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ART _180_-_RECEPTAÇÃO (1)

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DISCIPLINA: Direito Penal IV 
TURMA: DI5MC 
PROFESSORA: Luciana Correa (email: lucianacsouza.adv@gmail.com) 
 
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 
RECEPTAÇÃO (ART. 180) 
1. Conduta 
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto 
de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. 
Crime de receptação simples é constituído por duas condutas autonomamente puníveis. 
 A primeira – denominada receptação própria – é formada pela aplicação alternativa dos verbos adquirir 
(obter, comprar), receber (aceitar em pagamento ou simplesmente aceitar), transportar (levar de um 
lugar a outro), conduzir (tornar-se condutor, guiar), ocultar (encobrir ou disfarçar), tendo por objeto 
material coisa produto de crime. Nesse caso, tanto faz o autor praticar uma ou mais condutas, pois 
responde por crime único (ex.: aquele que adquire e transporta coisa produto de delito comete uma 
receptação). 
 A segunda – denominada receptação imprópria – é formada pela associação da conduta de influir 
(inspirar ou insuflar) alguém de boa-fé a adquirir (obter ou comprar), receber (aceitar em pagamento ou 
aceitar) ou ocultar (encobrir ou disfarçar) coisa produto de crime. Nessa hipótese, se o sujeito influir para 
que a vítima adquira e oculte a coisa produto de delito, estará cometendo uma única receptação 
ATENÇÃO: a receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que 
proveio a coisa (parágrafo quarto). Entretanto, deve haver prova da ocorrência do crime anterior, ainda que 
não se exija a condenação de qualquer pessoa por ele. Porém, se tiver havido a ABSOLVIÇÃO no CRIME 
ANTERIOR, em razão do reconhecimento da INEXISTÊNCIA DE CRIME, da existência de circunstância 
que exclui o crime ou pelo fato de não constituir infração penal, a receptação não será punível. 
ATENÇÃO: somente a coisa móvel poderá ser objeto material do delito (Posição adotada pelo STF). 
2. Sujeitos do crime 
Crime comum. Pode ser sujeito ativo qualquer pessoa que não houver concorrido para o crime anterior e 
sujeito passivo, a mesma pessoa vítima do delito antecedente. 
3. Elemento subjetivo 
Dolo, aliado ao dolo específico, consistente na intenção de obter vantagem, ainda que para terceira pessoa. 
Se não houver intenção de obtenção de vantagem, mas mera intenção de ajudar aquele que praticou o crime 
anterior poderemos estar diante do crime de favorecimento real (art. 349 do CP). Exige-se, no contexto das 
duas condutas criminosas alternativas (“adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar” e “influir para que 
terceiro a adquira, receba ou oculte”) o dolo direto. 
A forma culposa possui previsão específica no § 3º. 
4. Consumação 
A consumação, na receptação própria, se dá com a efetiva inclusão da coisa na esfera de posse do agente 
(crime material). Já a receptação imprópria é crime formal, bastando que o infrator influencie o terceiro a 
praticar a conduta, pouco importando se este vem a praticá-la ou não. 
5. Receptação qualificada (parágrafo primeiro) – Crime próprio, dolo direto ou eventual. 
A Lei 9.426/96 introduziu a figura típica do § 1.º, tendo por finalidade atingir os comerciantes e industriais 
que, pela facilidade com que atuam no comércio, podem prestar maior auxílio à receptação de bens de 
origem criminosa. 
Para além dos núcleos já analisados no caput (adquirir, receber, transportar, conduzir e ocultar), são 
núcleos do tipo penal: Ter em depósito (colocar algo em lugar seguro), desmontar (arruinar ou desarrumar 
peças de alguma coisa, tornando-a inútil à sua finalidade original), montar (ajuntar peças constituindo 
alguma coisa distinta das partes individualmente consideradas, encaixar ou arrumar algo para funcionar), 
remontar (montar novamente ou consertar), vender (alienar por determinado preço) ou expor à venda 
(colocar em exposição para atrair comprador) e utilizar (fazer uso, empregar de qualquer modo) compõem a 
novidade no tipo qualificado, embora o objeto material seja o mesmo: coisa produto de crime. 
Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou 
clandestino, inclusive o exercício em residência. 
6. Receptação culposa (parágrafo terceiro) – tipo penal fechado, crime comum, material 
Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela 
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso. 
7. Perdão judicial (parágrafo quinto) 
No caso de receptação culposa, caso o réu seja primário, o juiz pode aplicar o perdão judicial do §5º, art. 150, 
deixando de aplicar a pena. 
No caso de receptação dolosa, o juiz pode aplicar o perdão judicial do §2º, art. 155 (furto), se o criminoso é 
primário, e é de pequeno valor a coisa apropriada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, 
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Na jurisprudência: STJ: “Nos termos do 
§ 5.º do art. 180 do Código Penal, é possível a aplicação da figura do furto privilegiado ao crime de 
receptação dolosa, desde que o réu seja primário e o bem receptado de pequeno valor” (HC 203.318-DF, 5.a 
T., j. 20.09.2012, v.u., rel. Jorge Mussi). 
8. Causa de aumento da pena (parágrafo sexto) 
Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de 
serviços públicos ou sociedade de economia mista pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro. 
9. Ação Penal: pública incondicionada 
10. Considerações finais 
Na jurisprudência: STJ: “O fato de o autor do crime antecedente ser isento de pena, por força da escusa 
absolutória prevista no art. 181, II, do Código Penal, não afasta a punibilidade do terceiro que pratica a 
receptação do bem objeto desse delito, segundo disposição expressa do art. 180, § 4.º, do mesmo Estatuto” 
(REsp 1419146/SC, 6.a T., rel. Sebastião Reis Júnior, 19.08.2014, DJe 10.10.2014). Inclusive, será punido o 
receptador se o autor do crime anterior for desconhecido, bastando a sua apuração. 
Escusas absolutórias (Art. 181, 182, 183 CP) 
O art. 181 do CP trata das denominas escusas absolutórias. No âmbito penal, trata-se (art. 181) de uma 
escusa absolutória, condição negativa de punibilidade ou causa pessoal de exclusão da pena. Assim, por 
razões de política criminal, levando em conta motivos de ordem utilitária e baseando-se na circunstância de 
existirem laços familiares ou afetivos entre os envolvidos, o legislador houve por bem afastar a punibilidade 
de determinadas pessoas. 
Art. 181 - E isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste titulo, em prejuízo: 
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; E aqueles que vivem em união estável? 
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legitimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. 
Cuida o artigo apenas dos ascendentes e descendentes em linha reta (pais, mães, avós, filhos, netos, bisnetos 
etc.). Não se incluem, pois, os parentes por afinidade e na linha transversal (sogro, genro, nora, cunhado, 
padrasto, madrasta, enteado, tio, sobrinho, primo etc.). 
O art. 182 do Código Penal prevê as chamadas imunidades relativas ou processuais, as quais têm o papel de 
transformar crimes contra o patrimônio de ação penal publica incondicionada em delitos de ação publica 
condicionada a representação. Por corolário, as imunidades relativas não se aplicam aos crimes patrimoniais 
originariamente de ação penal publica condicionada e nem mesmo aos crimes de ação penal privada. 
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste titulo e cometido em 
prejuízo: 
I - do cônjuge desquitadoou judicialmente separado; 
II - de irmão, legitimo ou ilegítimo; 
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. – de forma duradoura, residência comum. 
Não se aplicam os institutos previstos nos artigos 181 e 182 do Código Penal: 
1) Se o crime patrimonial envolve violência a pessoa ou grave ameaça; 
2) Não se aplicam as imunidades se o crime e praticado contra pessoa de idade igual ou superior a 60 anos. 
3) Não se comunicam as imunidades aos terceiros que participem do delito; 
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: 
I - se o crime e de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência a 
pessoa; 
II - ao estranho que participa do crime. 
III – se o crime e praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. – introduzido pela 
Lei 10.741/2003.

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