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AVC Revisão Otimize o tempo e a qualidade do seu estudo www.sanarflix.com.br 1. Definição Lesão cerebral secundária a um mecanismo vascular e não traumático, caracterizada pela instalação de um déficit neurológico focal, repentino e não convulsivo, com duração maior que 24 horas (o que o difere de um ataque isquêmico transitório) ou com alteração nos exames de imagem. 2. Epidemiologia O AVC é uma das maiores causas de morte e incapacidade adquirida em todo o mundo. Representa a quarta maior causa de morte nos EUA e o distúrbio neurológico incapacitante mais comum. No Brasil, é a causa mais frequente de óbitos na população adulta (10% de todos os óbitos) e é responsável por 10% das internações nos hospitais públicos. A incidência do AVC aumenta com a idade, sendo que dois terços dos acidentes ocorrem em pessoas com mais de 65 anos. No entanto, estudos recentes têm demonstrado um aumento nos casos em pessoas nas faixa dos 30-40 anos. A incidência é maior em afrodescendentes do que em brancos e levemente maior em homens do que em mulheres. Os fatores de risco para AVC são divididos em modificáveis e não-modificáveis. Os fatores de risco não-modificáveis são: idade avançada, sexo masculino, baixo peso ao nascer, afrodescendência, histórico familiar de AVC. Já os fatores de risco modificáveis incluem HAS (causa controlável mais comum), tabagismo, fibrilação 2 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br atrial, diabetes mellitus, terapia hormonal (pós-menopausa ou contracepção oral), dislipidemia, obesidade, sedentarismo, anemia falciforme, entre outros. Os AVCs são classificados como isquêmicos (AVCi) ou hemorrágicos (AVCh), de acordo com o processo patológico subjacente, sendo que os AVCi são os mais comuns, representandos 85%, enquanto que os AVCh correspondem a 15% dos casos. 3. Fisiopatologia O AVC isquêmico é causado por uma obstrução súbita do fluxo arterial encefálico, enquanto que o AVC hemorrágico é consequência de uma ruptura de estruturas vasculares cerebrais. A origem do AVCi pode ser trombótica ou embólica, nas situações em que não é possível determinar a causa do AVC isquêmico, mesmo após a investigação correta, ele é denominado de AVC criptogênico. O que difere o AVC embólico do trombótico é a origem do trombo que ocasionou a obstrução, no AVC embólico ele é proveniente de outra região (coração, arco aórtico...) e se desloca pela circulação até impactar na artéria cerebral, já no trombótico, o trombo é formado na própria artéria envolvida no AVC. A interrupção do fluxo sanguíneo priva neurônios, glia e células vasculares do oxigênio e glicose. Caso o fluxo sanguíneo não seja restaurado prontamente, ocorre a morte do tecido cerebral (infarto) dentro do núcleo isquêmico. O padrão de morte celular depende da gravidade da isquemia, em isquemias leves, a vulnerabilidade seletiva de algumas populações neuronais leva à perda somente dessas populações. Numa isquemia grave, ocorre uma necrose neuronal seletiva, onde todos os neurônios morrem, mas as células gliais e vasculares são preservadas. Já numa isquemia completa e permanente, ocorre uma pan-necrose, onde todos os tipos celulares serão afetados. Circundando o núcleo da região isquêmica, existe uma área chamada zona de penumbra, onde a isquemia é incompleta. Nesse local, a lesão celular é 3 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br potencialmente reversível, desde que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso ocluído ou circulação colateral). Outro fator envolvido na fisiopatologia do AVC é o edema cerebral. A isquemia leva ao edema vasogênico, quando o líquido intravascular extravasa para o parênquima cerebral. Esse edema costuma ocorrer alguns dias após o AVC e pode causar herniação cerebral e, consequentemente, óbito. O AVCh interfere na função cerebral por meio de vários mecanismos, incluindo a destruição ou compressão do tecido cerebral e compressão de estruturas vasculares, levando a isquemia secundária e edema. O AVCh pode ser causado por hemorragia intraparenquimatosa (HIP), quando o sangramento ocorre dentro do parênquima cerebral, provocando um edema/inchaço nas estruturas locais que levará à lesão neurológica. Além da HIP, o AVCh pode ser decorrente de uma hemorragia subaracnoidea, muito relacionada à ruptura de aneurisma. 4. Clínica O AVC é uma doença tempo-dependente, ou seja, quanto mais precoce ele for identificado e tratado, maior a chance de recuperação completa. Por isso, a clínica é de extrema importância. Os sinais e sintomas dependem da área do cérebro acometida e incluem fraqueza ou formigamento em face, braços ou pernas, alterações na visão (uni ou bilateral), confusão, alterações na fala e/ou compreensão, alteração do equilíbrio e/ou coordenação, tontura, alterações na marcha, cefaleia súbita e intensa (mais relacionada com AVCh). 5. Diagnóstico • Escala FAST: escala de triagem para detectar a ocorrência da doença, principalmente em região anterior do cérebro; Face (paralisia facial), Arm (fraqueza nos braços), Speech (dificuldades na fala), Time (tempo). 4 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br • Escala do NIH: avalia o déficit no AVC através da pontuação dos parâmetros, variando de 0 (sem déficit) a 42 (maior déficit); parâmetros avaliados: nível de consciência, orientação no tempo (mês e idade), resposta a comandos, olhar, campo visual, movimento facial, função motora do membro superior, função motora do membro inferior, ataxia, sensibilidade, linguagem, articulação da fala, extinção ou inatenção. • Exames de imagem: devem ser realizados imediatamente para não impossibilitar o tratamento de reperfusão (nos casos de AVCi). o Tomografia computadorizada (TC): é o exame de escolha; identifica de 90- 95% das hemorragias subaracnoideas e quase 100% das hemorragias intraparenquimatosas. o Ressonância magnética (RM) com difusão: mais sensível que a TC, pode identificar a área isquêmica muito precocemente; muito útil quando existem dúvidas quanto ao diagnóstico de AVC; alguns centros de AVC utilizam a RM com difusão para incluir pacientes com janela terapêutica indeterminada ou fora da janela terapêutica (definem a presença de zona de penumbra em cada paciente). • Exames complementares: hemograma com plaquetas*, tempo de protrombina*, tempo de tromboplastina parcial ativada*, eletrólitos, creatinina, ureia, glicemia, eletrocardiograma. * Exames que devem ser aguardados para se iniciar o trombolítico nos casos de suspeita de alterações ou uso de anticoagulantes. 6. Tratamento O tratamento é programado visando a preservar a vida, limitar quanto possível o dano cerebral, diminuir as incapacidades e deformidades físicas e evitar a repetição do AVC. O manejo de urgência dos pacientes acometidos de AVC é oposto para cada um dos dois casos do distúrbio. No AVCi, procura-se desobstruir as artérias, permitindo maior afluxo de sangue no cérebro, enquanto no AVCh, o tratamento é voltado para controlar a hemorragia. 5 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br Trombólise com ativador do plasminogênio tecidual recombinante (rtPA): utilizado em pacientes com AVCi, com início dos sintomas inferior a 4,5 horas, com TC ou RM de crânio sem evidência de hemorragia, com idade superior a 18 anos e sem critérios de exclusão (TCE ou AVC nos últimos 3 meses, suspeita de HSA, história de AVCh, TA>185x110, cirurgiaintracraniana ou intraespinal nos últimos 3 meses, punção arterial de sítio não compressível nos últimos 7 dias, história de tumor intracraniano, aneurisma ou MAV, sangramento ativo ao exame) Posologia: 0,9mg/kg, endovenoso; 10% em bolo e o restante em 1 hora. Ácido acetilsalicílico: para pacientes sem indicação de rtPA ou como forma de prevenção de recidiva. Posologia: 100 a 325mg/dia. Trombectomia mecânica: pacientes com oclusão de vaso proximal ou que não apresentaram resposta à trombólise com rtPA. Medidas de suporte: • Manutenção da pressão arterial < 185x110 mmHg, em pacientes candidatos à trombólise. Para pacientes não submetidos à trombólise, somente administrar anti-hipertensivos se PA>220x120mmHg. Droga de escolha: nitroprussiato de sódio. • Manutenção da saturação de oxigênio (maior ou igual a 92%); • Temperatura < 37,5°C; • Manutenção da glicemia em valores normais; • Monitorização cardíaca: detectar precocemente sinais eletrocardiográficos de isquemia ou arritmias. 6 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br 7. Prognóstico Após um AVC, o resultado do quadro é influenciado por diversos fatores, sendo os mais importantes a natureza e a gravidade do déficit neurológico resultante. A idade do paciente, a etiologia do AVC e as comorbidades coexistentes também afetam o prognóstico. De modo geral, aproximadamente 80% dos pacientes com AVC sobrevivem durante pelo menos um mês, já as taxas de sobrevida de 10 anos estão próximas a 35%. Ter um AVC aumenta o risco de recidiva, aproximadamente 25% dos pacientes têm outro AVC, essas recidivas costumam ser mais debilitantes do que o primeiro episódio. Nos três primeiros meses após um AVC o cérebro é capaz de reaprender ou aprender coisas novas (neuroplasticidade). Essa característica desempenha um papel fundamental na recuperação e reabilitação pós-AVC. Referências bibliográficas 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Treinamento de Emergências Cardiovasculares Avançado. Barueri: Manole, 2013. 2. Goldman, L.; Schafer, AI. Goldman’s Cecil Medicine. 25th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016. 3. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenc ̧as. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 4. Machado, A. Neuroanatomia funcional. 2ª Ed. Atheneu, Rio de Janeiro, 2006. 5. American Heart Association/American Stroke Association. Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke. 2018. 7 Resumo de Acidente Vascular Cerebral www.sanarflix.com.br
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