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1 
 
A APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO CENSE II 
DE CASCAVEL: UM NOVO OLHAR SOBRE O ADOLESCENTE EM CONFLITO 
COM A LEI 
Terezinha Ferraz
1
 
 Denize Dalla Costa Chicoski
2
 
RESUMO: A promulgação do Estatuto da Criança e do adolescente – ECA trouxe avanços 
significativos tanto para implantação como para a implementação das medidas socieducativas voltada 
aos adolescentes autores de atos infracionais. A evolução histórica das ações inerentes a esse público 
compreende questões legais iniciadas com o antigo império e que se estendem até a promulgação da 
Constituição Federal – CF de 1988 e do ECA em 1990. No entanto, ainda que o Estatuto apresentasse 
inovações para o atendimento dos adolescentes sentenciados ao cumprimento de medida 
socioeducativa, ainda ficavam no plano jurídico, não chegando ao seu destinatário de maneira efetiva. 
A partir da evidência dessas situações, as instâncias de controle social promoveram discussões que 
culminaram na elaboração do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE. Esse 
documento estabelece diretrizes à implementação das medidas socioeducativas, tanto em meio aberto, 
quanto fechado. Assim, o Centro de Socioeducação de Cascavel – CENSE II, construído para receber 
os adolescentes autores de atos infracionais, que cumprem medida socioeducativa de internação 
obedecem aos critérios elencados pela legislação vigente não apenas na estrutura física, mas também 
no estabelecimento de condições de humanização no atendimento. 
 
PALAVRAS CHAVE: Adolescente. Socioeducação. CENSE II. 
 
1. Introdução 
 O Centro de Socioeducação de Cascavel foi construído para acolher adolescentes 
sentenciados ao cumprimento de medida socioeducativa de internação e que estavam em 
situação irregular de atendimento em Unidades superlotadas ou em delegacias da Região. As 
ações desenvolvidas no estabelecimento estão pautadas a partir do Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA e das diretrizes do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – 
SINASE, que estabelece um novo olhar sobre o adolescente em conflito com a lei. 
 O Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe significativas mudanças em relação ao 
método e à gestão, mas a concretização dessa legislação dependeu da participação de 
instância como Conselhos, Entidades e Associações que promoveram discussões sobre a 
temática focando a necessidade de cumprimento do Estatuto, especialmente, no concerne à 
proposta de execução das medidas socioeducativa ao adolescente autor de atos infracionais. 
 
1
 Assitente Social. Gradua em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste e 
Especialista em Serviço Social na Contemporaneidade pelaUnioeste – Toledo/ PR. Especialista em Docência 
no Ensino Superior pela UNIPAN/UNIBAN – Cascavel/PR. Atua no Centro de Socioeduacão II de Cascavel – 
Cense II, Rua Emílio Garrastazu Médici, nº 1111, Jd. Presidente, Cascavel/PR. Telefone (45)3227-6347. E-
mail: terezinhaf@secj.pr.gov.br. 
2
 Professora Orientadora. Graduação em Psicologia no CESULON – Londrina/PR. Especialista em 
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNIPAR – Toledo/PR e Especialista em Docência no Ensino 
Superior pela UNIPAN/UNIBAN. Mestre em Psicologia pela UCDB – Campo Grande/MS 
 
2 
 
 A partir disso, com o aprofundamento das discussões, foi construído o Sistema 
Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, que estabelece as diretrizes no 
atendimento socioeducativo. A proposta desse documento vem sendo implantada nos Centros 
de Socioeducação desde quando é iniciado o projeto de construção do estabelecimento e se 
estende até um período após a desinternação
3
 do adolescente. 
 Assim sendo, buscando compreender a proposta, é que se pensou na elaboração desse 
artigo, tendo como objetivo refletir sobre as medidas socioeducativas no processo de 
internação, bem como a contribuição do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e 
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE na aplicação das mesmas, em 
especial, no CENSE II de Cascavel. 
 
2. A contribuição do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA para as medidas 
socioeducativas 
 
 As medidas socioeducativas voltadas aos adolescentes autores de atos infracionais 
começaram a ser implementadas a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, 
promulgado no ano de 1990. A criação dessa Lei se traduz em resultado das lutas de 
movimentos sociais emergentes no Brasil na década de 70. Esse período foi muito 
significativo para a história do Brasil e para o destino das políticas públicas
4
. Assim, as 
mudanças sociais, políticas e econômicas que foram se instaurando, apresentaram mudanças 
também às formas interventivas do Estado, tanto no processo de implantação, quanto na 
execução das ações governamentais voltadas aos adolescentes em conflito com a lei. 
 A evolução histórica das ações direcionadas a esse público compreende questões 
dogmáticas e legalistas iniciadas em 1824 com o antigo império e que se estendem até a 
promulgação da Constituição Federal de 1988 – CF e a criação do Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA Conforme Sales (2007), no período que antecede a instituição dessas 
legislações, apenas as crianças órfãs e abandonadas eram de responsabilidade das Instituições 
Religiosas ou Entidades Particulares, no que se referia ao acolhimento e desenvolvimento. 
Posteriormente, passou a atender também aos denominados de “pervertidos” que não se 
adequavam ao sistema de normas estabelecidas pelos dogmas da igreja ou à filosofia das 
 
3
 Por desinternação se compreende a medida socioeducativa citada no Artigo 121 do ECA. 
4 Conforme Vieira (1992), políticas públicas são estratégias governamentais que atuam nas expressões 
 da questão social, decorrentes do modo de produção capitalista. 
 
3 
 
entidades que os assistiam. A função assistencial era apenas simbólica e não social, 
considerando a inexistência de ações legais para todas as crianças. Filhos de escravos, negros, 
desprovidos de condições financeiras não existiam para o sistema, ficando sempre à mercê do 
auxilio dos programas assistencialistas. 
 Dadas essas características históricas, observe-se que em tempos mais recentes, a 
partir da Constituição Federal de 1988, houve a necessidade de formulação de novas 
estratégias voltadas à criança e ao adolescente. Leis voltadas a esse público vêm assegurando-
lhes direitos e chamando para a responsabilidade todas as instâncias de atendimentos aos 
mesmos, porém, com enfoque legal e com ênfase na cidadania e na justiça social. Assim, 
assegura o artigo 227 que: 
É dever da família, da sociedade e do estado assegura à criança e ao 
adolescente com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão (Constituição Federal, 1988, p.102) 
 
Dessa forma, compreende-se que a política interventiva inerente a esse público 
deveria considerá-los como sujeito de direitos – até então não observados – individuais, 
políticos e sociais, bem como obrigar a família, a sociedade e o Estado ao cumprimento da 
referida Lei, passando assim, a assumir o papel de agentes transformadores no cotidiano de 
vida pessoal e nas relações sociais estabelecidas. Somente a partir da observância desses 
fatores acredita-se que as políticas sejam eficazes e alcancem os objetivos a que se propõe. 
Assim, em 13 de julhode 1990, foi promulgado o Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA que dispõe sobre a garantia de direitos à proteção integral à criança – 0 a 
12 anos de idade incompletos – e ao adolescente 12 a 18 anos de idade incompletos (art. 2º), 
ressaltando ainda, a absoluta prioridade nas políticas públicas e adequada aplicação das 
medidas socieducativas tratadas nos artigos que seguem do 112 ao 121 e que vão, desde a 
uma simples advertência à internação nos casos de maior gravidade no ato. 
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, para autores como 
Costa (2001), estudioso desse assunto, se constituiu num marco histórico para o sistema de 
garantia de direitos. No entanto, ainda que o Estatuto apresentasse propostas de mudanças 
significativas em ralação trabalho voltado a esse público, ainda ficavam no plano jurídico, 
não chegando ao seu destinatário de maneira efetiva, especialmente, aos adolescentes autores 
 
4 
 
de ato infracional que cumpriam suas sentenças em locais com estruturas físicas inadequadas 
e sem condições de atendimento humanizado. Os conceitos legais que regiam o sistema se 
baseavam no Código de Menores
5
 e seguiam uma linha de arbitrariedade e repressão sendo a 
punição o único meio considerado possível para recuperação desses adolescentes. Este 
Código, segundo Costa (2005), não fazia distinção entre o menor abandonado e o 
delinquente, tanto um quanto o outro estavam em situação irregular, logo as medidas, que 
não eram fundamentadas para proteger, mas para coagir, se aplicava a ambos. 
 Enquanto situação irregular assevera Costa que: 
 
O Código de menores definia todos aqueles em que fosse constatada 
manifesta incapacidade dos pais para mantê-los, não se diferenciando entre 
infratores, abandonados ou órfãos. Assim definidos, eram objeto de 
intervenção do estado sem limites e de forma discricionária. Portanto, a 
categorização que justificava a atuação punitiva/protetiva do estado, agora, 
assim descrita na lei, era a figura da situação irregular. (COSTA, 2005, p. 
56) 
 
 Diante disso, era necessário o estabelecimento de parâmetros de distinção dessas duas 
situações que, a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente, já apresentava novos 
direcionamentos, porém sem resultados expressivos. Assim sendo, o Conselho Nacional de 
Direitos da criança e do adolescente – CONANDA, em parceria com outros Conselhos, 
Associações, Entidades e Instituições que trabalham com essa política, realizaram fóruns de 
discussões que culminaram na elaboração do Sistema Nacional de Atendimento 
Socieducativo – SINASE que se constitui, hoje, num guia para a implementação das medidas 
socioeducativas de restrição e privação de liberdade. 
 O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE se estabelece 
enquanto um conjunto integrado que 
 
 [...] articula os três níveis de governo para o desenvolvimento desses 
programas de atendimento, considerando a intersetorialidade e a co-
responsabilidade da família, comunidade e Estado. Esse mesmo sistema 
estabelece ainda as competências e responsabilidades dos conselhos de 
direitos da criança e do adolescente que devem sempre fundamentar suas 
decisões em diagnósticos e em diálogo direto com os demais integrantes do 
sistema de garantia de direitos, tais como poder judiciário e o ministério 
público (Vannuchi e Silva, 2006, p. 14. In: SINASE, 2006). 
 
5 Código de Menores – Lei 6.697 de 10 de outubro de 1979. 
 
 
5 
 
 
 A formulação das diretrizes desse documento cria condições possíveis para que o 
adolescente em conflito com a lei possa ser considerado como sujeito com prioridade 
absoluta por estar em condição peculiar de desenvolvimento e assim sendo, digno ao 
exercício da cidadania. Sua implementação objetiva uma ação socioeducativa que se sustenta 
nos princípios dos direitos humanos. Preconiza uma nova forma de interventiva com critérios 
sociopolíticos desvinculados das abordagens repressivas estipuladas no Código de Menores 
que regulava o sistema, em período anterior ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. 
 Sales (2007), assevera que as políticas punitivas das últimas décadas, não produziram 
efeitos de redução de comportamentos violentos ou criminosos. Em concordância com a 
autora, reflete-se que a falta de investimentos nas políticas protetivas para a infância, permite 
que muitos adolescentes se mostrem, se tornem socialmente visíveis a partir da prática de 
atos ilícitos. Com isso, torna clara a responsabilidade do Estado e da sociedade civil na busca 
por soluções efetivas para a socioeducação, de forma a assegurar aos adolescentes, autores de 
atos infracionais, oportunidades de construção de novos projetos de vida. 
 
3. A Consolidação da proposta socioeducativa pelo Instituto de Ação Social do Paraná e 
a continuidade dos trabalhos pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude 
 
 Em 2003, através do Instituto de Ação Social do Paraná – IASP6, que era uma 
autarquia vinculada à Secretaria do Trabalho e Promoção Social – SETP, foi traçado um 
plano de ação com base em um diagnóstico realizado sobre a situação do atendimento ao 
adolescente que cumpria medida socioeducativa, levando em conta situações como déficit de 
vagas e permanência desse público em locais adequados, tanto na estruturação física, quanto 
nos recursos humanos. Nesse período era comum a presença de adolescentes aprendidos em 
Delegacias Públicas, sem os atendimentos preconizados
7
 pelo Estatuto da Criança e do 
adolescente. 
 Os trabalhadores dos estabelecimentos de privação de liberdade eram contratados 
para o exercício de suas atividades por um tempo determinado, geralmente por um ano e com 
possibilidade de prorrogação do contrato por um período não superior a dois anos. Esse 
 
6 Esse Órgão foi extinto em 2006 passando a ser Secretaria de Estado da Criança e da Juventude – SECJ. 
7 Artigo 121 a 125 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
6 
 
aspecto desfavorecia um trabalho contínuo e um alinhamento metodológico de propostas 
entre as unidades, sendo que, a ação educativa era restrita e pouco diversificada, logo, os 
resultados das intervenções eram considerados precários.
8
 
 A partir dessas evidências, o plano se estabeleceu como um desafio de consolidar o 
sistema de forma estruturada, descentralizada, com qualidade na gestão de pessoas, na 
estrutura física e no plano pedagógico aos programas de restrição e privação de liberdade. O 
principal objetivo dessa proposta estava pautado na garantia de direitos aos adolescentes em 
conflito com a lei, no acesso às oportunidades de “superação de sua condição de exclusão e à 
formação de valores positivos para participação na vida social” (IASP, 2006, p. 13). Essa 
participação inclui, no entanto, transformação de condutas e de valores sociais que, só se 
tornam possíveis, dentro de uma proposta que leve em conta as transformações societárias na 
qual o adolescente está inserido. La Taille (1998) chama a atenção para um fato deveras 
importante e nunca suficientemente enfatizado. 
 
[...] os jovens, são reflexo da sociedade em que vivem, e não de uma tribo 
de alienígenas misteriosamente desembarcados em nosso mundo, com 
costumes bárbaros adquiridos não se sabe onde. Se é verdade que eles 
carecem de limites é porque a sociedade como um todo deve estar privada 
deles (LA TAILLE, 1998, p.11) 
 
 Assim sendo, compreende-se a necessidade do estabelecimento das medidas punitivas 
para o adolescente autor de ato infracional, contudo, há que se pensar que o mesmo é parte 
integrante de uma determinada sociedade eassim sendo, reproduz os valores nela implícitos 
a partir da historicidade das relações e que se fazem presentes no seu cotidiano. É diante 
dessa compreensão que a proposta de práticas político-pedagógicas se fortalece nos Centros 
de Socioeducação – CENSE. Essa prática é dialética e interacionista porque contempla a 
dinamicidade das demais instituições como a família, a escola, a profissionalização e a rede 
de atendimento, ao mesmo tempo em que coloca o foco no adolescente em sua 
“subjetividade e objetividade na construção de um projeto de vida” (IASP, 2006, p. 17). 
Esses dois aspectos são evidenciados pela equipe socioeducativa, durante a participação dos 
mesmos no cotidiano das atividades realizadas nos CENSEs. Estas explicitam as mudanças 
que, embora pareçam pequenas e insignificantes às equipes, expressam grandes 
 
8
 IASP, 2006, p. 09. 
 
7 
 
possibilidades de retorno do adolescente ao convívio social, desvinculado da prática de atos 
ilícitos. 
 A partir dessa compreensão, Costa (2001), salienta a importância da prática 
socioeducativa considerando que a mesma se divide em duas modalidades. Uma delas tem 
um caráter protetivo e está voltada à crianças, aos jovens e aos adultos em circunstância de 
vulnerabilidade pessoal e social, onde há ameaça ou violação de direitos, por ação ou 
omissão da família, do estado e da sociedade, ou ainda, pela sua própria conduta que o coloca 
em risco. A outra modalidade se volta, especificamente, aos adolescentes em conflito com a 
lei, em decorrência do cometimento de atos infracionais. Esta decorre do pressuposto de que 
o desenvolvimento humano deve ocorrer de forma integral, considerando todas as dimensões 
do ser humano [...] “envolvendo conhecimentos, sentimentos, crenças, valores, atitudes e 
habilidades” (IASP, 2006, p.21). Tais aspectos mudam o foco de atuação junto a esse público, 
pois se trabalha com um indivíduo que, em razão de suas vivências cotidianas e sua história 
de relações cometeu uma determinada infração. 
 Autores como Costa, Feire e Makarenko
9
 que auxiliaram na fundamentação da 
proposta socioeducativa, por compartilharem da mesma linha de pensamento, dizem que só 
se constrói um ser cidadão quando lhe é desvendado a consciência de seus direitos e de suas 
capacidades de transformação de si próprio e do mundo a sua volta. Com isso, ele se torna 
sujeito de seu destino. Assim, a proposta de alinhamento político pedagógica dos CENSEs 
busca o trabalho com o sujeito numa relação de sujeito-sujeito e não de sujeito-objeto. 
Acredita-se que esta relação é a que mais se aproxima com o adolescente, por levá-lo a uma 
consciência de si e dessa forma, ser protagonista de sua própria história. Neste sentido, a 
recomendação da Secretaria de Estado da Criança e da Juventude – SECJ é de que todos os 
profissionais que exercem suas funções nesses estabelecimentos devam trazer consigo a 
capacidade de estabelecer vínculos
10
, a fim de que o adolescente possa manifestar suas 
capacidades e potencialidades para seu crescimento pessoal e social. 
 Para os autores acima citados, o adolescente inserido no mundo da criminalidade, na 
maioria das vezes, acredita ter encontrado a solução para seus problemas, sejam eles de 
ordem econômica, social ou emocional, ou até mesmo, pelos próprios conflitos internos e 
externos inerentes a fase em questão. A adolescência é um período de transformações rápidas 
 
9
 Autores citados nos Cadernos do IASP, 2006 p. 18-20. 
10
 Esses vínculos são conseguidos atreves da abertura para o diálogo e ao respeito ao adolescente enquanto 
 sujeito em condição peculiar de desenvolvimento. 
 
8 
 
e constantes no corpo, na mente, na vida social e familiar e que são caracterizados como 
período de crise de identidade. Esta leva o adolescente ora a sentir-se adulto e pronto para 
assumir responsabilidades e ora a sentir-se criança recusando-se em aceitar que está 
crescendo. Nessa perspectiva, Lepre (2006), diz que [...] “a adolescência é marcada pela 
tomada de consciência de um novo espaço no mundo e pela entrada em uma nova realidade 
que produz confusão de conceitos e perda de referência [...] nada é estável, nem definitivo” 
(Lepre, 2006. In: IASP, 2006, p. 20). 
 É diante dessa nova construção de identidades e de escolhas que muitos adolescentes 
são seduzidos à prática de atos delituosos no mundo da criminalidade. Nessa fase, a família, 
os amigos e a sociedade exercem influências sobre eles e a falta de perspectivas em todas as 
instâncias de sua vida podem ter reflexos significativos na construção de projeções futuras. 
Nessa linha de raciocínio é que, nos CENSEs, o papel do sócioeducador
11
 se torna 
fundamental, pois se torna o vínculo mais próximo do cotidiano do adolescente. Dessa 
forma, pode criar espaços, organizar meios e produzir acontecimentos que façam a educação 
acontecer (IASP, 2006, p. 46). 
 Essa dinâmica de trabalho é parte constitutiva em todos os CENSEs que atendem 
medidas socioeducativas de restrição e privação de liberdade. Em Cascavel ainda não está 
em funcionamento o programa de restrição de liberdade – Semiliberdade – tendo previsão de 
inauguração para julho de 2010, em anexo ao programa de internação no CENSE II. 
 
4. A aplicação da medida socioeducativa de internação no CENSE II de Cascavel 
 
Para efetivar a implantação do programa de medidas socioeducativas no Paraná, 
houve a necessidade da construção de novos centros, entre eles o Centro de Socioeducação 
de Cascavel – CENSE II. Além da construção dessas Unidades foram realizados concursos 
públicos para contratação da equipe que reintegraria o quadro de funcionários da instituição, 
sendo efetivada também a proposta de capacitação dos servidores que atuariam no cotidiano 
e na rotina da instituição. 
Menciona-se, portanto, que os Centros de Socioeducação que eram geridos pelo 
antigo IASP passam, a ser coordenados pela Secretaria de Estado da Criança e da Juventude 
– SECJ, a partir do ano de 2007 e integram o sistema de proteção juvenil, considerando que 
 
 11 Como sócioeducador se compreende toda a equipe que trabalha direta ou diretamente com os adolescentes. 
 
9 
 
atendem as diretrizes constantes no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90 e 
no SINASE. E ainda, possuem relações interinstitucionais junto às Delegacias de Polícia, do 
Ministério Público e do Poder Judiciário. 
Segundo Volpi (2001) as entidades de privação de liberdade, são: 
 
[...] instituições de atendimento em regime de internação, isto é, são 
entidades onde os adolescentes que cometem atos infracionais ficam 
internos em tempo integral; mesmo que realizem alguma atividade 
externa, não podem sair sem expressa permissão da autoridade 
competente. A unidade é definida por ocupar um determinado espaço 
físico e ter uma equipe especifica com uma direção, corpo técnico, 
educadores e auxiliares (VOLPI, 2001, p. 66). 
 
A execução da medida socioeducativa de internação no CENSE II obedece a tais 
requisitos desde sua inauguração, ocorrida em de 12 de fevereiro de 2007. A Unidade se 
encontra localizada no Bairro Presidente, na cidade e Comarca de Cascavel, Estado do 
Paraná. Foi construída pelo governo estadual com um investimento de R$ 6,8 milhões em um 
espaço de 4,7 mil m² de área construída, e capacidade para 70 adolescentes. No entanto, 
atualmente, estão alojados 88 meninos, sendo que uma das casas tem dois adolescentes por 
alojamento, desrespeitando a estrutura arquitetônica que foi projetada para alojamentos 
individuais. A estrutura físicados CENSEs é determinada pelo projeto pedagógico específico 
do programa de atendimento, e respeita conforme SINASE, as exigências de conforto 
ambiental de ergonomia, de volumetria, de humanização e de segurança. 
O público alvo estabelecido para essa política é de adolescentes do sexo masculino, na 
faixa etária de 12 a 18 anos de idade. Possuem baixa escolaridade e a renda familiar não 
ultrapassa dois salários mínimos mensais. Dos 88 adolescentes internos, 47 são residentes em 
Cascavel e foram sentenciados, através de procedimento judiciário, ao cumprimento de 
medida socioeducativa de internação, em decorrência de cometimento de ato infracional de 
natureza grave. “A medida não comporta prazo determinado devendo sua manutenção ser 
reavaliada, mediante decisão fundamentada no máximo a cada seis e em nenhuma hipótese o 
período máximo de internação excederá a três anos” (ECA, art. 121, p. 43, 1990). Preconiza 
ainda que a liberação aos 21 anos de idade será compulsória. 
Importa salientar que o período de internação se torna um espaço de ação e reflexão 
sem desconsiderar a fase da adolescência. Neste sentido, decorre a importância das 
 
10 
 
atividades realizadas com os adolescentes serem de cunho sociopedagógico, pois 
possibilitam aos mesmos a formulação de novos projetos de vida desvinculado de ações 
infracionais. Para tanto, se faz necessário compreender que a internação está sujeita aos 
princípios de “brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa sem 
desenvolvimento” e ainda, no artigo 122 estabelece que a medida de internação só poderá ser 
aplicada quando, “tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à 
pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves; por descumprimento 
reiterado e injustificado da media anteriormente imposta” (ECA, art. 122, p. 43 1990). Diante 
disso, o CENSE recebe apenas os adolescentes com procedimento investigativo concluso 
após um período de 45 dias decorridos de uma internação provisória, conforme preconizado 
pelo referido Estatuto. 
O CENSE II é composto por 7 casas, cada uma com 10 alojamentos individuais, 
espaço de solário e uma área de convívio comum, onde realizam a alimentação e executam 
algumas atividades internas, como oficinas e filmes. 
Em 6 das 7 casas, ficam 10 adolescentes sendo que uma delas, por determinação 
judicial comporta 18 adolescentes sendo dois por alojamento. Os critérios de distribuição dos 
mesmos por casa obedece aos critérios descritos no artigo 123 do ECA onde diz que: “A 
internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto 
daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição 
física e gravidade da infração” (ECA, art. 123, p. 44, 1990). 
Assim sendo, a partir da reunião do Conselho Disciplina
12
 que ocorre duas vezes na 
semana, a equipe faz a inserção do adolescente em uma das casas a que for considerada mais 
adequada ao seu perfil. O período de inserção varia de 8 à 15 dias. Depois disso, o mesmo é 
encaminhado para atividades no grupo que mais se aproxima de suas características. O que 
se espera desse adolescente, a partir das avaliações da equipe, é que ele possa aprender a ser 
e a conviver com os outros educandos, também autores de atos infracionais, ao mesmo tempo 
em que aprenda as regras de conduta em sociedade. 
No local, há também outros espaços físicos necessários ao bom andamento das 
atividades sem desconsiderar, no entanto, a segurança da equipe e dos próprios adolescentes. 
 
12 Constitui-se num instrumento socioeducativo para o desenvolvimento do adolescente no CENSE porque 
coloca o limite, a norma e a disciplina a serviço de emancipação do educando. O foco das medidas propostas 
pelo CD não é a punição e o castigo, mas sim a responsabilização e conscientização do adolescente das 
consequências e repercussões dos seus atos. 
 
11 
 
Esses espaços são compostos por área central de monitoramento e de revista, espaço 
ecumênico, teatro de arena, ginásio de esportes, campo de futebol, horta, escola - com sala de 
informática, salas para oficinas de múltiplo uso, alojamentos, sala para visitas e quatro torres 
de vigilância
13
. Compreende-se que para o SINASE, que a socioeducação não se constitui 
apenas com os aspectos sociopedagógicos, mas também da segurança, por isso, não há 
formas de desmembrá-los. Uma é completamente dependente da outra. 
As ações socioeducativas desenvolvidas no CENSE se pautam no desenvolvimento 
pessoal e social do adolescente a partir da realização de várias atividades dentre elas: oficinas 
pedagógicas, aulas de educação formal através do Programa Educação em Unidades 
Socioeducativas – Proeduse, orientação profissional, cursos profissionalizantes, orientação 
espiritual entre outras. O objetivo da realização dessas atividades é de favorecer o 
desenvolvimento integral das potencialidades, raciocínio, coordenação, auto-estima, 
habilidades de convivência, tanto com o grupo de educandos, quanto com a equipe de 
sócioeducadores e, principalmente, o exercício da capacidade reflexiva sobre as atitudes e 
comportamentos necessários para ser e conviver em sociedade. 
Os instrumentos metodológicos
14
 utilizados pela equipe que atua no referido 
estabelecimento iniciam no momento da chegada do adolescente na Unidade, permanece 
durante o período de cumprimento da referida medida e se estende por um ano após a 
desinternação. A partir disso, passa a ser acompanhado pela rede de atendimento à criança e 
ao adolescente nos municípios de residência com o apoio do Programa de Apoio ao Jovem 
Educando – AJE, que busca além de prepará-lo para o desligamento da unidade, auxiliá-lo 
para o exercício adequado de sua cidadania. 
No momento em que chega à unidade o mesmo é recepcionado por dois educadores, 
um técnico e um profissional do setor de saúde e segue toda a normativa de recepção, 
acolhimento e integração. Segundo Costa (2001), para trabalhar com o adolescente em 
conflito com a lei é necessário, além de recepcioná-lo, também acolhê-lo, pois sua história de 
vida é na maioria das vezes, permeada pela violência e pela exclusão. Nesse sentido, a 
recepção assume um papel relevante para o desenvolvimento das fases posteriores. Por isso, 
“é importante que a postura do profissional que acolhe o adolescente seja de abertura e 
 
13 As torres de vigilância são de responsabilidade da Polícia Militar que não tem contato com os adolescentes, 
excetos nos casos de escolta ou quando em casos de motim ou rebelião. 
14 Todos os instrumentais metodológicos estão descritos nos Cadernos do IASP e orientam a prática político-
pedagógica de todos os CENSEs, respeitando, contudo, as particularidades de cada estabelecimento. 
 
12 
 
continência, buscando desde logo, a formação de vínculos positivos com o educando” (IASP, 
2006, p.43). Tais procedimentos facilitarão o processo de integração do mesmo com o grupo 
ao qual pertencerá e também com a equipe socioeducativa. 
Outra fase, igualmente importante, é a preparação e a realização para o estudo de caso 
do adolescente. Esse processo, no CENSE II, não pode ultrapassar os 45 dias de sua chegada 
no estabelecimento. Nesse procedimento, são considerados todos os aspectos da história de 
vida do mesmo, seu contexto “sócio-familiar, as circunstâncias da prática do ato infracional, 
suas aptidões, habilidades, interesses e motivações, suas características pessoais e condições 
para superação de suas dificuldades” (IASP, 2006, p. 47). 
A partir disso, se elabora o Plano Personalizado de Atendimento – PPA quetem a 
finalidade de auxiliar o adolescente para a efetivação de um projeto de vida voltado para seu 
desenvolvimento pessoal. Nesse plano são estabelecidas as propostas de curto, médio e longo 
prazo que, ao longo de sua trajetória no CENSE, será desenvolvido. Assim sendo, a equipe 
deve exercer uma influência sobre a vida do adolescente, possibilitando a construção de sua 
identidade e de um projeto de vida, a fim de que o mesmo assuma um papel inclusivo na 
dinâmica social e de vida comunitária. 
A última fase do adolescente na instituição é a preparação do mesmo para o 
desligamento e a reinserção sócio-familiar. Nesse sentido são realizadas pela equipe de 
referência do adolescente, todas as propostas elencadas a partir do seu plano de atendimento 
sendo incentivado à continuidade das ações após o desligamento. 
A participação da família nesse processo é de fundamental importância considerando 
suas responsabilidades, tanto no período de internação, quanto após o desligamento. Diante 
disso, a equipe do CENSE desenvolve ações com o intuito de preparar os familiares para a 
acolhida do adolescente. Tais aspectos estão descritos na Constituição Federal, no Estatuto da 
Criança e do Adolescente no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e preconizam 
sobre as atribuições da família e a necessidade de intervenções das equipes socieducativas 
para esse público. 
Para que tais ações ocorram, tanto com os adolescentes, quanto com os seus 
familiares, há no CENSE II de Cascavel, um quadro funcional, no qual a equipe 
socioeducativa está constituída por psicólogos, assistentes sociais, terapeuta ocupacional, 
pedagogos, professores, educadores sociais, dentista, auxiliares de enfermagem, técnicos 
 
13 
 
administrativos, motorista, equipe de serviços gerais e estagiários de serviço social e 
psicologia. 
 
 Essa equipe está, de forma direta ou indireta, vinculada ao cotidiano dos adolescentes 
privados de liberdade e em cumprimento da medida socioeducativa de internação no CENSE 
II. Lembrando ainda que alguns cargos, como o Serviço Social e a Psicologia mantém 
vínculo com o adolescente por 1 ano, aproximadamente, após a desinternação. Sendo assim, 
para que o trabalho tenha resultados positivos e excelência na sua prática, os membros que 
compõem a equipe, se solidarizam uns aos outros, buscando viabilizar o desenvolvimento 
pessoal e social do adolescente favorecendo seu protagonismo juvenil. 
 
5. Considerações Finais 
 
 As medidas socioeducativas preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente 
– ECA constituem um avanço significativo no estabelecimento de ações aos adolescentes 
autores de atos infracionais, porque contempla objetivos que lhes garantem oportunidades de 
superação de sua condição de exclusão, possibilidade de reconstrução de seu projeto de vida 
e formação de valores positivos para sua participação na vida social. 
 No entanto, a lei por si só não garante a esse público, as possibilidades de inclusão 
efetiva nem que seus direitos se materializarão. Mas, possibilita o acesso dos atores das 
instâncias de controle social no cotidiano das relações e na formulação de política públicas, 
especialmente, ao se tratar de um sujeito em condição peculiar de desenvolvimento, 
conforme preconiza o Estatuto: o adolescente. Assim sendo, compreende-se a necessidade de 
um tratamento que possibilite o pleno desenvolvimento como pessoa e com direito a 
atendimento humanizado ainda que, em privação de liberdade. 
 Importa salientar, que o ato cometido revela, sem dúvida, um contexto de violência e 
transgressão, causador de revoltas em todos aqueles que, de alguma forma, foram vítimas de 
atos cometidos por adolescentes. Faz-se necessário refletir, no entanto, que ele é parte 
integrante da sociedade e que a condição de privação de liberdade, não o exclui de um 
contexto maior de transformações societárias. Estas interferem de maneira incisiva na 
escolhas individuais que em muitos casos, são característicos da fase da adolescência. 
 
14 
 
 No CENSE II de Cascavel, é perceptível o esforço da equipe no cumprimento da 
legislação que orienta as ações da comunidade socioeducativa, Estatuto da Criança e do 
Adolescente Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. A aplicação de oficinas, a 
escolarização, os atendimentos técnicos, enfim a rotina estabelecida e necessária no 
cumprimento da referida medida, são pontos fundamentais enquanto o adolescente está 
privado de liberdade. E nada do que é realizado pela equipe, pode ser considerada uma 
benesse do socioeducador. Ele apenas desenvolve seu trabalho junto ao adolescente, 
considerando os aspectos legais e acreditando na possibilidade de auxiliar na elaboração e 
concretização de novos projetos de vida desvinculados da prática de atos ilícitos. 
 O que causa inquietude é perceber que o adolescente, na maioria das vezes, necessita 
chegar a esse espaço para ter seus direitos garantidos. Em noventa por cento dos casos sobre 
o ato praticado, conforme relatório mensal elaborado pela equipe houve lacunas na aplicação 
das medidas protetivas previstas na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Falhou a Assistência, a Educação, a Cultura, o Esporte e o lazer, a 
profissionalização, a habitação, enfim, falhou a priorização de recursos para a “Invenção da 
Infância
15
 como bem caracteriza o filme. 
 Diante disso, há que se repensar sobre os meios utilizados para o enfrentamento da 
violência. Há que se pensar que o adolescente autor de ator infracional, muitas vezes, só 
transgride as normas socialmente estabelecidas porque muitos de seus direitos a medidas 
protetivas lhe foram negados. Assim, restou a prática daquilo que lhes foi possível aprender 
nas suas relações sócio-familiares e que passaram a fazer parte de seu cotidiano. 
 Compreende-se então, que apenas a boa vontade de equipe do CENSE não poderá 
transformar os sujeitos em agentes de reflexão e com consciência de seu papel transformador 
na sociedade. É necessário que haja também vontade política dos dirigentes desse país e 
priorização da infância e da adolescência no orçamento público. Faz-se, igualmente, 
imprescindível considerar que há necessidade de investimentos nas políticas interventivas de 
proteção, que a sociedade aprenda a exigir seus direitos e que o Estado cumpra com suas 
responsabilidades. 
 
15
 Filme Invenção da infância assistido em curso de capacitação na Faculdade Assis Gurgaz – FAG, em 
18/05/2010. 
 
 
15 
 
 Dessa forma, acreditamos na possibilidade de construção de novos parâmetros para 
que o público-alvo dessa política sofra as ações de um trabalho bem feito e aprenda a ser e a 
conviver dignamente em sociedade tornando-se sujeito de sua própria história. 
 
6. Referências Bibliográficas 
 
BRASIL, Brasília. Constituição da República Federativa do Brasil. Saraiva, São Paulo: 
1994. 
BRASIL, Brasília. Estatuto da Criança e Adolescente. Lei Federal nº 8.069/1990. 
Conselho Regional de Serviço Social – CRESS 11ª Região. Coletânea de Legislações: 
Direitos de Cidadania. Edição especial. Capital Curitiba – PR. 2003. 
COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Aventura Pedagógica: Caminhos e descaminhos de 
uma Ação Educativa. Belo Horizonte. Modus Fasciendi. 2001. 
______________________________. Parâmetros curriculares. Belo Horizonte. Modus 
Fasciendi. 2001. 
COSTA, Sueli Gomes. Signos em transformação: a dialética de uma cultura 
profissional. São Paulo: Cortez, 1995. 
LA TAILLE. Três Dimensões educacionais. São Paulo: Sammus, 1998. 
 SALES, Mione Apolinário. (In)visibilidade perversa – adolescentes infratores como 
metáfora da violência.São Paulo: Cortez, 2007. 
 
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE / Secretaria Especial dos 
Direitos Humanos – Brasilia – DF: CONANDA, 2006. 
 VOLPI, Mário. Sem Liberdade, sem direitos – a privação de liberdade na percepção do 
adolescente. São Paulo: Cortez: 2001.

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