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livro de politicas publicas

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Formação e Gestão em Educação a Distância 
Formação em Educação a Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
Políticas Públicas, Estrutura e Legislação 
no Ensino Superior Aplicadas ao EaD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dra. Olívia de Quintana Figueiredo Pasqualeto 
Prof. Me. Edna Barberato Genghini 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PASQUALETO, Olívia de Quintana Figueiredo 
 GENGHINI, Edna Barberato 
 
 Políticas públicas, estrutura e legislação no ensino superior 
aplicadas à EaD (livros-texto) / Olívia de Quintana Figueiredo 
Pasqualeto; Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-
Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 
 
 112 p.: il. 
 
 1. Ensino superior. 2. EaD. 3. Legislação. 4. Políticas 
públicas. I. Pasqualeto, Olívia de Quintana Figueiredo. Genghini, 
Edna Barberato. II. Pós-graduação lato sensu UNIP. III. Título. 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTRUTURA E LEGISLAÇÃO NO ENSINO 
SUPERIOR APLICADAS AO EAD 
 
Professora-conteudista 
OLÍVIA DE QUINTANA FIGUEIREDO PASQUALETO é mestra e doutoranda 
em direito do trabalho e da seguridade social pela faculdade de direito da Universidade 
de São Paulo. Especialista em docência no ensino superior pelo Centro Universitário 
SENAC. Graduada em direito pela faculdade de direito de Ribeirão Preto 
(Universidade de São Paulo). Bolsista de doutorado do programa The Ryoichi 
Sasakawa Young Leaders Fellowship Fund (Sylff) em 2019. Foi bolsista de iniciação 
científica e de treinamento técnico nível III com apoio da Fundação de Amparo à 
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Pesquisadora voluntária no núcleo de 
pesquisa e extensão "O trabalho além do trabalho: dimensões da clandestinidade 
jurídico-laboral", desenvolvido na faculdade de direito da Universidade de São Paulo. 
Pesquisadora-colaboradora do Núcleo de Direito Global e Desenvolvimento da 
Direito-SP (FGV). Associada ao Instituto Rede de Pesquisa Empírica em Direito 
(REED). Advogada. Atualmente é professora da graduação e pós-graduação 
(Educação a Distância/UNIP interativa) da Universidade Paulista. 
 
Professora-colaboradora/coordenadora 
Edna Barberato Genghini, Professora Universitária desde 2002. Atualmente 
no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de três cursos ao nível de 
Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino 
Superior e em Formação em EaD, pela UNIP EaD, onde também atua como 
Professora Adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da 
Mentor Orientação Psicopedagógica desde 1991. Possui graduação em Economia 
Doméstica – Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), em 
Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), Pós-graduação em Psicopedagogia 
pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela 
Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação Lato Sensu em Formação em 
Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista (2011). É autora e coautora 
de livros Textos para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia 
Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância 
da UNIP – EaD. Áreas de Interesse: Neurociências – Educação Inclusiva – 
Psicopedagogia Clínica e Institucional – Formação e Gestão em Educação a Distância 
– Formação de Docentes para o Ensino Superior. 
 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 5 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6 
UNIDADE I .................................................................................................................. 8 
1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL............. 8 
1.1 Origens históricas do ensino superior no Brasil ................................................ 8 
1.2 Dados sobre a expansão do ensino superior no Brasil ................................... 16 
1.3 O avanço do ensino a distância (EaD) no Brasil ............................................. 20 
2. A ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO ............................... 26 
2.1 Organização do ensino superior no Brasil ...................................................... 26 
2.2 Modalidades de ensino superior ..................................................................... 35 
2.3 Princípios e propostas da educação superior ................................................. 37 
3. REGULAMENTAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL ........................ 56 
3.1 Noções jurídicas introdutórias ......................................................................... 56 
3.2 Legislação do ensino superior no Brasil ......................................................... 59 
3.3 Legislação do ensino superior no Brasil aplicada ao EaD .............................. 69 
4. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR.................................. 76 
4.1 Estratégias e projetos para a expansão do ensino superior ........................... 81 
4.2 Democratização do acesso ao ensino superior e inclusão social ................... 89 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 93 
ANEXO 1 ................................................................................................................... 96 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá, aluno(a)! 
Seja bem-vindo(a)! 
 
Neste livro-texto você encontrará o conteúdo pertinente à disciplina “Políticas 
Públicas, Estrutura e Legislação do ensino superior aplicadas ao EaD”, que tem como 
objetivo central o estudo dos aspectos jurídicos sobre o ensino superior a distância no 
Brasil analisando sua estrutura, a legislação que o regulamenta e as políticas públicas 
existentes em relação a esse tema. 
Para que o nosso propósito seja atingido com êxito, será necessário 
compreendemos as origens históricas, o panorama atual do ensino superior no Brasil, 
sua organização e sua regulamentação. 
Por fim, examinaremos as políticas públicas existentes para a expansão e 
democratização do ensino superior no Brasil. 
Ansioso(a) para começarmos? 
 
Então, vamos nessa! 
 
 
 
 
 
6 
INTRODUÇÃO 
 
O objetivo deste livro-texto do curso de pós-graduação em Formação e Gestão 
em Educação a Distância da UNIP EaD é ajudá-lo(a) a compreender os aspectos 
jurídicos sobre o ensino superior a distância no Brasil, desde algumas normas mais 
gerais sobre o ensino superior até aquelas mais específicas sobre o ensino a 
distância. 
O material que você tem a sua disposição está sistematizado em quatro 
unidades, complementares entre si. Cada uma delas foi pensada e organizada de 
modo a examinar as peculiaridades do tema da forma mais didática possível e facilitar 
o raciocínio lógico durante o aprofundamento de seus estudos. 
Veja como estão organizadas: 
 
Unidade I – Ensino superior no Brasil: origens e panorama atual: Origens 
históricas do ensino superior no Brasil; Dados sobre a expansão do ensino superior 
no Brasil; O avanço do ensino a distância (EaD) no Brasil. 
Unidade II – Estrutura do ensino superior brasileiro: Organização do ensino 
superior no Brasil; Modalidades de ensino superior; Princípios e propostas da 
educação superior. 
Unidade III – Regulamentação do ensino superior no Brasil: Noções jurídicas 
introdutórias; Legislação do ensino superior no Brasil; Legislação do ensino superior 
no Brasil aplicadas ao EaD. 
Unidade IV – Políticaspúblicas para o ensino superior: Estratégias e projetos para 
a expansão do ensino superior; Democratização do acesso ao ensino superior e 
inclusão social. 
 
Para estudar todos os pontos acima, os objetivos gerais da disciplina são: 
 
• compreender as origens históricas e a evolução do ensino superior no 
Brasil; 
• compreender o panorama atual do ensino superior no Brasil; 
• reconhecer como o ensino superior no Brasil é organizado; 
• identificar as modalidades de ensino superior; 
• conhecer a legislação sobre ensino superior no Brasil, inclusive as normas 
que regulamentam o ensino superior a distância; 
• assimilar quais são as exigências legais que permeiam o ensino superior 
no Brasil; 
• compreender as políticas públicas existentes para o ensino superior no 
Brasil, especialmente o ensino superior a distância; 
• analisar o processo de democratização do ensino superior no Brasil, 
 
7 
sobretudo a partir do avanço dos cursos de ensino a distância. 
 
Veja, também, quais são os objetivos específicos: 
 
• problematizar as origens do ensino superior no Brasil, considerando a 
desigualdade social no país; 
• questionar a forma de ingresso no ensino superior; 
• analisar a estrutura do ensino superior no Brasil e propor melhorias para 
sua organização; 
• refletir criticamente sobre a normativa estudada; 
• manejar e articular as diversas normas que regulamentam o ensino 
superior presencial e aa distância; 
• cumprir as exigências legais que permeiam o ensino superior no Brasil; 
• identificar pontos falhos nas políticas públicas existentes para o ensino 
superior, sobretudo aquelas aplicadas ao EaD; 
• identificar e formular projetos de políticas públicas para o setor; 
• pensar a democratização do ensino superior no Brasil a partir do EaD, 
considerando a qualidade do ensino. 
 
“Devore” seu livro-texto. Ele foi elaborado com carinho e dedicação para seu 
aprendizado! 
 
Bom trabalho! 
 
 
 
 
8 
UNIDADE I 
 
1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL 
 
 
 
 
 
 
O objetivo central desta unidade é estudar as origens do ensino superior no 
Brasil e analisar o panorama atual, compreendendo seu processo histórico de 
evolução até os dias atuais. 
Para tanto, vamos iniciar nossa disciplina com a análise das origens do ensino 
superior no Brasil e, posteriormente, passaremos para o exame dos dados sobre a 
expansão do ensino superior no Brasil, com destaque para o avanço do ensino a 
distância. 
 
1.1 Origens históricas do ensino superior no Brasil 
 
Vamos iniciar esta unidade com o estudo de alguns aspectos da cronologia da 
educação superior brasileira. Olhar para a história irá nos ajudar a compreender como 
se organizou o ensino superior atual. Observe que o nosso objetivo neste item é 
abordar certos marcos históricos relevantes para compreender o ensino superior no 
Brasil atual. Assim, não pretendemos construir uma linha do tempo que abarque todo 
histórico da educação, mas apontar antecedentes importantes da estruturação do 
ensino superior no país. 
Ao olharmos para a nossa história, é possível afirmar que o ensino 
institucionalizado teve início ainda no Brasil-colônia com os jesuítas e a Companhia 
de Jesus. Observamos que se tratava de um ensino com forte caráter religioso e não 
destinado a todos. Como salienta Ribeiro, 
 
O principal objetivo da Companhia de Jesus era o de recrutar fiéis e 
servidores. A catequese assegurou a conversão da população indígena à fé 
católica e sua passividade aos senhores brancos. A educação elementar foi 
inicialmente formada para os curumins; mais tarde estendeu-se aos filhos 
dos colonos. Havia também os núcleos missionários no interior das nações 
indígenas. A educação média era totalmente voltada para os homens da 
classe dominante, exceto as mulheres e os filhos primogênitos, já que estes 
últimos cuidariam dos negócios do pai. A educação superior na colônia era 
exclusivamente para os filhos dos aristocratas que quisessem ingressar na 
classe sacerdotal; os demais estudariam na Europa, na Universidade de 
Coimbra. Estes seriam os futuros letrados, os que voltariam ao Brasil para 
administrá-lo. (RIBEIRO, 1993) 
 
Conteúdos trabalhados na unidade: Ensino superior no Brasil: origens e 
panorama atual: Origens históricas do ensino superior no Brasil; Dados sobre a 
expansão do ensino superior no Brasil; O avanço do ensino a distância (EaD) no 
Brasil. 
 
9 
Assim, a educação não era um direito de todos. Pelo contrário. Havia o ensino 
com vistas à catequização religiosa e esse sim era direcionado às camadas pobres, 
sobretudo aos indígenas; e havia a educação quase exclusiva dos ricos e que, muitas 
vezes, se daria fora do país. 
 
 
 
 
 
 
 
Embora a Companhia de Jesus tenha iniciado seus trabalhos educacionais logo 
nos primórdios do Brasil-colônia, a educação superior seria criada oficialmente no 
Brasil muitos anos depois. Assim, a história do ensino superior no Brasil é 
relativamente recente, já que 
 
o ensino superior brasileiro constituiu um acontecimento tardio quando 
comparado com os do contexto europeu e latino-americano. As primeiras 
universidades na América Latina foram criadas nos séculos XVI e XVII, 
quando já existiam várias universidades na Europa. Ao contrário da 
colonização espanhola, na América Latina os portugueses mostravam-se 
hostis à criação de escolas superiores e de universidades em sua colônia 
brasileira. (NEVES; MARTINS, 2016, p. 96) 
 
Até então, como visto na passagem de Ribeiro, para graduarem-se, os 
integrantes da elite colonial portuguesa tinham que se deslocar até a metrópole, ou 
seja, tinham que sair do Brasil e ir estudar na Europa, mais especificamente em 
Portugal, na Universidade de Coimbra. 
 
Essa universidade, confiada à Ordem Jesuítica no século XVI, tinha, como 
uma de suas missões, a unificação cultural do império português. Dentro do 
espírito da contrarreforma, ela acolhia os filhos da elite portuguesa que 
nasciam nas colônias, visando a desenvolver uma homogeneidade cultural 
avessa a questionamentos à fé́ Católica e à superioridade da Metrópole em 
relação à Colônia. A Universidade de Coimbra, no dizer de Anísio Teixeira, 
foi a “primeira universidade”: nela se graduaram em teologia, direito canônico, 
direito civil, medicina e filosofia, durante os primeiros três séculos de nossa 
história, mais de 2.500 jovens nascidos no Brasil. (SOARES, 2002, p. 22-23) 
 
Assim, as primeiras pessoas que possuíam o título de graduação no Brasil 
frequentaram o ensino superior fora de nosso país, o que só vem a mudar a partir de 
1808, com a transferência da corte portuguesa para a colônia. 
Diferentemente do Brasil-colônia, hoje a educação é um direito de todos. 
Atualmente, a educação é considerada um direito humano, previsto na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, e um direito fundamental, previsto na 
Constituição Federal de 1988. Assim, pela lei, todos devem ter acesso à educação. 
 
 
10 
Quando chegou ao Brasil, a família real percebeu que precisaria de 
profissionais prontos para atendê-la, e, naquele momento, ir estudar em Lisboa, que 
estava tomada por Napoleão, era impossível. Soma-se a essa necessidade a 
solicitação de muitos comerciantes para ser criada uma universidade no Brasil, com a 
qual dispunham-se a colaborar com um significativo aporte financeiro (Soares, 2002, 
p. 25). 
Dessa forma, criaram-se alguns cursos e instituições – que ainda não eram 
universidades – que atenderiam algumas dessas demandas. Em Salvador, foi criado 
o curso de “cirurgia, anatomia e obstetrícia”. Posteriormente, 
 
com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, foram criadas, nessa 
cidade, uma Escola de Cirurgia,além de Academias Militares e a Escola de 
Belas Artes, bem como o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional e o Jardim 
Botânico” (SOARES, 2002, p. 25) 
 
Com a proclamação da Independência, em 7 de setembro de 1822, houve 
grande agitação política e intensas negociações sobre a formação da nação brasileira. 
Dentre os pontos discutidos estava a necessidade de investir na educação de uma 
elite intelectual brasileira. 
 
Era preciso investir na formação de uma elite intelectual capaz de gerir a 
pátria recém-emancipada, instituindo-lhe uma identidade própria, em 
oposição à portuguesa. Mais do que novas leis, o país precisava de uma 
consciência jurídica, que deveria emanar de cursos estabelecidos em 
território nacional. Foram esses e outros argumentos que deram o tom das 
discussões políticas que culminaram na criação das primeiras faculdades de 
direito do Brasil, em São Paulo e Recife, em agosto de 1827. As articulações 
políticas que contribuíram para a criação dessas instituições tiveram início 
durante os debates travados na primeira Assembleia Nacional Constituinte 
do Brasil. Convocada em maio de 1823, a Assembleia representou um passo 
fundamental no processo de consolidação da independência política e 
econômica do país. Cabia aos deputados a tarefa de estruturar as bases 
políticas e institucionais do Brasil e, assim, inaugurar juridicamente o regime 
constitucional. 
A proposta de criação de um curso de direito foi apresentada na sessão de 
14 de junho de 1823 pelo advogado José Feliciano Fernandes Pinheiro, o 
visconde de São Leopoldo (1774-1847). Tratava-se de um pedido de 
brasileiros matriculados na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde 
estudava a maioria dos que pretendiam seguir nas profissões jurídicas, 
inclusive os próprios parlamentares. (ANDRADE, 2017). 
 
A proposta foi discutida, recebeu muitas emendas e, finalmente, em 1827, 
decidiu-se pela criação dos cursos de direito em São Paulo e Olinda visando à 
integração de diferentes regiões do país. Assim, em 11 de agosto de 1827, a partir de 
um decreto imperial, foram oficialmente criados os cursos de ciências jurídicas em 
São Paulo, instalados em um convento franciscano no centro da cidade de São Paulo, 
na região do Largo São Francisco, e em Olinda, em um salão no mosteiro de São 
Bento, posteriormente, transferido para Recife (1854). 
 
 
11 
 
Imagem 1 – Reprodução do decreto imperial de 11 de agosto de 1827, pintado na Sala da 
Congregação da faculdade de direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco, 
que criou os primeiros cursos jurídicos no país 
 
Fonte: Fotografia tirada pela autora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para conhecer um pouco mais sobre a história dos cursos jurídicos no país, leia o 
artigo abaixo, publicado na Revista FAPESP: 
ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Para formar homens de leis. In: Revista FAPESP, 
ed. 260, out, 2017, São Paulo. Disponível em: 
<http://revistapesquisa.fapesp.br/2017/10/25/para-formar-homens-de-leis/>. Acesso em: 10 
fev. 2019. 
 
 
 
12 
Vale mencionar que as duas faculdades, além de serem os únicos centros de 
formação jurídica brasileiros até então, tiveram papel importante na formação 
intelectual do país, com influência na política, na literatura, na luta por direitos etc. 
“Tratava-se de um sistema voltado para o ensino, que assegurava um diploma 
profissional, o qual dava direito a ocupar posições privilegiadas no restrito mercado 
de trabalho existente e a assegurar prestígio social” (SAMPAIO, 1991, p. 3). 
 
Com a abolição da escravidão (1888), a queda do Império e a proclamação 
da República (1889), o Brasil entra em um período de grandes mudanças 
sociais, que a educação acabou por acompanhar. A Constituição da 
República descentraliza o ensino superior, que era privativo do poder central, 
aos governos estaduais, e permite a criação de instituições privadas, o que 
teve como efeito imediato a ampliação e a diversificação do sistema, Entre 
1889 e 1918, 56 novas escolas de ensino superior, na sua maioria privadas, 
são criadas no país. (SAMPAIO, 1991, p. 7) 
 
Apesar da expansão das escolas superiores, por mais de um século a formação 
superior no Brasil se deu nesses moldes, ficando a cargo desses cursos superiores 
que formavam profissionais liberais, a exemplo do direito e da medicina. 
A formação das universidades propriamente ditas deu-se posteriormente. 
Segundo Sampaio, a primeira iniciativa universitária do país ocorreu no Paraná, em 
1912, mas não passou de um projeto de reunião das escolas superiores já existentes. 
A criação das universidades conforme conhecemos hoje se deu, verdadeiramente, na 
década de 30. 
Em 1931 foi aprovado o Estatuto das Universidades Brasileiras, em vigor até 
1961, segundo o qual a universidade poderia ser pública (federal, estadual ou 
municipal) ou particular, devendo possuir pelo menos três dos seguintes cursos: 
direito, medicina, engenharia, educação, ciências e letras. Nesta década, foram 
gestadas a Universidade de São Paulo, a Universidade do Brasil (no Rio de Janeiro) 
e o projeto (frustrado) da Universidade do Distrito Federal (também no Rio de Janeiro). 
 
A história da Universidade do Distrito Federal dramatiza o conflito que houve 
nos anos 30 entre os grupos laicos e politicamente liberais, à esquerda do 
espectro político, e o conservadorismo católico de direita. Francisco Campos, 
que em 1937 redigiria a Constituição autoritária do Estado Novo brasileiro, foi 
o artífice da aproximação política entre Getúlio Vargas e a Igreja Católica 
através de um pacto que daria à Igreja o controle do sistema educacional, e 
ao Estado o apoio da Igreja. A universidade a ser estabelecida pelo governo 
central no Rio de Janeiro, a Universidade do Brasil, deveria ser uma 
universidade sob controle supervisão estrita da Igreja, enquanto a 
Universidade do Distrito Federal, sob a proteção do governo local, pretendia 
ser um centro de pensamento libertário e leigo. A ambiguidade que 
porventura existisse no governo Vargas entre suas facções à esquerda e à 
direita desapareceram em 1935, na repressão a uma insurreição comunista 
em alguns quartéis, e pouco depois a Universidade do Distrito Federal foi 
fechada. 
A Universidade de São Paulo tem uma história diferente, faz parte da 
resistência da elite paulista ao governo central no Rio de Janeiro que teve 
seu ponto culminante com a Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1934 
há uma reconciliação entre as elites paulistas e o governo federal, e é neste 
ano que a Universidade de São Paulo é criada, dentro das normas gerais da 
legislação de Francisco Campos, com uma faculdade de filosofia, ciências e 
 
13 
letras, mas com uma orientação própria e grande autonomia. A Universidade 
do Brasil terminou por não cumprir o destino de universidade clerical ao qual 
estava destinada, mas sua faculdade de filosofia jamais chegou a 
desenvolver o ambiente de efervescência intelectual e de pesquisa científica 
que foram a marca da faculdade paulista. (Sampaio, 1991, p. 10) 
 
Dessa forma, sobretudo por não estar sob o comando do governo federal e pela 
sua marcada autonomia, a Universidade de São Paulo, criada em 1934, representou 
“um divisor de águas na história do sistema brasileiro de educação superior” (Soares, 
2002, p. 30), trazendo, para seu corpo docente, professores pesquisadores 
estrangeiros, sobretudo da Europa. 
Inicia-se, assim, uma superação do modelo tradicional de ensino superior 
existente até então no Brasil, incluindo (para além do ensino) a pesquisa científica 
como atividade central nas universidades. 
 
Nos cerca de vinte anos que se seguiram à implantação das primeiras 
universidades, o ensino superior não experimenta nenhum crescimento mais 
significativo, sobretudo se compararmos o período com o que lhe seguiu.Tampouco ocorreram reformas de grande magnitude em seu formato, se 
pensarmos na instituição da organização universitária da década de 30. Mas 
foi justamente nesse período que o sistema ganhou corpo com o 
desenvolvimento da rede de universidades federais, com o estabelecimento 
da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a primeira de uma série 
de universidades católicas e particulares que viriam se implantar, com um 
amplo sistema estadual em São Paulo e com a criação de outras instituições 
menores, estaduais e locais, em outras regiões. (SAMPAIO, 1991, p. 13) 
 
No final da década de 1950, iniciou-se um movimento pela reforma 
universitária. A crítica ao modelo vigente repousava em quatro pontos principais: o 
sistema de cátedra (em que cada área do conhecimento era de responsabilidade de 
um professor vitalício, que tinha exclusivo poder de decisão), percebido como 
obstáculo para se seguir uma carreira universitária; a compartimentalização do saber 
na universidade, que isolava docentes e discentes em seus respectivos cursos; a 
escassa produção de pesquisa científica nas universidades; o elitismo que 
permanecia nas universidades. 
A reforma almejada veio anos depois, em 1968. Conforme salienta Sampaio 
(1991, p. 15), as novidades basearam-se nos seguintes pontos: abolição da cátedra e 
instituição dos departamentos como unidades mínimas de ensino e pesquisa; 
organização do currículo em formação básica e profissionalizante; instituição dos 
cursos de pós-graduação; criação de colegiados dos cursos, responsáveis por uma 
gestão mais coletiva e democrática. 
Esse novo modelo foi implantado a partir de 1969, já sob a égide da ditadura 
militar no Brasil, “sob um regime político extremamente autoritário, que mantinha as 
universidades sob intensa suspeita e vigilância policial” (SAMPAIO, 1991, p. 16). 
Paradoxalmente, enquanto aumentava a repressão político-ideológica no país, 
espraiavam também medidas para a democratização interna e a participação de 
estudantes e docentes na gestão universitária. 
 
 
14 
Durante os sucessivos governos militares, deu-se início a um projeto 
desenvolvimentista autoritário, com um processo amplo de 
internacionalização da economia. Apesar da relativa expansão do sistema de 
ensino superior público, ele se mostrava incapaz de aumentar suas 
matrículas, fenômeno este que mobilizou intensamente as organizações 
estudantis, visando à sua ampliação. O aumento da demanda por ensino 
superior, neste período, foi provocado pelos setores médios urbanos, que 
passaram a disputar a promoção nas burocracias públicas e privadas por 
meio do investimento maciço na escolarização e na obtenção de um diploma 
de ensino superior (NEVES; MARTINS, 2016, p. 97). 
 
A demanda pelo ensino superior foi atendida não apenas pelas instituições 
públicas, mas também por instituições privadas, que ganhavam força e começavam a 
se multiplicar pelo país. 
Dessa forma, conforme salientam Neves e Martins (2016, p. 99), o Brasil 
solidificou seu sistema de ensino superior contando com dois segmentos: um público 
e um privado, abarcando atualmente um complexo sistema de instituições de ensino 
superior (IES) públicas (instituições federais, estaduais e municipais) e privadas 
(instituições confessionais, particulares, comunitárias e filantrópicas). 
A estrutura do ensino superior foi institucionalizada na Constituição Federal de 
1988, com destaque para a garantia constitucional do direito à educação. Ao longo 
das discussões na Assembleia Nacional Constituinte, a garantia do direito à educação 
foi muito festejada. 
 
 
 
15 
Imagem 2 – Capa do Jornal da Constituinte, 
n.º 48, de 23 a 29 de maio de 1988, em que o direito à educação vira manchete 
 
Fonte: Câmara, sd1. 
 
Posteriormente, houve a regulamentação da educação por meio da Lei 
Nacional de Diretrizes e Bases de 1996 (LDB). Ressalta-se que essas duas 
normativas da educação brasileira, fundamentais para a compreensão da nossa 
 
1 Disponível em: http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-
cidada/publicacoes/Jornal%20da%20Constituinte/n-%2048%20-
%2023%20a%2029%20maio%201988.pdf. Acesso em: 11 fev. 2019. 
 
16 
estrutura de ensino superior, serão analisadas com mais atenção nas unidades 
seguintes. 
Neste período, próximo à entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, 
não podemos deixar de citar a criação da Universidade Paulista (UNIP), reconhecida 
pela Portaria n.º 550/88, cujas atividades tiveram início em 9 de novembro de 1988. 
Desde então, a UNIP tem expandido sua atuação no ensino superior, inclusive com a 
oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade de ensino a distância. 
 
1.2 Dados sobre a expansão do ensino superior no Brasil 
 
Após termos conhecido um pouco da história da educação superior no Brasil, 
passaremos a examinar dados sobre o ensino superior no Brasil e sua expansão. 
Assim, este item apresentará o panorama da educação superior no Brasil. 
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), é possível perceber o rápido crescimento do 
ensino superior no Brasil, especialmente a partir do aumento do número de 
instituições de ensino superior. 
 
 
 
 
 
 
De acordo com o INEP, havia, no Brasil, em 1996, um total de 922 instituições 
de ensino superior distribuídas por tipo de instituição e localização geográfica, 
conforme a tabela reproduzida no anexo 1. 
Atualmente, de acordo com o INEP em seu censo do ensino superior mais 
recente (ano de 2017), há, no Brasil, 2.448 instituições de ensino superior distribuídas 
por tipo de instituição e localização geográfica, conforme a tabela reproduzida no 
anexo 2. 
Assim, em cerca de 20 anos, o número de instituições de ensino superior no 
país mais que dobrou (quase triplicou). 
No gráfico a seguir, elaborado a partir dos dados extraídos do censo do ensino 
superior feito pelo INEP, podemos visualizar essa expansão ao longo dos anos, isto 
é, observamos o aumento do número de IES entre os anos de 1996 e 2017. 
 
 
Os dados do INEP sobre as IES são disponibilizados desde o ano de 1996, ano de 
entrada em vigor da LDB e que será o ponto de partida para a nossa análise (já que não há 
dados anteriores). 
 
 
 
 
ç 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
Gráfico 1 – Dados extraídos das sinopses estatísticas da educação superior produzidas pelo INEP 
 
Inep, 2018. 
 
De acordo com os dados mais recentes analisados, referentes ao ano de 2017, 
podemos dizer que estamos em um momento em que o Brasil possui o maior número 
de instituições de ensino superior da sua história, distribuídas da seguinte maneira 
(INEP, 2018): 
 
• 296 IES públicas e 2.152 IES privadas; 
• Cerca de 88% das instituições de educação superior são privadas, o que fica 
visualmente evidente no gráfico abaixo: 
 
Gráfico 2 – Dados extraídos das sinopses estatísticas da educação superior produzidas pelo 
Inep 
 
Fonte: Inep, 2018. 
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
IES
12%
88%
IES
Públicas Privadas
 
18 
 
Ainda de acordo com o INEP (2018): 
 
• Em relação às IES públicas: 41,9% estaduais (124 IES); 36,8% federais 
(109); e 21,3% municipais (63). 
• A maioria das universidades é pública (53,3%). 
• Entre as IES privadas, predominam as faculdades (87,3%). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você sabia que universidade, centro universitário e faculdade não são sinônimos? 
Embora no dia a dia, muitas vezes, utilizemos tais expressões como sinônimos, elas não são 
iguais. Veremos a diferença entre cada uma delascom maior atenção na próxima unidade, 
mas, desde já, pense a respeito a partir do seguinte esclarecimento retirado da página 
eletrônica do Ministério da Educação (MEC): 
De acordo com o Decreto n.º 5.773/06, as instituições de educação superior, de acordo com 
sua organização e respectivas prerrogativas acadêmicas, são credenciadas como: 
I - faculdades; 
II - centros universitários; e 
III - universidades 
 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quanto ao número de alunos, também impressionam. De acordo com o censo 
da educação superior de 2017 (INEP, 2018), somente na graduação há 8.286.663 
estudantes matriculados. Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal de Nível Superior (Capes), o Brasil tem 122.295 estudantes de pós-
graduação, dos quais 76.323 são de mestrado acadêmico, 4.008 de mestrado 
profissional e 41.964 de doutorado. Comparativamente com o ano de 1996, a pós-
graduação stricto sensu cresceu no Brasil. Em 1996, havia 67.820 alunos de pós-
graduação no país, sendo 45.622 de mestrado e 22.198 de doutorado (MEC). Ainda 
merecem ser citados os dados referentes à pós-graduação lato sensu: somente em 
2017, cerca de 182.130 pessoas estavam matriculadas em cursos de especialização 
As instituições são credenciadas originalmente como faculdades. O credenciamento 
como universidade ou centro universitário, com as consequentes prerrogativas de 
autonomia, depende do credenciamento específico de instituição já credenciada, em 
funcionamento regular e com padrão satisfatório de qualidade. 
As universidades se caracterizam pela indissociabilidade das atividades de ensino, 
pesquisa e extensão. São instituições pluridisciplinares de formação dos quadros 
profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber 
humano, que se caracterizam por: 
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e 
problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural quanto regional e 
nacional; 
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou 
doutorado; e 
III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral. 
§ 1º A criação de universidades federais se dará por iniciativa do Poder Executivo, 
mediante projeto de lei encaminhado ao Congresso Nacional. 
§ 2º A criação de universidades privadas se dará por transformação de instituições de 
ensino superior já existentes e que atendam ao disposto na legislação pertinente. 
São centros universitários as instituições de ensino superior pluricurriculares, abrangendo 
uma ou mais áreas do conhecimento, que se caracterizam pela excelência do ensino 
oferecido, comprovada pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições de 
trabalho acadêmico oferecidas à comunidade escolar. Os centros universitários 
credenciados têm autonomia para criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e 
programas de educação superior. 
 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Qual é a diferença entre faculdades, centros 
universitários e universidades? Disponível em: http://portal.mec.gov.br/escola-de-
gestores-da-educacao-basica/127-perguntas-frequentes-911936531/educacao-superior-
399764090/116-qual-e-a-diferenca-entre-faculdades-centros-universitarios-e-
universidades. Acesso em: 11 fev. 2019. 
 
20 
lato sensu, conforme dados da Associação Brasileira de Educação a Distância 
(ABED). 
Em outras palavras, temos um grande contingente de estudantes no ensino 
superior brasileiro. Até aqui pudemos observar um panorama acerca do ensino 
superior no Brasil. Espero que tenha sido possível perceber que estamos estudando 
um nível de ensino que abarca uma grande quantidade de instituições e de alunos. 
De forma proposital, ainda não abordamos especificamente o ensino superior 
a distância. Isto será feito no item seguinte, no qual estudaremos o avanço do EaD e 
seu crescente papel no desenvolvimento do ensino superior brasileiro. 
 
1.3 O avanço do ensino a distância (EaD) no Brasil 
 
Como vimos, o ensino superior no Brasil cresceu muito nas últimas duas 
décadas. Em parte, esse avanço se deve também ao aumento da oferta de cursos na 
modalidade a distância. De acordo com o artigo 1.º do Decreto 5.622/2005, que 
regulamenta tal modalidade de ensino, a educação a distância é a 
 
[…] modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos 
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e 
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores 
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. 
(BRASIL, 2005) 
 
A prática do ensino a distância no Brasil não tem um marco histórico definido. 
Há diferentes versões sobre o início dessa modalidade de ensino no país, sobretudo 
em razão das diferentes fases pelas quais o EaD vivenciou, passando pela “fase da 
correspondência, do rádio, da televisão, até chegar à atuação conjugada de vários 
meios de comunicação, entre eles os favorecidos pelo uso da internet” (Faria; 
Salvadori, 2010, p. 19). 
Embora seja difícil traçar uma história completa e linear sobre o EaD no Brasil, 
Jorge Fernando Hermida e Cláudia Ramos de Souza Bonfim (2006) apresentam uma 
interessante retomada histórica sobre tema que vale a pena ser lida. Acompanhe tal 
perspectiva histórica na transcrição abaixo: 
 
No Brasil, o EAD surge em 1904, quando as escolas internacionais 
(representação de uma organização norte-americana) lançaram alguns 
cursos por correspondência, mas a partir dos anos 1930 é que se deu com 
mais ênfase, com enfoque no ensino profissionalizante, funcionando como 
alternativa especialmente na educação não formal. Passou então a ser 
utilizada para tornar o conhecimento acessível às pessoas que residiam em 
áreas isoladas ou não tinham condições de cursar o ensino regular no período 
normal. 
O EAD passou a ser conhecido no Brasil a partir de projetos de ensino 
supletivo via televisão e fascículos. Porém, adquiriu popularmente o 
significado de “educação pela televisão”, tal como, para a maioria das 
pessoas, os telecursos eram (e são ainda): “cursos pela televisão”. 
[...] no Brasil o EAD teve início com a implantação do Instituto Rádio Monitor, 
em 1929, e com o Instituto Universal Brasileiro, em 1941. As experiências 
 
21 
brasileiras, governamentais ou não, têm sido caracterizadas pela 
descontinuidade dos projetos e por certo receio em se adotar procedimentos 
rigorosos e científicos de avaliação. 
Nas últimas décadas, o EAD tomou um novo impulso com o uso das 
tecnologias tradicionais de comunicação, como o rádio e a televisão, 
associadas aos materiais impressos enviados pelo correio, o que favoreceu 
a disseminação e a democratização do acesso à educação em diferentes 
níveis, permitindo atender à grande massa de alunos. 
Alguns programas de EAD marcaram sua história. Dentre estes pode-se 
destacar, na década de 30 a 40: a fundação da Rádio Sociedade do Rio de 
Janeiro Roquete-Pinto (1930); a Rádio-Escola Municipal Rio de Janeiro 
(1934); o Instituto Rádio Técnico Monitor, em São Paulo, instituição privada 
que oferecia cursos profissionalizantes (1939); a Universidade do Ar, da 
Rádio Nacional voltada para o professor leigo / Instituto Universal Brasileiro 
(1941). 
Na década de 50 destacaram-se: em 1954, a Universidade do Ar, criada para 
treinar comerciantes e empregados em técnicas comerciais no Serviço Social 
do Comércio (SESC) e no serviço Nacional de Aprendizagem (SENAC); o 
Sistema Rádio Educativo Nacional (SIRENA) passa a produzir programas 
transmitidos por diversas emissoras (1957); a Arquidiocese de Natal no Rio 
grande do Norte lançou um sistema de radiodifusão, cujo sucessoinspirou a 
criação do Movimento Nacional de Educação Básica (MEB), em 1958. 
Nos anos 60 foram destaque: o Movimento Nacional de Educação de Base, 
concebido pela Igreja e patrocinado pelo Governo Federal (1961); a 
solicitação do Ministério da Educação de reserva de canais VHF e UHF para 
a TV Educativa; a criação da Fundação Centro Brasileiro de Televisão 
Educativa na UFRJ/ Fundação Padre Landell de Moura – FEPLAM – RGS/ 
TV Universitária de Recife – Pernambuco (1967); a Fundação Maranhense 
de Televisão Educativa (1969) e o Decreto n.º 65.239, de 1969, que criou o 
Sistema Avançado de Tecnologias Educacionais – SATE, em âmbito federal. 
Na década de 70, destacam-se: a Associação Brasileira de Teleducação 
(ABT) ou Tecnologia Educacional/Projeto Minerva, em Cadeia Nacional; a 
fundação Roberto Marinho inicia a educação supletiva à distância para 
primeiro e segundo graus; o Programa Nacional de Teleducação (PRONTEL); 
o Projeto Sistema avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI); a 
Emissora de Televisão Educativa (TVE) do Ceará; o Projeto de Piloto de 
Teledidática da TVE; Projeto Logos – MEC; Telecurso do 2.º grau; Fundação 
Centro Brasileiro de Televisão Educativa/ MEC; Projeto Conquista; 
Programas de alfabetização – (Movimento Brasileiro de Alfabetização, 
MOBRAL). 
Nos anos 80: a Universidade de Brasília cria os primeiros cursos de extensão 
à distância; curso de pós-graduação tutorial à distância; TV Educativa do 
Mato Grosso do Sul; Projeto Ipê; TV Cultura de São Paulo; Fundação 
Nacional para Educação de Jovens e Adultos. 
Na década de 90: Telecurso 2000 e Telecurso Profissionalizante – Fundação 
Roberto Marinho e SENAI; TV Escola – Um Salto para o Futuro; Programa 
Nacional de Informática na Educação (PROINFO); Canal Futura – canal do 
conhecimento; Criação do Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa – 
SINRED; Sistema Nacional de Educação à Distância SINEAD; 
PROFORMAÇÃO – Programa de Formação de Professores em Exercício. 
(HERMIDA; BONFIM, 2006, p. 173-174). 
 
Ao trecho acima, merecem ser acrescidos alguns outros marcos importantes 
sobre a história do EaD no Brasil. São eles: a criação, em 1996, da Secretaria de 
Educação a Distância (SEED) pelo Ministério da Educação; a entrada em vigor da Lei 
 
22 
n.° 9.394 de 20 de dezembro de 1996, conhecida como de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional; a formação, em 2000, da Rede de Educação Superior a Distância 
(UniRede), consórcio que reúne instituições públicas do Brasil comprometidas na 
democratização do acesso à educação de qualidade por meio da educação a 
distância; a criação da Universidade Aberta do Brasil em 2005. 
A partir do trecho transcrito acima e dos marcos apresentados no parágrafo 
anterior, podemos concluir que o ensino a distância no país tem uma história 
relativamente recente se compararmos aos primórdios da educação presencial. Além 
disso, embora tenha havido uma série de iniciativas promotoras do ensino a distância 
ao longo do último século, a modalidade EaD não recebia o devido respaldo legal e 
era vista com preconceito por muitos, que a enxergavam como uma modalidade de 
ensino inferior. 
Essa visão deturpada do EaD tem mudado com o avanço das novas 
tecnologias da informação e comunicação (NTICs), sobretudo após a entrada em vigor 
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e do Decreto n.º 5.622 de 
19 de dezembro de 2005 (os quais serão objeto de nosso estudo nas unidades 
seguintes). 
O crescimento da educação a distância é realidade no Brasil (e no mundo). De 
acordo com o censo da educação superior de 2017, feito pelo INEP (2018), 
 
• Enquanto o ensino presencial teve queda nas matrículas, a educação a 
distância apresentou o maior número de matriculados: as matrículas em EaD 
cresceram 17,6% de 2016 para 2017. 
 
• Os estudantes de educação a distância totalizaram 1,8 milhão em 2017 
(mais de 20% do total de alunos em todo o ensino superior). 
 
• O ensino superior tem cerca de 8,3 milhões de alunos em cursos de 
graduação, sendo 6,5 milhões frequentadores de cursos presenciais e 1,8 
milhões de alunos matriculados na modalidade de EaD. 
 
Viu só? A educação a distância está em pleno movimento e expansão no Brasil. 
Essa modalidade de ensino só tem a crescer e, certamente, será o futuro (ou boa 
parte dele) da educação. Se você chegou até aqui, saiba que já está fazendo parte 
dessa história! 
Agora, convido-o(a) a realizar uma atividade sobre as temáticas que discutimos 
nesta unidade. 
 
 
23 
 
Considerando os nossos estudos ao longo desta unidade, vimos que a 
educação a distância tem avançado rapidamente no Brasil, sobretudo na última 
década. 
Você já pensou quais as razões para esse crescimento? A quais fatores você 
atribuiria esse crescente sucesso da EaD? 
Reflita sobre esses possíveis motivos e elabore um pequeno texto com suas 
conclusões, relacionando-as com a charge abaixo: 
 
Disponível em: http://www.ifpb.edu.br/ead/assuntos/charges. Acesso em: 11 fev. 2019. 
 
Bom trabalho! 
 
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25 
 
 
 
Nesta unidade, estudamos os aspectos históricos da educação superior no 
Brasil, analisando suas origens e seu processo de evolução ao longo dos anos. 
Ficou claro, ao olhar para a história, que o início da educação superior brasileira 
foi marcado pela presença quase exclusiva das elites nas IES. Com o tempo, o ensino 
superior foi se abrindo (embora saibamos que, até os dias de hoje, nem todos 
conseguem ter acesso à educação, especialmente a educação superiorno nosso 
país). 
Além dos aspectos históricos, analisamos também o panorama da educação 
superior no Brasil, examinando a seu rápido crescimento nas últimas décadas. 
Por fim, passamos para a análise do avanço do EaD no Brasil, sendo esta a 
modalidade de ensino que mais cresce no país. 
Espero que você tenha aprendido bastante e esteja motivado(a) a ir adiante. 
 
 
 
 
26 
UNIDADE II 
 
2. A ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
O objetivo central desta unidade é estudar a estrutura do ensino superior no 
Brasil. Para tanto, nos apoiaremos na legislação que regulamenta esse nível de 
ensino, com destaque para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais 
conhecida como LDB. Como veremos adiante, a LDB dispõe sobre as diretrizes que 
orientam a educação brasileira e traça a organização do ensino superior no nosso 
país. 
Nesta unidade, analisaremos como é organizada a educação superior no Brasil, 
suas modalidades de ensino superior, princípios e propostas. 
Dessa forma, poderemos compreender a organização do sistema educacional 
superior no Brasil, etapa essencial para nos aprofundarmos, nas próximas unidades, 
no ensino superior a distância, sua regulamentação e fomento. 
 
2.1 Organização do ensino superior no Brasil 
 
A educação é um direito assegurado em diversos tratados internacionais e na 
Constituição da República Federativa do Brasil (CF) de 1988, sendo considerada um 
direito humano e fundamental. 
O direito à educação está inicialmente previsto no artigo 6.º da Constituição 
Federal de 1988, que dispõe: 
 
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção 
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição (grifo nosso). 
 
Além de explicitar que a educação é um direito (artigo 6.º, CF), a partir do seu 
artigo 205, a Constituição Federal especifica como tal direito será garantido, indicando 
primeiramente que a educação é um direito de todos, dever do Estado e da família e 
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho (artigo 205, CF). Ressalta-se, portanto, que a educação 
é um direito de todos e é de responsabilidade não só do Estado, mas da família 
também, devendo ser incentivada por toda a sociedade. 
Conteúdos trabalhados na unidade: A estrutura do ensino superior 
brasileiro: organização do ensino superior no Brasil; Modalidades de ensino 
superior; Princípios e propostas da educação superior. 
 
27 
A educação, no âmbito no ensino, seguirá os seguintes princípios, 
estabelecidos no artigo 206 da CF: 
 
O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
 
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte 
e o saber; 
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de 
instituições públicas e privadas de ensino; 
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma 
da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público 
de provas e títulos, aos das redes públicas; 
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; 
VII - garantia de padrão de qualidade; 
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação 
escolar pública, nos termos de lei federal. 
 
O ensino, portanto, deve ser permeado pela não discriminação, princípio e 
direito que será aprofundado no item seguinte; pela liberdade de aprender, ensinar 
(chamada também de liberdade de cátedra), pesquisar e veicular as ideias; pelo 
pluralismo de ideias e percepções, oferecendo ao aluno diferentes perspectivas sobre 
aquilo que se ensina; pela gratuidade do ensino público; valorização dos profissionais 
da educação; gestão democrática do ensino; pela busca frequente de um padrão de 
qualidade; e por um piso salarial profissional, ou seja, um valor mínimo a ser pago 
pelos profissionais da educação escolar pública. 
Observe que esses princípios estão articulados entre si. Assim, não é possível 
haver liberdade de ensinar e pesquisar se não houver respeito ao pluralismo de ideias. 
Não há como valorizar o profissional da educação se não for garantido a ele um salário 
minimamente suficiente para arcar com seu custo de vida. 
A garantia constitucional de tal direito é acompanhada, no âmbito 
infraconstitucional, por diversas leis, sendo a mais relevante delas a Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação Nacional (LDB). 
A LDB é a lei mais importante do sistema educacional do nosso país, 
apresentando as diretrizes gerais da educação brasileira, seja ela pública ou privada, 
nos seus mais diversos níveis. Por isso, conhecer a LDB é um passo fundamental 
para quem quer trabalhar com educação, inclusive educação superior a distância. 
Vamos a ela? 
A Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro 1996, conhecida Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional (LDB) possui 92 artigos, organizados em 9 grandes seções 
chamadas de títulos. Cada título aborda um tema específico, conforme sistematizado 
abaixo: 
 
• Título I: Da educação 
• Título II: Dos princípios e fins da educação nacional 
• Título III: Do direito à educação e do dever de educar 
• Título IV: Da organização da educação nacional 
• Título V: Dos níveis e das modalidades de educação e ensino 
 
28 
• Título VI: Dos profissionais da educação 
• Título VII: Dos recursos financeiros 
• Título VIII: Das disposições gerais 
• Título IX: Das disposições transitórias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Iniciaremos pela análise da LDB a partir de um olhar macroscópico, 
identificando os principais pontos disciplinados pela lei. Ou seja, nosso objetivo neste 
momento é compreender, em linhas gerais, o que diz a LDB e em qual parte da lei 
podemos encontrar cada tema. Posteriormente, estudaremos a fundo pontos 
específicos relacionados ao ensino superior (inclusive, na modalidade a distância). 
Começaremos pelo “Título I”. 
A LDB, logo em seu artigo 1.º, apresenta o conceito de educação, segundo o 
qual 
 
a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida 
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e 
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas 
manifestações culturais (Brasil, 1996). 
 
Assim, indica que educação possui um significado mais amplo, que vai além da 
frequência às instituições de ensino, abrangendo os processos formativos que 
ocorrem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de 
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil, nas 
manifestações culturais. 
Ainda, neste primeiro artigo, a LDB frisa que irá disciplinar tão somente a 
educação escolar, “que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em 
instituições próprias” e que deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. 
Em seu “Título II”, a LDB, em seu artigo 2.º, retoma o conteúdo do artigo 205 
da Constituição Federal, dispondo que a educação é dever da família e do Estado, 
devendo inspirar-se pelos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade 
humana e ter por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para 
o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
Para compreendermos toda a extensão da LDB e conseguirmos acompanhar esta 
unidade da forma mais proveitosa possível, é imprescindível a leitura atenda de seu texto. Não 
precisamos decorar todo o texto da lei,fique tranquilo(a). Mas, precisamos conhecer seus 
princípios e disposições mais relevantes. 
 
BRASIL. Lei n.º 9.394 sobre as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 18 fev. 2019. 
 
 
 
29 
Em seguida, a LDB apresenta os princípios norteadores da educação nacional 
em seu artigo 3.º, transcrito a seguir: 
 
O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: 
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; 
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; 
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
VII – valorização do profissional da educação escolar; 
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da 
legislação dos sistemas de ensino; 
IX – garantia de padrão de qualidade; 
X – valorização da experiência extraescolar; 
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas 
sociais; 
XII – consideração com a diversidade étnico-racial; 
XIII – garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. 
(Brasil, 1996) (grifo nosso) 
 
Dessa forma, a LDB está em plena harmonia com os princípios norteadores da 
educação estabelecidos na Constituição Federal (artigo 206, CF/88). 
Em seu “Título III”, a LDB trata do direito de todos à educação (artigo 5, LDB), 
bem como do dever de educar, sendo esse dever do Estado e da família. 
Inicialmente, no artigo 4.º, a LDB dispõe sobre o dever do Estado com 
educação escolar pública, frisando que tal dever será efetivado mediante a garantia 
de: 
 
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) 
anos de idade, organizada da seguinte forma: 
a) pré-escola; 
b) ensino fundamental; 
c) ensino médio; 
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade; 
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com 
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou 
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, 
preferencialmente na rede regular de ensino; 
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os 
que não os concluíram na idade própria; 
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de cada um; 
 
30 
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; 
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com 
características e modalidades adequadas às suas necessidades e 
disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de 
acesso e permanência na escola; 
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por 
meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, 
alimentação e assistência à saúde; 
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e 
quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao 
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. 
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental 
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que 
completar 4 (quatro) anos de idade. (Brasil, 1996) 
 
Ainda em relação a este título que estamos analisando, vale mencionar que, 
em que pese seja dever do Estado garantir o direito à educação, (i) também é dever 
dos pais ou responsáveis “efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir 
dos 4 (quatro) anos de idade” (artigo 6.º, LDB) e (ii) o ensino é livre à iniciativa privada, 
desde que atendidas as condições especificadas no artigo 7.º da LDB. 
O “Título IV” disciplina a organização da educação nacional, estabelecendo que 
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem organizar, em regime 
de colaboração, os respectivos sistemas de ensino (artigo 8.º e seguintes, LDB), 
atribuindo responsabilidades a cada um dos entes federativos (União, Estados, 
Distrito Federal e Municípios). 
Além desses, também possuem suas responsabilidades especificadas na LDB: 
os estabelecimentos de ensino (artigo 12) e os docentes (artigo 13). 
O “Título V” trata dos níveis e das modalidades de educação e ensino (artigo 
21, LDB), abordando a educação básica (artigos 22 a 38 da LDB), a educação 
profissional (artigos 39 a 42 da LDB), a educação superior (artigos 43 a 57 da LDB) e 
a educação especial (artigos 58 a 60 da LDB). 
O “Título VI” se refere aos profissionais da educação, apontando requisitos para 
ingresso na carreira, regras para a formação de professores e estratégias para a 
valorização dos docentes (artigos 61 a 67 da LDB). 
O “Título VII” disciplina a alocação de recursos públicos destinados à educação, 
dispondo sobre a fonte, repasse e aplicação de tais recursos, conforme artigos 68 a 
77 da LDB. 
O “Título VIII”, em seus artigos 78 a 86 da LDB, traz algumas disposições gerais 
sobre a educação no Brasil, com destaque para o fomento à educação intercultural 
dos povos indígenas (artigos 78 e 79, LDB), a inclusão do “Dia da Consciência Negra” 
no calendário escolar (artigo 79-B, LDB), o fomento do ensino a distância (artigo 80, 
LDB), a organização de cursos ou instituições de ensino experimentais (artigo 81, 
LDB), a realização de estágios (artigo 82, LDB), o ensino militar (artigo 83, LDB), o 
aproveitamento discente em tarefas de ensino e pesquisa na educação superior 
(artigo 84, LDB), a obrigatoriedade do concurso público para docentes de instituições 
públicas (artigo 85, LDB) e a integração das universidades no Sistema Nacional de 
Ciência e Tecnologia (artigo 86, LDB). 
 
31 
Por fim, o “Título IX” estabelece algumas disposições transitórias para serem 
efetivadas a partir da publicação da LDB, conforme disposto nos artigos 87 a 92 de tal 
lei. 
Chegamos ao fim desta análise mais estrutural da LDB. Espero que tenha 
conseguido compreender quais são os principais pontos tratados por essa lei, tão 
importante para o sistema educacional brasileiro. 
A partir de agora, iremos analisar com mais atenção os artigos 43 a 57, 
pertencentes ao Título V da LDB sobre o ensino superior. 
Conforme artigo 21 da LDB, a educação escolar é composta dos seguintes 
níveis: educação básica (formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino 
médio) e educação superior. 
O esquema abaixo nos ilustra essa composição da educação escolar: 
 
 
 
Para nós, interessa compreender quais as diretrizes da LDB para a organização 
do ensino superior. 
No Brasil, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a 
educação superior abrange: 
 
EDUCAÇÃO 
ESCOLAR
EDUCAÇÃO 
BÁSICA
EDUCAÇÃO 
INFANTIL
ENSINO 
FUNDAMENTAL
ENSINO MÉDIO
EDUCAÇÃO 
SUPERIOR
 
32 
a) cursos sequenciais por campo do saber – e não uma área de conhecimento 
e suas habilitações – de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que 
tenham concluído o ensino médio ou equivalente e atendam às exigências da 
instituição de ensino; 
b) cursos de graduação, que envolvem a área de conhecimento e suas 
habilitações, são destinados a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou 
equivalente e tenham sido aprovados em processo seletivo; 
c) cursos e programas de pós-graduação compreendendo programas de 
mestrado e doutorado, cursos de especialização e aperfeiçoamento, ofertados a 
candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das 
instituições de ensino;d) cursos de extensão abertos a candidatos que atendam aos requisitos 
estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tais cursos e programas que compõem a educação superior, conforme dispõe o 
artigo 43 da LDB, têm como finalidade: 
 
I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do 
pensamento reflexivo; 
II – formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a 
inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento 
da sociedade brasileira e a colaborar na sua formação contínua; 
III – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica visando o 
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, 
e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que 
vive; 
IV – promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos 
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do 
ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; 
V – suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional 
e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos 
que vão sendo adquiridos em uma estrutura intelectual sistematizadora do 
conhecimento de cada geração; 
VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em 
particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à 
comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; 
Os cursos e programas de pós-graduação são divididos nas seguintes modalidades: lato sensu (com 
duração mínima de 360 horas, compreende programas de especialização e inclui os cursos 
designados como Master Business Administration (MBA) e stricto sensu (compreende programas de 
mestrado e doutorado abertos a candidatos). 
 
33 
VII – promover a extensão aberta à participação da população visando à 
difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da 
pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. 
VIII – atuar em favor da universalização e do aprimoramento da educação 
básica, mediante a formação e a capacitação de profissionais, a realização 
de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão 
que aproximem os dois níveis escolares (Brasil, 1996). 
 
As instituições de ensino superior, públicas ou privadas, podem ser 
credenciadas como faculdades, centros universitários ou universidades. Inicialmente, 
as instituições são credenciadas pelo Ministério da Educação (MEC) como 
faculdades, podendo posteriormente solicitar o credenciamento como centro 
universitário ou universidade caso sejam preenchidos determinados requisitos legais, 
tais como padrão de qualidade, qualificação do quadro profissional etc. 
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o termo faculdade possui duas 
conotações: a primeiras refere-se a uma instituição de ensino superior que oferta 
cursos em número pequeno de áreas do conhecimento, cuja abertura deve ser 
autorizada pelo MEC e cujo corpo docente deve possuir pós-graduação lato sensu; a 
segunda corresponde às unidades de uma universidade, como por exemplo a 
faculdade de direito da Universidade de São Paulo. 
Já os centros universitários e as universidades possuem um espectro mais 
amplo de áreas do conhecimento e critérios mais exigentes para o seu funcionamento. 
De acordo com o artigo 16 do Decreto n.º 9.235/2017, as instituições de ensino 
superior poderão solicitar serem credenciadas como centro universitário desde que 
atendam aos seguintes requisitos: 
 
I – um quinto do corpo docente estar contratado em regime de tempo integral; 
II – um terço do corpo docente possuir titulação acadêmica de mestrado ou 
doutorado; 
III – no mínimo oito cursos de graduação terem sido reconhecidos e terem 
obtido conceito satisfatório na avaliação externa in loco realizada pelo Inep; 
IV – possuírem programa de extensão institucionalizado nas áreas do 
conhecimento abrangidas por seus cursos de graduação; 
V – possuírem programa de iniciação científica com projeto orientado por 
docentes doutores ou mestres, que pode incluir programas de iniciação 
profissional ou tecnológica e de iniciação à docência; 
VI – terem obtido Conceito Institucional (CI) maior ou igual a quatro na 
avaliação externa in loco realizada pelo Inep, prevista no § 2º do art. 3º da Lei 
n.º 10.861 de 14 de abril de 2004; e 
VII – não terem sido penalizadas em decorrência de processo administrativo 
de supervisão nos últimos dois anos, contado da data de publicação do ato 
que penalizou a IES (Brasil, 2017). 
 
As universidades, por sua vez, são as instituições pluridisciplinares, que se 
sustentam no tripé “ensino, pesquisa e extensão”. 
 
 
34 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trata-se a universidade de instituição de ensino superior com maior autonomia 
(conforme disciplinam os artigos 52, 53, 54 e 55 da LDB) e que deve cumprir o maior 
número de requisitos. São eles, de acordo com o artigo 17 do Decreto n.º 9.235/2017: 
 
I – um terço do corpo docente estar contratado em regime de tempo integral; 
II – um terço do corpo docente possuir titulação acadêmica de mestrado ou 
doutorado; 
III – no mínimo sessenta por cento dos cursos de graduação terem sido 
reconhecidos e terem conceito satisfatório obtido na avaliação externa in 
loco realizada pelo Inep ou em processo de reconhecimento devidamente 
protocolado no prazo regular; 
IV – possuírem programa de extensão institucionalizado nas áreas do 
conhecimento abrangidas por seus cursos de graduação; 
V – possuírem programa de iniciação científica com projeto orientado por 
docentes doutores ou mestres, o que pode incluir programas de iniciação 
profissional ou tecnológica e de iniciação à docência; 
VI – terem obtido CI maior ou igual a quatro na avaliação externa in 
loco realizada pelo Inep, prevista no §2º do artigo 3º da Lei n.º 10.861, de 
2004; 
VII – oferecerem regularmente quatro cursos de mestrado e dois cursos de 
doutorado reconhecidos pelo Ministério da Educação; e 
VIII – não terem sido penalizadas em decorrência de processo administrativo 
de supervisão nos últimos dois anos, contados da data de publicação do ato 
que penalizou a IES (Brasil, 2017). 
 
Independentemente do tipo de instituição – faculdade, centro universitário ou 
universidade –, o ano escolar na educação superior tem, no mínimo, duzentos dias de 
trabalho acadêmico efetivo (excluído o tempo reservado aos exames finais, quando 
houver) e os cursos ofertados, independentemente do período de sua realização 
(diurno, noturno, vespertino), deverão seguir os mesmos padrões de qualidade. 
 
Para compreender melhor esse tripé que corresponde aos pilares da universidade, sugiro a 
leitura do artigo indicado abaixo, intitulado “Refletindo sobre os três pilares de sustentação das 
universidades: ensino-pesquisa-extensão”, de autoria de Maria Helena Silva Costa Sieutjes. 
SIEUTJES, Maria Helena Silva Costa. Refletindo sobre os Três Pilares de Sustentação 
das Universidades: ensino-pesquisa-extensão. In: Revista de Administração Pública, v. 33, n. 3, 
1999. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/7639/6177. Acesso 
em: 22 fev. 2018. 
 
35 
2.2 Modalidades de ensino superior 
 
Quando pensamos em modalidades do ensino superior, estamos fazendo 
referência à maneira como esse nível da educação é desenvolvido. De acordo com o 
Ministério da Educação, são modalidades de ensino superior: (a) presencial, (b) a 
distância e (c) semipresencial ou híbrido. 
 
 (a) A modalidade presencial é a mais tradicional e comum no nosso 
país. Trata-se de modalidade de ensino em que os alunos e professores se encontram 
fisicamente em locais e horários determinados a fim dedesenvolverem o processo de 
ensino-aprendizagem. As atividades realizadas nessa modalidade são denominadas 
de atividades síncronas, indicando que discentes e docentes desenvolvem suas 
tarefas simultaneamente. 
 
Imagem 1 – Modalidade de ensino presencial 
 
Fonte: Brasil, 20182. 
 
 (b) A modalidade a distância, conhecida como educação a distância (EaD), 
é aquela em que os alunos e professores estão fisicamente em locais 
distintos, não havendo a necessidade de se comunicarem 
simultaneamente. Daí tais atividades serem denominadas de atividades 
assíncronas. Na EaD, a interação entre os alunos e o professor – ou entre 
os próprios alunos – pode se dar por meio de tecnologias da informação e 
comunicação (TICs) em ambientes virtuais, materiais impressos, sonoros, 
audiovisuais, teleconferências, listas de discussão etc. De acordo com o 
 
2 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/educacao-e-ciencia/2018/09/saiba-se-sua-instituicao-
de-ensino-superior-e-credenciada-pelo-
mec?TSPD_101_R0=0e07c6c06681497452a0a71ff411bb36kyf00000000000000003ea551c9ffff00000
000000000000000000000005c7949f20043f9dc3c08282a9212ab2000961c80294c4ee30f260ed6473e
86787d52a94f90813c38ddf00493498345666608e075d02e0a2800c5767327865182bce4491d64c530
2d8ed39df5046f128137317c87102ff9457dcf4ee688b95cfa91. Acesso em: 1 mar. 2019. 
 
36 
Decreto 9.057/2017, que regulamenta itens da LDB, a educação a distância 
é a 
 
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos 
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e 
tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com 
políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre 
outros, e desenvolve atividades educativas por estudantes e profissionais da 
educação que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL, 2017). 
 
Na EaD, as atividades acontecem predominantemente a distância, sem o 
encontro físico do professor com o aluno. Assim, o discente realiza as atividades de 
onde quiser e no momento que quiser, sem a necessidade de deslocamento para a 
instituição de ensino. 
 
Imagem 2 – Modalidade de ensino a distância 
 
Fonte: Prefeitura de Jundiaí, 20163. 
 
 (c) Há, ainda, uma alternativa que mescla as duas modalidades acima. 
Trata-se da modalidade semipresencial ou híbrida, isto é, com partes do curso 
ministradas presencialmente e partes a distância. 
 
Na modalidade presencial, existe a possibilidade de serem ofertados também 
cursos em que a maior parte das atividades ocorre de forma presencial com encontros 
na instituição de ensino. Mas alguns conteúdos podem ser desenvolvidos a distância. 
Como veremos com mais detalhes adiante, a legislação (Portaria n.º 1.428/2018 do 
 
3 Disponível em: https://jundiai.sp.gov.br/noticias/2016/07/22/jundiai-tem-mais-de-25-mil-vagas-para-
diversos-cursos-a-distancia/. Acesso em: 1 mar. 2019. 
 
37 
MEC) permite que até 40% da carga horária seja ofertada a distância, desde que 
observados alguns requisitos legais. 
Na modalidade a distância, também existe a possibilidade do ensino híbrido: as 
atividades são desenvolvidas predominantemente a distância, mas há alguns 
encontros presencias na instituição de ensino ou em seus polos de apoio, onde os 
alunos podem ter algum contato com o docente e seus colegas. 
Independentemente da modalidade, seja presencial, seja a distância, deve-se 
zelar pela qualidade no ensino; buscar a igualdade de condições para o acesso à 
educação; permitir a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; respeitar a liberdade; valorizar o profissional da 
educação, vincular educação, trabalho e prática sociais; considerar a diversidade; e 
criar instrumentos para a efetivação do direito à educação. 
 
2.3 Princípios e propostas da educação superior 
 
Como vimos, a educação superior no Brasil tem como base normativa central 
a LDB e uma série de outras normas – nacionais e internacionais – que oferecem 
alicerce jurídico ao ensino superior. 
Neste momento, abordaremos uma das normas internacionais que 
influenciaram o pensar do ensino superior. Trata-se da “Declaração Mundial sobre a 
Educação Superior para o século XXI: visão e ação”, elaborada pela UNESCO em 
1998. 
De acordo com tal Declaração, 
 
A educação superior tem dado ampla prova de sua viabilidade no decorrer 
dos séculos e de sua habilidade para se transformar e induzir mudanças e 
progressos na sociedade. Devido ao escopo e ritmo destas transformações, 
a sociedade tende paulatinamente a transformar-se em uma sociedade do 
conhecimento, de modo que a educação superior e a pesquisa atuam agora 
como componentes essenciais do desenvolvimento cultural e 
socioeconômico de indivíduos, comunidades e nações. A própria educação 
superior é confrontada, portanto, com desafios consideráveis, e tem de 
proceder à mais radical mudança e renovação que porventura lhe tenha sido 
exigido empreender para que nossa sociedade, atualmente vivendo uma 
profunda crise de valores, possa transcender as meras considerações 
econômicas e incorporar as dimensões fundamentais da moralidade e da 
espiritualidade. (UNESCO, 1998) 
 
Assim, o documento buscou pensar e repensar o ensino superior considerando 
os desafios dos novos tempos. 
A Declaração inicia, em seu artigo 1º, apresentando as missões do ensino 
superior: educar, formar e realizar pesquisas. Entende-se por “educar” tanto a 
capacitação profissional como a de preparação para a cidadania, envolvendo 
conhecimentos teóricos e práticos. Por “formar”, entende o abrir-se para a participação 
ativa na sociedade e no mundo. E “pesquisar” corresponde à promoção, geração e 
difusão do conhecimento. 
 
38 
Trata-se de uma tríade que resume as missões do ensino superior, ilustrada na 
figura a seguir. 
 
Figura 1 – Tríade das missões do ensino superior 
 
 
Fonte: Elaborada pela autora. 
 
Conforme a Declaração (UNESCO, 1998), as missões e valores fundamentais 
da educação superior, em particular a missão de contribuir para o desenvolvimento 
sustentável e o melhoramento da sociedade, devem ser preservados, reforçados e 
expandidos com a finalidade de: 
 
a) educar e formar pessoas altamente qualificadas, cidadãs e cidadãos 
responsáveis, capazes de atender às necessidades de todos os 
aspectos da atividade humana oferecendo-lhes qualificações relevantes, 
incluindo capacitações profissionais nas quais sejam combinados 
conhecimentos teóricos e práticos de alto nível mediante cursos e programas 
que se adaptem constantemente às necessidades presentes e futuras da 
sociedade; 
b) prover um espaço aberto de oportunidades para o ensino superior e para 
a aprendizagem permanente, oferecendo uma ampla gama de opções e a 
possibilidade de alguns pontos flexíveis de ingresso e conclusão dentro do 
sistema, assim como oportunidades de realização individual e mobilidade 
social de modo a educar para a cidadania e a participação plena na sociedade 
com abertura para o mundo, visando construir capacidades endógenas e 
consolidar os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável, a 
democracia e a paz em um contexto de justiça; 
c) promover, gerar e difundir conhecimentos por meio da pesquisa e, 
como parte de sua atividade de extensão à comunidade, oferecer assessorias 
relevantes para ajudar as sociedades em seu desenvolvimento cultural, social 
e econômico, promovendo e desenvolvendo a pesquisa científica e 
EDUCAR
PESQUISARFORMAR
 
39 
tecnológica, assim como os estudos acadêmicos nas ciências sociais e 
humanas, e a atividade criativa nas artes; 
d) contribuir para a compreensão, interpretação, preservação,

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