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postagem 1 prática de ensino TP

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LICENCIATURA EM MATEMÁTICA 
 
PRÁTICA DE ENSINO: TRAJETÓRIA DA PRÁXIS (PE:TP) 
 POSTAGEM 2 
ATIVIDADE 2 – CARTA AO PROFESSOR ANDRÉ 
 
ERITON CORREIA SARDEMBERG 1738366 
Cachoeiro de Itapemirim 
2019 
null
Muqui, 16 de abril de 2019. 
 
Caro professor André, 
 
Tomei ciência dos fatos que vêm ocorrendo na escola em que você atua, com relação 
aos alunos indisciplinados, em especial o caso que envolve o aluno Carlos e por isso resolvi 
escrever-lhe essa carta para expor algumas considerações e sugestões que talvez possam lhe 
ajudar. 
Li uma vez, um texto de Huberman (2013), o qual afirmava que durante a carreira de 
um professor, ele passa por diferentes ciclos em sua vida profissional. Por isso, com base 
nesse texto, considerando o ciclo de vida profissional no qual você se encontra, o seu tempo 
de experiência, e também as particularidades do caso, é possível inferir que você se encontra 
no ciclo de questionamento da carreira, assim, tem se perguntado se o trabalho desenvolvido 
tem sido satisfatório; se as relações interacionais estabelecidas com todos os atores da escola 
têm sido de qualidade; e também, se pergunta se as atitudes tomadas dentro da escola com 
relação a adolescentes indisciplinados, tem sido corretas. Então, venho por meio dessa carta, 
expor que compartilho da mesma inquietude e tenho pensado em alternativas que talvez 
possam ser viáveis. 
Professor André, há que se ter em mente que o contexto social influencia muito no 
desenvolvimento dos adolescentes, em especial no que concerne ao seu comportamento. 
Analisando o caso do aluno Carlos por exemplo, ele mora em um bairro pobre e violento, e 
seus familiares mais próximos estão na cadeia, então, esse adolescente, justamente em sua 
fase de formação de valores, está passando por muitos conflitos pessoais, em âmbito familiar 
e social, fazendo com que ele tenha a sensação de que ninguém se preocupa de fato com ele, 
que a sociedade é a culpada por suas mazelas e assim, apresenta essa tendência a se rebelar. 
Justifico isso que estou te escrevendo através do estudo de Eliamara Aparecida 
Sarnoski (2014), no qual a autora afirma que a afetividade é um estado psicológico, que se 
configura pelo fato de que as interações pessoais estabelecidas com os demais, se forem 
pautadas no afeto, podem exercer influência no modo como as pessoas se enxergam o mundo 
e se posicionam nele. 
Você deve estar se perguntando onde pretendo chegar com toda essa explicação não é 
mesmo? mas fique calmo. Estou tentando te explicar que esse aluno, Carlos, como tantos 
outros, é proveniente de um contexto social e familiar mal estruturado, nos quais falta afeto, 
logo, a maneira que ele tem encontrado de chamar a atenção, é se rebelando, pois sente que 
ninguém se preocupa com ele de fato, e na escola não tem sido diferente. Quando ele se 
rebela, a escola, os professores, ao invés de buscarem entender os fatores que estão levando 
aquele adolescente aos atos de indisciplina, preferem o segregar, o repreender, o deixando a 
margem no contexto escolar, assim como já vem acontecendo no contexto social; chamam a 
polícia, aplicam suspensão, deixam claro que ele “não tem mais jeito”, e que não pedem sua 
transferência porque ele mora no bairro, então são obrigados a o aguentar. Te proponho uma 
reflexão: como fica o estado psicológico desse adolescente, que segregado na sociedade, 
ainda descobre que na escola, ninguém o que quer por perto? 
Diante de toda essa explicação e sabendo que você também não se conforma com os 
conselhos que recebeu de outros profissionais, te proponho que ao invés de continuar 
compactuando com atitudes que segregam os alunos, como está acontecendo com Carlos, 
você elabore em ponha em prática o “projeto do afeto”, ou seja, crie formas de escutar seus 
alunos, elabore atividades nas quais eles sintam-se livres para expor seus anseios e frustações, 
procure entender seus conflitos externos e internos, busque formas de fazê-los compreender 
que você é mais do que o professor, um amigo que se interessa por eles e quer ajudar. 
Mas minha sugestão não se limita apenas aos alunos, crie atividades também para os 
outros professores e demais funcionários, isso porque, é notável que a maioria dos atores que 
atuam na escola precisam ser conscientizados acerca da importância da afetividade no 
contexto escolar. Para isso, convide profissionais para dar palestras na escola, tais como 
psicopedagogos por exemplo; converse com os outros professores, tente convencer eles a 
participar do projeto que você criar. 
Para a elaboração de um “projeto do afeto”, deixo aqui algumas sugestões: monte 
alguns questionários, com perguntas relacionadas a importância do afeto e ao comportamento 
dos alunos, para que os professores e todos os alunos possam responder, explique do que se 
trata, mas não obrigue ninguém a responder, pois o esperado é que ao longo do tempo todos 
possam ir manifestando interesse pelo projeto; depois que todos os questionários forem 
devolvidos, faça análises sobre eles, identifique os pontos mais relevantes e realize reuniões e 
conversas com as pessoas que achar necessário, se possível chame algum profissional para te 
ajudar; você pode também criar atividades que visem a promover o afeto, para serem 
trabalhadas com os alunos e sugerir que outros professores também as use; em buscas na 
internet você até consegue encontrar alguns modelos que pode usar, tais como a dinâmica do 
iceberg, o diário das emoções e o disco da afetividade (vou deixar um link para você ao final). 
Gostaria de deixar claro aqui que essas sugestões não isentam a escola da 
responsabilidade de notificar os casos de violência, isso é importante e necessário, o que está 
se defendendo é que essas notificações de forma isolada podem causar ainda mais indisciplina 
e tendência a se rebelar por parte dos alunos, mas se a escola e os professores desenvolverem 
ações internas que visem a entender seus alunos, eles podem compreender que existem 
pessoas que se importam com eles e aceitar serem responsabilizados pelos seus atos. Deixo 
claro que não se trata de algo impossível, porém, é um processo que demandará tempo e 
paciência. 
Vou deixar aqui para você, as referências dos textos dos autores que citei nessa carta e 
também o link de um site no qual você pode encontrar sugestões de atividades para criar seu 
projeto: 
- HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (Org.). 
Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 2013; 
- SARNOSKI, Eliamara Aparecida. Afetividade no processo ensino-aprendizagem. Revista de 
Educação do IDEAU, Vol. 9, Nº 20, Jul./Dez., 2014; 
- Oficina de afeto - ouvindo os alunos. Disponível em http://www.oficinadeafeto.com/em-
branco. 
 Me despeço aqui, com a certeza de que a sua inquietude e as considerações e sugestões 
apontadas, vão te impulsionar a criar alternativas para ajudar seus alunos. Também expresso a 
confiança de que você é capaz de mudar a realidade deles e a questão de indisciplina na 
escola, isso porque, a sua inconformidade com os conselhos recebidos demonstra que você 
tem a força de vontade necessária. 
 
Atenciosamente, 
Eriton Correia Sardemberg 
 
 
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