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Sentença: Conceito, Elementos e Efeitos

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Sentença
Conceito
Sentença é a decisão exarada por um Juiz competente segundo as normas de direito material e processual, consoante o alegado pelas partes, tendente a por fim na demanda. 
Ela porá termo à demanda. Seja porque se vislumbrou um vício processual insanável (nulidade absoluta), seja porque analisou a controvérsia, provas e disse o direito no caso concreto. Por isso a sentença difere-se da decisão interlocutória. Esta, aborda questões incidentais de regularidade e seguimento do processo; aquela encerra o litígio.
Elementos da sentença
Relatório
No relatório deverá conter o nome das partes litigantes, a identificação do caso. Com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo.
Fundamentação
O juiz expõe as razões pelas quais acolhe ou rejeita o pedido postulado, analisando os fundamentos de fato e de direito e defesa. Em caso de havendo sentença proferida sem a devida adequação da norma, ocorrerá a nulidade do processo através da ação declaratória de inexistência de sentença, visto que houve afronta ao principio da congruência (CF; art. 93, IX). A fundamentação deverá observar os preceitos do silogismo jurídico, isto é, analisar uma premissa maior, uma premissa menor e, por fim, uma conclusão.
Dispositivo
O juiz apresentará as suas conclusões finais de tudo o que foi ponderado, dizendo a quem o direito assistiu no caso concreto, se houve ou não o acolhimento do pedido do autor. No dispositivo, geralmente, o juiz utiliza a expressão “julgo procedente o pedido para decretar…”.
Efeitos da sentença
Efeitos principais
Compreende-se por efeito principal da sentença aquele der provimento jurisdicional prolatado pelo juiz. Tais efeitos podem ser: condenatório, declaratório ou constitutivo.
Efeito condenatório
Sentença condenatória é aquela que, além de promover o acertamento do direito, declarando-o, impõe ao vencido uma prestação passível de execução. A condenação consiste numa obrigação de dar, de fazer ou de não fazer. Exemplo: na ação de reparação de danos o juiz declara a culpa do réu e condena-o a indenizar (obrigação de dar). O comando judicial expresso no dispositivo costuma vir da seguinte forma: “Julgo procedente o pedido para condenar…”. 
 Os efeitos da sentença condenatória são, em geral, ex tunc, isto é, retroagem para alcançar situações pretéritas. Exemplos: os juros moratórios fixados na sentença são devidos a partir da citação (data em que o devedor é constituído em mora, nos termos do art. 240, CPC/2015).
Efeito declaratório
A sentença declaratória tem por objeto simplesmente a declaração da existência ou inexistência de relação jurídica, ou da autenticidade ou falsidade de documento (art. 19, I e II, CPC/2015). No exemplo da reparação de danos, pode ser que o interesse do autor se restrinja a obter, pela sentença, a declaração de um tempo de serviço. Nesse caso o comando judicial (dispositivo) será no sentido de “julgar procedente para declarar…”.
 Os efeitos da declaração retroagem à época em que se formou a relação jurídica (ex tunc). Exemplos: a declaração da existência de um crédito retroage à data de sua constituição; na usucapião, a aquisição da propriedade se dá com o transcurso do tempo e, se o pedido for declarado procedente, os efeitos da sentença retroagem à data da aquisição do domínio.
Efeito constitutivo/ desconstitutivo
Na sentença constitutiva, além da declaração do direito, há a constituição de novo estado jurídico, ou a criação ou a modificação de relação jurídica. Exemplos: divórcio; anulatória de negócio jurídico; rescisão de contrato e anulação de casamento.
A sentença por si só é bastante para alterar a realidade jurídica objeto da decisão. Assim, a sentença constitutiva não implica a abertura da fase de cumprimento. Em regra, as sentenças constitutivas têm efeito ex nunc (para o futuro). Exemplo: é da sentença que decreta o divórcio que se tem por extinto o casamento. Exceção: sentença que anula negócio jurídico pode ter efeito ex tunc (art. 182 do CC).
Efeitos secundários
Fora os efeitos principais (declaratório, condenatório ou constitutivo), há efeitos que se manifestam automaticamente, em decorrência de previsão legal, independentemente de qualquer pronunciamento judicial. Tais efeitos, denominados secundários ou acessórios, surgem do simples ingresso da sentença no mundo jurídico.
 A sentença que decreta a separação judicial ou divórcio, bem como a que anula o casamento, além do efeito constitutivo ou declaratório visado pelas partes e deferido pelo juiz, automaticamente, põe fim ao regime de comunhão de bens (arts. 1.571, II, III e IV, e 1.576 do CC).
Momentos em que a sentença pode ser proferida
Sentença terminativa
As sentenças terminativas têm por consequência a extinção do processo sem a resolução do mérito e se operam pelos motivos elencados no art. 485 do Código de Processo Civil. Assim, a causa de pedir, contida na pretensão do autor — as razões de fato e de direito pelas quais ele buscou a tutela jurisdicional —, simplesmente não será enfrentada pelo magistrado.
As sentenças terminativas podem ser proferidas a qualquer tempo, vez que o juiz verifique que não há condições de prosseguir, pois o pedido não poderá ser apreciado.
Sentença definitiva
Também conhecidas como sentença de mérito, como o próprio nome sugere, as sentenças definitivas visam colocar ponto final à demanda de modo a julgar aquilo que se propôs ao Estado solucionar.
A sentença definitiva pode ser proferidas em 4 situações, são elas:
No inicio da fase postulatória antes que o réu seja citado, nos casos em que o juiz julgar liminarmente improcedente o pedido devido a analise de decadência ou prescrição, por exemplo.
Na fase postulatória com o julgamento antecipado de mérito em razão da revelia ou nos casos e que não forem necessárias a produção de outras provas.
Ao final da fase decisória, após ouvidas as alegações finais o juiz proferirá a sentença de mérito.
Defeitos da sentença
 A sentença é um dos atos processuais, e, como tal, deve preencher alguns requisitos de validade e eficácia (pressupostos processuais de existência e validade).
 Caso a sentença não mantiver correlação com o objeto da lide poderá haver nulidade. O juiz por força do princípio da inércia fica adstrito a julgar as pretensões postas em juízo, observados os fatos e fundamentos jurídicos invocados pelas partes. De acordo com o princípio da congruência o juiz não pode julgar ´´EXTRA PETITA´´ ; ´´ ULTRA PETITA´´ ou ´´ CITRA PETITA´´.
Sentença ´´EXTRA PETITA´´
É aquela em que o juiz julga objeto diverso daquele que foi demandado. Contra tal sentença cabe oposição de embargos de declaração (CPC, art. 1022) e ação rescisória (CPC, arts. 966 e 975). Ainda, cabe suscitar referida matéria em sede de preliminar antes das razões e contrarrazões em recurso de apelação (CPC, art. 1009).
Obs: Conforme entendimento da ´´TEORIA DA CAUSA MADURA´´, na forma do artigo 1013, pár. 3, CPC, em tal circunstância se o processo estiver em condições de imediato julgamento deverá o tribunal decidir desde logo o mérito.
Obs1: Há doutrinadores que entendem que contra esse tipo de decisão caiba ´´ querela nulitatis insanabilis´´, haja vista, padecer a decisão de vicio que viola a própria existência do processo.
Sentença ´´ULTRA PETITA´´
É aquela em que o juiz julga a pretensão, mas, condena o réu em quantidade superior à pedida.
Obs: Contra tal vício cabe embargos de declaração além de interposição de recurso de apelação.
Obs1: Se houver trânsito em julgado, caberá ação rescisória cujo objeto seja desconstituir a sentença, naquilo que ela contenha de excessivo.
Pedido genérico e líquido - Art. 491
No casos de sentença que condene ao cumprimento de obrigação pecuniária, ainda que o demandante tenha formulado pedido genérico, a decisão deve definir desde logo a extensão da obrigação, o índice da correção monetária, a taxa de juros, otermo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros. No entanto, é permitido, excepcionalmente, a prolação de sentença genérica, sem determinar o quantum debeatur. Isto é possível naqueles casos em que ao longo do processo de conhecimento não tenha sido possível de3terminar, de modo definitivo, o montante devido ou se a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença.
Sentenças que resolvem relação jurídica condicional – Art. 492
A sentença deve ser certa, ainda que se trate de relação jurídica condicional, pois deverá ser capaz de conter uma certificação de existência ou inexistência do direito. Conforme entendimento do STJ no REsp 866203/PR ´´ A sentença de procedência que delega à fase de liquidação a prova desse fato constitutivo é sentença condicional e, portanto, nula, pois fundada num pressuposto de fato cuja a existência é incerta´´.
Sentença e fatos supervenientes – Art. 493
O fato superveniente deve ser apreciado pelo juiz ,de oficio ou a requerimento da parte, independentemente de quem possa ser beneficiado. À titulo de exemplo, evidencia-se os casos em que o detentor da posse de um imóvel percebe turbação nesta, no entanto, durante o curso do processo, tal turbação vem a se tornar esbulho. De maneira análoga, a ocorrência do esbulho compreende-se por ´´fato superveniente´´ e, desta forma, conforme regramento do art. 493, CPC deverá ser apreciado pelo juiz quando na prolação da sentença. Em igual sentido: ´´ Cabíveis embargos declaratórios para sanar omissão de acórdão que não aplicou, de ofício, direito superveniente (arts. 462 c/c 535, II, do CP)´´. (STJ, REsp 5708/SP, j.01.09.1991).
Hipoteca judiciária – Art. 495
A hipoteca judiciária é uma pré-penhora, que antecipa um ato executivo típico das execuções por quantia certa, destinada não só a assegurar quem em uma futura e eventual execução o credor tenha seu direito satisfeito, mas também para servir como poderoso mecanismo inibidor de fraudes. Desta feita, para ter eficácia contra terceiros, exige transcrição no cartório de registro de imóveis, considerando-se em fraude de execução toda e qualquer transação que lhe seja posterior.
Características
Para se falar em hipoteca judiciária, há a necessidade, precipuamente de prolação de sentença líquida que condene ao pagamento em dinheiro ou que converte obrigação em perdas e danos, valendo-se ressaltar que se produz ainda que a sentença seja impugnada por recurso, mesmo que tal recurso tenha efeito suspensivo.
Forma de execução
A hipoteca judiciária será realizada mediante apresentação da cópia da sentença perante o cartório competente, independentemente de ordem judicial, declaração expressa do juiz ou demonstração de urgência.
Uma vez constituída a hipoteca judiciária, deverá o credor, em prazo de 15 dias informar ao juiz da causa, que determinará a intimação do devedor para que este tome ciência do ato.

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