Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT APRESENTAÇÃO Conteúdo selecionado e disponibilizado pelo professor Antônio Henrique Maia Lima para a disciplina de Fatos e Negócios Jurídicos da Faculdade Mato Grosso do Sul (FACSUL). Esta apostila é um instrumento de auxílio aos estudos não substituindo de forma alguma o referencial teórico básico e complementar apresentado como guias da disciplina. Tampouco a presente apostila será ou servirá como único referencial para a elaboração de avaliações ao longo do semestre. É da ciência de todos os alunos que o professor fica totalmente desobrigado de utilizá-la para a elaboração de questões, podendo, no entanto, fazê-lo. Eventuais inconsistências ou erros de digitação no presente compêndio podem ser informados através dos e-mails: henrick_maia@hotmail.com e ahenriquemaia@gmail.com. O instrumento será atualizado e reenviado a todos. I – DOS FATOS COMUNS E DOS FATOS JURÍDICOS Todo acontecimento da vida é um fato, todo fato é único no tempo e no espaço, de sorte que, por mais que fatos sejam idênticos, são, também, independentes. Ocorre que, a partir do momento que um fato, por mais banal que possa parecer tiver alguma relevância para o mundo do direito ele deixa de ser um simples fato (Fato Comum) e passa a ser um Fato Jurídico. Assim, podemos sem medo afirmar que, o que torna um “fato” “fato jurídico” é a produção de “efeitos” jurídicos. O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e extingue-se. Essas fases ou momentos decorrem de fatos jurídicos, exatamente por produzirem efeitos jurídicos. Somente o acontecimento da vida relevante para o direito, mesmo que seja fato ilícito, pode ser considerado fato jurídico. Nessa ordem, exemplifica Caio Mário: “a chuva que cai é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, dentro da normal indiferença da vida jurídica, o que não quer dizer que, algumas vezes, este mesmo fato não repercuta no campo do direito, para estabelecer ou alterar situações jurídicas”. O raciocínio é o seguinte: o fato de chover é um fato comum, pois ele em si não nos interessa juridicamente, porém, o fato de chover ao ponto de fazer com que uma rua alague é um fato jurídico, pois os efeitos jurídicos do alagamento são soberanos. No mínimo, o Estado experimentará um ônus com esse alagamento, nem que seja somente pela necessidade de limpeza da rua, pós-chuva. Isso implica em movimentação da máquina pública, em movimentação do erário público, etc. Logo, há efeitos para o direito. Por outro lado, particulares também podem sofrer prejuízos, como, por exemplo, um muro que cai, uma calçada que se despedaça, etc. Se o fato gera efeitos jurídicos, isto é, faz nascer, faz modificar ou faz extinguir um direito, ele é um fato jurídico. Logo, é oportuno dizer que todo fato, para ser considerado jurídico, deve passar por APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT um juízo de valoração, que avaliará justamente a extensão desses efeitos. I.I - FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO Todo acontecimento da vida que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do direito. Para ser erigido à categoria de fato jurídico basta que esse fato do mundo — mero evento ou conduta — seja relevante “à vida humana em sua interferência intersubjetiva, independentemente de sua natureza. Tanto o simples evento natural como o fato do animal e a conduta humana podem ser suporte fático de norma jurídica e receber um sentido jurídico”. I.i.a Classificação dos Fatos Jurídicos em sentido amplo (latu sensu): Naturais: decorrem da natureza. Exemplo: um raio, um incêndio, um terremoto. Humanos: decorrem da ação do homem. Essa ação humana pode ser: voluntária, quando os efeitos jurídicos são desejados pelo agente (atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos); ou, involuntário, quando os efeitos não são desejados pelo agente, o melhor exemplo é o do ato ilícito culposo. Efeitos dos fatos jurídicos em sentido amplo: aquisição, conservação, transferência, modificação e extinção de direitos. Exemplo: um contrato, um crime. I.i.b Classificação dos Fatos Jurídicos Naturais Ordinários: como o nascimento e a morte, que constituem respectivamente o termo inicial e final da personalidade, bem como a maioridade, o decurso do tempo, todos de grande importância, e outros. Os FJ ordinários estão dentro do espectro da previsibilidade, da probabilidade, da possibilidade, da normalidade. Extraordinários: que se enquadram, em geral, na categoria do fortuito e da força maior: terremoto, raio, tempestade etc. Caso fortuito e força maior Para a corrente tradicional: caso fortuito é o evento extraordinário e inesperado decorrente da ação humana e força maior é o evento extraordinário e inesperado decorrente da natureza. Se tomarmos ambos como sinônimos temos o conceito de que são fatos ou eventos imprevisíveis ou de difícil previsão, que não podem ser evitados, mas que provocam consequências ou efeitos para outras pessoas, porém, não geram responsabilidade nem direito de indenização. O maior expoente dessa corrente é Orlando Gomes. Muitos doutrinadores tratam os institutos como se fossem sinônimos, até hoje há divergências a respeito do tema, mas o Código Civil não fez distinção entre os termos e adotou a seguinte definição: APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. Numa classificação quanto à origem do fato (tributária do Direito Romano) temos que os casos fortuitos são aqueles que se originam da natureza e a força maior é aquela que a fraqueza humana não pode resistir (vis major est cui humana infirmitas resistire non potest). Um fato imprevisível, resultante da ação humana, gerando efeitos jurídicos, independente da vontade das partes. “ a força maior evidencia um acontecimento resultante do ato alheio (fato de outrem) que sugere os meios de que se dispõe para evita-lo, isto é, além das próprias forças que o indivíduo possua para se contrapor, sendo exemplos: guerra, greve, revolução, invasão de território, sentença judicial específica que impeça o cumprimento da obrigação assumida, desapropriação etc.” Ou seja, todos os atos ou ações humanas que se tornem obstáculos a outrem, impedindo-os de agir ou cumprir com seus direitos ou deveres” (Orlando Cecco, 1981) Quanto à previsibilidade, de maneira breve e simples, podemos dizer que o caso fortuito é o evento que não se pode prever e que não podemos evitar. Já os casos de força maior seriam os fatos humanos ou naturais, que podem até ser previstos, mas da mesma maneira não podem ser impedidos; por exemplo, os fenômenos da natureza, tais como tempestades, furacões, raios, etc ou fatos humanos como guerras, revoluções, e outros. Cabe ressaltar que o tema é bastante polêmico e a doutrina possui diversos conceitos para cada um deles ou para os dois quando considerados expressões sinônimas. Ver no Código Civil os artigos: 246, 393, 399, 575, 583, 667 e 868. A exceção dos art. 575, 667 e 868 todos os demais o caso fortuito e a força maior se equivalem quanto aos seus efeitos. Nestes três últimos, no entanto, o caso fortuito é tratado em separado, por se tratarem de realizações eminentemente humanas. Daí deduzir que caso fortuito para o Código Civil diz respeito às ações humanas e os de força maior dizemrespeito à ocorridos da natureza. I.i.c Classificação dos Fatos Jurídicos Humanos ou atos jurídicos em sentido amplo Os fatos humanos ou atos jurídicos em sentido amplo são ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos e dividem-se em: Lícitos: atos humanos a que a lei defere os efeitos almejados pelo agente. Praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários, queridos pelo agente; Ilícitos: por serem praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT produzem efeitos jurídicos involuntários, mas impostos por esse ordenamento. Em vez de direito, criam deveres, obrigações. Hoje se admite que os atos ilícitos integram a categoria dos atos jurídicos pelos efeitos que produzem (são definidos no art. 186 e geram a obrigação de reparar o dano, como dispõe o art. 927, ambos do CC). I.i.d Classificação dos atos jurídicos ilícitos: Absoluto: não existe relação jurídica pretérita entre o ofensor e o ofendido. É oponível erga omnes. Exemplo: uma batida de carro, uma morte que decorre de acidente de trânsito, etc. Relativo: existe relação jurídica pretérita entre o ofensor e o ofendido. Exemplos: devedor que não paga a dívida em dia, marido que abandona o lar. I.i.e Classificação dos atos jurídicos lícitos: Fato jurídico humano em sentido estrito (strictu sensu) ou atos jurídicos ou meramente lícitos: o efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei, como ocorre com a notificação, que constitui em mora o devedor, o reconhecimento de filho, a tradição, a percepção dos frutos, a ocupação, o uso de uma coisa etc., não havendo, por isso, qualquer dose de escolha da categoria jurídica. A ação humana se baseia não numa vontade qualificada, mas em simples intenção, como quando alguém fisga um peixe, dele se tornando proprietário graças ao instituto da ocupação ou do assenhoramento. O ato material dessa captura não demanda a vontade qualificada que se exige para a formação de um contrato. Por essa razão, nem todos os princípios do negócio jurídico, como os vícios do consentimento e as regras sobre nulidade ou anulabilidade, aplicam-se aos atos jurídicos em sentido estrito não provenientes de uma declaração de vontade, mas de simples intenção (CC, art. 185). Ato-fato jurídico: ressalta-se a consequência do ato, o fato resultante, sem se levar em consideração a vontade de praticá-lo. Muitas vezes, o efeito do ato não é buscado nem imaginado pelo agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como no caso da pessoa que acha, casualmente, um tesouro. A conduta do agente não tinha por fim imediato adquirir-lhe a metade, mas tal acaba ocorrendo, por força do disposto no art. 1.264 do Código Civil, ainda que se trate de um absolutamente incapaz. É que há certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente, demandando apenas o ato material de achar. Assim, o louco, pelo simples achado do tesouro, torna-se proprietário de parte dele. Negócio jurídico: Segundo Flávio Tartuce: “toda ação humana de autonomia privada, com a qual os particulares regulam entre si os próprios interesses, havendo uma composição de vontades, cujo conteúdo deve ser LÍCITO”. Francisco Amaral: declaração de vontade privada destinada a produzir efeitos que o agente pretende e o direito reconhece. Tais efeitos são a constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas, de modo vinculante, obrigatório para as partes intervenientes. o negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada, e o contrato é o seu símbolo. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Miguel Reale, por sua vez, preleciona que tais atos “não se confundem com os atos jurídicos em sentido estrito, nos quais não há acordo de vontade, como, por exemplo, se dá nos chamados atos materiais, como os da ocupação ou posse de um terreno, a edificação de uma casa no terreno apossado etc. Um contrato de compra e venda, ao contrário, tem a forma específica de um negócio jurídico... I.II DO NEGÓCIO JURÍDICO I.ii.a: Objetivo: eleger os efeitos jurídicos produzidos pela manifestação de vontade, dentro das possibilidades da lei, daí o caráter lícito. I.ii.b Finalidade do negócio jurídico negocial: No negócio jurídico, a manifestação da vontade tem finalidade negocial, que abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos. I.ii.c Da aquisição de direitos Ocorre a aquisição de um direito com a sua incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular. Pode ser originária ou derivada. Classificação quanto à origem Originária: quando se dá sem qualquer interferência do anterior titular. Ocorre, por exemplo, na ocupação de coisa sem dono (res derelicta ou res nullius — CC, art. 1.263), na avulsão (art. 1.251) etc. Res derelicta: (coisa abandonada): art. 1263 CC. A renúncia à propriedade da res acarreta a situação de abandono, que habilita a ocupação, um dos modos originários de aquisição da propriedade. É necessária a intenção do dono de deixar a coisa, que pode ser tácita. Há a presunção que havia um proprietário anterior, a coisa embora abandonada ou esquecida pertencia a alguém. Por exemplo: um cachorro que se encontra em abrigo para adoção, presume-se que o dono anterior não mais manifesta interesse em possuí-lo, pois tacitamente deixou de agir como se proprietário fosse do bichinho. Res nullius (coisa de ninguém): art. 1251 CC. Não se confunde com res publica (coisa pública). Não há proprietário anterior, pelo menos determinável. Exemplos: caça à solta, peixes no mar ou no rio, etc. As res nullius podem vir a ser propriedade de alguém, pois se acham à disposição de quem as encontrar ou apanhar. Por exemplo, uma porção de peixes pescada em uma lagoa. Deve-se levar em conta que essa apropriação possa ser regulamentada em lei (ex.: leis de proteção ambiental, leis de restrição de pesca, como a Piracema), o que consistiria em ato ilícito. Derivada: quando decorre de transferência feita por outra pessoa. Nesse caso, o direito é adquirido com todas as qualidades ou defeitos do título anterior, visto que ninguém pode transferir mais direitos do que tem. A aquisição se funda numa relação existente entre o sucessor e o sucedido. O contrato de compra e venda é o grande exemplo de aquisição derivada. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Inter vivos (entre pessoas vivas): destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes vivas. Como é o caso da promessa de compra e venda. Causa mortis (em decorrência da morte): negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente. Exemplo: testamento. Classificação quanto à extensão Título singular: ocorre no tocante a bens determinados, abrangendo uma parte do todo patrimonial. Título universal: quando o adquirente sucede o seu antecessor na totalidade dos seus direitos. É o caso do herdeiro legítimo universal. Classificação quanto à forma Gratuita: quando só o adquirente aufere vantagem. Exemplo: herança/doação. Onerosa: se exige do adquirente uma contraprestação, possibilitando a ambos os contratantes a obtenção de benefícios. Exemplo: compra e venda, locação etc. I.ii.d Da conservação de direitos Para resguardar ou conservar seus direitos muitas vezes necessita o titular tomar certas medidas ou providências preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais. As relações econômicas e sociaistornam inevitável e constante o conflito de interesses e a violação de direitos. Finalidade negocial Quanto à incorporação ao patrimônio originária derivada quanto à s vantagens patrimoniais gratuita onerosa Quanto à extensão a título singular a título universal Aquisição APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Classificação Preventiva: visam garantir e acautelar o direito contra futura violação. Podem ser de natureza extrajudicial, para assegurar o cumprimento de obrigação creditícia, por exemplo, como as garantias reais (hipoteca, penhor, alienação fiduciária em garantia etc.) e as pessoais (fiança, aval), bem como de natureza judicial, correspondentes às medidas cautelares previstas no Código de Processo Civil (arresto, sequestro, caução, busca e apreensão, protesto, notificação, interpelação etc.). Repressiva: visam restaurar o direito violado. A pretensão é deduzida em juízo por meio da ação. Ao Poder Judiciário compete dirimir os conflitos de interesses, salvo as hipóteses de escolha pelas partes do sistema de mediação e arbitragem. A todo direito deve corresponder uma ação que o assegure. Nessa linha, dispõe a Constituição Federal que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV). Autotutela ou defesa privada: só é admitida excepcionalmente, porque pode conduzir a excessos. É prevista no art. 188, I e II, do Código Civil, concernentes à legítima defesa, ao exercício regular de um direito e ao estado de necessidade, e no capítulo da posse, em que se permite ao possuidor fazer uso da legítima defesa e do desforço imediato, para manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo e não se exceda (art. 1.210, § 1º). I.ii.e Da modificação de direitos Os direitos subjetivos nem sempre conservam as características iniciais e permanecem inalterados durante sua existência. Podem sofrer mutações quanto ao seu objeto, quanto à pessoa do sujeito e, às vezes, quanto a ambos os aspectos. A manifestação da vontade, com finalidade negocial, pode objetivar não apenas a aquisição e a conservação de direitos, mas também sua modificação. Finalidade negocial Medidas de caráter preventivo Extrajudicial Judicial visam acautelar o direito Medidas de caráter repressivo Judicial Defesa privada ou autotutela visam restaurar o direito violado Conservação do direito APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT “Sem sacrifício de sua integridade específica e lógica, os direitos são suscetíveis de modificação, quer em relação aos seus respectivos titulares, quer em relação ao seu conteúdo. Essa modificação pode ocorrer, seja para elevar a intensidade da eficácia do negócio jurídico, seja para diminuí-la, enquanto que se pode encontrar igualmente uma categoria que não implique nem em aumento nem em diminuição dessa eficácia, como no caso de apenas ser alterada a cláusula referente ao lugar da execução da obrigação”(SERPA LOPES). Classificação Objetiva: quando diz respeito ao seu objeto. Qualitativa: o conteúdo ou a qualidade do direito se converte em outra espécie, sem que aumentem ou diminuam as faculdades do sujeito. Por exemplo, o pagamento de dívida que deveria ser feita em dinheiro, mas o credor concorda em receber um objeto de valo estimado igual ao do montante debitório. Quantitativa: o objeto aumenta ou diminui no volume ou extensão, sem também alterar a qualidade do direito. Por exemplo: quando um terreno à beira rio tem acréscimo em decorrência da aluvião ou a amortização de débito (caixa econômica). Subjetiva: quando se altera pessoa do titular, permanecendo inalterada a relação jurídica primitiva. Causa mortis: desaparece o titular do direito (morre), que se transmite aos herdeiros com a morte do de cujus. Inter vivos: O titular se modifica assumindo a posição uma pessoa viva. É o caso da cessão de crédito, quando o credor transfere sua posição ativa no vínculo obrigacional a um cessionário que passa a fazer as vezes do credor originário. Também serve de exemplo a alienação, quando o alienante “troca de posição” com terceiro exterior à relação que assume as obrigações com a concordância do credor. A relação jurídica, porém, permanece a mesma. Direitos personalíssimos ou intuitu personae: dizem respeito à personalidade do indivíduo e são, portanto, insuscetíveis de modificação subjetiva, como sucede com os direitos de família puros. Ver art. 11 do CC/2002. Exemplos, direito à honra, ao corpo do morto, à imagem, à privacidade, etc. I.ii.f Da extinção de direitos Por diversas razões podem extinguir-se os direitos. Costumam ser mencionadas, dentre outras, as seguintes: o perecimento do objeto sobre o qual recaem, alienação, renúncia, abandono, falecimento do titular de direito personalíssimo, prescrição, decadência, confusão, implemento de condição resolutiva, escoamento do prazo, perempção da instância e desapropriação. Extinção significa destruição da relação jurídica, é absoluta, ou seja, as faculdades jurídicas não serão exercidas nem pelo sujeito atual, e nem por outro qualquer. Exemplo o pagamento integral de uma dívida para o credor, ela deixará de existir, pois não se transferirá para outro sujeito. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Classificação Objetiva: perda ou perecimento do objeto sobre o qual recaem. Exemplo: duas pessoas estejam discutindo a propriedade de um cavalo de corrida, se este cavalo morrer, extinguirá qualquer direito que os titulares possam exercer sobre o bem. Ex-cônjuges disputando a guarda de um filho, se este vier a falecer extingue-se o direito de ambos os titulares. Subjetiva: quando o titular do direito, por alguma razão, não pode mais exercer o direito subjetivo. Exemplo. o direito de alcançar o reconhecimento da paternidade pelo filho, somente pode ser exigido, enquanto este filho estiver vivo, se o filho morrer, extingue-se o direito de reconhecer a paternidade, já que é uma ação personalíssima. Do mesmo modo o direito de exigir alimentos de um filho em relação ao pai, se o filho morre, morre com ele o direito de exigência. Vínculo jurídico: o liame que liga o titular ao direito perece. É o caso da prescrição e da decadência. Por exemplo, do titular de um título de crédito já prescrito, ou seja, de um cheque vencido há mais de 03 (três) anos, o titular/credor do cheque, ainda, tem o direito natural de receber o débito, que é o objeto, contudo, o ordenamento jurídico não mais lhe garante os meios para que ele possa cobrar referida dívida do emitente do cheque. Ou das ações trabalhistas (até dois anos), passado esse tempo o direito preclui. Modos de extinção de direitos Alienação: negocia-se o direito em função de terceiro. Exemplo, venda, permuta, doação, etc. Renúncia: quando o titular atual de um direito declara sua vontade de desfazer dele, sem transferir a quem quer que seja. É ato de vontade unilateral (abdicativa), já que não precisa da concordância Finalidade negocial Objetiva Perecimento do objeto Subjetiva Morte do titular Vínculo jurídico perecimento da pretensão Extinção de direitos APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT de outras pessoas ou quando se nomeia um favorecido (translativa) este precisa aceitar. É irrevogável. O exemplo mais comum é a renúncia à herança, também o locador que renuncia à garantia (fiador ou avalista). Perecimento do objeto: O perecimento do objeto é um dos fatos extintivosque atingem o direito na própria substância. Quando se dá o perecimento do objeto, o próprio bem acaba, e se perde para tanto para seu titular, como para qualquer outro, ou seja, não existe possibilidade de transferi-lo. Normalmente advém de fatos originados pela natureza, tais como enchentes, terremotos, raios, etc., ou através da próprio destruição pelo ser humano. Prescrição: ocorre a perda, em função do tempo, da relação jurídica existente entre o sujeito e o objeto, apesar de os dois ainda existirem, o sujeito perde os meios legais de fazer exercer o seu domínio. Exemplo do cheque prescrito, ainda há o direito natural (teorético) do possuidor do título de receber a quantia, porém, o próprio título perdeu sua eficácia e exequibilidade. O direito subsiste, portanto, e pode ser exigível por outros meios, seria o caso de Ação Monitória. Art. 205 do CC: a prescrição ocorre em 10 anos quando a lei não houver lhe fixado prazo menor. Decadência: neste caso, ocorre a perda do direito em si pelo decurso do tempo, é o caso das ações trabalhistas e da maioria dos crimes em espécie, por exemplo: um crime cuja pena máxima seja superior a 12 anos, prescreve em 20 anos, transcorrido esse lapso temporal, extingue-se para o estado o direito de condenar e punir o agente. Desapropriação: quando sob os mandamentos do interesse público o agente público substitui de forma coativa o sujeito titular do direito. O direito do expropriado passa a incidir no preço, transferindo-se, com seu conteúdo primitivo, ao expropriante. Verifica-se, assim, extinção subjetiva com a substituição do titular do direito de propriedade. Morte do titular: no caso de direitos personalíssimos, que são intransferíveis e inalienáveis. Caducidade: extinção de um direito como consequência legal de um ato do titular. Exemplos: Art. 554/CC: a doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente. Art. 1.124/CC na falta de prazo estipulado em lei ou em ato do poder público, será considerada caduca a autorização se a sociedade não entrar em funcionamento nos doze meses seguintes à respectiva publicação. E ainda a perda do pátrio poder nos casos de negligência do progenitor. Nascimento de direito incompatível que suplanta o direito preexistente: o caso da usucapião. Surge um direito que suplanta o direito do proprietário do bem usucapido. Confusão: Art. 381 do CC/2002: quando se confundem as pessoas do credor e do devedor a ponto de não se poder definir mais quem deve o quê a quem. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT I.III CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO I.iii.a Teoria Dualista do Negócio Jurídico A respeito da classificação do negócio jurídico como sendo, via de regra, bilateral existe alguma divergência na doutrina. O Código Civil de 2002 adota a posição dualista, com referência expressa a o s negócios e aos atos jurídicos lícitos. Segundo Moreira Alves, é na disciplina dos negócios jurídicos que a Parte Geral apresenta maiores alterações em face do anterior. O novo Código substituiu a expressão genérica ato jurídico, que era empregada no art. 81 do diploma anterior, pela designação específica negócio jurídico, aplicando a este todos os preceitos do Livro III da Parte Geral. E, no tocante aos atos jurídicos lícitos que não são negócios jurídicos, abriu-lhes um título, com artigo único, em que se determina, seguindo a orientação adotada no art. 295 do Código Civil português de 1966, que se lhes apliquem, no que couber, as disposições disciplinadoras do negócio jurídico. No negócio jurídico, há uma composição de interesses, um regramento bilateral de condutas, como ocorre na celebração de contratos. A manifestação de vontade tem finalidade negocial, que, em geral, é criar, adquirir, transferir, modificar, extinguir direitos etc. Diante disso se pode dizer que, em regra, o negócio jurídico é bilateral, embora existam negócios jurídicos unilaterais por disposição expressa dos respectivos artigos. Nos negócios jurídicos unilaterais ocorre o seu aperfeiçoamento com uma única manifestação de vontade. Podem ser citados, como exemplos, o testamento, a instituição de fundação, a renúncia da herança, a procuração, a confissão de dívida e outros, porque nesses casos o agente procura obter determinados efeitos jurídicos, isto é, criar situações jurídicas, com a sua manifestação de vontade. O testamento presta-se à produção de vários efeitos: não só para o testador dispor de seus bens para depois de sua morte como também para, eventualmente, reconhecer filho havido fora do matrimônio, nomear tutor para filho menor, reabilitar indigno, nomear testamenteiro, destinar verbas para o sufrágio de sua alma etc. Na instituição da fundação, em que o instituir pode obter múltiplos efeitos, exige-se o registro como pressuposto de sua personificação, mas não se tem como essencial outra manifestação de vontade. A doação, sendo um contrato (aperfeiçoa-se com a aceitação), não é negócio jurídico unilateral, mas bilateral, malgrado a doutrina a classifique como contrato unilateral quanto aos efeitos, porque gera obrigação somente para o doador, sendo pura. Negócios jurídicos unilaterais, contudo, são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade (classificação quanto à origem). I.iii.b Quanto ao número de declarantes ou de manifestações de vontade Bilaterais: são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, coincidentes sobre o objeto. Essa coincidência chama-se consentimento mútuo ou acordo de vontades, que se verifica nos contratos em geral. Bilaterais simples: são aqueles em que somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a outra arca com os ônus, como ocorre APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT na doação e no comodato, por exemplo. Concedem, assim, vantagens a uma das partes e ônus à outra. Bilaterais Sinalagmáticos: são aqueles em que há reciprocidade de direitos e obrigações, estando as partes em situação de igualdade. São os que outorgam ônus e vantagens recíprocos, como na compra e venda e na locação, por exemplo. Essa denominação deriva do vocábulo grego sinalagma, que significa contrato com reciprocidade. Unilaterais: são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade, como ocorre no testamento, no codicilo, na instituição de fundação, na renúncia de direitos, na procuração, nos títulos de crédito, na confissão de dívida, na renúncia à herança, na promessa de recompensa etc. Unilateais receptícios: são aqueles em que a declaração de vontade tem de se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos, como sucede na denúncia ou resilição de um contrato, na revogação de mandato etc. Unilaterais Não receptícios: são aqueles em que o conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante, como se dá no testamento, na confissão de dívida etc. Plurilaterais: são os contratos que envolvem mais de duas partes, como o contrato de sociedade com mais de dois sócios e os consórcios de bens móveis e imóveis. As deliberações nesses casos não decorrem de um intercâmbio de declarações convergentes, de unanimidade de manifestações, mas da soma de sufrágios, ou seja, de decisões da maioria, como sucede nas deliberações societárias, nas resultantes de assembleia geral de acionistas e dos credores que deliberam no processo de concurso. A doutrina menciona os negócios jurídicos plurilaterais como figura diferenciada dos contratos e os trata como acordos, em razão de se destinarem à adoção de decisões comuns em assuntos de interesses coletivos. Os contratos pressupõem,necessariamente, interesses opostos e divergentes, que afinal se harmonizam. Nos negócios jurídicos plurilaterais ou acordos existiriam interesses convergentes ou paralelos, como na fusão das sociedades comerciais e nos negócios de direito familiar. I.iii.c Quanto às vantagens patrimoniais que podem produzir Gratuitos: são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios, como sucede na doação pura e no comodato, por exemplo. Nessa modalidade, outorgam-se vantagens a uma das partes sem exigir contraprestação da outra. Onerosos: ambos os contratantes auferem vantagens, às quais, porém, corresponde um sacrifício ou contraprestação. São dessa espécie quando impõem ônus e ao mesmo tempo acarretam vantagens a ambas as partes, ou seja, sacrifícios e benefícios recíprocos. É o que se passa com a compra e venda, a locação, a empreitada etc. Todo negócio oneroso é bilateral, porque a prestação de uma das partes envolve uma contraprestação da outra. Mas nem todo ato bilateral é oneroso. Doação é contrato e, portanto, negócio jurídico bilateral. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT Onerosos Comutativos: são os de prestações certas e determinadas. As partes podem antever as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem, decorrentes de sua celebração, porque não envolvem nenhum risco. Onerosos aleatórios: ao contrário, caracterizam-se pela incerteza, para as duas partes, sobre as vantagens e sacrifícios que deles pode advir. É que a perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível. O risco é da essência do negócio, como no jogo e na aposta. Já se disse que o contrato de seguro é comutativo, porque o segurado o celebra para se acobertar contra qualquer risco. No entanto, para a seguradora é sempre aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato eventual. Neutros: há negócios que não podem ser incluídos na categoria dos onerosos, nem dos gratuitos, pois lhes falta atribuição patrimonial se caracterizam pela destinação dos bens. Em geral coligam-se aos negócios translativos, que têm atribuição patrimonial. Enquadram-se nessa modalidade os negócios que têm por finalidade a vinculação de um bem, como o que o torna indisponível pela cláusula de inalienabilidade e o que impede a sua comunicação ao outro cônjuge, mediante cláusula de incomunicabilidade. A instituição do bem de família também se inclui na categoria dos negócios de destinação, isto é, de afetação de um bem a fim determinado, não se qualificando como oneroso, nem como gratuito, embora seja patrimonial. A renúncia abdicativa, que não aproveita a quem quer que seja, e a doação remuneratória também podem ser citadas como exemplo. Bifrontes: são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das partes, como o mútuo, o mandato, o depósito. A conversão só se torna possível se o contrato é definido na lei como negócio gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar um contrato oneroso em benéfico, visto que subverteria sua causa. Frise- se que nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por convenção das partes. A doação e o comodato, por exemplo, ficariam desfigurados, se tal acontecesse, pois se transformariam, respectivamente, em venda e locação. I.iii.d Quanto ao momento da produção dos efeitos Inter vivos: destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes ainda vivas, como a promessa de venda e compra, a locação, a permuta, o mandato, o casamento etc. O seguro de vida, ao contrário do que possa parecer, é negócio inter vivos, em que o evento morte funciona como termo (condição). Mortis causa: são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente, como ocorre com o testamento, o codicilo e a doação estipulada em pacto antenupcial para depois da morte do testador. O evento morte nesses casos é pressuposto necessário de sua eficácia. Os negócios jurídicos mortis causa são sempre nominados ou típicos. Ninguém pode celebrar senão os definidos na lei e pelo modo como os regula. Não podem as partes, desse modo, valer-se da autonomia privada e realizar negócios inominados ou atípicos dessa natureza. Podem, no entanto, criar tipos novos de negócios inter vivos. APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT I.iii.e Quanto ao modo de existência Principais: são os que têm existência própria e não dependem, pois, da existência de qualquer outro, como a compra e venda, a locação, a permuta etc. Acessórios: são os que têm sua existência subordinada à do contrato principal, como se dá com a cláusula penal, a fiança, o penhor e a hipoteca, por exemplo. Em consequência, como regra seguem o destino do negócio principal (acessorium sequitur suum principale), salvo estipulação em contrário na convenção ou na lei. Desse modo, a natureza do acessório é a mesma do principal. Extinta a obrigação principal, extingue-se também a acessória; mas o contrário não é verdadeiro. Derivados: são os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato, denominado básico ou principal (sublocação e subempreitada, p. ex.). Têm em comum com os acessórios o fato de que ambos são dependentes de outro. Diferem, porém, pela circunstância de o derivado participar da própria natureza do direito versado no contrato-base. Nessa espécie de avença, um dos contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade correspondente à sua posição contratual. O locatário, por exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe assistem, mediante a sublocação. O contrato de locação não se extingue. E os direitos do sublocatário terão a mesma extensão dos direitos do locatário, que continua vinculado ao locador. I.iii.f Quanto à formalidade Solenes: são os negócios que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem Não Solenes: são os negócios de forma livre. Basta o consentimento para a sua formação. Como a lei não reclama nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal. Podem ser mencionados como exemplos, dentre inúmeros outros, os contratos de locação e de comodato. Em regra, os negócios jurídicos (contratos) têm forma livre, salvo expressas exceções. Dispõe, com efeito, o art. 107 do Código Civil que “a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. I.iii.g Quanto ao número de atos necessários Simples: são os negócios que se constituem por ato único. Exemplo: compra paga à vista. Complexos: são os que resultam da fusão de vários atos sem eficácia independente. Compõem-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas pelo mesmo sujeito, ou diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos pretendidos na sua unidade. Pode ser mencionada, como exemplo desta última modalidade, a alienação de um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso de compra e venda, mas se completa com a outorga da escritura definitiva; e, ainda, o negócio APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT que exige a declaração de vontade do autor e a de quem deve autorizá-la. De complexidade objetiva: quando as várias declarações de vontade, que se completam, são emitidas pelo mesmo sujeito tendo em vista o mesmo objeto. É essencial, nessa forma de complexidade, a identidade tanto do sujeito como do objeto do negócio. De complexidade subjetiva: se caracteriza pela pluralidade de declarações de diferentes sujeitos, devendo convergir para o mesmo objeto, ou seja, ter umaúnica causa, mas podendo ser emitidas contemporânea ou sucessivamente. Coligados: que se compõe de vários outros, como, por exemplo, o arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de locação das bombas, de comodato de área para funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de financiamento etc. Neste caso há multiplicidade de negócios, conservando cada qual a fisionomia própria, mas havendo um nexo que os reúne substancialmente. Não se trata somente de contratos perfeitamente distintos celebrados no mesmo instrumento, porque então haveria apenas união meramente formal. O que caracteriza o negócio coligado é a conexão mediante vínculo que una o conteúdo dos dois contratos. É necessário que os vários negócios se destinem à obtenção de um mesmo objetivo. No exemplo citado o vínculo que une todos os contratos é a exploração do posto de gasolina como um complexo comercial. I.iii.h Quanto as modificações que podem produzir Dispositivos: os utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir direitos. Com efeito, pode o titular de um direito de natureza patrimonial dispor, se para tanto tiver capacidade, de seus direitos, como, por exemplo, conceder remissão de dívida, constituir usufruto em favor de terceiro, operar a tradição etc. Obrigacionais: os que, por meio de manifestações de vontade, geram obrigações para uma ou para ambas as partes, possibilitando a uma delas exigir da outra o cumprimento de determinada prestação, como sucede nos contratos em geral. Frequentemente o negócio dispositivo completa o obrigacional. A alienação de uma propriedade, de natureza dispositiva, que se consuma com o registro do título ou da tradição, é precedida do contrato de compra e venda, de natureza obrigacional, pelo qual o adquirente se obriga a pagar o preço e o alienante a entregar a coisa objeto do negócio. I.iii.i Quanto a obtenção do resultado Fiduciário: é aquele em que alguém, o fiduciante, “transmite um direito a outrem, o fiduciário, que se obriga a devolver esse direito ao patrimônio do transferente ou a destiná-lo a outro fim”. É caracterizado pela circunstância de que o meio utilizado transcende o fim perseguido, não se compatibilizando o aspecto econômico com o aspecto jurídico do negócio, como ocorre, por exemplo, quando “alguém transmite a propriedade deum bem com a intenção de que o adquirente o administre, obtendo dele o compromisso, por outro negócio jurídico de caráter obrigacional, de lhe restituir o bem APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT vendido. Trata-se de negócio lícito e sério, perfeitamente válido, e que se desdobra em duas fases. Na primeira, ocorre verdadeiramente a transmissão de um direito pertencente ao fiduciante. Na segunda, o adquirente fiduciário se obriga a restituir o que recebeu, ou seu equivalente. Esses negócios compõem-se de dois elementos: a confiança e o risco. A transmissão da propriedade, quando feita ao fiduciário para fins de administração, é verdadeira. Tanto que, se o fiduciário recusar-se a restituir o bem, caberá ao fiduciante somente pleitear as perdas e danos, como consequência do inadimplemento da obrigação de o devolver. A expressão negócio fiduciário provém do latim fiducia, que significa confiança ou garantia. O negócio fiduciário não é considerado negócio simulado, malgrado a transferência da propriedade seja feita sem a intenção de que o adquirente se torne verdadeiramente proprietário do bem. Não há a intenção de prejudicar terceiros, nem de fraudar a lei. Simulado: o que tem a aparência contrária à realidade. Embora nesse ponto haja semelhança com o negócio fiduciário, as declarações de vontade são falsas. As partes aparentam conferir direitos a pessoas diversas daquelas a quem realmente os conferem. Ou fazem declarações não verdadeiras, para fraudar a lei ou o Fisco. O negócio simulado não é, portanto, válido. O novo Código retirou-o do rol dos defeitos do negócio jurídico, em que se encontrava no diploma de 1916 (arts. 102 a 105), deslocando-o para o capítulo concernente à invalidade do negócio jurídico, considerando-o nulo (art. 167). Fluxogramas e mapas mentais 1. Espécies de fatos 2. Classificação quanto ao número de declarantes APOSTILA DE FATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS NP1 1ª PT 3. Classificação quanto às vantagens patrimoniais REFERÊNCIAS FERNANDES, Alexandre Cortez. Direito Civil: fatos jurídicos. EDUCS: Caxias do Sul-RS, 2010. (disponível na biblioteca virtual). GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. v. 1.16 ed. São Paulo: Saraiva, 2018. _______. Direito Civil Esquematizado. Parte Geral, obrigações e contratos. Org. LENZA, Pedro. v.1. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
Compartilhar