que desejamos esclarecer é a origem da pressão do gás no balão. É mesmo dificil sentir a presença de um gás. O ar à nossa volta não pode, geralmente, ser visto , provado ou cheirado (não considerando o smog) (1); não pode ser ouvido ou sentido se não houver vento. Por isso, procuramos explicar as propriedades de um gás em termos do comportamento de bolas de bilhar. Estes objectos são fàcilmente vistos e sentidos ; o seu comportamento tem sido amplamente estudado e é bem compreen dido. (1) N. T.-Smog deriva de smolce + fog. Trata-se de uma mistura de fumo e neblina. 10 A procura de uma explicação é então a procura de uma semelhança que ligue o sistema em estudo com um sistema-modelo, que já tenha sido estudado. Considera-se a explicação <<boa>> quando: 1) O sistema modelo é bem compreendido (isto é, quando as regularidades do comportamento do sistema modelo foram completa mente exploradas) ; e 2) A analogia é grande (isto é, quando há grande semelhança entre o sistema estudado e o sistema modelo). O nosso exemplo constitui uma boa explicação, porque: 1) Há uma perfeita compreensão da maneira como ressalta uma bola de bilhar ; podemos calcular com pormenor matemático qual é a força do empurrão que a bola exerce na tabela em cada colisão ; e 2) Há estreita ligação com a pressão de gás ; se considerarmos o gás como uma colecção de pequenas partículas que se movem inter minàvelmente em colisão elástica com as paredes do vaso, o compor tamento da pressão é descrito exactamente pelo mesmo tratamento matemático. A explicação da pressão do gás, baseada na sua estrutura corpus cular, é por conseguinte boa. Pode, talvez, ver-se agora que responder à pergunta <<porque é que?>> é simplesmente uma forma muito artificiosa de procurar regularidades. É, na verdade, uma regularidade da natureza os gases e bolas de bilhar terem propriedades em comum. A criatividade especial mostrada na descoberta desta realidade resulta do facto da semelhança não ser fàcilmente aparente. Existe muito naturalmente uma recompensa especial para a descoberta de semelhanças escondidas. O descobridor pode trazer para o sistema estudado toda a experiência e conhecimento acumulado sobre o sistema bem compreendido. AQUECIMENTO DA PALHA DE AÇO A melhor maneira de apreender estas ideias é sermos nós a usá-las. Tomemos um exemplo do nosso trabalho de laboratório. Observámos o aquecimento de uma série de materiais sólidos: enxofre, cera, estanho, chumbo, cloreto de prata, cobre. Cada um funde a uma temperatura característica. Este facto levou-nos à generalização: <<Um sólido funde a uma temperatura característica com formação de um líquido>>. A nossa confiança na generalização foi reforçada pela informação adicional (comunicada mas não experimentada) de que ela se aplica a <<centenas de milhar de substâncias>>. O professor demonstrou o efeito do aquecimento da palha de aço, que provou ser uma excepção espectacular à generalização sobre a fusão. Um observador inexperiente pode tomar nota deste comportamento especial no seu caderno de apontamentos sob a designação de <<fogo A palha de aço arde quando aquecida no ar 11 A palha de aço funde quando aquecida na ausência de oxigénio dióxido de carbono Fig. 1.5 O comportamento da palha de aço durante o aquecimento. de artifício>> e passar a uma nova substância. Uma pessoa curiosa, todavia, não resiste a perguntar, <<porque é que a palha de aço se comporta desta maneira especial ?>> Investigámos a combustão de uma vela com uma atitude totalmente diversa. Descobrimos que o ar toma parte neste pro cesso e que os produtos são diferentes dos materiais de que partimos. Temos aqui dois campos que foram completamente investigados e que são bem compreendidos (e que nós próprios examinámos até certo ponto) . Podemos dizer, abreviadamente, que os conhecimentos de que partimos são : 1 - Os sólidos fundem ao aquecer. 2 - Uma vela arde consumindo oxigénio do ar. Podemos perguntar porque é que a palha de aço tem, ao aquecer, um comportamento tão aparatoso. Talvez a explicação esteja na alínea 2. Embora haja importantes diferenças de aspecto, talvez possamos explicar o comportamento da palha de aço comparando-a com uma vela. Poderemos substituir na alínea 2 a palavra vela por palha de aço ? Talvez : (3) A palha de aço arde consumindo oxigénio do ar. Se (3) for uma comparação útil com o comportamento de uma vela a arder, então deveremos receber uma recompensa especial por esta descoberta. A comparação proposta implica que o conhecimento acumulado sobre a vela pode ser transferido para o novo sistema. Uma vez que : uma vela não arde na ausência de oxigénio, então : a palha de aço não deve faiscar na ausência de oxigénio. Eis uma hipótese sujeita a um ensaio directo. Podemos culoear a palha de aço numa atmosfera livre de oxigénio gasoso e procurar uma mudança no comportamento durante o aquecimento. Se formos 12 ao laboratório e aquecermos a palha de aço numa atmosfera de dióxido de carbono, podemos verificar, para surpresa nossa, que a palha de aço funde! Pode agora dizer-se que o comportamento especial da palha de aço durante o aquecimento está explicado: <<A palha de aço, tal como uma vela, arde quando aquecida ao ar>>. <<A palha de aço, talcomo outros sólidos, funde, dando um líquido, quando aquecida em condições que não permitam a combustão>>. A compreensão deste facto torna possível o tratamento meta lúrgico do aço (e de outros metais). Este tipo de raciocínio possibilita um aumento na nossa compreensão das regularidades da natureza. Começa-se por perguntar os porquês. 1.2 Inccl'teza na ciência Damos a seguir três afirmações respeitantes ao comportamento da fusão do para-diclorobenzeno : 1 - O ponto de fusão é 53°C. 2 - O ponto de fusão é 53,2°C. 3 - O ponto de fusão é 53,203°C. Aparentemente a terceira afirmação diz mais do que a segunda e esta mais do que a primeira. Seria surpreendente dizer que a segunda afirmação pode ser a mais informativa das três ? Mas é-o. Para enten der porquê temos primeiro que considerar a inr:erteza nas medições. 1.2.1 O erro numa me<lição Uma afirmação científica transmite conhecimentos acerca do meio-ambiente. A afirmação é descuidada se diz menos do que é conhecido. É enganadora se diz mais do que se conhece. A afirmação mais exacta transmite claramente apenas o que é conhecido e nada mais. Assim, um cientista decidirá se deve dar o ponto de fusão como sendo 53°C, 53,2°C ou 53,203°C, considerando qual o valor que diz exactamente o que é conhecido acerca do comportamento de fusão e nada mais. Consideremos a nossa determinação, no laboratório, do ponto de fusão do paradiclorobenzeno (experiência 3). Permite-nos a medida da temperatura dizer que o ponto de fusão é 53°C e não 54°C ? Provà velmente que sim. Não é difícil ler o termómetro com esta certeza. Podemos ler o termómetro de maneira a distinguir 53,0°C de 53,2°C ? Isto é mais difícil. Depende do termómetro e da nossa experiência em usá-lo. Depende também de ser ou não completamente uniforme a temperatura do sólido durante a fusão. Todavia, uma lente permite uma maior certeza na leitura da escala e um aquecimento mais lento 13 aumentará a uniformidade da temperatura na amostra. Com cuidados especiais deste tipo é possível dizer que o ponto de fusão do para diclorobenzeno é 53,2°C e não 53,0°C. Consideremos, todavia, a possi bilidade de aperfeiçoar suficientemente a nossa termometria de maneira a distinguir entre 53,200°C e 53,203°C. Com o equipamento de que Fig. 1.6 Toda a medição vem afectada dalgum erro. No termómetro da esquerda pode ler-se a ± 0,2°C e no da direita a ± 0,002°C. dispomos isso não é possível. Concluímos então que uma medição cuidadosa pode estabelecer que o ponto de fusão é 53,2°C. Portanto a segunda afirmação (p. f. = 53,2°C) diz-nos perfeitamente o que é conhecido. A primeira afirmação (p. f. = 53°C) não nos diz tudo o que é conhecido uma vez que apenas se dão dois algarismos, embora se medissem três. A terceira afirmação (p. f. = 53,203°C) diz muito mais do que é conhecido uma vez que os dois últimos algarismos não foram obtidos experimentalmente. Vemos que a medição nos dá três algarismos que têm sentido e são significativos. Diz-se que o número 53,2°C tem três algarismos significativos. 14 1.2.2 Erro numa quantida1le derivada: adição e subtracção Os resultados de observações científicas muitas vezes combi nam-se. Por exemplo, na experiência 5 determinar-se-á a variação de temperatura da água durante a combustão de uma vela (ou durante a solidificação da cera da vela). A variação de temperatura, que chamamos ó.t, é o resultado de duas medições, não apenas de uma - é uma quantidade der i r; ada: Temperatura depois do aquecimento Temperatura antes do aquecimento Diferença (variação de temperatura) , = 3H,5°C = 9,3°C /::,.t = 29,2"C De acordo com a boa prática científica, gostaríamos de exprimir a variação de temperatura de maneira a incluir exactamente o que é conhecido e não mais. Para fazer isto devemos determinar como é que os erros nas duas leituras da temperatura determinam o erro na diferença, ó.t. Suponhamos que a temperatura final é medida por um segundo estudante que encontra um valor de 38,3°C. Um terceiro estudante acha depois o valor de 38, 7°C. Aparentemente, a mesma medição, feita por diferentes estudantes, pode diferir em alguns décimos de grau. A medida obtida por qualquer estudante pode ter um erro de cerca de 0,2°C. A temperatura considerada como sendo 38,5°C talvez possa ser tão alta como 38,7°C (0,2 graus mais alta) ou tão . baixa como 38,3°C (0,2° mais baixa)! Isto pode exprimir-se concisamente da seguinte maneira : Temperatura depois do aquecimento = 38,5 ± 0,2°C * Presumivelmente, a primeira medição de temperatura tem o mesmo erro, por isso o nosso cálculo é o seguinte : Temperatura depois do aquecimento = 38,5 ± 0,2°C Temperatura antes do aquecimento = 9,3 ± 0,2°C Diferença (variação de temperatura) , /::,.t = 29,2 ± ? ?°C Para decidir que erro atribuir a 29,2, consideremos a pior combi nação possível dos erros. A primeira temperatura podia ser tão baixa como 9, 1°C e a temperatura final podia ser tão alta como 38,7°C. Então a diferença seria 29,6°C. Assim a pior combinação possível de erros daria na diferença um erro igual à soma dos erros nas partes, 0,2 + 0,2 = 0,4. Por conseguinte o nosso resultado, derivado, pode apresentar-se assim : Diferença (variação de temperatural = 29,2 ± 0,4°C * O símbolo ± lê-se <<mais ou menos•>. 15 Vemos que o erro numa quantidade derivada é determinado pelos erros nas medições que devem ser combinadas. Numa adição ou subtracção o erro máximo é simplesmente a soma dos erros nos compo nentes : 0,2 + 0,2 = 0,4. -- * --- EXERCÍCIO 1.1 Na experiência 5, o peso duma amostra de água é determinado subtraindo o peso do recipiente vazio do peso do recipiente com a água. (peso água) = (peso recip. + água)- (peso recip. vazio) Suponhamos que o peso do recipiente é 61 ± 1 gramas e o peso do recipiente mais água é 406 ± 1 gramas. Calcular o peso de água e o erro máximo no peso causado pelos erros em cada uma das duas pesagens. --*-- 1.2.3 O erro numa quantidade derivada: multiplicação e divisão As medições de temperatura feitas na experiência 5 permitem-nos calcular a quantidade de calor libertada quando se queima uma porção de vela com peso determinado. O calor é medido em unidades chamadas calorias : uma caloria é o calor necessário para ele()ar de r c a tempe ratura de 1 grama de água *. Para elevar de 1 o a temperatura de dois gramas de água requerem-se duas calorias e 10 gramas necessitam de 10 calorias. Em geral, quantidade de calor necessária para elevar de um grau w gramas de água = w calorias Mas, na expenencia, a temperatura da água sobe vários graus - chamamos ó.t à variação da temperatura. Se é necessária uma caloria para elevar um grau centígrado a temperatura de um grama de água, são necessárias cinco calorias para a elevar 5 graus. De uma maneira geral, quantidade de calor necessária para elevar b.t graus w gramas de água ('l) = w x b.t calorias Estamos novamente em presença do duplo problema: primeiro, calcular a quantidade de calor, q; e, segundo, decidir acerca do erro em q. * O calor necessário para elevar de 1 grau a temperatura de 1 grama de água é constante dentro de ±0,2%, entre 8 e 80°C. Costumava-se definir a caloria como o calor necessário para elevar a temperatura de 1 grama de água de 1 4,5 a 1 5,5°C. 16 A quantidade de calor, q calcula-se por meio da equação ( 1 ) : é simplesmente o produto do peso de água pela diferença de tempe ratura. Referindo-nos aos nossos dados, encontramos peso de água = 3'•5 ± 2 gramas b.t = 29,2 ± 0,4°C. A quantidade de calor é igual ao produto, 31,!) X 29,2 6'JO 3105 690 10 Oít•,O calorias q = 10 o;r,,o ± ? calorias Tal como na última secção, podemos fazer uma estimativa do erro de q, considerando a combinaçãopior possível dos erros. Supo nhamos que o peso é na verdade 343 gramas e !:J.t é em verdade 28,8°C. Então o produto seria inferior a 10.074,0 calorias. Talvez o peso seja na verdade 347 gramas e !:J.t 29,6°. Então o produto seria supe rior a 10.074,0 calorias. Estes extremos determinam o erro no produto : V alo r mínimo 3!.3 X 28,8 2?'•4 2?41. 686 9878,4 calorias V alo r máximo 34? x29,6 2082 3123 691. 10 2?1,2 Vemos que o produto 10.074,0 pode ter um erro de cerca de 200 calorias. Podemos exprimir agora o resultado juntamente com o seu erro : q = 10 .074.0 ± cerca de 196 calorias Considerando o valor grande do erro, podemos arredondar a resposta, de uma maneira razoável : q = 10 100 ± 200 calorias Uma vez mais o erro do produto, uma quantidade derivada, é determinada pelos erros nas medidas que devem ser combinadas. -- *-- EXERCÍCIO 1.2 Calcular o erro no produto w X !:J.t causado apenas pela medição da temperatura (admitindo que a incerteza no peso de 345 gramas de água se tornou insignificante fazendo pesagens mais cuidadosas). Calcular o erro causado apenas pelo erro na pesagem de ±2 gramas 17 (admitir que o erro na variação de temperatura, 29,2°C, se tornou insignificante pelo uso de um termómetro mais sensível) . Comparar estas duas contribuições no erro total de cerca de 200 calorias. -- * -- O erro no produto, ± 200 calorias, não é simplesmente a soma dos erros dos factores, ± 0,4°C e ±2 gramas. Pelo contrário, a soma das percentagens dos erros dos factores determina o erro do produto ou do cociente*. Felizmente existe um método fácil de o determinar aproximadamente sem calcular as percentagens. Este método, que se baseia no número de algarismos escritos, é descrito na Secção 1 .2.5. 1.2.4 A ausência de certeza em ciência Cada sistema de medida tem limitações que fixam a sua exactidão. Por isso cada observação individual traz consigo alguma incerteza associada. Uma vez que toda a regularidade na natureza é descoberta por meio de observações, toda a regularidade (lei, regra, teoria) tem uma incerteza associada. 'foda a afirmação científica implica alguma incerteza. Como corolário : Nenhuma afirmação científica é absolutamente certa. 1.2.5 Como se indica a incerteza Já vimos dois métodos para indicar a incerteza num número. O mais informativo é fazer seguir um número pelo símbolo ± e, depois, pela melhor estimativa existente do erro. O método menos informativo, mas mais largamente utilizado, é indicar grosseiramente o erro pelo número de algarismos dados. O último algarismo dado é geralmente aquele em que existe alguma incerteza. Assim, o número 53,2°C indica que pode existir incerteza no número 2, mas que ela não existe tanto no número 5 como no 3. Os dígitos que são conhecidos com certeza e mais um chamam-se algarismos significativos. Devemos utilizar sem pre o número correcto de algarismos significativos e, sempre que possível, deve-se adicionar a indicação mais definida ±. Precisamos de regras convenientes para determinar o erro máximo em quantidades derivadas. Isto é muito fácil numa soma ou diferença. Em qualquer dos casos adicionam-se simplesmente os erros dos compo nentes. Felizmente existe uma regra igualmente simples para uma * O cálculo baseado na percentagem do erro é apresentado no Apêndice 4 do Manual de Laboratório. 2 18 determinação aproximada do erro num produto ou cociente. Um pro duto (a X b) ou cociente (afb) tem o mesmo número de algarismos signi ficatiços do componente menos preciso (a ou b) *. -- * -- EXERCÍCIO 1.3 rias. Na secção 1 .2 .3 multiplicámos 345 X 29,2 para obter 10 07 4,0 calo- a) Quantos algarismos significativos existem no factor 345 ? E no factor 29,2 ? b) Quantos algarismos significativos devem existir no produto 10 074,0 ? c) São especificados seis algarismos no número 10 074,0 - mais do que é garantido. <<Arredondar>> este número de acordo com a resposta em b ) . Comparar a resposta com o resultado final derivado na secção 1 .2.3, q = 10 100 ± 200 calorias. -- *-- 1.3 Comunicação da inform ação científica Um dos contributos mais importantes para o progresso do homem na compreensão e no domínio do seu meio ambiente é a sua capacidade de comunicar conhecimentos à geração seguinte. Não é necessário que cada um dos cientistas do século vinte invente a descrição atómica da matéria. Esta foi inventada por John Dalton no século dezanove e Dalton relatou as suas ideias na literatura científica juntamente com as observações que o levaram ao modelo. Pelo estudo desta e da subsequente literatura o cientista moderno pode avaliar a natureza da descrição, os factos que ela explicará e as suas limitações. É capaz de se aproximar ràpidamente das fronteiras do conhecimento - as fronteiras definidas pelas limitações dos modelos aceites do compor tamento da matéria. Pode quase dizer-se que o progresso científico é importante apenas se for comunicado a outros. Se Dalton não tivesse transmitido a outros as suas ideias nem tentado convencê-los (por meio dos argumentos em seu favor), então alguém teria que o fazer de novo. A comunicação do conhecimento é, pois, uma parte importante da actividade científica. O primeiro requisito é um bom uso da linguagem. Se uma ideia não é bem expressa, quer oralmente, quer por escrito, não é provável que seja claramente entendida. Um argumento perde a sua força se é afirmado duma maneira ambígua. Um pens3mento * O uso de algarismos significativos é discutido no Apêndice 4 do Manual de Laboratório. 19 Fig. 1.7 Uma regularidade <le comportamento de determinada quantidade de gás. À medida que a pressão sobe o oolwne decresce. essencial pode-se perder num labirinto de palavras. É necessário escolher e usar cuidadosamente a linguagem. A maneira de apresentar uma ideia depende, até certo ponto, do uso que se pretende dar-lhe e, em certa medida, do tipo de infor mação disponível. De uma maneira geral, quanto mais preciso for o enunciado da regularidade, maior valor tem. Há, usualmente, mais do que uma maneira de exprimir uma generalização e é necessário usar um bom critério ao fazer uma escolha entre elas. Isto vê-se melhor por meio de um exemplo. A Figura 1 . 7 mostra uma bomba de ar a cuja mangueira está ligado um aparelho para medir a pressão, de tal maneira que o gás não pode sair da bomba. Empurrando o manípulo da bomba, o êmbolo desce e reduz o volume ocupado pelo gás. O aparelho de medição mostra que a pressão aumentou. Empurrando o manípulo com mais força, a pressão sobe. Empurrando o manípulo ainda com mais força, a pressão aumenta ainda mais. Um aumento de pressão causa novamente uma redução de volume. Vemos que, à medida que a pressão sobe, o çolume diminui. Esta afirmação qualitativa descreve uma regularidade no compor tamento de determinada quantidade de gás. Uma afirmação quali tativa deste tipo é a forma mais grosseira de exprimir uma regula ridade. Uma pessoa curiosa, procurando entender esta regularidade, pode ·ter necessidade de fazer medições mais cuidadosas. Pode construir um novo aparelho, que seja mais conveniente para medir volumes e pressões num largo intervalo. Depois de ter feito uma série de 20 medições, concluirá com uma lista de dados, como os da Tabela 1 - I I . Uma tabela d e dados é uma segunda maneira d e exprimir uma regu laridade. Num terceiro modo de expressão, as medições podem ser apresentadas num gráfico de pressão em função do volume, como na Figura 1 .8. Com estas medições cuidadosas podemos também procurar uma relação matemática do comportamento. Por vezes a inspecção dos dados sugere uma relação. Outras vezes a aparência do gráfico, tal como a Figura 1 .8, revela uma expressãomatemática. No exemplo que estamos a estudar, a curva assemelha-se a uma hipérbole, uma curva descrita pela equação simples, xy = uma constante. Esta semelhança leva-nos a multiplicar cada par pressão-volume como se mostra na terceira coluna da Tabela 1- I I . Verificamos que, no inter valo em que a pressão aumenta dez vezes, o produto P X V é razoà velmente constante. Há algumas variações no produto como pode ver-se tanto na Tabela 1 - I I como na dispersão dos pontos à volta da curva contínua na Figura 1 .8. A natureza aleatória dos desvios sugere que eles medem a incerteza devida à técnica experimental. Podemos utilizar estes desvios para nos fornecerem uma estimativa da incerteza na média, ±0,6. (No exercício 1 . 4 mostra-se como isto se faz) . Por conseguinte, podemos formular matemàticamente a regularidade com razoável confiança : P X V = 22/• ± 0,6 Encontramos assim quatro maneiras de expnm1r a regularidade entre a pressão e o volume do oxigénio gasoso : a) QualitatiCJamente: à medida que a pressão sobe, o volume decresce. b) QuantitatiCJamente: uma tabela com os dados originais que mostra como estão relacionados a pressão e o volume, tal como na Tabela 1 - I I . c ) Gràficamente: u m gráfico d a relação entre a pressão e o volume de 32,0 gramas do gás oxigénio a ooc, como a Figura 1 .8. d) Jl1 atemàticamente: P X V = 22,4 ± 0,6 P = pressão (em atmosferas) V = volume (em l itros) de 32,0 gramas de oxigénio gasoso a ooc Como é óbvio, a regularidade expressa na forma qualitativa a) é muito menos informativa do que qualquer das representações quantitativas das alíneas b), c) ou d). O mérito relativo das maneiras de exprimir b), c) e d) depende do seu uso. A Tabela 1- I I diz-nos, com maior pormenor, exactamente o que é conhecido acerca do compor tamento pressão-volume do gás oxigénio (nesta experiência) . Na representação gráfica da Figura 1.8, a tendência dos dados é indicada pela curva contínua desenhada de maneira a passar próximo do maior número possível de pontos. Tabela 1-11 PR ESSÃO E VOLUME DE 32,0 GR AMAS DE OXIGÉNIO GASOSO t =0°C (em unidades chamadas atmosferas) 0 ,100 0 ,200 0,400 0,600 0,800 1 ,00 VOLUME (em unidades chamadas litros) 224 1 09 60,0 35 ,7 2 7 , 7 2 2 , 4 P x V 22 ,4 21,8 24 ,0 21 ,4 22 ,2 22 ,4 Média 22,4 ± 0 ,6 21 As incertezas devidas a erros experimentais fazem com que os pontos se situem acima e abaixo da curva. Por conseguinte, a repre sentação gráfica revela o grau de confiança das medições. A curva contínua <<alisa>> estas incertezas e fornece uma base conveniente para predizer volumes a pressões intermédias (isto é, para interpolar). Todavia, no que toca à utilidade, a expressão matemática d) é de longe a melhor. É a maneira mais precisa de exprimir a regularidade juntamente com a sua incerteza. A matemática é um dos mais impor tantes instrumentos da química. 200 1 \ -'1 "' � 150 .,- " � \ � 100 ;,.. 1'.. 50 .......... ·r-�-).-. o,z 0,4 0,6 0,8 1,0 Pressão, atmosferas Fig. 1.8 Um gráfico de pressão em função do volume de 32,0 gramas de oxigénio gasoso; t= 0°C. Qualquer que seja a maneira como são apresentadas, todas as <<regras>>, «leis>> e <<teorias>> científicas são expressões de regularidades da natureza. A sua utilidade depende da quantidade de factos, dados, provas, elementos experimentais que mostram que a <<regra>>, <<lei>> ou <<teoria>> corresponde à realidade experimental. Pode utilizar-se 22 a relação para fazer previsões, dentro dos limites que se sabem corres ponder às realidades experimentais. --*-- EXERCÍCIO 1.4 a) Adicione os seis valores de P X V na Tabela 1 - I I e di vida por 6 de maneira a obter a média, ( P X V)med. ou (PV)mect . . b) Adicione em seguida à Tabela 1 - 1 1 uma quarta coluna que mostre o desvio de cada produto P X V de (PV)med . . Encime esta coluna com a palavra <<Desvio>> e calcule cada número subtraindo (PV)med. do valor medido. Por exemplo, o segundo número será -0,6 (uma vez que 21,8 - 22,4 = -0,6) . c) Depois de completar a coluna dos desvios, adicione os valores (desprezando os sinais algébricos) e divida por 6 para obter um desvio médio. d) compare os cálculos em a) e c) com o resultado dado na Tabela 1 - I I , Média = 2 2 , !• ± 0,6 -- · -- 1 .4 Revisão Começámos este capítulo com a afirmação de que descobriríamos, por meio de experiências, a natureza da ciência. Já tivemos oportu nidade de o fazer no laboratório. Vemos que a ciência é investigação sistemática feita pelo homem do seu meio-ambiente. O Capítulo 1 disse -nos como se processa esta investigação. A parte restante do livro diz respeito àqueles sectores desta investigação que são realizados pelos qmmiCos. Antes de prosseguirmos para ver o que é a química, façamos uma revisão do que fizemos no laboratório até agora, insis tindo nas actividades da ciência. 1.4.1 Acumulação de informações pot· meio da observação A observação de uma vela a arder revela uma complexidade espantosa. Revela também a importância e o valor de um estudo cuidadoso e da atenção ao pormenor. Na nossa experimentação este jamos atentos e prontos para acontecimentos inesperados. Façamos no nosso caderno de notas uma descrição, no momento da observação, de tudo o que se vê. O tempo da observação, tem frequentemente, importância. A qualidade mais importante de um caderno de notas é, de longe, o ser completo. Logo a seguir, em importância, vêm a legi bilidade, limpeza, e organização, propriedades estas que fazem do caderno um registo mais valioso. Sempre que possível, devem-se preparar com antecedência tabelas para assentar os resultados das medi ções que se vão fazer. Isto faz com que não nos esqueçamos de tomar nota de qualquer informação importante e liberta-nos dos trabalhos de escrituração durante a experiência. Fig. 1.9 Um bom experimentador é um bom observador. Tomar apontamentos no caderno de notas no momento da obser()açào. Preparar tabelas com antecedência. 23 Lembremo-nos de que a química é feita sobre os resultados de expenencias. Uma experiência é uma sequência C�enficada de obserC�a ções. Um bom experimentador é um bom obserC�ador. 1.4.2 Organização das informações e a procura de regularidades O simples catalogar de observações não é ciência. Na verdade, o avanço do nosso conhecimento da natureza teria há muito tempo parado se apenas fizéssemos observações. A multiplicidade de factos conhecidos só pode ser manejável se for eficientemente armazenada. Chamamos a esta armazenagem a «<rganização de informações>> e a <<procura de regularidades>>. Não há uma receita única para procurar regularidades. Isto é, provàvelmente, a razão porque a procura é tão interessante e porque os cientistas obtêm tão grande satisfação pessoal no seu trabalho. Na procura há oportunidade para se ser original, oportunidade para pôr à prova a capacidade e inteligência de cada um. Podemos expe rimentar o prazer que um cientista obtém ao esclarecer um comporta mento até então confuso, com experiências cuidadosas feitas por nós próprios. No nosso estudo da vela, a presença de líquido no seu topo chamou-nos a atenção. Levou-nos a inquirir acerca do comportamento de outros sólidos familiares, quando sujeitos a tratamento semelhante. Neste caso procurámos uma regularidade - procurámos, por meio da experiência, descobrir como outros sólidos se comportam no aque cimento. Os nossos primeiros estudos, depois de organizados, levaram-nos à generalização de que os sólidos, quando aquecidos, fundem a uma temperatura característica. Com isso obtivemos duas vantagens : encontrámos uma maneira eficiente de exprimir os resul tados de uma série de experiências e fornecemosuma base de expecta tiva para o efeito do aquecimento sobre sólidos que ainda nao estu dámos. O grau de confiança que esta expectatiC�a merece é determinado pela quantidade de proC�as que apoiam a generalização. 24 1.4.3 O inquirir dos porquês A parte culminante da investigação cognominámo-la de <<o inquirir dos porquês>>. Procuramos explicações. Vimos, por meio de um exemplo, que uma explicação é a descoberta de uma semelhança que liga um processo que não entendemos a processos que entendemos. Esta é a actividade da ciência mais compensadora. Conduz-nos à exploração. Aprendamos a fazer a nós próprios perguntas começando com <<porquê>> sempre que fazemos uma observação - tanto no laboratório químico como fora dele. É um bom hábito e torna frequentemente a vida mais interessante. Tivemos já oportunidade de fazer muitas perguntas começando com <<porquê>>, em resultado do trabalho do laboratório. Na verdade, já existe um número suficiente dessas perguntas para fornecer a base da parte restante do curso. Enumeramos no fim do Capítulo algumas das perguntas que se levantaram durante as experiências. Há alguma coisa a adicionar a esta lista ? A quantas perguntas podemos já responder ? Algumas podem não ter ainda respostas satisfatórias. Estas são as perguntas mais interessantes porque elas apontam para o futuro - o nosso futuro. A L G U i\1 AS P E R G U N T A S Q U E S U R G I R A i\1 N O E S T U D O D E U M A V E L A A A R D E R Porque é que um sólido absorve calor quando funde ? Porque é que se liberta calor na combustão de uma vela? Porque é muito maior o efeito de calor na reacção química do que na mudança de fase estudada? Porque é que a vela reage com o ar para dar dióxido de carbono e água em vez de se dar o inverso, isto é , de o dióxido de carbono e a água reagirem para dar uma vela e ar ? Porque é que a vela nào reagiu com o ar (isto é, ardeu) enquanto esteve na gaveta da secretária ? Porque é que e la esperou até ao momento em que dese j ámos que ela ardesse ? Qual é o papel do fósforo utilizado para acender a vela ? Porque é que uma vela arde lentamente quando se acende o pavio, ao contrário do que acontece quando se acende o <•pa vi o•> de um foguete ? Qual é o papel do pavio na vela ? Qual a quantidade de água e dióxido de carbono produzidos numa vela a arder ? Porque é que o dióxido ele carbono faz com que a água de cal turve ? Porque é que a combustão do enxofre produz mau cheiro, ao passo que a combustão de palha ele aço produz faíscas ? Porque é que uma chama emite luz corada? Porque é que a base da chama é azul ? O que é a zona negra na chama de u m a vela? Porque é que a chama da vela dá mais fumo numa corrt'nte de ar? Porque é que as perguntas se não acabam ? Capítu l o 2 U M lU O D E L O CI E N T Í F I C O : A T E O R I A A T Ó M I CA . . . As hipóteses der;em serr;ir apenas para explicar as propriedades das coisas e não der;em tentar predeterminá-las excepto na medida em que podem ser uma ajuda para experiências. ISAA C NEWTON, 1689 Uma das actividades da Clencia é a procura de regularidades. As regularidades que relacionam directamente os resultados experi mentais chamam-se, de uma maneira geral, regras ou leis. A uma regularidade mais abstracta, exprimindo uma semelhança não evidente, chama-se geralmente um modelo, teoria ou princípio. Assim chama-se lei * ao comportamento do oxigénio gasoso, resumido na equação P X V = a uma constante. À explicação deste mesmo comportamento regular do gás em termos de movimento de partículas chama-se teoria. É uma abstracção ainda maior relacionar o produto P V com as equações matemáticas que descrevem o <<ricochete>> d e bolas de bilhar. Regras, leis, modelos, teorias e princípios têm, todavia, uma finalidade comum - sistematizar o nosso conhecimento experi mental. Todas elas exprimem regularidades entre os factos conhecidos. As regularidades mais abstractas provêm das descobertas de seme lhanças não evidentes. Quando a semelhança implica um sistema físico real (tal como o ricohete de bolas de bilhar), chama-se geralmente à explicação um modelo. Chama-se, por outro lado, teoria à expli cação em que uma semelhança implica uma ideia abstracta (tal como uma equação matemática). Não há, todavia, uma distinção real a fazer e usaremos, portanto, indistintamente as palavras modelo e teoria. Ao procurar uma explicação, por vezes encontramos várias. Quando isso acontece, utilizamos mais frequentemente o modelo (ou * É a lei de Boyle, assim designada por ter sido Roberto Boyle o cientista que primeiro descobriu esta regularidade. 25 26 teoria) que for mais útil. Um modelo que se mostra útil indica-nos geralmente novas direcções de pensamento. Estas novas direcções conduzem-nos a novas experiências que têm como resultado a desco berta de novos factos. Muitas vezes os novos factos obrigam ao desen volvimento do modelo. Mas também os novos factos contradizem por vezes o modelo de tal ordem que ele deve ser abandonado em favor de outro. Tanto o desenvolvimento como o abandono de modelos ou teorias reflecte uma compreensão maior do ambiente. Vejamos como se desenvolve um modelo. 2.1 Implicações e desenvolvim ento de um m odelo científico Como exemplo, podemos explorar as implicações da nossa expli cação do comportamento dos gases. Pergunta : Porque é que um balão se expande quando se enche ? Resposta possí�el : Talvez o gás introduzido no balão seja formado por uma colecção de pequenas partículas que ressaltam da parede do balão da mesma maneira que bolas de bilhar ressaltam das tabelas de uma mesa de bilhar. Quando as partículas gasosas ressaltam da parede do balão, empurram-na. Este modelo é útil, primeiro, porque podemos calcular, com precisão matemática, o empurrão que a bola de bilhar exerce na tabela em cada choque, e, segundo, porque se descreve o comporta mento da pressão de um gás num balão exactamente com as mesmas expressões matemáticas. O êxito do modelo leva a novas direcções de pensamento. Por exemplo, podemos procurar saber se o com portamento pressão-volume do oxigénio indicado na Tabela 1 - I I (p. 2 1 ) pode ser explicado e m termos d o modelo d e partículas de um gás. 2.1.1 O comportamento pressão-volume do gás oxigénio Os dados experimentais da Tabela 1 - I I mostram que a diminuição de volume para metade faz com que a pressão duplique (dentro da incerteza das medidas). Como é que o modelo de partículas se coaduna com esta observação ? Imaginamos que há partículas de oxigénio ressaltando de uma para a outra parede do vaso que as contém. A pressão é determinada pelo empurrão dado à parede em cada colisão e pela frequência destas. Se se reduz o volume de um factor de 2 sem alterar o número de partículas, então o número de partículas por litro deve duplicar. Se o número de partículas por litro for duas vezes maior, o número de colisões na parede será duplo. Duplicando o número de colisões com a parede, duplicará a pressão. Portanto, o nosso modelo é compatível com a observação : reduzindo o volume a metade, duplica a pressão. J . . Fig. 2.1 No modelo de partículas, as colisões com a parede determinam a pressão. Reduzindo o volume a metade duplica a pressão. 2.1.2 O comportamento pressão-Yolume de outros gases 27 Depois de ter compreendido este comportamento da pressão -volume para o oxigénio, é natural perguntar se o mesmo modelo é aplicável a outros gases. Assim, o desenvolvimento da teoria leva-nos a realizar outras experiências. Tais experiências dão origem a um cres cimento sistemático do nosso conhecimento do meio ambiente. São geralmente muito mais eficientes do que as experiências feitas às cegas e ao acaso. Dois outros gases fàcilmente acessíveis
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