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DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS Com o surgimento do Estado organizado, este chamou para si o dever e o poder de julgar as pretensões de membros da sociedade que se diz violado num direito. Sendo tal a Função Estatal Jurisdicional ( jurisdição). O direito processual é portanto, um conjunto de normas e princípios que estuda tal atividade substitutiva do Estado, a jurisdição, além da relação jurídica que se desenvolve entre as partes litigantes e o agente político (juiz). Logo, são quatro os instrumentos fundamentai, a partir dos quais o direito processual é desenvolvido: 1. Jurisdição; 2. Ação; 3. Exceção ou Defesa; e o 4. Processo. 1. Jurisdição Dela decorre o estudo da competência , dos poderes do juiz no processo, da exigência de fundamentação das decisões e do duplo grau de jurisdição. 2. Ação Seu conceito desdobra-se no estudo de seus elementos identificadores e condições de exercício , nos fenômenos de conexão, litisconsórcio, prevenção, coisa julgada, litispendência e formas de extinção do processo. 3. Exceção ou Defesa Tem sua importância no estabelecimento de prazos e nos fenômenos processuais da revelia e do julgamento antecipado da lide. 4. Processo É instituto informativo de todas as regras sobre o procedimento, o qual é um de seus instrumentos, juntamente com a relação processual contraditória (entre juiz e partes) CONCEITOS BÁSICOS a) LIDE: é o conflito de interesses, qualificado pela existência de uma pretensão realista. b) PROCESSO: é o instrumento colocado a dispor dos cidadãos para a solução de suas Lides e pelo qual o Estado exerce a jurisdição. c) PROCEDIMENTO: forma como o Processo se materializa e exterioriza no mundo jurídico. É por meio dele que o processo age. Basicamente consiste em uma sequência de atos que culmina com a declaração do Judiciário de quem tem o direito material na lide submetida à sua apreciação. Tal sequência deve observar a dialética processual (formalidade), consistente em facultar e garantir às partes a efetiva participação durante seu desenvolvimento ou possíveis recursos. d) PRETENSÃO: é a exigência, o pedido ou a postulação que a parte deduz perante o juiz. É a obrigação que tem o titular de um direito violado de provocar o exercício da jurisdição estatal. Por meio então de um processo ele poderá buscar o reconhecimento e cumprimento de seu direito. Há no processo dois tipos de pretensão: 1. É a pretensão deduzida contra a parte adversa, procurando aqui a subordinação ao seu interesse, com a consequente entrega do bem da vida que se alega violado. Encontrando embasamento nas regras de conduta geral do direito material. 2. A pretensão é do que se diz violado num direito material e que passou a ter um direito subjetivo contra o Estado-juiz, procura aqui obter uma tutela jurídica que afaste a violação por ele suportada. DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS CAPÍTULO I DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as disposições deste Código. Art. 2º O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência; II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ; III - à decisão prevista no art. 701 . Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência) § 1º A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores. § 2º Estão excluídos da regra do caput : I - as sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; II - o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas; IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932 ; V - o julgamento de embargos de declaração; VI - o julgamento de agravo interno; VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada. § 3º Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a ordem cronológica das conclusões entre as preferências legais. § 4º Após a inclusão do processo na lista de que trata o § 1º, o requerimento formulado pela parte não altera a ordem cronológica para a decisão, exceto quando implicar a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento em diligência. § 5º Decidido o requerimento previsto no § 4º, o processo retornará à mesma posiçãoem que anteriormente se encontrava na lista. § 6º Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1º ou, conforme o caso, no § 3º, o processo que: I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quando houver necessidade de realização de diligência ou de complementação da instrução; II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II . CAPÍTULO II DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO CIVIL 1.1. Devido Processo Legal Este abrange e incorpora todos os demais princípios. Funciona, juntamente com o contraditório, a ampla defesa e a imparcialidade, como o sistema de garantias processuais básicas da sociedade. Estabelece que ninguém pode ser privado de sua liberdade ou de seus bens sem que tenha sido submetido a um julgamento devido. 1.2. Imparcialidade É a garantia de um julgamento proferido por um juiz equidistante das partes. Também ligada à garantia do juiz natural e da vedação expressa aos tribunais de exceção. 1.3. Contraditório Consiste na outorga de efetiva oportunidade de participação das partes na formação do convencimento do juiz que prolatará a sentença. Tal efetividade decorre da paridade no tratamento das partes em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, ao ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais. Pode se desenvolver de duas maneiras distintas: a) De forma antecipada: é a forma comum de aplicação, nela as partes acompanham o processo desde seu início, sem suportar efeitos de decisões interlocutórias das quais ainda não possuam conhecimento e com o proferimento da sentença final apenas após cognição exauriente desenvolvida pelo juiz. b) De forma diferida ou postergada no tempo: São hipóteses de exceção. São cabíveis quando: 1) presente a urgência decorrente de perigo de dano ao direito material invocado pela parte ou risco ao resultado útil do processo. 2) Quando for evidente o direito do autor da demanda. 3) Nos casos de ação monitória. *** Nas tutelas de urgência, é necessário, como regra geral, que o provimento concedido tenha característica de reversibilidade real, consistente no retorno das partes à exata situação anterior à concessão da medida. Caso tal não seja possível, ao menos deve-se assegurar que a parte que suportou os efeitos da medida seja indenizada por perdas e danos. *** Nas tutelas de evidência, o direito do autor está de tal forma demonstrado que sequer existe a necessidade de demonstração do perigo de dano. O que se busca é a inversão do ônus causado pela demora do processo, que foi imposto ao autor. Nesse caso, entrega-se o bem desde logo para o autor, para que este usufrua enquanto não soluciona o litígio de forma definitiva. *** Nas ações monitórias, a prova pré-constituída e apresentada pelo autor na inicial autoriza a imediata expedição de ordem de pagamento (não deixa de ser espécie de tutela de evidência) 1.4. Ampla Defesa Consiste na possibilidade que as partes possuem de utilizar todos os meios e recursos legais previstos para a defesa de seus interesses e direitos postos em juízo. A violação deste princípio está ligada ao cerceamento de defesa, que consiste na prolação de uma decisão prematura, sem que tenha sido facultado à parte a utilização dos recursos mencionados. 1.5. Fundamentação Exige dos órgãos da jurisdição a motivação explícita de todos os seus atos decisórios. Tem apoio constitucional e assegura às partes o conhecimento das razões de convencimento do juiz e o porquê da conclusão exarada em sua decisão. Como exceção a este princípio há os julgamentos de competência do Tribunal do Júri Popular (órgão constitucional da jurisdição e soberano em seus veredictos, pelo qual o acusado é julgado por seus semelhantes, sem qualquer demonstração do raciocínio lógico dos jurados quanto ao juízo condenatório ou absolutório). 1.6 Publicidade Todos os atos praticados em juízo são dotados de publicidade (sob pena de nulidade), como forma de controle da atividade jurisdicional pelas partes e garantias de lisura do procedimento. Tal princípio não é absoluto, e pode ser restringido quando presente o interesse público ou social, versem sobre direito de família, contenham dados protegidos pelo direito constitucional è intimidade e que versem sobre arbitragem que contenha cláusula de sigilo. Como é o caso dos processos em segredo de justiça, onde o processo pode ser limitado às partes e seus advogados, aos defensores públicos ou ao MP. 1.7 Celeridade Processual É caracterizada por dois aspectos distintos, quais sejam, a razoabilidade na duração do processo e a celeridade em sua tramitação. Abrange o direito de receber uma sentença de mérito em um prazo razoável, como também a tutela satisfativa da execução. Ademais é dever de todos os envolvidos no processo cooperar para que se obtenha decisão de mérito, justa e efetiva, dentro de um prazo razoável. Na busca da celeridade é estabelecido no CPC que os juízes e os Tribunais atenderão preferencialmente à ordem cronológica de conclusão para sentença ou acórdão. As exceções a tal são ligadas às hipóteses de sentenças proferidas em audiência, julgamentos repetitivos e preferências ou metas estabelecidas pelo CNJ, entre outras. Nos casos em que a sentença ou o acórdão tiver sido anulado, e não houver a necessidade de diligência ou reabertura de instrução, assumirá o processo o primeiro lugar na lista. O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Toda decisão ou sentença está sujeita, como regra, a um duplo grau de jurisdição, ou seja, um reexame por instância superior, provocando recurso da parte possivelmente prejudicada com o ato judicial. Tal previsão visa prevenir o ordenamento de decisões injustas, através de sua análise por juízes mais experientes, geralmente de maneira colegiada, diminuindo a possibilidade de erro judiciário. PRINCÍPIOS GERAIS INTERNOS DO PROCESSO CIVIL 1.Ação e Disponibilidade É vedado o exercício de ofício da jurisdição, que é inerte , devendo ser sempre provocada pelas partes , salvo as exceções legais, como a promoção da solução consensual de conflitos sempre que possível pelo Estado. O princípio da disponibilidade não se aplica às ações civis públicas, ajuizadas na defesa dos interesses difusos e coletivos (interesse público primário), de naturezaindisponível. 2. Verdade Formal É obrigação das partes a comprovação dos fatos por elas alegados no processo civil. Ao autor é imposto fazer prova dos fatos constitutivos de seu direito, enquanto ao réu se impõe a prova dos fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do autor. 3. Lealdade Processual Todo qual que participa de qualquer forma de processo deve atuar de acordo com a boa-fé. A violação desta por uma dar partes possibilita a aplicação da pena de litigância de má-fé. São condutas que caracterizam a má-fé : a) deduzir a pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou de fato incontroverso; b) alterar a verdade dos fatos; c) usar o processo para obter objetivo ilegal; d) opuser resistência injustificada ao processo; e) proceder de modo temerário; f) provocar incidente manifestamente infundado; g) interpor recurso com intuito meramente protelatório. A parte que agir de má-fé será condenada a pagamento de multa (entre 1 e 10% do valor da causa), a indenizar a parte contrária pelos prejuízos sofridos e arcará com honorários advocatícios e despesas processuais. 4. Economia Processual É o princípio que informa a realização dos atos processuais. Estes devem sempre ser praticados de forma menos onerosa possível às partes. Desse princípio decorre a regra do aproveitamento dos atos processuais, pelo qual os já realizados, desde que não tenham ligação direta com nulidade anterior, permanecem íntegros e válidos. Não pode esse princípio ser alegado para afastar normas procedimentais expressamente previstas em lei, sob pena de violação ao devido processo legal.
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