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operações de inteligencia na policia

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Prévia do material em texto

POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA 
DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO 
CENTRO DE ENSINO 
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE 
 
 
 
FABIANO DE SOUZA FREITAS MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA NA POLICIA MILITAR: análise da legislação 
pertinente e proposições. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS 
2010 
FABIANO DE SOUZA FREITAS MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA NA POLICIA MILITAR: análise da legislação 
pertinente e proposições. 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Formação de 
Oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina. 
 
 
 
 
 
Orientador: Pós-Dr Ten Cel PM José Luiz Gonçalves da Silveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta monografia ao amor da minha vida Susann Aguiar 
Mondadori, meu presente. 
 
A quem devo o súbito prazer 
Que me estimula os sentidos nas horas acordadas 
E o ritmo que nos governa o repouso nas horas dormidas, 
A respiração em uníssono 
 
Dos amantes cujos corpos cheiram um ao outro 
Que pensam os mesmos pensamentos sem precisar de palavras 
E balbuciam as mesmas palavras sem precisar de sentido. 
 
Nenhum vento de inverno impertinente vai gelar 
Nenhum sol de trópico rabugento vai fazer murchar 
As rosas no rosal que é nosso que é só nosso 
 
Mas esta dedicatória é para outros lerem: 
São palavras reservadas dirigidas a você em público. 
(T. S. Eliot) 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus pela minha vida, por me conceder saúde e força para superar qualquer 
obstáculo e lutar por meus objetivos. 
Aos meus pais, Coronel PMSC RR Jorge Luiz Freitas Martins e Eliane de Souza 
Martins, que um dia sonharam e hoje compartilham este importante momento comigo. 
Ao meu irmão, Jorge Augusto de Souza Martins “Guto”, pelo incentivo e colaboração 
na realização deste trabalho. 
Ao meu orientador, Tenente Coronel PMSC Gonçalves, com minha total admiração e 
especial gratidão. 
Aos amigos de curso, com desejo de que nunca tenham certezas absolutas, de que 
nunca temam as dúvidas, de que nunca se intimidem diante das divergências e de que nunca 
permitam que alguém lhes impeça de lutar pelos seus sonhos. 
A todos que de alguma forma incentivaram, apoiaram e colaboraram na realização da 
presente monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É preferível capturar o exército inimigo a destruí-
lo. Obter uma centena de batalhas não é o cúmulo 
da habilidade. Dominar o inimigo sem combater, 
isso sim é o cúmulo da habilidade. 
 (Sun Tzu) 
RESUMO 
 
 
A presente monografia tem como objetivo a análise da legislação pertinente à atividade de 
inteligência e a proposição de regulamentação desta no estado de Santa Catarina. Primeiramente 
descreveu-se sobre a história e a evolução do serviço de inteligência no mundo e no Brasil, sobre 
aquele se tratou das primeiras evidências relativas à consecução de informações até os dias atuais, 
tratando-se da inteligência na esfera da diplomacia, das guerras e do policiamento; sobre este se 
abordou as mudanças dos órgãos competentes para o emprego do serviço secreto. Em um 
segundo momento cuidou-se da apresentação e descrição das técnicas operacionais de 
inteligência, mencionando conceitos sobre operações de inteligência, princípios, planejamento e 
os tipos de operações. Ato contínuo, descreveu-se sobre as ações de inteligência que se 
subdividem em ações de coleta e ações de busca, sendo que esta é operacionalizada pelas ações 
de reconhecimento, vigilância, recrutamento operacional, infiltração, provocação, entrevista, 
entrada e interceptação de sinais e de dados. Após, tratou-se das técnicas operacionais de 
inteligência que consistem no processo de identificação de pessoas, OMD (observação, 
memorização e descrição), estória cobertura, disfarce, comunicações sigilosas, leitura de fala, 
análise de veracidade, emprego de meios eletrônicos e foto-interpretação. Por último, expõe-se 
as principais legislações concernentes à atividade de inteligência no Brasil, a saber: Lei nº 
9.883/1999, Decreto nº 3.695/2000, Decreto nº 4.376/2002, Resolução nº 01/2009 da SENASP e 
Lei nº 9296/96. O método de investigação utilizado foi o dedutivo, por meio de pesquisa 
bibliográfica, colhendo-se material para alcançar o objetivo pretendido. 
 
Palavras-chave: Inteligência Policial. Agência de Inteligência. Normatização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present paper aims to review the legislation pertaining to intelligence activities and proposals 
for regulation of the state of Santa Catarina. First described himself on the history and evolution 
of intelligence in the world and in Brazil it came about that the first evidence for the attainment 
of information to the present day, in the case of intelligence in the sphere of diplomacy, wars and 
policing; approached about this if the changes of the organs responsible for the use of secret 
service. In a second step is taken care of presentation and description of the technical operational 
intelligence, citing intelligence operations concepts, principles, planning and the types of 
operations. Immediately thereafter, he described himself on the shares of which are subdivided 
into intelligence collection actions and search actions, and this is operationalized by the actions of 
reconnaissance, surveillance, operational recruitment, infiltration, provocation, interviews, and 
intercept incoming signals and data. After, it was the intelligence operational techniques that 
consist in the process of identifying people, OMD (observation, description and memorization), 
cover story, cover, confidential communications, speech reading, accuracy analysis, use of 
electronic media and photo interpretation. Finally, it exposes the principal laws pertaining to 
intelligence activities in Brazil, namely: Law nº. 9.883/1999, Decree nº. 3.695/2000, Decree nº. 
4.376/2002, Resolution nº. 01/2009, by SENASP and Law nº. 9296/96. The research method 
used was a deduction, by means of literature, picking up material to achieve the intended goal. 
 
Keywords: Police Intelligence. Intelligence Agency. Standardization. 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
ABIN – Agência Brasileira de Inteligência 
ACI – Agência Central de Inteligência 
AI – Agência de Inteligência 
AMAN - Agaf Modiin 
BfV - Bundesamt für Verfassungsschutz 
BND - Bundesnachrichtendienst 
CDN – Conselho de Defesa Nacional 
CEFARH – Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos 
CEPESC – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações 
CIA – Central Intelligence Agency 
CIE – Centro de Informações do Exército 
CSIS - Canadian Security Intelligence Service 
DIA - Defense Intelligence Agency 
DIS - Defence Intelligence Staff 
DNA - desoxyribonucleic acid 
DGSE - Direction Générale de la Sécurité Extérieure 
DNISP – Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública 
DST - Direction de la Surveillance du Territoire 
EsNI – Escola Nacional de Informações 
FBI - Federal Bureau of Investigation 
FCO – Foreign and Commonwealth Office 
GRU - Glavnoye Razvedyvatelonoye Upravlenie 
GSI – Gabinete de Segurança Institucional 
INR – Bureau of Intelligenceand Research 
MOSSAD - Ha-Mossad le Modiin ule-Tafkidim Meyuhadim 
MRE – Ministério das Relações Exteriores 
OMD – Observação, memorização e descrição 
PM – Polícia Militar 
PMSC – Polícia Militar de Santa Catarina 
PNI – Plano Nacional de Informações 
RSAS – Regulamento de Salvaguarda de Assuntos Sigilosos 
SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos 
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública 
SFICI – Serviço Federal de Informações e Contrainformações 
SIS – Secret Intelligence Service 
SISBIN – Sistema Brasileiro de Inteligência 
SISDE - Servizio Perle Informazioni Generali e Sicurezza 
SISMI - Servizio perle Informazioni e la Sicurezza Militare 
SISNI – Serviço Nacional de Informação 
SNI – Serviço Nacional de Inteligência 
SSI – Secretaria de Estado de Segurança e Informações 
SVR - Sluzhba Vnezhney Rasvedki 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 
1.1 Tema .................................................................................................................................. 13 
1.1.1 Delimitação do tema ........................................................................................................ 13 
1.2 Formulação do problema ................................................................................................. 14 
1.3 Justificativa ....................................................................................................................... 14 
1.4 Objetivos ............................................................................................................................ 15 
1.4.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 16 
1.4.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 16 
1.5 Metodologia ....................................................................................................................... 16 
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ...... 19 
2.1 No mundo .......................................................................................................................... 19 
2.2 No Brasil ............................................................................................................................ 31 
3 APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS OPERACIONAIS DE 
INTELIGÊNCIA .................................................................................................................... 40 
3.1 Operações de inteligência ................................................................................................. 40 
3.1.1 Definição ......................................................................................................................... 40 
3.1.2 Princípios ......................................................................................................................... 41 
3.1.3 Planejamento ................................................................................................................... 44 
3.1.4 Tipos de operações de inteligência .................................................................................. 46 
3.2 Ações de inteligência ......................................................................................................... 46 
3.2.1 Ações de coleta ................................................................................................................ 47 
3.2.2 Ações de busca ................................................................................................................ 47 
3.2.2.1 Reconhecimento ............................................................................................................ 48 
3.2.2.2 Vigilância ..................................................................................................................... 49 
3.2.2.3 Recrutamento operacional ........................................................................................... 49 
3.2.2.4 Infiltração ..................................................................................................................... 50 
3.2.2.5 Provocação ................................................................................................................... 50 
3.2.2.6 Entrevista ...................................................................................................................... 51 
3.2.2.7 Entrada ......................................................................................................................... 51 
3.2.2.8 Interceptação de sinais e de dados ............................................................................... 52 
3.3 Técnicas operacionais de inteligência ............................................................................. 52 
3.3.1 Processos de identificação de pessoas ............................................................................. 53 
3.3.2 Observação, Memorização e Descrição – OMD ............................................................. 53 
3.3.3 Estória cobertura .............................................................................................................. 55 
3.3.4 Disfarce ............................................................................................................................ 56 
3.3.5 Comunicações sigilosas ................................................................................................... 57 
3.3.6 Leitura de fala .................................................................................................................. 57 
3.3.7 Análise de veracidade ...................................................................................................... 57 
3.3.8 Emprego de meios eletrônicos ......................................................................................... 58 
3.3.9 Foto-interpretação ............................................................................................................ 58 
4 LEGISLAÇÃO PERTINENTE: ANÁLISE DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA . 59 
4.1 Lei N° 9.883, de 7 de dezembro de 1999 ......................................................................... 59 
4.2 Decreto nº 3. 695, de 21 de dezembro de 2000 ............................................................... 62 
4.3 Decreto nº 4.376, de 13 de setembro de 2002.................................................................. 64 
4.4 Resolução nº 01, de 15 de julho de 2009 ......................................................................... 69 
4.5 Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996 ................................................................................ 77 
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 80 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 83 
ANEXO .................................................................................................................................... 89 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A presente Monografia tem como escopo analisar a atividade de inteligência policial 
na polícia militar, abordando a legislação pertinente à matéria e propondo, caso se entenda 
necessário, a edição de legislação pertinente à matéria. 
O seu objetivo é demonstrar que a inteligência representa um avanço para as questões 
de segurança pública, sendo um eficaz instrumento para combater a criminalidadecrescente e 
organizada que aumenta diuturnamente no país e assola a sociedade. 
Para tanto, inicialmente aborda-se a origem e a evolução histórica da atividade de 
inteligência, enfatizado acontecimentos sociais e políticos que comprovam a utilização da 
inteligência no contexto mundial e no Brasil. 
Na sequencia, tem-se como enfoque principal a apresentação e descrição das técnicas 
operacionais de inteligência. Especificamente, apresentar-se-á a definição, bem como os 
princípios que regem as operações de inteligência, expondo-se, ainda, a forma de planejamento 
de uma operação e os tipos existentes. Num segundo momento, tratar-se-á sobre as modalidades 
de ações de inteligência realizadas, fazendo-se alusão às características e peculiaridades de cada 
uma delas. Por fim, com base na Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública, será 
feita uma abordagem acerca das modalidades de técnicas operacionais de inteligência, tais como 
processos de identificação de pessoas; observação, memorização e descrição (OMD); estória-
cobertura; disfarce; comunicações sigilosas; leitura de fala; análise de veracidade; emprego de 
meios eletrônicos; e foto-interpretação. 
Na parte final do desenvolvimento, que versa sobre as principais legislações 
pertinentes à atividade de inteligência no Brasil, serão abordados os aspectos destacados de 
algumas normas de relevante importância para o tema, tais como, a Lei n. 9.883, de 7 de 
dezembro de 1999 (que institui o Sistema Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de 
Inteligência – ABIN e dá outras providências); o Decreto n. 3.695, de 21 de dezembro de 2000 
(que cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, no âmbito do Sistema Brasileiro de 
Inteligência, e dá outras providências); o Decreto n. 4.376, de 13 de setembro de 2002 (que 
13 
 
dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído 
pela Lei no 9.883, de 7 de dezembro de 1999, e dá outras providências); a Resolução 01, de 15 de 
julho de 2009, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (que regulamenta o Subsistema de 
Inteligência de Segurança Pública – SISP, e dá outras providências) e, por fim, a Lei n. 9.296, de 
24 de julho de 1996 (que regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal 
acerca da interceptação das comunicações telefônicas). 
Encerra-se a pesquisa com a conclusão, na qual são apresentados pontos conclusivos 
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre necessidade 
de regulamentação da matéria em âmbito estadual. 
 
 
1.1 Tema 
 
 
A pesquisa terá como tema as operações de inteligência na Polícia Militar, tratando-se 
sobre a legislação pertinente e elaborando-se, ao final, proposições. 
 
 
1.1.1 Delimitação do tema 
 
 
A atividade de inteligência é um instituto extremamente valioso para qualquer órgão 
ou instituição. Pode ser utilizada para a obtenção, análise e disseminação de dados ou 
informações, resultando na produção de conhecimentos para assessorar o processo decisório 
governamental sobre assuntos de interesse do Estado, visando sua proteção e da sociedade, bem 
como, para a segurança pública, sendo empregada no intuito de preservação da ordem pública, 
destacando-se o combate à criminalidade, em especial, as organizações criminosas. A inteligência 
está normatizada por algumas normas, porém, de forma limitada e apenas em âmbito federal. O 
14 
 
estado de Santa Catarina não possui lei definindo a matéria, ocasionando problemas de caráter 
operacional. 
 
 
1.2 Formulação do problema 
 
 
A violência é crescente no Brasil, evoluindo materialmente e tecnologicamente. Esse 
fenômeno é consequência de alguns fatores, destacando-se como o principal deles o tráfico de 
substâncias entorpecentes, atividade que está presente praticamente em todas as localidades 
carentes de uma metrópole. 
Conforme se verifica em mecanismos de comunicação ou em estudos e pesquisas, a 
maioria esmagadora dos crimes está diretamente relacionada com o comércio ilegal de drogas, 
bem como, com o consumo. As organizações criminosas especializadas neste tipo de delito 
evoluíram a tal ponto que a polícia não consegue chegar até elas sem que se utilize do serviço de 
inteligência policial. Trata-se de atividade complexa exercida pelas organizações, em virtude 
disto necessitam de uma normatização, também, complexa, a fim de que sejam previstas todas as 
minúcias que permeiam a atividade. Desta forma, frente ao que se vê atualmente sobre as leis que 
dispõem sobre a matéria, questiona-se: no estado de Santa Catarina existe normatização que 
abarque toda a atividade de inteligência, permitindo um bom fluxo de informações entre órgãos 
de segurança pública e possibilitando um bom desenvolvimento deste trabalho? 
 
 
1.3 Justificativa 
 
 
Trata-se de assunto com elevada relevância para o autor desta monografia, pois a 
inteligência policial mostra-se como um meio imprescindível na preservação da ordem pública, 
com destaque ao desmantelamento de organizações criminosas complexas e bem estruturadas. 
15 
 
Vêem-se criminosos utilizando-se de todos os meios das quais se possam imaginar para 
desenvolver suas atividades ilícitas e combater a polícia. Esta nunca deve estar um passo atrás da 
criminalidade, deve se valer de quaisquer meios, lícitos, para prevenir e reprimir qualquer 
atividade de cunho criminoso. É inadmissível que falhas de normatização causem entraves ao 
Poder Público na batalha contra a criminalidade. O Estado deve sempre ter nas mãos 
instrumentos verdadeiramente eficientes para a busca da ordem pública. 
A inteligência constitui, quando bem definida e empregada da maneira correta, em 
principal ferramenta para diminuição dos índices de criminalidade. A Polícia Militar, responsável 
pela preservação da ordem pública, fazendo uso desta atividade tem em seu poder o mecanismo 
para a consecução da sua missão constitucional, obtendo, com isso, valorização institucional 
perante o Estado e a sociedade. Contudo, para o alcance deste fito é necessário que se disponha 
de uma regulamentação específica e completa sobre o assunto. 
Destaca-se que a maior beneficiada com tudo que se expôs é a sociedade. Esta espera 
do Estado a garantia da ordem pública, utilizando-se de todos o meios necessários para que as 
possas gozar do seu direito de liberdade livremente. Com a potencialização do emprego da 
atividade de inteligência pela Polícia Militar conseguir-se-ia aumentar ainda mais sua eficácia no 
desbaratamento das organizações criminosas e, por conseguinte, a sociedade revestir-se-ia de 
uma maior sensação de segurança, o que consiste exatamente no desejo do Estado e, também, do 
cidadão. 
Ressalta-se que a pesquisa não tem por objetivo esgotar o tema, mas sim estimular 
outras pesquisas a partir desse estudo. 
 
 
1.4 Objetivos 
 
 
A seguir serão descritos os objetivos, geral e específicos, da pesquisa. 
 
 
16 
 
1.4.1 Objetivo geral 
 
 
Verificar as principais normas relativas à atividade de inteligência e, ao final, sendo o 
caso, propor a elaboração de lei que abranja a atividade por inteiro, em âmbito estadual. 
 
 
1.4.2 Objetivos específicos 
 
 
Demonstrar a evolução histórica da atividade de inteligência no mundo e no Brasil. 
Apresentar e descrever as técnicas operacionais de inteligência. 
Abordar as principais normas atinentes à atividade de inteligência. 
Propor, sendo o caso, a elaboração de norma em âmbito estadual sobre a atividade de 
inteligência. 
 
 
1.5 Metodologia 
 
 
Para a realização da monografia serão utilizadosfundamentos metodológicos, os 
quais são imprescindíveis para a realização de uma pesquisa científica. A pesquisa será 
desenvolvida observando-se o método dedutivo, quanto aos objetivos propostos será do tipo 
exploratória, a técnica utilizada será a bibliográfica e, por fim, a abordagem será a qualitativa. 
Segundo Ruiz (2008, p. 48) a pesquisa consiste na “realização completa de uma 
investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia 
consagradas pela ciência. É o método de abordagem de um problema em estudo que caracteriza o 
aspecto científico de uma pesquisa”. 
Complementando a definição supracitada, Gil (2002, p. 17) leciona que a pesquisa é: 
17 
 
 
[...] procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas 
aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de 
informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação 
disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente 
relacionada ao problema. 
A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a 
utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. Na 
realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve inúmeras 
fases, desde a adequada formulação do problema até a satisfatória adequação dos 
resultados. 
 
Quando não se possui as informações necessárias para a resolução de um problema 
proposto torna-se necessária a realização de pesquisa científica. Para a realização desta é 
imprescindível à utilização de um método, portanto: 
 
O termo “método” retira sua origem do grego méthodus, de onde derivou, em latim, 
methodus, e então, a absorção pelas línguas neolatinas (método, méthode...), significando 
“caminho”. Assim, a própria significação da palavra “método” indica que sua função é 
instrumental, ligando dois pólos, a saber, um pólo de origem ou ponto de partida (estado 
de ignorância), outro pólo de destinação ou ponto de chegada (estado de conhecimento). 
(BITTAR, 2005, p. 9) 
 
Pasold (2008, p. 85) define método como “a base lógica da dinâmica da pesquisa 
científica, ou seja, método é a forma lógico-comportamental na qual se baseia o pesquisador para 
investigar, tratar os dados colhidos e relatar os resultados”. 
O método consiste na formação do conhecimento científico, abrangendo a fase de 
investigação até a fase de exposição do discurso. Segundo Pasold (2008, p. 86-87) os métodos 
são classificados em indutivo, dedutivo, dialético, comparativo e sistêmico. Nesta pesquisa o 
método utilizado foi o dedutivo. 
O método dedutivo consiste em “estabelecer uma formulação geral e, em seguida, 
buscar do fenômeno de modo a sustentar a formulação geral”. (PASOLD, 2008, p. 86) Conforme 
o exposto, “corresponde à extração discursiva do conhecimento a partir de premissas gerais 
aplicáveis a hipóteses concretas”. Procede do particular para o geral. (BITTAR, 2005, p. 17) 
Quanto aos objetivos propostos empregou-se a técnica da pesquisa exploratória. 
Consoante Selltiz (apud GIL, 2002, p. 41): 
 
18 
 
Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade como o problema, 
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas 
pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de 
intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a 
consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. Na maioria dos 
casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas com 
pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de 
exemplos que “estimulem a compreensão”. 
 
Quanto à técnica a ser utilizada, valeu-se da pesquisa bibliográfica. Durante séculos 
os seres humanos vêem confeccionando escritos, os quais são guardados em livros, documentos e 
artigos. O conjunto disso é o que se chama de bibliografia. Diante disso, pesquisa bibliográfica 
“consiste no exame desse manancial, para levantamento e análise do que já se produziu sobe 
determinado assunto que assumimos como tema de pesquisa científica”. (RUIZ, 2008, p. 58) 
A pesquisa bibliográfica apresenta vantagens, destacando-se como principal o “fato 
de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que 
aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante 
quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço”. (GIL, 2002, p. 45) 
Quanto à abordagem do tema, a pesquisa mostra-se como qualitativa, que é 
“caracterizada pelos seus atributos e relaciona aspectos não somente mensuráveis, mas também 
definidos descritivamente”. (FACHIN, 2002, p. 82) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
2 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA 
 
 
A atividade de inteligência apresenta uma evolução bastante interessante no decorrer 
da história, para tanto, neste capítulo serão apresentados fatos que comprovam essas atividades 
no contexto mundial e no Brasil. 
 
 
2.1 No mundo 
 
 
Os primeiros registros acerca do emprego da atividade de inteligência remontam aos 
sumérios e aos egípcios e consubstanciam-se em informações relacionadas a assuntos militares e 
de administração de Estado. 
Em um documento feito cerca de 3.000 a.C por uma patrulha do sul do Egito a um 
Faraó, continha a informação de que fora encontrado o rastro de trinta e dois homens e três 
jumentos. (GONÇALVES, 2008a, p. 133-134) 
Posteriormente, no velho Egito, era da 18ª dinastia, no reinado de Sesostris, o 
emprego da atividade de inteligência caracterizou-se por meio de um correio periódico que unia o 
Egito à Síria, o qual servivia como enviado diplomático e meio de ligação entre o Faraó e suas 
províncias. No decorrer da batalha de Kadesh, ocorrida em 1.278 a.C., o Faraó Ramsés II e o Rei 
Hitita Muvattalish fizeram uso dessas informações (MAIER, 2009) 
Outra fonte antiga das atividades de informação e espionagem, segundo apontam os 
historiadores, é a Bíblia Sagrada, extrai-se dela inúmeros momentos em que se fez o uso destas 
atividades para a conquista de algum objetivo. 
No Velho Testamento há uma passagem em que o Senhor ordena a Moisés que envie 
espiões para lhe trazer informações sobre um lugar que poderia ser a terra prometida. Descreve-
se, abaixo, essa citação bíblica (FREGAPANI, 2001, p. 13-14): 
 
20 
 
[...] falou o Senhor a Moisés, dizendo: “envia homens que espiem a terra de Canaã, que 
Eu hei de dar aos filhos de Israel” Enviou-os pois Moisés a espiar a terra de Canaã; e 
disse-lhes: “subi por aqui para a banda do sul, e subi a montanha; e vede que terra é, e o 
povo que nela habita; se é boa ou má e como são suas cidades, se arraiais ou fortalezas”. 
Retornando da missão, as pessoas dela incumbidas passaram a relatar os dados obtidos: 
E contaram-lhe e disseram: “fomos à terra que nos enviastes; e verdadeiramente mana 
leite e mel, e este é o fruto. O povo porém que habita a terra é poderoso e as cidades 
fortes e mui grandes. Vimos ali os filhos de Enaque”. 
 
Pode-se dizer que a determinação feita pelo Senhor a Moisés representa uma ordem 
de busca de que se tem o registro. 
Vale mencionar, ainda, a passagem bíblica em que Josué, sucessor de Moisés, por 
volta de 1.251 a.C., ordenou que dois emissários secretos fossem à cidade de Jericó. Para um 
melhor êxito na missão levaram consigo Raab, mulher de farta beleza, com o fim de obter 
informações direto do rei da cidade. Raab, em pouco tempo, tornou-se a namorada do rei 
(FREGAPANI, 2001, p. 13-14) Aqui, claramente, visualiza-sea utilização de elementos de 
espionagem. 
No livro “A arte da guerra”, escrito no período de 544 a 496 a.C. pelo General chinês 
Sun-tzu, tido como um tratado militar e considerado, por muitos, a bíblia da estratégia, contém 
ensinamentos que traduzem a filosofia da atividade de inteligência, fator imprescindível para se 
alcançar a vitória. 
Retira-se da referida obra trecho que, até hoje, consiste em uma máxima no que diz 
respeito a informações: “Se conheceis o inimigo e a vós mesmos, não devereis temer o resultado 
de cem batalhas. Se vos conheceis, mas não ao inimigo, para cada vitória alcançada sofrereis uma 
derrota. Se não conheceis nem a um nem a outro, sereis sempre derrotados” (SUN-TZU, 2007, p. 
46). 
Ainda, sobre espionagem, Sun-tzu (2007, p. 135) discorre: 
 
O que possibilita ao soberano inteligente e seu comandante conquistar o inimigo e 
realizar façanhas fora do comum é a previsão, conhecimento que só pode ser adquirido 
através de homens que estejam a par de toda movimentação do inimigo. Por isso, deve-
se manter espiões por toda parte e informar-se de tudo. Existem cinco tipos de espiões 
que podem ser usados: espiões locais, agentes internos, agentes duplos, espiões 
dispensáveis e espiões indispensáveis. Quando os cinco tipos de espiões estão ativos e 
ninguém pode descobrir o sistema secreto, chama-se a isso “teia imperceptível”. 
 
21 
 
O final da Idade Média foi marcado pelo surgimento das informações como atividade 
contínua, oriundas de documentos de natureza profissional, à medida que os agentes 
diplomáticos, no caso os embaixadores, recebiam instruções e confeccionavam relatórios – orais 
ou escritos – quando do término de suas missões. (MORAES; JESUS; REIS, 2008, p. 6) 
Na Idade Moderna – época do Renascimento – com o surgimento dos exércitos e dos 
Estados modernos, as informações passaram a ser desenvolvidas de maneira ampla. Institui-se 
um revezamento de embaixadores nos mais importantes estados da Europa com o objetivo de 
conseguir informações daqueles que poderiam ser seus inimigos. (MORAES; JESUS; REIS, 
2008, p. 6) 
Ainda nesse período, no reinado de Elizabeth I, da Inglaterra, surgiu o primeiro 
serviço de inteligência organizado. Daniel Defoe, autor do livro “Robinson Crusoé”, um século 
depois, deu nova organização ao serviço de inteligência, passando a ser considerado o fundador 
do moderno serviço secreto inglês. (MORAES; JESUS; REIS, 2008, p. 6) 
Até a Primeira Guerra Mundial, apenas a Inglaterra era dotada de um serviço de 
inteligência organizado e retirou disso bastante proveito. 
Entrando na Idade Contemporânea, a atividade de inteligência se organizou de forma 
mais aprimorada, sendo implantadas estrutura e metodologia próprias. No decorrer da Segunda 
Guerra Mundial, a atividade adquiriu complexidade, sendo impeiroso mencionar a atuação do 
russo Richard Sorge, conhecido como o espião do século pelo seu trabalho de espionagem no 
Extremo Oriente, tendo informado aos russos, seis semanas antes, sobre a invasão do país pelos 
alemães. (MORAES; JESUS; REIS, 2008, p. 7) 
Entretanto, foi no século XVI, na Europa moderna, que as primeiras organizações 
permanentes e profissionais de inteligência e de segurança foram criadas, com o objetivo de 
estruturar a autoridade política no contexto da afirmação dos Estados nacionais. Para tanto, 
conforme afirma Cepik (2003, p. 79), os reis e ministros dos Estados europeus modernos 
destinaram recursos para a inauguração de organizações que tinham como função a obtenção de 
informações, dada a competição entre governantes para ampliar suas dominações sobre povos e 
territórios. 
22 
 
Segundo Michael Herman (apud CEPIK, 2003, p. 82), o surgimento dos sistemas 
nacionais de inteligência está associado ao lento processo de especialização e diferenciação 
organizacional das funções informacionais e coercitivas que faziam parte, integralmente, da 
diplomacia, do fazer a guerra, da manutenção da ordem interna e, mais tarde, também do 
policiamento na ordem moderna. Conquanto as primeiras organizações surgidas em cada uma 
dessas matrizes tenham desaparecido a as organizações atuais possuam uma escala de operações 
maior e mais complexa do que seus precedentes históricos, é possível obter uma visão mais 
concreta da dupla natureza dos serviços de inteligência analisando-se cada uma dessas três 
matrizes organizacionais separadamente. 
A partir deste momento inicia-se a abordagem histórica atinente à diplomacia e 
inteligência externa. 
Na Europa, entre os séculos XVI e XVII, as relações diplomáticas funcionavam na 
representação e negociação dos interesses dos Estados e, também, na coleta de informações úteis 
aos interesses dos governantes. Inglaterra, França e Espanha, maiores potências europeias da 
época, criaram arquivos diplomáticos que serviam para a recuperação de informações. Anota-se, 
ainda, que as chancelarias iniciaram um serviço de obtenção de informações, tanto de forma 
ostensiva quanto de forma velada. (CEPIK, 2003, p. 82-83) 
Na Inglaterra (1573), no reinado de Elizabeth I, Francis Walsingham foi nomeado 
Secretário de Estado, sendo uma das principais atribuições do cargo o comando do departamento 
de inteligência denominado the intelligence. Suas funções consistiam em armazenar informações 
sobre potências inimigas e acumular notícias internacionais e informações sobre o mundo, as 
quais eram obtidas de forma rotineira, ou seja, não se utilizava de fontes secretas. (CEPIK, 2003, 
p. 83) 
Entretanto, considerando a inexistência de jornais periódicos e a liberdade de 
imprensa na época, os conceitos de informações de domínio público e informações secretas 
devem ser relativizados. Todas as informações relativas ao povo, à administração e aos recursos 
do país eram tidos como propriedades do rei, logo, poderiam ser consideradas, em alguns casos, 
secretas. Assim, governantes autorizavam seus embaixadores, residentes em outros países, a 
23 
 
lançar mão de quaisquer meios disponíveis para a obtenção de informações, inclusive a utilização 
de espiões e interceptações clandestinas de mensagens. (CEPIK, 2003, p. 83) 
Mesmo após a morte de Francis Walsingham, em 1590, as redes de agentes, na 
Inglaterra, subordinadas ao secretário de Estado, continuaram a existir por muito tempo, o que 
revela que as atividades de inteligência eram fundamentais para a afirmação da autoridade do 
Estado nacional. (CEPIK, 2003, p. 83) 
Com a Paz de Westfália, em 1648, novas práticas foram introduzidas para a coleta de 
informações, porém, não chegaram a ser significativas. (CEPIK, 2003, p. 83) 
Na Europa moderna, em virtude do crescimento do tráfego diplomático e do começo 
dos serviços de correio, cifras e códigos secretos de escrita (criptografia) passaram a ser usados 
regularmente, com o fim de escudar as comunicações entre as chancelarias e suas embaixadas. 
Em razão disso, foram criados os primeiros departamentos responsáveis pela interceptação 
clandestina e decodificação de mensagens (criptologia). Eram conhecidos como black chambers 
(câmaras negras). (CEPIK, 2003, p. 83) 
Em 1782, a secretaria de Estado da Inglaterra foi dividida em dois escritórios, o 
Foreing Office, responsável pelos assuntos exteriores e o Home Office, voltado aos assuntos 
internos do país. Essa fragmentação refletiu na atividade de inteligência, ficando dividida em 
externa e interna. (CEPIK, 2003, p. 84) 
O setor responsável pela inteligência externa teve suas funções fracionadas em duas, 
a espionagem e a criptologia. O escritório secreto de criptologia – Office and Deciphering Branch 
– foi alocado junto ao serviço postal inglês, visando facilitar o serviço de interceptação dos 
despachos diplomáticos e das correspondênciasconsideradas sensíveis, prática que perdurou até 
1844. (CEPIK, 2003, p. 84) 
Visando financiar as operações de inteligência do Foreign Office e do Secret Office 
and Deciphering Branch, o Parlamento britânico, no final do século XVIII, aprovou uma verba 
secreta – Secret Service Fund –, a qual foi administrada pelo War Office até início do século XX, 
período em que surgiram as agências de inteligência britânicas que subsistem até os tempos 
atuais. (CEPIK, 2003, p. 84) 
24 
 
As modificações estruturais ocorridas nas organizações de inteligência deram ensejo 
ao surgimento de serviços especializados entre a segunda metade do século XIX e o início da 
Guerra Fria, conforme lição de Cepik (2003, p. 84): 
 
Desdobramentos organizacionais desse tipo continuaram a ocorrer mais tarde e, de modo 
geral, as funções secretas de negociação, conspiração, inteligência e espionagem 
exercidas desde a época elizabethana pela diplomacia britânica, assim como pela 
francesa, austríaca, piemontesa, prussiana ou russa, estão na origem dos serviços 
especializados formados entre a segunda metade do século XIX e os anos iniciais da 
Guerra Fria. 
 
Com o decorrer dos anos, ocorreu a separação entre as funções de inteligência e de 
formulação e implementação de políticas, assim como entre as atividades diplomáticas legítimas 
e as operações secretas de influência e espionagem. No entanto, esse processo foi tão lento que, 
ainda no ano de 1939, por exemplo, o embaixador francês, em Berlim, recebia verba secreta do 
governo destinada à compra de informações. (YOUNG apud CEPIK, 2003, p. 85) 
Hodiernamente, trata-se de dois ramos da ação estatal no plano internacional 
totalmente separados e especializados. Grande parte dos países possuem uma agência de 
inteligência subordinada ao Ministério de Relações Exteriores, cuja atribuição resume-se em 
obter informações sobre crises, negociações de acordos, tratados internacionais, entre outras 
coisas. (CEPIK, 2003, p. 85) 
Exemplo disso é o Bureau of Intelligence and Research – INR, pertencente ao 
Departamento de Estado norte-americano, fazendo parte do sistema de órgãos de inteligência do 
governo dos Estados Unidos. Essa agência não realiza operações específicas para obtenção de 
informações, apenas faz a análise de informações obtidas por outras agências de inteligência e as 
encaminha para o secretário de Estado. Outro exemplo, embora não seja membro formal do 
sistema nacional, é o Departamento de Análise e Pesquisa do Foreign and Commonwealth Office 
- FCO, da Grã-Bretanha, pois realizam funções semelhantes àquela. (CEPIK, 2003, p. 85) 
A diplomacia moderna gerou seus próprios órgãos de inteligência, além de estar na 
origem remota de muitas das chamadas agências nacionais de coleta de inteligência externa – 
Foreing Intelligence. São nacionais porque estão subordinados ao governo em geral, prestando 
informações ao primeiro-ministro, presidente ou secretário-geral, e não apenas a um Ministério 
25 
 
específico. São exemplos dessa estrutura de inteligência a Central Intelligence Agency - CIA 
norte-americana, o SIS britânico, a Direction Générale de la Sécurité Extérieure - DGSE 
francesa, o Ha-Mossad le Modiin ule-Tafkidim Meyuhadim - MOSSAD israelense, o atual 
Sluzhba Vnezhney Rasvedki - SVR russo, o Servizio Perle Informazioni Generali e Sicurezza - 
SISDE italiano e o Bundesnachrichtendienst - BND alemão. (CEPIK, 2003, p. 85-86) 
As agências de inteligência exterior surgiram e se desenvolveram no século XX, 
tendo como principais atribuições a espionagem propriamente dita e a coleta de informações a 
partir de fontes ostensivas fora do território nacional. Apesar de ter suas raízes na diplomacia 
secreta, presente na trajetória de qualquer Estado antigo ou moderno, não guardou o mesmo 
histórico organizacional das primeiras redes modernas de agentes da Inglaterra elizabethana. 
(CEPIK, 2003, p. 86) 
Feito um apanhado histórico sobre a evolução da atividade de inteligência no âmbito 
da diplomacia e inteligência externa, passa-se, agora, ao estudo do histórico da inteligência no 
contexto da guerra e inteligência de defesa. 
Na segunda metade do século XIX surgiram as organizações militares tornando-se 
consideravelmente maiores e, consequentemente, mais numerosas que os serviços de inteligência 
exterior. 
A atividade de inteligência relacionada à guerra, segundo registros, é realmente muito 
antiga. Pode-se verificar a utilização de espiões no Velho Testamento da Bíblia e, igualmente, no 
manual de guerra do general Sun-tzu, chamado de “A arte da guerra”, escrito no início do século 
IV a.C. Outra anotação de que se tem conhecimento são os especulatores das legiões romanas de 
César e os corpos de guias componentes dos exércitos franceses e britânicos atuantes nas guerras 
napoleônicas. (CEPIK, 2003, p. 86-87) 
O significado de inteligência começou a mudar para o comando militar a partir das 
transformações radicais ocorridas no seio militar na época da Revolução Francesa e de Napoleão. 
Napoleão, desde 1805, tinha um quartel-general móvel, composto pela Maison 
privada do próprio imperador, o État Majeur de l'Armée e o quartel-general administrativo, todos 
independentes entre si. (CEPIK, 2003, p. 87) 
26 
 
A Maison privada tinha integrada em sua estrutura duas agências de inteligência, 
sendo uma agência de estatística, responsável pela obtenção de informações estratégicas sobre 
inimigos e outro bureau (agência) topográfico, cuja atribuição consistia no recolhimento de 
informações das mais diversas fontes (livros, jornais, mapas, espiões, interceptação e 
decodificação de correspondências, etc.) e organizá-las, documentalmente e cartograficamente, 
para que Napoleão as estudasse. (CEPIK, 2003, p. 87) 
A interceptação de correspondências, bem como sua decodificação era realizada pelo 
cabinet noir, criado em 1590. (CEPIK, 2003, 87) 
Nas campanhas, a inteligência era operacional e feita pelas patrulhas de cavalaria das 
unidades. Possuía um estado-maior que tinha uma seção encarregada de interrogar prisioneiros, 
camponeses e desertores. As informações eram encaminhadas ao bureau topográfico. (CEPIK, 
2003, p. 87) 
Napoleão, ainda, mantinha um serviço secreto de inteligência pessoal, eram os 
officiers d'ordonnance e os generais ajudantes, que realizavam missões especiais. O imperador 
dispensava grande importância à atividade de inteligência, contudo, os métodos e tecnologias 
utilizados continuavam os mesmos da antiguidade. (CEPIK, 2003, p. 87) 
O ramo da inteligência começou a mudar a partir de modificações nas estruturas de 
comando que começaram a acontecer nas guerras napoleônicas e continuaram até o final da 
Primeira Guerra Mundial. 
Coakley (apud CEPIK, 2003, p. 88) afirma: 
 
Ao longo do século XIX, a mobilização de exércitos com milhões de soldados e a 
construção de grandes marinhas, as novas tecnologias de armamentos e de propulsão, o 
uso de ferrovias e telégrafos (mais tarde rádios), enfim, a nova escala e a complexidade 
da gestão do fenômeno bélico modificaram profundamente as estruturas de comando, 
controle, comunicações e inteligência – C3I das Forças Armadas. 
 
A Prússia tornou-se modelo para outros países com a estruturação do seu comando. 
Organizou o seu estado-maior geral e começou a se destacar em 1815, alcançando, 
posteriormente, grande reconhecimento internacional com as vitórias sobre a Áustria e a França, 
em 1866 e 1870, respectivamente. (CEPIK, 2003, p. 88) 
27 
 
A inteligência militar do século XX, mais sofisticada que a diplomacia secreta dos 
séculos XVI a XVIII, proporcionou uma nova dimensão à conspiração e à espionagem. Focaram 
na obtenção sistemática de informações básicas e menosfrágeis, ou seja, menos fáceis de se 
perderem ou de se deteriorarem. Pautaram a análise de novos fatos e ideias, gerando relatórios de 
inteligência que forneciam base ao comando para tomar decisões mais racionais e informadas. 
(CEPIK, 2003, p. 88) 
Grande parte dos países europeus, no século XX, adotaram uma estrutura de estado-
maior geral voltada para a distribuição de atribuições em seções, tais como operações, 
planejamento, logística, inteligência, comunicações, dentre outras. (CEPIK, 2003, p.88-89) 
No entanto, na prática, essa divisão em seções não obedecia aos ditames teóricos, 
ocorrendo uma superposição entre as funções. 
“Não havia uma especialização completa de funções divididas entre as seções de 
operações, doutrina e inteligência.” (CREVELD apud CEPIK, 2003, p. 89). 
Na Primeira Guerra Mundial, com a junção entre os serviços de inteligência exercidos 
pelas agências militares de estatística e de topografia desde a primeira metade do século XIX e as 
tenras seções de “exércitos estrangeiros” (foreign armies) – responsáveis pelo estudo das Forças 
Armadas dos inimigos potenciais ou efetivos – iniciou-se, até de maneira forçada, uma maior 
especialização das seções de estado-maior geral. (CEPIK, 2003, p. 89) 
Em verdade, o que aconteceu nesse período foram disputas pelo controle dos fluxos 
informacionais que, somado à frágil especialização de coordenação das equipes de analistas, 
geraram um contratempo para a inteligência militar até a Segunda Guerra Mundial. Grande 
exemplo disso foi o massacre ocorrido em Pearl Harbor, território havaiano pertencente aos 
Estados Unidos. (CEPIK, 2003, p. 89-90) 
Durante essa fase, aconteceu lentamente a separação entre a atividade de inteligência 
e as funções de planejamento e operações. Dessa forma, as organizações de inteligência militar, 
permanentes e especializadas, passaram a compor as estruturas de comando, controle e 
comunicações das Forças Armadas. Ressalta-se que isso se materializou bem ates do surgimento 
das organizações nacionais de inteligência externa. (CEPIK, 2003, p. 90) 
28 
 
Após a Segunda Guerra Mundial, os níveis inferiores de comando das Forças 
Armadas também passaram a contar com unidades especializadas de inteligência, tornando a 
atividade mais específica. 
Outra evolução ocorrida foi a criação de atividade de inteligência de defesa (defense 
intelligence) por países que possuem ministério da defesa e uma boa integração entre as Forças 
Armadas. Tem o escopo de apoiar os estados-maiores e os ministros. São exemplos dessas 
organizações o Glavnoye Razvedyvatelonoye Upravlenie - GRU russo, a Defense Intelligence 
Agency - DIA norte-americana, o Servizio perle Informazioni e la Sicurezza Militare - SISMI 
italiano, o Agaf Modiin - AMAN israelense e o Defence Intelligence Staff - DIS britânico. A 
GRU foi instituída entre 1918 e 1924, as outras no segundo pós-guerra. (CEPIK, 2003, p. 90) 
As organizações centrais de inteligência de defesa, somadas aos recursos e agências 
de inteligência das Forças Armadas, bem como outras forças singulares e comandos integrados, 
formam a mais complexa e maior estrutura de inteligência no contexto organizacional. 
Representam de 50% a 80% de todos os recursos de inteligência de qualquer país. (CEPIK, 2003, 
p. 90-91) 
Tratou-se, acima, da evolução histórica das atividades de inteligência desenvolvidas 
em razão da diplomacia e inteligência externa, bem como, da guerra e inteligência de defesa. 
Na sequência, abordar-se-á a atividade de inteligência praticada no policiamento e na 
inteligência de segurança, as quais se diferem das duas anteriores porquanto dirigidas às ameaças 
internas à ordem. 
A inteligência de segurança (security intelligence) pode ser chamada, também, de 
inteligência doméstica ou interna. 
Originou-se na Europa, na primeira metade do século XIX, como policiamento 
político de combate aos movimentos inspirados na Revolução Francesa e ao surgimento do 
movimento operário anarquista e socialista. Esse policiamento político era uma força 
especializada na manutenção da ordem interna, voltada para a repressão política dos grupos tidos 
como subversivos. Para o desenvolvimento das suas funções, criaram técnicas de vigilância, 
infiltração, recrutamento de informantes e interceptação de meios de informação. (CEPIK, 2003, 
p. 91) 
29 
 
A Terceira Seção do departamento de segurança do Estado, instituída no ano de 1826 
na Rússia imperial, foi o primeiro órgão efetivo que desenvolveu atividade de obtenção de 
informações. (RICHELSON apud CEPIK, 2003, p. 91-92) 
A polícia política organizada foi uma especialidade na Rússia, na era moderna. Foi 
reorganizada na segunda metade do século XIX. Em 1881, a Okhrannoye Otdyelyenye – mais 
conhecida como Okhrana – consolidou-se como força policial especializada, independente dos 
ministérios do interior e exterior e dos recursos de inteligência das Forças Armadas. (CEPIK, 
2003, p. 92) 
A Okhrana realizava operações de espionagem e obtenção de informações no âmbito 
interno, no entanto, estendeu suas atividades para o exterior visando a captura de adversários do 
regime no exílio. (ANDREW apud CEPIK, 2003, p. 92) 
Após a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, as polícias políticas e os 
serviços secretos de cada país especializaram-se, além da inteligência de segurança, nos serviços 
de contra-espionagem e contra-inteligência, pois se envergaram à vigilância regular das 
atividades de inteligência de países estrangeiros dentro de seus territórios. (CEPIK, 2003, p. 93) 
Hodiernamente, os serviços de inteligência de segurança estão inseridos em estruturas 
organizacionais distintas, conforme cada país. Podem estar separadas das polícias e da 
inteligência externa, bem como figurar como departamento especializado das forças policiais. 
São exemplos de agências de inteligência interna ou de segurança que não estão 
vinculadas a nenhum órgão o Canadian Security Intelligence Service – CSIS, a Direction de la 
Surveillance du Territoire – DST francesa, o Bundesamt für Verfassungsschutz – BfV alemão e o 
Sherut ha'Bitachon ha'Klali – Shin Bet israelense. O Federal Bureau of Investigation – FBI, 
serviço de inteligência dos Estados Unidos, é modelo de agência pertencente a uma força policial. 
(CEPIK, 2003, p. 93) 
Na Inglaterra, a inteligência de segurança desdobrou-se diretamente das Forças 
Armadas. Isso porque suas forças policiais, criadas a partir de 1829, contribuíram muito pouco 
para o desenvolvimento das atividades de inteligência. 
Nessa senda, Michael Lyman (apud CEPIK, 2003, p. 94) descreve: 
 
30 
 
Embora fossem recrutados alguns informantes e a correspondência pessoal de suspeitos 
de subversão fosse interceptada, algum policiamento especializado contra ameaças 
internas só teria começado em 1883, com a criação de uma seção especial na polícia 
metropolitana de Londres para colher informações e reprimir os fenianos irlandeses. 
 
Antes de 1931, o serviço de inteligência encontrava-se dividido em duas seções, 
quinta seção e sexta seção, ambas componentes do Secret Service Bureau, subordinado ao War 
Office. A quinta seção - MI-5 - tratava da inteligência de segurança e da contra-espionagem e a 
sexta seção – MI-6 – da inteligência do exterior. Exatamente neste ano, ocorreu a separação 
dessas seções, tornando-se agências independentes. 
A MI-5 passou a se chamar Security Service e a MI-6 foi denominada de Secret 
Intelligence Service – SIS. Após a Segunda Guerra Mundial, todas as atividades de inteligência 
de segurança foram concentradas na Security Service. 
Com o passar dos anos, o foco da agência de inteligência interna modifica-se 
conforme a realidade criminal. Sobre o assunto, Cepik (2003, p. 94-95)discorre: 
 
[...] em 1999, as áreas de trabalho do Security Service britânico dividiam-se oficialmente 
em: terrorismo relacionado com a Irlanda do Norte (30,5%), terrorismo internacional 
(22,5%), contra-espionagem (20,5%), segurança (11,5%), crimes graves (7%), 
proliferação de armas (3,5%) e assistência a outras agências (4,5%). 
 
Além dessas missões, hoje, ela destaca como prioridade a contra-inteligência e o 
combate ao crime organizado. 
Na França e na Rússia, diferente da Inglaterra, os serviços de inteligência de 
segurança foram fruto das polícias secretas que surgiram no início do século XIX. No Canadá, 
em 1984, foi criada uma agência de inteligência de segurança – a CSIS – como resposta a 
parlamentares que investigavam violações de direitos humanos praticadas pela Royal Canadian 
Mounted Police – RCMP. (CEPIK, 2003, p. 95) 
Nas últimas décadas (1980 e 1990), o crime organizado, o tráfico de drogas e crimes 
eletrônicos (incluindo fraude financeira e lavagem de dinheiro) adquiriram tal importância na 
agenda de segurança de alguns países que a busca por informações extrapolou os limites da rotina 
da investigação criminal. 
31 
 
Essa expansão das missões ocorreu de forma mais ou menos concomitante à 
transformação dos antigos serviços secretos e polícias políticas em serviços de inteligência de 
segurança (security intelligence), principalmente nos países democráticos. Não há, entretanto, 
nada parecido com um modelo organizacional internacionalizado nessa área. 
 
 
2.2 No Brasil 
 
 
A atividade de inteligência no Brasil, no sentido estrito, praticamente começa no 
início do século XX e foram vários os eventos que levaram à conclusão sobre a necessidade de 
adoção de sua institucionalização no âmbito governamental. 
O tenentismo e o surgimento de movimentos operários, que visavam profundas 
mudanças na estrutura política e social, marcaram o Brasil na década de 1920, cenário que foi 
agravado pelas sérias dificuldades econômicas enfrentadas não só pelo país como pelo mundo. O 
ápice aconteceu em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. (BRASIL, 2010) 
Diante deste contexto desfavorável, o governo brasileiro sentiu a necessidade de criar 
um organismo de inteligência destinado ao acompanhamento, de modo interdisciplinar, das 
importantes evoluções conjunturais e à avaliação das consequências para os interesses do Estado 
brasileiro. (BRASIL, 2010). 
Para tanto, o então Presidente Washington Luís Pereira de Souza, através do Decreto 
17.999, de 29 de novembro de 1927, criou o Conselho de Defesa Nacional (CDN), momento em 
que a atividade de inteligência - anteriormente denominada “Atividade de Informações” - foi 
abordada pela primeira vez e de forma oficial no país, justamente no período em que o mundo 
passava por diversos conflitos. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 61) 
Deu-se início, assim, à atividade de inteligência como instrumento de suporte às 
ações estratégicas do Poder Executivo, diretamente subordinada ao Presidente da República e 
orientada para assessoramento ao governo nas questões de ordem financeira, econômica, bélica e 
moral relativas à defesa de Estado. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 61) 
32 
 
Porém, o órgão não logrou êxito, à medida que somente os órgãos militares possuíam 
estrutura para trabalhar com inteligência. 
Posteriormente, através do Decreto 23.873, de 15 de fevereiro de 1934, o governo 
ampliou a organização de Defesa Nacional, criando a Comissão de Estudos de Defesa Nacional, 
uma Secretaria Geral de Defesa Nacional e as chamadas Seções de Defesa Nacional com a 
finalidade de construir conhecimento referente à Defesa Nacional. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, 
p. 61) 
Com a promulgação da Constituição de 1934, o conceito de defesa nacional foi 
ampliado e o CDN passou a se chamar Conselho Superior de Defesa Nacional, enquanto os 
outros órgãos passaram a ser designados, em 1937, como Conselho de Segurança Nacional. 
(CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 61-62) 
“Em 1942, o Decreto-Lei 4.783 alterou a composição dos órgãos do Conselho, como 
a Comissão de Estudos, a Secretaria Geral e a Comissão Especial de Faixas de Fronteiras”. 
(CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 62) 
Após a Segunda Guerra Mundial iniciou-se, no mundo, uma reflexão acerca da 
segurança nacional. Aconteceu, mais especificamente, no período da Guerra Fria, quando os 
Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas brigavam por 
esferas de influência. 
Foi neste cenário mundial que o então Presidente da República, General Eurico 
Gaspar Dutra, por meio do Decreto-Lei 9.975, de 6.9.1946, alterou a constituição da Secretaria-
Geral do Conselho de Segurança Nacional e fracionou sua estrutura em 3 seções encarregadas de 
organizar os Planos Industrial e Comercial, Político Interno e Econômico relativos ao Plano de 
Guerra. À 2ª Seção ficou estabelecida a responsabilidade de organizar e dirigir o Serviço Federal 
de Informações e Contra-Informações - SFICI, órgão integrante da estrutura do Conselho de 
Segurança Nacional, o qual competiria tratar das informações no Brasil. (BRASIL, 2010) 
O Regulamento para a Salvaguarda das Informações que interessavam à Segurança 
Nacional – RSISN, aprovado em 1949, foi o primeiro instrumento legal que diretamente 
objetivou a proteção das informações entendidas como sigilosas pelo Brasil. (BRASIL, 2010) 
33 
 
No ano de 1958, o SFICI tornou-se o principal instrumento de Informações e Contra-
Informações do país, que, por motivos de ordem política, no auge da Guerra Fria, passou 
cooperar com os países integrantes do bloco ocidental. (BRASIL, 2010) 
Em 1958, após a criação do Centro de Informações da Marinha – que ocorreu em 
1955, foi estabelecida, através do Decreto 44.489, a atribuição da competência de superintender e 
de coordenar as atividades de inteligência que interessassem à segurança nacional, prescrevendo 
o surgimento de uma junta coordenadora de informações. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 62) 
No início da década de 1960, o Brasil passou a apresentar um cenário interno bastante 
conturbado, marcado por manifestações de segmentos da sociedade, quadro que evoluiu para uma 
intervenção militar no processo político nacional. 
Assim, em 1964, o país passou a ser regido pelo regime militar e, com o objetivo de 
oferecer suporte e sustentação ao novo regime, por meio da Lei 4.341, de 13.6.1964, foi criado o 
Serviço Nacional de Inteligência (SNI), órgão diretamente ligado à Presidência da República, 
cuja função era "superintender e coordenar as atividades de Informações e Contra-Informações, 
em particular as que interessem à Segurança Nacional". (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 62) 
Todo o acervo do SFICI foi incorporado pelo SNI, cujo chefe teria sua nomeação 
sujeita à prévia aprovação do Senado Federal e possuiria prerrogativas de ministro. Sua estrutura 
foi organizada de modo similar àquela do extinto SFICI, com as adaptações que se fizeram 
necessárias diante do novo cenário político. Criou-se, assim, uma Agência Central, desdobrada 
em segmentos que tratavam, em nível nacional, das Informações Externas, das Informações 
Internas, da Contra-Informação e das Operações de Informações e, ainda, doze Agências 
Regionais, distribuídas por todo o território nacional. (BRASIL, 2010) 
Os governos que se sucederam no período de 1964 a 1985, diante das exigências 
conjunturais, trataram de estabelecer o ordenamento jurídico regulador da atividade de 
informações, com a criação de novos órgãos, a composição de sistemas, a implantação de uma 
escola e o desenvolvimento de uma doutrina específica. (BRASIL, 2010) 
No ano de 1967, o Decreto 60.417 aprovou o Regulamento de Salvaguarda de 
Assuntos Sigilosos (RSAS), o qual foirevogado pelo Decreto 79.099 em 1977. Este decreto 
aprovou o novo RSAS. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 62) 
34 
 
O CIE – Centro de Informações do Exército – foi criado em 1967, pelo Decreto 
60.664, e o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica foi criado em 1970, pelo 
Decreto 66.608. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 62) 
Já em 1970, adotou-se a sistemática de elaboração de um Plano Nacional de 
Informações (PNI), o qual originou, em 1971, a implantação do Sistema Nacional de Informação 
(SISNI), estabelecendo que os “Objetivos Nacionais de Informações – ONI” tinham como fim 
“orientar a produção de informações necessárias ao planejamento da política nacional, bem como 
ao seu adequado acompanhamento, visando à execução dos objetivos nacionais”. (BRASIL, 
2010) 
O SISNI, coordenado pelo SNI, era composto por organismos setoriais de 
informações na esfera dos ministérios civis e militares do Poder Executivo, incluindo-se as 
autarquias e as empresas públicas a eles vinculadas. Por canais técnicos, a ele também foram 
acoplados os órgãos de Informações da alçada dos governos e dos Estados da Federação. 
(BRASIL, 2010) 
A partir deste, em 1971, a Escola Nacional de Informações – EsNI – criada através do 
Decreto 68.448 e cuja estrutura de funcionamento se baseou nos modelos adotados por 
congêneres de outros países, particularmente Alemanha, Estados Unidos da América e Inglaterra, 
ficaria subordinada diretamente ao Ministro-Chefe do SNI. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 61) 
Nos termos do decreto, a EsNI tinha como finalidade "preparar civis e militares para 
o atendimento das necessidades de informações e contra-informações do Sistema Nacional de 
Informações; cooperar no desenvolvimento da doutrina nacional de informações; e realizar 
pesquisas em proveito do melhor rendimento das atividades do Sistema Nacional de 
Informações" e, no curso da sua trajetória, realizou programas específicos de treinamento, 
denominados cursos e estágios, e promoveu eventos especiais, como seminários e painéis, sempre 
visando o aprimoramento da doutrina nacional de informações. (BRASIL, 2010) 
Durante a década de 1970, o Estado brasileiro usava equipamentos criptográficos de 
origem estrangeira para prover a segurança das comunicações de suas informações sigilosas, 
demonstrando grande vulnerabilidade na preservação de sua confidencialidade e indicando a 
35 
 
premente necessidade que o país tinha de desenvolver recursos criptográficos próprios, com a 
utilização de tecnologia exclusivamente nacional. (BRASIL, 2010) 
No ano de 1977, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o SNI celebraram o 
convênio denominado "Projeto Prólogo", que objetivava, principalmente, realizar pesquisas no 
campo da criptologia e desenvolver a criptoanálise e projetos e equipamentos criptográficos. Esse 
convênio ensejou a criação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das 
Cominicações - CEPESC. (BRASIL, 2010) 
Já no início daquela foram fabricados os primeiros produtos, podendo ser citados “os 
equipamentos AS-2T, de uso online em canais de telex, CP-1 e CF-1, de utilização offline”. 
Assim, o CEPESC tornou-se o fornecedor de diversas entidades estratégicas nacionais, tendo 
como principais clientes a Presidência da República, o Ministério das Relações Exteriores, os 
organismos de Informações, os ministérios militares e o Banco Central. (BRASIL, 2010) 
Decorridos o processo de desorganização dos setores de esquerda do país e dada à 
nova configuração política que implicava uma transição para o regime democrático, existem 
alguns indícios de alteração dentro da estrutura do SNI a partir de meados da década de 1980. 
No governo do Presidente José Sarney, na tentativa de modificar o modelo vinculado 
ao regime militar, marcado por seu caráter repressor, constituiu-se um grupo de trabalho 
específico, com representações da Agência Central do SNI e da EsNI, que elaborou o manual de 
Informações do SNI, aprovado pela Portaria nº 36, de 1989, redefinindo os conceitos doutrinários 
para as Informações no Brasil. Criou-se, assim, “um novo conceito para as atividades de 
informações, cujo desdobramento se deu em duas vertentes básicas: informação - voltada para a 
produção do conhecimento; e contra-informação - voltada para a salvaguarda do conhecimento”. 
(BRASIL, 2010) 
No fim da era Sarney, um novo grupo de trabalho foi criado para identificar as 
virtuais necessidades de aperfeiçoamento da finalidade, organização e da atuação do SNI. Assim, 
com a elaboração do Projeto SNI, propôs-se uma nova estrutura organizacional, adequada à 
realidade do país, “eliminando de suas funções as possíveis tarefas que extrapolassem sua efetiva 
competência, desvinculadas do enfoque de segurança da sociedade e do Estado”. (BRASIL, 
2010) 
36 
 
O novo SNI deveria “atuar nas áreas de produção de conhecimentos relativos à defesa 
dos objetivos do Brasil na cena internacional e de salvaguarda dos interesses do Estado contra as 
ações de espionagem, sabotagem, terrorismo e outras que colocassem em risco as instituições 
nacionais”. (BRASIL, 2010) 
A fim de que o exercício da atividade de informações tivesse continuidade, foi criada 
a Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE, com estrutura semelhante a que orientava as ações 
do antigo SFICI, isto é, retornava-se ao modelo composto por um órgão superior intermediário 
entre os produtos de inteligência e o Presidente da República. Isso “consistiu em mais uma 
tentativa de depuração do exercício da atividade de inteligência, particularmente no caso da 
produção de conhecimento sobre a conjuntura interna, buscando-se eliminar questões que 
envolvessem matérias de natureza ideológica”. (BRASIL, 2010) 
De acordo com o texto da nova lei, a EsNI passou a ser denominada Centro de 
Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos – CEFARH. 
Tempos depois, um novo Projeto de Lei foi encaminhado, criando o Centro Federal 
de Inteligência e reestruturando a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da 
República. (BRASIL, 2010) 
Entretanto, mesmo concluído, o Projeto SNI não chegou a ser implementado. O 
Presidente Fernando Collor de Melo, empossado em 1990, cumprindo promessa formulada em 
sua campanha eleitoral, na data de 04.07.1990, além de extinguir o SNI, no bojo da ampla 
reforma administrativa, alterou normativamente a atividade de informações, que passou a ser 
denominada atividade de inteligência e resumiu o Serviço Nacional de Informações ao 
denominado Departamento de Inteligência, subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos 
(SAE) e estruturalmente composto pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos 
Humanos – CEFARH, antiga EsNI e pelas Agências Regionais de Inteligência. (CHIROLI; 
ARAÚJO, 2009, p. 63) 
Ocorreu que a atividade de inteligência do Brasil restringiu-se ao Departamento de 
Inteligência – DI, parte integrante da Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE, do Centro de 
Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos (CEFARH) – órgão competente para formar 
37 
 
recursos humanos na área, e pelas Agências Regionais – subordinados à recém-criada SAE. 
(CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 63) 
O impeachment do Presidente Collor, em 15.3.1992, e a ascensão do Presidente 
Itamar Franco provocaram nova e profunda reestruturação administrativa no Poder Executivo. 
(CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 63-64) 
A Lei nº 8.490, de 1992, conferindo um novo status à atividade, criou a Subsecretaria 
de Inteligência - SSI, e subordinou a ela o Departamento de Inteligência e o CEFARH, os quais 
se tornaram integrantes da segunda linha organizacional da Secretaria de Assuntos Estratégicos. 
Desse modo, a ideia existente desde a instituição da SAE, em 1990, foi mantida, posicionando-seo organismo de Inteligência sem acesso direto ao Presidente da República. (BRASIL, 2010) 
A atividade de Inteligência foi exercida pela SSI até o fim do Governo do Presidente 
Itamar Franco, “com as devidas cautelas e limitações impostas pelo período ainda de transição 
para a sua completa institucionalização”. (BRASIL, 2010) 
Segundo Lima (2004), a extinção do SNI em 1990 no Governo Collor até a criação da 
ABIN em 1999 no Governo FHC, a atividade de inteligência viveu o pior período de toda a sua 
história. Perdeu status, perdeu posição, profissionais foram desmobilizados, uns tantos demitidos, 
outros foram para órgãos diversos do Executivo e os que ficaram perderam totalmente o 
referencial – não sabiam mais, literalmente, o que fazer; mesmo porque não havia ninguém que o 
dissesse. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 64) 
Em 1995 foi eleito novo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que, 
através da Medida Provisória nº 813, manteve a SSI subordinada à SAE e, ainda, autorizou ao 
Poder Executivo a criação da Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, autarquia federal 
vinculada à Presidência da República. “A nova entidade possuiria, entre suas finalidades, a 
incumbência de planejar e executar atividades de natureza permanente, relativas ao levantamento, 
coleta, análise de informações, e executar atividades de natureza sigilosa, necessárias à Segurança 
do Estado e da sociedade”. (BRASIL, 2010) 
Tal situação gerou um mal-estar no Congresso Nacional, obrigando o governo a 
encaminhar um projeto legislativo que regulamentasse a ABIN e o novo sistema de inteligência. 
Em razão deste fato a ABIN passou a existir nominalmente, mas não formalmente. Estava 
38 
 
amparada, estruturalmente, na Subsecretaria de Inteligência, que, inicialmente era vinculada à 
Casa Militar da Presidência da República e, posteriormente, ao Gabinete de Segurança 
Institucional. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 64) 
O Projeto de Lei nº 3.651 foi remetido ao Congresso Nacional no ano de 1997 e 
dispunha sobre a instituição do Sistema Brasileiro de Inteligência e a criação da Agência 
Brasileira de Inteligência - Abin, órgão que ficou vinculado à Casa Militar até 1999, quando foi 
instituído o Gabinete de Segurança Institucional - GSI, assumindo todas as responsabilidades 
relacionadas à extinta Casa Militar, entre outras funções. “Após a sanção presidencial, a SSI foi 
extinta, sendo criada a Abin como órgão de assessoramento direto do Presidente da República”. 
(BRASIL, 2010) 
O Decreto 2.910/1998 estabeleceu as normas para “salvaguardar documentos, 
materiais, áreas, comunicações e informação de natureza sigilosa, e também para tratar de outras 
providências”. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 64) 
Apenas em 7.12.99 foi sancionada, pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, a 
Lei 9.883/99, instituindo o Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN e criando, formalmente, a 
Agência Brasileira de Inteligência – ABIN. Referida lei definiu como missão do SISBIN atuar 
como um sistema capaz de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de 
inteligência de todo o país, o que incluiu o processo de obtenção, análise e disseminação "de 
informações necessárias ao processo decisório do Poder Executivo", em especial no tocante à 
segurança da sociedade e do Estado, bem como a salvaguarda da informação "contra o acesso de 
pessoas ou órgãos não autorizados". (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, p. 64-65) 
A criação da ABIN permitiu ao Brasil institucionalizar a atividade de Inteligência, 
por meio de ações de coordenação do fluxo de informações necessárias ao processo decisório do 
Poder Executivo, atinentes “ao aproveitamento de oportunidades, aos antagonismos e às ameaças, 
reais ou potenciais, para os mais altos interesses da sociedade e do país”. (BRASIL, 2010) 
Referida lei foi regulamentada pelos Decretos 3.448, de 7.5.2000; 3.493, de 
29.5.2000; 3.695, de 21.12.2000 e 4.376, de 15.9.2002. 
O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, criado pelo Decreto 3.695/2000, 
no âmbito do Sistema Brasileiro de Inteligência, possui como órgão central a Secretaria Nacional 
39 
 
de Segurança Pública (SENASP), cuja responsabilidade é coordenar e integrar as atividades de 
inteligência de segurança pública no território nacional, bem como obter informações para 
assessorar, no processo decisório, os governos federal e estaduais. (CHIROLI; ARAÚJO, 2009, 
p. 65) 
Com o fim da Guerra Fria, houve um novo redirecionamento de interesses no cenário 
político e econômico mundial. Mudaram os inimigos e os alvos a serem alcançados. O combate 
ao crime organizado, terrorismo, narcotráfico, biopirataria, espionagem industrial e econômica e 
aos ilícitos transnacionais passaram a constituir o escopo da atividade de inteligência no século 
XXI. (BRASIL, 2010) 
Por meio da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, o Congresso 
Nacional promoveu, em 2002, o seminário "Atividades de Inteligência no Brasil: Contribuições 
para a Soberania e para a Democracia", o qual contou com a participação de autoridades 
governamentais, parlamentares, acadêmicos, pesquisadores e profissionais da área de 
Inteligência. O evento contribuiu significativamente para o aprofundamento das discussões sobre 
a atividade de inteligência no Brasil. (BRASIL, 2010) 
 
 
40 
 
3 APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS OPERACIONAIS DE 
INTELIGÊNCIA 
 
 
Este capítulo tem como ponto principal as técnicas operacionais de inteligência. Para 
uma melhor compreensão deste tema serão abordados o conceito, os princípios, o planejamento e 
as espécies de operações; terminando com a definição das técnicas operacionais de inteligência e 
suas modalidades. 
 
 
3.1 Operações de inteligência 
 
 
Nesse item serão tratados assuntos como: definição, princípios e planejamento de 
uma operação de inteligência, pontos fundamentais para a compreensão das técnicas operacionais 
de inteligência. 
 
 
3.1.1 Definição 
 
 
Inicialmente, operações de inteligência são ações desenvolvidas pelo órgão de 
inteligência que visa à busca do dado negado. 
Silva (2009, p. 59) entende como o conjunto de ações de busca de dados, 
desenvolvidas por uma fração da seção de inteligência mediante planejamento detalhado, esforço 
concentrado e utilização de técnicas especializadas, quando as informações a serem colhidas 
estão fortemente protegidas por um aparato de segurança, gerando grande dificuldade e riscos 
para a agência de inteligência. 
41 
 
As operações de inteligência com foco na atividade policial consistem em ações, por 
meio das técnicas operacionais de inteligência, para a obtenção de informações destinadas a 
identificação de organizações criminosas, detalhamento dos seus modus operandi, as divisões e 
subdivisões, as tendências e as potencialidades das suas ações. (FERRO JÚNIOR, 2008, p. 99) 
Para o sucesso da operação é imprescindível que se faça um minucioso planejamento 
e uma execução cuidadosa, pois somente desta forma será possível alcançar dados geralmente 
não disponíveis e proteger a identidade do órgão de inteligência e de sues agentes. 
As operações de inteligência são obrigatórias a qualquer serviço secreto, porquanto 
possuem as técnicas operacionais necessárias para a busca do dado e para a identificação e 
neutralização da inteligência contrária. (GONÇALVES, 2009, p. 63) 
Toda a operação de inteligência é direcionada a um alvo – que pode ser mais de um. 
Podem ser pessoas, locais, objetos, canais de comunicações, organizações e assuntos. 
O encarregado da missão deve levar em consideração todas as informações 
disponíveis sobre o alvo, procurando sempre estudar e conhecer suas características. (FERRO 
JÚNIOR,

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