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Ada Pellegrini Grinover - Tutela jurisdicional diferenciada

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TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: A ANTECIPAÇÃO E SUA
ESTABILIZAÇÃO
Revista de Processo | vol. 121/2005 | p. 11 - 37 | Mar / 2005
DTR\2005\186
Ada Pellegrini Grinover
Área do Direito: Civil; Processual; Fundamentos do Direito
Sumário:
1.Delimitação do tema * - 2.Metodologia do trabalho - I - Primeira parte: - Direito
comparado - 3.O questionário - 4.Os relatórios - 5.Formas de tutela satisfativa
antecipada - 6.As respostas específicas ao questionário - 7.Reflexões conclusivas -
Segunda parte - Estabilização da tutela antecipada - 8.Itália: a legislação projetada e a
doutrina - 9.Brasil: rumo à estabilização da tutela antecipada - 10.Proposta de
Anteprojeto de Lei
1. Delimitação do tema *
O presente estudo versa sobre o estágio atual da legislação, da doutrina e da
jurisprudência a respeito da tutela jurisdicional que se contrapõe à obtida por intermédio
do procedimento ordinário, de cognição plena e exauriente, levando a uma sentença de
mérito.
Trata-se de uma forma de cognição sumária ou superficial, em que se estabelecem
limites à cognição, no sentido da profundidade. Exclui-se, porém, deste estudo a análise
dos procedimentos em que a sumariedade é um mero aspecto do iter procedimental,
porquanto por eles se atingem a sentença de mérito e a coisa julgada (como, por
exemplo, nos small claims).
Mas ainda é preciso distinguir: existe uma tutela sumária de natureza tipicamente
cautelar, ou seja voltada a medidas meramente assecuratórias da prova ou do resultado
do processo; e uma tutela sumária que leva a medidas satisfativas, encurtando ou
evitando o procedimento ordinário.
É desta segunda espécie que o presente estudo vai se ocupar, pois é esta que responde
às exigências de uma tutela rápida, adequada e ajustada ao ritmo acelerado das
relações sociais, próprio da sociedade moderna.
Nesse sentido, chamaremos "tutela diferenciada" aquela que se contrapõe à obtida pelo
procedimento ordinário, considerado o paradigma das formas processuais em boa parte
do século passado, por possibilitar a solução dos conflitos de maneira segura, cercando o
exercício da função jurisdicional das mais plenas garantias e culminando com a sentença
de mérito e a estabilidade da coisa julgada.
Em resumo, não serão objeto de análise: a) a tutela jurisdicional em que a sumariedade
só concerne ao procedimento, mas cujo escopo é a sentença de mérito e a coisa julgada
(como ocorre, por exemplo, nos small claims); nemb) a tutela cautelar stricto sensu
(meramente assecuratória da prova ou do resultado do processo).
Outra observação: o estudo incluirá não apenas os procedimentos formalmente
autônomos que levam a um provimento de caráter satisfativo (como o référé ), mas
também a fase do procedimento ordinário que tenha o mesmo objetivo (como a tutela
antecipada na Itália e no Brasil).
2. Metodologia do trabalho - I - Primeira parte: - Direito comparado
A primeira parte do trabalho será de direito comparado.
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e sua estabilização
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A esse propósito, foi endereçado um questionário a processualistas insignes de diversos
países de tradição romano-germânica, cujas respostas serão relatadas, por oferecerem
um quadro completo do estágio atual do tratamento da questão, na legislação, doutrina
e jurisprudência.
A segunda parte do trabalho versará especificamente sobre a estabilização da tutela
antecipada, com a indicação das últimas novidades legislativas italianas, comentadas
pela doutrina; e, finalmente, com as tendências brasileiras a respeito da estabilização da
tutela antecipada, culminando na apresentação de um anteprojeto de lei, que está sendo
trabalhado no seio do Instituto Brasileiro de Direito Processual.
I - Primeira parte: Direito comparado
3. O questionário
O questionário foi dirigido a 14 (catorze) países, tendo sido respondido por 11 (onze)
processualista, quais sejam:
1. Alemanha - Prof. Gerhard Wagner, da Universidade de Bonn;
2. Argentina - Prof. Roberto Omar Berizonce, da Universidade Nacional de La Plata;
3. Áustria - Prof. Georg E. Kodek, da Universidade de Viena;
4. Bélgica - Prof. Piet Taelman, Universidade de
5. Brasil - Prof. Flávio Luiz Yarshell, da Universidade de São Paulo;
6. Colômbia - Prof. Jairo Parra Quijano, da Universidade Autônoma de Colômbia;
7. Espanha - Prof. José Luis Vázquez Sotelo, da Universidade de Barcelona;
8. Grécia - Profs. Pelayia Yessiou Faltsi e Evangelia Podimata, da Universidade de
Tessalônica;
9. Itália - Prof. Edoardo F. Ricci, da Universidade Estatal de Milão;
10. Japão - Prof. Takeshi Kojima, da Universidade de Chuo;
11. Uruguai - Profs. Margarita de Hegedus e Santiago Pereira Campos, da Universidade
Oriental do Uruguai.
O questionário foi assim elaborado:
1. Quais são, no sistema de seu país, as técnicas processuais voltadas à satisfação do
direito material? (ex: antecipação de tutela, provvedimenti d'urgenza, procedimento
monitório, référé, etc.)
2. Em todos essas técnicas, a cognição do juiz é superficial, no sentido da profundidade?
3. Quais os requisitos para a concessão da tutela sumária? (ex: periculum in mora,
probabilidade e verossimilhança, reversibilidade da tutela, etc.)
4. Como se executam (ou se atuam), em seu país, os provimentos satisfativos em
questão?
5. Qual o grau de estabilidade da tutela sumária, em seu país? (ex: formação de título
executivo, coisa julgada, etc.)
6. Em seu país, a tutela sumária substitui o processo ordinário, ou somente o abrevia?
(ex: a antecipação de tutela exige a posterior sentença de mérito ou a dispensa?).
7. Qual a amplitude das garantias do procedimento sumário, em seu país? (ex:
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contraditório pleno ou limitado, motivação, publicidade, impugnação do provimento,
etc.)
8. Em seu país, é ampla a utilização dos procedimentos sumários? Existem estatísticas a
respeito?
9. A seu ver, quais os escopos da tutela sumária? (ex: rapidez da resposta jurisdicional,
agilidade do procedimento, adequação ao tipo de controvérsia, etc.)
10. A seu ver, a tutela sumária está fadada a substituir completamente o procedimento
ordinário, ou pensa que este último modelo, apesar de sua inevitável duração,
continuará adequado às controvérsias mais complexas?
11. Contrario sensu, pensa que a simplificação do procedimento ordinário poderia
diminuir a importância da tutela sumária?
12. Que outras considerações entende cabíveis a respeito do tema?
4. Os relatórios
Dito isto, passa-se a noticiar o estágio da legislação, da doutrina e da jurisprudência
segundo os relatórios recebidos em resposta ao questionário, começando por examinar
quais os tipos de tutela satisfativa existentes nos diversos ordenamentos pesquisados.
De modo geral, é o seguinte que se extrai dos diversos relatórios.
5. Formas de tutela satisfativa antecipada
A forma mais difundida de tutela satisfativa antecipada, encontrada nos países
pesquisados, consiste nos PROCESSOS DE ESTRUTURA MONITÓRIA. Em linhas gerais,
pode-se afirmar que o processo monitório responde à exigência de tutelar prontamente o
direito do credor, desprovido de título executivo, acelerando sua formação, sem
necessidade de processo de conhecimento. Chamado de "procedimento ingiuntivo" na
Itália, de "mahneverfahen" na Alemanha e na Áustria, de "injonction de payer" na
França e na Bélgica, o processo monitório é exclusivamente documental em alguns
países (como na Itália, Bélgica e Brasil), conhecendo outros países a forma "pura", em
que a emissão da ordem de pagamento não se lastreia necessariamente na existência de
prova escrita do débito (França, Alemanha, Áustria). Mas o traço comum é o de que a
cognição se limita à prova produzida pelo requerente e é normalmente caracterizada
pela ausência de contraditório inicial. Somente se o devedor, após o decreto injuntivo, se
opuser à ordemde pagamento, é que se instaurará o procedimento comum, em
contraditório pleno.
Formas específicas de tutela antecipada também são conhecidas em todos os países
pesquisados, sobretudo em matéria de direito de família (alimentos provisórios, guarda
dos filhos, etc.), de posse (com os vários interditos), de direito societário (decisões
assembleares), etc. A técnica consiste em antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da
futura sentença de mérito, em caráter de urgência, na presença de certos requisitos e
mediante cognição mais ou menos superficial. A característica principal desses
provimentos antecipados específicos é sua provisoriedade e a necessidade de o processo
de cognição plena prosseguir até a sentença de mérito.
Quase sempre como evolução da tutela cautelar, de natureza assecuratória do processo
e das provas, alguns ordenamentos avançaram, adotando a TUTELA ANTECIPADA
GENÉRICA, pela qual se antecipam total ou parcialmente os efeitos da sentença de
mérito, na presença de certos requisitos e após cognição mais ou menos superficial do
juiz. Assim fizeram, por exemplo, o Brasil em via legislativa, a Argentina em via
doutrinária e jurisprudencial e a Itália, que estendeu paulatinamente por lei a
possibilidade de provimentos antecipados específicos, até a doutrina reconhecer a
existência no ordenamento de uma tutela antecipada genérica. Na maioria dos casos, a
tutela antecipada é provisória e não dispensa o processo de conhecimento e a sentença
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de mérito.
Apesar do caráter de provisoriedade, que não dispensa o processo de conhecimento,
comum a muitos ordenamentos em tema de tutela antecipada, em alguns países
pode-se chegar à ESTABILIZAÇÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, quando a ela não se
opuser qualquer das partes, de forma a dispensar o processo de conhecimento e a
sentença de mérito: é o caso do "référé " francês e belga e de algumas hipóteses
específicas na Itália. Nesses casos, reconhece-se ao provimento antecipatório, não
impugnado, o caráter de título executivo ou até mesmo a natureza de sentença coberta
pela coisa julgada.
Passa-se, agora, a examinar, uma a uma, as respostas oferecidas ao questionário. É,
portanto, dentro desse conceito de tutela sumária, diferenciada, voltada à satisfação do
direito material, a qual se contrapõe ao processo de conhecimento (mesmo quando de
rito sumário), podendo encurtá-lo ou até evitá-lo, que passamos a examinar os institutos
acima delineados, na conformidade das respostas dadas ao questionário submetido aos
relatores nacionais.
6. As respostas específicas ao questionário
a) Quais são, no sistema de seu país, as técnicas processuais voltadas à satisfação do
direito material? (ex: antecipação de tutela, provvedimenti d'urgenza, procedimento
monitório, référé, etc.)
Procedimentos de estrutura monitória
Como visto, o procedimento monitório constitui a mais comum das formas de
procedimentos sumários ou preliminares voltados à tutela do direito material. Assim, na
Alemanha existem diversos tipos de processos monitórios, sendo o mais geral de todos o
chamado Mahnverfahen, comparável à injonction de payer francesa. Na Alemanha, o
processo é judicial, mas é conduzido inicialmente por um auxiliar do juiz (o
recthspfleger) que afere exclusivamente os requisitos formais da demanda. A ordem de
pagamento é expedida "inaudita altera parte". Havendo objeção do demandado, o caso é
transferido à Corte e segue o procedimento ordinário. Não havendo objeção, a ordem de
pagamento torna-se definitiva e é equiparada a um julgamento final da corte.
Semelhante é a situação na Áustria, onde, como na Alemanha, é dispensável a prova
que acompanha o pedido (mahnantrag), com a diferença de que, tanto na Áustria como
na França, é o próprio magistrado, após um exame superficial formal da petição (a
requête francesa), quem determina a expedição da ordem de pagamento.
A eventual defesa apresentada pelo devedor, no âmbito do procedimento monitório
puro, tem o condão de transformar a ordem emitida numa simples ordem de citação. No
procedimento monitório documental, que reclama prova escrita, o mandado de
pagamento (na Itália, "decreto motivado dŽingiunzione") só é deferido depois do exame
dos pressupostos de admissibilidade, mediante cognição superficial do juiz.
No Uruguai, a distinção é feita entre o procedimento monitório "pleno", baseado em
prova documental, e o chamado "presuncional", baseado na presunção legal da
improbabilidade de contradição. Mas mesmo neste, a demonstração documental da
dívida é uma prática freqüente.
Em todos os países pesquisados, o procedimento monitório é caracterizado por seu
desenvolvimento, eventualmente, em duas etapas muito nítidas: a primeira, que diz
respeito ao procedimento monitório propriamente dito, e a segunda, que tem lugar
quando e se o devedor se opõe ao mandado de pagamento, hipótese em que o processo
assume o rito ordinário. Trata-se, portanto, de uma técnica que pode evitar o processo
ordinário de conhecimento, mas só consegue fazê-lo quando não houver oposição do
demandado.
Entre os países pesquisados, o único relatório que não se refere à monitória é o da
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Colômbia. A Espanha a introduziu recentemente, na forma documental, na "Ley de
Enjuiciamiento Civil", de 2000, em vigor desde janeiro de 2001, mas estabelecendo um
procedimento rápido, porém plenário, que culmina com uma sentença que faz coisa
julgada.
Antecipação de tutela em casos específicos
A técnica da antecipação, parcial ou total, dos efeitos da sentença de mérito, em
hipóteses específicas previstas pelos códigos, é conhecida, em maior ou menor
extensão, de todos os países pesquisados.
Referência constante, em todos os países, é feita à antecipação de tutela em matéria de
direito de família (sobretudo para os alimentos, a separação de corpos e a guarda dos
filhos) e em matéria possessória (com diversos interditos). Na Espanha, em matéria
possessória e de direitos reais, os interditos foram substituídos por um juízo verbal, que
não produz, porém, efeitos de coisa julgada.
O relatório austríaco lembra os casos de falência. O alemão, explicando as injunções
provisórias (sicherungverfügung, leistungsvefügung), refere-se, entre outros casos, às
práticas de concorrência desleal. Na Espanha, existe menção à tutela sumária para o
despejo dos ocupantes de imóvel judicialmente alienado. O relatório grego refere-se
também à matéria trabalhista, como decorrência do princípio de antecipação em
benefício da parte economicamente fraca, que também rege a antecipação de alimentos.
O relatório italiano reporta-se a um extenso rol de medidas antecipatórias especificas,
como as referentes à convalidação de licença ou despejo, à condenação com reserva de
exceção de compensação, às inibitórias em tema de direito de autor e de propriedade
industrial, à responsabilidade decorrente do seguro obrigatório em matéria de trânsito,
às deliberações assembleares sociais. Aliás, foi desta riqueza legislativa quanto aos
casos específicos de antecipação de tutela, que a doutrina italiana partiu para entender
hoje existente no ordenamento italiano a tutela antecipada genérica.
No Japão, cujo direito processual deita raízes sobretudo no direito alemão, houve em
tempos mais recente um aumento de casos de tutela antecipada, especificamente com
relação à demissão do trabalhador, aos danos oriundos de acidentes de trânsito, à
violência doméstica.
Na Argentina, a tutela inibitória precedeu a tutela dos procedimentos preliminares ou
sumários. E essa tutela inibitória, segundo o relatório, refere-se , além das garantias
tradicionais da propriedade e da posse, aos direitos autorais e intelectuais, à intimidade,
aos direitos da personalidade, ao nome, à qualidade de vida, ao direito de réplica, aos
direitos doconsumidor, às práticas desleais, ao direito ambiental. Saliente-se que foi a
partir desta riqueza de ações inibitórias específicas, com a antecipação de tutela
relativamente às obrigações de fazer ou não fazer, que a doutrina e a jurisprudência
construíram a idéia da existência da tutela antecipatória genérica.
No Brasil, sempre houve tutela antecipada específica em temas tradicionais, bem como
as chamadas "liminares" em "writs" como o mandado de segurança. Mais tarde, toda e
qualquer ação coletiva passou a gozar de uma possibilidade de antecipação de tutela,
desde a legislação sobre a ação civil pública de 1985, aperfeiçoada pelo Código de
Defesa do Consumidor de 1990. Essa tutela antecipada específica acabou sendo
incorporada pela reforma de 1994 do art. 273 do CPC (LGL\1973\5), como regra geral
de antecipação dos efeitos de qualquer sentença de mérito, incluindo as destinadas ao
cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer (art. 461 do CPC (LGL\1973\5)),
bemcomo na entrega de coisa (art. 461-A do CPC (LGL\1973\5)).
A Colômbia refere-se à interdição provisória, além de também mencionar a impugnação
de atos de assembléias. E o Uruguai coloca como formas de antecipação específica uma
ampla gama de provimentos que se podem obter pela via monitória (entrega de coisa,
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entrega de herança, pacto comissório, redução pelo não pagamento, cessação de
condomínio de origem contratual, etc), além de referir-se a certas inibitórias, como o
fechamento do estabelecimento por causa de normas tributárias ou a intervenção em
sociedade comercial.
Posição peculiar é a tomada pela nova legislação processual espanhola, pois, segundo o
relatório, a tendência do código é no sentido de eliminar ou reduzir as formas de
procedimentos sumários de cognição superficial, hoje limitados aos processos sobre
capacidade, filiação, casamento e menores; sobre divisão judicial de patrimônio, etc.
Antecipação de tutela como princípio geral do ordenamento
São poucos os países que chegam a reconhecer a técnica da tutela antecipatória como
princípio geral do ordenamento.
De maneira genérica e expressa, existem, antes de tudo, o "référé " francês e belga,
como forma de se obter uma decisão temporária em situações capazes de evitar um
dano iminente. Normalmente, a outra parte está presente ou é notificada e só
excepcionalmente o provimento é deferido "inaudita altera parte". Mas há também os
"ex-parte proceedings", de natureza unilateral, em circunstâncias ainda mais
excepcionais, como quando a preservação do objeto da demanda depende do elemento
surpresa.
Existe, também, a tutela antecipada brasileira, dos arts. 273, 461 e 461-A do CPC
(LGL\1973\5). A duplicidade é devida à técnica da reforma processual de 1994, pela qual
se aprovaram diversos projetos de lei autônomos; mas na verdade, apesar de algumas
pequenas diferenças, o segundo dispositivo mencionado poderia perfeitamente ser
suprimido e reconduzido à tutela antecipatória genérica do art. 273 do CPC
(LGL\1973\5).
Na Itália, em face da multiplicidade de formas de antecipação de tutela em casos
específicos, a doutrina entende poder-se extrair do sistema uma tutela antecipada
genérica, aplicável mesmo fora do rol dos casos expressamente previstos.
O mesmo ocorre na Argentina, onde, ao lado das medidas cautelares típicas, destaca-se
a existência de medidas antecipatórias de caráter material, também chamadas
autosatisfativas. A evolução das cautelares para as satisfativas deu-se por obra de uma
sólida doutrina e de uma jurisprudência engenhosa, levando à satisfação antecipada do
direito material em disputa, sobretudo no campo de certos direitos e garantias
fundamentais. Hoje, o Código provincial de La Pampa, de 2000, já regula expressamente
a tutela antecipatória e as medidas autosatisfativas. O relatório deixa claro que, para
responder às demais questões levantadas, será tomado por base o mencionado Código
de La Pampa, juntamente com a doutrina e a jurisprudência argentinas em geral.
O novo Código espanhol contém uma regulamentação de medidas denominadas
"cautelares antecipatórias" (art. 726 da LEC), permitindo ao juiz, em caráter temporal,
provisório e revogável, conceder medidas cautelares que consistam em ordens ou
proibições de conteúdo semelhante ao que se pretende no processo, sem prejuízo da
sentença que posteriormente seja proferida. O relatório espanhol vê nesse dispositivo
uma verdadeira tutela antecipatória, diversa da conservativa, muito embora aponte para
a inexistência, até agora, de qualquer informação sobre o funcionamento do instituto.
Finalmente, no Uruguai, reconhece-se a possibilidade de antecipação de tutela, por via
de amparo, dos direitos ou liberdades presumivelmente violados. Mas a absoluta falta de
regulamentação do preceito tem tornado a antecipação extremamente rara na práxis
judiciária.
Os demais países pesquisados não conhecem a tutela antecipatória, como princípio geral
do ordenamento.
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b) Em todos essas técnicas, a cognição do juiz é superficial, no sentido da profundidade?
A superficialidade, maior ou menor, do conhecimento do juiz, para efeito de um
provimento antecipatório, depende, em geral, da natureza do procedimento sumário.
Com relação ao processo de estrutura monitória, com pequenas variantes nos relatórios
examinados, afirma-se que a limitação da cognição do juiz restringe-se à matéria de fato
suscitada pelo requerente, valendo plenamente a regra do "iura novit curia", de modo
que o pedido deve ser rejeitado quando dos fatos deduzidos pelo demandante não
emerge a conseqüência jurídica pretendida. Assim, embora se trate de técnica de
cognição sumária, o juiz mantém íntegra a liberdade de valoração a respeito do direito.
O relatório italiano aponta para uma grande diversidade de graus de cognição do juiz,
conforme o provimento satisfativo antecipado requerido: assim, por exemplo, em alguns
casos o conhecimento do juiz se satisfaz com o "fumus boni iuris", como se se tratasse
de medida cautelar; em outros, deve utilizar a cognição profunda, como faria para uma
sentença de mérito, mas levando em conta tão somente as razões do demandante
(como na condenação com reserva ou na convalidação de licença ou despejo); também
à prova escrita produzida pelo demandante limita-se a cognição do juiz no processo
monitório; em outros casos (ordinanze) é suficiente a não oposição. E, nos demais
casos, a cognição do juiz deve ser o mais profunda possível, mas "secundum eventum
probationis", ou seja de acordo com as provas produzidas até o momento.
No Brasil, o relatório observa que a profundidade do conhecimento do juiz para a
concessão da antecipação de tutela depende do momento procedimental em que o
provimento é proferido: quando a antecipação é deferida no início do processo, antes
mesmo da citação, a cognição do juiz é necessariamente superficial, sendo suficiente
que a prova produzida com o pedido leve à convicção sobre a verossimilhança. Mas
quando a tutela antecipatória é deferida mais tarde, após uma audiência prévia de
justificação, já o conhecimento é mais profundo. Por outro lado, a doutrina sustenta que
a tutela antecipada genérica pode ser concedida até mesmo no momento da sentença de
mérito, ou em grau de recurso (para antecipar os efeitos do provimento recursal):
nesses casos, evidentemente, a cognição do juiz terá sido profunda e exauriente.
O relatório austríaco fala numa redução do "standard" da prova, agindo o juiz após um
exame "prima facie" da prova produzida. O relatório alemão, além do menor peso da
carga da prova (principalmente quando o demandante oferece garantias), lembra a
necessária apreciação, pelo juiz, dos interesses em conflito, para balanceá-los. A Bélgica
alude a um menor grau de certeza, à plausibilidade e ao princípioda razoabilidade. Em
probabilidade fala o relatório grego, enquanto o japonês alude à prova "prima facie"
(somei), mas afirma que o aumento recente de casos de antecipação levou à exigência
de uma prova não muito diferente, em grau de certeza, da exigida no processo comum.
Na Espanha, nos poucos casos existentes (chamados pela LEC de "casos especiales de
juício verbal"), a cognição do juiz é superficial, com a conseqüência de a sentença não
fazer coisa julgada. Na monitória, pelo contrário, o procedimento é rápido mas plenário,
de cognição plena e com o processo culminando numa sentença de mérito que faz coisa
julgada.
Na Argentina, a cognição é sempre sumária, periférica, superficial, justificando o
relatório a circunstância pelo fato de o provimento não ser de mérito e não fazer coisa
julgada.
O relatório colombiano também relaciona a cognição do juiz com o menor grau de
certeza da prova, que, no entanto, será apreciada criteriosamente, de acordo com as
regras da "sana critica".
O relatório uruguaio afirma que a profundidade do conhecimento do juiz, no processo
monitório, dependerá de haver ou não impugnação e que nas medidas antecipatórias
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específicas, sobretudo em matéria comercial e tributária, a defesa é bastante limitada.
c) Quais os requisitos para a concessão da tutela sumária? (ex: periculum in mora,
probabilidade e verossimilhança, reversibilidade da tutela, etc.)
De algum modo, a grande maioria dos relatores nacionais já falaram em probabilidade,
verossimilhança, balanceamento dos interesses em jogo, nas resposta ao quesito
anterior.
Acrescente-se, aqui, que os relatórios, em geral, também mencionam o periculum in
mora, a urgência, o provável prejuízo. Para a antecipação, a Alemanha alude à não
irreversibilidade, a Bélgica (sobretudo para os procedimentos ex parte), à "extrema
urgência"; e a Itália lembra que, do ponto de vista prático, o juiz deve aferir os
interesses contrapostos das partes, num juízo de balanceamento, uma vez que do ponto
de vista legal os pressupostos das medidas antecipatórias se confundem com os exigidos
para os provimentos cautelares. A Grécia fala em urgência, no periculum in mora e no
balanceamento dos interesses em jogo.
Na Argentina, exige-se uma verossimilhança superior à demandada para as medidas
cautelares, correspondendo a uma "forte probabilidade"; a "urgência impostergável" e a
não produção de efeitos irreparáveis são outras exigências para a antecipação. A
observação do relator é no sentido de que o periculum in damni prevalece sobre o
periculum in mora.
No Brasil, para a tutela antecipada genérica exige-se "prova inequívoca que leve ao
convencimento da verossimilhança", o que vale dizer uma forte probabilidade; além
disto, é necessária a demonstração do periculum in mora capaz de levar a um dano
irreparável. A não irreversibilidade do provimento é outra exigência, medida segundo o
princípio da proporcionalidade. A particularidade da antecipação de tutela brasileira é
que ela também pode ser concedida em casos de abuso do direito de defesa e, por uma
recentíssima alteração legislativa, quando existe parte incontroversa da demanda.
Lembre-se que o sistema brasileiro introduziu recentemente o "contempt of court", no
art. 14 do CPC (LGL\1973\5), aludindo especificamente às medidas antecipatórias e aos
provimentos mandamentais. Quanto ao último ponto - a existência de parte
incontroversa da demanda -, estaríamos diante de uma antecipação parcial do chamado
"julgamento antecipado da lide", ou seja o julgamento do mérito que ocorre no sistema
brasileiro, antes da instrução, quando a questão de mérito é só de direito, ou quando os
fatos são incontroversos.
Na Espanha, cada procedimento sumário tem seus pressupostos: assim, para a defesa
da posse, há necessidade de justificação; para as medidas cautelares, a LEC fala em "
periculum in mora", probabilidade ou verossimilhança. O mesmo, evidentemente, deve
valer para as chamadas "medidas cautelares antecipatórias"
d) Como se executam (ou se atuam), em seu país, os provimentos satisfativos em
questão?
O relatório austríaco observa que os provimentos satisfativos em questão atuam "ex
officio". O alemão esclarece que não são ordens "in personam", uma vez que na
Alemanha não existe o "contempt of court", atuando como qualquer outro provimento
jurisdicional, com a abertura da via do processo de execução na monitória. Nos demais
casos, e sobretudo nas obrigações de fazer ou não fazer, o provimento atua como um
julgamento preliminar, colocando o demandante numa posição de superioridade.
Na Bélgica, o provimento é imediatamente executivo, sobretudo nos casos "ex parte".
Também na Espanha, a tutela sumária é imediatamente executiva, dada a generalização
da execução provisória da sentença de primeiro grau.
Na Itália, o decreto injuntivo do processo monitório leva à execução definitiva e eqüivale
a uma verdadeira sentença. Na Grécia, tem executividade imediata, "ex officio", e forte
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impacto prático. Na Argentina, o provimento monitório se executa conforme as regras
gerais, mas não há um regime específico de atuação ou execução das demais medidas
antecipatórias.
No Uruguai, o decreto monitório tem força de sentença passada em julgado,
sujeitando-se às regras do processo de execução; o relatório uruguaio, para as medidas
antecipatória, fala em execução em nível de autosatisfação.
No Brasil, pelo texto legal anterior, as medidas antecipatórias eram atuadas conforme as
regras do Processo de Execução. Mas deve ser salientada a recente reforma da redação
do art. 273, § 3.º, do CPC (LGL\1973\5), substituindo o termo "execução da tutela
antecipada", por "efetivação", bem como mandando observar as regras do art. 588 do
CPC (LGL\1973\5) (que trata da execução provisória) mas também as dos arts. 461, §§
4.º e 5.º, e 461-A do CPC (LGL\1973\5), que cuidam da tutela específica das obrigações
de fazer ou não fazer e de dar, contemplando um regime de astreintes e de provimentos
mandamentais para a obtenção de um resultado prático equivalente ao adimplemento. A
doutrina ainda está dividida sobre a interpretação a ser dada ao termo "efetivação da
tutela antecipada" e à amplitude da mudança, mas é importante lembrar que o próprio
processo de execução brasileiro está em vias de passar por um profundo processo de
modificação: pelo projeto de lei apresentado ao Governo, na execução (rectius, atuação)
da sentença não haveria mais uma nova relação jurídica, ex intervallo, nem oposição do
executado por via de ação própria, mas um mero prosseguimento do processo de
conhecimento, com possível impugnação do demandado; e pelo projeto se adotariam, ao
lado da alienação do bem, técnicas semelhantes às previstas para a tutela específica das
obrigações de fazer ou não fazer e de dar (como as astreintes).
e) Qual o grau de estabilidade da tutela sumária, em seu país? (ex: formação de título
executivo, coisa julgada, etc.)
Na Alemanha, as injunções interlocutórias constituem títulos que abrem caminho para a
execução. Quando submetidas a apelação ordinária, podem levar a uma sentença
revestida da autoridade da coisa julgada. A monitória antecipa a formação do título
executivo, mas a injunção, mesmo não impugnada, não adquire força de coisa julgada.
Na Áustria, as medidas antecipatórias são sempre provisórias.
Completamente diferente é o tratamento do référé : o relatório belga afirma que,
contrariamente ao que foi defendido no passado, o référé leva à coisa julgada. Somente
aduzindo fatos novos, podem as partes obter a modificação da decisão anterior (de
acordo com a cláusula rebus sic stantibus). Mas um référé contrastante com a coisa
julgada obtida em processo posterior cai. Normalmente, no référé aguarda-se a decisão
final, mas ele constituium importante ponto de referência para o processo principal,
embora não tenha efeito vinculante. O efeito do référé cessa com o eventual julgamento
do mérito.
Na Espanha, as peculiaridades da monitória levam sempre a uma sentença de mérito,
coberta pela coisa julgada. Mas, na verdade não existe antecipação na tutela monitória
espanhola. Nos demais casos dos chamados "casos especiais de juízos verbais" não há
coisa julgada.
Na Itália, a estabilidade da tutela sumária varia conforme os casos. No processo
monitório, o decreto injuntivo não impugnado eqüivale a uma sentença passada em
julgado. A condenação com reserva de exceções é imediatamente executiva, produzindo
desde logo todos os efeitos de uma sentença de primeiro grau, apelável. Não sendo o
provimento impugnado, faz coisa julgada; mas trata-se, aqui, de uma coisa julgada
sujeita a condição resolutiva, caso uma sentença futura acolha as exceções reservadas.
A antecipação de tutela genérica do art. 700 do CPC (LGL\1973\5) (inicialmente
destinado exclusivamente às cautelares) é imediatamente executiva, mas a sentença de
mérito anula seus efeitos, seja a favor ou contra a antecipação. Também cessa a eficácia
do provimento antecipatório, se o processo se extingue sem sentença, por renúncia ou
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
e sua estabilização
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inatividade do demandante. Nos outros casos, a regra geral é de imediata executividade
do provimento, que ficará absorvido pela sentença de mérito.
Na Grécia, a eficácia executiva dos provimentos antecipatórios é imediata, mas sempre
provisória, chegando-se a falar de uma "coisa julgada provisória".
f) Em seu país, a tutela sumária substitui o processo ordinário, ou somente o abrevia?
(ex: a antecipação de tutela exige a posterior sentença de mérito ou a dispensa?)
Em geral, no procedimento monitório, se não houver impugnação, não há necessidade
de procedimento comum.
O relatório austríaco, para os demais casos, afirma que a tutela sumária não substitui o
processo ordinário. Na Alemanha, ao contrário, se o demandado não inicia o
procedimento ordinário, a medida, de provisória, torna-se definitiva, sem necessidade do
julgamento de mérito. Mas, no direito de família, o provimento que concedeu os
alimentos expira se não segue a ação de divórcio.
Na Bélgica, embora o référé seja tipicamente temporário, a instauração de uma "ação
plena" não é essencial, nem o instituto depende do procedimento ordinário. É possível, e
mesmo comum, que o référé encerre a questão. Cada vez mais, "de facto" senão "de
iure", o référé tem efeitos de uma decisão final (o relatório refere-se, como leading case,
ao processo De Benedetti versus Société Générale de Belgique).
Assim também, no référé francês, as partes costumam conformar-se com o provimento,
sendo que parece que mais de 90% (noventa por cento) dos casos acabam resolvidos
sem necessidade do processo ordinário.
Na Espanha, o esforço da LEC é no sentido de se atingir sempre uma sentença de
mérito, em procedimentos abreviados mas de conhecimento, conquanto nem sempre
pleno e exauriente. Isto ocorre até mesmo na monitória.
Na Itália, os institutos da monitória e da convalidação de licença e despejo nascem como
instrumentos alternativos ao processo de conhecimento, e visam a substituir a tutela
ordinária. Os outros institutos nascem como finalidade antecipatória e aceleratória, sem
renunciar à sentença de mérito. Mas o relacionamento com o juízo de mérito pode ser
mais ou menos estreito: tão estreito nas possessórias e nas inibitórias que, se não
houver julgamento do mérito, a eficácia do provimento cessa. Mas, em outros casos, a
extinção do processo sem julgamento do mérito deixa intacta a eficácia executiva do
provimento e os intérpretes tendem a afirmar que a renúncia ou inatividade confere ao
provimento natureza de sentença (segundo alguns, sujeita a recurso, segundo outros,
coberta pela coisa julgada).
Também no Japão, a monitória não contrastada substitui o processo comum.
O relatório argentino afirma que, em geral, a tutela sumária não substitui a tutela
comum, sendo que a antecipação de tutela exige o processo de conhecimento. Isso
também ocorre na monitória impugnada. Mas nas medidas autosatisfativas, construídas
pela doutrina e pela jurisprudência e reguladas no Código provincial de La Pampa, há um
processo abreviado, urgente, que leva a uma sentença de mérito, que decide o mérito
da pretensão. Tais medidas, no entanto, são excepcionais, reservadas a situações em
que o direito seja suficientemente líquido e certo (como no caso de autorização de
transfusão de sangue e os recentes casos de desbloqueio de contas bancárias). Às vezes
tais medidas autosatisfativas são obtidas por intermédio de um amparo, às vezes como
pedido de tutela autosatisfativa mesmo.
No Brasil, exceção feita à monitória não impugnada, as medidas antecipatórias jamais
dispensam o procedimento comum e a sentença de mérito.
Também na Colômbia, é sempre necessária uma sentença posterior.
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No Uruguai, na monitória clássica, o processo de conhecimento só ocorre havendo
impugnação. Mas, dada a ampla gama de processos de estrutura monitória, destinados à
tutela dos mais diversos direitos, o provimento substitui a sentença de mérito quando
não houver oposição, em muitos casos. Para a antecipação de tutela genérica, não há
regras estabelecidas. Embora rara, essa antecipação, obtida por meio de amparo,
normalmente é provisória, dependendo da sentença de amparo (que faz coisa julgada
sobre seu objeto). Mas o relatório não exclui que o provimento antecipatório possa
substituir o procedimento ordinário.
g) Qual a amplitude das garantias do procedimento sumário, em seu país? (ex:
contraditório pleno ou limitado, motivação, publicidade, impugnação do provimento,
etc.)
Na Alemanha, nas injunções interlocutórias (einstweilige verfügung), o contraditório é
eventual, ficando a critério da Corte que leva em consideração o grau de urgência da
medida requerida. O relator esclarece que a urgência é aferida não apenas no sentido de
evitar o dano, mas também levando em conta o elemento surpresa. No entanto, o
demandado pode sempre apresentar uma defesa prévia escrita (schutzschriftz). Após o
deferimento da medida, pode haver impugnação a qualquer tempo. Para alguns assuntos
específicos ligados ao Direito de Família, está prevista uma apelação especial, a ser
decidida em duas semanas. Se a injunção interlocutória toma a forma de um
julgamento, deve ser motivada. Caso contrário, só há necessidade de motivação se o
pedido for indeferido. A motivação do Einsteveilig Anorrdungen, em matéria de família,
só é obrigatória quando o provimento é apelável.
O relatório austríaco fala em contraditório diferido, quando a ordem é concedida inaudita
altera parte. Não havendo objeção, o silêncio do demandado é tido como consentimento.
Diversamente do que ocorre na Alemanha, não há possibilidade na Áustria de defesa
prévia escrita (schutzschriftz).
A apelação é prevista somente para alguns casos.
No référé , segundo o relatório belga, pode existir uma audiência prévia, para
apresentação de razões, realizável no prazo máximo de dois dias e freqüentemente tudo
se resolve em poucas horas. Ouvidas as partes, o juiz decide e o provimento,
necessariamente motivado, abre a via à execução provisória. Também há possibilidade
de oposição posterior ou de apelação, não podendo cumular-se os dois meios de
impugnação.
Já nos procedimentos ex parte da Bélgica, só há uma parte: o demandante. Mas o
Presidente, embora raramente, pode reunir as partes na Câmara. O demandante pode
apelar da denegação, mantido o caráter unilateral. Se o demandado se opuser ao
provimento, inicia um procedimento em contraditório, que o relator considera essencial
para garantir o "fair trial".
Na Espanha, o TribunalConstitucional tem admitido o contraditório diferido,
substituindo-se a audiência prévia pela impugnação posterior à concessão da medida ou
proibindo a impugnação, mas abrindo a via da revisão em juízo posterior.
O relatório grego relata que nos remédios provisórios costuma haver uma audiência
fixada para um prazo de poucos dias, e que pode ocorrer em qualquer lugar e mesmo
em dias feriados. Nos procedimentos ex parte a audiência é possível, mas extremamente
rara. O provimento provisório é considerada genuína decisão judicial, necessariamente
motivada. A ordem não pode ser atacada pelas impugnações ordinárias, admitido apenas
o recurso de cassação. O remédio contra o provimento é sua revogação, que pode ser
determinada ex officio ou a requerimento da parte ou de terceiro. Só cabe apelação do
provimento antecipatório em casos de posse e propriedade.
Na monitória japonesa, normalmente não há contraditório prévio, mas o demandado
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pode apresentar objeção prévia. Nas medidas antecipatórias o contraditório fica a critério
da Corte e não se observa a publicidade. Mas o contraditório é diferido, sendo pleno no
processo posterior.
Na Itália, a motivação desses provimentos é sempre sumária, com exceção da
condenação com reserva de exceção de compensação, motivada como qualquer
sentença. Todos os provimentos são impugnáveis, com regras diversas conforme os
casos. Na monitória, não há possibilidade de contraditório antes do decreto injuntivo,
cujo processo tem estrutura de contraditório diferido. Nos demais casos, o contraditório
é necessário, mas nas hipóteses de concessão inaudita altera parte, é diferido.
O relatório argentino afirma ser o contraditório sempre respeitado antes do provimento.
Mas, na monitória, a oposição do demandado é posterior à injunção, e nas medidas
autosatisfativas, de natureza excepcional, o contraditório é diferido. A motivação deve
ser a suficiente para as decisões interlocutórias. São previstos a apelação e,
excepcionalmente, recurso para a Corte Suprema Nacional.
No Brasil, o relator observa que devem observar-se todas as garantias do "devido
processo legal". O contraditório, na tutela antecipada, pode ser prévio ou diferido
(quando a medida for concedida inaudita altera parte). Além disto, todas as decisões
interlocutórias, no Brasil, são recorríveis mediante agravo, que nesses casos sobe
imediatamente ao Tribunal de Segundo Grau. Assim, as decisões antecipatórias podem
ser imediatamente revistas pelo Tribunal e, eventualmente, pela cassação (Superior
Tribunal de Justiça), por meio de cautelar. A motivação é sempre necessária, assim
como são de obrigatória observância outras garantias constitucionais, como a
publicidade, o juiz natural, a igualdade. Aplica-se, também nesse campo, o princípio da
ação, sendo ônus do requerente pedir a antecipação e devendo o juiz ater-se aos limites
do pedido.
Na Colômbia, os procedimentos em questão são tratados como incidentes, submetidos
ao contraditório.
Finalmente, no processo monitório do Uruguai o contraditório é diferido, com algumas
limitações à matéria da defesa em casos específicos. Nos processos antecipatórios, o
relatório fala de uma "razoável atenuação das garantias", sendo às vezes o contraditório
prévio, e às vezes diferido.
h) Em seu país, é ampla a utilização dos procedimentos sumários? Existem estatísticas a
respeito?
Os únicos países pesquisados onde há estatísticas oficiais são a Alemanha e o Japão. Na
Alemanha, as estatísticas das Cortes locais (amstesrichte) e das Cortes distritais da
primeira instância (landesgerichte), de 2001, mostram que estavam pendentes nos
tribunais 8.280.956 processos ordinários e 46.342 procedimentos antecipatórios
(excluídos os processos monitórios e os atinentes ao Direito de Família). O relator
alemão afirma que as injunções interlocutórias, nos casos de concorrência desleal,
alcançam hoje de 60% a 80% dos procedimentos ordinários.
No Japão, as estatísticas do ano 2000 mostram que entraram 573.366 novos casos de
procedimentos monitórios, com 118.465 objeções. E que em tema de cautelares
entraram 45.150 novos casos.
A Áustria não dispõe de estatísticas oficiais, mas o relator informa que em 1996 houve
174 casos de injunções preliminares sem pendência de processo principal. Existem
também levantamentos quanto às possessórias e ao direito de família, sendo muito
freqüente a injunção para o cônjuge deixar o domicílio por causa de violência doméstica.
Muito utilizado, também, o procedimento monitório.
Também na Bélgica não há estatísticas, mas o relatório sustenta que os procedimentos
antecipatórios são cada vez mais usados, talvez até com algum excesso. O référé
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
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tornou-se a solução predominante e usual para os casos urgentes.
Na França, ao que se sabe, mais de 90% dos casos que ingressam na Justiça são
resolvidos mediante o référé.
O relator espanhol afirma que, antes da LEP (LGL\1984\14), houve largo emprego dos
interditos possessórios e da proteção da propriedade, que se tornaram muito populares.
Mas falta experiência em torno da aplicação do novo Código.
Na Grécia, todas essas medidas estão em franco crescimento, sobretudo em tema de
direitos da personalidade, direitos autorais, proteção da posse e da propriedade, direitos
trabalhistas, direito de família.
Na Itália, também desprovida de estatísticas, o relatório aponta o procedimento
monitório como extremamente freqüente. Em todos os processos atinentes ao direito de
família, há necessidade de provimentos antecipatórios. A antecipação possibilitada pelo
art.700 (aplicável antigamente só às cautelares conservativas) teve uma explosão em
tema de medidas antecipatórias e até hoje é utilizada com muita freqüência. Também as
inibitórias, usadas com tutela antecipada, são requeridas em todos os casos a que se
prestam. Igualmente freqüente é a antecipação em tema de relações trabalhistas e de
seguro obrigatório em matéria de trânsito. Em outros campos, a utilização da
antecipação é mais rara, e o relator atribui esse fato sobretudo à resistência do juiz, de
quem a antecipação exige o efetivo conhecimento do processo.
O relatório argentino informa que a tutela antecipatória generalizou-se a partir do
julgamento da Corte Suprema da Nação no caso "Camacho Acosta" e hoje é freqüente,
sob o manto das medidas cautelares, chamadas de antecipadas. Desde o início de 2002,
sob o regime de emergência econômico-financeira e as restrições aos saques (retiros de
fondos) bancários, os juizes concederam milhares de provimentos antecipatórios,
segundo estatísticas do Banco Central da República Argentina. Inexistem outras
estatísticas no país. Em compensação, a utilização do procedimento monitório é muito
escassa.
Também no Brasil, onde faltam igualmente estatísticas, o procedimento monitório é
escassamente utilizado, provavelmente em face do amplíssimo rol de títulos executivos
extrajudiciais previsto no Código de Processo Civil (LGL\1973\5), que abrem desde logo
o caminho para a via executiva. Completamente diversa é a situação da utilização das
medidas antecipatórias, de emprego muito amplo e difundido.
O relatório colombiano aponta para o largo uso dessas medidas, mas igualmente sem
estatísticas.
No Uruguai, freqüente é o uso da monitória, dada sua ampla aplicabilidade em
numerosos casos. Excepcional, pelo contrário, é o uso do amparo e limitadíssima a
antecipação de tutela, por falta de normas claras sobre o ponto e de regulamentação das
medidas autosatisfativas.
i) A seu ver, quais os escopos da tutela sumária? (ex: rapidez da resposta jurisdicional,
agilidade do procedimento, adequação ao tipo de controvérsia, etc.)
Todos os relatórios falam em uma resposta juridicional rápida, para garantir o direito
substancial às partes, nos casos emque o procedimento ordinário não pode ser obtido
ou atuado a tempo. O tempo intercorrente entre a propositura da demanda e a sentença
pode causar dano irreparável à parte, salientam alguns (Grécia); o problema
fundamental é o tempo no processo, e daí a necessidade de acelerar a tutela
jurisdicional, afirmam outros (Itália). A resposta rápida e a agilidade do procedimento
são apontados pelo relatório espanhol.
Não rara é a menção a situações de urgência, ligada às vezes à adequação ao tipo de
controvérsia subjacente (Uruguai). O relatório brasileiro observa que de início o escopo
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
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da tutela sumária foi propiciar a rapidez; passou-se depois a estender a tutela sumária
para prestigiar certos valores consagrados no plano material, o que indica a idéia de
adequação ao tipo de controvérsia. E, finalmente, com a antecipação genérica de tutela,
o propósito foi transferir para o demandado o ônus da duração do tempo do processo. A
Argentina realça a proteção diferenciada das novas escolhas valorativas e a tutela
jurisdicional efetiva para certos direitos preferenciais, falando, igualmente em
adequação. À adequação refere-se também o relatório japonês. O relatório colombiano
sustenta que o processo tradicional estimula e mantém a quem não tem razão.
j) A seu ver, a tutela sumária está fadada a substituir completamente o procedimento
ordinário, ou pensa que este último modelo, apesar de sua inevitável duração,
continuará adequado às controvérsias mais complexas?
k) Contrario sensu, pensa que a simplificação do procedimento ordinário poderia
diminuir a importância da tutela sumária?
A grande maioria dos relatores preferiu responder conjuntamente às duas questões, que
representam, efetivamente, o verso e o reverso da mesma medalha.
Em geral, os relatórios admitem a necessidade dos dois tipos de tutela - a do
procedimento ordinário, de cognição profunda e exauriente, culminando com a sentença
e a coisa julgada; e, a seu lado, a tutela sumária, destinada aos casos de urgência ou
àqueles em que a natureza do bem a ser protegido demanda uma resposta mais célere e
eficaz. A tutela sumária jamais poderá substituir completamente o procedimento
ordinário, mais seguro e adequado aos casos mais complexos, nem poderá a
simplificação e aceleração do procedimento ordinário dispensar completamente a tutela
sumária. Quase todos os relatórios salientam a diversa função, e conseqüentemente, a
necessidade de coexistência das duas formas de tutela.
No entanto, em alguns relatórios delineia-se a preferência pelo reforço de uma ou outra.
Assim, o relatório austríaco afirma que a importância da tutela sumária é menor no país,
devido à efetividade geral do processo ordinário. E, embora reconheça uma tendência
atual no sentido da maior generosidade para a tutela sumária, bem como na
transformação das medidas cautelares conservativas em medidas antecipatórias, o
relator austríaco considera improvável seu incremento no futuro, porque a tendência na
Áustria é rumo a um procedimento ordinário cada vez mais rápido.
Na Espanha, o relator, embora defenda a complementaridade da tutela ordinária e da
tutela sumária, observa que a nova LEC assumiu deliberadamente a posição que
privilegia a aceleração do procedimento ordinário, deixando de lado as medidas
antecipatórias. Mas adverte que essa via já se demonstrou inadequada.
O Uruguai fica a meio caminho, porquanto admite que a simplificação do procedimento
comum pode diminuir a importância dos procedimentos sumários - como, aliás, já teria
ocorrido no país pela adoção do "processo por audiências", enquanto os sumários
subsistiriam apenas para os casos excepcionais (exemplificando com os procedimentos
monitórios de várias finalidades, existentes no ordenamento).
Posição diametralmente oposta é a do relator italiano: louvando a tutela de tipo
executivo-satisfativo, sem coisa julgada (como o référé ), afirma a necessidade de
desmistificar a coisa julgada, preconizando que os provimentos antecipatórios se tornem
o perfeito equivalente da sentença de mérito. Acrescenta, ainda, que o tempo é o
inimigo implacável do procedimento ordinário, devido às suas maiores garantias, à
sempre maior quantidade de indisponibilidade (devida à ampliação das matérias de
"ordem pública") e à extensão dos poderes do juiz, que põe por terra as preclusões.
Nesse mesmo sentido, o relator da Colômbia, preconiza a generalização da tutela
sumária, devendo o procedimento ordinário - que nunca alcançará a mesma celeridade -
ficar simplesmente à disposição do perdedor.
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
e sua estabilização
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l) Que outras considerações entende cabíveis a respeito do tema?
A essa pergunta de encerramento, a Alemanha responde que, conforme mostram as
estatísticas, a tutela sumária é raramente utilizada (35 a 1), com exceção da monitória.
E atribui o pouco uso à responsabilidade por danos, muito facilitada pelo ordenamento
alemão, explicando ser possível deixar imune a ordem provisória e iniciar desde logo
uma ação de danos.
O relator espanhol observa que o processo civil dos nossos dias não é mais aquele das
grandes construções dogmáticas, devendo se buscarem respostas válidas para uma
sociedade cada vez mais complexa e exigente. É preciso, afirma, adaptar as grandes
criações doutrinárias às exigências de nossa época.
A Grécia também salienta que as vias alternativas ao processo ordinário devem ser
buscadas, podendo levar a um título capaz de produzir os mesmos efeitos da coisa
julgada. O relator afirma que as medidas antecipatórias e a monitória tiveram uma
resposta espetacular no país, levando a uma "coisa julgada provisória" que pode
substituir o procedimento ordinário.
O relator japonês vê as vias da tutela sumária como alternativas ao procedimento
ordinário e salienta sua função facilitadora de acesso à justiça. Adverte, porém, que
também é importante a reforma do processo ordinário, uma vez que para cada situação
concreta há uma resposta jurisdicional adequada.
O relatório argentino aponta para a necessidade de um justo equilíbrio, advogando a
prevalência da tutela ordinária, mas também a reserva de espaços razoáveis para
procedimentos e técnicas sumárias. Aqui também se fala em adequação.
No relatório brasileiro são descritas as limitações do ordenamento à tutela antecipada
em face do Poder Público.
E, finalmente, o Uruguai repisa os excelentes resultados obtidos no país mediante um
processo ordinário por audiências, ao lado de diversos tipos de procedimentos
monitórios.
7. Reflexões conclusivas - Segunda parte - Estabilização da tutela antecipada
O procedimento ordinário de cognição, tradicionalmente tomado como base e ponto
central do ordenamento processual, foi sendo corroído por novas posturas, preocupadas
com a efetividade da tutela jurisdicional e com um processo de resultados.
Descrevendo os males que determinam o retardamento da prestação jurisdicional,
Andrea Proto Pisani1aponta como a ideologia liberal-individualista dos fins do século XIX
e da primeira metade do século XX imaginasse com absoluta certeza que a técnica do
procedimento ordinário seria apta a tutelar um rol infinito de direitos. E observa que o
caráter mistificador decorrente do pressuposto teórico da igualdade formal das partes,
ensejou o culto acrítico àquela forma de procedimento.
Mais recentemente, todavia, observou-se que o modelo tradicional de procedimento
ordinário é inadequado para assegurar a tutela jurisdicional efetiva a todas as situações
de vantagem. O procedimento ordinário de cognição não pode mais ser considerado
técnica universal de solução de controvérsia, sendo necessário substitui-lo, na medida do
possível e observados determinados pressupostos, por outras estruturas procedimentais,
mais adequadas à espécie de direito material a ser tutelado e capazesde fazer face a
situações de urgência. Os termos tutela diferenciada, ou simplesmente tutela sumária
lato sensu, indicam exatamente a utilização de técnicas processuais que, ainda no dizer
de Proto Pisani, possam: a) evitar às partes e à administração da justiça o "custo" do
processo de cognição plena, nos casos em que não se justifica a plausibilidade de
contestação; b) assegurar rapidamente a efetividade da tutela jurisdicional nas situações
de vantagem de conteúdo (exclusiva ou prevalentemente) não patrimonial e que
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
e sua estabilização
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sofreriam dano irreparável pela demora da cognição plenária; e c) evitar o abuso do
direito de defesa do demandado, mediante a utilização dos instrumentos de garantia
previstos para o procedimento ordinário2.
Claro é que, mesmo na tutela diferenciada - ou sumária lato sensu - as garantias
constitucionais deverão ser respeitadas, adequando-se, porém, às situações supra
descritas: o contraditório poderá ser diferido, o direito à prova ajustado à realidade dos
fatos, os recursos e as vias de impugnação limitados.
Da análise da esmagadora maioria dos relatórios nacionais apresentados, surge
inequivocamente essa tendência, consubstanciada nos diversos remédios processuais
que podem evitar o processo ordinário de conhecimento: este não desaparecerá, dizem
os mesmos relatórios, porquanto adequado às controvérsias mais complexas e capaz de
levar a uma maior estabilidade nas relações jurídicas (com a coisa julgada), mas
certamente pode e deve ser substituído nas diversas situações que justificam a tutela
diferenciada (ou sumária lato sensu).
E essa mesma tendência nota-se cada vez mais de lege ferenda.
Segunda parte - Estabilização da tutela antecipada
8. Itália: a legislação projetada e a doutrina
A Itália está às vésperas de importantes novidades legislativas, no que diz respeito à
estabilização da tutela antecipada. São três os projetos que interessam ao nosso estudo:
a) O Projeto Vaccarella. Em primeiro lugar, é preciso mencionar a reforma geral do
Código de Processo Civil (LGL\1973\5), empreendida pela Comissão presidida pelo Prof.
Romano Vaccarella, hoje alçado ao cargo de juiz da Corte Constitucional. Observe-se que
as reformas dos códigos, na Itália, ocorre por meio de "leggi delega", em que o Governo
solicita a delegação ao Parlamento, cabendo a este estabelecer os princípios gerais da
futura lei. Obtida a delegação, o governo fica incumbido da elaboração da lei por
intermédio da "legge delegata", posteriormente submetida ao Congresso para aprovação
final, vedada qualquer emenda. É a mesma técnica introduzida pela Constituição
brasileira no art. 68, que é no entanto muito pouco utilizada no Brasil.
O Conselho de Ministros da Itália elaborou a proposta de "legge delega", na base do
esboço apresentado pela Comissão Vaccarella, assim regulando a estabilização da tutela
antecipada:
"Art.48 - Del procedimento sommario.
1 - Prevedere un procedimento sommario non cautelare, improntato a particolare
celerità ma nel rispetto del principio del contraddittorio, che conduca all'emanazione di
un provvedimento esecutivo:
a) reclamabile;
b) privo dell'efficacia del giudicato;
c) esperibile anche nel corso di un processo a cognizione piena;
d) idoneo ad eventualmente definire tale processo".
Vê-se daí que a) o ordenamento italiano vai distinguir a tutela cautelar da tutela
antecipatória (o que não ocorre pelo atual art. 700 CPC (LGL\1973\5) italiano); b) para a
tutela antecipatória, vai criar um procedimento sumário, ante causam ou inserido no
próprio processo ordinário de conhecimento; c) as características do procedimento
sumário são a celeridade e o respeito ao contraditório; d) a decisão é recorrível
(reclamo); e) o provimento terá força executiva, mas não fará coisa julgada; f) referido
provimento antecipatório poderá definir o processo, não exigindo a prolação de sentença
TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA: a antecipação
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de mérito.
Diversamente, com relação à monitória, o art. 47 do Projeto de "legge delega" prevê que
o decreto monitório, não impugnado, se revista da eficácia de coisa julgada.
b) Possessórias. Durante a tramitação do projeto Vaccarella, a Câmara dos Deputados
aprovou o Projeto de Lei 2.430, remetido ao Senado em 23 de julho de 2003,
modificando parcialmente o Código de Processo Civil (LGL\1973\5).
No tocante à tutela possessória, o art. 63 modifica o art. 703 do CPC (LGL\1973\5)
italiano (sobre a manutenção e reintegração de posse), para afirmar que o art. 669-bis e
ss. (sobre a forma da demanda cautelar) só se aplicam enquanto compatíveis,
acrescentando ao mesmo art. 703 dois commas: um, determinando que o provimento do
juiz é sujeito a recurso (reclamo); outro, com a seguinte redação:
"Se richiesto da una delle parti, entro il termine perentorio di sessanta giorni decorrente
dalla comunicazione del provvedimento che ha deciso sul reclamo ovvero, in difetto, del
provvedimento di cui al terzo comma, il giudice fissa dinanzi a sè l'udienza per la
prosecuzione del giudizio di mérito, che è definito com sentenza non appellabile. Si
applica l'articolo 669-novies, terzo comma".
Isto tudo significa, em resumo, que, após a preclusão da decisão que antecipou a
manutenção ou reintegração de posse, o processo só retoma seu curso, até a sentença
de mérito, se qualquer das partes o requerer, dentro de sessenta dias. Contrario sensu,
caso não haja requerimento, o provimento antecipatório torna-se definitivo, sem
necessidade de julgamento do mérito.
c) Processo Societário. Trata-se, agora, do Decreto Legislativo 5, de 17 de janeiro de
2003, que atua o art.12 da "legge delega" 366, de 3 de outubro de 2001. Já aprovado,
referido Decreto Legislativo encontra-se em fase de vacatio legis, com a previsão de
entrada em vigor para 1.º de janeiro de 2004.
Dispondo a respeito dos procedimentos em matéria de direito societário e de
intermediação financeira, bem como em matéria bancária e de crédito, o novo diploma
legal regula os "provimentos de urgência e os demais provimentos cautelares aptos a
antecipar os efeitos da decisão". A primeira observação que o exame da matéria
desperta é que os chamados "procedimentos cautelares aptos a antecipar os efeitos da
decisão" não estão obrigatoriamente sujeitos ao requisitos da urgência.
A matéria vem disciplinada em dois artigos: o art. 23 do CPC (LGL\1973\5) italiano,
voltado à disciplina da antecipação da tutela ante causam; e o art. 24 do CPC
(LGL\1973\5) italiano, que regula a tutela antecipada concedida no curso do processo.
Com relação às decisões antecipatórias ante causam, o art. 23 do CPC (LGL\1973\5)
italiano estabelece que a) a tais provimentos antecipatórios não se aplica o disposto no
art. 669-octies do CPC (LGL\1973\5) italiano (que torna obrigatória a propositura da
ação principal no prazo de 30 dias), não perdendo eles sua eficácia se a ação não for
proposta; b) se o procedimento que levaria à sentença de mérito não for iniciado, a
decisão antecipatória só pode ser modificada, a pedido das partes, se houver mudança
nas circunstâncias ou quando forem conhecidas, posteriormente, circunstâncias que
existiam anteriormente.
A eficácia da decisão antecipatória, portanto, é independente do juízo de mérito, que
pode ser evitado; mas trata-se de uma eficácia que não é imune à cláusula rebus sic
stantibus e atua secundum probationem3.
Por sua vez, o art. 24 do CPC (LGL\1973\5) italiano dita a disciplina da tutela antecipada
deferida no curso do processo, estabelecendo que a extinção do processo de mérito não
determina a ineficácia dos provimentos antecipatórios.
A doutrina italiana tem analisado recentemente a nova lei societária, observando que -
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e sua estabilização
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embora tenha ela vindo a lumeantes da reforma geral do Código proposta pela
Comissão Vaccarella - se insere na mesma filosofia e no mesmo regime jurídico.
Trata-se, portanto, de uma reforma setorial, que simplesmente antecedeu,
reproduzindo-as, as idéias do Projeto da Comissão Vaccarella, que já havia divulgado
seus trabalhos preliminares. É o que dizem, textualmente, Giuseppe Tarzia e Giorgio
Costantino. Vejamos.
Observa Giuseppe Tarzia:
"Ma il rilievo sulla disciplina autonoma, e tendenzialmente autosufficiente, del processo
ordinario di cognizione del nuovo contenzioso societario ha anche un più pregnante
significato. Esso pone in risalto l'üsteronproteron, l'inversione temporale che si è preteso
di compiere tra una riforma generale del processo civile - come è quella approntata col
disegno di legge delega della Commissione presieduta dal Prof. Vaccarella - e quella del
processo societario, cui si è attribuita una funzione anticipatrice dell'altra. Che, infatti, il
d. lgs. n. 2/2003 affondi le sue radici nel progetto Vaccarella non è contestabile nè
contestato. Ciò non genera soltanto alcuni difetti di coordinamento: inevitabili, laddove
um processo su materie speciali - al quale, come ho ricordato, "per quanto non
diversamente disciplinato dal presente decreto, si applicano le disposizioni" del codice di
procedura civile vigente "in quanto compatibili" (art. 1, comma 4) sia concepito come
anticipazione di um nuovo processo generale, e quindi con un implícito rinvio ad una
legge processuale generale futura"4
E, por sua vez, nota Giorgio Costantino:
"Sennonchè, come già altrove si è rilevato, le disposizioni processuali di cui al d. lgs. 17
gennaio 2003, n. 5, costituiscono una "sperimentazione" della riforma complessiva della
giustizia civile. In realtà, esse costituiscono attuazione dei principî e dei criteri direttivi
dello schema di legge delega per la riforma del codice di procedura civile elaborato dalla
Commissione presieduta dal professore Romano Vaccarella, attualmente giudice della
Corte Costituzionale"5
Para a análise detalhada da tutela antecipatória da lei do contencioso societário,
remete-se o leitor ao mesmo trabalho de Giorgio Costantino6.
Finalmente, cumpre lembrar as palavras de Edoardo Ricci, a propósito do procedimento
sumário voltado à antecipação de tutela criado pela proposta da Comissão Vaccarella.
Afirma o autor que assim nasceria na Itália uma nova forma de tutela jurisdicional de
cognição: a jurisdição contenciosa que visa à constituição de um título, dispensando a
coisa julgada, e desvinculada do requisito da urgência7.
9. Brasil: rumo à estabilização da tutela antecipada
Ainda em 1997, tivemos a oportunidade de apresentar uma proposta legislativa ao
Instituto Brasileiro de Direito Processual, visando à estabilização da tutela antecipada e à
execução provisória8. No entanto, à época o Instituto só levou adiante a proposta no
tocante à execução provisória, já transformada em lei pela modificação dos arts. 520,
VII, e 588 do CPC (LGL\1973\5). Em relação à estabilização da antecipação da tutela,
preferiu-se deixar o assunto para época mais oportuna.
Esta época chegou agora. O exemplo do direito comparado parece autorizar que, com as
devidas adaptações, o Brasil finalmente legisle a respeito do tema, hoje maduro.
Temos diante dos olhos o caminho evolutivo da estabilização da tutela antecipada, que
alguns ordenamentos já consagram, como ocorre no référé da França e da Bélgica e nos
projetos legislativos italianos, um deles já convertido em lei. E a este caminho evolutivo
não pode permanecer alheio o Brasil, que já apresenta, em muitos pontos, um sistema
processual civil de vanguarda.
Com as reformas pontuais do Código de Processo Civil (LGL\1973\5) e com leis
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e sua estabilização
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extravagantes (como a Lei da Ação Civil Pública, a Lei dos Juizados Especiais e o Código
de Defesa do Consumidor, dentre outras) o Brasil já deu largos passos adotando técnicas
processuais que assegurem a efetividade da tutela jurisdicional (que se insere, em
última análise, na questão de acesso à Justiça). O processo brasileiro soube adaptar os
princípios fundamentais do processo civil clássico às novas questões que surgem na
sociedade contemporânea: e assim reviu os tradicionais esquemas da legitimação, da
coisa julgada, dos poderes do juiz, dos controles pelo Ministério Público.
Agora é hora de desmistificar, sempre que necessário, os dogmas da universalidade do
procedimento ordinário de cognição, da sentença e da coisa julgada, que não podem
mais ser considerados como a única técnica processual para a solução jurisdicional das
controvérsias.
10. Proposta de Anteprojeto de Lei
Sensível a esse reclamo, o Instituto Brasileiro de Direito Processual acaba de constituir
Grupo de Trabalho, integrado por Ada Pellegrini Grinover, José Roberto dos Santos
Bedaque, Kazuo Watanabe e Luiz Guilherme Marinoni, com a incumbência de
prepararem uma proposta de Anteprojeto de Lei, visando à estabilização da tutela
antecipada.
A proposta consensual dos integrantes do Grupo vem assim redigida:
ANEXO: PROPOSTA PARA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA
Ada Pellegrini Grinover
José Roberto dos Santos Bedaque
Kazuo Watanabe
Luiz Guilherme Marinoni
1. Dê-se ao art. 273 do CPC (LGL\1973\5) a seguinte redação:
Art. 273. (...)
I - (...)
II - (...)
§ 1.º (...)
§ 2.º (...)
§ 3.º (...)
§ 4.º "A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada, fundamentadamente,
enquanto não se produza a preclusão da decisão que a concedeu (arts. 273-B e 273-C
do CPC (LGL\1973\5))".
§ 5.º "Na hipótese do inciso I deste artigo, o juiz só concederá a tutela antecipada sem
ouvir a parte contrária em caso de extrema urgência ou quando verificar que o réu,
citado, poderá torná-la ineficaz".
Art. 273-A. "A antecipação de tutela poderá ser requerida em procedimento antecedente
ou na pendência do processo".
Art. 273-B. "Aplicam-se ao procedimento antecedente, no que couber, as disposições do
Livro III, Título único, Capítulo I deste Código".
§ 1.º "Preclusa a decisão que apreciou o pedido de tutela antecipada, é facultado à parte
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interessada propor ação de conhecimento, no prazo de 60 (sessenta) dias".
§ 2.º "Não intentada a ação, a medida antecipatória adquirirá força de coisa julgada nos
limites da decisão proferida".
Art. 273-C. "Preclusa a decisão que apreciou o pedido de tutela antecipada no curso do
processo, é facultado à parte interessada requerer seu prosseguimento, no prazo de 30
(trinta) dias, objetivando o julgamento de mérito".
Parágrafo único. "Não pleiteado o prosseguimento do processo, a medida antecipatória
adquirirá força de coisa julgada nos limites da decisão proferida".
Art. 273-D. "Proposta a ação de conhecimento, ou retomado seu curso, eventual
extinção do processo, sem julgamento do mérito, não determinará a ineficácia da
medida antecipatória, ressalvada a carência da ação, se incompatíveis as decisões".
JUSTIFICATIVA
A proposta de estabilização da tutela antecipada procura, em síntese, tornar definitivo e
suficiente o comando estabelecido por ocasião da decisão antecipatória. Não importa se
se trata de antecipação total ou parcial. O que se pretende, por razões eminentemente
pragmáticas - mas não destituídas de embasamento teórico - é deixar que as próprias
partes decidam sobre a conveniência, ou não, da instauração ou do prosseguimento da
demanda e sua definição em termos tradicionais, com atividades instrutórias das partes
e cognição plena e exauriente do juiz, com a correspondente sentença de mérito.
Se o ponto definido na decisão antecipatória é o que as partes efetivamente pretendiam
e deixam isto claro por meio de atitude omissiva consistente em não propor a ação de
conhecimento (em se tratando de antecipaçãoem procedimento antecedente) ou em
não requerer o prosseguimento da ação (quando a antecipação é concedida no curso do
processo de conhecimento), tem-se por solucionado o conflito existente entre as partes,
ficando coberta pela coisa julgada a decisão proferida, observados os seus limites.
A existência, no passado, de "cautelar satisfativa" é dado revelador de que o
procedimento antecipatório antecedente será de grande utilidade. Aliás, Kazuo Watanabe
já havia defendido a existência da ação de cognição sumária autônoma (Da cognição no
processo civil, Cebepej, São Paulo, 2.ª ed., pp. 139-142), o que vem em apoio da
proposta que torna auto-suficiente o procedimento antecedente na hipótese de preclusão
da decisão antecipatória de tutela.
Por outro lado, não pode surpreender a observação de que os provimentos
antecipatórios são, substancialmente, provimentos monitórios. Salientou-o
oportunamente Edoardo Ricci, em alentado estudo em que examinou a tutela
antecipatória brasileira, preconizando sua estabilização (A tutela antecipatória brasileira
vista por um italiano, in Revista de Direito Processual, Gênesis, setembro-dezembro de
1997, p. 691 e ss.). Os pressupostos da monitória e da antecipação podem ser diversos,
mas análoga deve ser a eficácia. E Ovídio Baptista da Silva, antes mesmo da adoção da
ação monitória pelo ordenamento brasileiro, considerou expressamente as liminares
antecipatórias como modalidade de processo monitório genérico (A antecipação da tutela
na recente reforma processual, in Reforma do CPC (LGL\1973\5), coord. Sálvio de
Figueiredo Teixeira, Saraiva, São Paulo,1996, n. 8).
No sistema pátrio, o mandado monitório não impugnado estabiliza a tutela diferenciada.
Simetricamente, a mesma coisa deve ocorrer com a decisão antecipatória com a qual as
partes se satisfazem, considerando pacificado o conflito: as partes, e não apenas o
demandado, porquanto a antecipação da tutela pode ser parcial, podendo neste caso
também o autor ter interesse na instauração ou prosseguimento da ação de
conhecimento. Assim, a instauração ou o prosseguimento da demanda são considerados
ônus do demandante e do demandado, sendo a conduta omissiva seguro indício de que
não há mais necessidade da sentença de mérito.
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Por outro lado, se a ação de conhecimento for intentada ou prosseguir, a extinção do
processo sem julgamento do mérito não tem o condão de tornar ineficaz a medida
antecipatória, que prevalece, ressalvada a hipótese de carência da ação, se
incompatíveis as decisões.
Lembre-se, por oportuno, que o direito italiano vigente já contempla a possibilidade de
estabilização dos provimentos de urgência em diversas disposições, como o art. 186
"ter" e "quater" CPC (LGL\1973\5) italiano e o art. 423, 2.º "comma", CPC (LGL\1973\5)
italiano(este último, em matéria de processo do trabalho). E, segundo afirma Ricci, a
sobrevivência da eficácia executiva dos provimentos de urgência à extinção do processo
vem sendo afirmada pela doutrina, em via de interpretação sistemática, mesmo fora dos
casos expressamente previstos (op. e loc. cit.). Agora, o Decreto Legislativo 5, de 17 de
janeiro de 2003 (que entrará em vigor a 1.º de janeiro de 2004), regulando o processo
societário, adota exatamente o mesmo modelo no art. 23 do CPC (LGL\1973\5) italiano.
Observe-se que, a ser aceita a proposta, no sentido de a decisão antecipatória - com a
qual as partes se conformaram - alcançar a força de coisa julgada, deverá
simetricamente se deixar claro que o decreto monitório, não impugnado pelo
demandado, também fará coisa julgada.
Seja como for, trata-se, agora, de discutir a proposta no seio do Instituto. Assim se
poderá chegar à elaboração do Anteprojeto final, que será amplamente debatido e
poderá se converter na reforma do art. 273 do CPC (LGL\1973\5) - e, eventualmente, do
art. 1.102-C - de modo a inserir o sistema brasileiro entre os mais avançados nessa
matéria.
(*) Preparado para o volume "Studi in onore di Giuseppe Tarzia", no prelo.
(1) Proto Pisani, Andrea, Introduzione (Breve premessa a un corso sulla giustizia civile),
in Appunti sulla giustizia civile, Cacucci, Bari, 1982, pp.18-19 e 24
(2) Proto Pisani, Andrea, La tutela sommaria, in Appunti sulla giustizia civile, p.322 ss.
(3) Ver, sobre o julgado secundum probationem, Ada Pellegrini Grinover, Ações coletivas
ibero-americanas: novas questões sobre a legitimação e a coisa julgada, Rev. For.,
vol.361, pp.10/11 (publicado também na Itália, com o título Le azioni collettive
iberoamericane: nuove questioni sulla legittimazione e la cosa giudicata, in Rivista di
Diritto Processuale, n.1, 2003, pp.10-26). Sobre o assunto havia escrito Kazuo
Watanabe, Da cognição no processo civil, CEBEPEJ, São Paulo, 2.ª ed., pp. 118 ss.
(4) Tarzia, Giuseppe, Interrogativi sul nuovo processo societario, in Riv. Dir. Proc., n. 3,
julho-setembro 2003, p. 646.
(5) Costantino, Giorgio, Il nuovo processo commerciale: la tutela cautelare, in Riv. Dir.
Proc., n. 3, julho-setembro 2003, p.654
(6) Costantino, Giorgio, op. cit., pp. 651-677.
(7) Ricci, Edoardo, Verso un nuovo processo civile, in Riv. Dir. Proc., n. 1, 2003, p. 211
ss.
(8) Ada Pellegrini Grinover, Proposta de alteração do CPC (LGL\1973\5): tutela
antecipada e execução provisória. Estabilização da antecipação de tutela, posteriormente
publicada em A marcha do processo, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2000,
pp.128-133.
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