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SENTENÇA E COISA JULGADA

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SENTENÇA E COISA JULGADA
INTRODUÇÃO
A sentença é a causa de extinção do processo, sendo ato do juiz que de acordo com seu conteúdo, podendo ou não resolver o mérito da causa. Por sua vez, a coisa julgada está relacionada com a sentença judicial, sendo a mesma irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de qualquer recurso, tornado esta, assim, imutável (art. 502 do NCPC). Ambas têm como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os conflitos se perpetuem no tempo.
A sentença é um dos mais relevantes provimentos do juiz, porque atribui um desfecho para todo o procedimento, sendo o último ato processual, com o qual, o juiz termina seu ofício jurisdicional, onde a premissa maior é a norma jurídica a ser aplicada para cada situação de fato, sendo a conclusão correspondente à norma concreta que se extrai da submissão do fato à norma jurídica.
A coisa julgada é uma garantia constitucional e encontra amparo no artigo 5º inciso XXXVI da Constituição da República Federativa do Brasil, conhecida também como Carta Magna, a saber: “A Lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”
A origem da coisa julgada é atribuída ao direito romano, à chamada "res judicata". A justificativa de tal instituto à época é muito semelhante à justificativa atual: pacificação social e segurança jurídica. Uma das finalidades da coisa julgada é imprimir segurança aos julgados, evitando que litígios idênticos sejam novamente ajuizados, o que geraria desordem e discussões infindáveis.
1. SENTENÇA
1.1 Sobre a ótica Antônio Sanches
Antônio Sanches Conclui que a fase de conhecimento faz parte do rol dos atos do juiz e suas modalidades e que a sentença que extingue o processo com e sem resolução de mérito conclui que a dinâmica é muito próxima.
O art. 485 do CPC fala sobre a extinção do processo sem resolução do mérito, juntamente com o Indeferimento da petição inicial, disposto no art. 331 do mesmo dispositivo, trazendo à tona os parâmetros referentes ao abandono por um ano, por negligencia das partes e do abandono pelo autor por mais de 30 dias.
O juiz intimara as partes para dar o andamento ao feito e, caso estes não se manifestem ou aleguem o desinteresse, então a sentença será sem resolução do mérito, tendo as partes o ônus de custear o pagamento proporcional das custas e das despesas e honorários.
Quando se verificar ausência de pressupostos processuais, reconhecendo perempção, litispendência ou coisa julgada, o processo será extinto sem resolução do mérito (Art. 486, CPC).
Na desistência e na renúncia, ao serem homologadas, será importante um olhar aos parágrafos, os quais apontam que sem o consentimento do réu não será possível a desistência da ação.
Em caso de morte da parte, desde que a ação ficar considerada intransmissível (hipótese de suspensão do processo), o juiz reconhecerá de oficio.
O CPC admite em poucas hipóteses da apelação o exercício do direito de retratação, uma dessas hipóteses é a sentença proferida nos casos de extinção sem resolução de mérito.
Outro ponto mencionado pelo autor relata que, os casos de extinção sem resolução do mérito não obstam a parte em propor novamente a ação, porem terá de tomar algumas providencias como o saneamento de alguns vícios.
1.2 Sobre a ótica Humberto Theodoro Jr
A sentença pode ser entendida como uma prestação do Estado, em virtude da obrigação assumida na relação jurídico-processual (processo), quando a parte ou as partes vão a juízo exercerem a pretensão à tutela jurídica. Elas são tradicionalmente, classificadas em sentenças terminativas e sentenças definitivas (THEODORO JR.. 2016, p. 505).
As terminativas põem fim ao processo, sem, entretanto, resolverem o mérito. (casos de extinção do processo previstos no art. 485 do CPC/2015). Após a sua prolação há, ainda o direito de ação, ou seja, o direito de instaurar outro processo sobre a mesma lide, visto que esta não chegou a ser apreciada (THEODORO JR. 2016, p. 505).
Já as sentenças definitivas são as que decidem o mérito da causa, no todo ou em parte, e, devido a isto extinguem o próprio direito de ação. Ao contrário das terminativas, após a sua prolação, não é mais possível às partes a propositura de outra causa sobre a lide, que nele encontrou sua definitiva solução (THEODORO JR. 2016, p. 505).
Os efeitos da sentença definitiva são diversos, sendo o principal o de pôr fim à função do julgador na fase cognitiva do processo e na execução, mediante a apresentação da prestação jurisdicional (art. 494). Theodoro Jr. (2016, p. 1072) apelida esse efeito principal de “efeito formal” da sentença. 
A sentença possui efeitos “materiais” que criam novas situações jurídicas para os litigantes. Dessa forma, a sentença condenatória gera o título executivo que faculta ao vencedor utilizar-se da atividade jurisdicional de execução forçada, caso o vencido não satisfaça a prestação assegurada no julgado. A sentença constitutiva, por outro lado, opera a extinção da relação jurídica litigiosa ou cria nova situação jurídica para as partes. E a sentença declaratória, por fim, gera a certeza jurídica sobre a relação jurídica questionada em juízo (THEODORO JR. 2016, p. 1072).
Theodoro Jr. (2016, p. 1072) leciona que caso a sentença seja apenas terminativa, isto é, encerre o processo sem solucionar o mérito, seu efeito é tão somente interno atuando apenas sobre a relação processual. Na forma do art. 486, em tal caso, “o pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação”. Excepciona o código a esta regra as extinções motivadas por perempção, litispendência ou coisa julgada. Isto posto, quando há extinção do processo sem resolução do mérito, a sentença não faz coisa julgada material, mas apenas formal, de maneira que é viável a reproposição da mesma ação (art. 486).
Ao publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre o ofício jurisdicional pertinente ao acertamento do litígio (prestação típica do processo de conhecimento). No entanto, se ainda há possibilidade de recurso, a sentença não corresponde a uma definitiva “entrega da prestação jurisdicional”. O juiz, ao proferir a sentença, apenas está apresentando a questionada prestação. “A sua entrega só ocorre quando não cabe ou não mais cabe recurso, ou quando já não cabe, ou a lei não o dá, de decisão que a confirmou ou a reformou. A entrega, portanto, da prestação jurisdicional ocorre na última decisão”, naquela que virá revestir-se da indiscutibilidade da coisa julgada (THEODORO JR. 2016, p. 1073).
Seguindo as lições de Chiovenda Theodoro Jr. (2016, p. 1073) postula que, enquanto for possível a interposição de recurso, a sentença “não encerra nenhum valor atual” e, “simplesmente, apresenta o valor de um ato que pode converter-se em sentença, se o recurso for renunciado ou perempto. A sentença de primeiro grau, portanto, constitui mera possibilidade de sentença, mera situação jurídica”. Em outras palavras, a entrega da prestação jurisdicional “só se efetua quando a sentença passa em julgado” (THEODORO JR. 2016, p. 1073).
O autor lista, ainda, os seguintes exemplos de efeitos secundários da sentença:
(a) hipoteca judiciária, nos casos de sentença condenatória (art. 495, CPC);
(b) dissolução da comunhão de bens, nos casos de sentença de separação judicial (Código Civil, art. 1.575) e de divórcio (CF, art. 226, § 6º);
(c) perda do direito de usar o sobrenome de outro cônjuge, quando declarado culpado na ação de separação judicial (Código Civil, art. 1.578);
(d) perempção do direito de demandar, quando o autor der motivo a três extinções do processo, por abandono da causa (CPC, art. 486, § 3º);
(e) havendo condenação do devedor a emitir declaração de vontade, “a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida” (CPC, art. 501);
(f) a decisão judicial transitada em julgado pode ser levada a protesto, depois de transcorrido o prazo previsto para pagamento voluntário (CPC,art. 517 c/c o art. 523) (THEODORO JR. 2016, p. 1073).
1.3 Sobre a ótica de Cassio Scarpinella Bueno
O CPC de 2015 conceitua sentença como “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução” (art. 203, § 1º), ressalvando, no mesmo dispositivo legal, “as disposições expressas dos procedimentos especiais”. 
O conceito, ao empregar concomitantemente critérios de finalidade (colocar fim à fase cognitiva do procedimento em primeira instância e que extingue a fase de cumprimento de sentença, ou, ainda, que extingue a execução) e de conteúdo (ter como fundamento uma das hipóteses dos arts. 485 ou 487) para caracterizar a sentença, contrapondo-a às decisões interlocutórias, quer responder às não poucas críticas que a Lei n. 11.232/2005, ao dar nova redação aos §§ 1º e 2º do art. 162 do CPC de 1973, recebeu. 
É irrecusável, contudo, caber à doutrina refletir mais detidamente sobre a opção legislativa, analisando a presença (ou a ausência) dos elementos que parecem ser essenciais ao conceito em cada caso. Também porque a ressalva feita pelo §1º do art. 203 nada diz a não ser que, se algum procedimento especial dispor que um determinado ato é sentença, sentença é, ainda que, eventualmente, não se amolde ao preceito legal. É o que se verifica, por exemplo, nos casos de divisão (arts. 572 e 597, § 2º) e de demarcação de terras (arts. 581, 582 e 587); no inventário (arts. 654 e 655); na habilitação (art. 692); nos embargos da “ação monitória” (art. 702, § 9º); na homologação de penhor legal (art. 706, § 2º); na regulação de avaria grossa (art. 710, § 1º); e, de forma genérica, nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 724). 
De qualquer sorte, para os fins deste Manual, a conceituação do CPC de 2015 (com os acréscimos que lancei) é mais que suficiente e parece, na maior parte das vezes, funcionar bem, como, em diversas passagens, tenho a oportunidade de demonstrar. E mais: no contexto da etapa cognitiva do procedimento comum – é nele que está inserida a “fase instrutória” –, o conceito mostra-se exato. 
Sentença é mesmo o ato que encerra aquela etapa em função de uma das hipóteses dos incisos dos arts. 485 ou 487. Tanto que, apenas para ilustrar a afirmação, não há espaço para duvidar que o julgamento antecipado parcial de mérito é feito por decisão interlocutória (art. 356, § 5º), tanto quanto o é a rejeição liminar de eventual reconvenção apresentada pelo réu. De outra parte, a maior dificuldade da distinção entre sentenças e as decisões interlocutórias no CPC de 1973 residia em consequência sua, a do recurso cabível. 
No CPC de 2015, este problema é minimizado, embora não eliminado, porque, nele, a recorribilidade imediata das interlocutórias por agravo de instrumento depende menos de uma decisão ser identificada pela doutrina ou pela jurisprudência como interlocutória e muito mais de ser sujeita àquele recurso por expressa disposição de lei, a começar pelo rol codificado do art. 1.015. De resto, da sentença cabe (e continua cabendo, mesmo no novo Código) o recurso de apelação (art. 1.009, caput).
Tendo presente o conteúdo dos arts. 485 e 487, é correto entender que persisti, para o CPC de 2015, a distinção bem aceita pela doutrina entre “sentenças terminativas” e “sentenças definitivas”. Estas, às quais diz respeito o art. 487, em que há resolução de mérito; aquelas, as terminativas, relacionadas no art. 485, em que não há resolução de mérito. 
Quanto ao mérito, merece ser sempre entendido como sinônimo de conflito de interesses levado ao Judiciário para solução. É aquilo sobre o que o autor e o réu querem que recaia a tutela jurisdicional. As hipóteses em que há prolação de sentença sem resolução de mérito – sentenças terminativas – são as seguintes: Indeferimento da Inicial, abandono do processo, ausência de pressupostos processuais de existência ou de validade, irregularidade no exercício do direito de ação, desistência e etc. 
Já, no que tange as sentenças definitivas, o rol das sentenças definitivas, isto é, daquelas em que há resolução de mérito ou, o que parece ser mais correto, que são consideradas de mérito pelo CPC de 2015, está no art. 487. 
1.4 Sobre a ótica Daniel Assumpção
1.4.1 Conceito legal de sentença
De acordo com Daniel Amorim Assumpção Neves (2018, p. 817) sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, do Novo CPC, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Enquanto decisão interlocutória é qualquer pronunciamento decisório que não seja sentença.
1.4.2 Classificação das sentenças
Para Daniel Amorim (2018) a classificação depende dos critérios, pode ser conforme o conteúdo ou a resolução ou não do mérito.
1.4.2.1. Conteúdo da sentença
1.4.2.1.1. Teoria ternária e teoria quinária
Conforme Daniel Amorim (2018, p. 820) a doutrina clássica entende que existem 3 tipos de sentença, quais sejam, meramente declaratória, constitutiva e condenatória. Pontes de Miranda por sua vez diz que existem ainda as sentenças executivas lato sensu e as sentenças mandamentais, o que totaliza cinco espécies de sentença.
1.4.2.1.2. Sentença meramente declaratória
Consoante entendimento de Daniel Amorim (2018, p. 821) o conteúdo da sentença meramente declaratória é a declaração da existência, inexistência ou o modo de ser. Essa sentença, portanto, resolve dúvidas relacionadas a natureza de uma relação jurídica. Apenas poderá ter por objeto uma relação jurídica, excepcionalmente admitindo-se que tenha como objeto meros fatos.
É preciso que a dúvida seja objetiva e real, não se apenas uma incerteza subjetiva do autor. A dúvida é social, que pode atingir terceiros e criar uma instabilidade na esfera de interesse do autor. Uma sentença de improcedência sempre será uma sentença declaratória pois seu conteúdo é a declaração de inexistência do direito material alegado pelo autor.
Os efeitos da sentença declaratória em regra são ex tunc, porém há exceção no art. 27 da Lei 9.868/1999, na qual o STF pode modificar o efeito natural da decisão de procedência na ação declaratória de inconstitucionalidade para tutelar a segurança jurídica ou em caso de excepcional interesse social.
1.4.2.1.3. Sentença constitutiva
Congruente aos ensinamentos de Daniel Amorim (2018, p. 824) “o conteúdo da sentença constitutiva é a criação, extinção ou modificação de uma relação jurídica”. As sentenças constitutivas podem ser divididas em dois grupos: necessárias e facultativas. As necessárias são observadas quando a intervenção jurisdicional é a única forma de obter a alteração da situação jurídica pretendida, a sentença facultativa por sua vez “só existirá se houver a lide clássica no caso concreto, porque sem ela não seria necessária a intervenção jurisdicional”
A sentença constitutiva em regra tem efeitos ex nunc; A lei, entretanto, poderá apontar de forma expressa a existência de efeitos ex tunc.
1.4.2.1.4. Sentença condenatória
Como ensina Daniel Amorim (2018, p. 825) em sua obra, a sentença condenatória é formada por dois momentos lógicos, sendo o primeiro a declaração da existência do direito do autor e o segundo importando na criação de condições para que sejam praticados atos materiais de execução. O conteúdo da sentença condenatória, para além de uma declaração de existência do direito material, consiste também na imputação ao réu do cumprimento de uma prestação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa, para que se resolva a crise jurídica de inadimplemento. O efeito dessa sentença é a criação de um título executivo.
1.4.2.1.5. Sentença executiva lato sensu
Diz Daniel Amorim (2018, p. 825) que essa modalidade de sentença não é pacífica na doutrina pátria. Parte da doutrina defende a teoria ternária e entende a sentença executiva lato sensu como espécie autónoma da sentença, sendo, portanto, apenas espécie de sentença condenatória. Os que defendem sua existência elencam dois os fatoresdistintivos da sentença condenatória da executiva, primeiro o direito material, na sentença condenatória o direito é de crédito (obrigação pecuniária) na sentença executiva o direito é real, outro fator é a complexidade da fase de satisfação do direito.
1.4.2.1.6. Sentença mandamental
Expressa Daniel Amorim (2018, p. 826) a sentença mandamental “se caracteriza pela existência de uma ordem do juiz dirigida à pessoa ou órgão para que faça ou deixe de fazer algo, não se limitando, portanto, à condenação do réu”, a sentença mandamental resta satisfeita uma vez cumprida a ordem.
1.4.3. Resolução de mérito
Enuncia Daniel Amorim (2018, p. 827) que as sentenças se dividem em sentenças terminativas, que não resolvem o mérito e sentenças definitivas, que resolvem o mérito
1.4.3.1. Sentenças terminativas (art. 485 do Novo CPC)
1.4.3.1.1. Processo parado durante mais de um ano por negligência das partes
Afirma Daniel Amorim (2018, p. 827) que haja vista o impulso oficial cabe ao juiz de ofício dar andamento procedimental ao processo, até mesmo quando há negligência das partes, entretanto existem limitações materiais quando a continuidade depende de ato a ser praticado por uma das partes.
Em caso de dever do autor, o dispositivo é inaplicável, pois há prazo de 30 dias para realizar atos e diligências necessárias ao prosseguimento da demanda, portanto esse dispositivo possui pouca aplicação pratica.
1.4.3.1.2. Abandono do processo
Expõe Daniel Amorim (2018, p. 828) que se configura o abandono do processo quando o demandante não pratica atos ou não cumpre diligências que sem as quais o processo não continua por prazo superior a 30 dias. Após a contestação a extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do réu. Existem situações nas quais o abandono do processo não resulta na extinção do processo sem a resolução do mérito, como por exemplo a demanda de inventário, que será remetida ao arquivo. Esse instituto possui importância pratica uma vez que propicia o surgimento da perempção, que ocorre com a extinção por três vezes da mesma demanda apresentada em três processos diferentes deverá ser sempre pelo abandono do autor.
1.4.3.1.3. Ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo
Declara o autor Daniel Amorim (2018, p. 830) que não é sempre que a ausência de pressupostos processuais extinguirá o processo. Ora, “não se deve declarar a nulidade se o juiz tiver condições de julgar o mérito em favor da parte, a qual aproveitaria a declaração de nulidade”, deverá também haver intimação da parte para que sane o vício e a extinção do processo sem resolução do mérito ocorrerá se houver omissão da parte.
1.4.3.1.4. Perempção, coisa julgada e litispendência
Informa o jurista Daniel Amorim (2018, p. 830) que as matérias contidas no dispositivo legal são de ordem pública, portanto devem ser reconhecidas de ofício pelo juiz. A perempção evita abusos no direito de demandar, pois extingue o processo quando a mesma ação for proposta pela quarta vez, tendo sido os três processos anteriores extintos sem a resolução do mérito por abandono bilateral ou unilateral do autor. A "litispendência" por sua vez consiste na existência de dois ou mais processos em trâmite com a mesma ação. Coisa julgada ocorre da repetição de ação que já julgada no mérito com decisão transitada em julgado em processo anterior.
1.4.3.1.5. Carência da ação
Esclarece Daniel Amorim (2018, p. 831) que se presentes as condições da ação no momento de propositura, mas devido à fato superveniente alguma delas desaparecer o processo será extinto por carência superveniente de ação.
1.4.3.1.6. Convenção de arbitragem
Alega Daniel Amorim (2018, p. 831) que havendo a opção pela arbitragem, a intervenção jurisdicional não é cabível. Porém nem sempre o processo será extinto pela sentença terminativa prevista haja vista que se ambas as partes quiserem intervenção jurisdicional significa que a arbitragem é ineficaz. Esse tipo de extinção dependerá de discordância do réu.
1.4.3.1.7. Desistência da ação
Discorre o autor Daniel Amorim (2018, p. 832) que a desistência da ação se refere apenas ao processo em que ocorre, logo é permitido que o autor posteriormente ingresse com idêntica demanda, após a contestação é necessário que haja anuência do réu que deve ser fundamentada e justificada e não simplesmente discordância
O STJ entende que é proibida a desistência após a sentença, sendo possível somente que as transacionem sobre o decidido.
1.4.3.1.8. Direitos intransmissíveis
Em sua redação Daniel Amorim (2018, p. 833) diz que “o Novo CPC prevê como causa de extinção terminativa a morte da parte em ação considerada intransmissível por disposição legal”. Esse tipo de extinção não decorre apenas da natureza do direito material discutido, mas também de um fato superveniente que necessita para prosseguimento da demanda de sucessão processual, o que não ocorrerá no caso concreto pelo fato do direito ser intransmissível.
1.4.3.1.9. Repropositura da ação
Conta Daniel Amorim (2018, p. 834) que uma vez extinto o processo por sentença terminativa transitada em julgado a parte poderá propor novamente a ação.
1.4.3.2. Sentenças definitivas (art. 487 do Novo CPC)
Narra Daniel Amorim (2018, p. 836) que sentença definitiva é aquela que decide de forma definitiva o conflito observado a coisa julgada material. As sentenças homologatórias bem como as que reconhecem a prescrição ou decadência também encerram o conflito de forma definitiva, o que as torna sentenças de mérito, entretanto o juiz não enfrenta o direito material alegado por isso também são consideradas falsas sentenças de mérito ou sentenças de mérito impuras.
1.4.3.2.1. Acolhimento ou rejeição do pedido
Daniel Amorim (2018, p. 837) pondera que na praxe forense é comum a utilização do termo procedência ou improcedência que não traz problemas quando há indicação do que efetivamente está sendo julgado, o mais adequado seria falar em procedência ou improcedência do pedido, e não da ação
1.4.3.2.2. Reconhecimento jurídico do pedido
De acordo com Daniel Amorim (2018, p. 837) a submissão é uma forma de solução alternativa de solução de conflitos sendo espécies de autocomposição, nela o réu expressamente concorda com a pretensão do autor. Portanto o juiz apenas homologa a vontade do réu de que o autor vence a demanda.
1.4.3.2.3. Transação
Assevera Daniel Amorim (2018, p. 838) que transação é o acordo de vontade das partes, admite-se que o objeto desta seja mais amplo que o da demanda, a transação é ainda reconhecida como “medida de economia processual e de oferecimento de solução da lide completa”.
1.4.3.2.4. Prescrição e decadência
Daniel Amorim (2018, p. 838) informa que prescrição e decadência são “limitações temporais para a arguição perante o Poder Judiciário de tutela de um direito material”.
1.4.3.2.5. Renúncia
Daniel Amorim (2018,838) comunica que renúncia é ato unilateral de vontade do autor, não será possível homologação, entretanto de direitos que não admitem renúncia.
1.4.4. Elementos da sentença
Daniel Amorim (2018, p. 839) elogia o Novo CPC pois é entendido que o relatório, a fundamentação e o dispositivo da sentença são os seus elementos e não seus requisitos.
1.4.4.1. Relatório
Daniel Amorim (2018, p. 839) diz que relatório é o resumo da demanda que demonstra que o juiz possui conhecimento do que está julgando. Dispensa-se o relatório nos juizados Especiais. A ausência de relatório torna a sentença nula. Presume-se que se o juiz não faz o relatório é indicação de que não tem conhecimento sobre a demanda que está julgando. A doutrina majoritária entende que se trata de nulidade absoluta.
1.4.4.2. Fundamentação
Daniel Amorim (2018, p. 840) assevera que a fundamentação é princípio constitucional não podendo ser dispensada, nela o juiz deverá indicar todas as questões de fato e de direito relevantes para a solução da demanda, justificando como chegou a conclusão presente no dispositivo.Sua ausência é vício grave, que, entretanto, não gera a inexistência jurídica do ato e sim nulidade do ato judicial decisório.
1.4.4.3. Dispositivo
Daniel Amorim (2018, p. 841) enuncia que o dispositivo consiste na conclusão decisória da sentença, é decorrente da fundamentação, é possível a formulação de dispositivo direto e indireto, sua ausência é um vício gravíssimo, haja vista que decisão sem dispositivo não é, nada é decidido, há, portanto, inexistência jurídica do ato judicial.
1.4.4.4. Comentários gerais a respeito dos elementos da sentença
Daniel Amorim (2018, p. 842) explica que o juiz ao proferir a sentença não tem obrigação de separar a decisão identificando seus diferentes elementos, a ausência de divisão, portanto não torna a decisão viciada.
1.4.5. Sentença líquida
Conforme Daniel Amorim (2018, p. 842) mesmo que seja formulado pedido genérico, a decisão deve definir a extensão da obrigação, correção monetária e juros, o termo inicial para ambos e periodicidade para capitalização dos juros. Existem exceções haja vista que há permissão de sentença liquida em situações em que não seja possível a determinação do “montante devido ou a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa”.
1.4.6. Princípio da congruência
1.4.6.1. Conceito
Como enuncia Daniel Amorim (2018, p. 843), o juiz não pode conceder diferente ou a mais do que for pedido pelo autor. Trata-se do princípio da congruência, também conhecido como princípio da correlação ou da adstrição.
Os limites da sentença devem respeitar além do pedido também a causa de pedir e os sujeitos, decorre do princípio dispositivo que se fundamenta em dois outros princípios: inércia da jurisdição (dependência de provocação do interessado para movimentação do judiciário) e contraditório (impossibilidade do réu se defender de pedido que não foi elaborado).
1.4.6.2. Exceções ao princípio da congruência
Daniel Amorim (2018, p. 845) afirma que existem três exceções ao princípio da congruência quais sejam os pedidos implícitos, a fungibilidade e demandas que tenham como objeto uma obrigação de fazer e/ou não fazer, nesse último caso será possível a tutela diversa desde que o resultado prático seja equivalente.
1.4.7. Sentença extra petita
1.4.7.1. Conceito
Daniel Amorim (2018, p. 846) compreende que a sentença extra petita é entendida como a sentença que concede algo diferente do que foi pedido pelo autor. O NCPC preceitua que o autor formule pedido certo, logo a sentença que não respeita a certeza do pedido é nula.
1.4.7.2. Recorribilidade da sentença extra petita
De acordo com Daniel Amorim (2018, p. 847) “proferida sentença extra petita, o recurso cabível é a apelação" devendo haver pedido de anulação da sentença com fundamento no errar in procedendo intrínseco. Não deve haver descarte dos embargos de declaração, reservando-se para hipóteses excepcionais nas quais se admita que esse recurso tenha efeitos infringentes. Após o transito em julgado poderá ser admitida ação rescisória.
1.4.8. Sentença ultra petita
1.4.8.1. Conceito
Daniel Amorim (2018, p. 848) discorre que uma vez que houve indicação da quantidade de bem da vida que se pretende obter no caso concreto, o juiz estará adstrito a quantificação, não podendo conceder ao autor mais do que foi pedido. Nessa modalidade de sentença o juiz concede ao autor a tutela mas ultrapassa a quantidade indicada pelo autor.
1.4.8.2. Recorribilidade da sentença ultra petita
Daniel Amorim (2018, p. 848) indica como recurso cabível contra sentença ultra petita é a apelação, também não devem ser descartados os embargos de declaração. Não há justificativa para a anulação integral da sentença apenas a parte excedente da decisão deverá ser anulada.
1.4.9. Sentença citra petita (infra petita)
1.4.9.1. Conceito
Daniel Amorim (2018, p. 849) ensina que a sentença é citra petita ou infra petita, quando fica aquém do pedido do autor não enfrenta e decide causa de pedir ou alegação de defesa apresentada pelo réu. Subjetivamente não resolve a demanda para todos os sujeitos processuais.
Não há obrigação para o juiz conceder todos os pedidos formulados pelo autor, mas em regra deverá analisar e decidir todos eles, ainda que seja para negar a procedência. Se houver mais de uma causa de pedir acolhendo uma delas o juiz não precisa decidir as demais.
1.4.9.2. Recorribilidade da sentença citra petita
Entende Daniel Amorim (2018, p. 849) que a sentença citra petita demonstra falha na prestação jurisdicional uma vez que há vício de omissão, que é impugnável via embargos de declaração, que, entretanto, como não possui efeito preclusivo, há possibilidade de se alegar a omissão na sentença com apelação. De acordo com o Enunciado 07 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC): "O pedido, quando omitido em decisão judicial transitada em julgado, pode ser objeto de ação autônoma".
1.4.10. Situação fática no momento da prolação da sentença
Informa Daniel Amorim (2018, p. 853) que é responsabilidade do juiz ao decidir considerar fatos constitutivos, modificativos, ou extintivos do direito que ocorreram depois de proposta a ação, admite-se que o juiz possa conheça esses fatos de ofício, afastando o juiz de decisão com fundamento em circunstância fática ultrapassada, que não reflete a atual situação dos fatos.
1.4.11. Modificação da sentença pelo juízo sentenciante
Discorre Daniel Amorim (2018, p. 854) que conforme o NCPC são três as situações em que se pode alterar a sentença quais sejam a correção de inexatidões materiais, retificação de erros de cálculo e ao julgar embargos de declaração. Nas duas primeiras hipóteses é possível a atuação atuar de ofício ou por provocação das partes, a terceira somente se procede com provocação e observando o prazo preclusivo de cinco dias.
1.4.12. Ações que tenham como objeto obrigação de fazer e não fazer
Daniel Amorim (2018, p. 854) informa que há previsão no NCPC para que o juiz conceda a tutela específica da obrigação ou em caso de procedência do pedido serão determinadas providências para assegurar o resultado prático ou o adimplemento.
1.4.13. Capítulos de sentença
Daniel Amorim (2018, p. 855) diz que os capítulos de sentença se conceituam como as partes são decompostas a decisão judicial, em caso de cumulação de pedidos para cada um deles haverá um capítulo na decisão.
1.5 Sobre a ótica de Fredie Didier Jr
O CPC nos artigos 485 a 495 discorrem sobre sentença. A sentença é uma decisão judicial, sendo ela uma decisão definitiva ou terminativa do processo. Fredie Didier em seu livro diz:
“O art. 203 do CPC faz uma sistematização dos atos do juízo singular. Diz que os pronunciamentos com conteúdo decisório podem ser de duas espécies: (i) sentenças e (ii) decisões interlocutórias. Além desses, há os despachos - que, como visto, embora sejam pronunciamentos judiciais, não têm conteúdo decisório.”
Na decisão definitiva, a chamada lato senso, são as sentenças que definem ou resolvem o conflito, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução. É realizado depois do procedimento de instrução e julgamento, onde o julgador irá decidir pela procedência ou improcedência dos pedidos.
A decisão terminativa é aquela que põe fim ao processo sem resolução do mérito, pode ser julgada para finalizar o procedimento sem o julgamento da questão, pondo fim por motivo de inépcia, falta de pressupostos, litispendência, coisa julgada, perempção, entre outros.
As decisões interlocutórias e despachos são as decisões que não extinguem o processo, ou seja, não põe fim à fase do procedimento em primeira instância, mas resolvem questões incidentes, dão seguimento para outra fase do processual etc.
Fredie Didier diz:
“Não é apenas a sentença que pode fundar-se em uma das hipóteses desses dispositivos. Acórdãos e decisões proferidas por relator também podem fundar-se nas mesmas hipóteses; o mesmo se pode dizer das decisões interlocutórias. Isso demonstra que, paraque seja sentença, é indiferente saber qual o conteúdo do pronunciamento - se ele resolve, ou não, o mérito, por exemplo. Importa saber qual o seu efeito em relação ao procedimento em primeira instância: se põe fim a uma das suas fases, é sentença.”
São três elementos que compõe a sentença, sendo eles: o relatório, os fundamentos ou motivação e o dispositivo ou conclusão.
No relatório o órgão julgador precisa relatar tudo o que foi suscitado pelas partes, descrevendo os pontos mais relevantes. Como Fredie Didier expressa “A intenção do legislador é exigir uma demonstração de que o órgão julgador efetivamente conhece a história do processe em cujo bojo está proferindo a decisão”.
É fundamental, portanto, que o julgador indique os nomes das partes, a suma do pedido, da causa de pedir e da resposta apresentada pela parte demandada (art. 489, I, CPC).
Importante ainda que aponte os principais fatos ocorridos no processo, como a apresentação de réplica, a intervenção de terceiro, a apresentação de parecer pelo Ministério Público, as ocorrências havidas nas audiências, os fatos fixados como controvertidos, as provas requeridas, admitidas e produzidas pelas partes e tudo o mais que houver e for relevante.”
Na fundamentação é necessário o juiz demonstrar o que o motivou para dar aquela decisão, e explicar a motivação da sua convicção da decisão.
“Primeiramente, fala-se numa função endoprocessual, segundo a qual a fundamentação permite que as partes, conhecendo as razões que formaram o convencimento do magistrado, possam saber se foi feita uma análise apurada da causa, a fim de controlar a decisão por meio dos recursos cabíveis, bem como para que os juízes de hierarquia superior tenham subsídios para reformar ou manter essa decisão”.
É necessário a racionalidade e a controlabilidade.
“A motivação racional é, nesses termos, uma forma de controle do poder que é dado ao juiz de avaliar a prova, os fatos e os argumentos, forçando-o a explicar suas próprias escolhas. O seu principal objetivo é permitir o controle (também racional) dessa justificativa'6, evitando que se produza um discurso superficial (retórico) e vazio ao qual se adere por emoção, gerando um consenso irracional.”
Integridade e coerência
“O art. 926 do CPC impõe aos tribunais o dever de manter íntegra e coerente a sua jurisprudência. Há aí dois deveres: o de integridade e o de coerência. A condição mínima para que se possa dizer que a jurisprudência é consistente - isto é: íntegra e coerente - é estar ela lastreada em precedentes bem fundamentados (art. 489, §1°; art. 927, §1°). A integridade e a coerência revelam-se, também, no enfrentamento dos argumentos suscitados para a formação da tese jurídica do precedente. Quanto mais argumentos suportem a tese jurídica firmada, mais consistente (íntegra e coerente) ela é.”
Na fundamentação é necessário que se analise o fundamento de mérito, questões de fato e de direito. E a fundamentação de admissibilidade. Deve o magistrado apreciar as questões processuais suscitadas pelas partes ou cognoscíveis de ofício.
“Analisar questão de fato é, sobretudo, analisar as provas aportadas ao process034. É aqui, por exemplo, que o julgador deve analisar se há comprovação de tramitação simultânea de demandas idênticas (questão de fato relativa à admissibilidade) e se estão presentes os elementos que dão ensejo à responsabilidade civil subjetiva extracontratual (conduta, culpa, nexo e dano), numa ação indenizatória, bem como a relação de parentesco e a questão relativa à necessidade/possibilidade, na demanda por alimentos (questões de fato relativas ao mérito). (...) Analisadas as questões de fato e estabelecidas as premissas acerca do que ficou, ou não, demonstrado, cumpre ao magistrado apontar (a) qual a norma jurídica geral aplicável àquela situação fática, (b) quais os efeitos que dessa incidência podem ser extraídos. É também aqui que deve o juiz (c) analisar e resolver, eventualmente, a questão da compatibilidade constitucional da norma jurídica e ainda (d) analisar e resolver eventual conflito normativo verificado.”
E o último elemento que compõe a sentença é o dispositivo ou conclusão. Onde o julgador ao final dirá se será procedente ou não o pedido feito pela parte autora. Para Fredie Didier é mais amplo esse conceito:
“Definir o dispositivo como a resposta que se dá ao pedido formulado pelo autor, seja para acolhê-lo ou para rejeitá-lo, é apresentar um conceito parcial, aplicável apenas às decisões que analisam o mérito da demanda- e, ainda assim, apenas a uma parte das decisões de mérito, já que o mérito da demanda (o objeto litigioso do procedimento) também é composto por eventual pedido do réu (reconvenção, pedido contraposto ou pedido para efetivaÇão de contradireito) e do interveniente (litisdenunciado, assistente etc.). (...) É nesse sentido que preferimos dizer que dispositivo é a parte da decisão em que o órgão jurisdicional estabelece um preceito normativo, concluindo a análise acerca de um (ou mais de um) pedido que lhe fora dirigido" Constitui, como se viu no tópico anterior, um dos elementos nucleares que compõem o suporte fático do ato "decisão judicial". Sem esse comando, a decisão é inexistente".
2. COISA JULGADA
2.1 Sobre a ótica Antônio Sanches
Conforme dispõe o autor, a coisa julgada sempre foi vista como uma espécie de dogma incontestável. Uma vez esgotadas as possibilidades de impugnação da sentença, seu conteúdo se tornaria imutável e indiscutível, não como razão de justiça, mas como um imperativo político, destinado a estabilizar as relações jurídicas, conferindo-lhes segurança. 
Deste modo, ainda que o resultado do processo não correspondesse ao que seria correto conforme o direito, ou seja, ainda que fosse errada e injusta a sentença, seu conteúdo se tornaria imutável e indiscutível, impondo-se o resultado do processo coercitivamente, e se tornando impossível qualquer nova discussão a respeito do que já fora definitivamente julgado. 
A coisa julgada pode ser material ou formal. Denomina-se coisa julgada material, conforme dispõe o art. 467 do CPC, a eficácia que torna imutável e indiscutível a “sentença” não mais sujeita recurso. Respeitada a classificação dos atos decisórios do juiz, portanto, nem todo provimento se revela idôneo a revestir-se dessa singular eficácia, mas tão-só a “sentença”, provimento judicial que, conforme o art. 162, § 1°, do CPC, na redação da Lei 11.242/ 05, julga o mérito. 
A coisa julgada material é aquela que advém de uma sentença de mérito, como nas hipóteses estabelecidas pelo diploma processual civil nos casos em que juiz decide com resolução do mérito, quando acolhe ou rejeita o pedido do autor, o réu reconhece a procedência do pedido; quando as partes transigirem, quando o juiz pronuncia a prescrição e decadência , e quando o autor renuncia ao direito sobre que se funda a ação.
A coisa julgada formal é a impossibilidade de modificação da sentença no mesmo processo, como consequência da preclusão dos recursos. Advém de uma sentença terminativa, como nas hipóteses em que o processo será extinto pelo juiz, quando indeferir a petição inicial, quando o processo ficar parado por negligência das partes, quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa, quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo, quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada, quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual, pela convenção de arbitragem, quando o autor desistir da ação, quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal, quando ocorrer confusão entre autor e réu. 
Todas as sentenças fazem coisa julgada formal, mesmo que não tenham decidido à disputa existente entre as partes.
O principal efeito de uma decisão de mérito é a “impossibilidade” da reforma do provimento judicial, seja nomesmo processo ou em outro. Depois de formada a coisa julgada, o juiz não pode mais modificar sua decisão, ainda que se convença de posição contrária a que tinha anteriormente adotado.
2.2 Sobre a ótica Humberto Theodoro Jr
Houve um tempo em que se tinha a coisa julgada como um dos efeitos da sentença. Posteriormente, além de ser vista como um efeito, a coisa julgada foi considerada como superposta aos demais efeitos no seu efeito declarativo. Desse modo, a indiscutibilidade e imutabilidade, próprias da coisa julgada, atingiriam a sentença apenas em seu conteúdo declaratório. Os efeitos condenatório e constitutivo estariam fora de seu alcance (THEODORO JR. 2016, p. 1080).
Assim, “a coisa julgada acarreta é uma transformação qualitativa nos efeitos da sentença, efeitos esses que já poderiam estar sendo produzidos antes ou independentemente do trânsito em julgado” (THEODORO JR. 2016, p. 1080).
Se a coisa julgada não é um efeito da sentença, também não se pode afirmar que seja uma qualidade de aplicação limitada ao seu efeito declarativo. Quando uma sentença transita em julgado, a autoridade da res iudicata manifesta-se sobre todos os efeitos concretos da sentença, sejam eles declaratórios, condenatórios ou constitutivos. A situação emergente da definição e comando da sentença, toda ela adquire a força de lei entre as partes e o juiz, de modo a impedir que novas discussões e novos julgamentos a seu respeito venham a acontecer (CPC, arts. 502, 503 e 505). Não é, portanto, só a declaração que se reveste da autoridade de coisa julgada, mas também o pronunciamento constitutivo e o condenatório (THEODORO JR. 2016, p. 1080).
Para se compreender a coisa julgada parcial e total faz-se necessário compreender primeiro a teoria dos capítulos da sentença. A esse respeito leciona Theodoro Jr.:
É apenas na parte dispositiva que se devem identificar os capítulos da sentença, porque é ali que se dá solução às diversas questões que revelam as pretensões solucionadas judicialmente. A motivação da sentença, mesmo quando vários argumentos de fato e de direito são trabalhados pelo juiz, não chega a formar capítulos, porque não correspondem a soluções das questões propostas.
[...]O capítulo da sentença, na lição de Dinamarco, afinada com a de Liebman, corresponde a “uma unidade elementar autônoma” dentro das questões enfrentadas pelo julgado. 
Esse panorama da sentença dividida em capítulos oferecerá reflexos também no plano da rescisória, que, como dispõe o art. 966,290 se presta a desconstituir a decisão de mérito transitada em julgado, e não apenas a sentença transitada em julgado. Logo, se é possível no mesmo processo formar-se, por capítulos, a coisa julgada em momentos diferentes, claro é que se poderá também cogitar de rescisão desses capítulos em ações rescisórias aforadas separadamente e em tempo diverso. Isto, porém, pressupõe a autonomia e independência entre os capítulos, pois só assim se haverá de pensar na possibilidade de sucessivas coisas julgadas em diferentes momentos (THEODORO JR. 2016, p. 1086).
A diferença entre a coisa julgada material e a formal é apenas de grau de um mesmo fenômeno. Ambas são decorrentes da impossibilidade de interposição de recurso contra a sentença. A coisa julgada formal se origina da imutabilidade da sentença dentro do processo em que foi proferida pela impossibilidade de interposição de recursos, seja porque a lei não mais os admite, quer porque se esgotou o prazo estipulado pela lei sem interposição pelo vencido, seja porque o recorrente tenha desistido do recurso interposto ou ainda tenha renunciado à sua interposição (THEODORO JR. 2016, p. 1087). 
A partir do trânsito em julgado material “a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida” (art. 503).
A coisa julgada formal atua dentro do processo em que a sentença foi proferida, sem impedir, contudo, que o objeto do julgamento volte a ser discutido em outro processo. Por outro lado, produz seus efeitos no mesmo processo ou em qualquer outro, vedando o reexame da res in iudicium deducta, por já definitivamente apreciada e julgada (THEODORO JR. 2016, p. 1087).
A coisa julgada formal pode existir sozinha em determinado caso, como ocorre nas sentenças meramente terminativas, que apenas extinguem o processo sem julgar a lide. Entretanto, a coisa julgada material só pode ocorrer de par com a coisa julgada formal, isto é, toda sentença para transitar materialmente em julgado deve, também, passar em julgado formalmente. (THEODORO JR. 2016, p. 1088).
Não transitam em julgado, materialmente, as sentenças que anulam o processo e as que decretam sua extinção, sem cogitar da procedência ou improcedência do pedido. Tais decisórios geram apenas coisa julgada formal. Seu efeito se faz sentir apenas nos limites do processo. Não solucionam o conflito de interesses estabelecidos entre as partes, e, por isso, não impedem que a lide volte a ser posta em juízo em nova relação processual (THEODORO JR. 2016, p. 1089).
A coisa julgada é fenômeno oriundo do processo de conhecimento, cuja sentença tende a fazer extinguir a incerteza provocada pela lide instalada entre as partes. Mas fazer cessar a incerteza jurídica não significa apenas fazer conhecer a solução cabível, mas impô-la, tornando-a obrigatória para todos os sujeitos do processo, inclusive o próprio juiz (THEODORO JR. 2016, p.1091).
Uma vez finalizado o acertamento da controvérsia, seja por sentença de imposição de sanção, seja por sentença puramente declaratória, a coisa julgada se estabelece com a mesma função, ou seja, a certeza jurídica em torno da relação controvertida se implanta com plenitude, vinculando as partes e o juiz. (THEODORO JR. 2016, p.1091).
Essa situação jurídica estratifica pela coisa julgada caracteriza-se por dois aspectos fundamentais: de um lado, vincula definitivamente as partes; de outro, impede, partes e juiz, de restabelecer a mesma controvérsia não só no processo encerrado, como em qualquer outro (THEODORO JR. 2016, p.1090).
Admite-se, assim, uma função negativa e uma função positiva para a coisa julgada. A função negativa exaure a ação exercida, excluindo a possibilidade de sua reproposição. Pela função positiva, impõe às partes obediência ao julgado como norma indiscutível de disciplina das relações extrajudiciais entre elas e obriga a autoridade judiciária a ajustar-se a ela, nos pronunciamentos que a pressuponham e que a ela se devem coordenar (THEODORO JR. 2016, p.1091).
A coisa julgada, devido a sua força vinculativa e impeditiva
não permite que partes e juiz escapem da definitiva sujeição aos efeitos do acertamento consumado no processo de conhecimento. O resultado prático é caber a qualquer dos litigantes “a exceptio rei iudicatae, para excluir novo debate sobre a relação jurídica decidida”; e ao juiz o poder de, até mesmo de ofício, extinguir o processo sem julgamento do mérito, sempre que encontrar configurada a ofensa à coisa julgada (art. 485, V e § 3º). Portanto, quando o art. 502 fala em indiscutibilidade e imutabilidade da sentença transitada em julgado refere-se a duas coisas distintas: (i) pela imutabilidade, as partes estão proibidas de propor ação idêntica àquela em que se estabeleceu a coisa julgada; (ii) pela indiscutibilidade, o juiz é que em novo processo, no qual se tenha de tomar a situação jurídica definida anteriormente pela coisa julgada como razão de decidir, não poderá reexaminá-la ou rejulgá-la; terá de tomá-la simplesmente como premissa indiscutível. No primeiro caso atua a força proibitiva (ou negativa) da coisa julgada, e, no segundo, sua força normativa (ou positiva) (THEODORO JR. 2016, p. 1093).
2.3 Sobre a ótica de Cassio Scarpinella Bueno
A coisa julgada é expressamente garantida como direito fundamental no inciso XXXVI do art. 5º da CF. Trata-se, nesta ampla perspectiva do instituto, mais ainda quando o referido dispositivo refere-se concomitantemente ao “direito adquirido” e ao “ato jurídico perfeito”, de técnicaadotada para garantir a estabilidade de determinadas manifestações do Estado-juiz, pondo-as a salvo inclusive dos efeitos de novas leis que queiram eliminar aquelas decisões ou, quando menos, seus efeitos. Neste sentido, a coisa julgada é uma, dentre tantas, forma de garantir maior segurança jurídica aos jurisdicionados. 
Esta percepção, contudo, é insuficiente. A análise do direito infraconstitucional, da forma como o CPC de 2015 disciplina a coisa julgada em seus arts. 502 a 508, é indispensável, até para colocar em evidência as novidades que, naquele plano, o infraconstitucional, foram trazidas (e em harmonia com o “modelo constitucional”) ao tema. 
A coisa julgada recai sobre determinadas decisões jurisdicionais. Nem sobre seus efeitos e nem sobre seu comando, mas, mais amplamente, sobre aquilo que foi decidido pelo magistrado. É pautada pela indiscutibilidade, a qual relaciona-se com a impossibilidade de questionar o que já foi decidido e transitou materialmente em julgado. É o que a doutrina em geral chama de “função ou efeito negativo” da coisa julgada e que permite ao réu invocar a coisa julgada anterior em sua contestação (art. 337, VII).
A indiscutibilidade também significa a necessária observância do que já foi decidido por quem é alcançado pela coisa julgada (limites subjetivos) e pelo próprio Estado-juiz. Não há mal nenhum em querer nominar esta faceta do fenômeno como “função ou efeito positivo” da coisa julgada, iniciativa em geral feita pela doutrina. Há outra pertinente questão a ser enfrentada: quais decisões ficam sujeitas à coisa julgada? Parte da resposta está no próprio art. 502: as decisões de mérito, cujo referencial é, também para cá, o rol do art. 487. 
A coisa julgada formal tende a ser entendida como a ocorrência da imutabilidade da sentença “dentro” do processo em que proferida. Neste sentido, não há como recusar se tratar de instituto que se aproxima bastante da preclusão, residindo a distinção entre ambos em aspecto exterior a eles, já que a coisa julgada formal tende a ser identificada com o encerramento da “etapa cognitiva” do processo. A chamada “coisa julgada material”, por sua vez, representa a característica de indiscutibilidade e imutabilidade do quanto decidido para “fora” do processo, com vistas a estabilizar as relações de direito material tais quais resolvidas perante o mesmo juízo ou qualquer outro. 
Por “limites objetivos da coisa julgada” deve ser entendido o que fica imunizado de ulteriores discussões, tornando-se imutável. Ou de forma bem direta, mas não menos precisa: o que, da decisão de mérito e com cognição exauriente, transita materialmente em julgado. Não só o objeto da decisão interessa ao estudo da coisa julgada, isto é, o exame “do que” torna-se indiscutível e imutável, mas também a análise “de quem” fica vinculado ao que foi decidido. É o que a doutrina usualmente identifica como limites subjetivos da coisa julgada. Limites subjetivos porque relacionados com os sujeitos que não podem pretender tomar a iniciativa de rediscutir o que já foi soberanamente decidido pelo Estado-juiz porque a ele vinculados.
2.4 Coisa Julgada sobre a ótica Daniel Assumpção
2.4.1. Coisa Julgada Material e Formal
Para Daniel Amorim, todo processo, independentemente de sua natureza, haverá a prolação de uma sentença (ou acórdão nas ações de competência originária dos tribunais), que em determinado momento torna-se imutável e indiscutível dentro do processo em que foi proferida. Basta que não seja interposto o recurso cabível ou ainda que todos os recursos cabíveis já tenham sido interpostos e decididos, ainda que não seja interposta apelação contra a sentença, haverá a remessa necessária, de forma que o processo só chegará ao seu final após essa análise obrigatória da decisão pelo tribunal de segundo grau.
Quando não for mais cabível qualquer recurso ou tendo ocorrido o exaurimento das vias recursais, a sentença transita em julgado. Esse impedimento de modificação da decisão por qualquer meio processual dentro do processo em que foi proferida é chamado tradicionalmente de coisa julgada formal, ou ainda de preclusão máxima.
2.4.2. Coisa Julgada Total e Parcial
De acordo com Daniel Amorim, a parte sucumbente poderá em seu recurso optar por impugnar todos eles (recurso total) ou somente alguns (recurso parcial), poderão ser autônomos e independentes ou apenas autônomos, sendo tal distinção de suma importância para inúmeras consequências processuais, interessando nesse momento a formação da coisa julgada. Somente autônomos, ainda que a parte impugne somente parcela deles, não há que falar em coisa julgada do não impugnado, porque em razão do efeito expansivo objetivo externo do recurso, dependendo do resultado de seu julgamento se não for impugnado poderá ser reformado.
2.4.3. Função Negativa da Coisa Julgada 
O entendimento de Daniel Amorim, é que a imutabilidade gerada pela coisa julgada material impede que a mesma causa seja novamente enfrentada judicialmente em novo processo. Por mesma causa entende-se a repetição da mesma demanda, ou seja, um novo processo com as mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido de um processo anterior já decidido por sentença de mérito transitada em julgado, tendo sido gerada coisa julgada material. 
O julgamento no mérito desse segundo processo seria um atentado à economia processual, bem como fonte de perigo à harmonização dos julgados. Na realidade, mesmo que a segunda decisão seja no mesmo sentido da primeira, nada justifica que a demanda prossiga, sendo o efeito negativo da coisa julgada o impedimento de novo julgamento de mérito, independentemente do seu teor.
Havendo a modificação de qualquer um desses elementos da demanda, ainda que parcialmente (novos fatos jurídicos com a manutenção da mesma fundamentação jurídica), afasta-se qualquer impedimento ao novo julgamento, considerando-se tratar de nova demanda, ainda que consideravelmente parecida com aquela que já foi julgada e cuja decisão está protegida pela coisa julgada material. 
Esse impedimento de novo julgamento exige que a causa seja exatamente a mesma, sendo entendimento pacífico na doutrina e jurisprudência que a função negativa só é gerada quando aplicável ao caso concreto a teoria da tríplice identidade, tratando-se de matéria de ordem pública, o juiz deve de ofício extinguir o processo posterior sem a resolução do mérito, em respeito à coisa julgada já formada, nos termos do art. 485, V, do CPC.
2.4.5. Função Positiva da Coisa Julgada
De acordo com Daniel Amorim, somente a má-fé ou ignorância leva a parte a ingressar com processo repetindo ação já protegida pela coisa julgada material, sendo rara essa ocorrência na praxe forense. Mas a imutabilidade da coisa julgada não se exaure em sua função negativa, compreendendo também uma função positiva, que diferentemente da primeira não impede o juiz de julgar o mérito da segunda demanda, apenas o vincula ao que já foi decidido em demanda anterior com decisão protegida pela coisa julgada material". 
A geração da função positiva da coisa julgada não ocorre na repetição de demandas em diferentes processos - campo para a aplicação da função negativa da coisa julgada, mas em demandas diferentes, nas quais, entretanto, existe uma mesma relação jurídica que já foi decidida no primeiro processo e em razão disso está protegida pela coisa julgada. Em vez da teoria da tríplice identidade, aplica-se a teoria da identidade da relação jurídica.
Na função positiva da coisa julgada, portanto, inexiste obstáculo ao julgamento de mérito do segundo processo, mas nesse julgamento o juiz estará vinculado obrigatoriamente em sua fundamentação ao já resolvido em processo anterior e protegido pela coisa julgada material. Reconhecida como existente uma relação jurídica (por exemplo, paternidade) e sendo tal reconhecimento imutável em razão da coisa julgada, surgindo discussão incidental a respeito dessa relação jurídica em outra demanda (por exemplo, pedido de alimentos), o juiz estará obrigado a também reconhecê-lacomo existente, em respeito à coisa julgada.
2.4.6. Limites Subjetivos da Coisa Julgadas
De acordo com Daniel Amorim, todos os sujeitos - partes, terceiros interessados e terceiros desinteressados - suportam naturalmente os efeitos da decisão, mas a coisa julgada os atinge de forma diferente. As partes, inclusive o Ministério Público quando participa do processo como fiscal da ordem jurídica, estão vinculadas à coisa julgada, os terceiros interessados sofrem os efeitos jurídicos da decisão, enquanto os terceiros desinteressados sofrem os efeitos naturais da sentença, sendo que em regra nenhuma espécie de terceiro suporta a coisa julgada material.
2.5.7. Coisa Julgada Insconstitucional
O entendimento de Daniel Amorim, os art. 525, § 12, e o art. 535, § 5°, ambos do CPC, trazem previsão de matérias que podem ser alegadas em sede de defesa típica do executado no cumprimento de sentença (impugnação) e que afastam a imutabilidade da coisa julgada material. Na qual os dispositivos legais permitem ao executado a alegação de inexigibilidade do título com o fundamento de que a sentença que se executa (título executivo judicial). A declaração de inconstitucionalidade realizada pelo Supremo Tribunal Federal pode ocorrer, segundo os dispositivos legais ora apresentados, por três diferentes maneiras:
1- Redução de texto, quando a lei é declarada inconstitucional para todos os fins e desaparece do ordenamento jurídico;
2- Aplicação da norma à situação considerada inconstitucional, quando ela será válida para certas situações e inválida para outras;
3- Interpretação conforme a Constituição, quando, havendo mais de uma interpretação possível, somente uma delas for considerada constitucional.
Há decisão do Superior Tribunal de Justiça que adota esse entendimento ao afirmar que, diante de uma nulidade absoluta insanável, causadora de prejuízos ao patrimônio público, há apenas uma aparência de coisa julgada. A demanda tratava de desapropriação e, para demonstrar a absoluta incerteza quanto ao meio de se relativizar a coisa julgada, o Superior Tribunal de Justiça aceitou uma ação civil pública com tal desiderato.
A ausência de condição da ação faz com que o autor não tenha exercido o direito de ação, e sim mero direito de petição, e não existindo direito de ação no caso concreto, não houve efetivamente processo, devendo a sentença ser considerada juridicamente inexistente. Entre as críticas encontradas na doutrina a respeito da tese da relativização da coisa julgada em razão da coisa julgada injusta inconstitucional, coloca-se em primeiro plano a função primordial para o Estado de Direito da coisa julgada.
2.5.8. Coisa Julgada Secundum Eventum Probation
De acordo com Daniel Amorim, aos direitos coletivos e difusos, a coisa julgada, na hipótese de julgamento de improcedência do pedido, tem uma especialidade que a diferenciada coisa julgada tradicional, prevista pelo CPC. Enquanto, no instituto tradicional, a imutabilidade e a indiscutibilidade geradas pela coisa julgada não depende do fundamento da decisão, nos direitos difusos e coletivos, caso tenha a sentença como fundamento a ausência ou a insuficiência de provas, não se impedirá a propositura de novo processo com os mesmos elementos da ação (partes, causa de pedir e pedido), de modo a possibilitar uma nova decisão, o que, naturalmente, afastará, ainda que de forma condicional, os efeitos de imutabilidade e indiscutibilidade da primeira decisão transitada em julgado.
A doutrina majoritária entende a constitucionalidade da coisa julgada secundum eventum probationis, como também da coisa julgada secundum eventum litis, afirmando que os sujeitos titulares do direito, ao não participarem efetivamente do processo, não poderão ser prejudicados por uma má condução procedimental do autor da demanda. Não seria justo ou legítimo impingir a toda uma coletividade, em decorrência de uma falha na condução do processo, a perda definitiva de seu direito material. A ausência da efetiva participação dos titulares do direito em um processo em contraditório é fundamento suficiente para defender essa espécie de coisa julgada material.
2.5.9. Coisa Julgada Secundum Eventum Litis
Consoante o entendimento de Daniel Amorim, a coisa julgada secundum eventum litis deixa de ser característica quase exclusiva, da tutela coletiva, passando também a ser uma realidade no processo individual.
Por meio da coisa julgada secundum eventum litis nem toda sentença de mérito faz coisa julgada material, tudo dependendo do resultado concreto da sentença definitiva transitada em julgado. Por vontade do legislador é possível que o sistema crie exceções pontuais à relação sentença de mérito com cognição exauriente e a coisa julgada material.
Na tutela individual a técnica da coisa julgada secundum eventum litis já foi devidamente analisada, cabendo agora sua análise no âmbito do processo coletivo.
A única sentença que os vincula é a de procedência, porque essa naturalmente os beneficia, permitindo-se que o indivíduo se valha dessa sentença coletiva, liquidando-a no foro de seu domicílio e posteriormente executando-a, o que o dispensará do processo de conhecimento. A doutrina fala em coisa julgada secundum eventum litis in utilibus, porque somente a decisão que seja útil ao indivíduo será capaz de vinculá-lo a sua coisa julgada material (Ex: Uma empresa petrolífera causa um grande vazamento de óleo numa determinada baía, o que naturalmente agride o meio ambiente saudável, mas também prejudica os pescadores do local, que têm danos individuais por não mais poderem exercer seu ofício. Havendo uma ação coletiva fundada no direito difuso a um meio ambiente equilibrado e sendo essa ação julgada improcedente, os pescadores poderão ingressar e vencer ações individuais de indenização contra a empresa petrolífera. Por outro lado, com a sentença de procedência, os pescadores poderão se valer desse título executivo judicial, liquidando seus danos individuais e executando o valor do prejuízo).
O benefício da coisa julgada material da ação coletiva pode ser excepcionado em duas circunstâncias:
1- Na hipótese do indivíduo ser informado na ação individual da existência da ação coletiva (fair notice), e num prazo de 30 dias preferir continuar com a ação individual (right to opt out), não será beneficiado pela sentença coletiva de procedência (art. 104 do CDC);
2- Nas ações coletivas de direito individual homogêneo o art. 94 do CDC admite a intervenção dos indivíduos como litisconsortes do autor, sendo que nesse caso os indivíduos se vinculam a qualquer resultado do processo coletivo, mesmo no caso de sentença de improcedência.
1.5 Sobre a ótica de Fredie Didier Jr 
Tendo a sua nomenclatura como coisa julgada comum, ela pode incidir sobre a solução dada em uma fundamentação processual. Com isso, ela irá se tornar indiscutível e imutável, sendo prejudicialmente incidental, apenas ao limite do conteúdo da norma jurídica que esteja no dispositivo da decisão judicial.
A coisa julgada comum, se difere da coisa julgada material, pois se forem resolvidas na decisão judicial, as questões de tratam da fundamentação não vai recair a coisa julgada material, conforme artigo 504 do Código de processo Civil.
Art. 504. Não fazem coisa julgada:
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;
II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.
Tudo o que for solucionado na fundamentação pelo magistrado, poderá ser revisto em outro processo, que as partes sejam as mesmas, com exceção do artigo 503, §1º do Código de Processo Civil.
Logo, a coisa julgada especial, incorre sobre a resolução dada à questão prejudicial resolvida expressa e incidentalmente na fundamentação da decisão, que como regra será inter partes (entre as partes), sendo sujeita ao regime geral.
Por fim, a coisa julgada tem como principal objetivo, a cautela de um valor jurídico, de uma a segurança jurídica. Esse valor contrapõe-se a justiça da decisão. Buscando assim,o equilíbrio entre esses valores que norteiam a história do direito processual.

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