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Natalia Petry Farmacologia do Sistema Nervoso Autônomo O sistema nervoso autônomo é composto de três divisões anatômicas principais: a simpática, a parassimpática e o sistema nervoso entérico. Ele está em grande parte fora da influência do controle voluntário. Os principais processos que ele regula são: Contração e o relaxamento da musculatura lisa de vasos e vísceras; Todas as secreções exócrinas e algumas endócrinas; Batimentos cardíacos Metabolismo energético, particularmente no fígado e nos músculos esqueléticos. A atividade simpática aumenta durante o estresse (resposta de “luta ou fuga”), enquanto a atividade parassimpática predomina durante a saciedade e o repouso. Sob condições normais, ou seja, quando o organismo não está em situações extremas, ambos os sistemas exercem um controle fisiológico continuo sobre órgãos específicos, porém, o conceito popular sobre a existência de um continuum entre o estado extremo de "repouso e digestão" (parassimpático ativo e simpático inativo) e o estado extremo de luta ou fuga de uma situação de emergência (simpático ativo e parassimpático inativo) é uma supersimplificação. O padrão básico (dois neurônios) dos sistemas simpático e parassimpático consiste em um neurônio pré-ganglionar com o corpo celular no sistema nervoso central (SNC) e um neurônio pós-ganglionar com seu corpo celular em um gânglio autônomo. Já o sistema nervoso entérico consiste em neurônios situados nos plexos intramurais do trato gastrintestinal, ele recebe estímulos dos sistemas simpático e parassimpático, mas e capaz de agir isoladamente, controlando as funções motoras e secretórias do intestino. Os principais neurotransmissores do SNA são a acetilcolina (ACh) e a noradrenalina (NA). Os neurônios pré-ganglionares são colinérgicos, e a transmissão nos gânglios ocorre através dos receptores nicotínicos da ACh (embora os receptores muscarínicos da ACh também estejam presentes em células pós-ganglionares). Todas as fibras parassimpáticas pós-ganglionares liberam acetilcolina que age nos receptores muscarínicos, enquanto as fibras simpáticas liberam noradrenalina que poderá agir sobre receptor alfa ou beta adrenérgico. Órgão Simpático Parassimpático Coração Efeito cronotrópico + Efeito inotrópico + (B1; B2) Efeito cronotrópico – Efeito inotrópico – (M2) Órgão sexual masculino Ejaculação (a1) Ereção (M3b -NO) Vasos Vasoconstrição pele (a1) Vasodilatação músculo (B2) Vasodilatação (M3b -NO) Trato gastrintestinal Diminuição tônus e motilidade (a,B) Contração esfíncter (a1) Aumento do tônus e motilidade (m1) Relaxamento esfíncter (m3) Brônquios Broncodilatação (B2) Leve broncoconstrição e aumento da secreção de muco (m3) Olhos Midríase Miose Útero Contração (a1) Relaxamento (B2) Contração musculo liso Sistema Nervoso Autônomo Simpático Receptores É acoplado a uma proteína Gs, a ligação de NTs leva a ativação da PKC (Via DAG/ IP3) Glicogenólise hepática; Vasoconstrição (pele, arteríolas, mucosa); Efeito ionotrópico e cromotrópico positivo; Reduz motilidade e tônus do trato gastrintestinal; Contração do esfíncter; Contração do trígono da bexiga; Contração do músculo radial na íris. Receptores Acoplado á uma proteína G inibitória. Vasoconstrição; Reduz motilidade e tônus no trato gastrintestinal; Reduz a secreção de insulina; Aumenta a agregação plaquetária; Sedação do sistema nervoso central; Controle inibitório da salivação; Reduz a liberação de NA e Ach nos terminais pré-sinápticos. Receptores Está acoplado a uma proteína Gs e atua pela via da PKA (Segundo mensageiro AMPc). Adrenalina tem maior ação por ter um substituinte mais volumoso. Reduz motilidade e tônus do trato gastrintestinal; Efeito cronotrópico e inotrópico positivo no miocárdio; Aumenta velocidade de condução de impulsos elétricos no nodo atrioventricular; Aumenta secreção de renina nas células justaglomerulares; Aumenta liberação de noradrenalina nos terminais pré-sinápticos Receptores Acoplado a proteína Gs e a ligação de neurotransmissores neste receptor leva a ativação da PKA. É responsável pela maioria das respostas metabólicas. Reduz motilidade e tônus do trato gastrintestinal; Relaxamento do músculo detrusor da bexiga; Glicogenólise (Fígado e músculos); Dilatação do músculo liso vascular; Relaxamento dos brônquios e útero; (útil na asma). Receptores Afinidade 10x maior para noradrenalina do que adrenalina, estudos recentes demonstraram que agonistas Aumenta a lipólise. Inativação das catecolaminas A inativação das catecolaminas se da principalmente por dois mecanismos: receptação e degradação enzimática. Catecolaminas são rapidamente recaptadas tendo ½ vida curta, logo, são utilizadas apenas em casos de emergência. Quando chega um potencial de ação no terminal axonal o aumento de cálcio na célula favorece a contração das proteínas e as vesículas com neurotransmissores são liberadas na fenda sináptica. Recaptação A proteína transportadora de noradrenalina (NET) transporta o excesso de NA da fenda para dentro do terminal sináptico. Alguns fármacos atuam sob a receptação de NTs de modo a aumentar seus efeitos no organismo. Degradação enzimática MAO (parede da mitocôndria principalmente dentro do neurônio) e COMT (principalmente fora do neurônio). Esta degradação gera VMA que é um marcador útil para pacientes com hipertensão, o tumor da adrenal chamado Feocrocitoma pode aumentar o VMA em até 24x. Autorreceptor Ligado a proteína G inibitória, faz feedback negativo nos casos de excesso de catecolaminas. Para redução da síntese de NTs ocorre a diminuição do Cálcio intracelular, deste modo, impedindo a ativação da enzima passo limitante tirosina hidroxilase. Simpatomiméticos Agonistas mistos de ação direta (Dopamina, noradrenalina, adrenalina) Adrenalina É utilizada principalmente no infarto agudo do miocárdio atuando no receptor . Utilizada no broncoespasmo (paradas cardiorrespiratórias – diminui a broncoconstrição). Uso na reação alérgica do tipo 1 por ser vasoconstritora e broncodilatadora, se liga aos receptores no mastócito impedindo sua desgranulação (antagonista fisiológico da histamina). Adrenalina pode ser associada com anestésico local para aumentar a vasoconstrição, impedindo absorção do fármaco para potencializar o seu efeito. Dopamina – t ½ 4 min Uso na insuficiência cardíaca congestiva. Casos menos graves de infarto agudo do miocárdio. Utilizada no choque para aumentar a pressão arterial. Noradrenalina Utilizada para reversão do choque (aumento da pressão arterial por vasoconstrição. Agonistas de ação direta e seletivos para o receptor (Fenilefrina, efedrina, nofazolina, metaraminol, oximetazolina, midodrina) Não são catecolaminas e não são recaptadas tão facilmente. Possuem anel benzênico e um terminal amina. Usos: hipotensão, choque (anestesia espinal), midríase, descongestão nasal, associação a anestésicos e redução de hemorragias superficiais. Agonistas de ação direta e seletivos para receptores (Clinidina, apradonidina, xilazina, metildopa) Clonidina – Fármaco lipossolúvel, cruza a barreira hematoencefálica e reduz a liberação de noradrenalina no SNC. Reduzem tônus do sistema nervoso simpático, utilizados principalmente na sedação de animais. Agonistas de ação direta e seletivos para receptores (Dobutamina, xamoterol, isoproterenol) Catecolaminas sintéticas originadas da dopamina, são extremamente fotossensíveis. Usos: ICC, choque, infarto. T ½ 20 a 40 min. Isoproterenol por ter um substituinte com maior volume tem efeito maior que a adrenalina, costumava ser utilizado na asma para broncodilatação (tem efeito equivalente no receptor 1 e 2), mas por causar taquicardia foi suspendido o uso. Agonistas de ação direta e seletivos para receptores (Salbutarol t ½ 4h / salmeterol t ½ 18h) Uso na asma para dilatação dos brônquios. Clembuterol: agonista com efeito anabolizante.A ativação de no músculo liso do útero leva a fosforilação da miosina de cadeina leve (responsável pela contração), resultando no relaxamento do útero, o que poderá retardar o trabalho de parto prematuro. Classe das drogas simpatomiméticas de ação indireta Pode levar ao bloqueio do sistema de receptação NET. Anfetamina: Estrutura semelhante a das catecolaminas e quando recaptadas pela NET dos neurônios monoaminérgicos , ela inibe a MAO, causando um aumento na liberação de NT´s de forma cálcio independente. SNC: Aumento da vígilia, efeito anorexígeno, dependência, risco de AVC, psicose anfetamínica, aumento da confiança. SNA: Aumento da pressão arterial, vasoconscrição. Usos: THDA e obesidade. Simpatolíticos 1ª Classe – Antagonistas dos receptores adrenérgicos não seletivos (Propranolol, carvedilol, timolol) Antagonista – Diminui a liberação de renina, diminui tônus simpático central, diminui débito cardíaco, diminui o consumo de oxigênio pelo miocárdio (benéfico para angina pectoris). Antagonista – causa broncoconstrição (pode causar parada cardiorrespiratória em asmáticos) e bloqueia respostas metabólicas das catecolaminas (maléfico para diabéticos). 2ª Classe – Antagonistas cardiosseletivos (Apenas Atenolol, esmolol, metoprotolol (1ª geração), nebivolol (3ª geração). Útil para diabéticos e asmáticos. 3ª Classe – agentes com atividade simpatomimética intrínseca (ASI) Oxprenolol, alprenolol – agonista parcial de receptor . Efeito de antagonista por estar em maior quantidade do que as catecolaminas. Atividade: diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial. Repouso (diminuição da concentração de catecolaminas endógenas): aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. Uso: bradicardia causada por excesso de . Uso antagonistas Hipertensão, arritmias cardíacas, insuficiência válvula mitral, angina pectoris, tremor essencial benigno, glaucoma (timolol), hipertireoidismo, profilaxia da enxaqueca. Efeitos colaterais antagonistas – Broncoconstrição, insuficiência cardíaca, bradicardia, hipoglicemia, fadiga, extremidades frias. Antagonistas seletivos (prazosin, doxazosin, terazosin) Fármacos que atuam reduzindo a hipertensão arterial sistêmica (efeito vasodilatador). A tansulozina é um antagonista seletivo e é utilizada para tratar a hipertrofia de próstata benigna por relaxar a musculatura lisa da próstata. Uso pré-cirurgia em pacientes com Feocromocitoma (tumor na medula adrenal que leva ao excesso de catecolaminas). Antagonistas seletivos (Ioimbina , idazolam) Efeito afrodisíaco (vasodilatador). Aumento na liberação de noradrenalina pelo bloqueio do mecanismo de feedback do receptor. Pode levar à perda de peso – ocupação dos sítios adrenérgicos não lipolíticos, permitindo que a andrenalina se ligue aos receptores responsáveis pela lipólise. Antagonistas não seletivos (Tolazolina, fentolamina) Antagonistas competitivos reversíveis – causa hipotensão, aumento na secreção de HCl, aumento na motilidade do trato gastrintestinal, taquicardia reflexo. Costumavam ser utilizados para hipertensão, mas seu uso foi substituído devido aos efeitos colaterais, atualmente é utilizado apenas pré-cirurgia nos casos de Feocromocitoma. Efeitos colaterais antagonistas - Redução da ejaculação, hipotensão, sonolência e diarreia. Alcalóides de Egot – Responsáveis pelo fenômeno fogo de santo Antônio. Deidroergotamina e ergotoxina (antagonistas alfa) – Uso para hipertensão, feocromocitoma e hipertrofia da próstata. Ergotamina (agonista alfa) – Uso para hemorragias em gestantes. Bromocriptina (antagonistas D2) – Utilizado para Parkinson. Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático Sistema relacionado ao repouso e a digestão, seu principal neurotransmissor é a acetilcolina que é sintetizada nos neurônios colinérgicos pela ação da enzima ChAT. O principal mecanismo para desativar os efeitos colinérgicos é a hidrólise enzimática pela enzima AchE e BuchE dando origem a colina que será recaptada nos gânglios. Receptores nicotínicos da acetilcolina – São receptores ionotrópicos e estão presentes na junção neuromuscular, junção ganglionar e no Sistema Nervoso Central. A acetilcolina se liga a duas proteínas deste receptor. Receptores muscarínicos – Receptores metabotrópicos acoplados a proteína G, existem cinco tipos deste receptor. Os receptores m1, m3 e m5 (ímpares) estão acoplados a uma proteína Gq excitatória e agem via IP3/ DAG/ pKC, já os receptores m2 e m4 (pares) estão acoplados à uma proteína Gi inibitória a atuam de modo a diminuir o AMPc e aumentar a condutância de potássio no meio intracelular. Receptor Localização Efeitos M1 (neural) SNC, células parietais do estômago, glândulas salivares e brônquios Excitação do SNC, aumento da secreção gástrica M2 (cardíaco) Átrios, músculo liso do trato gastrintestinal e SNC Inibição cardíaca, inibição neuronal, hipotermia M3 (glandular) Endotélio, olhos, músculo liso TGI, glândulas gástricas e salivares e brônquios Aumenta secreção salivar e estomacal, aumento da broncoconstrição. M4 Pulmão e SNC Aumento na locomoção de animais de laboratório M5 Substância negra, glângulas salivares e olhos (músculo ciliar e íris) Ainda não se sabe o suficiente Parassimpatomiméticos 1ª Classe Agonistas de ação direta – Modificações na estrutura da acetilcolina levaram ao desenvolvimento destes fármacos. Ésteres de colina: Metacolina, betanecol e carbacol. Metacolina – Ação muscarinica, uso para atônia do intestino, bexiga e vesícula biliar. Carbacol – Atua melhor no receptor M3 mas não é seletivo. Possui ação muscarínica e nicotínica e é resistente ao ataque de colinesterases. Por ter efeito miótico potente é usado no tratamento de glaucoma. Betanecol – Uso em exames para testar a função pancreática, pois possui efeito de aumentar a secreção e contrair o esfíncter de Oddi aumentando a amilase plasmática. Muscarina – Serviu apenas para identificar os receptores muscarínicos, não tem uso clínico. Pilocarpina – Possui efeito miótico potente, aumenta a drenagem do humor aquoso e é utilizado no tratamento do glaucoma de ângulo aberto. Atua mais no receptor muscarínico do que nicotínico. Efeitos dos colinérgicos diretos – Diminuição da frequência e do débito cardíaco, vasodilatação, contração do músculo liso, aumento do peristaltismo, aumento das secreções glandurares, ativação do músculo constritor da pupila. Usos – Glaucoma de ângulo aberto (pilocarpina, carbacol e betanecol), redução da taquicardia, atonia da bexiga, atonia do intestino e atonia da vesícula biliar. 2ª Classe Agonistas de ação indireta (Anticolinesterásicos) – Bloqueio da ação das enzimas BuchE e AchE para aumenta o T ½ vida da acetilcolina. Anticolinesterásico de ação curta – T ½ vida até 4 minutos. Utilizado para diagnosticar miastenia gravis e crise colinérgica. Anticolinesterásico de ação intermediária – Os fármacos de ação intermediária que cruzam pouco a barreira hematoencefálica são utilizados no tratamento de miastenia gravis (pirodostigmina, neostigmina e fisostigmina). Os fármacos mais lipossolúveis que chegam a cruzar a barreira hematoencefálica são utilizados no quadro inicial do Alzheimer para retardar a progressão da doença (Tacrina, galantamina, donopezel, rinastigmina).