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UNIDADE 3 TEORIAS QUE PERMEIAM O CURRÍCULO OBJETIVOS • Caracterizar as teorias de currículo e as especificidades ideológicas permeadas em sua história. • Compreender a realidade educacional a partir do reflexo das teorias curriculares e a representação, como produto da inventividade humana e social. FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 49 3. TEORIAS QUE PERMEIAM O CURRÍCULO Agora que você já sabe a origem da palavra currículo, os elementos ideológicos que o permeiam e um pouco de sua história, é importante compreender as teorias de currículo, saber quais questões comuns e as específicas que caracterizam as diferentes teorias de currículo e como as questões específicas distinguem essas teorias. 3.1 Concepção de teoria curricular Na compreensão do que seja uma teoria de currículo, é importante o esclarecimento do que seja uma teoria. A teoria é uma ideia de algo que serve ao ser humano para desvelar e compreender a realidade onde estamos inseridos em seus vários aspectos. Nessa unidade, serão abordados os estudos de Silva (2005), sobre o currículo com a noção de que a teoria está ligada a uma representação da realidade, a uma imagem, a uma ideia, a um reflexo, como um espelho que reflete a realidade. Uma teoria de currículo é algo que se encontra na realidade que necessita ser compilada, escrita, descoberta e que descreve o currículo. Assim, o currículo pode ser considerado como um objeto que existe independente da teoria. A teoria serve para explicar e descrever o currículo. Ele é, portanto, um produto da inventividade humana. Assim, as teorias do currículo podem ser consideradas como a existência de um campo profissional especializado que permite a realização de estudos e pesquisas sobre o currículo. Silva (2005), classifica as teorias do currículo com a seguinte representação: Teorias Tradicionais, Teorias críticas e teorias Pós-críticas. As questões sobre as Teorias do currículo estão sendo fundamentadas em alguns recentes referenciais teóricos que tratam da questão. Teorias de Currículo 50 3.2 Caracterização Curricular Como Teoria TEORIAS TRADICIONAIS TEORIAS CRÍTICAS TEORIAS PÓS-CRÍTICAS Ensino Ideologia Identidade/alteridade/diferença Aprendizagem Rep.cultural e social Subjetividade Avaliação Poder Significação e discurso Metodologia Classe social Saber-poder Didática Capitalismo Representação Organização Relações soc. de produção Cultura Planejamento Conscientização Gênero/raça/etnia sexualidade Eficiência Emancipação e libertação Multiculturalismo Objetivos Currículo oculto Resistência Fonte: Construído a partir da obra “Teorias Curriculares”; do autor Silva (1999, p.17) Na visão de Silva (1999) depois das teorias críticas e pós-críticas não se pode mais conceber o currículo com a inocência de antes; há significados que ultrapassam a dimensão confiada pelas teorias tradicionais, pois representa a realidade e a concretude das relações identitárias dos sujeitos na representação da vida estabelecida no cotidiano. Em sua concepção as teorias tradicionais do currículo concentram-se em questões técnicas, pedagógico-metodológicas na melhor forma de organização do FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 51 conhecimento a ser transmitido. As teorias críticas do currículo, afirma Silva (1999) deslocam os conceitos simplesmente pedagógicos de ensino e aprendizagem para os conceitos de ideologia e poder; ao tempo em que as teorias pós-críticas em sua forma de conceber currículo deslocam o conceito de ideologia para o conceito de discurso. Com esse esquema, Silva propõe a síntese de diferentes teorias do currículo categorizando-as em conceitos originados a partir de estudos especificamente contextualizados. Em meio a debates e lutas rumo à concretização de currículos significativos à realidade, como a escola poderia torná-lo real diante do fenômeno da globalização que traz consigo realidades complexas ainda pouco compreendidas, visto que, a interligação do mundo, através das tecnologias da informação encurta distâncias numa economia de tempo e espaço cruzados num piscar de olhos sem necessariamente ultrapassar barreiras geográficas? Para lidar com essas complexas transformações e torná-las uma ideia global e planetária, como a escola deverá autonomamente proceder no sentido de aprender a integrar-se e conectar-se a esses novos mundos e a lidar com o sentimento avassalador de interligação dos sujeitos a novas realidades, se nem ela mesma conseguiu ultrapassar a barreira da institucionalização? Para compreender melhor a classificação sobre as teorias curriculares caracterizadas por Silva, vejam os itens que seguem: 3.2.1 Teorias Tradicionais do Currículo O currículo tem sido um campo que se encontra presente nas práticas profissionais do(a)s professores(as) em todas as épocas e lugares, mesmo antes de ele ser designado por meio da palavra currículo. As teorias pedagógicas e educacionais podem ser consideradas como teorias sobre currículo; apenas em alguns aspectos, observa-se que as concepções filosóficas e as tendências pedagógicas, em diferentes épocas e contextos sociais são consideradas como estudos curriculares. Teorias de Currículo 52 Assim, precisavam definir as finalidades, objetivos e processos, os conteúdos de ensino, as habilidades básicas de escrever, ler e contar; as disciplinas acadêmicas humanísticas; as disciplinas científicas; as habilidades práticas para ocupações profissionais; os saberes profissionais para as ocupações exercidas pelos adultos, os saberes objetivos para a formação de crianças e jovens e conteúdos para a preparação e o exercício da cidadania. Para responder a essas necessidades sociais, Bobbitt desenvolve um programa educacional conservador. Propõe um modelo de currículo e de escola nos moldes de uma empresa, voltada para a produção de resultados, usando métodos para medir as habilidades necessárias para o exercício de uma profissão. Veja o que as escolas proclamavam com esse modelo de currículo: http/www.google.com.br O programa educacional curricular de Bobbitt centrava-se no modelo de organização seguindo os princípios da administração proposto por Frederich Taylor. A influência das concepções de Bobbitt produziu grande efeito sobre a educação, principalmente, nas questões curriculares. A perspectiva de Bobbitt apontava para a questão organizativa da educação como processo científico. O currículo é considerado como um FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 53 artefato mecânico. A prática do especialista em currículo é burocrática. A partir dessa ideia se consolida as teorias tradicionais, estas teorias aceitam mais facilmente o status quo, os conhecimentos e os saberes dominantes. Geralmente elas têm ponto de partida e resposta à questão “o quê e como ensinar,” além da interrogação sobre qual é a melhor maneira de transmitir o ensino. Suas palavras chave são “ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência e objetivos”. Para essa teoria, a educação funciona como moldagem do comportamento do indivíduo, semelhante ao que acontece nas atividades fabris. Esse padrão fabril é transportado para as atividades educacionais no sentido de estabelecimento de padrões definitivos, em termos de resultados. 3.2.2 Teorias Críticas, outra abordagem curricular Na década de 60, vários movimentos aconteceram, caracterizando-a como uma época de contestação e de transformação social. Foram discutidos os modelos tradicionais de currículo que influenciavam a educação em diversos países. Teve-se notícia de outros fatos sociais que ocorreram nas antigas colônias europeias que lutaram pela sua independência; na França e em outros países, aconteceram movimentos de protestos dosestudantes; a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos; os protestos contra a Guerra no Vietnã; surgiram os movimentos de contra cultura; o desenvolvimento dos movimentos feministas; a liberação sexual; e a luta contra a ditadura militar no Brasil. No campo da educação em países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Brasil, dentre outros, surge uma nova literatura sobre a educação, provocando uma grande revolução nas experiências educacionais, contribuindo para o rompimento com os modelos tradicionais. Nos Estados Unidos, esse movimento ocorre principalmente no campo do currículo, sendo considerado como movimento de reconceptualização do currículo. Na Inglaterra a literatura dá prioridade ao movimento chamado de nova sociologia da educação, representado por Michael Young. Teorias de Currículo 54 Na França, com as teorias de Althusser, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet, esses novos modelos de currículo rompem com o chamado status quo, que servia de referência para as teorias tradicionais pautadas nas formas de organização e elaboração do currículo, enquanto atividade técnica de como fazer o currículo. As teorias críticas vão além, elas não se limitam a perguntar o que ensinar, submetem esse o quê ao um constante questionamento. Sua questão central seria, pois, não tanto o quê, mas o porquê. Por que esse conhecimento e não outro? Quais interesses fazem com que esse conhecimento e não outro esteja no currículo? As teorias críticas de currículo estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder. As relações de poder no currículo, ideologicamente, apresentavam- se em forma de violência simbólica e as teorias críticas apareciam como desmistificadoras do currículo oculto: http/www.google.br Suas palavras chave são: ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 55 conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e resistência (Silva, 2005). A defesa que fazem os teóricos das Teorias Críticas é a de que não basta somente o desenvolvimento de técnicas ou como pô-las em prática por meio do currículo, é necessário definir conceitos que levem à compreensão dos resultados produzidos por ele na vida das pessoas. No campo das teorias críticas, existem três tipos de teorizações: as teorizações críticas mais gerais, como as de Althusser sobre a ideologia e as de Bourdieu e Passeron que tratam da reprodução, e aquelas centradas nas questões curriculares, como: a nova sociologia da educação; o movimento de reconceitualização da teoria curricular e as teorias críticas que questionam o desenvolvimento da teoria crítica do currículo. Apresentando uma breve descrição cronológica das obras importantes sobre a teoria educacional crítica mais geral do currículo e da teoria crítica sobre o currículo, cita-se alguns autores, cujas produções considera-se importantes: Louis Althusser, A ideologia e os aparelhos ideológicos de estado; 1970, Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, A reprodução; 1971, Baudelot e Establet, L’école capitaliste em France; 1971 – Basil Bernstein, Class, codes and control, v. I; 1971, Michael Young, Knowledge and control: new directions for the sociology of education; 1976, Samuel Bowles e Herbert Gintis, Schooling in capitalist America; 1976, William Pinar e Madeleine Grumet, Toward a poor curriculum; 1979, Michel Apple, Ideologia e currículo. A teoria de Althusser (1970), sobre a ideologia e os aparelhos ideológicos, serve de esteio para as críticas marxistas à educação. Nesta obra, Althusser estabelece a relação entre educação e ideologia, como produção, teórico-crítica sobre educação e currículo. De acordo com a visão de Althusser, a sustentação da sociedade capitalista e sua reprodução são decorrentes de seus componentes econômicos que envolvem a força de trabalho, os meios de produção, a reprodução de seus componentes ideológicos e a continuidade das condições de sua produção material. Sem esses mecanismos e instituições, a sociedade capitalista não poderia garantir a reprodução de seu status quo. Essa reprodução ocorre por meio do convencimento, da repressão ou da ideologia. Esses mecanismos são Teorias de Currículo 56 os aparelhos ideológicos repressivos de estado: polícia e o judiciário, e os aparelhos ideológicos de estado: a religião, a mídia, a escola e a família. Althusser define a ideologia como crenças que levam as pessoas a aceitarem as estruturas sociais, no caso, as capitalistas, como algo desejável. Assim, o sistema educacional, de modo específico, a escola, que trabalha com a maioria da população, transmite a ideologia da classe dominante através do currículo. Essa transmissão se dá nas diferentes práticas, crenças explícitas e implícitas presentes nos conteúdos das disciplinas escolares. A ideologia produz nas pessoas a discriminação social em que as classes menos favorecidas são submetidas à obediência, favorecem a classe dominante cujos membros são treinados para dominar e exercer o controle, garantido pelos mecanismos de seleção, exclusão social e escolar. A teoria de Althusser se preocupa em estabelecer a relação entre a ideologia, a economia, a educação e o sistema de produção. Portanto, para ele, a escola contribui para a reprodução da sociedade capitalista pela transmissão dos conteúdos das disciplinas escolares. A teoria de Althusser é aprofundada por Baudelot e Establet, na obra, A escola capitalista na França. Porém, é com Samuel Bowles e Herbert Gentis que ganha expressividade. Eles apresentam respostas para a ligação entre o sistema de produção e a educação no livro A escola capitalista na América. Contrários a Althusser, que dava ênfase aos conteúdos escolares como meios para reprodução da ideologia, Bowles e Gintis consideram a aprendizagem como processo de transmissão das ideias ideológicas, pela vivência das relações sociais na escola das atitudes que qualificam um bom trabalhador na sociedade capitalista. Essas atitudes são consideradas como obediência a ordens, pontualidade, assiduidade, confiabilidade do trabalhador subordinado, capacidade de comando, de formular planos e autonomia, no caso de trabalhadores que possuem níveis elevados de qualificação. O papel da escola nesse processo não ocorre somente através dos conteúdos curriculares, mas também por meio da difusão das relações sociais de trabalho. O processo educativo destinado aos trabalhadores privilegia as FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 57 relações sociais que devem ser aprendidas pelos alunos, os quais são levados a assumir papéis sociais de subordinação, diferentemente do processo educativo destinado aos filhos da burguesia. Esse processo de reprodução contribui para o fortalecimento da sociedade capitalista. A crítica feita a esse modelo de educação e à escola capitalista não se limitou aos marxistas, mas aos representantes franceses como Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron. Eles criticam a educação centrada no conceito de reprodução e se distanciam da análise marxista. Os autores consideram o funcionamento da escola e da cultura por meio da economia. A cultura não tem dependência da economia, usam o conceito de capital cultural. Visualizam através da dinâmica da reprodução social pela ótica da reprodução cultural, transmissão dos valores, gostos, costumes, hábitos comportamentos e forma de agir da classe dominante. O capital cultural pode ser manifesto pelas obras de artes: literárias, teatrais, títulos, diplomas, habitus, presentes nas estruturas sociaise culturais que são internalizados pelos conteúdos simbólicos; essa cultura não pode ser confundida com os valores e hábitos de outras classes. A cultura dominante é arbitrária e se baseia no poder econômico da classe dominante. O poder econômico é que contribui para que a cultura da classe dominante seja considerada como cultura respeitada e usada no contexto escolar em duas situações: a imposição da cultura que aparece como algo natural e a ocultação de que ela é imposta. Esse mecanismo é considerado por Bourdieu e Passeron como dupla violência do processo de dominação cultural. Estes autores afirmam que a escola não atua pela imposição, inculcação da cultura dominante às classes dominadas, mas pelo mecanismo de exclusão, porque o currículo que a escola trabalha está fundamentado na cultura da classe dominante, que se expressa por meio da linguagem como código cultural dominante. Pode-se constatar que esse conteúdo pode ser facilmente absorvido pela classe dominante, visto que o código cultural faz parte da vida cotidiana de adultos, idosos, jovens e crianças. De modo contrário, a classe dominada não absorve esse código porque não consegue decifrá-lo por não fazer parte de sua vivência social e familiar. Esta é uma das razões pelas quais Teorias de Currículo 58 não conseguem sucesso escolar. De acordo com Bourdieu e Passeron, é necessário desenvolver o ensino a partir de uma pedagogia racional, em que as crianças das classes dominantes tenham uma educação escolar que lhes permita vivenciar as experiências que têm no contexto familiar e que as crianças da classe dominada tenham também a oportunidade de vivê-las na escola com as mesmas condições que as crianças da classe dominante. Outro teórico de grande expressividade no campo da teorização sobre a educação e o currículo é Michael Apple. Ele toma como ponto de referência os elementos centrais da teoria crítica marxista sobre a sociedade para estabelecer ligação entre produção e educação. Estas discussões estão no livro Ideologia e currículo, publicado nos Estados Unidos em 1979. O autor afirma que não basta relacionar as estruturas econômicas e sociais com a educação e o currículo. É necessário compreender que esta relação acontece não só através de diferentes dos processos educativos e práticas curriculares, mas também envolve questões econômicas. Preocupando-se com essa questão, usa o conceito de hegemonia, tomado de Antonio Gramisci e de Raymond Williams. Usando esse conceito, considera que a classe dominante exerce a dominação econômica por meio do convencimento ideológico. Essa dominação econômica se transforma em hegemonia cultural. Com base nas teorias de Pierre Bourdieu, Basi, Bernstein e Michel Young; Michel Apple discute o currículo, como foco central das teorias educacionais críticas, opondo-se às teorias tradicionais. Para Apple, o currículo envolve questões estruturais, econômicas e sociais, pois não é neutro, ele reflete os interesses da classe dominante. Apple, no” livro Ideologia e currículo”, dá ênfase ao papel da escola na divulgação do conhecimento de origem oficial. Considera a escola como produtora do conhecimento técnico, e a relaciona com a estrutura e funcionamento da sociedade capitalista. Outro neomarxista, bastante reconhecido no campo educacional, é Henry Giroux. Nos Estados Unidos, desenvolveu uma teoria crítica sobre o currículo, voltando seu olhar para a cultura popular. Procurou compreender FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 59 como ela aparece no cinema, música, na televisão e nas práticas pedagógicas. No início de sua carreira publicou duas obras: Ideology, culture, and the process of schooling (1981) e Theory and resistance in education (1983). Estas obras criticam as teorias tradicionais que discutem sobre o currículo. Para compor a teorização sobre questões curriculares se apoia em Adorno, Horkheimer e Marcuse. Fazem uma forte crítica à racionalidade técnica, considerando-a utilitária, e ao positivismo subjacente às concepções de currículo. Para Giroux, as perspectivas técnicas dominantes, ao enfatizar os critérios de eficiência e racionalidade burocrática, desconsideram os aspectos históricos, éticos e políticos das ações humanas e sociais, no que concerne ao currículo e ao conhecimento, contribuindo para a reprodução das desigualdades e das injustiças sociais. Criticava Bowles Gintis, pelo caráter mecanicista e determinista de sua teoria, por não deixar espaço para a mediação das ações humanas. Também criticava Bourdieu e Passeron, quanto ao processo de reprodução cultural e social, em razão de dar ênfase excessiva à dominação e à cultura dominante, desconsiderando as culturas dominadas e os processos de resistência. Critica as correntes que defendem a reconceptualização e a nova sociologia da teorização curricular por usarem a fenomenologia e os modelos interpretativos de teorização social ao invés dos diferentes estruturalismos. Sua crítica residia no fato de que essas concepções não davam importância ao modo como essas teorizações aconteciam no contexto escolar, no currículo e nas relações sociais de poder. Giroux utiliza o conceito de resistência, como fundamento para discutir sobre a pedagogia e o currículo. Preocupa-se em apresentar uma teoria que supere a visão determinista e o imobilismo pregado pelas teorias reprodutivistas. Defende uma pedagogia da possibilidade que pode ser operacionalizada por meio de mediações e ações da escola e práticas curriculares. Essa pedagogia ajudaria na construção de uma reação contra as estruturas de poder e controle, permitindo a oposição, a resistência e a Teorias de Currículo 60 contestação. A pedagogia e o currículo teriam conteúdo crítico e político que pudesse fundamentar as práticas dos professores e alunos, no sentido de criticar as crenças e os modelos sociais dominantes. Defende o princípio da emancipação política, como objetivo da educação e da ação social. Considera que a pedagogia educacional de possibilidades e de conteúdo crítico, contribui para que os indivíduos tomem consciência do seu papel no controle das instituições e estruturas sociais, emancipando- se dos processos de controle e de poder. Para construir a concepção de emancipação, usa os conceitos de esfera pública (Habermas), intelectual transformador ou intelectual orgânico (Gramsci) e de voz (Giroux). Usando o conceito de esfera pública, Giroux vê a escola e o currículo como uma esfera pública democrática em relação ao funcionamento da sociedade. Neste contexto, pode ser desenvolvida a noção de democracia, realização de debates e a participação dos alunos que pensam sobre os problemas sociais, em conjunto com os professores, numa visão de emancipação e libertação, como intelectuais transformadores. Giroux desenvolveu o conceito de voz, mostrando a necessidade de espaços onde as pessoas possam expor seus anseios, desejos. É um lugar em que os (as) estudantes poderiam ser ouvidos, por meio da participação, no sentido de contestar as relações de poder vigente. Para Giroux, pedagogia e currículo são pensados, a partir da noção de política cultural, visto que o currículo permite a produção de significados e valores culturais. Estes significados são interligados às relações sociais de poder. Giroux discute a concepção de educação libertadora em Paulo Freire e reflete sobre a noção de ação cultural. Estes dois elementos serviram de base para Giroux, no desenvolvimento do currículo e de uma nova pedagogia, como diferencial entre as teorias críticas da reprodução. Paulo Freire também dava atenção ao ato pedagógico na construção de significados, ressaltando o papel da cultura, estabelecendo ligações entre a pedagogia, a política e o poder. Como teórico pós-critico, também discute questões relacionadasao currículo. As primeiras obras de Paulo Freire publicadas inicialmente foram os livros: Educação como prática da liberdade (1967) e Pedagogia FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 61 do oprimido (1970). Através do livro Pedagogia do oprimido, torna-se conhecido e reconhecido em vários países. O conteúdo do livro a Educação como prática da Liberdade trata da ideologia do desenvolvimento e da formação social brasileira. Analisa o conceito de desenvolvimento, sendo considerado como pensamento revolucionário de esquerda. Neste livro, sua contribuição é mínima em relação aos elementos pedagógicos. Na elaboração de Pedagogia do oprimido, busca fundamentação na dialética de Hegel, ao desenvolver o conceito de dominação, onde é estabelecida a relação entre senhor e servo. A concepção de dialética é ampliada, quando se fundamenta em Marx, no marxismo humanista de Erich Fromm, na fenomenologia existencialista cristã e em críticos do processo de dominação colonial. Nele focaliza o processo de dominação e as classes sociais. Ao criticar a educação, toma como referência a estrutura e funcionamento da educação institucionalizada de países desenvolvidos. Critica a escola tradicional, no entanto, o foco maior se dá no processo de desenvolvimento da educação de adultos em países subordinados aos desenvolvidos. As críticas de Freire ao currículo são centralizadas no conceito de educação bancária, discutida a partir da visão epistemológica, que considera o conhecimento como constituído de informações e fatos, sendo transmitidos nas práticas pedagógicas. O processo de transferência de conhecimentos se assemelha ao ato de se fazer um depósito bancário. O currículo na visão de Freire é um artefato que pode ser apenas verbalizado, narrado, dissertado pelo professor em sua prática pedagógica. Nesse processo o professor é ativo e o aluno passivo. Visando contribuir com a transformação dessa realidade, desenvolve o conceito de educação problematizadora, considerada crítica e fenomenológica. O conhecimento é o conhecimento de alguma coisa, portanto, não há separação entre o ato de conhecer e o objeto conhecido. Para compor essa concepção de educação, recorre ao conceito de intenção. Vê o conhecimento como um ato intencional, voltado para o conhecimento de um objeto e relaciona conceito de mundo da consciência. Desse modo, o ato de conhecer se dá pela consciência do mundo, Teorias de Currículo 62 esse ato envolve o processo de comunicação entre pessoas, mediado por objetos que serão conhecidos. Freire considera que é justamente por meio desse processo que acontece a educação dos homens, mediados pelo mundo, objeto de conhecimento. Nesse caso, o ato pedagógico torna-se um processo dialógico. Assim, todas as pessoas estão envolvidas no ato de conhecimento. Em seu método, Freire critica o currículo implícito a partir do conceito de educação bancária. No livro Pedagogia do oprimido, oferece subsídios para o desenvolvimento do currículo por meio da educação problematizadora, em que a experiência do aluno se transforma em conteúdos, constituindo- se em temas geradores que se transformam em conteúdos de ensino. Neste processo, os especialistas em diversas disciplinas e os educadores ligados às atividades pedagógicas são de fundamental importância, pois cabe a eles o papel de elaborar os temas geradores e fazer o processo de codificação. Na elaboração do currículo, devem ser envolvidos professores e alunos. Neste processo, ambos tomam consciência de si, mediados pela cultura. A cultura é vista como o resultado do trabalho do homem. No entanto, Freire não faz distinção entre cultura erudita e cultura popular, entre alta e baixa cultura. É importante ressaltar que Freire antecipa o conceito de cultura aos estudos culturais (multiculturalismo) que seriam desenvolvidos posteriormente, causando certa influência no currículo. No entanto, a teoria de Freire é criticada nos anos 80, por Dermeval Saviani, criador da pedagogia histórico-crítica ou pedagogia crítico social dos conteúdos. Seus estudos não são voltados especificamente para o currículo, mas focaliza aspectos que estão relacionados às questões curriculares. Opondo-se a Freire, Saviani, separa a política da educação. Considera que a prática pedagógica deve ser apolítica, para não perder sua especificidade. Para ele, a politicidade da educação só tem razão se permitir que as classes dominadas tenham acesso ao conhecimento por ela transmitido como elemento da cultura usado na luta política. De acordo com Saviani, o papel de uma pedagogia crítica deve ser o de transmitir os conhecimentos universais, patrimônio da humanidade. FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 63 Critica a pedagogia libertadora concebida por Paulo Freire, porque ela dá ênfase ao processo ou método de aquisição do conhecimento e não ao conhecimento. A teoria de Saviani fundamenta-se em dois conceitos fundamentais: conhecimento e poder. Dá ênfase ao papel do conhecimento na aquisição e fortalecimento do poder das classes dominadas. Essa concepção se diferencia das demais pedagogias críticas que não fazem relação entre conhecimento e poder. Essa pedagogia também se distância das análises marxistas, que ressaltam o caráter ideológico do conhecimento, de modo particular do conhecimento escolar. É diferente das teorias estruturalistas que tomam por base as concepções de Foucault, que estabelecem relação entre saber, poder e a teoria curricular. Outras teorias críticas sobre o currículo surgiram na Inglaterra. Iniciaram-se com a sociologia que serviu de esteio para a fundamentação da crítica ao currículo. Em 1971, foi publicado o livro Knowledge and control, reconhecido como a Nova Sociologia da Educação (NSE), organizado por Michael Young, com a colaboração de Pierre Bourdieu e Basil Bernstein, além de outros autores. Na Inglaterra, a crítica era feita à antiga Sociologia da Educação, que tinha tradição de desenvolver pesquisas empíricas sobre o fracasso escolar de crianças e jovens da classe operária. A Nova Sociologia da Educação criticava as concepções tradicionais inglesas sobre a educação, inclusive as vinculadas à filosofia educacional analítica do currículo, representadas principalmente por P. H. Hirst e R. S. Peters. As ideias defendidas por Michael Young versavam sobre o desenvolvimento da sociologia do conhecimento, destacando a construção das formas de consciência e de suas relações com as estruturas sociais, institucionais e econômicas. Delineou as bases de uma nova sociologia do currículo. Questionou as categorias curriculares, pedagógicas e avaliativas, até então em vigor no contexto educacional e nas práticas educativas. Preocupou-se em saber como acontece a aprendizagem, em áreas como, por exemplo, a matemática. Buscava dar respostas em relação às bases sociais do conjunto de significados que possui o termo matemática. Fez críticas sociológicas e históricas aos currículos que eram postos Teorias de Currículo 64 em ação. Young, na organização de seu ensaio, fundamenta-se em Marx, Weber e Durkheim, construindo as bases de uma nova sociologia do currículo. Neste estudo, estabelece relações entre os princípios de distribuição de poder e a elaboração do currículo, envolvendo as formas de organização do currículo: seleção, organização, distribuição e avaliação. Tinha a preocupação de analisar como os princípios de estratificação e de integração influenciavam na organização do currículo. Preocupava-se em conhecer por que as disciplinas não se organizavam em função do princípio de integração. Buscava encontrar razões que explicassem a existência de relação entre os princípios de organização e de poder. Questionava sobre a existência de classe, de profissionais e instituições nas formas de estruturaçãoe organização do currículo. De acordo com Young, para fazer mudanças na organização do currículo é necessário tocar no princípio de poder. Em contraposição às ideias defendidas por Young, Geoffrey Esland e Nell Keddie assumem uma postura ligada à fenomenologia sociológica e ao interacionismo simbólico. Esland critica a concepção baseada no conhecimento, defendida pelas teorias tradicionais, que concebem o currículo organizado em matérias ou disciplinas, em que o conhecimento é estruturado em zonas, relacionadas a diferentes objetos. Essa visão de Esland desconsidera a intencionalidade, a expressividade da ação do homem, a negociação intersubjetiva dos significados, negando como o mundo deve ser interpretado. Para Esland, o currículo está interligado à avaliação. Esland, Mead, Schultz e Luckman, com base na sociologia fenomenológica, afirmam que o conhecimento é construído por meio de relações intersubjetivas que acontecem entre professor e aluno na sala de aula. Assim, as mudanças educacionais devem ser baseadas no processo de interpretação e negociação de uma rede de significações, nas quais estão envolvidos os professores e alunos. Neste estudo, procura compreender as visões subjetivas dos professores e dos alunos, centralizando-se no conhecimento dos professores. Nell Keddie, por meio da fenomenologia, afirma que o conhecimento prévio dos professores sobre os alunos influencia no seu modo de se FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 65 relacionarem com eles. Para ele, a capacidade intelectual dos alunos é avaliada pela imagem que os professores constroem deles e na maioria das vezes é relacionada à classe social a que pertencem. Suas conclusões se aproximam das feitas pelas teorias da rotulação. A Nova Sociologia da Educação buscou contribuir com a construção de uma teoria do currículo que pudesse discutir as contradições culturais e epistemológicas, não só dos grupos dominados, mas também dos dominantes. Outra teoria que possui um peso significativo é a de Basil Bernstein. Ele desenvolveu as bases de sua sociologia da educação no ensaio publicado em 1975, no livro Class, codes and control. Neste livro desenvolveu a ideia de que a educação se operacionaliza por meio de três sistemas de mensagens: o currículo, a pedagogia e a avaliação. No currículo são definidos os conhecimentos válidos, na pedagogia são definidos os mecanismos de transmissão do conhecimento e a avaliação define os padrões de validade desse conhecimento por quem o ensina. Em sua teoria dos códigos, as ideias sobre o currículo estão implícitas, pois ele não se preocupa com o conteúdo do currículo. Preocupa-se com as formas de organização do currículo e como elas estão ligadas aos princípios de poder e de controle. Apresenta duas formas de organização do currículo: o currículo tipo coleção (as áreas são separadas) e o currículo integrado (as áreas são permeáveis, obedecendo a um princípio abrangente que abriga todas as áreas). Para manter a separação entre as áreas de conhecimento do currículo, adotou os termos classificação e enquadramento. O termo classificação foi usado para representar a junção de áreas comuns, o que é legítimo ou ilegítimo ser incluído no currículo. Já o termo enquadramento foi utilizado para designar o controle que os alunos têm do tempo e do ritmo de suas aprendizagens. No entanto, não existem critérios explícitos para saber se esses objetivos foram alcançados; assim, é necessário um maior controle por parte do professor do seu processo de transmissão para que aconteça um maior enquadramento. Bernstein faz distinção entre poder e controle; a classificação refere-se à legitimidade dos conteúdos que devem constar ou não no currículo. Portanto, a classificação é legitimada através do poder, o controle relaciona-se ao processo de transmissão e ao enquadramento, ao ritmo, ao tempo e ao espaço onde Teorias de Currículo 66 acontece o processo de transmissão do conhecimento. A noção de poder aqui defendida se aproxima das concepções de Foucalt, porém, Bernstein o concebe como algo que não produz distorções no currículo e nem na pedagogia. Ambos são considerados apenas princípios de poder e de transmissão. Isso não quer dizer que as concepções de currículo mais débeis sejam desprovidas de poder, pois elas podem incluir diferentes concepções de poder. Também não se pode afirmar que os alunos que possuem maior capacidade de decisão, de acordo com as diferentes concepções de pedagogia em relação ao ritmo, tempo e espaço, não existam o controle. Pode ser que estejam sendo usados outros princípios de controle que sejam mais ou menos eficientes. Em seu estudo Bernstein preocupou-se em observar como as classes sociais aprendem, as posições que assumem na estrutura social e como elas se traduzem em estruturas de consciência. Para compreender esse processo, usa o termo código, considerado como gramática da classe. Essa gramática é adquirida pelas classes sociais em diferentes contextos com diversos significados. Esse código é considerado como código nacional e não de classe. Considerava que esse código era o que fazia a ligação entre as estruturas macrossociológicas da classe social, a consciência individual e as interações de nível microssociológicas. Na visão de Bernstein, o tipo de código define a consciência do indivíduo, o modo de pensar, os significados que ela atribui às situações que vivencia no processo de interação social. Ele apresenta dois tipos de códigos: o código elaborado e o código restrito. Usando o código elaborado, o indivíduo atribui os significados, independentes do contexto social; por exemplo, um texto que ele produz. Já no caso do uso do código restrito, o sujeito, ao produzir um texto, atribui significados através de interações sociais; por exemplo, ao fazer a pintura de um quadro, o indivíduo pode usar situações do contexto social. Estes são códigos culturais que se diferenciam. Com essa teoria dos códigos, Bernstein queria mostrar a diferença entre eles, pois acreditava que havia um código restrito para as crianças da classe operária, por meio do qual a escola desenvolvia as atividades de ensino, podendo ser essa prática a origem do fracasso escolar das crianças. Essa pedagogia mudou os princípios de poder e de controle, deixando subentendido o princípio de poder da classe social. Bernstein FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 67 relaciona a teoria dos códigos ao currículo e à pedagogia, ao afirmar que a aprendizagem do código acontece por meio das interações sociais, nas diversas instituições sociais, como a família, a escola, igreja dentre outros. A aprendizagem do código ocorre de forma implícita, por meio das experiências vivenciadas na sociedade através das quais ele se expressa. No caso das experiências educacionais, a aprendizagem do código é feita por meio das situações geradas pelo currículo dos conteúdos das disciplinas curriculares. A organização do currículo e da pedagogia adotada é que determina as modalidades de código que serão usadas no processo formativo. Bernstein desenvolve seus estudos sobre os códigos na década de sessenta, com a função de compreender as razões do fracasso escolar de crianças da classe operária. Também analisao papel das diferentes pedagogias no processo de reprodução cultural, além das tentativas de diminuir a distância entre o ensino acadêmico, destinado à classe dominante e o ofertado à classe operária, profissionalizante. Defendia a existência de uma pedagogia invisível. As posições de Bernstein não produziram efeitos substanciais no contexto educacional, por usarem uma terminologia complexa de difícil compreensão. Em meio às teorias curriculares acima citadas, surge a noção de currículo oculto, que influenciou as perspectivas críticas iniciais que tratavam docurrículo. A noção de currículo oculto aparece nas discussões de Bowles e Gintis sobre a escola capitalista americana. Eles estabeleciam relações com o princípio da correspondência, pois consideravam que as relações sociais na escola tinham maior influência nas atividades escolares do que o conteúdo explícito, no processo de socialização de crianças e para os jovens na aprendizagem de normas e atitudes importantes para o ingresso no campo de trabalho. Também, no ensaio de Althusser sobre a ideologia e os aparelhos ideológicos de estado, apontava para noções semelhantes às que eram atribuídas ao currículo oculto. Isso poderia ser visto na dimensão prática e material da ideologia, que se expressavam por meio dos rituais, gestos e práticas corporais e verbais. O conceito de currículo oculto, foi usado pela primeira vez por Philip Jackson, em 1968, no livro Life in classrooms, como algo que deve ser dominado pelos professores e alunos. Entretanto, foi Robert Dreeben, no livro, On what is learned in school, quem destacou a determinação Teorias de Currículo 68 estrutural do currículo oculto. Considerava as características estruturais da sala de aula, da situação de ensino, mais do que o conteúdo explícito do que era ensinado, as relações de autoridade, a organização espacial, a distribuição do tempo, os padrões de recompensa e castigo. Essa maneira de pensar o currículo oculto difere das demais posições, pois o desejo ou não de ensinar certos comportamentos de modo implícito poderia ser feito por meio do currículo oculto. A ideia de currículo oculto aplica-se ao momento de lucidez e consciência em que o sujeito desmistifica a realidade implícita, tornando-a explícita. Nesse contexto, tudo o que não se conseguia compreender como realidade, injusta e antidemocrática, situações desmistificadas como tabus entre professores e alunos, alunos-alunos,que passam a ser vistos como indesejáveis a um grupo ideologicamente controlador. Assim, pode-se afirmar, conforme Silva (2000) ,que o currículo oculto abriga todos os aspectos relativos ao contexto escolar que, mesmo sem estar no currículo oficial, contribuem nas aprendizagens sociais. Essas aprendizagens na perspectiva crítica são consideradas como atitudes, comportamentos, valores e certas orientações que ajudam as crianças e os jovens a se adequarem às estruturas e ao processo de funcionamento da sociedade capitalista são subjacentes ao currículo oculto como atitudes de conformismo e obediência. http/www.turmadamonicacom.br FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 69 Essas atitudes, conforme o mesmo autor, são apreendidas pelas crianças da classe popular, que são levadas a assumir um papel social de subordinação e adequação cultural, enquanto que as crianças das classes proprietárias aprendem os comportamentos sociais para exercer a dominação. São também aprendidos conteúdos relacionados ao gênero ou sexualidade, como ser homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, assim como a identificação com uma raça ou etnia. Para trabalhar como o currículo oculto, o professor necessita de iluminação e lucidez para explicitar o que está implícito. 3.2.3 Teorias pós-críticas do currículo, a reinvenção cultural As Teorias pós-críticas do currículo, assim como as teorias Críticas não se limitam a perguntar o quê, sua questão central também é o porquê, suas palavras chave são: identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo. Nas discussões sobre o currículo, é necessário enfatizar as diversidades culturais existentes, observando os fenômenos de homogeneização do mundo contemporâneo. Na sociedade atual, existem produções culturais de grupos dominantes que são produzidas e veiculadas pelos meios de comunicação em detrimento das manifestações culturais dos grupos dominados. Nesse contexto, é preciso fazer uma análise estabelecendo relações entre o currículo e o multiculturalismo. O multiculturalismo é considerado um movimento que representa as reivindicações de grupos minoritários, visando à obtenção de reconhecimento social. http/www.google.com.br Teorias de Currículo 70 Existem algumas teorias que discutem o multiculturalismo, como a antropológica e a crítica. A perspectiva antropológica considera que as diversidades de culturas são resultantes das diferentes formas de submissão dos grupos humanos a certas condições ambientais e históricas. Elas contribuem para o desenvolvimento do potencial criativo dos grupos humanos. As teorias críticas fazem uma profunda crítica à perspectiva antropológica, ao afirmar que as diferenças culturais manifestam relações de poder. A perspectiva crítica do multiculturalismo é dividida em pós- estruturalista e materialista. Na perspectiva pós-estruturalista, a diferença acontece através do processo linguístico e discursivo, a diferença é produzida. Não é algo que acontece naturalmente. A crítica que é feita a essa perspectiva se dá em razão do excesso de textualidade, pela ênfase ao processo discursivo. Na perspectiva materialista, que se inspira no marxismo, a ênfase é dada nas trocas, nos processos institucionais, nos aspectos econômicos, estruturais que servem de esteio para a produção da discriminação e desigualdade que se fundamenta na diferença cultural. Neste contexto, existem várias implicações curriculares que são veiculadas através dos conteúdos curriculares; principalmente nos materiais didáticos, nas relações de poder, intolerância, expressão privilegiada da cultura branca, discriminação masculina e feminina, negros, homossexuais, além de outros conteúdos que não são discutidos em sala de aula. Em razão da desconsideração da problemática cultural dos grupos minoritários, vários estudos foram sendo realizados, estabelecendo ligações entre a educação, o currículo e o processo de reprodução cultural da desigualdade e das relações de hierarquia na sociedade capitalista. Esses estudos permitiram uma melhor compreensão do multiculturalismo, pois vislumbram uma nova epistemologia da educação e do currículo para se compreender as outras formas de relações sociais, como, por exemplo, as de gênero, raça, sexualidade, dentre outras. Pensa-se na possibilidade de desenvolvimento de uma nova pedagogia voltada para os direitos humanos que abrigue no seu bojo a igualdade, a justiça, os direitos sociais e individuais, para avançar contra todo tipo de discriminação e violência, tanto no contexto social como escolar. FUESPI/ NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 71 QUESTÃO PARA SER DISCUTIDA NO FÓRUM Leia com atenção os parágrafos relativos aos pensadores pós-críticos e ex- plicite algumas considerações sobre as discussões atuais e sobre o discurso das minorias e o tratamento dado a estes no currículo escolar. Exercício proposto 1- Comente a classificação atual das teorias de currículo, enfatizando os aspectos principais de cada uma, através de um quadro comparativo.
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