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Caracterizar os títulos de crédito

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Caracterizar os títulos de crédito. 
Características:
1. Força executiva : atribui a esses títulos a qualidade de título executivo extrajudicial, conforme exposto pelo art. 585, inciso I, do CPC:
Art. 585 - São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
2. Formalismo: é uma característica inerente aos títulos de crédito, uma vez que constitui condição para sua existência, validade e eficácia.
De toda forma, deve cumprir todos os requisitos formais e obrigatórios estabelecidos em lei, sem os quais, será descaracterizado.
3. Circulabilidade: essa é outra característica dos títulos de crédito, que facilita sua circulação, nas relações empresariais. Ressalta-se que não há obrigatoriedade na circulação de títulos.
O conceito dos princípios informadores dos títulos de crédito.
PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
	Pode-se extrair dessa definição os princípios gerais que disciplinam o regime jurídico dos títulos de crédito. São eles: o princípio da cartularidade; o princípio da literalidade; e o princípio da autonomia das obrigações cambiais.
 
Princípio da cartularidade
 
Conforme definição de Vivante, o título de crédito é um documento necessário para o exercício do direito de crédito. Desse modo, por ser um documento, os direitos representados pelo título de crédito deverão obrigatoriamente constar de uma cártula, ou seja, de um material palpável, corpóreo.
 
Trata-se, ainda, de um documento necessário, ou seja, o direito de crédito constante da cártula somente poderá ser exercido por aquele que estiver legitimado na sua posse.
Ensina Fábio Ulhoa Coelho que, pelo princípio da cartularidade, o credor de título de crédito deve provar que se encontra na posse do documento para exercer o direito nele mencionado.
 
Observa-se que, em vista da informalidade que caracteriza os negócios comerciais, o nosso ordenamento jurídico tem criado exceções ao princípio da cartularidade. Assim, a Lei das Duplicatas admite a execução judicial de crédito representado por esse tipo de título sem a obrigatoriedade de sua apresentação (art. 15 da Lei das Duplicatas).
 
Princípio da literalidade
 
O direito de crédito expresso em um título é literal, na medida em que a extensão e os limites desse direito encontram-se nos atos lançados no próprio título. Nesse sentido, para Fábio Ulhoa Coelho, pelo princípio da literalidade, somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos lançados no próprio título de crédito.
 
O título de crédito tem como uma de suas principais funções atribuírem, às partes que dele se valem para documentar certa relação de crédito, maior segurança jurídica. Para tanto, é indispensável que o direito de crédito representado pelo título seja literal, estando sua extensão limitada àqueles direitos nele expressamente especificados.
 
Princípio da autonomia das obrigações cambiais
 
Trata-se, segundo muitos doutrinadores, do princípio cambial mais importante. Isso porque, sendo a negociabilidade decorrente da facilidade da circulação dos títulos de crédito, uma de suas principais características, a autonomia das obrigações cambiais, atribui ao título a segurança jurídica necessária àqueles que dele se utilizam para negociar seus créditos.
 
Ao entrar em circulação, inúmeros vínculos obrigacionais podem surgir e, para que o título de crédito seja efetivamente um instrumento seguro para as pessoas que dele se utilizam, é fundamental que eventuais vícios existentes em determinadas relações obrigacionais nele representadas não se estendam às demais.
 
Logo, são autônomos os direitos representados no título de crédito, conforme definição de Vivante, ou seja, a invalidade de uma ou mais obrigações cambiais não compromete as demais. As obrigações representadas por um mesmo título de crédito são independentes entre si. Assim, sendo nula ou anulável qualquer das obrigações constantes do título, as demais obrigações não terão sua validade ou eficácia comprometida por esse fato.
 
Entendo, como Fábio Ulhoa Coelho, que decorrem do princípio da autonomia das obrigações cambiais dois outros subprincípios, quais sejam: o da abstração das obrigações cambiais; e o da inoponibilidade das exceções pessoais a terceiros de boa-fé.
 
a) Abstração das obrigações cambiais - Pelo princípio da abstração das obrigações cambiais entende-se que, posto o título de crédito em circulação, o direito de crédito nele representado se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem.
 
A abstração, para Fábio Ulhoa Coelho, somente se verifica se o título é posto em circulação. Assim, somente quando o título é transferido para terceiros de boa-fé opera-se o desligamento entre o título de crédito e a relação em que teve origem.
 
b) Inoponibilidade das exceções - Pelo princípio da inoponibilidade das exceções pessoais, o devedor de um título de crédito não pode recusar o pagamento ao portador de boa-fé alegando exceções pessoais em relação a outros obrigados do título.
 
Assim, o devedor não poderá alegar, em sua defesa, matéria estranha à sua relação direta com o portador do título. Logo, somente será oponível a terceiros de boa-fé defesa fundada em vício do próprio título de crédito. Essa regra somente poderá ser excepcionada se o devedor provar a má-fé do portador do título, ocasião em que as exceções pessoais serão admitidas como válidas à sua defesa.
	
Princípios norteadores do processo penal
Os princípios são valores que norteiam uma determinada ciência jurídica. Os princípios que irrigam o processo penal são fundamentais, muitos deles encontrando respaldo expresso na própria Constituição Federal.
INTRODUÇÃO
O processo penal deve estar pautado e ter por vetor principal a CF. O processo, enquanto tal deve ser sinônimo de garantia aos imputados contra as arbitrariedades estatais, sem perder de vista a necessidade de efetividade da prestação jurisdicional.
Os princípios que irrigam a nossa disciplina são fundamentais, muitos deles encontrando respaldo expresso na própria CF. Os princípios não estão no sistema em rol taxativo. Em verdade, diante da atividade do jurista para a construção da norma jurídica, serão possíveis aplicações que evidenciem tanto princípios constitucionais expressos como princípios constitucionais decorrentes do sistema constitucional.
Vejamos, então, os princípios constitucionais e infraconstitucionais que incidem na disciplina do direito processual penal.
1. Princípio da presunção da inocência ou da não culpabilidade
Presunção de inocência, presunção de não culpabilidade e estado de inocência são denominações tratadas como sinônimas pela mais recente doutrina. Não há utilidade prática na distinção. Trata-se de princípio que foi inserido expressamente no ordenamento jurídico brasileiro pela CF/88. A CF cuidou do estado de inocência de forma ampla, isto é, de forma mais abrangente que a Convenção Americana de direitos humanos (ratificada pelo Brasil pelo decreto 678/92), na medida em que estabeleceu que “toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma a sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa” (art. 8, Item 2), enquanto que a CF dispôs como limite da presunção da não culpabilidade o transito em julgado da sentença penal condenatória.
De tal sorte o reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença condenatória transitada em julgado (art. 5º, inc. LVII, da CF). Antes deste marco, somos presumivelmente inocentes, cabendo à acusação o ônus probatório desta demonstração, além do que o cerceamento cautelar da liberdade só pode ocorrer em situações excepcionais e de estrita necessidade. Neste contexto, a regra é a liberdade e o encarceramento, antes de transitar em julgado a sentença condenatória, deve figurar como medida de estrita exceção.
Não é outro o entendimento do STF, que por sua composição penaria, firmou o entendimento de que o Status de inocência prevalece até o trânsitoem julgado da sentença final, ainda que pendente recurso especial e/ou extraordinário, sendo que a necessidade/utilidade do cárcere cautelar pressupõe devida demonstração. Na mesma linha intelectiva, o legislador ordinário, com a Lei 11.719/08, revogou o art. 594 do CPP, dispositivo que condicionava o direito do réu de apelar ao recolhimento à prisão, em nítida violação ao princípio referido.
Do princípio da presunção da inocência derivam duas regras fundamentais: a regra probatória, ou de juízo, segundo a qual a parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado – e não este de provar a sua inocência – e a regra de tratamento, segundo a qual ninguém pode ser considerado culpado senão depois de sentença com transito em julgado, o que impede qualquer antecipação de juízo condenatório ou de culpabilidade.
2. Princípio da imparcialidade do Juiz
A imparcialidade – denominada por alguns de alheiabilidade – é entendida como característica essencial do perfil do Juiz consistente em não poder ter vínculos subjetivos com o processo de modo a lhe tirar o afastamento necessário para conduzilo com isenção. Trata-se de decorrência imediata da CF/88, que veda o juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, inc. XXXVII) e garante que o processo e a sentença sejam conduzidos pela autoridade competente (art. 5º, inc. LIII), representando exigência indeclinável no Estado Democrático de Direito.
Observa-se que tanto o impedimento quanto a suspeição devem ser reconhecidos ex officio pelo Juiz, afastando-se voluntariamente de oficiar no processo e encaminhando a seu substituto legal. A CF/88 confere ao magistrado as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios (art. 95) para que ele possa atuar com isenção – o que inclui declarar-se suspeito ou impedido. De todo modo, caso não reconheça a situação de imparcialidade, o juiz interessado deve ser recusado, e os permissivos legais para tanto se encontram no art. 254 do CPP ( (hipóteses de suspeição) e no art. 252 (hipóteses de impedimento).
Deveras, o ideal de juiz imparcial implica na postura de um magistrado que cumpra a Constituição, de maneira honesta, prolatando decisões suficientemente motivadas. Isso não induz que o juiz se abstraia de seus valores para que exerça o seu mister.
3. Princípio da Igualdade Processual
Também tratado como princípio da paridade de armas, consagra o tratamento isonômico das partes no transcorrer processual, em decorrência do próprio art. 5º, caput, da CF. O que deve prevalecer é a chamada igualdade material, leia-se, os desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades. O referido princípio ganha força com as alterações introduzidas no art. 134 da CF assegurando autonomia da Defensoria Pública.
Embora a regra seja a isonomia processual, em situações especificas deverá haver uma preponderância do interesse do acusado, consoante se depreende do princípio do favor rei ou favor réu, que a seguir estudaremos.
4. Princípio do contraditório ou bilateralidade de audiência
Traduzido no binômio ciência e participação, e de respaldo constitucional (art. 5º, inc LV), impõe que às partes deve ser dada a possibilidade de influir no convencimento do magistrado, oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que constituem a evolução processual. O princípio do contraditório, o qual está aliado o da ampla defesa, já existia de forma implícita no ordenamento jurídico brasileiro vigente sob a égide das constituições anteriores a 1988. No entanto, sua positivação expressa se deu com o advento da CF/88, reconhecendo-lhe a qualidade de direito de primeira geração, de proteção a liberdade.
De modo diverso ao que ocorre no âmbito do processo civil, no processo penal não é suficiente assegurar ao acusado apenas o direito á informação e á reação em um plano formal. Estando em discussão a liberdade de locomoção, ainda que o acusado não tenha interesse em oferecer reação a pretensão acusatória, o próprio ordenamento jurídico impõe a obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor. Nesse sentido o CPP assegura o contraditório em sua acepção material, como ocorre no art. 261, que estabelece a necessidade de defensor que exerça manifestação fundamentada e o art. 497, V, que atribui ao Juiz presidente do Tribunal do júri o dever de atribuir novo defensor, caso considere o acusado “indefeso”.
Vale lembrar que em algumas hipóteses, terá lugar o que se denomina de contraditório diferido ou postergado. È o caso particular, das medidas cautelares reais, a exemplo do sequestro de bens imóveis (Art. 125) e da interceptação das comunicações telefônicas (lei 9296/96). Quanto as medidas cautelares de natureza pessoal, imprescindível ressaltar que a Lei 12.403/11, alterando o CPP, previu o contraditório como regra, de modo que a parte contraria somente deixará de ser intimada em “casos de urgência ou perigo de ineficácia da medida (art. 282, & 3º, CPP).
Com base na forma como se manifesta o contraditório, a doutrina o classifica em: contraditório para a prova: que nada mais é do que a atuação das partes de forma contemporânea á produção da prova, cientificando-lhes previamente para o fim de possibilitar a participação ampla na constituição da prova, tal como se dá com a oitiva de testemunhas, acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e o contraditório sobre a prova ou real, que nada mais é do que á ciência das partes posteriormente a produção da prova, ou seja, a parte tem oportunidade de se manifestar, mas em um momento posterior, em razão do fito de evitar que sejam frustrados os objetivos da formação da prova especifica. Ex: deferimento de interceptação telefônica.
Por fim, é majoritário o entendimento de que não é exigível o contraditório no inquérito policial já que se trata de procedimento administrativo de caráter informativo.
5. Princípio da ampla defesa
Enquanto o contraditório é princípio protetivo de ambas as partes (autor e réu), a ampla defesa – que com o contraditório não se confunde – é garantia com destinatário certo: o acusado.
A defesa pode ser subdividida em: defesa técnica, que é a defesa efetuada por profissional habilitado; e autodefesa (defesa material ou genérica) que é a defesa realizada pelo próprio imputado. A defesa técnica é sempre obrigatória, enquanto a autodefesa pode ou não ser exercida pelo acusado, que pode optar por permanecer inerte, invocando inclusive o silêncio. A autodefesa comporta também subdivisão, representada pelo direito de audiência (oportunidade de influir na defesa por intermédio do interrogatório), e no direito de presença, consistente na possibilidade de o réu tomar posição, a todo momento, sobre o material produzido, sendo-lhe garantia a imediação com o defensor, o juiz e as provas.
Deve ser assegurada ampla possibilidade de defesa (art. 5, LV) e é dever do Estado prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5, LXXIV).
Sum. do STF: 523, 708
Artigos correlatos: 396, & 2º, CPP e 55, & 3º da lei 11.343/06
Por fim, a ampla defesa não se confunde com a plenitude de defesa, pois a primeira vale-se apenas de argumentos jurídicos, enquanto que a plenitude de defesa garantia própria do Tribunal do júri (art. 5, XXXVIII), autoriza a utilização não só de argumentos técnicos, mas também de natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal, no intuito de convencer o corpo de jurados.
6. Princípio da ação, demanda ou iniciativa das partes
Também conhecido como ne procedat judex ex officio, este princípio significa que, sendo a jurisdição inerte, cabe as partes a provocação do Poder Judiciário, exercendo o direito de ação, no intuito da obtenção do provimento jurisdicional. Neste contexto, o art. 26 do CPP não foi recepcionado pela CF, não se admitindo mais que nas contravenções penais a ação tenha início por portaria baixada pelo delegado ou pelo magistrado (que se chamava de processo judicialiforme). De fato, a partir da nova ordem constitucional, a titularidadeda ação passou a ser privativa do MP (129, I), admitindo-se, nos casos previstos, a iniciativa privada.
Obs: Mesmo diante da inercia jurisdicional, em homenagem ao status libertatis, nada impede que os juízes e tribunais concedam HC de oficio, sempre que tenham notícia de que exista ameaça ou lesão a liberdade de locomoção (654, & 2).
7. Princípio da oficialidade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal (IP e processo), atividade eminentemente publica, são órgãos oficiais por excelência, tendo a CF consagrado a titularidade da ação penal pública ao MP (129, I), e disciplinado a polícia judiciaria no &4º, do art. 144 CPP.
8. Princípio da oficiosidade
A atuação oficial na persecução criminal, como regra, ocorre sem necessidade de autorização, isto é, prescinde de qualquer condição para agir, desempenhando suas atividades ex officio. Excepcionalmente, o início da persecução penal pressupõe autorização do legitimo interessado, como se dá na ação penal pública condicionada a representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça (24, CPP).
9. Princípio da verdade real
O processo penal não se conforma com ilações fictícias ou afastadas da realidade. O magistrado pauta o seu trabalho na reconstrução da verdade dos fatos, superando eventual desídia das partes na colheita probatória, como forma de exarar um provimento jurisdicional mais próximo possível do ideal de justiça. Todavia, a proatividade judicial na produção probatória encontra forte resistência na doutrina em razão do filtro constitucional desempenhado pela adoção do sistema acusatório, limitando a atuação do julgador.
É de se observar que a verdade real ou substancial (566 CPP) pode se revelar inatingível. Afinal, a revitalização no seio do processo, dentro do fórum, numa sala de audiência, daquilo que ocorreu muitas vezes anos atrás, é, em verdade, a materialização formal daquilo que se imagina ter acontecido.
Ao disporem sobre as provas ilícitas, a CF (art. 5, LVI) e o CPP (art. 157) estabelecem limites ao alcance da verdade real. Ao prescrever que são inadmissíveis, no processo, provas obtidas por meios ilícitos, o legislador vedou as provas obtidas com violação a norma constitucional ou legal, ainda que elas retratem a verdade real.
10. Princípio da obrigatoriedade
Os órgãos incumbidos da persecução criminal, estando presentes os permissivos legais, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem pública, e não cabe juízo de conveniência ou oportunidade. Assim, o delegado de polícia e o promotor de justiça, como regra, estão obrigados a agir, não podendo exercer juízo de conveniência quanto ao início da persecução.
Vale ressaltar que a Lei 9099/95, objetivando mitigar a sanha penalizadora do Estado, instituiu uma contemporização ao princípio da obrigatoriedade, que ganhou o nome de obrigatoriedade mitigada ou da discricionariedade regrada, que nada mais é que, nas infrações de menor potencial ofensivo, a possibilidade, com base no art. 76 da referida Lei, da oferta da transação penal, ou seja, a submissão do suposto autos da infração a uma medida alternativa, não privativa de liberdade, em troca do não início do processo.
Atenção: Nos crimes de ação penal privada, quais sejam, naqueles em que a titularidade da ação foi conferida a própria vítima ou ao seu representante legal, o que vigora é o princípio da oportunidade, pois cabe a ela ou ao seu representante legal dar início a persecução criminal ou não.
11. Princípio da indisponibilidade
O princípio da indisponibilidade é uma decorrência do princípio da obrigatoriedade, rezando que, uma vez iniciado o IP ou o processo penal, os órgãos incumbidos da persecução criminal não podem deles dispor.
Com efeito, o delegado não pode arquivar os autos do IP (art. 17) e o promotor não pode desistir da ação interposta (art. 42).
Vale lembrar que a fase recursal iniciada pelo Parquet, conquanto não esteja regida pelo princípio da obrigatoriedade, é informada pelo princípio da indisponibilidade (art. 576).
A lei 9099/95 também mitigou o princípio da indisponibilidade, trazendo a instituto da suspensão condicional do processo (art. 89). Assim, nos crimes com pena mínima não superior a um ano, preenchidos os requisitos legais, o MP ao oferecer denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por 2 a 4 anos. Uma vez expirado esse prazo sem que tenha ocorrido revogação da suspensão, será declarada extinta a punibilidade
Atenção: Nos crimes de ação penal privada vigora o princípio da disponibilidade (art. 60).
12. Princípio do impulso oficial
Apesar da inercia da jurisdição, é imperativo afirmar que, uma vez iniciado o processo, com o recebimento da inicial acusatória, cabe ao magistrado velar para que este chegue ao seu final, marcando audiências, estipulando prazos, determinando intimações, enfim, impulsionando o andamento do próprio procedimento.
13. Princípio da motivação das decisões
Decorrência expressa do art. 93, IX, CF, assevera que o juiz é livre para decidir, desde que o faça de forma motivada, sob pena de nulidade insanável.
Desse modo, a fundamentação no processo penal, deve se apoiar nos elementos produzidos no contraditório judicial, ressalvando-se desta exigência, tão somente as provas cautelares, realizadas antecipadamente e não sujeitas a repetição.
Indispensável referir a admissibilidade pelos Tribunais Superiores, da motivação per relationem, caracterizada pela utilização das razoes apresentadas, por exemplo, pelo magistrado da instancia inferior (ou pelo MP, em parecer), na fundamentação da decisão proferida.
14. Princípio da publicidade
A publicidade dos atos processuais, que pode ser definida como a garantia de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo, é a regra. Todavia, o sigilo é admissível quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5, LX). O art. 792, do CPP prevê sigilo se da publicidade do ato puder ocorrer escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem (&1º).
Artigo correlato: 93, IX, CF.
A publicidade comporta classificação, conforme os seguintes critérios:
a) Quanto ao sigilo do conteúdo do ato processual:
a.1) Publicidade interna: relativa as partes, restrita ou específica. Ex: processos que correm em segredo de justiça, como: os crimes contra a dignidade sexual (234-B, CP) e o sigilo das votações no Tribunal do júri.
a.2) Publicidade externa, relativa ao público, externa ou geral: é a regra: não guarda restrição quanto ao público. 93, IX, CF.
b) Quanto à voluntariedade do conhecimento do ato:
b.1) Publicidade ativa: determinados atos do processo chegam ao conhecimento do público de forma involuntária;
b.2) Publicidade passiva: a iniciativa para o conhecimento do ato processual é do público que vai ao seu encontro para tomar ciência do ato.
c) Quanto a acessibilidade do ato processual:
c.1) Publicidade imediata: a publicidade do ato está disponível a todos, sem distinção;
c.2) Publicidade mediata: quando só pode tomar ciência através da imprensa: certidão ou cópia.
Obs: IP, por se tratar de fase pré-processual, é regido pelo princípio da sigilação, ressalvada a prerrogativa do advogado (art. 7, XIV, Lei 8906/94) corroborado pela sumula vinculante nº 14.
Obs2: Para preservar o ofendido, é possível a decretação judicial do segredo de justiça que pode atingir toda a persecução penal (art. 201, & 6º), de forma a não expor a vítima aos meios de comunicação.
15. Princípio do duplo grau de jurisdição
Este princípio assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, através do sistema recursal, onde as decisões do juízo a quo podem ser reapreciadas pelos Tribunais.
Todavia, interessa sublinhar que o duplo grau de jurisdição não é princípio contemplado na CF, haja vista que processos existem sem que esse duplo grau incida, a exemplo daqueles de competência originaria do STF. O duplo grau de jurisdição não é enunciado normativo que incide indistintamente em todos os processos penais.
Por sua vez, O Pacto de São José da Costa Rica, em seu art.8º, item 2, h, dispõe acerca do direito de recorrer das decisões judiciais. Ocorre que o referido pacto, neste ponto, é recebido como lei ordinária, já que o direito ao recurso não pode ser enquadrado como expressão de direito fundamental, encontrando-se por consequência, fragilizado, dentre das várias exceções existentes no sistema de decisões simplesmente irrecorríveis.
16. Princípio do Juiz natural
Tal princípio consagra o direito de ser processado por juiz competente (art. 5, LIII) e a vedação constitucional a criação de juízos ou tribunais de exceção (art. 5º, XXXVII). Em outras palavras, impede a criação casuística de tribunais pós-fato, para apreciar um determinado caso.

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