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PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS

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PRINCÍPIOS NO PROCESSO PENAL
Sumário
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS	2
1.1.	Princípio da presunção da inocência ( ou não culpabilidade)	3
1.2.	Princípio da igualdade processual	4
1.3.	Princípio da ampla defesa	4
1.4.	Plenitude de defesa	8
1.5.	Favor rei ou prevalência do interesse do réu ou favor libertatis ou in dubio pro reo ou favor inocente	9
1.6.	Princípio do contraditório ou da bilateralidade da audiência	9
1.7.	Princípio do juiz natural e promotor natural	11
1.8.	Princípio da publicidade	12
1.9.	Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos	15
1.10.	Princípio da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo	17
1.11.	Princípio do devido processo legal	18
1.12.	Princípio do nemo tenetur se detegere ou não autoincriminação	18
1.13.	Princípio da iniciativa das partes	19
1.14.	Princípio do duplo grau de jurisdição	20
1.15.	Princípio do juiz imparcial	21
1.16.	Princípio da obrigatoriedade e princípio da indisponibilidade da ação penal pública	21
1.17.	Princípio da oficiosidade	23
1.18.	Princípio da oficialidade	23
1.19.	Princípio da autoritariedade	24
1.20.	Princípio da intranscendência ou pessoalidade	24
1.21.	Princípio da vedação da dupla punição e do duplo processo pelo mesmo fato (ne bis in idem)	24
1.22.	Princípio do impulso oficial	26
1.23.	Princípio da comunhão ou aquisição da prova	27
1.24.	Princípio da persuasão racional ou livre convencimento motivado	27
1.25.	Princípio da lealdade processual	28
1.26.	Princípio da indivisibilidade da ação penal privada	29
1.27.	Princípio da busca da verdade	29
Revisão por questões:	31
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA	32
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS
Renato Brasileiro trabalha com a ideia de: princípios como mandamentos nucleares de um sistema. 
Há vários princípios elencados na CF/88, assim como em tratados internacionais, além de alguns princípios implícitos.
	PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPRESSOS
	PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS
	1- Presunção de inocência
	1- Não autoincriminação
	2- Igualdade processual
	2- Iniciativa das partes e correlação
	3- Ampla defesa
	3- Duplo grau de jurisdição
	4- Plenitude de defesa
	4- Juiz imparcial
	5- Favor rei
	5- Promotor natural
	6- Contraditório
	6- Oficialidade
	7- Juiz natural
	7- Oficiosidade
	8- Publicidade
	8- Autoritariedade
	9- Vedação das provas ilícitas
	9- Intranscendência
	10- Economia processual e razoável duração do processo
	10- Obrigatoriedade da ação penal pública e indisponibilidade da ação penal pública
	11- Devido processo legal
	11- Ne bis in idem
	PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL PROPRIAMENTE DITOS
	1- Busca da verdade real
	2- Oralidade e concentração, imediatidade e identifidade física do juiz
	3- Indivisibilidade da ação penal privada
	4- Comunhão da prova
	5- Impulso oficial
	6- Livre convencimento motivado
	7- Lealdade processual
Princípio da presunção da inocência ( ou não culpabilidade)
Também chamado de princípio do estado de inocência ou da situação jurídica de inocência.
Previsão expressa na Constituição Federal: 
Art. 5º, LVII: Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Eugênio Pacelli traz que o referido princípio impõe ao Poder Público a observância de duas regras em relação ao acusado:
1- Regra de tratamento: segundo a qual o réu, em nenhum momento do iter persecutório, pode sofrer restrições pessoais fundadas exclusivamente na possibilidade de condenação e 
2- Regra de fundo probatório: a estabelecer que todos os ônus da prova relativa à existência do fato e à sua autoria devem recair exclusivamente sobre a acusação. À defesa restaria apenas demonstrar a eventual incidência de fato caracterizador de excludente de ilicitude e culpabilidade, cuja presença fosse por ela alegada.
São consequências do referido princípio, dentre outras:
· O ônus da prova, em regra, cabe à acusação;
· Excepcionalidade das prisões cautelares;
· Excepcionalidade de qualquer medida constritiva de direitos individuais.
Possui duas dimensões:
1- Interna ao processo: funciona como dever imposto ao juiz, inicialmente, de considerar que o ônus da prova recai sobre a parte acusadora e a dúvida favorece o acusado.
2- Externa ao processo: proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado.
ATENÇÃO!! Sobre o tema, é de muita relevância o estudo do recente entendimento do STF acerca da impossibilidade de execução provisória da pena, ou seja, que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos, com o julgamento das ADCs 43, 44 e 54.
Importante destacar que a decisão não afasta a possibilidade de prisão antes do trânsito em julgado, desde que sejam preenchidos os requisitos do Código de Processo Penal para a prisão preventiva.
Para melhor compreensão, remetemos à leitura do seguinte artigo: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/stf-decide-que-o-cumprimento-da-pena.html
Atenção, ainda, na resolução de questões, visto que muitas levaram em conta o posicionamento anterior do STF acerca da possibilidade de execução provisória. 
Princípio da igualdade processual
Previsão no art.5º, caput da CF/88.
Decorre do mandamento de que todos são iguais perante a lei. Assim, as partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões e devem ser tratadas de maneira igualitária, na medida de suas igualdades, e desigualmente, na medida de suas desigualdades.
Significa a atribuição à acusação e à defesa de meios jurídicos igualmente eficazes para tornar efetivos os direitos de intervenção processual.
É requisito indispensável para a efetivação do sistema acusatório.
Uma de suas consequências é de que o réu não pode se defender sozinho, devendo ter assistência de advogado (salvo se ele próprio for advogado).
Princípio da ampla defesa
Ampla defesa pode ser considerada como um direito sob a ótica do acusado, mas também pode ser considerada como uma garantia, sob o enfoque publicístico (interesse geral de um processo justo).
Ligado diretamente ao princípio do contraditório: a defesa garante o direito e por ele se manifesta. O exercício da ampla defesa só é possível pelo elemento do contraditório: direito à informação, e se materializa por meio do segundo elemento: reação. Contudo, não se confundem! A defesa diz respeito ao réu, enquanto o contraditório diz respeito a ambas as partes.
Ampla defesa abrange:
· Defesa técnica (processual ou específica): exercida por profissional de advocacia, com capacidade postulatória. Necessária, indeclinável, plena e efetiva.
Em caso de renúncia do defensor, deve ser oportunizado ao réu constituir um novo defensor.
Súmula 708 STF: É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro. 
E, destaque-se que não basta a existência formal de uma defesa, deverá ser uma defesa adequada. Tanto o é, que o art. 497, V do CPP autoriza ao juiz nomear outro defensor ao acusado quando considera-lo indefeso.
Súmula 523 STF: No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 
Se o acusado não tem capacidade postulatória (advogado regularmente inscrito na OAB) não tem o direito de redigir, pessoalmente, sua defesa técnica, salvo em situações excepcionais, como habeas corpus.
Atenção: juízes e promotores não podem exercer sua defesa técnica.
A presença de advogado no processo penal é essencial: mesmo em Juizados Especiais!
Acusado tem o direito de escolher seu próprio advogado – não é lícito ao juiz nomear defensor dativo sem expressa concordância do réu. Neste sentido:
Súmula 707 STF: Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.
O mesmo advogado pode patrocinar a defesa técnica de dois acusados, desde que não haja teses antagônicas. 
· Autodefesa (material ou genérica): exercida pelo próprio acusado. Diferenteda devesa técnica, esta é disponível (réu pode abrir mão). A citação deve ser pessoal, de modo a assegurar a ampla defesa. 
Ofensa ao direito de autodefesa constitui nulidade absoluta: quando presente, deve ser interrogado (sendo seu direito permanecer em silêncio), assim como deve ser intimado dos atos processuais e das decisões.
Manifesta-se, ao menos em 3 situações:
a) Direito de audiência: direito que o acusado tem de apresentar ao juiz da causa a sua defesa, pessoalmente, e se materializa por meio do interrogatório.
b) Direito de presença: assegura-se ao acusado a oportunidade de, ao lado de seu defensor, acompanhar os atos de instrução, auxiliando na defesa. Não é um direito absoluto – o réu pode ser retirado (ex: art. 217 CPP). 
c) Capacidade postulatória autônoma do acusado: em alguns momentos defere-se ao acusado capacidade postulatória autônoma, independentemente da presença de seu advogado. Pode interpor recursos (art. 577, caput, CPP), impetrar habeas corpus (art. 654, caput, CPP), ajuizar revisão criminal (art. 623, CPP), assim como formular pedidos relativos à execução da pena (art. 195, caput, LEP).
Em resumo:
Questão: Sobre o direito de presença, seria causa de nulidade absoluta o não deslocamento do preso para acompanhar a oitiva de testemunhas de acusação em carta precatória em unidade da Federação diversa daquela onde se encontra recolhido?
Há precedentes do STF em que se aduz que o acusado, ainda que preso, tem o direito de comparecer, assistir e presenciar os autos processuais, sob pena de nulidade absoluta. Neste caso, pouco importa se o preso estaria em outra unidade da federação, alegadas dificuldades ou inconveniência em proceder à remoção do acusado, eis que razões de conveniência administrativa não poderiam se sobrepor ao direito de presença.
Contudo, em decisões mais recentes, o STF tem entendido que a alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas configura nulidade relativa: deve-se comprovar a oportuna requisição, assim como a ocorrência de efetivo prejuízo à defesa. Assim, dadas as peculiaridades do caso concreto, mediante decisão motivada, havendo razões como a periculosidade do réu e não havendo efetivo prejuízo, não há que se falar em nulidade do feito.
Questão: É necessária a presença de advogado em procedimento administrativo disciplinar para averiguar o cometimento de falta grave no curso da execução penal?
A súmula vinculante 5 assim dispõe: “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”. Contudo tal disposição só é válida em procedimentos de natureza civil. 
Não se aplica a SV 5 à execução penal, sendo necessária a defesa técnica, pois afeta a liberdade de ir e vir. Neste sentido é a súmula 533 do STJ:
Súmula 533 - Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.
Questão: A autodefesa é um direito ilimitado? Como expressão do direito à autodefesa, o acusado pode apresentar um documento falso para não se prejudicar criminalmente? Pode atribuir-se falsa identidade? 
A autodefesa não é um direito absoluto. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a pessoa inocente, responderá por denunciação caluniosa (art. 399, CP).
Não pode o acusado apresentar documento falso. Nesse sentido é a jurisprudência dos tribunais superiores:
O fato de o paciente ter apresentado à polícia identidade com sua foto e assinatura, porém com impressão digital de outrem, configura o crime do art. 304 do Código Penal. Havendo adequação entre a conduta e a figura típica concernente ao uso de documento falso, não cabe cogitar de que a atribuição de identidade falsa para esconder antecedentes criminais consubstancia autodefesa. STF. 2ª Turma. HC 92763, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/02/2008.
Tampouco pode se atribuir identidade falsa. 
Cabe-nos relembrar a diferença entre falsa identidade e uso de documento falso:
	Art. 307 CP – Falsa identidade
	Art. 304 CP – Uso de documento falso
	Consiste na simples atribuição de falsa identidade, sem a utilização de documento falso.
	Aqui há obrigatoriamente o uso de documento falso.
	Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente afirma que seu nome é Pedro Silva, quando, na verdade, ele é João Lima.
	Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente, João Lima, afirma que seu nome é Pedro Silva e apresenta o RG falsificado com este nome.
Assim como no caso do uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, o STF entende que há crime quando o agente, para não se incriminar, atribui a si uma identidade que não é sua. Nesse sentido a súmula 522 do STJ (o STF possui o mesmo entendimento):
Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.
Plenitude de defesa
Não se confunde com a ampla defesa. Previsão no art. 5º, XXXVIII, a, da CF/88: “É reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurada a plenitude de defesa”.
É princípio aplicado especificamente para o Tribunal do Júri, tratando-se de um reforço à ampla defesa. Permite-se ao réu, no Tribunal do Júri, que utilize de todos os meios lícitos de defesa, ainda que não previstos expressamente pelo ordenamento jurídico.
Possibilidade de utilização não só de argumentos técnicos, mas também de natureza sentimental, social e até mesmo de política criminal, no intuito de convencer o corpo de jurados. 
Consequências diretas desse princípio:
· Juiz deve dispensar ainda mais atenção à efetividade da defesa do réu
· É possível a defesa apresentar nova tese na tréplica
· Caso o réu precise de mais tempo nos debates, poderá requerê-lo sem que isso gere, necessariamente, igual direito ao Ministério Público
Favor rei ou prevalência do interesse do réu ou favor libertatis ou in dubio pro reo ou favor inocente
A dúvida sempre milita em favor do acusado. Na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do acusado, este último deve prevalecer.
É princípio que mitiga, em parte, o princípio da isonomia processual – justifica-se em razão do direito à liberdade e dos riscos de uma condenação equivocada.
Decorre do princípio da presunção de inocência. 
Entendimento majoritário do STJ: este princípio não se aplica nas fases de oferecimento da denúncia e na prolação da decisão de pronúncia do Tribunal do Júri – prevalece in dubio pro societate.
Consequência do princípio: havendo dúvida na interpretação da lei, deve-se privilegiar a interpretação que beneficie o réu.
Princípio do contraditório ou da bilateralidade da audiência
Previsão constitucional expressa de que aos litigantes e aos acusados em geral é assegurado o contraditório.
Sempre se compreendeu o princípio do contraditório como a ciência bilateral dos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los. Seriam dois os elementos do contraditório:
· Direito à informação
· Direito de participação: reação, manifestação ou contrariedade.
Direito à informação é consectário lógico do contraditório, daí decorre a importância dos atos de comunicação. 
Tradicionalmente entendia-se que bastava possibilitar-se a reação (reação possível). Contudo, atualmente, houve evolução, especialemente com fundamento no princípio da isonomia, buscando-se assergurar uma real e igualitária participação dos sujeitos processuais ao longo de todo o processo, assegurando a efetividade e plenitude do contraditório – contraditório efetivo e equilibrado.
Mesmo que o acusado não tenha interesse em oferecer reação à acusação, a lei impõe a obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor. 
Art. 261 CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. 
Em resumo: em um primeiro momento, o contraditóriolimitava-se ao direito à informação e à possibilidade de reação. Contudo, a partir de Fazzalari, o contraditório passou a ser analisado também no sentido de se assegurar a paridade de tratamento (par conditio ou paridade de armas).
Atenção: prevalece na doutrina que o contraditório só é imprescindível na fase processual. Na fase investigatória não é obrigatório! O STF já se manifestou no sentido de que o inquérito é peça meramente informativa, não suscetível de contraditório, tando que eventual irregularidade no inquérito não conduz à nulidade da ação penal.
A prova também só pode ser considerada se produzida no curso do processo judicial, sob o manto do contraditório e da ampla defesa – estrutura dialética da produção da prova. 
Contraditório para a prova x contraditório sobre a prova
· Contraditório para a prova (contraditório real): partes atuam na própria formação do elemento de prova. Ex: prova testemunhal colhida em juízo.
· Contraditório sobre a prova (contraditório postergado ou diferido): atuação do contraditório após a formação da prova. Ex: interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das investigações.
Sobre o contraditório diferido, temos a recente súmula 639 do STJ:
Súmula 639 STJ: Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa, determine transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário federal. 
Havendo extrema necessidade, o juiz federal poderá autorizar a imediata transferência do preso e, após o preso estar incluído no sistema penitenciário federal, ouvir as partes interessadas e decidir pela manutenção ou revogação da medida adotada. Desse modo, em caso de situações emergenciais, o contraditório será diferido. Neste sentido: 
A transferência de preso para presídio federal de segurança máxima sem a sua prévia oitiva, desde que fundamentada em fatos caracterizadores de situação emergencial, não configura ofensa aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa, da individualização da pena e da dignidade da pessoa humana. 
STF. 1ª Turma. HC 115539/RO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 3/9/2013 (Info 718).
Como este princípio já foi cobrado em provas?
TJRS/2016 – Juiz considerou corretas as seguintes assertivas:
Na fase preliminar do processo penal, o contraditório, na forma de poder participar, requerer, ser ouvido e informado, é inafastável, embora o cerceamento do contraditório no inquérito não produza os mesmos efeitos dos verificados na fase judicial. Inafastável, também, é o direito ao acesso, pelo defensor do investigado, aos elementos de investigação documentados, salvo o sigilo constitucional e legal. Sua obstacularização poderá ser remediada por meio de reclamação ao Supremo Tribunal Federal ou por mandado de segurança (correto).
É obrigatória a defesa técnica em todo o processo penal, tendo o Supremo Tribunal Federal entendido ser nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não tenha sido previamente intimado para constituir outro (correto).
E ainda:
(TJPE/2013 – Juiz) Em relação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, previstos no artigo 5º, inciso LV, da Constituição da República, é INCORRETO afirmar que
A) o contraditório é a ciência bilateral dos atos e termos processuais e a possibilidade de contrariá-los.
B) a ampla defesa desdobra-se em autodefesa e defesa técnica, sendo a primeira exercida pessoalmente pelo acusado e a segunda por profissional habilitado, com capacidade postulatória e conhecimentos técnicos.
C) a defesa técnica é irrenunciável, por se tratar de garantia da própria jurisdição.
D) estão intimamente relacionados, uma vez que a ampla defesa garante o contraditório e por ele se manifesta e é garantida.
E) foram inovações trazidas pelo texto constitucional de 1988.
Princípio do juiz natural e promotor natural
De acordo com Pacelli, o princípio do juiz natural tem origem no direito anglo-saxão, com base na ideia da vedação do tribunal de exceção – ou seja, proibição de se instituir ou de se construir um órgão do Judiciário exclusiva ou casuisticamente para o processo e julgamento de determinada infração penal. 
Conectado ao princípio da legalidade – exigência de que somente um órgão previamente constituído para o processo de crimes anteriormente definidos seria competente para o julgamento de tais crimes. 
Então no direito brasileiro podemos dizer que o princípio do juiz natural, com assento constitucional, possui duas vertentes:
· Vedação de tribunal de exceção
· Competência do juiz definida anteriormente à prática do fato – competência esta derivada de fontes constitucionais. 
Em razão das opções feitas pelo constituinte na tarefa de distribuição da jurisdição, fala-se em competência ratione materiae, especializada por matéria, e em competência ratione personae, ou, mais corretamente, em razão das funções. A competência ratione loci (em razão do lugar) foi delegada para a legislação (infraconstitucional), não se impondo como exigência do juiz natural.
O princípio do juiz natural ou princípio do juiz legal não é ofendido quando o magistrado fisicamente competente é substituído por outro de acordo com as regras legais, tal como acontece com as hipóteses de substituições legais e com os regimes de convocação de magistrados por órgãos de segunda instância ou de instância superior. A alteração da composição física deve ocorrer em compasso com a lei (juiz com competência atribuída por lei).
Atenção: o STF já decidiu que não viola o postulado constitucional do juiz natural o julgamento de apelação por órgão composto majoritariamente por juízes convocados. 
Já o princípio do promotor natural, segundo Nestor Távora, veda a designação arbitrária, pela Chefia da Instituição, de promotor para patrocinar caso específico. 
Relaciona-se com a necessidade de preservação da independência funcional e da inamovibilidade dos membros.
O STJ reconhece a aplicação do dito princípio e, no âmbito do STF há controvérsia. Quem defende a inexistência aduz que tal princípio é incompatível com o da indivisibilidade do Ministério Público. Nestor Távora defende, no entanto, que razão assiste aos que defendem a existência do princípio, pois a Constituição ao vedar tribunais de exceção também não admite os acusadores por indicação.
A aplicação do princípio limita-se ao processo criminal, não abrangendo o inquérito policial – assim, diligências realizadas na fase de investigação por requisição de promotor distinto daquele que deva atuar na causa não desnaturam o princípio. 
Princípio da publicidade
Garantia de acesso aos atos praticados no curso do processo, por todo e qualquer cidadão. Assegura a transparência da atividade jurisdicional, oportuniza a fiscalização e visa a afastar a desconfiança da população. Evitam-se excessos, arbitrariedades.
Segundo Luigi Ferrajoli, cuida-se de garantia de segundo grau, ou garantia de garantia, pois para que seja possível o controle da observância das garantias primárias do contraditório, ampla defesa, devido processo legal, indispensável que o processo se desenvolva em público. 
Art. 93, IX da CF/88: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário são públicos, sob pena de nulidade. A lei pode limitar a presença, em determinados atos, às partes e seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.
No mesmo sentido é o art. 792 do CPP: 
Art. 792.  As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados.
§ 1o  Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público,determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.
§ 2o  As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade, poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele especialmente designada.
Publicidade ampla x publicidade restrita
Publicidade ampla, plena, popular, absoluta ou geral: atos processuais praticados perante as partes e, ainda, abertos ao público. Qualquer cidadão pode acompanhar os julgamentos, consultar os processos e obter certidões. Não tem caráter absoluto.
Publicidade restrita ou interna: se caracteriza quando há alguma limitação à publicidade dos atos do processo. Alguns atos ou todos eles serão realizados somente perante as pessoas diretamente interessadas no feito e seus respectivos procuradores. Denominada “segredo de justiça”. Ex: crimes contra a dignidade sexual, cuja publicidade pode aumentar o sofrimento da vítima (vide art. 234-B do CP que prevê que os processos em que se apuram os crimes definidos naquele título (crimes contra a dignidade sexual) correrão em segredo de justiça.
Qual tipo de publicidade temos no júri, na sala secreta? A publicidade restrita, já que apenas um determinado número de pessoas poderá ter acesso a ela.
Direito à intimadade do acusado x publicidade dos atos processuais
DIREITO CONSTITUCIONAL. SEGREDO DE JUSTIÇA E DIVULGAÇÃO DO NOME DO RÉU E DA TIPIFICAÇÃO DO CRIME EM SÍTIO ELETRÔNICO DE TRIBUNAL.
No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da qualidade da vítima (criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos do processo disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. A CF, em seu art. 5º, XXXIII e LX, erigiu como regra a publicidade dos atos processuais, sendo o sigilo a exceção, visto que o interesse individual não pode se sobrepor ao interesse público. Tal norma é secundada pelo disposto no art. 792, caput, do CPP. A restrição da publicidade somente é admitida quando presentes razões autorizadoras, consistentes na violação da intimidade ou se o interesse público a determinar. Nessa mesma esteira, a Quarta Turma do STJ, examinando o direito ao esquecimento (REsp 1.334.097-RJ, DJe 10/9/2013), reconheceu ser "evidente o legítimo interesse público em que seja dada publicidade da resposta estatal ao fenômeno criminal". Ademais, os arts. 1º e 2º da Resolução n. 121/2010 do CNJ, que definem os dados básicos dos processos judiciais passíveis de disponibilização na internet, assim como a possibilidade de restrição de divulgação de dados processuais em caso de sigilo ou segredo de justiça, não têm o condão de se sobrepor ao princípio constitucional da publicidade dos atos processuais (art. 5º, LV, da CF), tampouco podem prescindir da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais (art. 93, IX, da CF). Assim sendo, eventual decretação de uma exceção que justificaria a imposição de sigilo absoluto aos dados básicos de um processo judicial não constitui direito subjetivo da parte envolvida em processo que tramita sob segredo de justiça, demandando, ao contrário, uma avaliação particular que delimite o grau de sigilo aconselhável em cada caso concreto, avaliação essa devidamente fundamentada em decisão judicial. Nesse sentido, a mera repulsa que um delito possa causar à sociedade não constitui, por si só, fundamento suficiente para autorizar a decretação de sigilo absoluto sobre os dados básicos de um processo penal, sob pena de se ensejar a extensão de tal sigilo a toda e qualquer tipificação legal de delitos, com a consequente priorização do direito à intimidade do réu em detrimento do princípio da publicidade dos atos processuais. RMS 49.920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 2/8/2016, DJe 10/8/2016. INFO 587 STJ.
Observações:
 Somente a própria autoridade jurisdicional que decretou o sigilo pode afastá-lo. CPI não tem o poder jurídico de, mediante requisição, determinar a quebra de sigilo imposto a processo sujeito a segredo de justiça.
 Provas cautelares: não há que se falar em publicidade às partes e seus advogados, sob pena de se tornar inócua a medida (ex: interceptação telefônica).
 Publicidade ativa: determinados atos do processo são involuntariamente conhecidos do público
 Publicidade passiva: ocorre quando o público, por iniciativa própria, toma conhecimento dos autos do processo.
 Publicidade imediata: cognição dos atos do processo está franqueada a todos os cidadãos.
 Publicidade mediata: só se toma conhecimento dos autos processuais mediante certidão, cópia ou pela imprensa. 
Como o tema já foi cobrado em prova?
(Vunesp-TJ-MS-Juiz-2015) Com relação ao Princípio Constitucional da Publicidade, com correspondência no Código de Processo Penal, é correto afirmar que
A) a publicidade ampla e a publicidade restrita não constituem regras de maior ou menor valor no processo penal, cabendo ao poder discricionário do juiz a preservação da intimidade dos sujeitos processuais.
B) a publicidade restrita tem regramento pela legislação infraconstitucional e não foi recepcionada pela Constituição Federal, que normatiza a publicidade ampla dos atos processuais como garantia absoluta do indivíduo.
C) de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, com nova redação dada pela EC 45/2004, os atos processuais serão públicos, sob pena de nulidade, cabendo ao juiz limitar a presença, nas audiências, de partes e advogados.
D) a publicidade restrita é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade ampla é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão judicial no caso concreto.
E) a publicidade ampla é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade restrita é exceção e ocorre nas situações expressas em lei, dependendo de decisão judicial no caso concreto.
Gabarito letra e.
(FCC-TJGO-Juiz-2015) NÃO se trata de garantia processual expressa na Constituição da República:
A) a liberdade provisória.
B) a identificação do responsável pelo interrogatório policial.
C) a publicidade restrita.
D) o cumprimento da pena em estabelecimento distinto em razão da natureza do delito.
E) o duplo grau de jurisdição.
Gabarito letra e
Obs: CF art. 5º LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos
Previsão constitucional no Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Previsão legal no CPP:
Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.                     
§ 1o  São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.                  
§ 2o  Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.            
§ 3o  Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.                   
Assim, o art. 157 define que provas ilícitas são aquelas que violam tanto normas constitucionais como legais. 
A doutrina considera a existência do gênero prova proibida (vedada ou inadmissível), que possui como espécies: prova ilícita (violadora de direito material) e prova ilegítima (violadora de regra de direito processual). Esta distinção não tem acolhida pela CF e pelo CPP, que se limitam a indicar que prova que viole norma constitucional ou legal será prova ilícita.
	 DOUTRINA
	CF e CPP
	Prova proibida (vedada ou inadmissível)Prova ilícita: prova que viola normas constitucionais ou legais.
Art. 157 caput (CPP)
Art. 5º, LVI (CF)
	Prova ilícita: viola regra de direito material. 
	Prova ilegítima: viola regra de direito processual.
	
	Ex: confissão obtida mediante tortura.
	Ex: laudo pericial confeccionado por apenas um perito não oficial.
	
Provas ilícitas por derivação ou teoria dos frutos da árvore envenenada ou do efeito à distância ou fruits of the poisonous tree
Provas que decorrem de uma prova ilícita originária não podem ser utilizadas. Mas tal ilicitude somente restará caracterizada se houver demonstração do nexo causal entre as provas ou quando as derivadas não puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
Considera-se fonte independente aquela que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
Obs: jurisprudência vem admitindo a teoria da proporcionalidade (razoabilidade ou interesse predominante) na apreciação da prova ilícita, admitindo excepcionalmente a sua utilização em benefício do réu inocente que produziu tal prova para sua absolvição (pro reo), pois estaria agindo em legítima defesa ou estado de necessidade ou inexigibilidade de conduta diversa (a depender do doutrinador). 
Como o tema já foi cobrado em prova?
(Vunesp-TJSP-Juiz-2014) Dispõe o art. 5.º, inc. LVI, da Constituição Federal que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. Trata-se do “Princípio da vedação das provas ilícitas”, também invocado no art. 157 do Código de Processo Penal. Sobre este tema, assinale a opção que contenha assertiva falsa:
A) A reforma processual penal promovida pela Lei n.º 11.690/2008 distanciou-se da doutrina e jurisprudência pátrias que distinguiam as provas ilícitas das ilegítimas, concebendo como provas ilícitas tanto aquelas que violem disposições materiais como processuais.
B) São admissíveis as provas derivadas das ilícitas quando puderem ser obtidas por meio que por si só – seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal – seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
C) É praticamente unânime na doutrina e na jurisprudência pátrias o entendimento que não admite a utilização no processo penal da prova favorável ao acusado se colhida com infringência a direitos fundamentais seus ou de terceiros.
D) São admissíveis as provas derivadas das ilícitas quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras.
Gabarito letra c
Princípio da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo
Princípio constitucional evidenciado no art. 5º, LXXVIII da CF/88, com redação dada pela EC 45/04.
Cabe ao Estado dar a resposta jurisdicional no menor tempo e custo possíveis.
Consequências do princípio:
· Prisões cautelares devem persistir por tempo razoável
· Possibilidade de utilização de carta precatória itinerante (art. 355, §1º do CPP: Verificado que o réu se encontra em território sujeito à jurisdição de outro juiz, a este remeterá o juiz deprecado os autos para efetivação da diligência, desde que haja tempo para fazer-se a citação).
· Suspensão do curso do processo, havendo questão prejudicial é medida excepcional – somente quando há caso de difícil solução (art. 93 CPP: Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente).
Princípio do devido processo legal
Previsão no art. 5º, LIV da CF/88: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
Fundamenta a visão garantista do processo penal – como instrumento de efetivação dos direitos fundamentais do réu em face da força do Estado. O cidadão tem o direito de percorrer o trâmite legal do processo em todas as suas etapas e dispor de todos os tipos de defesa nos termos da lei.
É princípio base, que desencadeia outros princípios tais como contraditório, ampla defesa, juiz natural, dentre outros.
Possui duas acepções:
· Aspecto material ou substancial: reclama, no campo da aplicação e elaboração normativa, uma atuação substancialmente adequada, correta, razoável (substantive due processo of law).
· Aspecto processual ou procedimental: assegura a tutela de bens jurídicos por meios do devido procedimento (procedural due process).
Desta forma, não basta só a boa preleção das normas. É indispensável um instrumento adequado para sua aplicação: o processo jurisdicional.
A cláusula constitucional do due process of law - que se destina a garantir a pessoa do acusado contra ações eventualmente abusivas do Poder Público tem, no dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas ou ilegítimas, uma de suas projeções concretizadoras mais expressivas, na medida em que o réu tem o impostergável direito de não ser denunciado, de não ser julgado e de não ser condenado com base em elementos instrutórios obtidos ou produzidos com desrespeito aos limites impostos pelo ordenamento jurídico ao poder persecutório e ao poder investigatório do Estado. (STF, HC 69912, Min. Celso de Mello).
Princípio do nemo tenetur se detegere ou não autoincriminação
É princípio implícito que decorre do princípio de presunção de inocência, ampla defesa, direito ao silêncio.
Está previsto expressamente no Pacto de São José da Costa Rica (Art. 8º, 2, g: Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada).
Em razão deste princípio a jurisprudência majoritária do STJ e STF entendem que o acusado não está obrigado a participar de atividades probatórias que impliquem intervenções corporais, como realização de exames de DNA, grafotécnico ou bafômetro.
A banca CESPE considerou correta a seguinte assertiva: Se o teste em etilômetro (teste do bafômetro) for realizado voluntariamente, sem qualquer irregularidade, não haverá violação do princípio do nemo tenetur se detegere (direito de não produzir prova contra si mesmo), ainda que o policial não tenha feito advertência ao examinado sobre o direito de se recusar a realizar ao exame. O fundamento é que se a pessoa se submete voluntariamente não há violação do princípio. O que se busca evitar é a coação, a obrigatoriedade de submissão ao teste.
Atenção: o motorista não é obrigado a realizar o exame, que exige um comportamento positivo seu, respeitando-se a regra de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si, diferentemente do que ocorreria se fosse necessária apenas cooperação passiva (ex: reconhecimento pessoal).
O STJ já decidiu, ainda, sobre o tema que: não cabe habeas corpus preventivo sobre a realização de exame de alcoolemia (bafômetro), pois não se pode considerar como fundado receio o simples temor de, porventura, ter de se submeter ao exame ao trafegar pelas ruas em veículo automotor, sem a existência de procedimento investigatório.
Na prova para Promotor de Justiça MP-MS (2013) considerou-se correta a seguinte assertiva: O princípio nemo tenetur se detegere tem aplicação apenas em relação ao mérito do interrogatório, pois o réu tem o dever de informar seu nome e endereço, não sendo aplicável o direito ao silêncio, até porque o direito penal é dos fatos e não do autor.
Princípio da iniciativa das partes 
Também chamado de princípio da ação, princípio da demanda (ne procedat judex ex officio).
É princípio extraído do sistema acusatório, que garante a titularidade da ação penal pública por parte do Ministério Público e a possibilidade de oferecimento da ação penal privada subsidiária da pública, caso a ação penal pública não for intentada no prazo legal.
Isto é, o princípio veda que o juizdeflagre a ação penal de ofício, exigindo iniciativa do titular da ação penal.
Não mais se admite o processo judicialiforme (possibilidade de início da ação penal, nas contravenções penais, por meio do auto de prisão em flagrante por portaria expedida pelo delegado ou pelo juiz, de ofício ou a requerimento do MP) revogação tácita do art. 26 do CPP.
Consequência direta deste princípio é o princípio da correlação (ou congruência ou relatividade ou reflexão) entre a acusação e a sentença. O fato imputado ao réu na acusação (peça inicial) deve guardar perfeita correspondência com o fato reconhecido pelo juiz, na sentença.
Havendo necessidade de ampliação da tese acusatória, necessário o aditamento da peça inicial nos termos do art. 384 do CPP (mutatio libelli). O tema será visto com maior aprofundamento no caderno de sentença.
Exceções ao princípio:
· Procedimentos na execução penal, conforme dispõe o art. 195 da LEP (O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério Público, do interessado, de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conselho Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativo).
· Decisões referentes ao estado de liberdade do indivíduo: a exemplo da expedição de ordem de habeas corpus (Art. 654, §2º do CPP: Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal); e revogação da prisão preventiva (Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem). 
Princípio do duplo grau de jurisdição
Princípio que garante à parte o direito de reexame da causa por instância superior e que decorre:
· da própria estrutura do Poder Judiciário traçada pela Constituição, 
· da natural irresignação da parte
· da necessidade de controle dos atos estatais
· da “pressão” exercida sobre o magistrado de primeiro grau, que sabe que sua decisão sofrerá revisão por parte do Tribunal, composto por magistrados mais experientes
· do princípio da ampla defesa.
Vem consagrado expressamente no Pacto de São José da Costa Rica (art. 8º, 2, h: Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior).
Princípio do juiz imparcial
Decorre do princípio do juiz natural e aduz que, para que um juiz efetivamente atue no processo penal, além de estar investido na função jurisdicional do Estado, não deve ter vínculos subjetivos com o processo de molde a lhe tirar a neutralidade necessária para conduzi-lo com isenção.
O CPP prevê hipóteses de impedimento e suspeição (arts. 252 a 254) – o tema será visto com maior profundidade nos próximos cadernos.
Obs: Aplica-se ao promotor também – art. 258 do CPP.
Princípio da obrigatoriedade e princípio da indisponibilidade da ação penal pública
O princípio da obrigatoriedade da ação penal pública consiste no dever imposto à polícia judiciária e ao MP de, respectivamente, investigar e processar crimes desta espécie de ação penal. Isto é, os órgãos incumbidos da persecução criminal, estando presentes os permissivos legais, estão obrigados a atuar. A persecução criminal é de ordem pública, e não cabe juízo de conveniência ou oportunidade. Assim, o delegado de polícia e o promotor de justiça, como regra, estão obrigados a agir, não podendo exercer juízo de conveniência quanto ao início da persecução.
Decorre dos princípio da legalidade penal e da titularidade da ação penal pública exclusivamente pelo Ministério Público.
Atenção! Nos crimes de ação penal privada, quais sejam, naqueles em que a titularidade da ação foi conferida à própria vítima ou ao seu representante legal, o que vigora é o princípio oposto, ou seja, o da oportunidade, pois cabe a ela ou ao seu representante escolher entre dar início à persecução criminal ou não.
O princípio da obrigatoriedade é mitigado pelo instituto da transação penal (art. 76 da lei 9099/95) que consagra o princípio da discricionariedade regrada (ou da obrigatoriedade mitigada). Também mitigam o princípio os institutos da colaboração premiada, acordo de leniência e acordo de não persecução penal.
Obs: atenção para a novidade legislativa! O pacote anticrime positivou o acordo de não persecução penal:
2
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Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:    
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime;      
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);      
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.       
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.     
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:     
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e     
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.     
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor.
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade. 
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defensor.    
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal.    
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.      
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimentoda denúncia.     
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento.    
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.     
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo.  
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade.     
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.     
	PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE
	PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE LIMITADA
	PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE
	Diante dos permissivos legais, delegado e MP estão obrigados a atuar.
	Mesmo diante dos permissivos legais é possível deixar de oferecer denúncia, oferecendo a transação penal.
	Cabe à vítima ou ao seu representante optar pelo início ou não da persecução. 
	Aplicado na ação penal pública.
	Aplicado às infrações de menor potencial ofensivo (Lei 9099/95).
	Aplicado na ação penal privada.
Tabela adaptada do Curso de Direito Processual Penal Nestor Távora (2016)
Decorre do princípio da obrigatoriedade o princípio da indisponibilidade da ação penal pública, segundo o qual o MP fica proibido de desistir da ação penal instaurada (art. 42 do CPP: O Ministério Público não poderá desistir da ação penal) e, também, n~;ao poderá desistir dos recursos (art. 576 do CPP: O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto).
Atenção: não se exige que o MP recorra, mas uma vez interposto o recurso, não poderá dele desistir.
A indisponibilidade da ação pública é mitigada pela possibilidade de suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89, caput, da lei 9099/95.
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Princípio da oficiosidade
É o princípio segundo o qual as autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, sem necessidade de provocação ou de assentimento de outrem.
Aplica-se somente aos crimes de ação penal pública incondicionada.
Princípio da oficialidade
Consiste no fato de que a atividade persecutória será exercida, necessariamente, por órgãos oficiais do Estado, não sendo possível o particular exercê-la.
Aplica-se aos crimes de ação penal pública.
Atenção: não confunda oficiosidade e oficialidade:
	Princípio da Oficialidade
	Princípio da Oficiosidade
	A atividade persecutória deverá ser executada por órgão oficial do Estado.
	A atividade persecutória deverá ser iniciada de ofício por órgão oficial do Estado.
Princípio da autoritariedade
Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas (delegado de polícia e promotor ou procurador de Justiça).
Não se aplica aos crimes de ação penal privada.
Princípio da intranscendência ou pessoalidade
Decorre do princípio da culpabilidade (ninguém pode ser processado sem prova do dolo ou culpa).
O processo penal deve ser instaurado em face de quem cometeu o crime.
Princípio da vedação da dupla punição e do duplo processo pelo mesmo fato (ne bis in idem)
Consagrado expressamente no Pacto de São José da Costa Rica (Art. 8º, 4: O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos).
Princípio que impede que a pessoa seja processada e condenada duas vezes pelo mesmo fato. Implica, ainda, a impossibilidade de ser processado novamente pelo mesmo fato quando já foi absolvido com sentença transitada em julgado – ainda que surjam provas novas.
O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro.
O art. 5º do Código Penal afirma que a lei brasileira se aplica ao crime cometido no território nacional, mas ressalva aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito internacional”.
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) proíbem de forma expressa a dupla persecução penal pelos mesmos fatos.
Desse modo, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por idênticos fatos.
Vale, por fim, fazer um importante alerta: a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH.Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em persecução interna.
STF. 2ª Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).
Cuidado:
O STJ recentemente decidiu que:
A pendência de julgamento de litígio no exterior não impede, por si só, o processamento da ação penal no Brasil, não configurando bis in idem.
STJ. 6ª Turma. RHC 104.123-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/09/2019 (Info 656).
Para aprofundar
Litispendência e proibição do bis in idem
A litispendência guarda relação com a ideia de que ninguém pode ser processado quando está pendente de julgamento um litígio com as mesmas partes (eadem personae), sobre os mesmos fatos (eadem res) e com a mesma pretensão (eadem petendi). Trata-se da proibição do bis in idem.
 
Duas vertentes do bis in idem
Embora o ne bis in idem tenha origem mais ligada à sua vertente processual, é possível identificar duas vertentes:
a) ne bis in idem material: significa que o acusado tem o direito de não ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Impede que alguém seja, efetivamente, punido em duplicidade ou que tenha o mesmo fato, elemento ou circunstância considerados mais de uma vez para definir-se a sanção criminal.
b) ne bis in idem processual: assegura-se ao réu o direito de não ser processado duas vezes pelo mesmo fato. Assim, impede a formação, a continuação ou a sobrevivência da relação jurídica processual que esteja em duplicidade.
 
O princípio do ne bis in idem é previsto na legislação brasileira?
No Direito Brasileiro, embora ausente sua previsão na Constituição Federal (ao menos de modo explícito), pode-se identificar a influência do ne bis in idem, em maior ou em menor grau, na legislação ordinária, tal como ocorre no art. 8º do Código Penal, no art. 110 do CPP e no art. 82, V, da Lei de Migração.
A incorporação do princípio do ne bis in idem ao ordenamento jurídico brasileiro, ainda que sem o caráter de preceito constitucional, vem complementar o rol dos direitos e das garantias individuais já previsto pela Constituição Federal de 1988, em razão de que a interpretação constitucional sistemática leva à conclusão de que se impõe a prevalência do direito do indivíduo à liberdade em detrimento do poder-dever do Estado-juiz de acusar (STF. Plenário. HC 80.263/SP, Rel. Ministro Ilmar Galvão, DJ 27/6/2003).
 
Limites de aplicação do ne bis in idem
As mudanças ocorridas no Direito, principalmente a partir da universalização dos direitos humanos e da criação consensual de instâncias supranacionais para protegê-los e punir os responsáveis por suas violações, implicou a progressiva e lenta reestruturação do processo penal moderno para um modeloincriminatório universal, em que as fronteiras não sejam obstáculo para a justiça ou refúgio para a impunidade.
Uma dessas mudanças diz respeito aos limites de aplicação do ne bis in idem, a um primeiro olhar mais restritos, quando aplicados no âmbito da jurisdição transnacional do que em sua corrente incidência dentro de cada ordenamento jurídico.
Nesse contexto, pela análise de normativas internacionais incorporadas e vigentes no ordenamento jurídico brasileiro, constata-se a regra de que é a sentença definitiva oriunda de distintos Estados soberanos – e não a existência de litígio pendente de julgamento – que pode obstar a formação, a continuação ou a sobrevivência da relação jurídica processual que configuraria a litispendência.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A pendência de julgamento de litígio no exterior não impede, por si só, o processamento da ação penal no Brasil, não configurando bis in idem. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/42299f06ee419aa5d9d07798b56779e2>. Acesso em: 30/01/2020
Princípio do impulso oficial
Uma vez iniciada a ação penal, o juiz tem o dever de promover seu andamento até a sua etapa final, de acordo com o procedimento previsto em lei, proferindo decisão.
Relaciona-se com os princípios da obrigatoriedade e da indeclinabilidade da ação penal.
Consagrado no art. 251 do CPP: 
Art. 251.  Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública.
Aplica-se à ação penal privada – contudo, havendo paralisação injustificada pelo autor opera-se a perempção.
Princípio da comunhão ou aquisição da prova
Uma vez produzida, a prova pertence ao juízo e pode ser utilizada por qualquer das partes e pelo juiz, ajudando na busca da verdade – mesmo que tenha sido requerida por apenas uma das partes.
Parte da doutrina defende que não há comunhão da prova antes de sua colheita, somente ocorrendo após sua efetiva produção: o que justifica a possibilidade de desistência de iotiva de testemunha arrolada por uma das partes, por exemplo.
Art. 401, §2º do CPP: A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das testemunhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209.
Art. 209.  O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes.
Neste sentido, no concurso do MPMG (2017) considerou-se correta a assertiva: A possibilidade de dispensa unilateral da testemunha é corolário do sistema acusatório, ressalvado o interesse do juiz na oitiva.
Obs: parte da doutrina defente que tal dispositivo deve ser lido com temperamento, pois se a parte contrária insistisse no depoimento da testemunha, ela deveria ser ouvida.
Princípio da persuasão racional ou livre convencimento motivado
O juiz forma seu convencimento de forma livre, mas deve fundamentá-lo no momento em que prolatar qualquer tipo de decisão.
Decorre da exigência constitucional de que toda decisão judicial seja fundamentada:
Art. 93, IX da CF/88: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.
Existe direta relação entre a obrigatoriedade de motivação das decisões e o sistema do livre convencimento do juiz, adotado pelo art. 155, caput, do CPP. Deste modo, a fundamentação, no processo penal, deve se apoiar nos elementos produzidos perante o contraditório judicial:
Art. 155.  O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Exceção: no Tribunal do Júri vale o princípio da íntima convicção dos jurados, no sentido de que não necessitam fundamentar seu voto (nem poderiam, ante o sigilo da votação).
Obs: sobre motivação, para maior aprofundamento, consultar o caderno que trata sobre sentenças.
Princípio da lealdade processual
É o princípio que consiste no dever de verdade, vedando-se o emprego de meios fraudulentos (ilícitos processuais).
Não se encontra expresso no CPP, mas destaque-se que a fraude destinada a produzir efeitos em processo penal foi tipificada como crime no Código Penal (art. 347).
Fraude processual
Art. 347 CP - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
O abuso no direito de litigar fere o dever de lealdade processual. Nesse sentido já entendeu o STF:
O Tribunal resolveu questão de ordem suscitada em ação penal — movida pelo Ministério Público Federal contra diversas pessoas acusadas da suposta prática de crimes ligados ao esquema denominado “Mensalão” — no sentido de indeferir todos os requerimentos formulados pela defesa de um dos denunciados, e determinou, por maioria, que se encaminhe à Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, para a consideração que mereça, cópia do acórdão, das notas taquigráficas e das peças indicadas pelo Min. Joaquim Barbosa, relator. Tratava-se de treze pedidos, contidos em petições de agravo regimental, nos quais se sustentava a existência de inúmeras nulidades que teriam causado prejuízo ao exercício da ampla defesa e contaminado todo o processo, desde os interrogatórios dos réus. Entendeu-se que os pedidos seriam totalmente improcedentes, consubstanciando abuso do poder de litigar, com o objetivo de impedir o trâmite regular do processo. No ponto, a Min. Ellen Gracie observou que a tentativa de obstaculizar o andamento processual, tal como no caso, seria, em qualquer tribunal do mundo, rechaçada como contempt of court, tendo o Min. Cezar Peluso afirmado ser lamentável o fato de o Código de Processo Penal não ter uma disciplina específica para punir aquilo que é ilícito porque viola o dever jurídico de lealdade processual. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello, que consideravam não se justificar o encaminhamento à OAB, no momento, por não vislumbrar a existência de dano processual. (AP 470 Quinta QO/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 8.4.2010).
No livro do prof. Nestor Távora, trata-se no princípio da cooperação processual. Transcrevemos trecho:
O contraditório reconhece a necessidade de participação das partes. No processo penal, as peculiaridades do sistema acusatório e das regras quanto ao ônus probatório, mitigam, em certa medida, a ideia de um princípio da cooperação processual, adotado expressamente pelo Novo Código de Processo Civil (art. 6º, NCPC). Não é de se esperar que o acusado, no processo penal, coopere alertando sobre eventuais irregularidades de atos processuais, mesmo estando ciente que, ao final, haverá probabilidade de prolação de decisão contrária aos seus direitos ou mesmo que cerceie sua liberdade. Ao contrário, a defesa do acusado tem interesse tanto em refutar o mérito da ação condenatória, quanto em apresentar objeções protelatórias, mormente em face do princípio consistente no fato de que ninguém deve ser compelido a se descobrir (nemo tenetur se detegere ou vedação à autoincriminação).
Mas, na linha do que se tem verificado na jurisprudência em matéria criminal, notadamente diante da relativização de nulidades processuais provocadas ou não suscitadas oportunamente pelas partes, tem-se entendido pela necessidade de cooperação mútua de todos os envolvidos, tal qual um sistema de corresponsabilidade (art. 5º e 6º, NCPC).
Princípio da indivisibilidade da ação penal privada
Previsão no art. 48 do CPP:
Art. 48.  A queixacontra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
Segundo este princípio, não pode o ofendido escolher contra qual agente oferecerá ação penal privada. Visa a evitar a vingança privada.
Para o STF a ação penal pública, por outro lado, é regida pelo princípio da divisibilidade, pois o MP pode a qualquer tempo (até a sentença) incluir novos agentes por meio de aditamento à denúncia.
Princípio da busca da verdade
Superação do dogma da verdade real, segundo o qual, estando em discussão a liberadade de locomoção do acusado, direito indisponível, o magistrado seria dotado de amplos poderes instrutórios, podendo determinar a produção de provas de ofício, sempre na busca da verdade material (substancial ou real).
Contudo, atualmente, não mais subsiste a dicotomia entre verdade material e formal, eis que é impossível que se atinja uma verdade absoluta. O que há é uma aproximação maior ou menor da certeza dos fatos, devendo-se buscar a maior exatidão possível na reconstituição do fato controverso. 
Prevalece, portanto, na doutrina mais moderna, que o princípio que vigora no processo penal é o da busca da verdade, cujo fundamento legal consta do art. 156 do CPP:
Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:                     
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;                    
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Segundo este artigo, admite-se que o magistrado produza provas de ofício, porém apenas na fase processual, devendo sua atuação ser sempre subsidiária, complementar. 
A busca pela verdade sofre restrições, tais como a inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos; impossibilidade de apresentação de documentos e objetos no Tribunal do Júri se não houverem sido juntados com antecedência mínima de 3 dias; descabimento de revisão crimnal contra sentença absolutória transitada em julgado, ainda que surjam novas provas contra o acusado. 
Obs: no âmbito dos juizados especiais criminais a busca da verdade processual cede espaço à prevalência da vontade convergente das partes. Pela composição não há necessidade de verificação da veracidade dos fatos, o conflito é solucionado por meio de um acordo de vontade. Doutrina denomina: verdade consensuada. 
Como isso já foi cobrado em prova?
(PC-RJ – Delegado-2012) A Constituição adotou um processo penal com cariz acusatório. Nesse contexto, a entrega da função de polícia judiciária a órgãos policiais é fundamental para a efetivação de tal sistema, como fez o art. 144 da CRF/1988. Ao lado disso, a presunção de inocência se irradia para o campo probatório. Já o artigo 156 do CPP, dispõe: A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Com efeito, marque a resposta INCORRETA.
A) Para parte da doutrina, o inciso I do art. 156 do CPP é inconstitucional por transferir para o juiz as funções típicas doDelegado de Polícia.
B) Parte da doutrina sustenta que a natureza jurídica da prova é de um direito correlato ao direito de ação e de defesa, sendo atividade própria das partes e não do órgão jurisdicional, portanto, o inciso II do art. 156 do CPP seria inconstitucional.
C) Em razão da presunção de inocência, o ônus da prova no processo penal é da acusação.
D) É pacífico que no processo penal brasileiro existe o princípio da verdade real, que está consagrado no art. 156 do CPP, justificando a atividade investigatória e probatória do juiz.
E) A presunção de inocência possui axiologia tridimensional , atuando como regra de tratamento, regra de julgamento e regra de garantia.
Gabarito: letra d.
Revisão por questões:
(	) O princípio da ampla defesa implica que a defesa técnica seja indisponível e efetiva. Assim, o Supremo Tribunal Federal tem entendimento consolidado de que a deficiência da defesa constitui nulidade absoluta, que independe da constatação de prejuízo para o réu (MPDFT/2011).
(	) a deficiência ou a falta de defesa, no processo penal, constituem nulidade absoluta, independentemente da prova de prejuízo para o réu (MPAL/2012).
(	) o inquérito policial está, obrigatoriamente, sujeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa (MPSP/2005).
(	) a ampla defesa desdobra-se em autodefesa e defesa técnica, sendo a primeira exercida pessoalmente pelo acusado e a segunda por profissional habilitado, com capacidade postulatória e conhecimentos técnicos (TJPE/2013).
(	) Por meio de um juízo de ponderação de interesses, a garantia constitucional da inadmissibilidade da prova ilícita pode ser afastada a fim de permitir, no caso concreto, a prevalência do interesse público consubstanciado na eficácia da repressão penal (MPSP/2019).
(	) São princípios constitucionais processuais penais explícitos e implícitos, respectivamente: não culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração razoável do processo; e não autoacusação (ou nemo tenetur se detegere) e paridade de armas (TJSP/2018).
(	) O processo penal brasileiro tem um sistema probatório informado por variados princípios, dentre eles o do contraditório, estabelecendo ciência bilateral que visa contrariar afirmações por meio da produção de provas e estando intimamente relacionado à noção de defesa técnica. Nesse contexto, inclui-se o direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo, tal como a participação em momento de reconhecimento de pessoas (TJRN/2018).
(	) O art. 20, do CPP, que garante o sigilo das investigações no inquérito policial, não foi recepcionado pela Constituição Federal, que previu expressamente o princípio da publicidade (MPSP/2018).
Gabarito: E – E – E – C – E – C – E – E 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Processo Penal – parte geral. Coleção Sinopses para concursos. 8ª edição. Salvador: Juspodivm. 2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmulas do STF e STJ anotadas e organizadas por assunto. 4ª edição. Salvador: Juspodivm. 2018.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Dizer o Direito.
DEZEM, Guilherme Madeira. Curso de Processo Penal. 2ª Edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2016.
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 7ª edição. Salvador: Juspodivm. 2019.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 15ª edição. Rio de Janeiro: Forense. 2016.
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 21ª Edição. São Paulo: Atlas. 2017.
TÁVORA, Nestor e ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 11ª Edição. Salvador: Juspodivm. 2016.
Notas de aula Curso Ênfase carreiras estaduais, Prof. Marcelo Machado. 2019.
Ampla defesa
Defesa técnica (processual ou específica)
Autodefesa (material ou genérica)
Direito de audiência
Direito de presença
Capacidade postulatória autônoma

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