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INTRODUÇÃO Os anticonvulsivantes são medicamentos utilizados em pacientes que apresentam convulsões ou alterações cerebrais, como agressividade, síndrome cerebral etc. São utilizados como medicamento único em cães que apresentam epilepsia idiopática ou em associação a outros medicamentos quando a origem das convulsões se deve a uma alteração metabólica ou orgânica em progressão. Os anticonvulsivantes agem evitando os diferentes mecanismos que dão início às crises convulsivas: (1) alteração da função da membrana neuronal, que pode conduzir a uma despolarização excessiva; (2) diminuição de neurotransmissores inibitórios, tais como o ácido gamaaminobutírico (GABA), o neurotransmissor inibitório mais amplamente distribuído no sistema nervoso central; (3) aumento dos neurotransmissores excitatórios, como o glutamato; (4) alteração da concentração extracelular de potássio e cálcio. Vários novos medicamentos têm sido utilizados visando ao controle das crises convulsivas, com pouco ou nenhum efeito colateral. Em Medicina Veterinária são utilizados os medicamentos que são lançados no mercado para uso em Medicina Humana, e tentativas terapêuticas são feitas em cães e gatos a fim de se descobrirem a farmacocinética e os efeitos colaterais nestas espécies. CONVULSÃO E EPILEPSIA Convulsão é uma alteração comportamental transitória causada por disparos rítmicos, sincronizados e desordenados de populações de neurônios cerebrais. Enquanto a convulsão é definida como um sintoma apresentado pelos animais ou seres humanos, a epilepsia indica recorrência dessas crises. Antigamente definia se epilepsia como a recorrência de crises sem um processo ativo no cérebro; atualmente a definição segue a mesma preconizada para seres humanos. Assim, quando o paciente apresentar recorrência das crises devido a uma lesão anatômica no cérebro, como, por exemplo, um tumor cerebral, denominase epilepsia sintomática. Se as crises forem causadas por uma alteração estrutural, mas sem confirmação do diagnóstico, então denominase de epilepsia criptogênica. Por último, denominase epilepsia idiopática, quando não se encontra a causa para tais crises convulsivas. CLASSIFICAÇÃO DAS CRISES CONVULSIVAS Foram feitas várias tentativas para se classificarem as crises convulsivas em cães, visando auxiliar os clínicos quanto às prováveis causas, localizações e à escolha adequada da medicação a ser usada. Uma classificação utilizada é aquela descrita por Chrisman em 1991. Esse autor classifica as convulsões em: convulsões generalizadas brandas ou graves, convulsões parciais, subdivididas de acordo com a sua localização; e convulsão focal com generalização secundária. ■ ■ ■ ■ Convulsões generalizadas brandas Caracterizamse por alterações motoras em todos os membros, além da musculatura do pescoço e da cabeça, sem a perda de consciência dos pacientes. Estes podem apresentar uma aura ou uma percepção de que a crise está vindo, procurando locais para se abrigar ou procurando o proprietário para confortálos. Logo em seguida a esta alteração comportamental começam, espontaneamente, contrações clônicas incontroláveis nos membros, pescoço e cabeça; o animal em geral mantémse em decúbito lateral, ansioso e confuso, mas não inconsciente, e com frequência tenta rastejar até o proprietário. Podem ocorrer neste período sialorreia moderada a excessiva e, algumas vezes, vômitos. Proprietários relatam que a duração destas crises varia de 1 a 10 min, mas pode chegar a 1 hora, reduzindose quando os cães são confortados pelos proprietários. O período pósictal caracterizase por exaustão e vômitos, se estes não ocorreram no período ictal. Essas crises generalizadas brandas estão frequentemente associadas a epilepsia idiopática em Poodles, mas também a distúrbios metabólicos e tóxicos. Convulsões generalizadas graves Também denominadas crises tônicoclônicas ou “grande mal”; de modo diferente das generalizadas brandas, caracterizamse pela perda de consciência. Os animais apresentam sialorreia abundante e contrações mandibulares seguidas de contrações tônicoclônicas das musculaturas dos membros, pescoço e face; alguns vocalizam, devido à passagem de ar pela laringe contraída; os olhos em geral mantêmse abertos com dilatação pupilar bilateralmente. Ocorre também micção ou defecação espontânea pelo relaxamento dos esfíncteres. Durante o período das fases tônicoclônicas os animais não conseguem respirar e tornamse cianóticos; as vias respiratórias dos cães e gatos raramente se tornam obstruídas pela língua, portanto, devemse alertar os proprietários quanto aos riscos de acidentes por mordedura ou obstrução das vias respiratórias superiores quando da tentativa de exteriorizar a língua. A duração da fase ictal é de aproximadamente 30 a 90 s. O período pósictal, que varia de alguns minutos até 1 hora, é representado pela exaustão do animal com sonolência acentuada ou hiperatividade, andar compulsivo, amaurose devido à dilatação pupilar e desorientação; alguns apresentamse famintos ou sedentos. As convulsões generalizadas graves estão associadas a distúrbios metabólicos, tóxicos ou a epilepsia idiopática ou verdadeira na maioria das raças de cães e gatos, estando as de longa duração ligadas a distúrbios metabólicos ou tóxicos. Convulsões parciais Também chamadas de focais, decorrem de uma descarga focal e envolvem apenas uma região do cérebro. Caracterizamse pela presença paroxística de espículas ou complexos pontaonda lentos nas regiões próximas ao foco e com sintomatologia clínica, na dependência da área envolvida. Estas crises parciais estão comumente associadas a uma lesão focal no cérebro causada por uma infecção, a lesão metabólica ou traumática ou, ainda, a neoplasia. As convulsões parciais podem ser subdivididas em: Convulsão parcial do lobo frontal ou focal motora: o animal apresenta contrações em musculatura do lado oposto do lobo frontal afetado; a cabeça pode desviarse para o local da descarga Convulsão parcial do lobo temporal ou psicomotora: período comportamental anormal com desorientação e confusão mental ou corrida com agressividade, estando associada a descargas neuronais no lobo temporal ou sistema límbico Convulsão psíquica ou de lobo temporal ou occipital: alterações comportamentais que surgem como alucinações (p. ex., “caçar moscas”); têm sido observadas em Schnauzer e Cavalier King Charles Spaniels Convulsão do lobo parietal ou automutilação: os pacientes apresentam esporadicamente automutilação de alguma região do corpo ou mesmo a cauda; alguns animais apresentam eletroencefalograma anormal e podem responder à terapia anticonvulsivante. O foco provável está em região sensorial ou somestésica do lobo parietal ■ ■ ■ ■ ■ Convulsão do sistema límbico ou hipotalâmica: poucos casos de vômitos e diarreia crônica têm sido constatados por descargas no sistema límbico, incluindo o hipotálamo, apresentando espículas nos traçados eletroencefalográficos e melhora após o uso de anticonvulsivantes. Convulsões focais com generalização secundária Pacientes com crises focais ou parciais podem apresentar generalização da descarga neuronal a partir do foco para outras regiões do cérebro, resultando em crise generalizada grave; a fase focal pode ser tão rápida que os proprietários relatam ao médicoveterinário apenas a generalização. Este tipo de convulsão pode ser diagnosticado por meio de uma anamnese acurada, pela presença de espículas ou pontasondas nos traçados eletroencefalográficos ou alteração neurológica no exame físico do animal, compatível com uma lesão orgânica em um dos hemisférioscerebrais. Se a causa da convulsão for uma afecção ativa e presente, como encefalite, intoxicação, deficiência nutricional, distúrbios metabólicos ou neoplasias, o animal pode não se recuperar completamente. Quando o foco estiver em região motora, o animal pode apresentar desvio lateral da cabeça e alteração motora contralateral ao local do foco, que em geral é relatada pelo proprietário. Se a crise se iniciar em uma área não motora, a convulsão focal pode ser ignorada pelos proprietários. Alguns pacientes demonstram alterações focais após a generalização, como andar compulsivo e em círculos do mesmo lado da lesão. Outras crises Existem outros tipos de crises convulsivas que não foram ainda perfeitamente caracterizadas. São elas: Ausências: são muito comuns em seres humanos, caracterizadas por perda transitória e rápida de consciência, associadas ou não a sinais vegetativos e/ou motores e com um padrão eletroencefalográfico típico. Tais crises têm sido descritas em animais, embora não confirmadas. Em Medicina Veterinária elas podem ser confundidas com síncopes ou convulsões focais motoras Convulsões mioclônicas: caracterizamse por contrações breves e repentinas de um ou mais músculos. Podem aparecer isoladamente ou desenvolver crises tônicoclônicas. Este tipo de crise tem sido descrito em cães idosos que desenvolvem doença de Lafora (epilepsia mioclônica), uma doença de armazenamento. Dorothea SchwartzPorsche (1994) observou esta crise apenas em Basset Hounds Convulsões clônicas; caracterizamse por contrações musculares clônicas. Assemelhamse às convulsões do tipo “grande mal”, sem a fase tônica. São encontradas raramente em cães e ocorrem com frequência em gatos. Sem o uso do eletroencefalograma, tornase difícil distinguilas das convulsões focais complexas ou psicomotoras Convulsões tônicas: ocorrem principalmente em cães, com ou sem perda de consciência. O tônus muscular está aumentado em todos os músculos esqueléticos. São encontradas primariamente em Poodle, Dachshund e Terrier. QUANDO UTILIZAR A TERAPIA ANTICONVULSIVANTE A terapia anticonvulsivante é indicada quando o padrão das crises convulsivas ou a sua frequência estiverem interferindo na vida do animal. Crises generalizadas brandas ou focais esporádicas ou mesmo crises generalizadas graves, não ultrapassando algumas por ano, não necessitam de controle medicamentoso. Por outro lado, quando tais crises se tornarem frequentes ou os proprietários forem afetados emocionalmente por elas, dáse início à terapia. Os proprietários devem ser informados sobre a necessidade de manter o tratamento ininterruptamente, a posologia recomendada e a variação individual quanto aos medicamentos e suas dosagens entre os diferentes pacientes. Portanto, uma vez iniciada a terapia, não se deve interrompêla. É importante também manter os proprietários informados que, neste período de adaptação, os pacientes poderão apresentar novas crises convulsivas, até o ajuste adequado da dose do medicamento. Recomendase que os proprietários anotem em um calendário as frequências das crises, o número de convulsões por período e a duração das mesmas, auxiliando assim o profissional a avaliar o sucesso ou não da terapia utilizada. Como a maioria das crises convulsivas é controlada e não curada, o sucesso desta terapia anticonvulsivante depende primariamente da compreensão e cooperação dos proprietários. Atualmente, escolhese um ou no máximo dois medicamentos para o controle das crises, uma vez que a associação de vários agentes pode dificultar a identificação do medicamento que está prejudicando o paciente ou qual deles deve ter sua dose ajustada. O tratamento das convulsões depende da sua etiologia. Os anticonvulsivantes são indicados em pacientes que apresentam epilepsia idiopática ou adquirida, mas não com doenças em evolução. Pacientes que apresentam convulsões por lesão estrutural requerem terapia adicional dependendo da causa (p. ex., neoplasia, encefalite), enquanto os animais que apresentam convulsões de origem extracraniana têm o seu uso contraindicado, uma vez que a causa das crises deve ser avaliada e eliminada (hipoglicemia, encefalopatia hepática ou renal). Geralmente, iniciase o tratamento com fenobarbital, por ser o medicamento que apresenta melhor nível sérico em pouco tempo, com controle das crises, e poucos efeitos colaterais quando usado por período longo. Cerca de 60 a 80% dos animais apresentam sucesso no controle das convulsões empregandose o fenobarbital como medicamento único. Se as crises persistirem ou os pacientes apresentarem efeitos colaterais, devemse ajustar as doses ou fazer a determinação sérica desse medicamento. Quando há persistência da sintomatologia, substituise a medicação ou associase outro anticonvulsivante, além de se verificar, por meio de exames físicos ou complementares, se o paciente apresenta uma afecção orgânica progressiva, como, por exemplo, uma neoplasia cerebral. Se houver controle parcial do quadro convulsivo com crises brandas em intervalos longos podese associar a flunarizina ao barbitúrico; se as crises persistirem com uma intensidade maior podese utilizar o brometo de potássio. Cães resistentes a esses medicamentos poderão receber medicamentos mais novos disponíveis no mercado, como a gabapentina ou o topiramato. Recentemente, Podell et al. (2016), em um consenso realizado por ocasião do congresso do American College of Veterinary Internal Medicine (ACVIM) realizado em 2015 sobre manejo de convulsões em cães, preconizaram como medicamentos antiepilépticos iniciais eficazes o fenobarbital ou a imepitoína, seguidos do brometo de potássio e, posteriormente, a zonisamida e o levetiracetam, os quais podem ser menos eficazes. A primidona não é recomendada, pois pode ser ineficaz e/ou perigosa para os pacientes. Se as crises convulsivas estiverem controladas, monitoramse a função hepática e a medula óssea destes pacientes (os barbitúricos a cada 6 ou 9 meses, enquanto os demais devem ser monitorados a cada 1 ou 3 meses). Uma vez controladas por mais de 6 meses, podese retirar, de forma gradativa, o medicamento utilizado e só retornar à dose inicial se houver recidiva das crises. ANTICONVULSIVANTES USADOS EM MEDICINA VETERINÁRIA A seguir são apresentados os anticonvulsivantes empregados em Medicina Veterinária para o controle das convulsões. Fenobarbital O fenobarbital limita a disseminação da atividade da crise e também eleva o limiar para a mesma, primariamente por meio do aumento da concentração de GABA (ver Capítulo 11). Por via oral, o fenobarbital é absorvido completamente, porém de maneira lenta. A concentração máxima no plasma ocorre várias horas após uma única dose. Cerca de 40 a 60% ligamse às proteínas plasmáticas, e o medicamento se liga em proporção semelhante aos tecidos, incluindo o cérebro. O pKa do fenobarbital é de 7,3 e até 25% da dose sofrem eliminação renal pHdependente, em forma inalterada, sendo o restante inativado pelas enzimas hepáticas microssômicas. O principal metabólito, o derivado parahidroxifenílico, é inativado e excretado parcialmente na urina como glicuronídio conjugado. Outro metabólito do fenobarbital é o derivado N glicosídio. Os níveis plasmáticos se estabilizam entre 7 e 10 dias e a meiavida está em tomo de 47 a 74 h no cão; é um potente indutor enzimático, aumentando sua própria eliminação, que pode variar entre 30 e 102 h nesta espécie. Indicação. Convulsões generalizadas e focais, e/ou quando o custo da terapia é o fator a ser considerado, pois é um medicamento de baixo custo. Dose. A dose recomendada para cães é de 2 a6 mg/kg a cada 12 h, ao passo que para gatos é de 1 a 5 mg/kg a cada 12 h. O fenobarbital aplicado por via intravenosa pode demorar de 20 a 30 min até que se consiga o efeito anticonvulsivo. Para obter concentrações terapêuticas (20 μg/mℓ) imediatas, podese administrar na dose de 12 mg/kg. Se associado ao diazepam por via intravenosa, devese administrar o fenobarbital por via intramuscular, o que evita a depressão respiratória e cardiovascular. Os níveis séricos efetivos como medicamento isolado variam de 15 a 40 μg/mℓ. Efeitos colaterais. Os principais efeitos colaterais produzidos pelo fenobarbital são sedação, hiperatividade paradoxal, poliúria, polidipsia e polifagia; raramente ocorre anemia. Alteração hepática, particularmente se as concentrações plasmáticas estiverem próximas do nível terapêutico máximo, pode ser uma sequela potencialmente letal do tratamento a longo prazo. O aumento das transaminases séricas e da fosfatase alcalina, por si só, não indica dano hepático ou alteração da função hepática, mas pode refletir simplesmente a indução enzimática ocasionada pelo fenobarbital. As provas de função hepática são mais adequadas para refletir o efeito clínico do dano hepático causado pelos agentes anticonvulsivantes. A hepatotoxicidade melhora com a retirada ou a diminuição do medicamento antes da produção de lesões irreversíveis (p. ex., fibrose). Primidona O mecanismo de ação da primidona é similar ao do fenobarbital, uma vez que, após sua biotransformação, o metabólito mais potente é o próprio fenobarbital. A primidona é rápida e quase completamente absorvida após a administração oral. A concentração máxima ocorre geralmente 3 h após a ingestão. A meiavida plasmática varia, em média, de 5 a 15 h. Este medicamento sofre biotransformação no fígado, formando dois metabólitos ativos: fenobarbital e feniletilmalonamida (FEMA). Aproximadamente 40% do medicamento são excretados sem alterações, enquanto o restante se transforma em FEMA não conjugada e, em menor proporção, fenobarbital e seus metabólitos. Indicação. Convulsões generalizadas e focais. Atualmente, evitase o uso desse medicamento, uma vez que não tem nenhuma vantagem quando comparado ao uso do fenobarbital e também pelo alto risco de os pacientes apresentarem efeitos colaterais, principalmente hepatotoxicidade. Dose. Em cães, a dose recomendada é de 35 a 70 mg/kg/dia, divididos em 2 vezes. Não se recomenda a primidona para utilização em gatos, por ser muito tóxica nesta espécie. Uma vez que 85% de primidona são biotransformados em fenobarbital, monitorase este metabólito. Efeitos colaterais. Frequentemente maiores do que aqueles com o fenobarbital: sedação, hiperatividade paradoxal, polidipsia, poliúria e polifagia. A atividade enzimática hepática está mais aumentada com a primidona do que com o fenobarbital, estando a primidona associada a uma frequência alta de hepatotoxicidade. Fenitoína A fenitoína, antigamente denominada difenilhidantoína, tem efeito estabilizador em membranas excitáveis de várias células, incluindo neurônios e células musculares cardíacas. Pode diminuir o influxo de sódio durante o repouso, bem como o influxo de sódio que ocorre durante o potencial de ação ou de polarização por substâncias químicas. Reduz o potencial póstetânico e limita o espraiamento da atividade das convulsões, e se a convulsão ocorrer, não será grave. Após ingestão oral, a fenitoína é absorvida lentamente, distribuindose por todos os tecidos. Aproximadamente 90% da substância ligamse às proteínas plasmáticas, principalmente à albumina. A ligação fracionada dos tecidos, incluindo o cérebro, é quase a mesma do plasma. Menos de 5% do medicamento são eliminados pelos rins sem alteração e o restante é biotransformado, principalmente pelo sistema reticuloendoplasmático do fígado, cujo principal metabólito, o parahidroxifenílico, é inativo. A meiavida deste medicamento é de 4 h no cão e de 24 a 108 h no gato. Indicação. Convulsões generalizadas e focais; raramente utilizada em cães e não recomendada em gatos. Cães que apresentam efeitos colaterais causados pelos outros medicamentos ou refratários aos mesmos ou, ainda, cães de trabalho ou utilizados em espetáculos, nos quais a sedação pode ser um efeito colateral indesejado. Não se recomenda a utilização da fenitoína pela via parenteral em cães, como utilizada em seres humanos. Dose. Para cães, recomendamse 20 a 35 mg/kg a cada 6 ou 8 h; o nível sérico efetivo é de 10 a 20 μg/mℓ. Este medicamento não é recomendado para gatos, mas, se utilizado, devemse monitorar as concentrações plasmáticas, evitando intoxicação medicamentosa. Efeitos colaterais. A administração da fenitoína pode causar hepatopatia; raramente verificamse anemia e hiperplasia gengival. Este medicamento esporadicamente apresenta sedação como efeito colateral. Benzodiazepínicos Dentre as várias substâncias deste grupo, as mais utilizadas em animais são o diazepam, o clonazepam e o clorazepato dipotássico. Os demais benzodiazepínicos praticamente não são utilizados e, quando substituem o diazepam, apresentam praticamente os mesmos efeitos. Os benzodiazepínicos aumentam a inibição sináptica mediada pelo GABA. O receptor para benzodiazepínico é uma parte integrante do receptor GABAA (maiores detalhes sobre as ações dos benzodiazepínicos são descritos no Capítulo 14). Diazepam Características. Absorvido por via oral, é rapidamente biotransformado pelo fígado em vários metabólitos predominantemente ativos; o principal metabólito do diazepam, o Ndesmetildiazepam, é um pouco menos ativo que o medicamento original e pode funcionar como agonista parcial. Tanto o diazepam quanto o N desmetildiazepam são lentamente hidroxilados em outros metabólitos ativos como o oxazepam. A meiavida plasmática do diazepam é de 1 a 2 dias, enquanto a do Ndesmetildiazepam é de cerca de 60 h. Menos de 1% do medicamento é eliminado pelos rins de forma inalterada. Após administração por via intravenosa, o diazepam penetra rapidamente no sistema nervoso central (SNC), sendo, por isso, o anticonvulsivante de eleição em caso de emergência. Indicação: Status epilepticus, convulsões generalizadas e focais, convulsões mioclônicas e crises de ausência. Não se utiliza o diazepam como anticonvulsivante único em cães, pois desenvolve tolerância em 1 a 2 semanas. Em gatos mantém a sua eficácia, sendo o segundo medicamento de eleição, depois do fenobarbital. Na espécie humana usase, em crianças, a administração retal com soluções injetáveis para o controle emergencial das crises; esta opção é também razoável para o uso em cães, assim como a via nasal. Dose. A dose recomendada para cães de pequeno porte é de 0,5 a 1,0 mg e de 10 a 50 mg para cães de grande porte; para gatos, a dose utilizada é de 1 a 2 mg cada 8 h. Quando se utiliza a via intravenosa, a dose recomendada é de 0,5 a 1,0 mg/kg para cães e gatos. Efeitos colaterais. Sedação e polifagia. Em gatos, a administração oral pode levar à necrose hepática fulminante aguda. Clonazepam É biotransformado principalmente pela redução do grupamento nitro e produz derivados 7amino inativos. A meiavida plasmática é de 1 dia. Também é recomendado para uso no status epilepticus, convulsões generalizadas e focais, crises de ausência ou convulsões mioclônicas; desenvolve tolerância em cães e pode piorar as convulsões generalizadas tônicas. Este medicamento é mais efetivo quando utilizado em combinação com o fenobarbital. Até o momento, não se têm relatos de sua utilização em gatos. A dose recomendada é de 1,5 mg/kg, dividida em 3 doses, e, quando associadoao fenobarbital, recomendase 0,06 a 0,2 mg/kg, dividido em 3 a 4 doses. No status epilepticus utilizase por via intravenosa, na dose de 0,05 a 0,2 mg/kg. Os níveis séricos efetivos estão entre 0,02 e 0,08 μg/m ℓ . O efeito colateral é a sedação. Clorazepato Após a absorção é descarboxilado rapidamente no estômago e transformado em Ndesmetildiazepam, que é absorvido no intestino delgado. O clorazepato dipotássico é indicado para uso em pacientes com convulsões refratárias a outros medicamentos. A tolerância aos efeitos anticonvulsivos do clorazepato não parece desenvolverse tão rapidamente como com os outros benzodiazepínicos. Por outro lado, a meiavida deste medicamento é tão curta que precisa ser administrado várias vezes ao dia para se ter o efeito desejado. Alguns autores recomendam a administração a cada 3 h, e observouse que há desenvolvimento de dependência física tão grande que, quando retirado abruptamente, os cães podem apresentar convulsões levando até à morte. Quando utilizado em associação com o fenobarbital, tornase mais efetivo. Forrester et al. (1993) recomendam 2 mg/kg 2 vezes/dia em cães, mantendo a mesma concentração terapêutica considerada ótima em seres humanos. A dose recomendada é de 2 a 6 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 doses; quando utilizado com o fenobarbital devese aumentar a dosagem. Também não existem relatos até o momento sobre a utilização em gatos. O principal efeito colateral produzido pelo clorazepato é a sedação; alguns pacientes apresentam ataxia e sedação transitória. A hepatotoxicidade também é um efeito colateral em potencial. Carbamazepina A carbamazepina e a fenitoína têm ação semelhante nos canais de sódio; ambas parecem produzir uma inibição diferencial de descargas de alta frequência no foco epiléptico e em suas adjacências, com pouco efeito na função neuronal normal. Uma outra ação provável está relacionada com descarga dos neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus, contribuindo assim para a ação anticonvulsivante deste medicamento. A carbamazepina é absorvida lenta e irregularmente após administração oral; as concentrações plasmáticas máximas ocorrem geralmente 4 a 8 h após a ingestão oral, mas podem ocorrer até 24 h depois, especialmente após a administração de grandes doses. O medicamento se distribui rapidamente para todos os tecidos, com aproximadamente 75% ligandose às proteínas plasmáticas, e a concentração no liquor parece ser semelhante à concentração livre no plasma. A carbamezepina é biotransformada no fígado, cujo principal metabólito, 10,11 epóxido, é tão ativo quanto o medicamento original. Tanto a carbamazepina quanto este metabólito são biotransformados no fígado e eliminados através dos rins. A meiavida plasmática varia de 10 a 20 h, quando utilizada como medicamento único; quando associada à fenitoína ou ao fenobarbital, a meiavida é reduzida para 9 a 10 h. Indicação. Convulsões generalizadas e focais. Dose. Em cães, recomendamse 4 a 10 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 vezes, podendo ser associada ao fenobarbital. Em gatos a carbamazepina foi utilizada na dose de 25 mg,2 vezes/dia, para o controle de comportamento agressivo. Efeitos colaterais. A administração de carbamazepina pode produzir sedação, nistagmo, vômitos e hepatopatia. Ácido valproico A hipótese atual para o mecanismo de ação do valproato baseiase nas interações possíveis com os canais de sódio voltagemdependentes e em possível acúmulo de GABA (in vitro, observouse que o valproato pode estimular a atividade da glutamatodescarboxilase, e inibir a GABAtransaminase, enzimas responsáveis, respectivamente, pela síntese e degradação do GABA). Características. O ácido valproico é rápida e totalmente absorvido após administração oral. A concentração plasmática máxima surge em 1 a 4 h, mas pode ocorrer após várias horas se o medicamento for administrado em preparações para absorção entérica ou com as refeições. Aproximadamente 90% se ligam às proteínas plasmáticas. A maior parte do medicamento é biotransformada pelo fígado e excretada na urina; apresenta um metabólito potencialmente ativo que é o ácido 2propil2pentenoico. A meiavida do ácido valproico é de aproximadamente 15 h, mas pode ser menor quando em associação com outros agentes anticonvulsivantes. Indicação. Convulsões generalizadas e focais; crise de ausência. Não se recomenda para gatos. Dose. 15 a 200 mg/kg (divididos em 3 ou 4 doses). Pode ser associado ao fenobarbital. Efeitos colaterais. Sedação e hepatopatia. Brometo de potássio O brometo de potássio era utilizado em seres humanos desde o século 19, sendo abandonado por ter vários efeitos colaterais nesta espécie. Em Medicina Veterinária, foi introduzido para uso em cães, sem os efeitos colaterais encontrados no homem. Mostrouse um produto eficaz, diminuindo a frequência das crises convulsivas até o seu controle total. O mecanismo de ação do brometo de potássio não está perfeitamente elucidado; sugerese que esta substância agiria mimetizando a ação dos cloretos nos neurônios, alterando a excitabilidade celular e promovendo hiperpolarização dos neurônios. Este medicamento não promove a indução enzimática e nem interage com nenhum outro medicamento. A meiavida é de aproximadamente 16,5 dias e sua eliminação é de 25 dias, e ocorre quase que exclusivamente através dos rins. Em virtude da meiavida longa deste medicamento, podese utilizálo 1 vez/dia; alguns autores recomendam fracionar a dose em duas a cinco tomadas diárias, em razão do sabor amargo e da hipertonicidade deste medicamento, evitando distúrbios gastrintestinais. A administração é feita na concentração de 220 mg por cada mℓ de água. Devido ao fato de o brometo competir com os cloretos no nível dos túbulos renais, dietas ricas em cloretos promovem a não reabsorção do brometo, diminuindo com isso a sua concentração plasmática, o que exige um reajuste na dose. Indicação. Tem sido utilizado com sucesso em cães que apresentam convulsões generalizadas refratárias a outros medicamentos ou que desenvolveram hepatopatia pelo uso dos mesmos. Alguns autores recomendam como medicamento inicial em cães de grande porte. Em gatos, foi realizado um estudo mostrando que ele pode ser eficaz. Dose. Preconizase a dose de 22 a 40 mg/kg 1 vez/dia ou dividida em duas tomadas, utilizada como medicação única ou associada a outros anticonvulsivantes, como o fenobarbital. Em gatos pode ser utilizado na dose de 30 mg/kg/dia. Os níveis séricos efetivos do brometo de potássio utilizado como medicação única variam de 88 a 300 mg/dℓ, ao passo que associado a outros anticonvulsivantes, os níveis alternamse entre 81 e 240 mg/dℓ. Efeitos colaterais. O brometo de potássio apresenta como efeito colateral mais frequente ataxia locomotora, principalmente com os membros pélvicos, que desaparece com a redução da dose; raramente favorece o desenvolvimento de pancreatite ou, algumas vezes, hiperatividade. Pode desenvolverse quadro de dermatite alérgica em pacientes com histórico de atopia. Em alguns animais o brometo de potássio pode promover aumento nos níveis séricos de potássio, principalmente quando ocasionados por distúrbios renais. Nesses animais devese substituir o potássio por outro cátion, o sódio; como este é mais difícil de se solubilizar em água e mais pesado, devese diminuir a sua concentração para até 211 mg de brometo de sódio para cada mℓ de água. Em gatos, 35 a 42% destes animais podem desenvolver pneumonite, caracterizada por tosse e um padrão brônquico observado em radiografias torácicas. Precauções.O brometo de potássio deve ser administrado com o uso de luvas, evitandose o contato com a pele devido à possibilidade de lesões cutâneas. Flunarizina A flunarizina é um bloqueador de canal de cálcio utilizado para a redução do excesso do fluxo de cálcio para dentro dos neurônios, os quais estão associados a um aumento da excitabilidade do neurônio. Até o momento não há nenhuma evidência clínica para a sua indicação como medicamento anticonvulsivante em animais, embora nossa experiência clínica tenha mostrado ser útil como medicamento suplementar, na dose de 1,25 a 10 mg/animal, 2 vezes/dia, em cães ou gatos apresentando crises convulsivas isoladas e pouco frequentes. Gabapentina É um aminoácido sintético muito semelhante ao GABA, mas, ao contrário do próprio GABA, ultrapassa a barreira cerebral rapidamente. Esta substância química tem o seu espectro de ação similar ao da carbamazepina e ao da fenitoína; possui características farmacocinéticas que favorecem seu uso, como o fato de não ser biotransformada em seres humanos, ser bem tolerada e ter pouca interação com outros anticonvulsivantes. Em cães, a gabapentina sofre biotransformação hepática parcial, sendo 30% transformadas em Nmetil gabapentina, mas não ocorre indução apreciável de enzimas microssomais hepáticas. A absorção intestinal depende do sistema transportador de aminoácidos, mostrando propriedade de saturabilidade, o que indica que o aumento da dose não aumenta a quantidade absorvida. Em cães, a meiavida é de cerca de 2 a 4 h, requerendo administração frequente para alcançar o nível sérico ideal. Indicação e dose. Recomendase a utilização de terapia complementar na dose de 10 a 20 mg/kg 3 vezes/dia. Em gatos, foi utilizada na dose de 5 a 10 mg/kg 2 vezes/dia, mas não há informações da sua eficácia e segurança quando do uso crônico nessa espécie. Efeitos colaterais. Sedação é o efeito colateral primário da gabapentina. Felbamato É um anticonvulsivante utilizado em pacientes epilépticos humanos como medicação única ou em associação com outros medicamentos antiepilépticos. Age como antagonista direto nos receptores do neurotransmissor excitatório, glutamato. No Brasil o felbamato não é comercializado e no exterior é encontrado como Felbatol™, em apresentação de solução oral (600 mg/mℓ) e em comprimidos de 400 e 600 mg. Indicação e dose. Em cães, é utilizado para controle de crises parciais; a vida média do felbamato está em torno de 5 a 8 h e a dose oral recomendada é de 15 a 60 mg/kg, 3 vezes/dia. É um fármaco pouco utilizado em Medicina Veterinária devido aos seus efeitos colaterais, à interação com outras substâncias e ao alto custo. Quando associado ao fenobarbital, devemse monitorar os níveis séricos deste último, uma vez que há interação destes medicamentos. Efeitos colaterais. Os efeitos colaterais mais importantes são discrasias sanguíneas e hapatopatias. Recomendase a realização de hemograma completo e avaliação das enzimas hepáticas séricas a cada 2 ou 3 meses, quando da utilização desse medicamento. Topiramato É um monossacarídio derivado da Dfrutose que apresenta uma substituição com sulfamato, utilizado em seres humanos adultos que apresentam crises parciais. Age em canais de sódio voltagemdependentes, bloqueando disparos repetitivos, de maneira similar à fenitoína. Além disso, o topiramato ativa a corrente de potássio hiperpolarizada e também limita a ativação de receptores de glutamato do subtipo AMPA/cainato. Também causa fraca inibição sobre a anidrase carbônica. É rapidamente absorvido após administração oral, sendo excretado inalterado, sobretudo na urina. Sua meiavida no homem é de cerca de 24 h. Em cães a meiavida do topiramato é curta. Indicação e dose. Recomendase a dose de 5 a 10 mg/kg, 2 vezes/dia, como medicação adicional no controle de crises parciais e generalizadas. Em nossa experiência clínica utilizamos como medicação suplementar, na dose de 2 a 10 mg/kg, 2 vezes/dia. Efeitos colaterais. Transtornos gastrintestinais e irritabilidade são os efeitos colaterais primários. Levetiracetam É uma pirrolidina, o 5 enantiômero racemicamente puro do αetil2oxo1pirrolidinacetamida; no Brasil é comercializado com o nome de Keppra® sob a forma de comprimido revestido nas concentrações de 250 mg e 750 mg e de solução oral na concentração de 100 mg/m ℓ . Apresenta estrutura química semelhante à do piracetam (nootrópico, isto é, substância química que melhora o desempenho cognitivo), porém com ações farmacológicas diferentes, inibindo as convulsões parciais e tônicoclônicas secundárias. O mecanismo de ação do levetiracetam é desconhecido. Um local de ligação seletivo foi identificado em uma proteína vesicular sináptica (SVA2), regulando a transmissão sináptica mediada pelo cálcio. Esse medicamento possui absorção completa e rápida após administração oral, com um mínimo de ligação às proteínas plasmáticas; não apresenta biotransformação hepática e no cão 89% são eliminados de maneira inalterada pela urina. Indicação e dose. Utilizase o levetiracetam como tratamento suplementar em cães com epilepsia refratária ao fenobarbital, brometo de potássio ou ambos. A dose recomendada é de 20 mg/kg, por via oral, 3 vezes/dia, podendo ser aumentada de 20 em 20 mg/kg até alcançar a eficácia. Esse medicamento também pode ser administrado por via parenteral na dose de 20 mg/kg, alcançando concentração sérica desejável em um período curto quando utilizada a via intravenosa e de 40 min quando da utilização pela via intramuscular. Efeitos colaterais. São descritos andar cambaleante, sialorreia, redução do apetite, vômitos e sedação. Zonisamida A zonisamida (1,2benzisoxazol3metanossulfonamida) é um derivado da sulfonamida, originalmente desenvolvido para ser um antibacteriano e que, casualmente, demonstrou possuir propriedades antiepilépticas. Não é comercializado no Brasil (no exterior é encontrado como Zonegran™, em comprimidos de 25, 50 e 100 mg). O mecanismo de ação mais provável parece ser a inibição de canais de cálcio tipo T. Também causa a deflagração repetida e mantida dos neurônios da medula espinal provavelmente pelo prolongamento do estado de inativação dos canais de sódio voltagemdependentes (semelhante à fenitoína e à carbamazepina). Após a administração oral, ocorre absorção quase que inteiramente da zonisamida. No ser humano tem meiavida longa, cerca de 63 h, e apresenta 40% de ligação com as proteínas plasmáticas. Em cães, sua meia vida de eliminação é de 15 a 20 h. A zonisamida é predominantemente biotransformada pelo fígado e, quando administrada junto com o fenobarbital, há um aumento do clearance desse medicamento em aproximadamente 50% com redução da sua meiavida. O tratamento com a zonisamida pode afetar a função tireoidiana, diminuindo os níveis séricos de tiroxina (T4) total; no entanto, os níveis de T4 livre e TSH (hormônio tireoestimulante) permanecem dentro dos valores de referência. A zonisamida é também um inibidor fraco da anidrase carbônica; portanto, devese evitar sua utilização concomitante com outros inibidores dessa enzima. Indicação e dose. Utilizase a zonisamida para controle de crises parciais e generalizadas como monoterapia na dose de 5 mg/kg, 2 vezes/dia, ou como medicação adicional, na dose de 4 a 10 mg/kg, 2 vezes/dia, em cães. Efeitos colaterais. São sedação, ataxia, anorexia e inapetência; a ataxia e a sedação podem ser transitórias. Deve ser utilizada com precaução em pacientes hepatopatas e nefropatas, existindo relatos de hepatopatia tóxica em cães. Pregabalina A pregabalinafoi sintetizada visando superar a gabapentina, em termos de potência. Esperavase que este medicamento pudesse oferecer melhores resultados do que a antecessora, mas observouse que controla apenas crises parciais e tem sido utilizada também como antidepressivo e nas crises de neuralgia. No Brasil é comercializada com o nome de Lyrica® em cápsulas contendo 75 mg ou 150 mg de pregabalina. Indicação e dose. É empregada medicação adicional no controle de crises convulsivas e também para o tratamento de dor neuropática, à semelhança da gabapentina. A dose utilizada em um trabalho envolvendo seis cães foi de 2 a 4 mg/kg, 3 vezes/dia, associada ao fenobarbital, brometo de potássio ou ambos, reduzindo a média de crises na maioria dos animais. Efeitos colaterais. Foram observadas sedação e ataxia. Imepitoína A imepitoína foi inicialmente desenvolvida para o tratamento de ansiedade e epilepsia no homem. Devido à variabilidade farmacocinética individual, a qual foi relacionada à indução enzimática metabólica causada pelo tabagismo, foi suspensa e desenvolvida apenas para uso em cães, com base em trabalhos préclínicos realizados nessa espécie. Foi então aprovada como anticonvulsivante para cães em 2013 na Europa, em 2015 na Austrália e, atualmente, nos EUA. É comercializada no exterior com o nome de Pexion®, em comprimidos de 100 e 400 mg. A imepitoína atua como agonista parcial em receptores GABAA, embora sua estrutura química difira dos benzodiazepínicos. Nenhuma alteração significativa na atividade das enzimas hepáticas foi observada com o uso da imepitoína em cães; o tratamento crônico não leva ao desenvolvimento de dependência ou tolerância; portanto, a suspensão abrupta do tratamento não resulta em efeitos graves, como convulsões e status epilepticus. Indicação e dose. Recomendase como medicação suplementar na dose de 10 a 15 mg/kg, 2 vezes/dia. Efeitos colaterais. São discretos e incluem sonolência, sedação, polifagia transitória, poliúria, polidipsia e hiperatividade. Esses efeitos são menos intensos quando comparados com aqueles do fenobarbital. Oxcarbazepina A oxcarbazepina apresenta o mesmo modo de ação da carbamazepina, sem ser biotransformada em epóxido. Na espécie humana e nos gatos é rápida e quase totalmente biotransformada em 10,11dihidro10 hidroxicarbamazepina, que tem as mesmas propriedades do medicamento original. Ao contrário da carbamazepina, este medicamento não promove indução enzimática. Em cães, a transformação neste metabólito é mínima, embora a meiavida seja de apenas 4 h. Progabide Agente que mimetiza o GABA, é empregado com sucesso como terapia auxiliar em alguns cães com convulsões refratárias a outros medicamentos. Em um estudo em cães, foi utilizado e suspenso após várias semanas de tratamento, pelo aparecimento de lesões hepáticas graves. Não é comercializado no Brasil, porém é encontrado no exterior com o nome Gabrene™. Vigabatrina A vigabatrina (gamavinilGABA) é um bloqueador irreversível da GABAtransaminase, cuja ação persiste por muito tempo mesmo após a biotransformação, aumentando, assim, a concentração de GABA no cérebro. Não é biotransformada no fígado, portanto, não promove indução do sistema enzimático do citocromo P450. Os efeitos anticonvulsivantes da vigabatrina em seres humanos têm sido constatados e são bem tolerados; contudo, ratos, camundongos e cães intoxicados após exposição prolongada mostraram aparecimento de microvacúolos na substância branca do cérebro, em doses variando de 50 a 100 mg/kg/dia. Em um estudo realizado em 14 cães apresentando epilepsia refratária a outros medicamentos, houve melhora clínica em 4 animais; 2 cães apresentaram anemia hemolítica, com melhora após a suspensão deste medicamento. Cães com hepatopatia devido ao uso crônico do fenobarbital apresentaram melhora quanto à função hepática após a mudança para a vigabatrina. Lamotrigina A lamotrigina age provavelmente em canais de sódio sensíveis à diferença de potencial, estabilizando as membranas neuronais e inibindo a liberação de neurotransmissores, principalmente o glutamato, que é considerado um dos principais responsáveis pela geração das crises epilépticas. Em seres humanos, a meia vida deste medicamento é de 15 a 35 h; combinada com o ácido valproico, pode ultrapassar 50 h. Nenhum metabólito ativo foi encontrado na espécie humana. Em cães, a meiavida da lamotrigina varia de 2 a 5 h, e após biotransformação surge na circulação um metabólito cardioativo, o Nlamotrigina, que causa prolongamento dosedependente da condução atrioventricular. Tiagabine É um derivado do ácido nipecótico; não é comercializado no Brasil, porém no exterior é encontrado com Gabitril™, em comprimidos de 2 e 4 mg. O tiagabine inibe o transportador do GABA, o GAT1, reduzindo assim a captação deste neurotransmissor pelos neurônios da glia. É rapidamente absorvido após a administração oral, ligandose intensamente às proteínas plasmáticas; é biotransformado pela CYP 3A. Sua meiavida é de 8 h, mas é reduzida para 2 a 3 h quando administrado junto com indutores de enzimas hepáticas, como o fenobarbital, a fenitoína ou a carbamazepina. Pode causar vertigem, sonolência e tremores em seres humanos, enquanto em cães causa ataxia, sonolência e alteração visual. Até o momento este medicamento parece não ser útil para a utilização em cães epilépticos. OUTROS ANTICONVULSIVANTES Vários anticonvulsivantes estão sendo testados e lançados no mercado para o controle de crises parciais ou generalizadas em seres humanos, podendo ser uma alternativa futura no controle de crises convulsivas em cães ou gatos. Dentre eles, destacamse fosfenitoína, talampanel, carisbamato, soretolida, brivaracetam, seletracetam e estiripentol. No entanto, nenhuma dessas substâncias foi testada até o momento em cães ou gatos. Tanto o brivaracetam quanto o seletracetam são derivados do levetiracetam, possuindo afinidade de ligação com as proteínas das vesículas sinápticas SVA2. São dez vezes mais potentes que o levetiracetam; portanto, são uma opção no futuro para o tratamento de cães epilépticos refratários a outros anticonvulsivantes tradicionais. Em particular, o brivaracetam foi aprovado recentemente nos EUA, sendo comercializado com o nome Briviact™, em comprimidos, solução oral e solução injetável. A dose preconizada para seres humanos é de 50 a 100 mg, 2 vezes/dia. Os efeitos colaterais relatados foram sonolência, sedação, tontura, fadiga, náuseas e vômitos. A seguir são relacionados alguns medicamentos lançados recentemente no mercado para uso em seres humanos; o uso destes em animais neste momento é desaconselhado, pois não há estudos em cães e gatos. Retigabina ou ezogabine É um medicamento antiepiléptico, com um novo mecanismo de ação que envolve a abertura de canais de potássio voltagemdependentes dos neurônios, estabilizando o potencial de membrana e controlando a excitabilidade neuronal. Recomendase para uso em seres humanos como medicamento adicional no controle de crises parciais. A dose de retigabina recomendada para seres humanos é de 100 mg até 400 mg, 3 vezes/dia, por via oral. Nos EUA recebe o nome comercial Potiga™ e na Europa de Trobalt™, sendo formulado em comprimidos de 100, 200, 300 e 400 mg. Rufinamida Seu nome químico é 1,2,3triazolcarboxamida; foi desenvolvida para controle de convulsões associadas com a síndrome de LennoxGastaut em crianças com 4 anos ou mais. Trabalhos recentes mostram que a rufinamida é eficaz também no controle de crises parciais.Seu mecanismo de ação é desconhecido, embora haja evidência de sua ação na modulação de canais de sódio voltagemdependentes. A dose de rufinamida recomendada para seres humanos varia de 50 a 400 mg 2 vezes/dia, podendo ser aumentada até 3.200 mg/dia. Nos EUA é comercializada com o nome de Banzel™ e na Europa como Inovelon™, em apresentação de comprimidos com 100, 200 e 400 mg e solução oral na concentração de 40 mg/mℓ (frasco com 460 mℓ). Lacosamida Foi aprovada nos EUA e na Europa para controle de crises parciais e dor neuropática diabética. É comercializada no Brasil com o nome de Vimpat®, em comprimidos de 50, 100, 150 e 200 mg. Estiripentol Foi desenvolvido para o controle de crises convulsivas em crianças apresentando síndrome de Dravet e epilepsia refratária da infância; parece ser menos efetivo em adolescentes e adultos. Seu mecanismo de ação envolve receptores GABAérgicos, semelhante ao fenobarbital. A dose inicial preconizada para seres humanos é de 50 mg/kg/dia dividida em duas ou três tomadas, associadas a outros anticonvulsivantes. O estiripentol é comercializado com o nome Diacomit®, na apresentação de cápsulas gelatinosas de 250 e 500 mg. FRACASSO NA TERAPIA ANTICONVULSIVANTE Vários são os fatores que contribuem para o fracasso no uso de medicamentos anticonvulsivantes. Em primeiro lugar, devese verificar o tipo de convulsão para a escolha do medicamento adequado. A seguir, observamse a eficiência da posologia e os níveis séricos do medicamento no paciente avaliado. Muitas vezes ocorre a utilização de doses subclínicas, que, além de não controlarem as crises, podem, ao contrário, favorecer as convulsões. O fenobarbital, por exemplo, em doses baixas, inibe sistemas inibitórios, aumentando, com isso, o número de crises convulsivas e contribuindo para o descrédito deste potente medicamento anticonvulsivante junto aos proprietários dos animais. Como doenças progressivas (p. ex., neoplasias, meningoencefalite granulomatosa) e metabólicas (p. ex., hipoglicemia por insulinoma) também contribuem para o fracasso no uso de anticonvulsivantes, os animais tratados, para um controle adequado das crises, devem ser também avaliados quanto à possibilidade de uma afecção progressiva. A associação com outros medicamentos pode alterar a eficácia destes agentes utilizados com a finalidade de coibir as crises convulsivas; o fenobarbital, por exemplo, aumenta a biotransformação da digitoxina, da dipirona, da griseofulvina e da fenilbutazona, ao passo que o cloranfenicol pode aumentar as concentrações da fenitoína e do fenobarbital, produzindo intoxicação por estes medicamentos. O uso de várias substâncias químicas ao mesmo tempo pode alterar a absorção ou mesmo promover competição na ligação às proteínas plasmáticas, alterando os efeitos terapêuticos dessas substâncias. Tolerância medicamentosa pode ocorrer principalmente se for utilizado o fenobarbital ou a primidona, que são potentes indutores enzimáticos, aumentando com isso a sua biotransformação hepática. O estro pode aumentar a frequência das crises convulsivas em algumas cadelas; nestes casos a ovariossalpingohisterectomia seria recomendada, visando à solução desse problema. Doenças sistêmicas com vômitos e/ou diarreia alteram a absorção dos medicamentos, diminuindo sua concentração plasmática; doenças hepáticas alteram a biotransformação da maioria deles, aumentando os riscos de intoxicação medicamentosa. Anfetaminas, tranquilizantes fenotiazínicos e organofosforados podem estimular crises convulsivas em cães e gatos epilépticos; portanto, estes medicamentos não devem ser administrados concomitantemente com os anticonvulsivantes.A ivermectina, administrada mensalmente para a prevenção da dirofilariose canina, pode exacerbar as crises em alguns cães. É possível também que cães epilépticos com controle adequado das crises pelo uso de anticonvulsivantes apresentem uma outra afecção neurológica caracterizada por convulsões. De fato, hipoglicemia, encefalite, neoplasia, por exemplo, podem contribuir para o descontrole das crises, sendo necessária uma reavaliação clínica do paciente, a qual evidenciará um novo processo mórbido. A obesidade é outro fator a ser considerado no tratamento com anticonvulsivantes; a maioria dos medicamentos promove polifagia nos animais, aumentando gradativamente o peso, promovendo com isso a diminuição da concentração plasmática e nos tecidos destes agentes. Os cães com obesidade induzida por estes medicamentos necessitam de controle alimentar ou monitoramento dos níveis séricos dos anticonvulsivantes. BIBLIOGRAFIA Andrade Neto, J.P. Anticonvulsivantes In: Andrade S.F. Manual de terapêutica veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca; 2002, p. 391394. Benedetti, M.S.; Coupez, R.; Whomsley, R.; Nicolas, J.M.; Collart P.; Baltes E. Comparative pharmacokinetics and metabolism of levetiracetam, a new antiepileptic agent, in mouse, rat, rabbit, and dog. Xenobiotica. v. 34, n. 3, p. 281 300, 2004. Bennett B, Matagne A, Michel P, Leonard M, Cornet M, Meeus MA. Part 2: progress in current AED development: the drugs seletracetam (UCB 44212). Neurotherapeutics. v. 4, n. 1, p. 117122, 2007. Berendt, M.; Gram, L. Epilepsy and seizure classification in 63 dogs: a reappraisal of veterinary epilepsy terminology. J Vet
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