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Tema 10 - Direito do Trabalho

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Danos e Assédios em Direito do 
Trabalho
Karla Regina Quintiliano Santos Ribeiro
Introdução
Os estudos deste tema referem-se às Normas Especiais de Tutela do Trabalho. Numa relação de trabalho, muitas
vezes, o empregado está em condições diferenciadas quando precisa manter o seu posto de emprego, visando
continuar recebendo a remuneração. Sendo assim, em muitos casos, o salário pode ser a única fonte de
sobrevivência para o trabalhador e sua família, e por consequência evidente, verifica-se que o empregado não
está em situação equivalente ao seu empregador que é quem tem o direito de manter ou não esse empregado em
sua função. Dessa forma, algumas situações constrangedoras e abusivas podem ser admitidas pelo empregado
por não poder rescindir seu contrato, por não ter como subsidiar a si mesmo ou a sua família além do pagamento
salarial.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• Conceituar dano moral, material, estético.
• Identificar as hipóteses em que será possível a cumulação de pedidos de danos morais, materiais e 
estéticos.
• Identificar as ocorrências e implicações práticas do assédio moral interpessoal e institucional.
• Reconhecer as hipóteses de ocorrência de assédio sexual.
Dano moral
O dano moral refere-se a um prejuízo que a pessoa sofreu no seu íntimo, ou seja, na sua reputação como pessoa
social, em sua fama e sua dignidade. Verifica-se que esse tipo de dano pode ser subjetivo, pois depende de como
o indivíduo se sente no seu foro íntimo. Esse dano pode ser caracterizado por atos psicológicos que uma pessoa é
exposta, seja pelos seus colegas de trabalho ou ainda pelo seu empregador.
Dito isso, verifica-se que o dano moral está intrinsecamente ligado à dignidade da pessoa. No âmbito do trabalho,
esse tipo de dano também pode ocorrer porque a relação de trabalho estabelece um vínculo entre as partes em
que o empregado está subordinado ao empregador.
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Figura 1 - O empregador e o empregado não estão no mesmo patamar de igualdade
Fonte: Ollyy, Shutterstock, 2018
Sendo assim, o empregado, na relação de trabalho, está em situação de subordinação, abrindo margem para o
constrangimento.
A Lei 13.467/2017 inseriu na CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas – um capítulo inteiro sobre dano moral, o
qual o legislador chamou de Dano Extrapatrimonial. Neste contexto, o artigo no artigo 233-B estabelece: “causa
dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencial da pessoa física
ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas do direito à reparação”.
Sendo assim, o presente artigo estabelece que serão responsabilizados todos que diretamente ou indiretamente
contribuírem para que o dano seja causado. Lembrando que o dano refere-se à violação do direito de
personalidade, conforme Rezende (2016), sendo esses os direitos subjetivos que são compostos pelas suas
integridades física, intelectual e moral.
EXEMPLO
Como dano moral no ambiente de trabalho, por exemplo, temos o empregador que estipula a
meta de vendas, e caso o trabalhador não atinja tais metas tem como castigo a obrigação de
usar roupas extravagantes, em horário de trabalho. Perceba que, neste caso, em tela, o
empregador está colocando o empregado em uma situação constrangedora, que pode causar
danos psicológicos.
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Sendo assim, verifica-se que o dano moral é concretizado quando ocorre um prejuízo de âmbito íntimo, que
ofende a dignidade da pessoa humana.
Assédio moral interpessoal e Assédio moral 
institucional
Existem dois tipos de assédio moral: assédio moral interpessoal e o assédio moral institucional. Sendo assim, nos
casos de assédio moral interpessoal verifica-se que o objetivo de lesar ou ainda de causar o dano, está
direcionado à pessoa individualmente, ou seja, as ações serão conduzidas para um empregado em questão. E
assim, na visão de Calvo (2014, p.1):
o assédio moral pode ser estudado de forma subjetivista (assédio moral interpessoal) ou objetivista
(assédio moral institucional). No assédio moral interpessoal há sempre envolvidas pelo menos duas
partes, ou seja, o agressor (assediador) e a vítima (assediado). Os assediadores podem ser múltiplos
(por exemplo: equipe contra o chefe) ou os assediados podem ser múltiplos (por exemplo: o chefe
contra a equipe toda). Esse último tipo de assédio de grupos é conhecido nos EUA como gang
bullying. Qual seria a primeira diferença entre o assédio moral interpessoal e o institucional? Em
primeiro lugar, pode-se apontar como critério diferenciador o autor do ato de assédio moral. No
assédio moral interpessoal, como o próprio nome já explica, o agressor é uma pessoa natural –
indivíduo ou grupo. No assédio moral institucional, o agressor é a própria pessoa jurídica que, por
meio de seus administradores, utiliza-se de uma política de gestão desumana para aumentar os seus
lucros criando uma verdadeira cultura institucionalizada de humilhação.
Todavia, nos casos de assédio moral institucional os danos são gerados pelos métodos de gestões, pelas práticas
institucionalizadas, e qualquer pessoa pode sofrer esse dano ou ser lesado.
FIQUE ATENTO
Outra modificação trazida pelo legislador refere-se à limitação das indenizações sendo que, o
artigo 223-G da CLT, § 1º, estabelece:
“Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará a indenização a ser paga, a cada um dos
ofendidos, em um dos seguintes parâmetros, vedada a acumulação:
I - ofensa de natureza leve, até três vezes o último salário contratual do ofendido;
II - ofensa de natureza média, até cinco vezes o último salário contratual do ofendido;
III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do ofendido;
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário contratual do ofendido.
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Conforme Rezende (2016, p. 428) o dano moral “é a violação de interesses juridicamente tutelados (direitos da
personalidade) sem conteúdo pecuniário”. Sendo assim, as violações materiais ou imateriais que o empregado
sofre devem ser indenizadas.
Dano material, dano estético e cumulação
No exercício do trabalho podem ocorrer acidentes que ocorrem em decorrência do exercício da atividade
laboral. Dessa forma, um mesmo ato acidentário pode gerar diversos danos a um mesmo empregado, sendo
esses de ordem material, estético e moral.
Conforme Rezende (2016) as indenizações podem ser derivadas de um acidente de trabalho e, por consequência,
pode ocorrer dano material, dano moral e dano estético, logo, verifica-se que de uma mesma ação (acidente de
trabalho) pode acumular três indenizações, em três âmbitos diferentes.
Sendo que o dano material refere-se na perda material do empregado, que pode ser caracterizado pelas despesas
de hospital que o empregado teve em decorrência do acidente de trabalho. O empregado também será
indenizado quando o acidente de trabalho gerar perda (total ou parcial) das suas condições de trabalho.
FIQUE ATENTO
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) estabeleceu que o dano moral é presumido em caso de
trabalho degradante, ou seja, que o empregado não precisa fazer prova de dano moral se o seu
emprego for degradante, visto que viola a Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso X
(Processo RR-115400-91.2009.5.08.0101), conforme do próprio TST.
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Figura 2 - Um empregado pode ter várias lesões devido a um único acidente
Fonte: Shutterstock, 2018
Lembra-se, ainda, que um acidente de trabalho também pode gerar um dano moral ao empregado, visto que
pode traumatizá-lo com tal ocorrência, e, por consequência, o empregador também deve indenizá-lo. Por fim,
pode ainda, o empregado que sofrer algum tipo de acidente de trabalho e ficar com lesão estética, ou seja,
comprometer a harmonia da anatomia do indivíduo, como, por exemplo, queimar a pele do rosto. Nesses casos, o
empregado deverá ser indenizado também por dano estético.
Dito isso, é importante analisarque no caso concreto um empregado pode receber, pelo mesmo acidente, ou pela
mesma situação, vários tipos de indenizações, logo, verifica-se que os danos são cumulativos. Sendo assim,
verifica-se que os danos (morais, estético e materiais) podem ser pedidos de forma cumulativa, deste que
derivem de um mesmo ato acidentário. Na visão de Rezende (2016, p. 429):
ocorrendo acidente de trabalho (ou o desenvolvimento de doença ocupacional), muitas vezes as
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ocorrendo acidente de trabalho (ou o desenvolvimento de doença ocupacional), muitas vezes as
lesões daí decorrentes deixam sequelas não só físicas, mas também emocionais nos trabalhadores.
Todas estas lesões ensejam responsabilização civil (indenização). As lesões acidentárias podem
provocar danos diversos ao trabalhador, sendo que todas estas lesões são indenizáveis, ainda que
decorrentes do mesmo fato. Desse modo, se um mesmo fato provocou dano material, dano moral e
dano estético, o empregado fará jus a três indenizações, uma para cada dano provocado.
Exemplificando: o empregado que em um acidente dentro da empresa, quebra sua perna. Poderá solicitar
indenização por:
• danos materiais: quando o empregado vai até o hospital, gera custos que devem ser pagos e, por consequência,
esses custos com o tratamento são os danos materiais.
• danos morais: o empregado tem sentimentos, que são modificados com o acontecido, por exemplo, gera uma
tristeza que ocasiona em uma depressão, essa depressão pelo acontecido pode ser considerada danos morais.
• dano estético: a perna quando fica esteticamente diferente, pode ser considerado um dano estético.
Assédio sexual
O assédio sexual pode ser entendido como o ato realizado por um indivíduo que esteja em posição hierárquica
superior e se aproveita dessa posição para solicitar favores sexuais do indivíduo que está em posição de
subalterno. Sendo caracterizado pelo Código Penal no artigo 216-A: “constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
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Figura 3 - Assédio sexual refere-se na tentativa de obter favores de âmbito sexual
Fonte: Vladimir Gjorgiev, Shutterstock, 2018
Para que sejam caracterizadas como assédio sexual, as ações cometidas pelo indivíduo devem ter intenção de
âmbito sexual. Apesar de, normalmente, o assédio sexual ser realizado por agentes hierarquicamente superiores,
o assédio desse tipo também ocorre entre pessoas do mesmo nível hierárquico, todavia não terá direito de
indenização no âmbito do direito do trabalho.
Discriminação
Discriminação pode ser entendida como distinção, o que a Constituição Federal de 1988,artigo 7º, inciso XXX,
estabelece que é proibido qualquer tipo de diferença no âmbito do trabalho, seja de salário, critério de admissão,
ou ainda, no exercício de funções. Sendo assim, deve-se ter igualdade no tratamento de todos os servidores.
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Os trabalhadores que tiverem a mesma função, com o mesmo tempo de trabalho devem ter seu salário igual.
Sendo proibida a discriminação de raça ou cor, pelo estado civil, ou ainda por deficiência. Observa-se que ainda
que, a discriminação referente à orientação sexual, também é proibida, porém, no Brasil, ainda não existe uma lei
específica que regule esse assunto, apenas, por enquanto, um projeto de Lei 7.702/2017.
SAIBA MAIS
O Artigo 5º da CLT estabelece que “a todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual,
sem distinção de sexo”. Em contrapartida o artigo 461 da mesma lei estabelece: “sendo
idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma
localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade”.
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Figura 4 - Nenhum tipo de diferença pode ocorrer no âmbito do trabalho
Fonte: Gunnar Pippel, Shutterstock, 2018
Percebe-se que nenhum tipo de discriminação pode ocorrer no ambiente de trabalho, sendo que pode ser
considerado dano moral, os atos contra o indivíduo por discriminação.
Fechamento
Neste tema estudamos os conceitos de dano moral, material, estético. Verificou-se as hipóteses em que será
possível a cumulação de pedidos de danos morais, materiais e estéticos. Diferenciou-se o Assédio Moral
Interpessoal e o Assédio Moral Institucional, e, por fim, analisou-se o que define o assédio sexual.
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Referências
BRASIL, , DE 1º DE MAIO DE 1943. Site: DECRETO-LEI N.º 5.452 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
 lei/del5452.htm Acesso dia 05/08/2018.
BRASIL, , DE 13 DE JULHO DE 2017. Site: LEI Nº 13.467 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018
/2017/lei/L13467.htm Acesso dia 05/08/2018.
BRASIL, , DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03DECRETO-LEI Nº 2.848
/decreto-lei/Del2848compilado.htm
Acesso dia 05/08/2018.
NASCIMENTO, A. M.; NASCIMENTO, S. M. : [de acordo com a reformaIniciação ao direito do trabalho
trabalhista]. 41. ed. São Paulo: LTr, 2018.
MARTINS, S. P. . 33. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2017.Direito do trabalho
REZENDE, R. – 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; SãoDireito do trabalho esquematizado
Paulo: MÉTODO, 2016.
	Introdução
	Dano moral
	Assédio moral interpessoal e Assédio moral institucional
	Dano material, dano estético e cumulação
	Assédio sexual
	Discriminação
	Fechamento
	Referências

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