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Estudo da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

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1 
 
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA 
FACULDADE DE DIREITO 
HERMENÊUTICA JURÍDICA 
PROF. JOSEMAR ARAÚJO – josemar.araujo@uva.br 
FOLHA DE APOIO 05 
 
Estudo da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
 
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o 
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. 
§ 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, 
quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente 
publicada. ( 
§ 2o (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009). 
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de 
seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos 
anteriores começará a correr da nova publicação. 
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
 
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até 
que outra a modifique ou revogue. 
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o 
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule 
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par 
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura 
por ter a lei revogadora perdido a vigência. 
 
Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a 
conhece. 
 
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo 
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela 
se dirige e às exigências do bem comum. 
 
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação 
dada pela Lei nº 3.238, de 1957) 
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei 
vigente ao tempo em que se efetuou. 
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou 
alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do 
exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida 
inalterável, a arbítrio de outrem. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 
1957) 
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de 
que já não caiba recurso 
 
Interpretação, Integração e Aplicação 
 
São três termos técnicos que correspondem a três conceitos distintos, 
que às vezes se confundem, em virtude de sua íntima correlação. 
Miguel Reale explica que o Direito é sempre uma prescrição ou 
imperativo, e não uma simples indicação que possa ou não ser 
atendida, a critério exclusivo dos interessados. O Direito existe para 
ser obedecido, ou seja, para ser aplicado. Todos nós, na nossa vida 
comum, aplicamos o Direito. Não se realiza contrato algum sem que 
uma forma de juridicidade se aplique nas relações humanas. 
 
Aplicação do Direito 
 
O termo "aplicação do direito" reserva-se, entretanto, à forma de 
aplicação feita por força da competência de que se acha investido 
um órgão, ou autoridade. O juiz aplica o Direito porquanto age, não 
como homem comum, mas como membro do Poder Judiciário. O 
mesmo acontece com o administrador. A aplicação do Direito é a 
imposição de uma diretriz como decorrência de competência legal. 
 
Interpretação 
 
Mas, para aplicar o Direito, o órgão do Estado precisa, antes, 
interpretá-lo. A aplicação é um modo de exercício que está 
condicionado por uma prévia escolha, de natureza axiológica, entre 
várias interpretações possíveis. Antes da aplicação não pode deixar 
de haver interpretação, mesmo quando a norma legal é clara, pois a 
clareza só pode ser reconhecida graças ao ato interpretativo. 
Ademais, é óbvio que só aplica bem o Direito quem o interpreta 
bem. 
 
Integração 
 
Por outro lado, se reconhecemos que a lei tem lacunas, é necessário 
preencher tais vazios, a fim de que se possa dar sempre uma resposta 
jurídica, favorável ou contrária, a quem se encontre ao desamparo da 
lei expressa. Esse processo de preenchimento das lacunas chama-se 
integração do direito, encontrando previsão na Lei de Introdução ao 
Código Civil, segundo a qual, em sendo a lei omissa, deve-se 
recorrer à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. 
 
Elementos de Integração do Direito 
 
A analogia atende ao princípio de que o Direito é um sistema de 
fins. Pelo processo analógico, estendemos a um caso não previsto 
aquilo que o legislador previu para outro semelhante, em igualdade 
de razões. Se o sistema do Direito é um todo que obedece a certas 
finalidades fundamentais, é de se pressupor que, havendo identidade 
de razão jurídica, haja identidade de disposição nos casos análogos, 
segundo um antigo e sempre novo ensinamento: ubi eadem ratio, ibi 
eadem juris dispositio (onde há a mesma razão deve haver a mesma 
disposição de direito). 
 
Quando recorremos, portanto, à analogia, estendendo a um caso 
semelhante a resposta dada a um caso particular previsto, estamos, 
na realidade, obedecendo à ordem lógica substancial ou à razão 
intrínseca do sistema. Se um caso reúne, por exemplo, os elementos 
a, b, c, d, e surge um outro com esses elementos e mais o elemento f, 
é de se supor que, sendo idêntica a razão de direito, idêntica teria 
sido a norma jurídica na hipótese da previsibilidade do legislador, 
desde que o acréscimo de f não represente uma nota diferenciadora 
essencial. É preciso, com efeito, ter muita cautela ao aplicar-se a 
analogia, pois duas espécies jurídicas podem coincidir na maioria 
das notas caracterizadoras, mas se diferençarem em razão de uma 
que pode alterar completamente a sua configuração jurídica. Essa 
nota diferenciadora, como a teoria tridimensional o demonstra, pode 
resultar tanto de uma particularidade fática quanto de uma específica 
compreensão valorativa: em ambos os casos o emprego da analogia 
não teria razão de ser. 
 
Principal diferença Entre Analogia e Interpretação Extensiva 
 
Reale demonstra que o pressuposto do processo analógico é a 
existência reconhecida de uma lacuna na lei. Na interpretação 
extensiva, ao contrário, parte-se da admissão de que a norma existe, 
sendo suscetível de ser aplicada ao caso, desde que estendido o seu 
entendimento além do que usualmente se faz. É a razão pela qual se 
diz que entre uma e outra há um grau a mais na amplitude do 
processo integrativo. 
 
Equidade 
 
Reale observa que em certos casos em que é necessário abrandar o 
texto, opera-se tal abrandamento através da equidade. Esta seria, 
portanto, a justiça amoldada à especificidade de uma situação real. O 
2 
 
nosso Direito Positivo possibilitava ao juiz, quando autorizado a 
decidir por eqüidade, a aplicar no caso a regra que estabeleceria se 
fosse legislador, consoante o art. 114, do Código de Processo Civil 
de 1939, substituído pelo rigorista art. 127 da atual Lei Processual. 
 
Princípios Gerais de Direito 
 
Miguel Reale considera que toda forma de conhecimento filosófico 
ou científico implica a existência de princípios, isto é, de certos 
enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade 
das demais asserções que compõem dado campo do saber. 
Evidentemente que este significado refere-se à palavra "princípio" 
apenas em seu significado lógico, daí excluída a acepção ética desse 
termo, tal como se dá quando demonstramos respeito pelos "homens 
de princípios", fiéis, na vida prática, às suas convicções de ordem 
moral. 
 
Restringindo-se ao aspecto lógico da questão, afirma Reale que os 
princípios são "verdadesfundantes" de um sistema de conhecimento, 
como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido 
comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter 
operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades 
da pesquisa e da praxis. , Os princípios podem ser discriminados em 
três grandes categorias, a saber: 
a) princípios omnivalentes, quando são válidos para todas as formas 
de saber, como é o caso dos princípios de identidade e de razão 
suficiente; 
b) princípios plurivalentes, quando aplicáveis a vários campos de 
conhecimento, como se dá com o princípio de causalidade, essencial 
às ciências naturais, mas não extensivo a todos os campos do 
conhecimento; 
c) princípios monovalentes, que só valem no âmbito de determinada 
ciência, como é o caso dos princípios gerais de direito. 
Conceito 
 
Reale conceitua os “princípios gerais de Direito” como “enunciações 
normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a 
compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e 
integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, desse 
modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua 
atualização prática.” 
 
Importância 
 
Alguns deles se revestem de tamanha importância que o legislador 
lhes confere força de lei, com a estrutura de modelos jurídicos, 
inclusive no plano constitucional, consoante dispõe a nossa 
Constituição sobre os princípios de isonomia (igualdade de todos 
perante a lei), de irretroatividade da lei para proteção dos direitos 
adquiridos etc. A maioria dos princípios gerais de direito, porém, 
não constam de textos legais, mas representam contextos 
doutrinários ou, de conformidade com terminologia assente no 
Capítulo XIV, são modelos doutrinários ou dogmáticos 
fundamentais. Nem todos os princípios gerais têm a mesma 
amplitude, pois há os que se aplicam apenas neste ou naquele ramo 
do Direito, sendo objeto de estudo da Teoria Geral do Direito Civil, 
do Direito Constitucional, do Direito Financeiro etc. 
 
Costume 
 
O costume continua desempenhando função relevante na experiência 
jurídica de nossos dias, não sendo, porém, igual o seu papel em 
todas as disciplinas. Verificamos uma força maior do Direito 
costumeiro em certos ramos ou para a solução de determinados 
problemas, como é o caso do Direito Comercial e do Direito 
Internacional. 
 
No direito positivo as "fontes" são categorias históricas, ou seja, 
realidades sujeitas a variações de lugar e de tempo. Se, hoje em dia, 
as normas legais primam no sistema do Direito brasileiro, o mesmo 
não acontece em outras Nações, havendo diferenças e contrastes até 
mesmo entre países subordinados à mesma tradição jurídica. 
 
Vigência, Efetividade e Fundamento 
Miguel Reale lembra que não basta que uma regra jurídica se 
estruture, pois é indispensável que ela satisfaça a requisitos de 
validade, para que seja obrigatória. A validade de uma norma de 
direito pode ser vista sob três aspectos: o da validade formal ou 
técnico-jurídica (vigência), o da validade social (eficácia ou 
efetividade) e o da validade ética (fundamento). Diz a Lei Civil que 
são três as pessoas jurídicas fundamentais de Direito Público Interno 
(Código Civil, art. 41). Mas, evidentemente, não discrimina o campo 
que compete privativamente a cada uma delas. 
É na Constituição Federal que se deve buscar a distribuição 
originária das competências. A Constituição é a lei fundamental que 
distribui, de maneira originária, a competência dos elementos 
institucionais do Estado, fixando as atribuições conferidas à União, a 
qual exprime o Brasil na sua unidade interna; o que toca, de maneira 
especial, a cada um dos Estados-membros da Federação e, por fim, 
qual é o círculo de competência que se reserva ao Município. 
À União cabe o que o legislador constituinte considerou relativo à 
comunidade brasileira como um todo, de tal maneira que não 
poderão os Estados legislar sobre essa matéria e nem tampouco os 
Municípios. Compete à União, por exemplo, legislar sobre Direito 
Civil, Direito Comercial, Direito Processual e Financeiro. É 
atribuição exclusiva do Governo Federal legislar sobre as forças 
armadas, correios e telégrafos, comércio externo, navegação de 
cabotagem etc. É privativo da União ainda cobrar impostos de 
exportação, sobre a renda etc., pois também o "poder de tributar" é 
objeto de uma discriminação de caráter constitucional. 
 
Ao lado dessa competência de ordem geral, a Carta Magna fixa os 
"espaços de poder" que tocam, respectivamente, aos Estados, 
Distrito Federal, Territórios e Municípios. O Município é declarado, 
pela Carta Magna, uma entidade autônoma, ou seja, capaz de decidir 
assuntos próprios lançando mão de recursos próprios. A autonomia 
consiste, tecnicamente, na maior ou menor capacidade que tem uma 
entidade para resolver, sem interferência de terceiros, problemas que 
lhe são peculiares. Nessa linha de distribuição de competências, cabe 
ao Município lançar o imposto territorial urbano, impostos de 
licença, predial e de indústrias e profissões. 
 
Da mesma forma, discriminam-se as atribuições de cada Estado, 
bem como os tributos que lhe competem, de maneira privativa, ou 
em concurso com a União e os Municípios. O Estado, diga-se de 
passagem, goza de autonomia bem mais ampla do que a dos 
municípios que o integram, porquanto lhe é conferido o poder de 
"autoconstituição", ou seja, de elaborar a sua própria Constituição, 
muito embora dentro dos limites traçados pela Carta Maior. 
 
Na construção do Estado Brasileiro, por conseguinte, o legislador 
pátrio concebe três círculos distintos de ação que se completam e se 
integram, formando, no seu todo, a República Federativa do Brasil, 
segundo os princípios do chamado federalismo cooperativo, ou 
integrado. Reale explica que a ordem jurídica positiva brasileira 
pode ser concebida como três círculos secantes, com uma parte 
comum e três partes distintas. Dentro da esfera de atribuição que lhe 
é reconhecida pela Constituição, cada pessoa de Direito Público 
Interno pode declarar o Direito próprio: primeira condição da 
vigência da lei, é, pois, a de ser declarada pelo poder competente 
como tal reconhecido por uma norma constitucional "de 
reconhecimento", para empregarmos a terminologia de Hart. 
3 
 
Condições de Vigência da Lei 
 
a legitimidade do órgão tem que ser observada segundo dois pontos 
de vista diferentes: 1 – legitimidade subjetiva, no que diz respeito ao 
órgão em si; 2 – legitimidade quanto à matéria sobre que a 
legislação versa. 
 
Se o Congresso ou a Assembleia não bastam para fazer uma lei, não 
é menos certo que sem eles não há lei propriamente dita. No regime 
constitucional vigente não é o Congresso só que faz a lei, mas 
nenhuma lei pode ser feita sem o Congresso. Se o Presidente da 
República editar sozinho uma lei, ela não terá vigência ou validade 
formal, por faltar-lhe a legitimidade do órgão de que foi emanada. 
Se, ao contrário, não se trata de uma lei, mas de mero decreto que 
regulamenta uma lei federal, então o Presidente da República é 
competente para editar esse ato normativo, desde que não inove na 
matéria, dispondo para menos ou para mais do que a lei estabelece 
(Constituição, art. 84, IV). 
 
Podemos, por conseguinte, afirmar que sem órgão competente e 
legítimo não existe regra jurídica válida, capaz de abrigar 
compulsoriamente os cidadãos de um país. Ao lado da competência 
subjetiva, que se relaciona com o órgão, temos a competência que 
diz respeito à própria matéria legislada. É necessário, portanto, que a 
lei reúna três requisitos:a) quanto à legitimidade do órgão; b) quanto à competência ratione 
materiae; c) quanto à legitimidade do procedimento. 
 
Quando uma regra de direito obedece, em sua gênese, a esses três 
requisitos, dizemos que ela tem condições de vigência. 
 
Efetividade ou Eficácia da Lei 
 
Os legisladores podem promulgar leis que violentam a consciência 
coletiva, provocando reações por parte da sociedade. Há leis que 
entram em choque com a tradição de um povo e que não 
correspondem aos seus valores primordiais. Não obstante, valem, 
isto é, vigem. 
 
Há casos de normas legais, que, por contrariarem as tendências e 
inclinações dominantes no seio da coletividade, só logram ser 
cumpridas de maneira compulsória, possuindo, desse modo, 
validade formal, mas não eficácia espontânea no seio da 
comunidade. 
 
A eficácia se refere, pois, à aplicação ou execução da norma 
jurídica, ou por outras palavras, é a regra jurídica enquanto momento 
da conduta humana. A sociedade deve viver o Direito e como tal 
reconhecê-lo. Reconhecido o Direito, é ele incorporado à maneira de 
ser e de agir da coletividade. Tal reconhecimento, feito ao nível dos 
fatos, pode ser o resultado de uma adesão racional deliberada dos 
obrigados, ou manifestar-se através do que Maurice Hauriou 
sagazmente denomina "assentimento costumeiro", que não raro 
resulta de atos de adesão aos modelos normativos em virtude de 
mera intuição de sua conveniência ou oportunidade. O certo é, 
porém, que não há norma jurídica sem um mínimo de eficácia, de 
execução ou aplicação no seio do grupo. 
 
O Direito autêntico não é apenas declarado mas reconhecido, é 
vivido pela sociedade, como algo que se incorpora e se integra na 
sua maneira de conduzir-se. A regra de direito deve, por 
conseguinte, ser formalmente válida e socialmente eficaz. 
 
Todavia, há, excepcionalmente, regras de direito que, embora não 
reconhecidas pela sociedade em geral, - e não por este ou aquele 
infrator isoladamente, têm eficácia compulsória. É que os tribunais 
não podem recusar aplicação às normas em vigor, a não ser quando 
estiver caracterizado e comprovado que a lei invocada caiu em 
efetivo desuso. Mesmo, porém, quando ainda não se caracterizou o 
desuso, o Judiciário, ao ter de aplicar uma regra em conflito com os 
valores do ordenamento, atenua, quando não elimina, os seus efeitos 
aberrantes, dando-lhe interpretação condizente com o espírito do 
sistema geral, graças à sua correlação construtiva com outras regras 
vigentes. Deve observar-se que não se sabe qual o maior dano, se o 
das leis más, suscetíveis de revogação, ou o poder conferido ao juiz 
para julgar contra legem, a pretexto de não se harmonizarem com o 
que lhe parece ser uma exigência ética ou social. 
 
Diferença entre Validade e Eficácia 
 
Validade formal ou vigência é, em suma, uma propriedade que diz 
respeito à competência dos órgãos e aos processos de produção e 
reconhecimento do Direito no plano normativo. A eficácia, ao 
contrário, tem um caráter experimental, porquanto se refere ao 
cumprimento efetivo do Direito por parte de uma sociedade, ao 
“reconhecimento” (Anerkennung) do Direito pela comunidade, no 
plano social, ou mais particularizadamente, aos efeitos sociais que 
uma regra suscita através de seu cumprimento. 
 
O Problema do Fundamento 
 
Segundo Miguel Reale, O fundamento é o valor ou fim objetivado 
pela regra de direito. É a razão de ser da norma, ou ratio júris. 
Impossível é conceber-se uma regra jurídica desvinculada da 
finalidade que legitima sua vigência e eficácia. E o jurista brasileiro 
arremata afirmando que a regra jurídica deve, normalmente, reunir 
os três seguintes requisitos de validade: a) fundamento de ordem 
axiológica; b) eficácia social, em virtude de sua correspondência ao 
querer coletivo; e c) validade formal ou vigência, por ser emanada 
do poder competente, com obediência aos trâmites legais. 
 
Em resumo, são três os aspectos essenciais da validade do Direito, 
três os requisitos para que uma regra jurídica seja legitimamente 
obrigatória: o fundamento, a vigência, e a eficácia, que 
correspondem, respectivamente, à validade ética, à validade formal 
ou técnico-jurídica e à validade social. Fácil é perceber que a 
apreciação ora feita sobre a vigência, eficácia e fundamento vem 
comprovar a já assinalada estrutura tridimensional do Direito, pois a 
vigência se refere à norma; a eficácia se reporta ao fato, e o 
fundamento expressa sempre a exigência de um valor. Portanto, para 
Reale, a validade está simultaneamente na vigência, ou 
obrigatoriedade formal dos preceitos jurídicos; na eficácia, ou 
efetiva correspondência dos comportamentos sociais ao seu 
conteúdo, e no fundamento, ou valores capazes de legitimar a 
experiência jurídica numa sociedade de homens livres. 
 
 
Fontes: 
 
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: 
técnica, decisão, dominação. São Paulo: Atlas, 2001. 
 
NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. 26. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2012. 
 
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Saraiva, 
2002, CAp. X. 
 
LEI Nº 12.376, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2010.

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