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Position Violencia e Saúde

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
WEVERTON CORRÊA NETTO
VIOLÊNCIA E SAÚDE
POSITION PAPER
JUIZ DE FORA
2019
Logo no primeiro capítulo de seu livro, a autora começa por questionar a aparente neutralidade embutida no termo “violência”. Compreendido por muitos enquanto pertencente ao plano da ação (e como posteriormente discutido, da intencionalidade) costumamos por atribuir causalidades aos atos e fenômenos violentos prezando pelo imediatismo do ocorrido, considerando mais o ato em si do que seus antecedentes na constante busca pelo ator da violência, o delinquente, o culpado (assim como a violência, a culpa constitui outro termo passível de questionamento, apesar de não ser este o objetivo desse trabalho). Contudo, a violência, assim como todos os outros fenômenos que assim como ela participam de nossa dinâmica social desde os primeiros estágios da civilização e até mesmo antes dela, é sócio historicamente acarretada e possuidora de uma causalidade complexa, singular em cada tempo e lugar. Além disso, como muito bem colocada pela autora, a violência é múltipla. Manifesta-se em diferentes formas e âmbitos, sendo assim ação ou consequência, visível ou invisível, e principalmente, legitimada ou deslegitimada. Se é que no âmbito dos prejuízos que causa tais separações são impossíveis, por outro lado se torna claro perceber que a violência só é violência enquanto coerente com as concepções pré-estabelicidas sobre ela em nível coletivo e das leis, moduladoras de nossas noções de certo e errado e norteadoras de nossas condutas. 
Ao propor tal discussão acerca do tema da violência, a autora perpassa por duas formas de se concebê-la: a partir da filosofia popular e da filosofia erudita. Vale ressaltar aqui que essas duas perspectivas, apesar de serem consideradas paralelamente, são indissociáveis e mutuamente influentes. Tanto o imaginário popular quanto o saber científico carregam consigo, de forma explícita ou implícita, marcas um do outro. Entretanto, tal separação serve aos propósitos da autora ao permitir a constatação de que ambas, partindo de diferentes lógicas, localizam a violência como parte intrínseca da vida em sociedade, resultante dos conflitos de poder inerentes a nossa ordem social e presente também em nossas relações e trocas cotidianas. 
Destaca-se dentro das perspectivas eruditas sobre a violência, as proposições que (re) afirmam a interdependência entre o fenômeno da violência, os conflitos gerais de cada sociedade e aspectos culturais das mesmas. A violência possui o seu caráter instrumental de controle e imposição sobre os outros, valendo ressaltar a violência promovida pelo Estado, como também pode ou ser maior ou menor condenada culturalmente, com destaque para o papel dos mecanismos modernos de institucionalização e solução de conflitos. Porém, tais mecanismos muitas das vezes mostram-se insuficientes devido a exclusão do acesso a alguns, vinculada ao seu uso adulterado na defesa por interesses parciais. 
É interessante também a observação dos estudos citados pela autora de que a violência é sempre designada ao “outro” pelo senso comum (enquanto praticamos inúmeras formas de violência menos visíveis em nosso dia a dia, na educação de crianças, nos preconceitos enrustidos em nosso caráter, entre outros), convergindo também com o ideal popular da violência enquanto atitude dos pecadores e miseráveis, demonstrando uma das formas pelas quais o julgamento moral deságua no campo da violência, criando supostos tipos para serem taxados enquanto violentos, como ocorreu e ocorre até os dias de hoje em nosso país. Além disso, a associação do termo “pecado” à violência expressa adventos da religião em nossa sociedade moderna: a saída do estudo caótico de natureza pela internalização de formas de controle social, ao mesmo tempo em que a mesma chega a justificar atos violentos contra grupos específicos. 
Com o fim da Guerra Fria e o decorrente declínio do número de conflitos armados (ou o declínio de sua visibilidade, pois os conflitos armados continuam se perpetuando na África e no Oriente Médio, apesar da aparente desatenção do Mundo Ocidental para com eles), a autora alerta para uma falta de mecanismos de expressão de conflitos hoje. A nova dinâmica suscitada pela globalização permitiu a maior circulação mundial nos campos culturais, sociais, econômico e político, “ressituando” a violência e lhe dando uma “nova” face. Essa nova face é marcada pela criminalidade organizada, a violência baseada em questões raça/gênero, o acirramento da exclusão social e o terrorismo. Como bem se sabe, essa nova face não é tão nova assim. A experiência da violência na qual nos encontramos representaria o contrário do conflito institucionalizado. Ela traduz a existência de problemas sociais que não se transformam em tema de debate e busca de solução pela sociedade (MINAYO, 2006). As violências com as quais nos deparamos agora seriam, portanto, aquelas vieram à tona ou pela exigência de reparação de injustiças ancestrais, ou pelas possibilidades ocasionadas pelo novo “mundo sem fronteiras”. 
Posteriormente, a discussão sobre a violência se delimita ao contexto brasileiro, país onde a violência é de cunho predominantemente social. O livro apresenta, então, um ideal presente no imaginário popular acerca do povo brasileiro: o “mito da cordialidade”. Apesar da aparente positividade desse mito, somos levados a questionar o que está escondido por de trás de sua bonita fachada. Considerando toda a história do desenvolvimento do país, a ideia de cordialidade é deixada para trás e outro termo surge para substituí-lo. Esse termo seria a submissão. Desde o nascimento do Brasil e durante todo o decorrer de sua história, o país é manchado pela dominação, pela colonização, pela submissão dos índios, negros e pobres frente aos ricos e poderosos. Não é de forma metafórica que se diz que o Brasil é fruto de um estupro. A violência foi o instrumento utilizada na constituição do país da forma como o encontramos hoje. 
A principal consequência da maneira pela qual se deu a formação do Brasil foi a agregação da violência social à dinâmica sociopolítica nacional, de forma estrutural e “estruturante” (MINAYO, 2006), gerando níveis elevadíssimos de desigualdade que se enraízaram e se proliferam cada dia mais em um solo fértil preparado durante séculos de segregação. De mãos dadas com a desigualdade social andam aqui os ideais autoritários, que frequentemente ressurgem nos comportamentos políticos, institucionais e nos processos sociais, manifestos e reforçados ao longo do tempo, por exemplo, pelas políticas de coronelismo e clientelismo, os períodos ditatoriais e por fim, o atual governo do país (compreendido no contexto de um processo mundial de retrocesso na discussão dos direitos humanos e da liberdade individual). A história, portanto, promulga-se. 
Pelo panorama da violência contemporânea no Brasil traçado pela autora, é possível se traçar também uma linha lógica de extrema relevância: o profundo vínculo entre o lucro e as formas hegemônicas de violência no país, dando origem ao denominado “mercado da violência”. De um lado, o crime organizado em redes, de acordo com as tendências de um mundo globalizado, nas formas de narcotráfico, tráfico de armas e lavagem de dinheiro. Do outro, aqueles que comercializam os sentimentos de insegurança da população, as empresas de segurança privada e patrimonial, sem contar a indústria da venda legal de armas a população. Mas a polarização não para por aí. Enquanto aqueles historicamente excluídos do mercado de trabalho e da sociedade como um todo, os jovens periféricos, enxergam uma de suas poucas oportunidades de inclusão social e de visibilidade no crime organizado, a “sociedade” busca cada vez mais esconder-se da violência em seus muros, grades e cercas-elétricas, como também gritam por seu direito de autodefesa com a flexibilização do porte de armas para a população, já que o Estado por si não garante sua plenasegurança. É um ciclo vicioso de incitação à violência que vem acirrando ainda mais a segregação entre as camadas da sociedade brasileira, seja esse sócio espacial ou discriminatória. Dessa forma, a autora comprova ainda mais a complexidade que engloba o fenômeno da violência e a necessidade de múltiplos níveis de análise do fenômeno. 
Quando inicia o tratamento da problemática da violência dentro do campo da saúde pública, Minayo

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