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Melanie Klein. Quando se fala em psicanálise, é natural pensar em Freud. Sendo assim, acredito que seja interessante falar um pouco de Melanie Klein, já que meu primeiro texto faz referência a sua teoria. Basicamente, Klein seguiu Freud. Acompanhou seus estudos, sua teoria. Freud considerava a análise algo para adultos. Já que nela entramos em contato com nossos conteúdos inconscientes e é necessário que se tenha uma estrutura psíquica formada para suportar estes conteúdos. A estrutura psíquica se forma na infância, principalmente na travessia das fases psicossexuais, e seus conflitos e características aparecem, com maior clareza, na vida adulta, quando a análise se faz necessária. Acontece que os conteúdos inconscientes aparecem na análise, são interpretados pelo analista e devolvidos ao analisando, mas cabe ao analista devolver a interpretação no momento oportuno, a fim de provocar uma reflexão ou caminhar para o objetivo da análise, qualquer que seja ele. O que tento dizer é que me parece não existir uma estrutura psíquica ideal, já que a interpretação dos conteúdos é feita [ou deve ser feita] com cuidado, gradativamente, respeitando os limites ainda existentes no analisando. Outro argumento contrário à análise infantil, citado por Freud, é que as crianças não são passíveis de análise, porque não possuem linguagem desenvolvida. Impossibitando a associação livre, que é o principal instrumento utilizado nela. Melanie Klein, ao meu ver, faz sua maior separação dele aí, neste momento. Quando diz que as crianças podem, sim, ser analisadas. Elas não possuem a linguagem verbal desenvolvida, mas são detentoras de um outra forma de expressão que diz tanto de sua vida psíquica quando a linguagem verbal: o brincar. Campo explorado posteriormente por Winnicott. Klein afirma que o brincar da criança nos dá acesso, da mesma forma que a fala, aos conteúdos internos infantis. Pela brincadeira, a criança pode expressar ódio, medo, agressividade e qualquer outro sentimento que ela possua. Através da brincadeira, ela nos mostra seu mundo, a forma como ela vê o mundo. Obviamente o analista não vai fazer as interpretações à criança, mas aos pais dela, ou a quem por ela for responsável. Klein afirma, ainda, que a análise feita na infância, pode prevenir determinadas patologias, já que a estrutura psíquica está em formação. É muito mais fácil lidar com os conteúdos em formação, do que na vida adulta, onde o sofrimento já pode ter sido intenso. Melanie Klein observa nas crianças a existência de ansiedades edípicas numa idade muito inferior à que Freud considerava. E é, basicamente, assim que Melanie Klein se "separa" de Freud. Quando isto ocorre, ela formula sua teoria, considerando a importância do primeiro ano de vida do bebê. Esmiuça o primeiro ano de vida da criança, traça conceitos como fantasia, inveja e outros bastante importantes, mas sua contribuição mais relevante, novamente ao meu ver, são suas teorias sobre posições. Posição esquizo-paranóide, e posição depressiva Melanie Klein Uma analista leiga educada na Alemanha, Melanie Klein (1882-1960) desenvolveu uma escola de psicanálise na Inglaterra. Ela foi uma teórica das relações de objeto, autora da teoria do "desenvolvimento psicossexual e piscopatologia" embasada em eventos intrapsíquicos e interpessoais que supostamente ocorrem durante o primeiro ano de vida. Sua teoria da psicopatologia, baseada na observação de brinquedo livre de crianças, diz que a agressão inata excessiva ou a reação psíquica à agressão era a causa de distúrbios emocionais severos como os transtornos psicóticos. Ela tentou lidar com as forças intrapsíquicas com a técnica analítica clássica e interpretação precoce de impulsos inconscientes. Assim como Anna Freud, ela foi uma pioneira em análise infantil, mas, ao contrário de Anna Freud, ela excluiu os pais do tratamento porque acreditava que o problema fundamental era intrapsíquico. As principais contribuições de Klein estão em sua ênfase sobre a importância das relações de objeto iniciais, a demonstração da função do superego cedo no desenvolvimento psíquico, sua descrição das defesas primitivas características do transtorno de personalidade limítrofe e psicose e seu uso do brinquedo das crianças com um meio para a interpretação. TEORIA DA PERSONALIDADE. Melanie Klein concordou com Sigmund Freud que a agressão e a libido são os dois instintos básicos. Ela também concordou com Freud que o instinto agressivo é uma extensão do instinto de morte e a libido uma extensão do instinto de vida. Klein divergiu de Freud na suposição de que o ego existe ao nascimento. Ela acreditava que o instinto de morte é traduzido após o nascimento em sadismo oral, o qual, projetado para fora, dá lugar às fantasias de um seio mau, destrutivo, devorador. Tanto agressão como libido são expressas desde o nascimento em diante por fantasias inconscientes. Klein diferenciou inveja, ganância e ciúme como manifestações do instinto agressivo. Inveja é o sentimento raivoso de que alguém mais tem e desfruta de algo desejável; a resposta invejosa é tomar isso ou estragá-lo. Inveja oral, por exemplo, resulta da fantasia de que o seio frustrante retém deliberadamente. Ela conduz a esforços de danificar o seio frustrante e torná-lo menos desejável. Esta inveja primária dá lugar a outras formas de inveja, incluindo a inveja do pênis. Em um nível mais maduro, a inveja é voltada em direção à criatividade dos outros e frustra o desenvolvimento da criatividade pessoal devido ao medo da inveja projetada sobre os outros. Ganância é a manifestação da insaciabilidade humana; sua meta é a absorção destrutiva do objeto desejado. Ciúme é o medo de perder o que se tem. Ela se desenvolve a partir de relacionamentos triangulares, como na situação edípica; a terceira pessoa é odiada porque esta pessoa recebe amor ou atenção e potencialmente diminui a disponibilidade das provisões libidinais. Embora o instinto de morte seja em grande parte projetado como medos paranóides, parte dele funde-se com a libido, dando lugar a tendências masoquistas. Desde o momento do nascimento, o ego tenta preservar uma visão de si mesmo como apenas uma fonte de prazer e sentimentos positivos; tensão e desprazer são projetados sobre objetos que são então vistos como persecutórios. O bebê fica grato quando é física ou emocionalmente saciado. Esta gratidão, a manifestação mais precoce do instinto de vida é a base do amor e da generosidade. Libido é investida em objetos como o seio. O seio gratificante é então introjetado como a base para um sentimento do self como bom. A projeção do objeto interno bom sobre objetos recém-experimentados é a base da confiança, o que torna a aprendizagem e o acúmulo de conhecimento possíveis. Teoria do ego. O ego tanto experimenta como se defende contra a ansiedade. Ele desenvolve e mantém relações de objeto e tem funções integrativas e sintéticas. A ansiedade é a resposta do ego ao instinto de morte. Ela é reforçada pela separação do nascimento e por necessidades corporais frustrantes como a fome. A princípio, o medo de objetos persecutórios, a ansiedade posteriormente torna-se o medo de objetos maus introjetados que são a origem da ansiedade de superego primitiva. Medos de ser devorado no estágio oral do desenvolvimento tornam-se medos do estágio anal de ser controlado e envenenado e os medos edípicos de castração. Os principais meios de crescimento do ego e defesa de ego são projeção e introjeção, os quais integram o ego e neutralizam o instinto de morte. Projeção de tensões internas e percepção de estímulos externos dolorosos resulta em medos paranóides. Sua projeção resulta em objetos persecutórios internalizados. A projeção de estados prazerosos dá lugar à confiança. A introjeção de experiências positivas torna possível desenvolver bons objetos internos que são a base para o crescimento do ego. Anteriormente objetos no ambiente, tais como a mãe, são reconhecidos como tal, determinados aspectos, comoo seio, são tratados como objetos. Assim, um estágio transicional nas relações de objeto é relações de objeto parciais. Experiências desagradáveis e emoções associadas a objetos externos e introjetados são dissociadas de experiências e emoções agradáveis através de um processo de cisão. À medida que a criança amadurece, a cisão diminui, a síntese de bons e maus aspectos de objetos ocorre e relacionamentos ambivalentes tomam-se possíveis. Relações de objeto parciais caracterizam o estágio mais inicial do desenvolvimento,a posição paranóide-esquizóide; as relações de objeto totais caracterizam a posição depressiva. A eventual síntese de bons e maus objetos parciais capacita o crescimento de ego e a integração da realidade. Se a agressão predomina sobre a libido, a idealização ocorre e a cisão é reforçada. O reforço de cisão pode interferir com a percepção acurada e pode resultar na eventual negação da realidade. Idealização é uma operação defensiva que preserva objetos internos e externos todos bons, deste modo satisfazendo fantasias de gratificação ilimitada, como um seio inexaurível para proteger contra frustração. Objetos externos idealizados também protegem contra objetos persecutórios. Fuga em direção a um objeto interno bom idealizado pode proteger a pessoa da realidade, mas pode fazer isso ao custo de testagem de realidade prejudicada e pode dar lugar a estados psicóticos exaltados ou messiânicos. Identificação projetiva, o protótipo de todos os mecanismos projetivos, a projeção de partes dissociadas de um objeto interno sobre uma outra pessoa é usada principalmente para expelir maus objetos internos e partes más do self. A pessoa sobre quem a projeção de impulsos sádicos é feita passa a ser vista como um perseguidor que deve ser controlado. Tentativas de controlar o perseguidor percebido então se tornam um veículo para a atuação de sadismo contra o perseguidor imaginado. Embora Klein concordasse que fatores ambientais podem desempenhar um papel em estimular a agressão excessiva, ela enfatizou como a causa de distúrbio emocional a força inata da agressão, aliada à formação de ansiedade excessiva do ego e baixa tolerância de ansiedade. Posições esquizo-paranóide e depressiva. O termo "posição foi preferido por Klein em relação a "estágio" porque ele enfatiza o efeito do ponto de vista da criança sobre suas relações de objeto. A posição paranóide-esquizóide e a posição depressiva ocorrem na primeira e segunda metade, respectivamente, do primeiro ano de vida. Elas também podem ocorrer em diversos momentos na vida como constelações defensivas e estão envolvidas em conflitos relacionados a todos os níveis psicossexuias. A posição paranóide-esquizóide é caracterizada por dissociação, idealização, negação, identificação projetiva, relações de objeto parciais e uma preocupação básica ou ansiedade persecutórias sobre a sobrevivência do self. Os medos persecutórios são impulsos oral-sádicos e anal-sádicos projetados. Se eles não são superintensos, a posição esquizo-paranóide dá lugar, nos segundos seis meses de vida, à posição depressiva. Se, no entanto, a agressão inata é abertamente forte e se maus introjetos predominam, a dissociação secundária dos maus introjetos pode levar a projeção sobre muitos objetos externos, resultando em muitos perseguidores externos. A dissociação pode persistir e fragmentar experiências afetivas, levando a despersonalização ou superficialidade afetiva. Ela pode também interferir na percepção acurada e conduzir a negação da realidade. Na posição depressiva, a libido predomina sobre a agressão, o bebê reconhece que sua mãe tanto gratifica como frustra e ele se torna ciente de sua própria agressão voltada em direção a ela. O reconhecimento da mãe como uma pessoa integral torna a criança vulnerável à perda, especialmente perda causada pela agressão da criança. O mecanismo da idealização evolui durante o período depressivo na idealização do objeto bom (mãe) como uma defesa contra a agressão da criança em direção a ela e sua culpa acompanhante. Este tipo de idealização conduz a uma superdependência sobre outros. Os maus aspectos de pessoas necessárias são negados, levando a um empobrecimento tanto da experiência de realidade como da testagem de realidade. A posição depressiva também mobiliza defesas maníacas, cuja principal característica é a negação de realidades psíquicas dolorosas. Sentimentos ambivalentes e dependência de outros são negados; objetos são onipotentemente controlados e tratados com desprezo, de modo que a sua perda não dá lugar a dor ou culpa. TEORIA DO SUPEREGO. O superego kleiniano funciona como o superego freudiano clássico. Ele coloca valor sobre o comportamento e ele pune ou proíbe o comportamento que ele considera ser errado ou mau. Klein sustentou que o desenvolvimento do superego começa durante a posição depressiva; a pressão de superego excessiva causa regressão para a posição esquizo-paranóide. O superego desenvolve-se de maus objetos projetados cindidos experimentados como persecutórios, que são posteriormente introjetados. Culpa é a reação aos impulsos sádicos atribuída a estes introjetos que se tornam parte do self. No período depressivo, os objetos são introjetados tanto no ego como no superego. O ego assimila os objetos com os quais ele pode identificar-se positivamente. O superego assimila os aspectos proibitivos exigentes destes objetos. O predomínio normal de amor sobre ódio na posição depressiva resulta na internalização de objetos principalmente bons no superego. Estes objetos bons neutralizam os objetos internos maus, mas mesmo sob circunstâncias ideais predominantemente bons objetos de superego são contaminados pelos objetos maus. O superego, portanto, tem qualidades persecutórias (derivadas de introjetos persecutórios) e exigentes (derivadas dos aspectos exigentes dos pais bons idealizados). Através da culpa ou preocupação em relação à perda de amor parental, o superego protege seus objetos bons introjetados. Quanto mais idealizados são os bons objetos contidos no superego, mais perfeccionistas são as exigências do superego. A idealização de objetos internos bons geralmente conduz a bom comportamento e a compensação pelo mau comportamento. ESTÁGIOS INICIAIS DO COMPLEXO DE ÉDIPO. Os estágios iniciais do complexo de Édipo começam durante a posição depressiva. Klein supôs um conhecimento inato dos genitais de ambos sexos, com fantasias orais e genitais influentes desde o nascimento em diante. O desejo por dependência oral da mãe é deslocado para o pai. Ansiar pelo seio bom torna-se um desejo pelo pênis do pai. O seio mau é também deslocado para o pênis mau. A predominância nos meninos de uma boa imagem do pênis do pai promove o desenvolvimento do complexo de Édipo positivo; confiar em um pai bom e dotar a mãe com um pênis bom inicia um complexo de Édipo positivo em meninas. Quando a agressão predomina, o menino edípico vê o pai como um perigoso castrador potencial. O medo de castração é, de fato, o medo do desejo oral-sádico projetado de destruir o pênis do pai. Este medo torna a identificação com o pai difícil e predispõe à inibição sexual e medo de mulheres. Culpa em relação à agressão em direção ao pai reforça a repressão do complexo de Édipo. Boas experiências orais em meninas resultam na expectativa de um pênis bom; esta expectativa baseia-se na experiência de um seio bom. Agressão excessiva em meninas pode dar lugar a fantasias inconscientes de roubar a mãe do amor, do pênis e dos bebês do pai e pode estimular medos de retaliação materna. Em meninas, os desejos orais e genitais pelo pênis do pai combinam com inveja do pênis desenvolvendo-se como um derivativo da inveja do seio interior. Deste modo, a inveja do pênis deriva de sadismo oral e não é uma inveja primária dos genitais masculinos ou um aspecto primário da sexualidade feminina. À medida que a cisão decresce durante o primeiro ano de vida, a criança torna-seciente de que bons e maus objetos externos são em realidade um só. Os bebês então reconhecem sua agressão em direção ao objeto bom e também reconhecem os aspectos bons das pessoas a quem eles atacaram por ser más. Este reconhecimento corta o mecanismo de projeção. Além disso, as crianças tornam-se cientes das suas próprias partes infernais, mas, em contraste com o medo de prejuízo externo encontrado na posição esquizo-paranóide, o medo principal na posição depressiva é de prejudicar os objetos externos e internos bons daí a necessidade para o superego. A tarefa emocional principal da posição depressiva é lidar com o medo do ego de perder os objetos externos e internos bons. As reações emocionais correspondentes são ansiedade e culpa. A preservação de objetos bons torna-se mais importante do que preservar o próprio ego. Objetos maus internalizados que foram anteriormente projetados compõem o ego primário, o qual ataca o ego com sentimentos de culpa. Os maus objetos dentro do superego, conforme observado acima, podem contaminar os bons objetos internos do superego que se tornaram incorporados no superego devido às suas demandas por determinados tipos de comportamento (eu amarei você se você fizer bem as suas tarefas; eu aceitarei você apenas se você trabalhar duro). MECANISMOS DE RESOLUÇÃO DO TRABALHAR. Normalmente, os mecanismos de reparação, aumentados pela testagem de realidade, aceitação de ambivalência, gratidão e luto capacitam a criança a resolver o período depressivo. A reparação, o antecedente da sublimação, é um esforço saudável para reduzir culpa em relação a ter atacado o objeto bom tentando reparar o dano, expressando amor e gratidão e assim, preservando-o. A criança chora, corre para a mãe, joga seus braços ao redor dela e diz "desculpa". A testagem de realidade aumentada resulta de cisão reduzida e da capacidade crescente de avaliar objetos inteiros e o self total. Os objetos introjetados são vistos como inteiros e vivos, ao invés de como fragmentos autônomos. Através de ser amadas, as crianças vêm a enxergar a si mesmas e a seus objetos internos como bons. A crescente percepção de amar e odiar a mesma pessoa promove a capacidade de experimentar e tolerar ambivalência, idealmente com uma preponderância de amor sobre ódio. Klein acreditou que o luto normalmente reativa a culpa da posição depressiva, a diferença sendo que, durante o desmame na posição depressiva, a mãe boa real ainda está presente e ajuda o bebê a reconstituir e consolidar objetos internos bons. PSICOPATOLOGIA. Muitos tipos de psicopatologia severa são atribuídos à fixação em uma das duas posições kleinianas. A fixação na posição esquizo-paranóide conduz a alguns transtornos psicóticos. Os transtornos psicóticos em geral negam a realidade, usam projeção extensamente e engajam-se em dissociação. Escape para um objeto interno idealizado conduz a estados exaltados autistas; dissociação generalizada e reintrojeção de objetos fragmentados múltiplos conduz a estados de confusão. Medo predominante de perseguidores externos é a marca registrada do transtorno delirante; projeção de perseguidores sobre o próprio corpo resulta em hipocondríase. As pessoas com transtorno de personalidade esquizóide são emocionalmente superficiais e intolerantes de culpa, tendem a experimentar os outros como hostis e retraem-se de relações de objeto. A partir da fixação, na posição depressiva vem o luto patológico (depressão) ou o desenvolvimento excessivo de defesas maníacas. O luto patológico resulta da destruição fantasiada por ataque sádico de objetos internos e externos bons. Os objetos internos maus que permanecem funcionam como um superego sádico primitivo evocando culpa excessiva e estimulando o sentimento de que todos os objetos bons estão mortos e que o mundo não tem amor. O superego sádico é cruel, exige perfeição e opõe-se aos instintos. Tentativas são feitas para idealizar objetos externos como um meio de autopreservação; deste modo, quaisquer reprovações são feitas contra o eu, ao invés de aos outros. O suicídio pode incorporar a noção de que o objeto externo bom pode ser preservado apenas através da destruição do self mau. Síndromes hipomaníacas e maníacas são promovidas por um predomínio de defesas maníacas, incluindo onipotência, identificação com o superego, introjeção, o triunfo maníaco e idealização maníaca. A onipotência resulta da identificação com um objeto bom idealizado e negação do resto da realidade. A identificação com um superego sádico permite que objetos externos sejam tratados com desprezo. A introjeção é manifestada como fome de objeto, com negação de perigo para e dos objetos; triunfo maníaco é manifestado por um senso de ter conquistado o mundo; e idealização maníaca é manifestada por fantasias de fusão com Deus. TÉCNICA. Klein acreditava que todas as situações produtoras de ansiedade, incluindo a hora analítica, reativam ansiedades das posições paranóide, esquizóide e depressiva. As defesas e medos primitivos são interpretados da primeira sessão em diante tão profundamente quanto possível e envolvem material tanto de transferência (você deseja me aniquilar) como de não transferência (você desejou eliminar o seio mau da sua mãe). A mesma técnica é usada com todos os pacientes, focalizando sobre fantasias inconscientes que representam o conteúdo e as operações defensivas nos níveis mais primitivos da mente. A técnica foi usada até mesmo com crianças com menos de 6 anos de idade, usando seu brinquedo livre como a base para a interpretação em sessões de 50 minutos cinco dias por semana. Para Klein, o brinquedo livre de uma criança era análogo as livre-associações de um adulto. Suas visões opuseram-se às de Anna Freud, a outra analista infantil dominante do dia que sustentava que a análise do complexo de Édipo de crianças pré latência não é possível, já que ela pode interferir com relacionamentos parentais; a análise desta criança é em grande parte uma experiência educacional para a criança; que uma neurose de transferência não pode ser efetuada devido à atividade dos pais na vida diária da criança; e que o analista deveria fazer todo o esforço para obter a confiança da criança. Klein sustentou que uma neurose de transferência pode ser efetuada e então resolvida por interpretação. Ao invés de tentar obter favor com a criança, Klein imediatamente interpretava transferências negativas (você quer se ver livre de mim) e verificou que fazer isso aliviava a ansiedade ao invés de intensificá-la. Terapeutas kleinianos são interessados em tratar pacientes nos quais conflitos e defesas primitivos predominam. Eles fazem isso assumindo uma posição estritamente interpretativa, interpretando tanto aspectos negativos como positivos da transferência, mas especialmente enfatizando os aspectos negativos. Teoria das posições de Melanie Klein Pesquisa apresentada para a avalição na disciplina Desdobramentos da teoria Psicanalítica, do curso de Psicologia da Universidade Paulista – UNIP, campus de Araraquara, ministrada pelo professor José Renato. Klein (1935/1991, 1946/1990 apud Leitão, 1999) descreveu dois estágios no desenvolvimento emocional durante o primeiro ano de vida do bebê: a posição esquizo-paranóide e a posição depressiva. De acordo com Melanie Klein (1991-1997), quando o bebê nasce não espera da mãe somente alimento, mas amor e compreensão também. Nos estágios mais iniciais, amor e compreensão são expressos através do modo de lidar com o bebê e levam um sentimento de unicidade que se baseia no fato de o inconsciente da mãe e o inconsciente da criança estar em relação íntima um com o outro. O sentimento resultante que o bebê tem de ser compreendido dá origem à primeira fundamental relação em sua vida, a relação com a mãe. Ao mesmo tempo a frustração, o desconforto e a dor, que são vivenciados como perseguição, também entram nos seus sentimentos para com sua mãe, porque nos primeiros meses de vida ela representa para a criançatodo o mundo externo. Assim, tanto o que é bom, quanto o que é mau vêm como provindos dela. Os impulsos destrutivos desperatam ansiedade persecutória no bebê, junto com seus correlatos – tais como o ressentimento devido a frustração, o ódio provocado por ela, a capacidade de reconciliar-se e a inveja do objeto todo poderoso, a mãe, de quem dependem sua vida e seu bem-estar. O ego, de acordo com Freud, é a parte organizada do self, constantemente influenciada por impulsos instintivos, porém mantendo-os sob controle pela repressão. Além disso o ego dirige todas as atividades e estabelece a mantém a relação com o mundo externo. O termo self é utilizado para abranger toda a personalidade, o que inclui o ID, nomeado por Freud, e toda a vida pulsional. De acordo com Melanie Klein, o ego existe e opera desde o nascimento e que, além das funções mencionadas por Freud, tem a importante tarefa de defender-se contra a ansiedade suscitada pela luta interna e por influências internas. Ele inicia também uma série de processos como introjeção e projeção. Operando desde o nascimento, introjeção e projeção funcionam desde o início da vida pós-natal como algumas das primeiras atividades do ego. A introjeção significa que o mundo externo, seu impacto, as situações que o bebê atravessa e os objetos que ele encontra são vivenciados apenas como externos, mas são levados para dentro do self, vindo a fazer parte da vida interior. Essa vida interior, mesmo no adulto, não pode ser avaliada sem esses acréscimos à personalidade derivados da introjeção contínua. A projeção ocorre simultaneamente, implica que há uma capacidade na criança de atribuir a outras pessoas a sua volta sentimentos de diversos tipos, predominantemente o amor e o ódio. Formando a concepção de que o amor e o ódio dirigidos à mãe estão intimamente ligados à capacidade do bebê de projetar todas as emoções sobre ela, convertendo-a desse modo em um objeto bom, assim como em um objeto perigoso. O projeto de introjeção e projeção contribui para a interação entre fatores externos e internos. E, sem nunca perder sua importância, continuam através da vida e transformam-se no decorrer da maturação. A mãe é introjetada no bebê, e isso é um fator fundamental no desenvolvimento. A mãe e seus bons aspectos é o primeiro objeto bom que o bebe torna parte de seu mundo interno. Se a mãe é assimilada ao mundo interno da criança como objeto bom do qual ele pode depender, um elemento de força é unido ao ego. Uma forte identificação com a mãe torna-se fácil para a criança identificar-se também com um pai bom e, mais tarde, com outras figuras amistosas. No entanto, a agressividade e o ódio se mantém em atividade, por mais que sejam bons os sentimentos da criança em relação a ambos os pais. Existe uma tendência do ego infantil em separar impulsos e objetos, Melanie Klein considera esta como sendo mais uma das atividades primordiais dele. Essa tendência para cindir resulta em parte do fato de faltar em grande medida coesão ao ego arcaico. Mas a ansiedade persecutória reforça a necessidade de manter o objeto amado separado do objeto amado separado do objeto perigoso e, portanto, a necessidade de separar o amor do ódio. O processo de cisão muda em forma e conteúdo à medida que prossegue o desenvolvimento, mas nunca é inteiramente abandonado. Klein cita que os impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória e a cisão predominam nos primeiros três meses de vida; ela descreveu essa combinação sendo a posição esquizo-paranóide. Os correlatos dos sentimentos destrutivos são de grande importância nesse estagio inicial. A voracidade e a inveja são destacadas aqui como fatores perturbadores, primeiramente em relação com a mãe, mais tarde com outros membros da família. A voracidade varia de um bebe para o outro, há bebês que nunca podem estar satisfeitos porque sua verocidade excede tudo o que possam receber. Ela é incrementada pela ansiedade. O bebe que é tão voraz por amor e atenção é também inseguro sobre sua própria capacidade de amar, e todas essas ansiedades reforçam a verocidade. Na inveja, sempre que a criança está faminta ou se sente negligenciada, sua frustração leva a fantasia de que o leite e o amor são deliberadamente recusados a ela ou retirados pela mãe em benefício da própria mãe, o que constituem a base da inveja. Faz parte do sentimento de inveja não apenas o desejo da posse mas também uma forte necessidade de estragar o prazer que as outras pessoas têm como o objeto cobiçado, e essa necessidade tende a estragar o próprio objeto. Se a inveja é intensa, aquilo que é bom não pode ser assimilado, não pode se tornar parte da vida interior e, desse modo, dar origem à gratidão. No desenvolvimento normal, com a integração crescente do ego, os processos de cisão diminuem e a maior capacidade para entender a realidade externa e para, em alguma medida, conciliar os impulsos contraditórios do bebê leva também a uma síntese maior dos aspectos bons e maus do objeto. O superego inicia-se mais cedo, de acordo com Klein, por volta do quinto ou sexto mês de vida; onde o bebe começa a temer pelo estrago que seus impulsos destrutivos e sua voracidade podem causar, ou podem ser causa, aos seus objetos amados. Ele vivencia sentimentos de culpa e a necessidade presente de preservar esses objetos e de repará-los pelo dano feito. A ansiedade agora vivenciada é de natureza predominantemente depressiva. Klein reconheceu as emoções que a acompanham, assim como as defesas desenvolvidas contra elas, como fazendo parte do desenvolvimentos normal, e cunhou o termo posição depressiva. Com o aumento da adaptação à realidade o bebê adquire uma imagem menos fantasiosa do mundo ao seu redor. A experiência recorrente da mãe indo embora e voltando para ele torna a ausência dela menos aterrorizadora e, portanto, diminui a suspeita do bebe de que ela o deixe. Dessa forma ele vai elaborando seus medos arcaicos e chega a uma aceitação de seus impulsos e emoções conflitantes. Nesse estágio a ansiedade depressiva predomina e a ansiedade persecutória diminui. As ansiedades depressivas e persecutórias nunca são totalmente superadas. Elas podem reaparecer temporariamente sob pressão interna ou externa, embora uma pessoa relativamente normal possa suportar essa recorrência e recuperar seu equilíbrio. Em resumo Klein (1935/1991, 1946/1990) descreveu dois estágios no desenvolvimento emocional durante o primeiro ano de vida: a posição esquizo-paranóide e a posição depressiva. Inicialmente, os impulsos destrutivos têm maior predominância na mente da criança e, consequentemente, a criança percebe o mundo externo também como destrutivo e persecutório. Na posição esquizo-paranóide os impulsos destrutivos e a ansiedade persecutória estão no seu auge e o conflito se dá em função da sobrevivência do ego. Com o passar do tempo, e sob a influência dos impulsos amorosos dirigidos para o mundo externo, um relacionamento mais positivo com a mãe se desenvolve e a criança se torna consciente de sua própria ambivalência. A ansiedade da criança nesta fase está relacionada ao medo de que seus próprios impulsos destrutivos possam destruir sua mãe amada. A percepção de sua própria ambivalência leva a criança a intensos sentimentos de responsabilidade, desespero, ansiedade e culpa. Neste sentido, a posição depressiva inaugura um modo mais maduro de relacionamento com o outro, o qual possibilita uma nova forma de moralidade. Se na posição esquizo-paranóide a criança está preocupada apenas com o bem-estar do ego, na posição depressiva ela está preocupada também com o bem-estar do outro. Desde que na posição depressiva o ego se torna mais identificado com o outro, a preservação do outro é sentida como garantia da preservação do próprio ego. Além disso, na posição depressiva existe a possibilidade de uma preocupação real com o bem-estar do outro, independentemente do ego. Na teoria de Klein, a ansiedade depressiva é a fonte da verdadeira capacidade de amar, a qual éinicialmente expressa através de ansiedade pela destruição do outro, culpa, remorso, desejo de reparar o dano feito, responsabilidade em preservar o outro e tristeza relacionada com a possibilidade de perdê-lo. O amor resulta, portanto, da capacidade de identificação com o outro na posição depressiva. Gradualmente a criança se torna capaz de encontrar outros objetos de interesse e o seu amor é dirigido também para outras pessoas e coisas. A culpa pode envolver elementos da posição esquizo-paranóide e/ou da posição depressiva. Segundo Hinshelwood (1989 apud Leitão 1999), Klein descreveu dois tipos de culpa: a culpa persecutória, associada com a preocupação esquizo-paranóide com o bem-estar do self; e a culpa depressiva, associada com a preocupação depressiva com o bem-estar do outro. Na posição esquizo-paranóide a culpa é persecutória, retaliativa e punitiva. A posição depressiva faz surgir um sentimento de culpa propriamente dito, no qual predomina o medo pelo outro amado e pelo relacionamento com ele. Na teoria Kleiniana, portanto, a culpa é considerada num contexto interpessoal. Aula: A Teoria das Posições de Melanie Klein A TEORIA DAS POSIÇÕES Teoria do desenvolvimento mental: É uma teoria da mente e seus modos predominantes de funcionamento; uma teoria de como as pessoas usam suas mentes para perceber, negar, alterar ou refletir sobre a realidade. Cada vivencia emocional adquire um significado de acordo com as características destes objetos internos. Klein destaca o papel que este mundo interno desempenha sobre todas as nossas reações e formas de lidar com as situações internas e externas determinando sobremaneira a forma de viver cada experiência. A teoria das posições é em relação ao objeto As fases de Freud são em relação à libido São processos e não entidades estáticas, por isso, não é possível dizer de uma entrada na posição tal, talvez seja possível dizer que se alcance uma predominância de um modo depressivo de operar, incluindo sempre uma possibilidade de que para alguns aspectos da vida se opere de um modo SZN. As Posições: · São dinâmicas psíquicas que, alternando-se ao longo da vida, geram maneiras de ser e de experienciar o mundo. É desta alternância das posições que resultaria a estruturação do sujeito. · São duas formas básicas de organização das ansiedades, defesas e modos de estabelecer relações com os objetos. · Rompe com a idéia de tempo cronológico e desenvolvimento linear, pois busca privilegiar duas grandes possibilidades de experienciar a si mesmo e ao mundo; · Trata-se de uma espécie de óptica que norteia a percepção de si mesmo e das experiências; · Trata-se de um certo modo de organizar-se frente às vivências que faz com que estas adquiram sentidos diferentes dependendo da óptica usada. O modo de ver o mundo é determinado por um conjunto de ansiedade, defesas, fantasias e formas de se relacionar que propiciam um modo de perceber e compreender a realidade. Conceber o desenvolvimento como operando com duas posições básicas, é pesá-lo como duas atitudes mentais diferentes a partir das quais as experiências podem ser vividas. As posições são, assim, conceituações sobre as organizações psíquicas que geram formas de ser e experienciar o mundo. Para Klein, existe uma flutuação entre as duas posições, dependendo sempre da capacidade do ego de suportar as angústias decorrentes dos aspectos ambivalentes da experiência. - estas formas de organização psíquica não são nunca superadas ou deixadas para trás; o que é possível, com maior ou menor sucesso, é manter uma relação dialética entre elas, uma relação na qual cada estado cria, preserva ou nega o outro. POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE · O primeiro instrumento do bebê para estruturar suas experiências; · Divisão do ego: . Bom: gratifica- idealização/introjeção . Mau: frustra – projeta · Não percebe o objeto como uma unidade – desenvolve o amor e o ódio isoladamente; · Predomina a onipotência; · Díade – narcisismo · Não há reflexão – pensamento · Não reconheço o que é ruim como sendo meu – projeção; · Cisão do objeto interno; · A ansiedade é paranóide/persecutória, pois o ego é frágil para lidar com o desconforto, com o ódio e com a frustração; · O ego é fragmentado; · Utilização de mecanismos de defesa primitivo: spliting (cisão), projeção, introjeção, negação, identificação projetiva; . Para se organizar e se sentir segura diante da ameaça de caos advinda de sua fragilidade para significar essas experiências, o ego recorre aos mecanismos primitivos de defesa. . O mecanismo de defesa é uma construção teórica para dar conta de uma fantasia operada pelo ego para se proteger. . Na PE o ego tenta defender-se do que Klein chama de ansiedade de aniquilamento – uma experiência catastrófica que parece ser sentida como ameaça à sua sobrevivência. A fantasia de não ser capaz de dar conta e de conviver com os aspectos contraditórios de si mesmo e do objeto, assim como a angustia, vivida como insuportável, de integrar as experiências sentidas como más e como boas, faz com que, em fantasia, haja uma tendência a expulsar as experiências más, localizando-as fora de si, e ao mesmo tempo tentar incorporar e identificar-se com as experiências sentidas como boas. Assim, a ansiedade predominante é a persecutória (paranóide) e o estado predominante do ego é fragmentado e cindido (esquizo). Klein destaca que há uma tendência à integração do ego que se alterna com uma desintegração defensiva, um movimento de vida que leva à integração e um de morte que leva à desintegração. (PV x PM) Cisão: · É falar de uma vivencia de que o que sinto como ruim não me pertence, não é da minha responsabilidade e, o que é bom, é meu. ·O sujeito vivendo de modo SZN, estrutura suas percepções do mundo de maneira a dividir o mundo em “bom” – que ele tenta ser e possuir (por introjeção), e “mau” – que ele expulsa e localiza fora de si (por projeção), no objeto. o Assim: § “BOM” = “mim” § “MAU” = “não-eu” · A cisão permite ao sujeito amar e odiar com segurança, protegido das angústias decorrentes da ambivalência, pois um aspecto da experiÊncia está sempre fora do alcance; · A cisão torna impossível a percepção de que podem provir do mesmo objeto tanto a gratificação quanto a frustração. . A mãe que frustra passa a ser vivida como outra, diferente da que gratifica, oq eu permite odiá-la com mais segurança e propriedade. POSIÇÃO DEPRESSIVA · Implica a possibilidade de viver a subjetividade e a historicidade, percebendo a ambivalência na relação com o objeto e podendo dar conta das emoções dela decorrentes. · Em oposição à PE, na qual a experiência é parcial, tanto em relação a si mesmo como ao objeto, na PD é possível perceber-se como um objeto total – amando e odiando, possuindo qualidades e defeitos, valores antagônicos, etc – além de perceber-se em relações com objetos também totais e que, portanto, satisfazem e frustram, sem que isto implique ativar um splitting defensivo. Tal mudança permite acompanhar a continuidade da experiência de si mesmo e do outro. · Amplia o conhecimento do mundo e de si mesmo, mas também expõe o sujeito a novas ansiedades. o Como aceitar em mim mesmo aspectos indesejáveis? o Como conviver com a percepção de que posso pôr em risco a relação com as pessoas ou valores que eu amo? o Como preservar o objeto amado dos riscos de mim mesmo? o Como aceitar que a pessoas amada tem momentos em que posso odiá-la? o Como conceber este novo modelo de relação? o Como aceitar que ela tenha uma existência separada da minha e que possa viver não exclusivamente para mim? o Como conviver com a percepção da minha impotência para controlá-la? · Um elemento importante na PD é a possibilidade de elaborar a culpa; a confiança na capacidade de reparar joga umrelevante papel para permitir que a culpa seja vivida como responsabilidade. · Na elaboração da PD: o Reconhecimento da dependência; o Perda da onipotência; o Culpa; o Reconhecimento da própria hostilidade; o Anseio pela repação. · Integrar é ter ou poder vivier a culpa e esta se liga à consciência do impulso destrutivo dirigido ao objeto amado, à percepção de que é o próprio eu quem pode pôr em risco o amor. Portanto, integração implica responsabilidade. o Culpa gera perseguição o Responsabilidade gera trabalho e ocupação. § Talvez seja possível superar a culpa que se transforma em perseguição, alcançar a culpa vivida como responsabilidade. § Culpa e perseguição teriam como oriegem um SE severo e a responsabilidade, mais realista, seria uma função egóica. · Reparação: é sempre um trabalho penoso, pois implica reconhecer que possa ter colocado em risco uma relação e responsabiulizar-se por isto; reconhecer-se amando e querendo manter a relação; inseguro quanto aos estragos realizados; esperançoso, porém, não onipotente, de ser capaz de remediar e, assim, estar atento a si e ao outro para acompanhar os efeitos dessa reparação. · Com a passagem pela PD é possível a relação dual, é possível viver o Édipo e se iniciar na vida simbólica, no jogo e no brincar. · Podemos resumir a PD: o Por volta dos 6 meses; o Reconhece a realidade interna e externa o Mãe como objeto total – completa e real o Ambivalência – culpa – reparação o Possibilita viver a subjetividade o Tríade – Édipo o Reconheço a dependência o Diminuição da onipotência o Reconhecimento da própria hositilidade o Dor ao perceber os sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto o Ansiedade é depressiva o Suporta a não exclusividade o Elabora a culpa – responsabilidade o Percebe que o objeto não está sob seu controle aula: Complexo de Édipo e Superego na visão kleniana Complexo de Édipo e Superego Freud: Freud preconiza a situação edípica como uma das problemáticas fundamentais à teoria psicanalítica, visto que este é o momento no qual se dará a constituição do sujeito. Nesse sentido, como aponta Moreira (2004), a importância da passagem pelo Édipo e sua condição estruturante nos remete a pensar a constituição do sujeito a partir da incontestável presença do outro. Ora, se a triangulação edípica não prescinde da existência de um casal de pais, seja real ou simbólico, torna-se imperativo a inscrição do outro na estruturação do sujeito. O sujeito, por conseqüência do que é vivenciado no Édipo, sai com determinadas identificações. É a partir destas identificações que será possível a constituição do superego. “O superego resulta de um processo identificatório com a lei, da qual o pai é o representante.” (Moreira, 2004, p. 224). A dissolução do Complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano, além de ser a principal temática de referência no que diz respeito às psicopatologias. Freud concedeu ao complexo de castração o eixo central para a compreensão do Complexo de Édipo. Diferentemente, Melanie Klein descreveu a situação edípica com foco nas fantasias primárias. Klein: A hipótese do superego arcaico já havia obrigado Melanie Klein a antecipar o início do complexo de Édipo para o começo do segundo ano de vida. Mais tarde, ela desvincularia o surgimento do superego arcaico da questão edípica e acabaria por antecipar o próprio complexo de Édipo em sua dimensão mais arcaica para os seis meses de idade, quando surge a primeira "posição depressiva". Segundo Klein (1945/1996), o Complexo de Édipo começa paralelamente com início da “posição depressiva”, uma vez que é nesta fase que os sentimentos amorosos passam a ocupar cada vez mais espaço, no lugar dos sentimentos persecutórios e destruidores, característicos da “posição esquizoparanóide”. E seu declínio coincidirá exatamente com a prevalência dos sentimentos característicos da “posição depressiva”, o amor da criança pelos pais, o desejo de preservá-los e não mais de destruí-los. Isto torna visível como é central a questão edipiana no desenvolvimento da criança, já que a transição da “posição esquizoparanóide” para a “posição depressiva” se dá neste contexto e é favorecida por ele. Os impulsos sexuais são direcionados para uma forma de reparar efeitos da agressividade, o que induz ao nascimento de fantasias reparadoras, de extrema importância para a sexualidade adulta. Klein (1925/1996) ainda afirma que os sentimentos de culpa têm origem nos desejos sádico-orais, e não são conseqüências do Édipo, mas sim um dos fatores que acompanham o desenvolvimento edipiano. Já a origem do Superego, como afirma Marta Rezende (2002), se localiza já nos primeiros estágios do conflito edípico. Sua formação se inicia desde muito cedo, “e o que faz com que ele apareça é o advento do Complexo de Édipo” (Cardoso, 2002, pág. 55.). Melanie (1945/1996) revela que a criança introjeta objetos em cada fase de sua organização libidinal, e o superego é construído a partir destes elementos introjetados. “O superego se desenvolve a partir dessas figuras introjetadas – as identificações da criança – influenciando, por sua vez, a relação com os pais e todo o desenvolvimento sexual.” (Klein, 1945/1996, págs 463-4). Como Melanie Klein descreveu a situação edípica com foco nas fantasias primárias, pode-se dizer que, ao conseguir distinguir objetos totais, a existência dos pais como pessoas que possuem seus próprios desejos e que se voltam para outros campos que não a criança, essa começa a direcionar seus impulsos e fantasias a estes, o que instala o cenário para o início do Complexo de Édipo. Assim, é possível verificar a relação intrínseca entre o desenvolvimento edipiano e a formação do superego, e entre estes fatores e a passagem da “posição esquizoparanóide” para a “posição depressiva”, fatores esses que incidirão diretamente da estruturação da personalidade do sujeito. De acordo com Figueiredo e Cintra (2008), é a partir do atravessamento da posição depressiva e a solução do complexo edipiano que o sujeito amplia a capacidade de experimentar relações complexas e ambivalentes com objetos integrais, admitindo a relativa autonomia destes objetos e suas ligações com os outros e com eles próprios. Há uma alternância entre objetos internos e externos ao se perceber a realidade, por parte do bebê, o que interliga intrinsecamente o complexo de Édipo à formação do superego. A partir da análise de crianças pequenas (3 a 6 anos), Klein pôde constatar que as tendências edipianas são despertadas pelo desmame (entre o primeiro e o segundo ano de vida). Esta frustração oral é reforçada pelas subseqüentes frustrações anais e também pelas diferenças anatômicas que existem entre os sexos, o que faz necessário explicar o desenvolvimento do menino e da menina separadamente. CE meninos: em sua posição feminina ou homossexual, há uma equivalência inicial do pênis do pai ao seio da mãe, passando ser, este último, objeto de desejo, de ser sugado, engolido e incorporado oralmente e também por seu ânus e seu pênis, “o menino deseja penetrar com seu próprio pênis no corpo do pai pela boca, ânus e órgão genital. Na última parte do primeiro ano, o desejo de receber um filho do pai desempenha importante papel” (Heimann, 1986, pág. 55). Sendo assim, nesta posição a mãe torna-se uma rival para o menino. Instauram-se neste período fantasias sobre a vagina materna, e desejos e atacá-la e destruí-la. No entanto, os desejos de reparação anteriormente citados característicos da posição depressiva fazem surgir impulsos de compensar a mãe, pelo fato do bebê ter medo de perdê-la. Assim, passa a desejar dar-lhe prazer e filhos, o que restabelece a genitalidade heterossexual no menino, fazendo com que sinta agora ódio contrao pai e medo de retaliação por parte deste último, o medo da castração. Posteriormente o menino fantasia a relação sexual dos pais, sendo esta o mesmo motivo pelo qual a criança passa a desejar um dos pais e a querer destruir um deles, como um rival, o que lhe causa grande ansiedade. De acordo com Heimann (1996), mais tarde, a observação de seu próprio pênis somados à sua função criadora e reparadora que a criança possui inconscientemente, às fantasias de relação sexual com a mãe e ao prazer da masturbação, possibilitam ao menino possuir um desprezo pelo órgão genital feminino, mas seu temor em relação à castração ainda persiste. Existe um sentimento de culpa associado às fixações pré-genitais, que decorrem das tendências edipianas. Isto ocorre, pois o despertar das tendências edipianas em um momento precoce são acompanhadas da introjeção dos objetos amorosos, dos quais decorre o sentimento de culpa. Estas identificações infantis são contraditórias, comportando características boas e muito severas ao mesmo tempo. Isto pode ser explicado pelas fantasias da criança de 01 ano, que deseja devorar e destruir seus objetos. Entretanto, após introjetá-los, surge a culpa e o medo de perseguição, proporcional a agressividade que foi inicialmente direcionada a estes objetos. Assim, é importante ressaltar que a formação do superego ocorre durante um momento de predominância de impulsos sádicos (pois o superego é formado pela introjeção inicial dos objetos amorosos edipianos). Entretanto, a presença de um superego sádico, em ação contra um ego ainda incipiente, leva o ego a recorrer a mecanismos de repressão intensos contra este superego sádico. Existe um desejo de ter filhos, destruir futuros irmãos e o próprio pai. O menino vivencia o desejo de possuir um órgão especial, ligado a fecundação, como o seio provedor de leite, a vagina, ou outros órgãos que ele liga a capacidade de ter bebês. O menino teme ser punido por seus desejos de destruição do corpo materno. Assim, sofre uma ansiedade que seu corpo seja mutilado. Neste momento, a mãe, ao manipular as fezes da criança, se transforma em um castrador. O menino tem um pavor de ser castrado pelo pai e um desejo de destruir o pênis do pai, que se dirige ao útero, onde o pênis do pai estaria. Em contrapartida, o menino experimenta um superego mutilador e devorador. Enfim, o menino se sente em desvantagem, devido à incapacidade de ter filhos. Ocorre, neste momento, uma fusão entre o desejo de ter filhos e o impulso epistemofílico. Deste movimento decorre um deslocamento, no menino, deste desejo de ter filhos para o plano intelectual. O menino também demonstra uma tendência à agressividade, que visa ocultar a ansiedade e ignorância que experimenta durante esta fase de indefinição. A agressividade também é um protesto contra o papel feminino. Assim, a disputa entre homens tende a ter um caráter mais próximo do genital, enquanto que o conflito com as mulheres é pré-genital, com fixações sádicas. O menino começa a experimentar uma luta entre os impulsos pré-genitais e genitais. A repulsa a feminilidade o empurra para a identificação com o pai. O medo de ser castrado o faz retornar às fixações sádico-anais. A influência da genitalidade constitucional se faz sentir neste momento. Esta luta pode permanecer indefinida, levando a distúrbios de potência. O menino também possui, durante a fase da feminilidade, a influência de um superego materno, com identificações cruéis e bondosas. Depois, entretanto, ele retorna a identificação com o pai. No menino, é o superego paterno que exerce a derradeira influência. O pai é um personagem sublime, mas alcançável, pois o menino é feito a sua imagem. A menina padece de um pavor de ter sua feminilidade danificada. Ela acaba dando valor excessivo para o pênis, o que o torna uma fonte de ansiedade mais óbvia, mascarando a ansiedade em relação à própria feminilidade. CE meninas: Esta possui sensações vaginais intensas neste período, e que estas estimulam fortemente o desejo que a menina possui de receber o pênis do pai, e afastando-a da mãe, como já citado anteriormente. Klein (1945/1996), afirma que o bebê do sexo feminino possui uma idéia inconsciente de que seu corpo contém o que a autora denomina de “bebês em potencial”, e o pênis do pai torna-se ainda mais um objeto de desejo por ter a capacidade de criar crianças. Além de adquirir o pênis paterno, a menina deseja também receber um filho do pai. À medida que estes desejos são frustrados, a menina deseja possuir um pênis e se volta para o corpo materno, na tentativa de atacar, mutilar, aniquilar este corpo e roubar dele o pênis do pai e os bebês da mãe que, em suas fantasias, se encontram no interior do corpo materno. No entanto, ao desejar destruir o corpo da mãe, esses ataques se voltam para a própria menina, e ela fantasia que seu órgão genital será destruído, havendo, portanto temor de uma mãe retaliadora. Ela sente também que lhe falta um pênis. No entanto, a frustração de seus desejos femininos faz com que a menina sinta raiva e temor pelo pai, direcionando-a novamente para a mãe. Posteriormente, a menina fantasia a existência de um pênis interior, e almeja que este se desenvolva. Neste período ocorre uma supervalorização do falo em detrimento da valorização de sua vagina, que passa então a ser repudiada. Porém, o não desenvolvimento de um órgão masculino causa novo desapontamento, fazendo com que essa sinta ressentimentos contra a mãe, que se torna responsável pela incompletude da menina. Neste momento, então, há um predomínio da faceta heterossexual. A menina, ao passar pelo desmame, se afasta da mãe. O desenvolvimento da menina se completa com o deslocamento da libido oral para a genital, mantendo o objetivo receptivo, que condiz com a genitalidade feminina. Aí se encontra uma influência na escolha do pai como objeto amoroso. A menina possui uma noção inconsciente de vagina, despertada pelas tendências edipianas. A masturbação, no caso feminino, não leva a uma satisfação tão adequada quanto para o menino, o que gera uma gratificação acumulada. Portanto, o ódio e inveja da menina em relação à mãe a empurra para o pai. A ansiedade de castração que o menino experimenta está ausente na menina. O impulso epistemofílico da menina é despertado pelo complexo de Édipo, pela descoberta de não possuir um pênis. A falta do pênis é um motivo adicional para odiar a mãe e se sentir punida por esta ao mesmo tempo. É a privação do seio, portanto, que leva a escolha do pai como objeto amoroso, e não a ausência do pênis, como dizia Freud. O ódio e a rivalidade que a menina sente em relação à mãe fazem com que sua identificação com o pai seja abandonada, transformando-o em um objeto para amar e ser amada por ele. Um forte motivo para possuir o pai é o ódio e a inveja sentida em relação à mãe. Se no desenvolvimento da menina, as fixações sádicas permanecerem, estas interferirão na relação homem – mulher. Por outro lado, se a relação com a mãe for calcada em uma posição genital, a mulher estará menos presa a um sentimento de culpa com relação aos filhos. O marido poderá ser sentido como um bebê adorado levando a mulher a assumir a postura de uma mãe provedora. Com relação à sexualidade, quando a menina alcança a satisfação total de seus impulsos amorosos (o que lhe parecia impossível), através do coito, ela sente uma admiração e uma gratidão pelo fim da privação acumulada, que remete a época do onanismo. Esta gratidão explica a grande capacidade feminina para se entregar de forma total e duradoura a um objeto amoroso, como o primeiro amor. Algo que prejudica o desenvolvimento da menina é que ela sofre o desejo insaciado de ser mãe. O menino, por sua vez, encontra um apoio no fato de possuir um pênis. A menina, vivendo esta incerteza com relação à possibilidade do desejo de ser mãe, acaba sendo prejudicada por sentimentos de ansiedade e culpa que decorrem das tendências destrutivas que ela dirigiu contra a mãe. Isto ajuda a explicara preocupação feminina com a beleza, pois esta poderá ser destruída pela mãe, que foi anteriormente atacada. Este medo de destruição interna que a menina vivencia explica a tendência feminina para a histeria de conversão e certos distúrbios orgânicos. A menina, ao não encontrar o apoio da posse do pênis, acaba por depreciar sua capacidade de maternidade, antes altamente valorizada. A grande ansiedade feminina está em torno da feminilidade, enquanto o menino o sente em relação ao pênis, pois de fato possui um. O menino experimenta uma ansiedade aguda, enquanto o processo da menina é crônico. A mulher possui uma grande capacidade para o altruísmo, pois na menina o superego é formado pela imago materna, que é mais ameaçadora que a paterna. Se a identificação genital da menina se estabiliza, surge um ideal de bondade, derivado do ideal da mãe boa. Portanto, esta capacidade depende da resolução dos conflitos pré-genitais e genitais. Quando a mulher se dedica a uma ação social, esta depende de um ideal de ego paterno. A menina sente uma admiração pela atividade genital do pai, o que a leva a metas difíceis de atingir. A própria impossibilidade de atingi-las, associada à capacidade de auto-sacríficio derivada do superego materno, pode levar a mulheres com uma capacidade para realizações excepcionais no plano intuitivo. Com relação a certas experiências iniciais da infância, algumas considerações são importantes. Quando a observação do coito ocorre em uma época posterior, pode se configurar um trauma. Se a observação é precoce, pode gerar fixações no desenvolvimento sexual, atrapalhando a formação do superego, devido à predominância de identificações sádicas. Quando ocorrem atos sexuais entre crianças, como felação, se tocar e outros, o ato assume a característica de um Édipo realizado, pois a outra criança é percebida como a mãe, o pai, ou ambos. Deste fato surge uma grande culpa, associada a uma necessidade de punição, associada à compulsão a repetição, que pode levar a repetição de traumas sexuais. Concluindo, as idéias do texto são consideradas por Klein como um desenvolvimento das de Freud. O texto aponta o surgimento de um complexo de Édipo precoce, derivado do desmame, dominado pelas fases pré-genitais. Estes fatos influenciam a formação precoce do superego, com aspectos sádicos. Tais conclusões, retiradas da análise de crianças, possuem validade teórica, comprovada também na análise de adultos. A Inveja segundo Melanie Klein Que a "inveja é uma m****", todo mundo sabe. A "inveja mata" é outro jargão muito utilizado no senso comum, assim como frases escritas em carros e parachoques de caminhão do tipo: "sua inveja é o combustível do meu sucesso", ou "se sua estrela não brilha, não tente apagar a minha". Mas no âmbito da psicologia, como tratar o assunto? Assunto aliás que não é tão simples assim, pois mexe com sentimentos que todos nós temos e raramente assumimos. Klein aponta que a inveja é uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento. Ela surge no momento em que o bebê percebe-se impotente perante sua mãe (ou cuidador), no que concerne ao seu bem-estar, ou seja: quando ele precisa de cuidados ou alimento e seu cuidador não o gratifica de imediato, surge então um sentimento de inveja. A inveja daquela fonte criadora de bem-estar, daquele seio farto do qual o bebê depende. Seguindo esta linha de raciocínio, chegamos ao X da questão, ou seja: a inveja é caracterizada por desejar algo que o outro tem e que não se pode ter. Porém Klein vai ainda mais longe quando trata da destruição: Segundo ela a criança na posição esquizo-paranoide deseja destruir esse seio que ora lhe parece bom, ora lhe parece mau, para não ter de passar novamente por situações de frustração. Sendo assim, a destruição do bom, do belo justifica-se pela inveja. Claro que isto é uma simplificação. Os conceitos são mais amplos. Observe que temos uma cadeia frustração -> raiva -> destruição A Frustração todos conhecemos (quem não conhece que atire a primeira pedra). A raiva é um sentimento absurdamente natural e que somos ensinados a reprimir como se fosse um pecado. O desejo de destruição também é natural, afinal incomoda muito perceber que o outro tem algo que não se pode ter e que muito se deseja; daí a vontade de destruir esse objeto de desejo (seja ele de que natureza for). A inveja na sociedade contemporânea se manifesta de várias formas, algumas quase inperceptíveis. apenas alguns exemplos deste último caso. Mas não generalizemos, por favor... Pessoas muito zelosas, que controlam excessivamente os outros, por medo de que estas sofram algum tipo de dano, podem estar sentindo inveja... inveja da coragem que o outro tem de se atirar na vida... A inveja mais comum é aquela que é caracterizada pela negação e pela racionalização: " eu não queria mesmo...." " nem reparei que você tingiu o cabelo" Claro que em muitos casos estas negações e racionalizações podem ter outros motivos mais conscientes e palpáveis, mas..... Lidar com pessoas invejosas não é fácil, uma vez que estas querem sempre destruir algo em nós. Não dá pra tratá-las com a intimidade que se trata um irmão, mas não dá pra fazer de conta que não existem, afinal são destruidoras, agressivas e vorazes. Uma alternativa pra lidar com isso deixar a própria inveja de lado, raiva e ressentimentos e verifique as razões pelas quais a pessoa invejosa se porta dessa maneira. De onde vem essa vontade de destruir? É pra não ver? Não ver o que? Porque? Porém, jamais se deixe levar pelas pessoas destrutivas, mesmo que sejam "amigas". Melanie Klein: Inveja e Gratidão «O ciúme teme perder o que possui; a inveja sofre ao ver o outro possuir o que quer para si. O invejoso não suporta a visão da fruição. Sente-se à vontade apenas com o infortúnio dos outros. Assim, todos os esforços para satisfazer um invejoso são infrutíferos. O ciúme é uma paixão nobre ou ignóbil, em função do objecto. No primeiro caso, é emulação aguçada pelo medo. No segundo caso, é voracidade estimulada pelo medo. A inveja é sempre uma paixão vil, arrastando consigo as piores paixões». (Crabb) Os portugueses conhecem bem esta paixão vil que é a inveja e que, na linguagem popular, é denominada "mal de inveja". Teixeira de Pascoaes viu nela um dos maiores defeitos da "alma pátria": "Somos fantasmas querendo iludir a sua oca e triste condição. Por isso, o valor alheio nos tortura, revelando, com mais clareza, a nossa própria nulidade". Porém, na sua ingenuidade, não soube elaborar uma psicopatologia portuguesa e, deste modo, descobrir o mal radical que habita plenamente a alma portuguesa. A inveja é destrutiva e, se ela é "um esqueleto de hiena visionando um cemitério", como diz Pascoaes, então Portugal é esse mesmo cemitério, do qual a esperança foi sempre-já expulsa. A História de Portugal está ferida de morte desde o seu começo: o matricídio cometido por Afonso Henriques foi introjectado e, posteriormente, projectado por todos os portugueses nutridos no e pelo mau seio e, desse modo, incapazes de retomar o bom seio, o da gratidão. Pascoaes não compreendeu que a inveja é, como diz Klein, "o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta algo desejável, sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragá-lo". A inveja pressupõe a relação do indivíduo com uma só pessoa e esta relação origina-se na relação primordial e arcaica com a mãe. Embora esteja fundado na inveja, o ciúme envolve uma relação com duas pessoas, no mínimo, e diz respeito "ao amor que o indivíduo sente como lhe sendo devido e que lhe foi roubado, ou está em perigo de sê-lo, pelo seu rival". Melanie Klein (1882-1960) concedeu à inveja uma posição de importância central, tanto na compreensão da psicopatologia como no processo de tratamento, na sua concepção do conflito que está na origem do desenvolvimento. Aparentemente distante de Freud, mas talvez mais próxima de Rank ou de Ferenczi, Klein interessa-se pelos momentos pré-edipianos deste desenvolvimento e colocaem jogo a complexidade das relações que se estabelecem entre a mãe e a criança antes da intervenção do pai que provocará a violência do complexo de Édipo. Deste modo, Klein é levada a mostrar que a figura da mãe é ambivalente. A mãe pode tanto recompensar como frustrar a criança e, por isso, aparece sucessivamente como "bom" e "mau" objecto: quer dizer que o mesmo objecto é, para a criança, bom e mau, que amá-lo é também querer destruí-lo e que a figura da mãe reúne e evoca todos os sentimentos da criança, até mesmo os mais contraditórios. A presença da contradição no sujeito tende a apagar-se em proveito do nascimento de um conflito no interior dos laços privilegiados que ligam a mãe e o filho. A mãe é, portanto, o próprio modelo de toda a ambivalência. As origens da inveja derivam da agressão constitucional e a inveja precoce representa uma forma particularmente maligna e desastrosa de agressão inata. Todas as outras formas de ódio da criança são dirigidas para maus objectos que são sentidos como perseguidores e maus. Por isso, a criança odeia-os e fantasia com a sua tortura e destruição. A inveja é, pelo contrário, ódio dirigido contra bons objectos. A criança sente a bondade e os cuidados que a mãe lhe oferece, mas sente-os como insuficientes e ressente-se com o controle onipotente da mãe, capaz de a alimentar, de a libertar dos impulsos destrutivos e da ansiedade persecutória e de a proteger de toda a dor e males provenientes de fontes internas e externas. Ora, o primeiro objecto a ser invejado é o "seio nutridor": o bebé sente que o seio possui tudo o que deseja e que é dotado de um fluxo ilimitado de leite e de amor que guarda para a sua própria gratificação. Porém, oseio materno fornece o leite em quantidade limitada e depois pára. Na fantasia da criança, no seu mundo interior povoado de fantasmas, o seio é sentido como guardando avaramente o leite para os seus próprios objectivos. O ressentimento e o ódio associam-se a esta fantasia do seio inexaurível e o resultado é uma relação perturbada com a mãe. A inveja primária do seio materno desencadeia ataques sádicos ao seio materno, determinados pelos impulsos destrutivos, que visam estragar o objecto: o seio é odiado e invejado pelo facto do bebé sentir que é um seio mesquinho e malévolo. Nas suas formas subsequentes, a inveja deixa de estar focalizada no seio e é deslocada para a mãe que recebe o pénis do pai, que possui bebés dentro dela, que dá à luz esses bebés e que é capaz de amamentá-los, e, nos estágios iniciais do complexo de Édipo (quarto e sexto mês de vida), para o pai, visto como um intruso hostil e acusado de ter raptado o seio nutritivo e a própria mãe, dando início ao desenvolvimento do ciúme. Klein distingue a inveja da voracidade, na qual o bebé quer ter todos os conteúdos dobom seio somente para si, sem se importar com as consequências para o seio, que imagina sugar até o secar. Para o bebé voraz, a destruição não é o motivo mas a consequência da ganância. Na inveja, a criança quer destruir o seio e estragá-lo, não porque seja mau, mas porque é bom. Como a riqueza do seio está fora do seu controle, a criança não pode tolerar a sua bondade e, por isso, deseja estragá-lo. O dano causado por esta inveja resulta da corrosão da primeira cisão entre seio bom e seio mau: as cisões e dispersões de objectos em bons e maus, internos e externos, precipitam e correspondem a cisões dentro do próprio self. No ódio não-invejoso, a destruição é dirigida contra os objectos maus: os objectos bons são protegidos pela cisão e, por conseguinte, o bebé pode sentir-se, pelo menos uma vez ou outra, protegido e seguro. Porém, em virtude da inveja, a criança destrói os bons objectos, a cisão é desfeita e ocorre um aumento da ansiedade persecutória e do terror. A inveja destrói a possibilidade de esperança. Se o objectivo da voracidade é a introjecção destrutiva, isto é, escavar completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio, a inveja "procura não apenas despojar dessa maneira, mas também depositar maldade, primordialmente excrementos maus e partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de estragá-la e destruí-la". Isto significa que a inveja visa "destruir a criatividade da mãe". Este processo que deriva de impulsos sádico-uretrais e sádico-anais constitui um aspecto destrutivo da identificação projectiva, conceito usado por Klein para descrever as extensões de cisão nas quais partes ou segmentos reais do ego são separadas do resto do self e projectadas nos objectos. Klein traça a linha divisória entre inveja e voracidade, dizendo que "a voracidade está ligada principalmente à introjecçãoe a inveja à projecção". A pessoa invejosa é insaciável, destrutiva, ladra, maldosa e fraca. A inveja intensa do seio nutridor interfere com a capacidade de satisfação e, por conseguinte, solapa o desenvolvimento da gratidão: a voracidade, a inveja e a ansiedade persecutória estão interligadas e intensificam-se reciprocamente. A inveja estraga oobjecto bom originário e alimenta os ataques sádicos ao seio, que, em face disso, perde o seu valor e torna-se mau por ter sido mordido e envenenado pela urina e pelas fezes. Com a capacidade de fruição arruinada, a inveja torna-se persistente e a gratidão não se desenvolve para mitigar os impulsos destrutivos. Devido à inveja persistente, a criança torna-se incapaz de construir seguramente um objecto bom interno. Pelo contrário, a criança com uma forte capacidade de amor tem "uma relação profundamente enraizada com um objecto bom e pode suportar, sem ficar profundamente danificada, estados temporários de inveja, ódio e ressentimento que surgem mesmo em crianças que são amadas e recebem bons cuidados maternos". Mas, como estes estados negativos são transitórios, a criança pode recuperar facilmente o objecto bom, sem prejudicar o estabelecimento das bases da estabilidade emocional e cognitiva e de um self forte. Esta relação positiva com o seio materno constitui, no decurso do desenvolvimento, a base sólida para a dedicação e a vinculação a pessoas, valores e causas, que absorvem, em certa medida, uma parte do amor que era inicialmente sentido pelo objecto originário. O sentimento de gratidão deriva da capacidade de amar e, conforme observa Klein, é fundamental para "a construção da relação com o objecto bom" e para avaliar e apreciar o que há de bom nos outros e em si mesmo. A pessoa invejosa não pode realizar esta tarefa de reparar o objecto bom, por ser demasiado influenciável e, portanto, incapaz de confiar no seu próprio julgamento. De modo diferente de Freud, Klein considera que aansiedade primordial derivada do trauma do nascimento (Rank) constitui a ameaça de aniquilamento pela pulsão de morte interna: o ego que "existe desde o início da vida pós-natal", e cuja primeira e principal função "é lidar com a ansiedade", está ao serviço da pulsão de vida e, nesta luta primordial entre as pulsões de vida e de morte, compete-lhe deflectir essa ameaça para fora, de modo a preservar a sua identidade e a sentir que possui uma "bondade" própria. Enquanto a capacidade de amar promove as tendências integradoras e o sucesso da cisão primordial entre o seio bom e o seio mau, protegendo o self das identificações indiscriminadas com uma variedade de objectos e dando-lhe uma sensação de que possui bondade própria, a inveja excessiva interfere na cisão fundamental e no sucesso da estruturação de um objecto bom, donde resultam oenfraquecimento do self e a perturbação das relações de objecto. Assim, as crianças com capacidade de amar forte sentem menos necessidade de idealizar do que as crianças dominadas por impulsos destrutivos e pela ansiedade persecutória: "a idealização é, portanto, um corolário da ansiedade persecutória e o seio ideal é a contrapartida do seio devorador". Com a danificação da capacidade de selecção e de discriminação, o self fraco do indivíduo invejoso é levado a trocar constantemente de objecto amado, porque nenhum objecto pode preencher integralmente as expectativas:o objecto idealizado anterior é sempre sentido como um perseguidor e nele é projectada a atitude invejosa e crítica do sujeito. "Tudo isto leva, como diz Klein, à instabilidade dos relacionamentos". Além disso, a inveja excessiva interfere na gratificação oral adequada, estimulando a intensificação dos desejos e tendências genitais. Este início prematuro da genitalidade é frequentemente "causa da masturbação compulsiva e da promiscuidade sexual" e, em virtude da inveja excessiva do seio nutritivo e do sentimento de ter estragado a sua bondade através de ataques sádicos invejosos, pode estar ligado à ocorrência precoce daculpa. Segundo Klein, a atitude invejosa e destrutiva em relação ao seio nutritivo está na base da crítica destrutiva, descrita como "mordaz" e "perniciosa", dirigida contra acriatividade, cuja contrapartida benéfica e saudável é a crítica construtiva que visa ajudar a outra pessoa a aperfeiçoar o seu trabalho. Enfim, para não prolongar muito mais este post, diremos que a inveja está ao serviço da pulsão da morte e, nessa missão, constitui uma força destrutiva da vida e da criatividade: proíbe o sonhar acordado e paralisa o movimento de ir para a frente, como se verifica facilmente ao longo da História de Portugal, cujo objecto idealizado é a ideologia sebastianista que culmina no antiprojecto do Quinto Império de Fernando Pessoa e que se manifesta regressivamente no reino da imitação invejosa e maldosa: o luso-reino "simiesco" (Pascoaes) em que o espírito de iniciativa e as forças criadoras cedem o seu lugar ao espírito imitativo e aopensamento de rebanho, porque, "sempre que o homem hesita na sua humanidade, aparece o macaco" (Pascoaes), ou melhor, o homem metabolicamente reduzido. As forças criativas nacionais estão condenadas à morte em vida ou ao êxodo, porque a inveja portuguesa corrompe Portugal e fecha sistematicamente as portas ao advento de um futuro inteiramente novo. Entendendo a inveja na visão kleiniana A inveja é um sentimento extremamente primitivo, imediato e voraz. A ação invejosa tem sempre, por trás, um conteúdo agressivo. Inicialmente, o bebê tem o seio da mãe como objeto ideal. Então ele passa a querer ter o seio. Quando a mãe sai, desperta no bebê um desespero. Ele fica constantemente ansioso e quer reter a mãe. Klein encontra aí as raízes primitivas da inveja - o movimento de arrancar do outro para ter para si. O comportamento invejoso visa retirar a bondade dos objetos a fim de introjetá-la. Ao se questinar sobre a necessidade de ter algo que deseja, a conclusão nos diz que aquilo vai nos trazer algo de bom. Entre mulheres, por exemplo, é comum que uma amiga elogie o sapato da outra e pergunte onde ela comprou porque deseja um igual, ou do mesmo estilo, ou da mesma cor. Essa parte é até saudável. Agora, no movimento agressivo de retirar do outro, o objeto bom e ideal se torna mau e destruído. O bebê introjeta objetos destruídos, o que gera um ciclo prejudicial. Ao ter os mundos interno e externo destruídos, o ego se estilhaça buscando um objeto de gratificação. Já falamos sobre estilhaçamento de ego no texto sobre posição esquizo-paranóide. O que diferencia, basicamente, a inveja do ciúme é que o ciúme é uma relação de três elementos (eu, o outro, e um terceiro que me ameaça de perder o outro), e a inveja, de dois (eu e algo que quero ter ou ser). Existe uma relação saudável com o sentimento de inveja, indo além do significado comum que a palavra tinha até então. Inveja é algo que todos sentem, mas sentir é diferente de atuar sobre ela. Sentir inveja não faz de alguém um invejoso. A voracidade e agressividade existentes por trás de um comportamento invejoso é o que é extremamente prejudicial e negativo. Já que você quer o objeto para si e para isso realiza comportamentos agressivos. Todos têm inveja, todos desejam algo que não têm. Isso é natural, humano. O que nos diferencia do bebê é nossa capacidade de reconhecer a inveja que sentimos e não alimentá-la, ou canalizá-la. O bebê não pode dizer: -"Nossa, eu quero muito isso. Mas posso trabalhar para conseguir e não preciso arrancar do outro." Nós podemos. Mesmo que se queira muito um objeto, tirar do outro nem sempre é a única maneira de ter. Parece contraditório, mas é preciso reconhecer sentir a inveja para não se tornar um invejoso. . Posição esquizo-paranóide Na posição esquizo-paranóide, descrita pela psicanalista Melanie Klein, em resumo, existe a ansiedade paranóide. O ego se encontra fragmentado, em busca de um objeto gratificador. Essa fragmentação do ego se dá por sua estrutura, composta por muito mais frustrações que gratificações. O ego se estilhaça em busca de algo que possa dar gratificação a ao menos um de seus "pedaços". O estilhaçamento do ego é como uma tentativa desesperada de escapar da patologia. A quantidade excessiva de frustrações traz ao ego uma sensação de aniquilação. O bebê enxerga o seio da mãe como primeiro objeto. No caso da posição esquizo-paranóide, este objeto foi muito mais frustrador do que gratificador (é o que Klein chama, em sua teoria, de seio mau). Ele pode ter demorado demais para atender aos seus desejos, pode não ter sido nutritivo, acolhedor, amoroso. Então é gerada uma ansiedade extrema por algo que seja bom. Mas todos os objetos introjetados pelo bebê são maus, e isso é externalizado. Ao passo em que ele projeta no seio sua frustração, responsabilizando-o por sua frustração. E então tem fantasias agressivas de arranhões, mordidas, rejeição a este seio. O excesso de gratificação também não é positivo. Na adolescência, por exemplo, onde todos os limites são contextados. Se não houver limites, o perigo se instala. O excesso de gratificações pode fortalecer a fantasia onipotente do bebê. Fantasia onipotente é outro traço bastante relevante na posição esquizo-paranóide, a sensação de onipotência é perigosa. Por outro lado, quando a frustração é excessiva, gera a fantasia de agressão ou a agressão de fato. Nas mulheres há uma relação ambivalente. Ao mesmo tempo em que a mãe é um objeto de amor, é um de ódio. Há rivalidades e diferenças grandes com esta mãe. O que faz a menina tender a uma opção heterossexual, inclusive. Entender a importância da passagem por esta posição, possibilita-nos compreender a formação, a estrutura psíquica que constitui o indivíduo. O que refletirá, sem dúvida, em situações futuras.��Traçando um paralelo com a prática, porque a psicanálise exige de nós uma capacidade de abstração que, reconheço, é difícil alcançar limitando-nos à teoria, falarei do filme "Uma Mente Brilhante", que ilustra muito bem a teoria de Melanie Klein acerca do tema em questão. O filme trata da vida de John Nash, que é um matemático americano genial. Ele se encontra na posição esquizo-paranóide. Nash era esquizofrênico e apresentava alucinações visuais. Ele tinha idéias delirantes, que consistiam em falsas crenças, não corrigidas pela confrontação com a realidade, que tendiam a se difundir e ir tomando conta da mente. No caso tratado, Nash via, principalmente, três pessoas (Charles, sua sobrinha e Parker), mas seu delírio mais preocupante era o de perseguição. Havia, no seu entendimento, uma conspiração e ele estava empenhado em descobri-la. O interessante é que somos colocados dentro da mente de Nash. O filme trata a esquizofrenia do ponto de vista do esquizofrênico. Todas as visões que ele tem nos parecem reais também. O espectador acredita nas visões de Nash. Quando está no auge de seu problema psiquiátrico, Nash acredita estar trabalhando para o serviço de inteligência americano, contra os russos. Assim, nada mais parece ter importância, nem a família, nem a continuidade de sua vida acadêmica. Tudo o que ele quer é descobrir uma bomba que vai explodir em qualquer lugar dos EUA. Nash acredita que, com sua inteligência, só ele poderia decifrar códigos publicados em revistas. O que nos dá mais uma pista da posição esquizo-paranóide em que ele se encontra, o delírio de grandeza, sua fantasia onipotente,sua megalomania. Os três personagens que Nash vê podem ser entendidos como sua personalidade dividida, cada um representando um aspecto. Charles, tudo o que Nash gostaria de ser, seu ideal de ego. A menina, um superego infantilizado. E Parker, seu Id, dando vazão a sua megalomania, o fazendo acreditar que era o único que detinha o poder de decifrar os códigos para o governo. O que gera, mais à frente, seu delírio de perseguição. Em meio a tudo isso, existe Alícia, sua esposa, que é quem procura mostrar a ele tudo o que é real. É seu objeto bom, gratificador. E em determinado momento do filme, ela lhe dá um lenço, que é a representação simbólica do objeto bom introjetado. E é com a ajuda dela que ele consegue aprender a separar o que é real da fantasia. Por fim, ele não deixa de ter as alucinações, mas aprende a lidar com elas de forma que não o perturbem mais. Alicia nos confirma a idéia da importância da gratificação para um ego extremamente fragilizado e fragmentado. É seu objeto de amor que o ajuda a, de alguma forma, vencer a patologia. Posição Depressiva Brevemente, na posição depressiva, descrita por Melanie Klein, tratamos de um ego extremamente organizado. Os objetos de amor não são favorecedores à gratificação, estão indisponíveis para o ego. Isto gera uma ansiedade extrema. E então ergue-se uma defesa maníaca, para não permitir o contato com objetos de amor, que ele já espera serem frustradores. E evita-se o contado com a dependência dos objetos, não se assume precisar deles, pois precisar é, de certa forma, depender. E depender é perder o controle sobre o outro. E não poder controlar é não poder garantir que o outro será gratificador, possibilitando a frustração. Se esta defesa é muito radical, extrema, torna-se patológica. O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um exemplo de defesa maníaca. Os indivíduos em posição depressiva têm problemas na expressão do afeto. Então há uma depreciação dos objetos de amor (“Quem desdenha, quer comprar”). Assim, o indivíduo se mantém no controle das situações e não reconhece sua dependência de algo ou alguém. Um mecanismo de defesa presente na posição depressiva é a sublimação. A energia pulsional canalizada para outra direção. A fim de satisfazer seus desejos de uma outra forma, já que a original não lhe é possível. Seguindo a linha de raciocínio, também trago um filme que nos mostra claramente um ego em posição depressiva. Melvin é um escritor muito bem-sucedido, adorado pelas mulheres pela forma como escreve sobre o universo feminino. Mas seu comportamento social é estranho. Seus vizinhos procuram evitá-lo. Melvin é um obsessivo, que tem rituais para fechar a porta, lavar as mãos, andar nas ruas, pisar no chão, só frequenta um único restaurante, para onde vai carregando os seus próprios talheres de plástico e onde exige ser sempre atendido pela mesma garçonete, Carol. Esta enfrenta uma série de problemas por ser mãe solteira e ter que se desdobrar entre o trabalho e a casa, a fim de cuidar do filho, que sofre de asma. Um dia, Carol falta ao trabalho no restaurante, porque seu filho adoece. Tal fato causa um grande desconforto a Melvin, modifica a dinâmica a que ele está acostumado, onde tem o controle da situação e ele termina contratando os serviços de um pediatra para cuidar do garoto, para que Carol possa voltar pro trabalho. Quando Simon, seu vizinho, é atacado e roubado por um grupo de ladrões, Melvin é coagido a cuidar de Verdell, o cachorro. Aos poucos, Melvin vai se afeiçoando ao animal e descobrindo-se dono de sentimentos que julgava não possuir. Quando Simon recebe alta do hospital, ele concorda em levá-lo de carro para falar com seus pais e exige que Carol vá junto. Durante a viagem, todos conversam e descobrem algo sobre o outro. Notamos que não há relato, na história de Melvin, de uma mãe que o tenha feito experimentar o jogo do carretel*, sem ficar tão ansioso, a ponto de querer experimentar de novo. Até aí, Melvin se mostra o TOC personificado. Mas, na viagem, se percebe tão envolvido por Carol que começa a vencer suas defesas maníacas. Dono de uma estrutura psíquica desacostumada a usar palavras delicadas, ele constantemente fere os outros falando alguma bobagem. E depois desta viagem, começa a exercitar o pensamento antes da fala. O julgamento daquilo que vai dizer, antes de dizer. Seu problema com o contato era tão intenso que ele jogava o próprio sabonete, usado uma única vez, no lixo. Carol, o cachorro e até o próprio Simon, seu vizinho, são importantes no processo de reconhecimento/admissão do contato com os objetos de amor. Ele vai se libertando de sua patologia. Esquece de trancar a porta, pisa nas listras do chão. A patologia vai diminuindo, à medida que o contato dele com os objetos de afeto vai aumentando. E, de repente, vê que não é possível controlar tanto as situações como ele gostaria, se percebe envolvido pelo afeto. *Jogo do carretel é uma expressão usada para representar a brincadeira de sumir e aparecer que os adultos costumam fazer com bebês. Deve-se considerar um sentido mais amplo ao termo. Não só o "Cadê a mamãe? Achou!", mas também a ida e volta do trabalho, por exemplo. A construção subjetiva infantil segundo Melanie Klein Como ocorre o desenvolvimento infantil segundo Melanie Klein? Na psicanálise construída por Melanie Klein encontramos o conceito de posição, tal conceito remete a forma de como se constitui a subjetividade do bebê, e para Klein existem duas formas de constituição da subjetividade ou duas posições, que acontecem de forma processual. Tais posições podem ser denominadas de posição esquizo-paranóide e posição depressiva. A posição esquizo-paranóide inicia no nascimento até os seis meses de idade. Na posição esquizo-paranóide o desenvolvimento do eu é determinado pelos processos de introjeção e projeção. A primeira relação objetal do bebê ocorre com o chamado seio amado e odiado – seio bom ou seio mau. Os impulsos destrutivos e a angústia persecutória encontram-se no seu apogeu, assim como os processos de divisão, onipotência, idealização, negação e controle dos objetos internos e externos. Segundo Melanie Klein a defesa primordial é a clivagem, o seio é o objeto primordial e será dividido em seio bom e seio mau, ou num bom objeto que o bebê possui e num mau objeto que está ausente, como mãe nunca está sempre presente na vida bebê para amamentá-lo ela se torna ausente e o bebê com isso inaugura o processo de clivagem em sua subjetividade. Ele percebe o seio como “bom” porque o amamenta e como “mau” porque se ausenta. Como se percebeu, o bebê nessa fase se relaciona com objetos parciais, o seio bom e mau, um objeto ideal e outro persecutório. Porém, o objeto mau é projetado para fora do bebê como sendo perseguidores e destruidores do objeto bom. Nessa fase vemos a existência de uma angústia persecutória, então a meta da criança nessa fase é de possuir o objeto bom e introjetá-lo e também de projetar o objeto mau para fora e assim evitar os impulsos destrutivos. Num segundo momento, se desenvolve a posição depressiva, ela inicia aos seis meses de idade, nesse momento a relação do bebê com o mundo externo se torna mais diferenciada, aumentando sua capacidade de expressar emoções de se comunicar com as outras pessoas. Nesse momento, o bebê reconhece a mãe como um único objeto, ou seja, o bebê começa a reconhecer a mãe como uma pessoa total com existência própria e independente, fonte de experiências boas e más. A criança compreende pouco a pouco que é ela quem ama e odeia a mesma pessoa, sua mãe, e assim inaugura a experiência do chamado sentimento de ambivalência. Agora o bebê percebe que antes temia a destruição do seu objeto amado por perseguidores e agora ele teme que essa sua agressão possa destruir o objeto ambivalentemente amado e odiado. Sua angústia deixa de ser paranóide pra ser depressiva. E assim começa a se originar sentimentos de culpa e luto, como afirmar Melanie Klein. Com isso se inicia um processo dereparação dessa relação objetal ambivalente. É com esse processo de reparação desse luto e culpa é que será a melhor saída da posição depressiva. Esse processo se dá com a aceitação da perda de parte do objeto, ocorrendo essa condição o bebê poderá restaurá o objeto amado, porque somente assim ele poderá reparar o desastre ocorrido e assim preservar o objeto amado de outros ataques dos objetos maus, esse processo de superação e reparação, segundo Melanie Klein, é o chamado de trabalho de luto. Através da aceitação da perda é que o bebê passa a trabalhar saudavelmente a construção de sua subjetividade. E de acordo com Melanie Klein, nós sempre estaremos vivendo as posições esquizo-paranóide e depressiva ao decorrer de nossas vidas, sempre de forma alternada, segundo a psicanálise kleiniana, essas são as únicas formas de se viver a angustiante e terrível vida humana. O fenômeno esquizóide "Em clínica psiquiátrica, o conceito de psicose é tomado a maioria das vezes numa extensão extremamente ampla, de maneira a abranger toda uma gama de doenças mentais, quer sejam manifestamente organogenéticas, quer sua etiologia permaneça problemática. Na psicanálise, o interesse incidiu, em primeiro lugar, nas afecções mais diretamente acessíveis à investigação analítica, e dentro deste campo mais restrito que o da psiquiatria, as principais distinções são as que se estabelecem entre as perversões, as neuroses e as psicoses. Neste último grupo, a psicanálise procurou definir diversas estruturas: paranóia e esquizofrenia, por um lado, e por outro a melancolia e a mania. Fundamentalmente, é uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade que a teoria psicanalítica vê o denominador comum nas psicoses, onde a maioria dos sintomas manifestos são tentativas secundárias de restauração do laço objetal." (Laplanche e Pontalis – Dicionário de Psicanálise – Psicose – pg 390) Para entendermos o psicótico, é importante relembrarmos sobre a posição esquizoparanóide de Melanie Klein, onde o ego utiliza a cisão como mecanismo de defesa para lidar com suas ansiedades, buscando dispersar seus impulsos destrutivos. “Na primeira infância, surgem ansiedades que obrigam ao ego criar mecanismos de defesa específicos. Neste período se encontram pontos de fixação de distúrbios psicóticos”. – (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 20) O nascimento representa a saída da plenitude, do nirvana. O mundo real se apresenta de forma grosseira e cruel, despertando sensações como o frio, a fome, bem como necessidades como urinar, defecar, etc. É preciso chorar para obter o alimento, ou anunciar suas necessidades, apontar dores, cólicas entre outros. Na percepção da dependência do outro para sobreviver, nasce a frustração. Essa experiência é sentida como causada por objetos externos. Impulsos destrutivos são dirigidos para este objeto externo, passando posteriormente para ataques sádicos ao corpo da mãe, enquanto parte destes impulsos permanece ligada à libido no interior do organismo. Para Klein, as relações de objeto existem desde o inicio da vida, sendo o primeiro objeto o seio da mãe. A primeira relação com o objeto implica em projeção e introjeção. As relações de objeto são moldadas pela interação entre os mecanismos de projeção e introjeção desde o inicio, bem como entre objetos e situações internas e externas. Esses processos participam na construção do ego, e do superego e preparam o terreno para o surgimento do complexo de Édipo na metade do primeiro ano de vida. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 21) No entanto, da mesma forma que tais impulsos são projetados nestes objetos, imediatamente são introjetados novamente. Logo, estes objetos sentidos como mau (seio mau), passam a existir também no mundo interno. Tais ataques a estes objetos faz surgir o medo de uma retaliação ou um contra ataque por parte destes, que passam a ser sentidos como persecutórios. “A necessidade vital de lidar com a ansiedade força o ego arcaico a desenvolver mecanismos de defesas. O impulso destrutivo é parcialmente projetado para fora, e prende-se ao primeiro objeto externo, o seio da mãe. Outra porção deste impulso permanece ligado a libido no interior do organismo". Porem, nenhum desses processos resolve o problema da perseguição e de ser destruído. Logo, sob a pressão dessa ameaça o ego tenta se despedaçar “. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein - pg 24). O ego então faz uma cisão buscando como resultado a dispersão do impulso destrutivo. Na cisão, este mundo interno ainda confuso, repleto de objeto introjetados é de certa forma organizado. De um lado, objetos maus, de outro objetos bons. O bebê então percebe o seio como bom (aquele que recebe amor e lhe protege), e seio mau (aquele que o persegue e é receptor de seus ataques sádicos). O mundo é divido entre bom e mau. “O impulso destrutivo projetado para fora é vivenciado como agressão oral. Impulsos sádico- orais dirigidos ao seio da mãe. Depois vem os impulsos canibalescos com o início da dentição. O bebê vai sugar e destruir o seio. Na sua fantasia, o seio mau é destruído, e o seio bom permanece inteiro. Esse seio bom interno é responsável pela construção do ego, e contrabalança os processos de cisão e dispersão. Winnicott descreveu este processo como a capacidade do bebê adaptar-se à realidade mediante a experiência obtida através do amor e carinho da mãe “. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein –Processo de cisão em relação ao objeto- 1946- nota de rodapé 10 – pg 25) “A ansiedade e a frustração pode ameaçar a sensação que o bebê tem de ter dentro de sí um seio bom. Logo, o bebê pode sentir que seu objeto interno bom está também despedaçado, pois fica difícil manter a cisão entre objeto bom e mau. O ego não consegue cindir objeto interno e externo sem que ocorra uma cisão correspondente dentro dele. Quanto mais o sadismo prevalece no processo de incorporação do objeto mais este é sentido como estando em pedaços e mais o ego corre o risco de cindir-se aos fragmentos desse objeto internalizado.” ”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein –Processo de cisão em relação ao objeto- 1946) Assim, o processo de projeção e introjeção se torna um cíclico, presente em todo desenvolvimento do ser. Neste ponto, o meio ambiente terá sua parcela na introjeção de objetos bons ou maus, de acordo com a forma que este se apresentar. Um ambiente repleto de amor, atenção, carinho, etc., poderá ser sentido como objetos bons, aumentando o número de objetos bons internos. Do contrário, um ambiente violento, cheio de falhas materna, poderá ser sentido como objetos maus, igualmente aumentando o número destes objetos no interior do bebê. O processo de cisão vem para organizar o que antes estava misturado. Agora, sentimentos bons são dirigidos ao objeto bom, enquanto ataques destrutivos dirigidos para os objetos maus. Outros mecanismos de defesa são criados. Através do processo de idealização, o objeto bom é exageradamente sentido como um protetor poderoso contra os objetos maus. Não se trata de um simples objeto bom. Agora, este objeto é MUITO bom. Na negação, a existência de um objeto mau é negada. Todas as sensações de frustração e dor são negadas. A realidade psíquica é negada. Na onipotência, o ser sente-se capaz de negar a própria realidade psíquica. “A negação onipotente da existência do objeto mau e da situação de dor é, para o inconsciente, igual à aniquilação pelo impulso destrutivo”. “Uma parte do ego, da qual emanam os sentimentos pelo objeto, é negada e aniquilada também”. “Na gratificação alucinatória ocorrem dois processos inter-relacionados: a invocação onipotente do objeto e da situação de ideais e a onipotente aniquilação do objeto mau persecutório e da situação de dor; Esses processos se baseiam tanto na cisão do objeto como do ego”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – A cisão em conexão com a projeção e a identificação -pg 26) Como vimos anteriormente, os ataques antes dirigidos ao seio da mãe passam a ser dirigidospara o corpo da mãe, já que seu corpo é percebido como uma extensão do seio. Na sua fantasia, o bebê vai lançar para dentro do corpo da mãe excrementos nocivos e destrutivos, além de sugar o seio até exauri-lo. Partes excindidas do ego são projetadas para dentro da mãe. Estes excrementos terão como objetivo controlar e tomar possa do corpo desta. Uma vez contendo partes do self mau, a mãe agora é sentida como o próprio self mau. Passa a ser o self mau, sentido como objeto perseguidor. Melanie Klein chamou este processo de identificação projetiva. “Não são só as partes más do self a serem expelidas. Partes boas também. Logo, excrementos podem significar presentes, e as partes do ego projetadas para outra pessoa representam as partes boas, amorosas do self”.(Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Identificação Projetiva -pg 27) “A identificação projetiva da origem a medos de ser controlado pelo objeto; Uma vez na fantasia o bebê projetando parte de seu self para dentro do objeto com o objetivo de possuir e controlar, começa a ter medo da retaliação – ser controlado. Ser perseguido dentro de seu próprio corpo pelo objeto introjetado e reintrojetado violentamente. O objeto reintrojetado é sentido como contendo os aspectos perigosos do self”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Identificação Projetiva -pg 30) O medo de ser aprisionado e perseguido dentro do corpo da mãe (resultado da identificação projetiva) estão na base da paranóia. “As relações esquizóides são de natureza narcísica. Eu projeto meu ideal do ego em outra pessoa. Passo a amar e admirar essa pessoa porque na verdade estou amando eu mesmo. Essa outra pessoa passa a ter as partes boas do meu self”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 32) Controlar o outro, é controlar seu próprio self projetado no objeto. Quando este objeto é perdido, é sentido como se o próprio self tivesse sido perdido. Surge o sentimento de solidão e o medo de separar-se do objeto. “O medo da frustração da separação, desperta a agressividade. Uma vez controlando com agressividade as partes boas do self projetadas dentro do sujeito, o objeto interno é sentido como correndo o mesmo perigo de destruição que o objeto externo, resultando num enfraquecimento do ego. Solidão”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 33) Ainda sobre a identificação projetiva, Hanna Segal a define como: (processo através do qual uma parte do ego é excindida e projetada para dentro de um objeto, com conseqüente perda desta parte para o ego, bem como alteração na percepção do objeto.) (Melanie Klein hoje; Vol I; Depressão no Esquizofrênico; Hanna Segal). Através da identificação projetiva, o psicótico projeta suas ansiedades sentidas como algo insuportável. Herbert Rosenfeld escreve em seu artigo “Conflito com o superego num paciente esquizofrênico”, a importância em se interpretar as transferências positivas e negativas, salientando que o êxito na análise depende da compreensão do analista das manifestações psicóticas na situação transferêncial. Rosenfeld ainda em seu artigo desenvolve a idéia de que o objeto bom internalizado aumenta a severidade do superego, e devido a exigências rigorosas, é sentido como um objeto persecutório. “Na análise de pacientes esquizofrênicos – Podemos muitas vezes observar apenas os objetos persecutórios funcionando como superego. Isso pode ser devido às exigências extremas dos objetos idealizados. (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Conflito com o superego num paciente esquizofrênico)”. O psicótico toma muitas vezes tudo o que o analista diz como algo concreto. Se interpretarmos uma phantasia de castração, ele tomará a própria interpretação como uma castração. Trata muitas vezes a fantasia como realidade, e realidade como fantasia. Quando projetado suas ansiedades para dentro de um objeto externo, via identificação projetiva, tal objeto passa a ser percebido como persecutório. Entretanto, ocorrerá uma introjeção deste objeto, sentido como uma reentrada violenta. Muitas vezes, o psicótico tentará romper a ligação com o mundo externo, temendo esta reentrada. No entanto, a introjeção deste objeto implica na existência deste tanto interno quanto externo. O objeto persecutório passa a existir na fantasia e na realidade. “Todo paciente esquizo projeta seu superego e a si mesmo para dentro do analista; mas o analista interpreta esta situação e os problemas ligados a ela até que, gradativamente, o paciente seja capaz de aceitar tanto seu amor e seu ódio quanto o seu superego como coisas que lhe pertencem.” (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Conflito com o superego num paciente esquizofrênico) Freud aponta a psicose como o ego a serviço do id, que se retira em parte da realidade. Sobre este tópico, Bion escreve: “O ego não fica completamente fora da realidade. Seu contato com a realidade é mascarado pelo predomínio, na mente e no comportamento do paciente, de uma fantasia onipotente cujo propósito é o de destruir não só a realidade mas a percepção dela, e assim atingir um estado que não é vida nem morte”.(Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Diferenciação entre a personalidade psicótica e a não psicótica) Segundo Bion, pacientes psicóticos possuem uma parte não psicótica da personalidade, que fica assim obscurecida por sua parte psicótica. O afastamento da realidade é uma ilusão decorrente do uso da identificação projetiva contra o principio da realidade. Porém, esta fantasia torna-se um fato para o psicótico. A realidade odiada é fragmentada e projetada para fora. Estes objetos expelidos são sentidos como se tivesse vida própria, estando então o psicótico cercado por objetos bizarros. A cisão e a identificação projetiva visa o afastamento da própria realidade. As palavras são tomadas como coisas reais, pois o psicótico não simboliza. Hanna Segal escreve em seu artigo “Depressão no esquizofrênico – Melanie Klein hoje vol.1” sobre o processo pelo qual o esquizofrênico alcança a posição depressiva, vivenciando as ansiedades despertas durante este processo. No entanto, os sentimentos de culpa, sofrimento, são sentidos como intoleráveis. Assim, tais ansiedades depressivas serão projetadas para fora, ou seja, grande parte do seu ego será projetada para dentro de outro objeto através da identificação projetiva. Assim, o avanço para a posição depressiva no paciente esquizofrênico é sentido como uma ameaça. É preciso retomar o percurso contrário da sanidade, pois esta é acompanhada por sentimentos insuportáveis. É comum o paciente psicótico projetar a parte deprimida do ego para dentro do analista, provocando sentimentos depressivos no analista. A parte sadia do ego é perdida, e neste caso, o analista torna-se objeto persecutório. Hanna Segal aponta para a importância de colocar o paciente esquizofrênico em contato com seus sentimentos depressivos, e com o desejo de reparação que dele originam. É de suma importância que o analista descubra onde e em quais circunstâncias a parte depressiva do ego foi projetada, interpretando para seu paciente. A identificação projetiva por um lado, constitui uma reação terapêutica negativa (RTN), cabendo ao analista acompanhar cuidadosamente durante a transferência, a emergência da posição depressiva e sua projeção, permitindo assim ao paciente fortalecer a parte sadia da personalidade. Por outro lado, a identificação projetiva é uma defesa contra a depressão. A origem e a função das fantasias, segundo Klein Uma das principais contribuições de Melanie Klein são os conceitos de posição esquizo-paranóide e posição depressiva e incorreríamos num grande erro não falar primeiro destas posições antes de falarmos em fantasias. Entende-se por posição a forma do indivíduo visualizar-se a si mesmo, aos outros e ao mundo que o cerca determinando uma forma de o sujeito “ser” e de comportar-se na vida. São períodos normais do desenvolvimento que perpassama vida de todas as crianças, tais como as fases do desenvolvimento psicossexual criadas por Freud. Contudo, são mais maleáveis do que estas fases, devido ao fato de instalarem-se por necessidade, e não por maturação biológica (embora a autora não deixe de considerar as fases da teoria freudiana.) Assim, a posição esquizo-paranóide ocupa os primeiros 3 meses de vida e a posição depressiva ocupa a segunda metade do 1º. Ano. O bebê nasce imerso na posição esquizo-paranóide que leva esse nome justamente por existir a prevalência dos processos de divisão (splitting) e de ansiedade paranóide (defesas de caráter denegatório ou ao controle onipotente do objeto), cujas principais características são: · a fragmentação do ego; · a divisão do objeto externo (a mãe), ou mais particularmente de seu seio, já que este é o primeiro órgão com o qual a criança estabelece contato, em seio bom e seio mau– o primeiro é aquele que a gratifica infinitamente enquanto o segundo somente lhe provoca frustração · a agressividade e a realização de ataques sádicos dirigidos à figura materna. A partir da elaboração e superação destes sentimentos que são a base da paranóia e da esquizofrenia, emerge a posição depressiva. Esta tem como principais atributos: · a integração do ego e do objeto externo (mãe/seio), · sentimentos afetivos e defesas relativas à possível perda do objeto em decorrência dos ataques realizados na posição anterior; · reconhecimento da mãe como pessoa total; · existe a prevalência da integração, ambivalência, ansiedade depressiva e culpa; · as fantasias de perda da mãe atacada levam a criança a desenvolver ansiedades depressivas (a criança se defende através de mecanismos maníacos ou com intensas inibições da agressividade); · os processos de integração, iniciados na fase depressiva, fazem com que a criança possa substituir os mecanismos de defesa, tanto psicóticos quanto neuróticos pela reparação, sublimação e criatividade. Estas posições continuam presentes pelo resto da vida, alternando-se em função do contexto, embora a posição depressiva predomine num desenvolvimento saudável, ela jamais superará totalmente a esquizo-paranóide. Na sua prática Klein percebe que as crianças têm uma imagem de mãe dotada de uma imensa malvadeza, o que, na maioria das vezes, não corresponde à mãe verdadeira. Daí surge o conceito de fantasia kleiniano, a partir da hipótese de que as crianças estão lidando com uma deformação da mãe real, a qual é criada na mente do infante de modo fantasmático. Melanie Klein apoiou toda sua teoria na ênfase das fantasias inconscientes, presentes nas relações objetais primitivas e de acordo com ela as fantasias são inatas no sujeito, uma vez que são as representantes dos instintos, tanto os libidinais quanto os agressivos, os quais agem na vida desde o nascimento. Elas apresentam componentes somáticos e psíquicos, dando origem a processos pré-conscientes e conscientes, e acabam por determinar, desta forma, a personalidade. Pode-se concluir que as fantasias são a forma de funcionamento mental primária, de extrema importância neste período inicial da vida. A fantasia pode ser definida como a representante psíquica do instinto e expressa a realidade de sua fonte, interna e subjetiva, embora esteja ligada à realidade objetiva. Ela se transforma de acordo com o desenvolvimento, no decorrer das experiências corporais, sendo ampliada e elaborada, influenciando e sendo influenciada pelo ego em maturação. Segundo Riviere (1986b), seguidora de Melanie Klein, a vida de fantasia do indivíduo pode ser entendida como “a forma como suas sensações e percepções reais, internas e externas, são interpretadas e representadas para ele próprio, em sua mente, sob a influência do princípio de prazer-dor”. Partindo de obras freudianas, a estudiosa em questão toma como principal ponto de enfoque das fantasias sua dimensão imaginária. Para a autora, a atividade fantasmática está presente na vida desde o nascimento – embora as fantasias primitivas sejam processos altamente desconexos, instáveis e contraditórios. Qualquer estímulo sentido pela criança é um potencial eliciador de fantasias, tanto os agressivos – os quais acarretam fantasias agressivas – quanto os prazerosos – os quais, por sua vez, são causadores de fantasias calcadas no prazer. O primeiro alvo das fantasias da criança é o corpo da mãe, já que ela é o principal objeto com o qual a criança se relaciona em seus primeiros dias de vida. As fantasias acerca da exploração do corpo materno são de extrema importância para a descoberta do mundo externo pela criança. A pulsão de exploração, fundamental para os trabalhos artísticos e científicos, tem sua base nestas fantasias (Klein, 1996). De acordo com a teorização kleniana, as principais atividades que podemos concluir como sendo as funções da fantasia são: · a realização de desejos; · a negação de fatos dolorosos; · a segurança em relação aos fatos aterrorizadores do mundo externo; · o controle onipotente – já que a criança, em fantasia, não apenas deseja um acontecimento como realmente acredita fazer com que ele aconteça –; · a reparação, dentre outras. O funcionamento inicial da criança é através da vida de fantasia, a qual, progressivamente, através das relações objetais, cederá lugar às emoções mais complexas e aos processos cognitivos. Posição paranoide Melanie Klein criou esta expressão para caracterizar uma das fases do desenvolvimento infantil, juntamente com aposição depressiva. Estas fases são mais tarde, ao longo da vida do adulto, reavivadas por diversas situações, em que se revivem asmesmas sensações e emoções. Segundo Melanie Klein, a posição paranoide é uma modalidade das relações de objeto específica dos quatro primeirosmeses da existência do bebé, mas que pode ser encontrada posteriormente no decorrer da infância e, no adulto,particularmente nos estados paranoico e esquizofrénico. Caracteriza-se pelos seguintes aspetos: as pulsões agressivas coexistem desde o início com as pulsões libidinais e sãoparticularmente fortes; o objeto, isto é, a mãe ou a prestadora de cuidados maternais, é parcial (principalmente o seiomaterno) e clivado em dois, o "bom" e o "mau" objeto. Os processos psíquicos predominantes e que são usados contra a angústia paranoide são a introjeção e a projeção.Esta angústia, intensa, é de natureza persecutória (destruição do "mau" objeto). E só termina quando esta posição dálugar à posição depressiva. As Origens da Transferência, segundo Melanie Klein M.K. diz que a transferência opera ao longo de toda a vida e influencia todas as relações humanas, mas está preocupada apenas com as manifestações da transferência na psicanálise. E que o trabalho psicanalítico vai abrindo caminho dentro do inconsciente do paciente, seu passado vai sendo gradualmente revivido, quanto mais profundamente se consegue penetrar dentro do inconsciente e quanto mais longe no passado for levada a análise, maior será a compreensão da transferência e para isto é necessário tomar conhecimento dos estágios mais iniciais do desenvolvimento humano. A primeira forma de ansiedade é de natureza persecutória. O trabalho interno da pulsão de morte, segundo Freud, é dirigido contra o organismo, dando origem ao medo de aniquilamento, sendo essa a causa primordial da ansiedade persecutória. O bebê dirige seus sentimentos de gratificação e amor para o seio “bom” e seus impulsos destrutivos e sentimentos de perseguição para aquilo que sente como frustrador, o seio “mau”. Nesse estágio, os processos de cisão, negação, onipotência e idealização, são predominantes durante os 3 ou 4 meses de vida – “posição esquizo-paranóide”, 1946. A ansiedade persecutória e seu contrário, a idealização, influenciam as relações de objeto (relação entre 2 pessoas,não entrando nenhum outro objeto). É próprio da vida emocional do bebê que haja rápidas flutuações entre amor e ódio; entre situações externas e internas; entre a percepção da realidade e fantasias sobre ela; um interjogo entre a ansiedade persecutória e a idealização, sendo o objeto idealizado um corolário do jogo do objeto persecutório, extremamente mau. O núcleo do superego é o seio da mãe, tanto o bom quanto o mau. A crescente capacidade do ego de integração e síntese dá origem à segunda forma de ansiedade, a depressiva. Entre o quarto e o sexto mês a ansiedade depressiva é intensificada, pois o bebê sente que destruiu ou está destruindo um objeto inteiro com sua voracidade e agressão incontroláveis e que estes impulsos são dirigidos contra uma pessoa amada; cuja essência é a ansiedade e a culpa relativa à destruição e perda dos objetos amados internos e externos. É nesse estágio que se instala o complexo de Édipo. A ansiedade e a culpa acrescentam um impulso em direção ao início do complexo de Édipo, aumentando a necessidade de externalização (projetar) figuras más e internalizar (introjetar) figuras boas; de encontrar representantes de figuras internas no mundo externo. O impulsionamento da libido, a crescente integração do ego, das habilidades físicas e mentais e a adaptação progressiva ao mundo externo, vão levando o bebê em direção aos novos alvos, dos desejos orais em direção aos desejos genitais. Para M.K., o auto-erotismo e o narcisismo incluem o amor pelo objeto bom internalizado e a relação com o mesmo, o qual, na fantasia, constitui parte do corpo e do self amados. As relações de objeto estão no centro da vida emocional. Sustenta que a transferência origina-se dos mesmos processos que, nos estágios iniciais, determinam as relações de objeto. Na análise temos de voltar repetidamente às flutuações entre objetos amados e odiados, externos e internos, que dominam o início da infância. A análise da transferência negativa constitui uma precondição para analisar as camadas mais profundas da mente. A análise tanto da transferência negativa quanto da positiva é um tratamento indispensável para o tratamento de todos os tipos de pacientes, crianças e adultos igualmente. Devido às pulsões de vida e de morte (amor e ódio) estarem na mais estreita interação, a transferência positiva e a negativa encontram-se basicamente interligadas. O analista pode representar uma parte do self, do superego, ou qualquer uma de uma ampla gama de figuras internalizadas. Também supor que o analista representa o pai ou a mãe real não o levará muito longe, a menos que compreenda qual aspecto dos pais está sendo revivido. O que é revivido ou torna-se manifesto na transferência é a mistura, na fantasia do paciente, dos pais como uma única figura “a figura dos pais combinados”. Estes pais estão combinados numa permanente gratificação mútua de natureza oral, anal e genital, sendo o protótipo de situações tanto de inveja quanto de ciúme. Falar da situação de transferência é falar de situações totais transferidas do passado para o presente, bem como em termos de emoções, defesas e relações de objeto. A concepção de transferência para M.K. é algo enraizado nos estágios mais iniciais do desenvolvimento e nas camadas profundas do inconsciente, envolvendo uma técnica através da qual os elementos inconscientes da transferência são deduzidos a partir da totalidade do material apresentado. O paciente se afasta do analista como tentou afastar-se de seus objetos primários; tenta cindir a relação com ele, mantendo-o ou como uma figura boa, ou como uma figura má, deflete alguns sentimentos e atitudes vividos em relação ao analista para outras pessoas em sua vida cotidiana, e isto faz parte da atuação. Para ela, M.K., é impossível encontrar acesso às emoções e relações de objeto mais antigas a menos que se examinem suas vicissitudes à luz de desenvolvimentos posteriores. Somente através da ligação contínua das experiências mais recentes com as anteriores e vice-versa, somente explorando consistentemente a interação dessas experiências é que o presente e o passado podem se aproximar da mente do paciente. Quando a ansiedade e a culpa diminuem e o amor e ódio podem ser melhor sintetizados, os processos de cisão, bem como as repressões, atenuam-se, enquanto o ego ganha força e coesão. Um dos fatores que levam à compulsão à repetição é a pressão exercida pelas primeiras situações de ansiedade. Quando as ansiedades persecutórias, depressivas e a culpa diminuem, há menos premência a repetir continuamente. Introdução e Objetivo da Pesquisa Esta pesquisa está centrada nas reflexões da psicanalista Melanie Klein, cuja teoria, segundo Joanna Wilheim, gravita em torno da noção da parelha-parental-em-coito-sádico-unida, em função de cuja existência se estruturam todas as psicopatologias, isto é, modificações do modo de vida, do comportamento e da personalidade de um indivíduo, que se desviam da norma e/ou ocasionam sofrimento e são tidas como expressão de doenças mentais. O fato indiscutível é que, como explica Joanna Wilheim em seus escritos, qualquer experiência ocorrida no feto, desde a formação de cada uma de suas células, fica retida em uma matriz básica inconsciente na memória celular. Assim, desde os primórdios da vida intra-uterina, o feto já pode perceber o som, engolir, sonhar, reconhecer a voz da mãe, e, em conseqüência, expressar estados emocionais de agrado e desagrado. Portanto, da mesma forma que devemos ter o máximo cuidado com nossas atitudes e com o que dizemos perto de uma pessoa falecida, que de morta não tem nada, precisamos estar absolutamente atentos com o nosso comportamento durante a gestação. O que for gravado na memória do feto produzirá conseqüências em toda a sua vida futura. Breve Biografia de Melanie Melanie Klein (Viena, 30 de março de 1882 – Londres, 22 de setembro de 1960) foi uma das maiores psicanalistas da história. Seguidora de Freud, com genialidade e amor à verdade erigiu uma escola com pensamentos próprios e distintos. Uma amiga, quando Klein, em 1935, insistia que era uma freudiana, discordou, dizendo: — agora já é tarde; você é uma Kleiniana. Seja como for, Melanie Klein é considerada como uma psicoterapeuta pós-freudiana. São três os pilares fundamentais da Teoria Kleiniana. Primeiramente, existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isto, os objetos, as pessoas e as situações adquirem um colorido todo especial. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido como seio bom, quando amamenta, quanto é percebido como seio mau, quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja. Como é impossível satisfazer a todos os desejos da criança, invariavelmente ela possui os dois registros deste seio: um bom e um mau. Este conceito também é muito importante no estudo da formação dos símbolos e no desenvolvimento intelectual. Em segundo lugar, Melanie Klein admitia que os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida fosse um filme em branco e preto: ou se ama ou se odeia. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o seio bom e odeia o seio mau. O problema é que na fantasia da criança, o seio mau, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e pela destrutividade direcionados a ele. Este medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória. Quando estamos diante de um perigo, como, por exemplo, quando caminhando em um parque e nos defrontamos com uma cobra, temos o instinto de fugir. Esta reação diante do perigo é chamada em Psicanálise de defesa. O conjunto da ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de posição esquizo-paranóide. Enfim, com o desenvolvimento, o bebê percebe que o mesmo objeto queodeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora, nesta fase, o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Este temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de ansiedade depressiva. O conjunto da ansiedade depressiva e as respectivas defesas do ego é chamado por Klein de posição depressiva. O conceito de posições é muito importante na Escola Kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. Neste sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase genital), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico do que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não nega esta divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista na Psicanálise. Aliás, é esta palavra que distingue o pensamento kleiniano do freudiano. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizo-paranóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e termina com a morte. Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressões são analisados a partir destas duas posições. Por isto, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso equacionar as ansiedades depressivas e as ansiedades persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Em outras palavras: não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não forem trabalhados os processos que levaram seus surgimentos (ansiedade persecutória e ansiedade depressiva). Na primavera de 1960, Melanie Klein ficou anêmica. Foi operada de um câncer do cólon em setembro. Morreu aos 78 anos, no dia 22 de setembro. Seu corpo foi cremado. Reflexões Kleinianas Desde o início da vida existem relações de objeto. Quando as ansiedades persecutória e depressiva e a culpa diminuem, há menos premência a repetir antigos padrões. O complexo de Édipo1 pode ser claramente observado em crianças de três, quatro ou cinco anos de idade. Este complexo existe, no entanto, muito mais cedo, e está enraizado nas primeiras suspeitas que o bebê tem de que o pai tira dele o amor e a atenção da mãe. Há grandes diferenças entre o complexo de Édipo da menina e o do menino, que eu caracterizarei dizendo apenas que enquanto o menino, em seu desenvolvimento genital, retorna ao seu objeto original, a mãe, e, portanto, busca objetos femininos, com conseqüentes ciúmes em relação ao pai e aos homens em geral, a menina deve, em alguma medida, se afastar da mãe e encontrar o objeto de seus desejos no pai e, mais tarde, em outros homens. Fiz esta exposição, no entanto, em uma forma demasiado simplificada, porque o menino se sente atraído pelo pai e se identifica com ele e, portanto, um elemento de homossexualidade faz parte do desenvolvimento normal. O mesmo se aplica à menina, para quem a relação com a mãe e com as mulheres em geral nunca perde a importância. O Complexo de Édipo, assim, não é apenas uma questão de sentimentos de ódio e rivalidade dirigidos a um dos pais e amor dirigido ao outro: sentimentos de amor e o sentimento de culpa também entram em conexão com o progenitor rival. Assim, muitas emoções conflitantes centram-se no Complexo de Édipo. A imagem que você projetar de si no espelho é a mesma que os outros estão vendo. Agora sorria e perceba como tudo se transforma à sua volta. O que faz com que alguém se torne atraente e popular não é a aparência, acredite. É a auto-estima. Na gratificação alucinatória, ocorrem dois processos interligados: a evocação onipotente do objeto e situações ideais e o igualmente onipotente aniquilamento do mau objeto persecutório e da situação dolorosa. Estes processos se baseiam na divisão do objeto e do ego. Informação é resistência ao choque. Informe-se. Com a repressão moderada, o inconsciente e o consciente têm mais possibilidades de se manterem 'porosos' em suas relações mútuas e, portanto, aos impulsos e seus derivativos, e é permitido, em certa medida, emergirem repetidas vezes do inconsciente e se sujeitarem a um processo de seleção e rejeição pelo ego. A escolha dos impulsos, das fantasias e dos pensamentos que têm que ser reprimidos depende da crescente capacidade do ego para aceitar os padrões dos objetos externos. O segredo da vida é, acima de qualquer coisa, procurar evoluir, pois tudo tem dois lados e um porquê! Mesmo que uma flor morra, outra nascerá no lugar. Embora não seja igual, ela exalará o mesmo odor. Os outros vêem você como você se vê. Meu trabalho psicanalítico me convenceu de que quando na mente do bebê os conflitos entre amor e ódio surgem, os medos de perder o ser amado se tornam ativos. A cura da neurose infantil é a melhor profilaxia contra a neurose do adulto. O jogo é uma realização de desejo. Em minha experiência, aparece nas crianças uma plena neurose de transferência, de maneira análoga como surge nos adultos. Quando analiso crianças, observo que seus sintomas mudam, que se acentuam ou diminuem de acordo com a situação analítica. Observo nelas a ab-reação de afetos em estreita conexão com o progresso do trabalho em relação a mim. Observo que surge angústia e que as reações da criança são resolvidas no terreno analítico. Pais que observam seus filhos cuidadosamente e com freqüência me contam que se surpreendem ao ver reaparecer hábitos que haviam desaparecido há muito tempo. Não encontrei crianças que expressem suas reações quando estão em sua casa da mesma maneira que quando estão comigo: em sua maior parte reservam a descarga para a sessão analítica. Certamente, ocorre que, às vezes, quando estão emergindo violentamente afetos muito poderosos, algo da perturbação se torna chamativo para os que rodeiam a criança, mas isto só é temporário e tampouco pode ser evitado na análise de adultos. Acredito que o ego seja incapaz de dividir objetos – internos e externos – sem que haja uma correspondente divisão ocorrendo dentro do ego. Se extinguirmos o método freudiano de respeitar o ambiente analítico e respondermos ao material da criança com interpretações, prescindindo de toda a medida pedagógica, a situação analítica se estabelece igual (ou melhor) que no adulto, e a neurose de transferência, que constitui o âmbito natural de nosso trabalho, se desenvolve plenamente. É uma parte essencial do trabalho interpretativo se manter em sintonia com flutuações entre o amor e o ódio, ou seja, entre a felicidade e a satisfação, de um lado, e a ansiedade persecutória e a depressão, de outro. A identificação projetiva se liga aos processos de desenvolvimento que surgem durante os três ou quatro primeiros meses de vida (a posição esquizo-paranóide) quando a divisão está no seu máximo e predomina a ansiedade persecutória. O ego está ainda, em grande parte, não-integrado e, por conseguinte, passível de dividir a si, a suas emoções e a seus objetos internos e externos, embora a divisão seja também uma das defesas fundamentais contra a ansiedade persecutória. Outras defesas oriundas neste estágio são a idealização, a negação e o controle onipotente dos objetos internos e externos. A identificação pela projeção implica uma combinação de expelir partes do eu e de projetá-las sobre outra pessoa (ou melhor) dentro dela. Tais processos apresentam muitas ramificações e influenciam fundamentalmente as relações de objeto. As variações na intensidade dos fatores constitucionais acham-se ligadas à preponderância de um ou outro dos instintos na fusão dos instintos de vida e de morte postulada por Freud. Acredito existir uma vinculação entre esta preponderância de um ou outro dos instintos e a força ou debilidade do ego. A ameaça de aniquilamento pelo instinto de morte dentro é a ansiedade primordial.É o ego que, a serviço do instinto de vida – possivelmente chamado mesmo à atividade pelo instinto de vida – desvia, até certo ponto, esta ameaça para fora. Esta defesa fundamental contra o instinto de morte foi atribuída por Freud ao organismo, enquanto que eu considero tal processo como a atividade principal do ego. Embora em várias proporções, há sempre uma interação dos impulsos libidinais e agressivos, correspondendo à fusão dos instintos de vida e de morte. O predomínio dos sentimentos de frustração ou de gratificação nas relações do bebê com o seio é, sem dúvida, largamente influenciado, num sentido ou em outro, pelas circunstâncias externas, mas também restam poucas dúvidas de que os fatores constitucionais, influenciando desde o princípio o robustecimento do ego, têm de ser levados na devida conta. Fiz antes a sugestão de que a capacidade do ego para suportar a ansiedade e a tensão, e, portanto, numa certa medida, para tolerar a frustração, é um fator constitucional. Esta maior capacidade inata para suportar a ansiedade parece depender, basicamente, da prevalência da libido sobre os impulsos agressivos, quer dizer, do papel que o instinto de vida desempenha, desde o princípio, na fusão dos dois instintos. O seio 'bom' que amamenta e inicia a relação amorosa com a mãe é o representante do instinto de vida, sendo também sentido como a primeira manifestação da criatividade. Tudo é possível. A inveja contribui para as dificuldades do bebê em construir seu objeto bom, porque ele sente que a gratificação de que se viu privado foi guardada para si mesmo pelo seio que o frustrou. A inveja é o sentimento irado de que outra pessoa possui e desfruta de algo desejável, sendo o impulso invejoso tirá-lo dela ou espoliá-la. A inveja inconsciente se manifesta no início da infância como inveja primária. Conjuntamente com as experiências felizes, ressentimentos inevitáveis reforçam o conflito inato entre o amor e o ódio, ou na verdade, basicamente, entre os instintos de vida e de morte, resultando na sensação de existirem um seio bom e um seio mau. Em conseqüência disto, a mais primitiva vida emocional se caracteriza por uma sensação de perda e recuperação do objeto bom. Ao falar de um conflito inato entre o amor e o ódio, estou subentendendo que a capacidade tanto para o amor quanto para os impulsos destrutivos é, até certo ponto, constitucional, embora variando individualmente em intensidade e interatuando, desde o início, com as condições externas. Além das experiências de gratificação e frustração derivadas de fatores externos, uma série de processos endopsíquicos – primordialmente, a introjeção e a projeção – contribui para a relação dupla com o primeiro objeto. O bebê projeta os seus impulsos de amor e os atribui ao seio gratificador (bom), assim como projeta os seus impulsos destrutivos e os atribui ao seio frustrador (mau). Simultaneamente, pela introjeção, um bom seio e um mau seio são estabelecidos dentro do bebê. Assim, a imagem do objeto, externo e internalizado, é distorcida na mente infantil pelas suas fantasias, que estão vinculadas à projeção de seus impulsos sobre o objeto. O seio bom – externo e interno – converte-se no protótipo de todos os objetos prestimosos e gratificadores; o seio mau é protótipo de todos os objetos persecutórios internos e externos. A projeção de sentimentos de amor – subjacente no processo de associação da libido ao objeto – é uma precondição para encontrar um bom objeto. A introjeção de um bom objeto estimula a projeção de bons sentimentos, e isto, por sua vez fortalece, pela reintrojeção, o sentimento de posse de um bom objeto interno. À projeção do eu-mau no objeto e no mundo externo corresponde a projeção de boas partes do eu ou de todo o eu-bom. A reintrojeção do bom objeto e do eu-bom reduz a ansiedade persecutória. Assim, a relação com o mundo interno e externo melhora simultaneamente, e o ego ganha em vigor e em integração. No que diz respeito ao ego, o excessivo destaque e expulsão no mundo externo de partes do eu o enfraquece consideravelmente, pois o componente agressivo dos sentimentos e da personalidade está intimamente associado, na mente, com o poder, a potência, a força, o conhecimento e muitas outras qualidades desejadas. Estes processos, presentes desde o início da vida, podem ser considerados de acordo com as seguintes formulações: a) um ego que tem alguns rudimentos de integração e coesão e progride cada vez mais nesta direção. Desempenha também, desde o começo da vida pós-natal, algumas funções fundamentais; assim, usa os processos de divisão e de inibição dos desejos instintivos como defesas contra a ansiedade persecutória – que é sentida pelo ego desde o nascimento; b) relações objetais, que são modeladas pela libido e agressão, pelo amor e o ódio, e impregnadas, por uma parte, de ansiedade persecutória e, por outra parte, pelo seu corolário, a reafirmação onipotente e tranqüilizadora que deriva da idealização do objeto; e c) introjeção e projeção, vinculadas à vida de fantasia do bebê e a todas as suas emoções; conseqüentemente, objetos internalizados de boa e má natureza, que dão início ao superego. Todos estes desenvolvimentos estão refletidos na relação do bebê com a mãe (e, em certa medida, com o pai e outras pessoas). A relação com a mãe como pessoa, que se desenvolveu gradualmente enquanto o seio ainda figurava como o principal objeto, torna-se, agora, mais completamente estabelecida, e a identificação com ela ganha em vigor quando a criança pode perceber e introjetar a mãe como uma pessoa (ou, por outras palavras, como um 'objeto completo'). A formação de símbolo começa tão cedo quanto as relações objetais, e distúrbios na relação com objeto se refletem em distúrbios na formação de símbolo. O impulso para realizar reparações pode ser considerado uma conseqüência da mais profunda percepção da realidade psíquica e de uma síntese crescente, pois revela uma reação mais realista aos sentimentos de pesar, culpa e medo de perda resultantes da agressão contra o objeto amado. Como o impulso para reparar ou proteger o objeto danificado abre o caminho para relações objetais e sublimações mais satisfatórias, incrementa, por sua vez, a síntese e contribui para a integração do ego. A ansiedade relacionada com a mãe internalizada que se sente ter sido danificada, estar sofrendo, em perigo de aniquilamento ou já aniquilada e perdida para sempre, leva a uma identificação mais forte com o objeto lesado. Esta identificação reforça, ao mesmo tempo, o impulso reparador e as tentativas do ego para inibir os impulsos agressivos. Contudo, se o ego for incapaz de enfrentar as múltiplas e severas situações de ansiedade que surgem neste estágio – um fracasso determinado por fatores internos, assim como por experiências externas – poderá, então, ocorrer uma forte regressão da posição depressiva para a anterior posição esquizo-paranóide. Cheguei à conclusão de que o amor e o ódio para com a mãe estão vinculados à capacidade da criança, em idade muito tenra, de projetar todas as suas emoções sobre ela, tornando-a, assim, tanto um objeto bom como perigoso. A introjeção e a projeção, no entanto, embora tenham raízes na infância, não são apenas processos infantis. Constituem parte das fantasias da criança, que segundo me parece também operam desde o começo e ajudam a plasmar sua impressão do ambiente; e pela introjeção este quadro modificado do mundo externo influencia o que se passa em sua mente. Deste modo, estrutura-se um mundo interno que é, em parte, reflexo do externo, isto é: o duplo processo de introjeção e de projeção para a interação entre os fatores externos e internos. Esta interação continua através de cada estágio da vida. Da mesma forma, a introjeção e a projeção prosseguem pela vida afora, e se modificam no curso da maturação; mas nunca perdem sua importância na relação do indivíduo para com o mundo que o cerca. Mesmo no adulto, portanto, o julgamento de realidade jamais está inteiramente isento da influencia do seumundo interno. Uma das características das relações esquizóides é um acentuado artificialismo e falta de espontaneidade, a par de um grave distúrbio do sentimento do eu ou da relação com o eu. Por outras palavras: a realidade psíquica e a relação com a realidade externa estão extremamente perturbadas. Uma das muitas experiências interessantes e surpreendentes na análise de crianças é encontrar em crianças muito jovens a capacidade de percepção que, muitas vezes, é muito maior do que a dos adultos. Sentimentos de amor e gratidão surgem direta e espontaneamente no bebê em resposta ao amor e cuidado de sua mãe. A própria experiência de sentimentos depressivos tem, por seu turno, o efeito de provocar a integração do ego, visto facilitar uma crescente compreensão da realidade psíquica e a melhor percepção do mundo externo, assim como a síntese cada vez maior entre as situações internas e externas. À medida que o ego vai evoluindo, se estabelece, gradualmente, a partir desta realidade irreal, uma verdadeira relação com a realidade. Por conseguinte, o desenvolvimento do ego e a relação com a realidade dependerão do grau de capacidade do ego, numa etapa muito recuada, para tolerar a pressão das primeiras situações de ansiedade. Os processos de síntese operam em toda a extensão das relações objetais internas e externas. Compreendem os aspectos contrastantes dos objetos internalizados (início do superego), por uma parte, e dos objetos externos, por outra; mas o ego também é impelido a diminuir a discrepância entre as figuras internas e externas. Em conjunto com estes processos sintéticos, registram-se novos passos na integração do ego, o que resulta em uma coerência maior entre as partes destacadas do ego. Todos estes processos de integração e síntese fazem que o conflito entre amor e ódio atinja sua plena força. A conseqüente ansiedade depressiva e os sentimentos de culpa alteram-se não só em quantidade, mas, também, em qualidade. A ambivalência é agora experimentada, de modo predominante, em relação a um objeto completo. Os passos de integração e síntese descritos resultam em uma capacidade maior do ego em reconhecer a realidade psíquica cada vez mais pungente. Como, fundamentalmente, a tendência reparadora deriva do instinto de vida, traz consigo fantasias e desejos libidinais. Esta tendência participa em todas as sublimações e, deste estágio em diante, constituirá sempre o grande meio pelo qual a depressão é mantida sob controle e diminuída. Além disso, essa atitude mais realista em face da frustração – o que implica que o medo persecutório respeitante aos objetos internos e externos diminuiu – acarreta uma capacidade maior de restabelecimento, quando a experiência de frustração já não se faz sentir. Por outras palavras, a crescente adaptação à realidade – associada às mudanças na ação da introjeção e projeção – resulta em uma relação mais segura com os mundos interno e externo, o que acarreta uma diminuição da ambivalência e da agressão, possibilitando aos impulsos reparadores que desempenhem seu papel. A natureza das fantasias inconscientes e o modo como elas estão relacionadas com a realidade externa determinam o funcionamento psíquico do indivíduo. No funcionamento psíquico, as relações com os objetos externos são mediadas pelas fantasias inconscientes, que dão origem aos objetos internos. Portanto, relações e objetos (ou situações externas) não devem ser simplesmente traduzidas em relações internas. A introjeção e a projeção funcionam desde o começo da vida pós-natal como uma das atividades mais primitivas do ego, que, a meu, ver opera a partir do nascimento. Considerada sob este ângulo, a introjeção significa que o mundo externo, seu impacto, as situações que a criancinha vive e os objetos que ela encontra são experimentados não só como externos, mas são recebidos dentro do eu e se tornam parte da vida interna dela. A vida interna não pode ser avaliada mesmo no adulto sem estes acréscimos à personalidade que se originam da introjeção contínua. O ego existe e opera desde o nascimento, e tem a importante tarefa de se defender contra a ansiedade suscitada pela luta interna. A projeção consiste na capacidade de a criança atribuir a outras pessoas à sua volta sentimentos de diversos tipos, predominantemente o amor e o ódio, sentimentos que, na realidade, são dela, pois derivam da projeção de suas emoções nos outros, principalmente na mãe. Tais processos fazem parte das fantasias do bebê, e levam à formação de um mundo interno, que é parcialmente um reflexo do mundo externo. Neste sentido, os processos de introjeção e projeção contribuem para a interação entre fatores internos e externos, e devem ser considerados como fantasias inconscientes. Os precursores do superego – camadas mais profundas do inconsciente – se organizam desde o nascimento. O objeto não seria sentido como parte da mente, no sentido que aprendemos do superego, como a voz dos pais dentro da mente da pessoa. Este conceito de superego só seria encontrado nas camadas mais superficiais do inconsciente. No entanto, em camadas mais profundas, o objeto interno é sentido como um ser físico, ou, ainda, como uma multidão de seres, que, com todas suas atividades amistosas e hostis, têm abrigo dentro do corpo da pessoa. A criança, muito antes dos quatro ou cinco anos de idade, sofre de fobias. A criança, desde os primeiros meses de vida, demonstra estar à mercê de ansiedades persecutórias, que encontram expressão nas fobias arcaicas. O ambiente tem efeitos extremamente importantes na tenra infância e na infância posterior; mas daí não se pode concluir que, sem um ambiente mau, não existiriam fantasias e ansiedades agressivas e persecutórias. Os processos mentais nascem do inconsciente, a partir das necessidades instintuais. As fantasias são, portanto, expressões mentais dos instintos – uma representação psíquica dos instintos libidinais e destrutivos. Neste sentido, a atividade do fantasiar tem suas raízes nas pulsões, da qual é um corolário. Se encaramos nosso mundo adulto do ponto de vista de suas raízes na infância, ganhamos uma compreensão interna ('insight') da maneira pela qual nossa mente, nossos hábitos e nossos conceitos se estruturaram a partir das fantasias e emoções da mais tenra infância até as manifestações adultas mais complexas e elaboradas. Há mais uma conclusão a ser inferida, ou seja, de que nada que alguma vez existiu no inconsciente perde inteiramente sua influência sobre a personalidade.2 (Grifo meu). As experiências externas são de suprema importância durante a vida. Contudo, muito depende, mesmo na criancinha, das maneiras pelas quais ela vai interpretar e assimilar as influências externas; e isto depende em grande parte da intensidade com que atuam os impulsos destrutivos e as ansiedades persecutórias e depressivas. Ao considerar, do ponto de vista psicanalítico, o comportamento das pessoas no seu ambiente social, é necessário investigar como o indivíduo se desenvolveu desde a infância até a maturidade. Um grupo – seja pequeno, seja grande – consta de indivíduos em um relacionamento recíproco; e, portanto, a compreensão da personalidade é o fundamental para compreender a vida al. (Grifo meu). Na medida que a idealização deriva da necessidade de ser protegido contra os objetos perseguidores, a idealização é um método de defesa contra a ansiedade. É em fantasia que o bebê divide o objeto e o eu, mas o efeito desta fantasia é bastante real, pois conduz a sentimentos e relações (e, mais tarde, a processos de pensamentos) que estão, de fato, desligados uns dos outros. A solidão, como toda estrutura do inconsciente formada no psiquismo, é um resultado freqüente de estruturas vividas nas socializações primária e secundária do indivíduo. O que está na origem da solidão são os seis primeiros meses de vida da criança. Esquizofrenia = divisão. Um fator de desenvolvimento de importância básica é a capacidade do ego prematuro de tolerar a ansiedade. A ansiedade se origina da agressão.O ego tem ainda um outro meio de controlar aqueles impulsos destrutivos que ainda permanecem no organismo. Pode mobilizar uma parte deles como uma defesa contra a outra parte. Deste modo, o id sofrerá uma cisão que é o primeiro passo na formação das inibições pulsionais e do superego. Se uma pessoa normal for posta sob uma grave pressão interna ou externa, ou se ela adoece ou falha de algum modo, podemos observar nela a operação plena e direta das suas situações de ansiedade mais profundas. Introjeções simultâneas de objetos que, de fato, têm uma boa disposição operam em direção oposta e diminuem a força do medo das imagos aterrorizadoras. As tendências destrutivas, cujo objeto é o útero, também são dirigidas com toda a sua intensidade sádico-oral e sádico-anal contra o pênis do pai que estaria localizado lá dentro. A pulsão epistemofílica e o desejo de se apossar do objeto estão intimamente ligados desde muito cedo. As fantasias da menina, em que tenta destruir ambos os pais por inveja e ódio, são a origem do seu mais profundo sentimento de culpa, e, ao mesmo tempo, formam a base das suas mais esmagadoras situações de perigo. No estágio mais arcaico do desenvolvimento do indivíduo, seu ego não está suficientemente apto a tolerar sua ansiedade pulsional e o medo que sente dos objetos internalizados, e tenta se proteger em parte por meio da escotomização e da negação da realidade psíquica. As angústias mais arcaicas são as angústias de aniquilamento. Nenhum sofrimento infligido por fontes externas pode ser tão grande quanto aquele infligido em fantasia por um medo contínuo e avassalador de danos e perigos internos. O medo mais profundo da menina é o de ter o interior do seu corpo assaltado e destruído. O instinto de destruição, sendo dirigido contra o organismo, é um perigo para o ego. A meu ver, é este perigo que o indivíduo sente sob a forma de angústia. Portanto, a angústia nasce da agressividade. A ansiedade evocada na criança pelas suas moções pulsionais destrutivas faz-se sentir no ego em duas direções. Em primeiro lugar, implica o aniquilamento de seu próprio corpo por seus impulsos destrutivos, o que constitui um medo de seu perigo pulsional interno. Em segundo lugar, focaliza seus medos quanto a seu objeto externo, contra quem são dirigidos seus sentimentos sádicos, como uma fonte de perigo. A este respeito, pareceria que a criança reage ao intolerável medo dos perigos pulsionais transferindo o impacto maciço dos perigos pulsionais para o seu objeto, transformando, deste modo, perigos internos em perigos externos. A formação do sentimento de culpa é uma conseqüência direta das pulsões sádico-destrutivas acompanhada das fantasias inconscientes de ter atacado e danificado objetos de que se necessita. O que permite sentir a culpa depressiva é o reconhecimento da diferença entre o sujeito e o objeto. À medida que a integração dos objetos progride, sentimentos tanto de natureza destrutiva quanto amorosa são experimentados por um mesmo objeto, e isto dá origem a profundos e perturbadores conflitos na mente da criança. A posição esquizo-paranóide, na evolução emocional, tende a predominar nos primeiros três a cinco meses, e a posição depressiva posteriormente. A ansiedade mais profunda sentida pelas meninas é o desejo sádico, originário dos primeiros estágios do conflito Edipiano, de roubar o conteúdo do corpo da mãe, ou seja, o pênis do pai. O desenho e a pintura são meios usados para restaurar as pessoas. A ansiedade, que é proeminentemente uma agência inibidora no desenvolvimento do indivíduo, é, ao mesmo tempo, um fator de importância fundamental na promoção do crescimento de ego e da vida sexual. À medida que a relação com a realidade avança, a criança faz uso crescente das relações com seus objetos, e suas várias atividades e sublimações são um auxílio contra o medo do superego e dos impulsos destrutivos. Meu ponto de partida foi que a ansiedade estimula o desenvolvimento do ego. Notas: 1. Segundo Sigmund Freud (1856 – 1939), o Complexo de Édipo verifica-se quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância, quando se dá, então, conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. O conceito foi descrito por Freud e recebeu a designação de complexo por Carl Jung (1875 – 1961), que desenvolveu semelhantemente o conceito de Complexo de Electra (atitude que implica uma identificação tão completa com a mãe que a filha deseja, inconscientemente, eliminá-la e possuir o pai). Interpretação e transferência O principal instrumento do psicanalista é a interpretação com base teórica de referência existencial inconsciente. “No tratamento, comunicação feita ao sujeito, visando-lhe dar-lhe acesso a esse sentido latente, segundo as regras determinadas pela direção e evolução do tratamento”(Laplanche e Pontalis – Interpretação – página 245 – Dicionário da Psicanálise – 4º ed – São Paulo – Martins Fontes Espera-se através da interpretação do analista que o paciente obtenha “insights” que promovam uma nova posição diante de situações passadas, revividas na atualidade através do processo transferêncial. Além da interpretação, outras ferramentas utilizadas pelo psicanalista visando promover elaborações/insights no paciente são o apoio, a sugestão, e o manejo.Etchengoyen destaca três dos instrumentos mais importantes utilizados na Psicoterapia: Informação, o esclarecimento e a interpretação. Informação = algo desconhecido pelo paciente. exemplo: “fumar faz mal a saúde”. Interpretar = dar informação ao paciente sobre sua transferência, e espera-se que através da interpretação o analisando tenha um insight. Esclarecimento = informação técnica; não é transferência do paciente. Tão importante quanto informar, interpretar e esclarecer é a Pontuação: quando o analista deseja chamar a atenção do paciente para um foco que ele (paciente) não esta vendo. Saber pontuar é ensinar o ego a interpretar. Informar, pontuar e esclarecer é mais uma questão dinâmica do que técnica. Para Melanie Klein a transferência opera ao longo de toda vida. “Na medida em que ela começa a abrir caminho dentro do inconsciente do paciente, seu passado vai sendo gradualmente revivido. Desse modo, sua premência em transferir suas primitivas experiências, relações de objeto e emoções é reforçada, e elas passam a localizar-se no psicanalista. Disso decorre que o paciente lida com os conflitos e ansiedades que foram reativados, recorrendo aos mesmos mecanismos e mesmas defesas, como em situações anteriores”. (KLEIN, M. As Origens daTransferência. Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991). Klein nos explica detalhadamente os processos de projeção/introjeção, que iniciam as primeiras relações de objeto (mãe/seio), originando as posições esquizo-paranóide e posteriormente a posição depressiva, objetos bons e maus, amor e ódio, nos dando uma visão clara sobre a transferência: “A transferência origina-se dos mesmos processos que, nos estágios iniciais, determinam as relações de objeto. Desta forma, na análise temos que voltar repetidamente às flutuações entre objetos amados e odiados, externos e internos, que dominam desde o começo da infância”. (KLEIN, M. As Origens da Transferência. página 76 - Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991). É através da transferência negativa que se pode mergulhar profundamente nas camadas inconscientes da mente. Ambas as transferências (positivas e negativas) encontram-se interligadas. “Na transferência o papel do analista pode ser de objeto bom, objeto mau, ambos os pais, bondosos ou perseguidores”. (KLEIN, M. As Origens da Transferência. página 77 - Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991). Psicanalisar CriançasA psicanálise segundo Freud, e uma terapêutica eficaz para o tratamento de neuroses as “neuroses de transferências”, ou seja: histeria de angustia, histeria de conversão e neuroses obsessionais. Em cada uma dessas neuroses o processo de cura se dá na relação do analisado com o analista, que no decurso do tratamento, existe uma produção de uma transferência, operação inconsciente em si mesma, de uma atualização dos desejos inconscientes existentes do analisado sobre a pessoa do psicanalista. Essa transferência e essencial no processo de cura e é o caráter comum em que todas essas neuroses resultam do processo de cura. Qual então seria o motivo pelo qual seria impossível psicanalisar a criança. Segundo a teoria dos estádios, na qual se conduziu o tratamento dessas neuroses em adultos, parece não ser possível uma relação entre a criança e o analista devido ao seu grau de amadurecimento. A tese de Freud e Anna Freud é que o período de latência se situa entre a resolução do complexo de Édipo e a puberdade e sua característica é o recalcamento dos conflitos da primeira infância. Outro aspecto da objeção teórica para se psicanalisar crianças é que a vida da criança está em processo de formação e que seus fantasmas e os seus recalcamentos não se encontram ainda distintas daquilo que os deu origem. Também podemos ressaltar que alem destes obstáculos teóricos seria ainda importante ressaltar o motivo da criança não ser capaz de ter o domínio suficiente da linguagem. E a linguagem no processo psicanalítico se constitui no campo de interpretação imprescindível ao Psicanalista. Obstáculos da teoria Psicanalítica e Mélanie Klein no seu projeto Psicanalítico. Diante de todos esses obstáculos teóricos da psicanálise, Mélanie Klein passa a utilizar um modelo essencialmente pratico que é o de observar a criança. Na pratica o tratamento das neuroses permitiu concluir que a causa determinante das perturbações psíquicas deve ser procurada numa fixação da energia psíquica sobre o que passa a ser uma representação recalcada, associadas às pulsões sexuais infantis, energia que se transforma na produção de sintomas em que as representações recalcadas se manifestam. Portanto na relação criança e analista convêm, pois evitar esta fixação que pode ser originada pelo recalcamento. O próprio Freud reconhece que se trata mais em controlar o desenvolvimento psíquico da criança do que analisar este reconhecimento consiste do apoio pratico através dos trabalhos psicanalíticos com adultos. Função da Analise no Jogo A analise, portanto deve limitar-se a intervir assim que se manifeste no comportamento da criança uma inibição resultante do recalcamento da curiosidade ou de um conflito vivido na angustia. A função da analise em síntese não consiste em impedir o recalcamento, mas em neutralizar os seus efeitos ulteriores,a fim de que a energia psíquica seja novamente utilizada na atividade intelectual. O “Jogo” A técnica do jogo revela os desejos e os fantasmas da criança. O que se chama de Jogo tem primordialmente a função de facultar ao analista o material associativo através do qual se manifestam as representações recalcadas que atuam nas perturbações das crianças. Esta técnica e realizada colocando a criança em uma sala com pouca mobília, onde é observado por um psicanalista, que poderá associar as suas atividades ulteriores, respeitando os princípios de abstinência, que consiste na conduta de cura do analista, que implica em não aceitar os pedidos do analisado e em não permitir uma relação analítica de uma situação que satisfaça os desejos do analisado. No momento que o analisado entra na sala todo o seu comportamento, gestos, palavras, todos os jogos e seus encadeamentos são vistos pelo analista e assumem valor importante de informação. Também é importante a maneira com o analista é associada ao jogo, assim como a inibição do jogo,a narração, os comentários, a manipulação dos objetos, experiências vividas, representações recalcadas, e finalmente o conflito interno que se encontra na base da neurose. Expressões do Jogo Muitos jogos exprimem representação fantasmática de cenas das relações sexuais entre os progenitores que foi quer primitivamente observada, quer imaginada a partir de indícios reais, em função das representações associadas às pulsões sexuais. Outro jogo manifesta-se o desejo de matar o progenitor do mesmo sexo, ou mesmos colocá-lo no jogo, como filho para poder castigá-lo. Assim são frequentemente observado que meninas entre os quatro e os seis anos ,que ao brincarem com suas bonecas passam a identificar esta com a sua mãe,castigando por ter chupado o dedo e também matam-na e depois ressuscitam-na. Também os fantasmas masturbatórios nos meninos são frequentemente observado a sua natureza,tão significativo que Mélanie Klein não tem duvida em ver neles a causa de um eterno jogo,sendo assim a primeira sublimação desta atividade obsessional. Assim os jogos dos meninos com os automóveis e as locomotivas experimentam frequentemente o ato sexual-colisão entre os brinquedos são identificados com os pais mais também a excitação dos órgãos genitais. Assim esse fantasma é através deles, suas expressões arcaicas e simbólicas representadas nos jogos, que dão acesso direto ao inconsciente da criança. Os primeiros traços especificam analise do Jogo - à relação Edipiana. A Relação Edipiana torna-se o primeiro traço especifico da analise das crianças através desta técnica do jogo. Esta técnica evidencia a estreita relação existente entre a vida consciente com a vida inconsciente durante os primeiros anos de vida da criança. Isso explica e evidencia a relativa facilidade com que as crianças aceitam sugestões do analista nas interpretações do seus jogos e consequentemente a rapidez das primeiras melhoras no tratamento das neuroses infantis,pelo menos durante o declínio do complexo edipiano e na fase da entrada de latência. O analista procura então o acesso às organizações inconscientes do psiquismo anterior à resolução da neurose, e esse acesso se operará através das representações recalcadas. Também e bom ressaltar que as neuroses infantis não tem as mesmas manifestações que as neuroses dos adultos,em que os sintomas são facilmente descritíveis. Nas neuroses infantis não e a presença de inibições especificas ou de fantasmas singulares, e nem nas atividades rituais,nos relatos fantásticos ,nos tiques (que muitas vezes são o deslocamento de uma atividade masturbatória obsessional ) certas situações criadoras de angústia – ansiogênica antigas. O que indica a necessidade de submeter a criança a cura é exatamente as manifestações simultâneas de um forte sentimento de culpabilidade. Este sentimento é observável a partir dos três anos de idade e se traduz por um relacionamento profundo da relação edipiana na vida da criança. Um exemplo e o caso da menina que se entrega ao rito de agressão ao analista e esta agressão segue-se um extremo receio: e recusa-se a considerar a mãe da sua boneca,ou seja; não assume desempenhar o papel de mãe. No entanto e bom evidenciar que o analista embora não se dirija ao ego com faz o pedagogo, mesmo assim leva em consideração a sua cooperação para acender ao inconsciente das crianças. Transferência da Psicanálise das Crianças. A doença na criança é apenas uma questão quantitativa (mais ou menos) assim as dificuldades alimentares, terrores noturno,fobias,desinteresse entre outros...podem ser a manifestação de predisposições mórbidas. Quando se torna possível estabelecer, a partir de observação das neuroses infantis,um inventário de sinais sintomáticos,se observa que muitos deles se encontra em crianças que podem ser consideradas “normais”. Portanto a importâncias do jogo e operar uma ampliação;permitir conhecer a que grau da profundidade do psiquismo nascem os fantasmas,reconhecer o tempo e o momento da fixação e diagnosticar com relativa segurança a perturbação que no desenvolvimento que constitui a neurose. Este instrumento de cura tem portanto suas limitaçõese raramente é utilizado a partir do seis anos - limiar teórico do período latente – e só de modo excepcional na puberdade. Para Mélanie Klein a cura das crianças de pouca idade dá lugar a uma transferência negativa nas primeiras sessões e positiva a partir do momento em que se estabelece o relacionamento analítico. A transferência no processo analítico com as crianças traduz a presença de um conjunto de princípios morais de extremo rigor -o superego - deste a idade precoce. Relação Edipiana Klein demonstra que a relação edipiana é muito precoce. A formação do complexo de Édipo e do superego -concomitante- o acontecimento que produz o trauma do desmame conduz simultaneamente ao desencadeamento de pulsões de destruição dirigidas contra o seio materno e ao aparecimento de um sentimento de culpabilidade, resultante da interiorização do objeto frustrante que fundamenta o desenvolvimento ulterior do superego. Se estabelece assim desde os primeiros anos de vida,a ambivalência afetiva da relação com o objeto que, é a essência do conflito edipiano . Em relação ao comportamento agressivo destrutivo da criança,o incentivo ao conhecimento desenvolve-se mesmo antes do surgimento da linguagem a curiosidade manifesta ou latente do quarto ano de vida marca o seu limiar e não o seu nascimento. Em ambos os sexos se opera muito cedo uma identificação com a mãe,que está na origem da fase de feminilidade. No menino manifesta-se muito cedo e até o período de latência um “complexo de feminilidade” que corresponde segundo Klein ao complexo de castração. Em outras palavras significa,à consciência da falta do pênis na menina; sucede assim que o medo da mãe – a qual a criança quis furtar o conteúdo do seu corpo e contra o qual exerce tendências destrutivas – não e menos forte que o medo do pai. Após esta fase o menino se identifica com o pai e passa a rivalizar-se com ele associando ainda de maneira intima, no desejo de possuí-la, tendências destrutivas e tendências reparadoras. Na menina segundo Klein o desejo de receber o pênis,fonte ilimitada de satisfação,seguindo este desejo à frustração constituída pelo desmame. Como resultado desta frustração,o seio se torna objeto de tendências destrutivas e o pênis o bom objeto da satisfação do qual a mãe se apropriou do pênis a priva. Assim se observar que na menina,paralelamente a um desenvolvimento psicossexual mais precoce a presença de um superego,quer dizer;de princípios morais,particularmente rigoroso e sádico. No adulto o acesso à organização genital da libido é mais problemático e mais diretamente submetido às exigências do superego na mulher do que no homem. Mélanie no tratamento analítico das neuroses infantis, portanto insistiu em afirmar que na precocidade das tendências destrutivas, e também pôs em evidência a mesma precocidade do mecanismo de interiorização que está na base do desenvolvimento do superego. Portanto o significado do complexo de Édipo a partir do sexto mês sofreu uma profunda modificação. Conclui-se logo que as primeiras relações objetivas que se adquirem logo ao nascimento determinam essencialmente o desenvolvimento ulterior do psiquismo. Assim a partir do nascimento a criança tem no seio materno o objeto de suas tendências fisiológicas à “pulsão sexual. Do mesmo modo a partir do nascimento a criança,se exerce as pulsões de vida e as pulsões de destruição,e é a partir dos primeiros meses de vida que este fenômeno tem mais força. Assim a partir deste ponto, o fenômeno construtivo da vida psíquica;são o caráter inato das tendências destrutivas ou “sádicas” e o seu investimento imediato no objetivo da frustração. Vida psíquica do recém-nascido. O que determina a vida psíquica do recém-nascido são as satisfações e as frustrações. Ao nascer a criança entra pois em relação com o seio materno,fonte do suprimento da necessidade física,e que ao mesmo tempo é também objeto de satisfação. Porem a mãe,identificada como o seio pelo recém -nascido,nem sempre é gratificante. Isto porque muito antes do desmame, a mãe se recusa a proporcionar a satisfação de que é fonte. E desta forma irrompe as pulsões destrutivas devido a frustração, vivida como uma punição. Este mecanismo da divisão do objeto (fonte de satisfação e frustração) renova-se em todos os estádios ulteriores da evolução para todos os objetos de satisfação. Posição Paranoide O único e mesmo objeto que gratifica e que frustra se divide num bom objeto e num mau objeto, representações das pulsões de vida e de frustrações. Os primeiros quatro meses de vida são aqueles em que as angustias infantis exprimem o medo da destruição pelo mau objeto. Mélanie dar a esta forma de organização da vida psíquica no seu primeiro estádio o nome de “posição paranoide”.Aqui o superego,neste período, provavelmente ele é mais cruel. O) medo de ser destruído pelo mau objeto interiorizado produz na criança o medo de perder objeto gratificante como punição pelos maus tratos exercida contra ele .Cada saída da mãe,cada ausência reproduz esta situação de angústia e produz mecanismos de defesa que definem a “posição depressiva”Este mecanismo de defesa fazem da posição depressiva uma forma de organização da vida psíquica inteiramente semelhante à que apresenta o quadro clinico das psicoses (maníacas depressivas) atualmente conhecidas com transtornos bipolar. A posição depressiva decresce progressivamente no decurso do primeiro ano de vida,quando se forma o complexo de Édipo que modifica a relação da criança com a mãe .Klein utilizou o termo “posição” para designar as duas formas mais antigas da vida psíquica ressalta o caráter repetitivo destes modos de relação de objetos em cada estádio do desenvolvimento ulterior .Em 1934 em artigo atribuído à formação dos estados maníaco-depressivos (bipolar) ,com algumas modificações feitas em 1952 em uma artigo sobre a vida emocional do recém-nascido,em que o termo “posição paranoide – esquizoide” é adaptado,esta teoria do primeiro desenvolvimento psíquico da criança. nunca foi posta em profundidade por Mélanie Klein. Ela passou a insistir sempre no caráter gratuito do sadismo infantil e na realidade fantasmática da “má mãe” Comentário A obra de Mélanie Klein pretendia obter em seus resultados fundamentos relacionados a experiência analítica,na medida em que é acima de tudo uma simbólica,descreve um domínio de relações pautadas à observação positiva. Fica, portanto difícil tanto refutá-la quanto verificá-la, e não sendo qualificada para dar conta de fatos observáveis,desqualifica qualquer observação que pretenda diminuir as suas conclusões .Apesar destas condições extremas refutá-las ou confirmá-las a obra de Klein é no entanto um exemplo;que teve sua origem pedagógica que pretendia evitar desde a infância,através da psicanálise, os problema dos adultos,ampliando a interpretação da vida psíquica cujos condições se estabelecem logo após o nascimento. Klein acaba por descobrir na infância todo o nosso mal estar e de todos os nossos problemas, consequência inevitável de qualquer retorno às origens. Projeção e Introjeção (Melanie Klein) �� A divisão relacionada com a projeção e introjeção. "Como vim a reconhecer, à luz de meu trabalho psicanalítico com crianças, a introjeção e a projeção funcionam desde o começo da vida pós-natal como uma das atividades mais primitivas do ego, que a meu ver opera a partir do nascimento. Considerada sob esse ângulo, a introjeção significa que o mundo externo, seu impacto, as situações que a criancinha vive, e os objetos que ela encontra, são experimentados não só como externos mas são recebidos dentro do eu e se tornam parte da vida interna dela. A vida interna não pode ser avaliada mesmo no adulto sem esses acréscimos à personalidade que se originam da introjeção contínua." (Klein, 1963a, p.6). Klein entendeu que além de desviar o ego do instinto de morte (tanátos), este mecanismo de defesa ( introjeção e projeção) auxilia o ego “a superar a ansiedade e livrando-o do perigo da maldade”. “ amor e o ódio paracom a mãe estão vinculados à capacidade da criança em idade muito tenra de projetar todas as suas emoções sobre ela, tornando-a assim tanto um objeto bom como perigoso. A introjeção e a projeção, no entanto, embora tenham raízes na infância, não são apenas processos infantis. Constituem parte das fantasias da criança, que segundo me parece também operam desde o começo e ajudam a plasmar sua impressão do ambiente; e pela introjeção este quadro modificado do mundo externo influencia o que se passa em sua mente. Desse modo, estrutura-se um mundo interno que é, em parte, reflexo do externo. Isto é, o duplo processo de introjeção e de projeção para a interação entre os fatores externos e internos. Esta interação continua através de cada estágio da vida. Da mesma forma, a introjeção e a projeção prosseguem pela vida afora e se modificam no curso da maturação; mas nunca perdem sua importância na relação do indivíduo para com o mundo que o cerca. Mesmo no adulto, portanto, o julgamento de realidade jamais está inteiramente isento da influência de seu mundo interno." (Klein, 1963, p.7). "Quando alguém se acha inteiramente sob o domínio de situações e relações primitivas, seu julgamento das pessoas e dos fatos estará perturbado. Normalmente, tal vivência das situações primitivas se limita e se retifica pelo juízo objetivo." (Klein, 1952, p.235) A introjeção e a projeção é uma “via de mão dupla” e ocorrem durante a vida toda, mas, tal como todos os outros processos, também estão sujeitas a evolução e desenvolvimento e são influenciadas pelas cada vez mais amplas funções do ego. Seu principal propósito, isto é, obter prazer e evitar a dor, permanece inalterado, mas o que constitui prazer ou dor muda de acordo com a progressão total da pessoa. Os mecanismos de introjeção e projeção têm início sob o predomínio dos instintos orais, mas, a partir do propósito corporal primitivo e egocêntrico de captar ou ejetar ("comer ou cuspir"), desenvolve-se o dar e receber das relações maduras, a função superpessoal da procriação na sexualidade adulta, assim como o intercâmbio sublimado d a criatividade concreta ou abstrata. ( Psique) reparação (psicologia) Reparação é um termo psicanalítico criado por Melanie Klein, e assinala um desejo de o bebé restaurar o objeto maternoexistente dentro de si. A reparação é um mecanismo especifico da posição depressiva quando o bebé introjecta o objeto total, unificado, aomesmo tempo bom e mau e simultaneamente amado e odiado. O bebé percebe a mãe como objeto total e separada de sie sente culpa pelos seus fantasmas de destruição e de ataque ao corpo da mãe. Assim, surge o anseio de restaurar ereparar o mal que lhe fez. Pelas fantasias e atividades reparadoras, a criança supera a culpabilidade e as angústias queresultam dos seus fantasmas destrutivos, procurando preservar a integridade do corpo da mãe. Com a reparação, torna-se capaz de experimentar, por exemplo, uma privação sem ser dominado pelo ódio, pois o amor pode restaurar aquiloque o ódio destruiu. Este mecanismo é uma forma de adaptação e permite que o bebé construa e assimile internamenteum objeto estável, o que contribui para o desenvolvimento de um ego saudável. Teoria São três os pilares fundamentais da teoria Kleiniana: Primeiramente existe um mundo interno, formado a partir das percepções do mundo externo, colorido com as ansiedades do mundo interno. Com isso os objetos, pessoas e situações adquirem um colorido todo especial. O seio materno, primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido como seio bom quando amamenta, daí o nome de “seio bom” a esse objeto no mundo interno, quanto é percebido como “seio mau”, quando não alimenta na hora em que a criança assim deseja. Como é impossível satisfazer a todos os desejos da criança, invariavelmente ela possui os dois registros desse seio, um bom e um mau. Esse conceito também é muito importante no estudo da formação de símbolos e desenvolvimento intelectual. Em segundo lugar os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida fosse um filme em branco e preto, ou se ama, ou se odeia. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o “seio bom” e odeia o “seio mau” sendo essa a origem do conceito de "seio bom, seio mau". O problema é que na phantasia da criança, o “seio mau”, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e destrutividade direcionados a ele. Esse medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória. Quando nos defrontamos diante de um perigo, como por exemplo, quando caminhando em um parque nos defrontamos diante de uma cobra, temos o instinto de fugir. Essa reação diante do perigo é chamada em psicanálise de defesa. O conjunto deansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de “posição esquizoparanóide”. Com o desenvolvimento o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Esse temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de “ansiedade depressiva”. O conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas do ego são chamados por Klein de “posição depressiva”. O conceito de posições é muito importante na escola kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. Nesse sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase fálical), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não nega essa divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista em psicanálise. Aliás, é essa palavra que distingue o pensamento kleiniano do freudiano. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e termina com a morte. Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressão são analisados a partir dessas duas posições. Por isso, em uma análise kleiniana, não se trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso “equacionar” as ansiedades depressivas e ansiedades persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Em outras palavras, não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não trabalhar os processos que levaram seus surgimentos (ansiedades persecutória e ansiedades depressiva). ELANIE KLEIN E A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO CENTRADA NA RELAÇÃO DE OBJETO. A Psicanálise de crianças vindo a se ocupar do desenvolvimento passou a personalizar o sujeito na criança e, conseqüentemente, o objeto na mãe. A relação com a mãe passou a ser a matriz de toda uma teoria do desenvolvimento centrada na relação de objeto. Melanie Klein surge, então, como a representante maior desta teoria. Encontramos em Melanie Klein a influência dos trabalhos de Karl Abraham sobre o desenvolvimento da libido à luz das perturbações mentais. Vejamos como se deu esta influência. Mantendo-se numa linha da psicanálise que se baseia no desenvolvimento da relação de objeto, Klein adota de Abraham algumas idéias para a sua própria teoria. Para Abraham (1970), inicialmente, as pulsões que visam a destruição e a expulsão do objeto coexistem, dando lugar, em seguida, às fases em que há o predomínio da ambivalência, e somente mais tarde o sujeito será capaz de amar o seu objeto. Estudando a neurose obsessiva e a psicose maníaco-depressiva, Abraham constatou que em ambos os casos há uma fixação na fase anal-sádica - porém, o paciente depressivo rompe completamente com todas as suas relações de objeto, ao passo que o obsessivo as mantém. Tendo proposto que as fases da organização libidinalfossem subdividas, Abraham observa que existe uma linha divisória entre as duas etapas sádico-anais. O deslize para o nível mais baixo acontecia quando a libido abandonava suas relações de objeto. Abraham sustenta, então, que os analistas não tendem a fazer uma separação nítida entre as afecções neuróticas e psicóticas, isto porque estão cientes de que a libido de qualquer sujeito pode regredir além da linha divisória entre estas etapas sádico-anais. Com isto, Abraham formaliza a importância da relação de objeto na teoria do desenvolvimento libidinal. Voltemos, agora, a Klein. A opção de Klein (1968) por esta abordagem da teoria da libido vislumbra-se nos conceitos por ela criados de posição esquizo-paranóide e posição depressiva. A aproximação não se dá apenas na nomenclatura, mas, também, e em parte, no enfoque dado a organização subjetiva. Klein tomando a esquize, ou seja, a cisão como o que há de peculiar ao sujeito, parte do princípio de que existe um núcleo psicótico em todo sujeito e, assim, vai representar a relação sujeito-objeto a partir dos processos de introjeção e projeção. Para Melanie Klein(1968), a relação de objeto da criança se dá por um objeto parcial privilegiado que é o seio da mãe. É através do mecanismo primordial da introjeção do objeto que se estabelece a relação sujeito-objeto. É a introjeção que possibilitará a projeção deste mesmo objeto dado às fantasias de destruição e aniquilamento ressentidas pelo sujeito. O objeto vê-se, então, dividido em objeto bom sendo, pois, introjetado, e objeto mau, que sofre o mecanismo de projeção, sendo expulso. O sujeito mantém, então, com o objeto uma relação esférica na qual existe um interior e um exterior, um dentro e um fora. Na sua teorização Melanie Klein define que a criança está tão intimamente relacionada ao objeto materno que ela chega a propor posições de acordo com a relação de objeto que impera nelas. Assim, a posição esquizo-paranóide caracteriza-se pela cisão do sujeito envolvido pela ansiedade paranóide que cinde o objeto em bom e mau. Esta posição, inicialmente, de desintegração prepara o caminho para a posterior integração do objeto bom e, por conseguinte, para o triunfo das pulsões de vida próprias a posição depressiva. Estando a mudança de posição associada à relação de objeto da criança, a perspectiva terapêutica criada por Klein vai trabalhar no sentido de buscar a integração através de uma relação de objeto total. O tratamento visa proporcionar que a mãe uma vez percebida como objeto total, possa servir ao processo de integração do sujeito, será pelo manejo da transferência no aqui e agora, que serão explicitadas ao analisante suas defesas contra a integração de sua ambivalência e, conseqüentemente, a sua dependência dos objetos bons. O caso Richard de Melanie Klein (1976) é um bom exemplo. Em meio ao interesse pelas diversas abordagens da relação mãe-criança, em alguns psicanalistas pós-freudianos, descobrimos que o conceito de objeto vai tendo novas definições. Como vimos, há pouco, o objeto em Melanie Klein é cindido em objeto bom e objeto mau segundo as vicissitudes pulsionais a que está sujeito o objeto parcial. O Brincar na Clínica Psicanalítica A criança, ao nascer, vem como um ser frágil, como um ser familiar, inédito. Dessa forma, há a necessidade da reorganização do tempo, do espaço, dos sentimentos e das expectativas. Então, de acordo com a hospitalidade recebida e com a relação desenvolvida entre o novo sujeito, a mãe e o pai (ou quem assuma a função dos cuidadores) estruturarão o psiquismo do sujeito. Nos primeiros meses após o nascimento, a mãe (ou quem exerça a função materna), possui a função de ego auxiliar da criança. Dessa forma, o narcisismo deve ser alimentado pela mãe em relação ao bebê, pois tal investimento é fundamental para a construção de uma auto-imagem positiva. Além disso, é fundamental que a mãe e os demais cuidadores alimentem a questão narcísica não só através do amor, carinho e atenção destinadas à criança, mas também através da estimulação adequada e necessária para o desenvolvimento físico e psicossocial desse sujeito. Entretanto, para a estruturação do psiquismo neurótico, é imprescindível a frustração da questão narcísica no sentido de mostrar para a criança limites e o entendimento de que no mundo não deve imperar somente o seu desejo. Portanto, é através das frustrações que o sujeito irá aprender a canalizar os seus desejos, e assim, poderá desenvolver e vivenciar a ética em relação aos seus desejos e ao outro. As brincadeiras oferecem uma maneira de entrar no universo infantil. Através do brincar, a criança acelera seu desenvolvimento. Através dessa atividade, ela aprende a fazer, a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de instigar curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção. É importante esclarecer que brinquedo, brincadeira e jogo são termos que podem se confundir de acordo com o idioma utilizado. Em Português, brincar refere-se a uma atividade lúdica não estruturada. Segundo Vygotsky (1991), a brincadeira é uma situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos até então impossíveis para a sua realidade. A brincadeira é simbólica, livre, não estruturada e tem um fim em si mesma, pois trata-se da brincadeira pelo prazer de brincar. Entretanto, todo tipo de brincadeira pode estar embutido de regras, pois a criança experimenta e assume as regras pré-estabelecidas e comportamentos baseados nas suas vivências. Dessa forma, o brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, pois os processos de simbolização e representação levam ao pensamento abstrato. O ato de brincar, além de proporcionar um melhor desenvolvimento, pode também incorporar valores morais e culturais, e assim, a criança será preparada para enfrentar o meio social. É através das brincadeiras espontâneas que o ocorre o desenvolvimento da inteligência e das emoções, e assim, as crianças desenvolvem a sua individualidade, sociabilidade e vontades. A brincadeira é importante para incentivar não só imaginação e afeto nas crianças durante o seu desenvolvimento, mas também para auxiliar no desenvolvimento de competências cognitivas e sociais. A participação nas brincadeiras em grupo também representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o desenvolvimento de seu raciocínio lógico. “A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser respeitada. Seu mundo é rico e está em contínua mudança, incluindo-se nele um intercâmbio permanente entre fantasia e realidade” (ABERASTURY, 1992. p. 55). Através das brincadeiras em grupo, a criança aprende a conviver em grupo, desenvolve sentimentos de afetos, respeito. Segundo Melanie Klein (1997), ao brincar, a criança pode representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e expressar seus conflitos inconscientes procurando superar experiências desagradáveis. Os pais ou as pessoas que cuidam da criança têm fundamental influência no desenvolvimento dela, pois é durante muito tempo, o espelho da criança para que ela construa os seus recursos psíquicos para o enfrentamento da vida. Além disso, os cuidadores são os responsáveis por proporcionar a criança meios que estimulem o desenvolvimento da criança como um todo. Através do equilíbrio entre as relações de apego desenvolvidas com os pais e a resolução do Édipo a criança começa a construir a sua personalidade, que também sofre influência da cultura, da forma como a família e a sociedade tratam de forma diferenciada os sexos, os papéis sociais atribuídos. Além dos fatores influenciadores já apresentados, é interessante explicitar que os irmãos e a convivência com outras crianças também influenciam no desenvolvimento psicossocial. A convivência com os irmãos pode influenciar de maneia positiva ou negativa, dependendo da postura dos pais diante dessa situação, principalmenteno que diz respeito a “dividir o que têm” e ao ciúme. A convivência com outras crianças também se desenvolve nesse mesmo viés e também faz parte do mundo social da criança, até porque as crianças demonstram, principalmente após um ano de vida, interesse por pessoas que não são de dentro de casa, especialmente as do mesmo tamanho que elas. O paciente traz para a sessão elementos de experiências oriundas da realidade socialmente sustentada e os usa como elementos de enriquecimento e transformação no campo transicional, com efeitos no mundo interno. A sessão sem que haja alucinação vira um espaço de passagem entre o mundo interno e o mundo externo, com duplo sentido, com potencial de criar ou recriar a transicionalidade infantil. Há interpretação dos fatos externos e internos e até uma manipulação deles a partir da experiência criada na sessão. Em O brincar e a realidade, Winnicott fala de um paradoxo quanto trata de fenômenos transicionais e espaços potenciais. Ele apela contra o intelectualismo: “Minha contribuição é solicitar que o paradoxo seja aceito, tolerado e respeitado, e não que seja resolvido. Pela fuga para o funcionamento em nível puramente intelectual, é possível solucioná-lo, mas o preço disso é a perda do valor do próprio paradoxo. (WINNICOTT, 1975, p.10). Temos, portanto que “o brincar é essencial porque é através dele que se manifesta a criatividade” (Op. cit., p.80). Em Lacan, o brincar é entendido como um ato, surgido como efeito da estruturação significante do Sujeito. O que importa é o brincar e não propriamente o brinquedo, pois o brincar faz a criança querer conhecer o outro. Melanie Klein e Winnicott Teve muitas perdas em sua vida. Perdeu o irmão aos 4 anos de idade, aos 18 perdeu o pai e aos 21 o irmão. Conhece a psicanálise aos 35 anos apenas. Se casa com um engenheiro químico e muda-se para Budapeste. Conhece a obra de Freud e inicia terapia com Ferenczi por um ano e meio. Até então, tinha crises depressivas, relações conturbadas e sumiços. Ferenczi sugere que ela atenda crianças. Seu primeiro paciente é o próprio filho a quem ela se refere como Fritz (seu nome era de fato Erik). Ele tinha 7 anos e dificuldades de aprendizado por razões emocionais. Muda para Berlim e passa a fazer análise com Karl Abraham, que morre em seguida. Klein se isola e cria uma inimiga, Helgh Hellmuth. É convidada a permanecer em Londres depois de uma palestra em que tratou de Fritz. Com a vinda de Freud para Londres, cria-se dois grupos: o de Klein, onde a criança pode ser analisada desde muito cedo, no mesmo modo dos adultos (transferência, inconsciente, etc) e o grupo de Anna Freud que afirmava não haver transferência antes da resolução Edipiana. Klein usava brincadeiras para acessar o inconsciente infantil. Associação livre a partir dos 2,5 anos. A teoria de Anna Freud dá origem à Teoria do Ego (Americana) que visa a adaptação. A teoria de Klein diz respeito a duas pulsões: de vida (gratidão) e de morte (inveja). Enquanto Freud falava de fases de desenvolvimento da libido, Klein falava das posições de desenvolvimento da libido. Posição – conceito que diz respeito a: - ego, objeto, ansiedade e defesas Posição Esquizo-Paranóide (0-5/6 mês) - bebê faz distinção entre bom e mau. - Ansiedade de natureza paranóide. Persecutória. - Objetos parciais: mãe ora é boa, ora é má. O ego já está presente no início da vida, para Klein. É um ego primitivo, arcaico. O mecanismo de defesa da criança nessa fase é (uma idéia de) onipotência, introjeção, idealização, negação, cisão e projeção. A cisão é necessária nesta fase, mas se severa, gera o esquizofrênico. No 5o mês o bebê se intera que ele é um só. Que a mãe é uma só também. Aí consolida-se o ego. Posição Depressiva - ego integrado - objeto total (que ama e também odeia) - culpa (é preciso reparar o estrago) - surgimento da ambivalência - se intera que é um ser separado da mãe - defesa: mania, impotência, melancolia - aqui se dá o início do Complexo de Édipo quando a criança se dá conta que é excluída p. 282 – o objeto bom passa a fazer parte do bebê. O bebê tem uma consciência inata da existência da mãe. p. 284 – a introjeção traz tudo para dentro de si (da criança) p. 288 – a voracidade ligada à introjeção. A inveja também ligada a introjeção (“mamãe não me dá o peito porque ela não quer). Obs – Klein organizou primeiro a posição depressiva depois a esquizo-paranóide Klein afirma que o primórdio do Superego também se estabelece na primeira infância., na posição esquizo-paranóide. Seria então anterior ao complexo de Édipo (contrário a teoria de Freud). Para Klein o complexo de Édipo se dá no desmame. Impulsos sádicos-orais: expressados por meio de agressões. Ao introduzir outros alimentos que não o seio, a criança sente a privação como agressão. Ela então fantasia com agressões de destruição. Impulsos sádicos-anais: a criança defeca e flatula como resposta agressiva para o controle do esfíncter. A mãe traz todo o universo do bebê: ela é o pênis do bebê. Na posição depressiva porém, o pai e a mãe se juntam contra o bebê: pais combinados. Qualquer desconforto, o bebê se sente ameaçado e contra-ataca com suas armas, fezes e flatulência (vulgo pum, peido, gases...que na classe tem muito). Durante nossas vidas, sempre buscamos voltar àquela UNIDADE iniciada no útero e prolongada pela fase esquizo-paranóide até os 6 meses. Nesta primeira fase, esta unidade tem momentos de cisão, até que na depressiva este rompimento é definitivo e causa um sentimento de culpa no bebê. As meninas invejam o pênis do pai. Os meninos invejam o útero materno (por gerar vida). Fase da feminilidade: fase sádico-anal. Desenvolvimento de sentimento pelas fezes. Começa o controle do esfíncter e para de usar fraldas. Freud: castração como temor de perder o órgão sexual Klein: castração como impotência, sensação de ser posto de lado, de não conhecimento. “A mãe é o castrador” Meninas e meninos: primeiro objeto de amor é a mãe. Meninas se dão conta que a mãe não tem o pênis e se vira ao pai que também as rejeitam. Volta de novo à mãe. Luto Freud distinguiu luto de quadro melancólico. Na melancolia, existe a auto-acusação e a punição imposta ao sujeito. Klein (posição depressiva) diz que o bebê se intera da separação da mãe, portanto o luto se refere à posição depressiva (todos os lutos). O quadro maníaco pode ser desenvolvido após um luto. É um mecanismo maníaco-depressivo para não elaborar o luto. A elaboração do luto visa a libertar o investimento do objeto agora ausente. É o desligamento da libido a ele. A criança passa por estágios de luto parecido com os adultos. Luto arcaico – luto pela perda do seio. A busca pelo parceiro é uma tentativa de preencher este vazio primeiro, este luto primário. Relação entre luto adulto e posição depressiva: - o objeto que desperta o luto é o seio da mãe. A mãe se torna atacada - o Édipo começa a se organizar aqui. - Bebê ataca o seio por meio de agressões. - Sentimento de culpa e perda - Preocupação e pesar pelos objetos bons. Objetos internos: construímos pelas experiências de fora, nosso mundo interno. Isto se dá por meios de fantasias permeadas (e inconscientes). Ao internaliza-las se tornam inacessíveis conscientemente pela criança. A idéia de neurose na infância: crianças desenvolvem as fobias (escuro, barulho) para se defender do externo. É parte do desenvolvimento infantil. Ao surgir a posição depressiva, o ego cria instrumentos para lidar com o desejo pelo objeto externo. Mecanismos maníacos. Ansiedade depressiva: medo do ego ser destruído. O bebê idealiza um seio superpoderoso. Esta idealização também esta ligada à negação. A negação de que este seio não é seu. Objetivo do luto: reinstalar o objeto de luto perdido dentro do ego. Donalds Woods Winnicott Eleito duas vezes presidente da sociedade Britânica de psicanálise. Fundador do Middle Group. Segundo ele, trazemos o potencial para o desenvolvimento em nós.Se vai germinar e crescer (ou como isso vai ocorrer) depende do ambiente. Temos uma dependência absoluta, ou seja, se não houver quem cuide de nós, morremos. Caminhamos assim da dependência para a independência. Dependência relativa: emocionalmente, dependemos dos outros. Mãe suficientemente boa: não perfeita, mas que é capaz de oferecer holding (suporte, sustentação) e handling (manejo) que são as rotinas necessárias para o bebê organizar seu mundo. Isso se dá ao apresentar a mamadeira (apresentação do objeto) até que surja a necessidade deste objeto. Estado de preocupação materna primária: capacidade materna de identificar as necessidades do bebê e oferecer o que ele necessita. Não é um estado consciente. A mãe oferece o que recebeu quando bebê. Para Winnicott, tanto o ódio quanto a agressividade faz parte da pulsão de vida. Não há pulsão de morte. Objeto transacional Brinquedos, objetos que a criança leva para todo lugar. É um objeto que ela escolhe e que representa a transição de dependência absoluta para a relativa e depois total. A criança quando acha outras fontes de amor, vai deixando este objeto de lado. É uma ponte do mundo interno para o externo. Noção de falso SELF Algumas pessoas são impedidas de entrar em contato com seu SELF verdadeiro, desenvolvendo assim um falso. A pessoa não entra em contato com seu potencial inato (filme ZELIG, Woody Allen) O analista para Winnicott deve funcionar como a mãe suficientemente boa. Escolhemos nossos objetos de 2 maneiras: - escolha narcísica: por identidade, onde o outro cresce e eu não. - Escolha nacrítica: por apoio Pulsões sexuais X pulsões de auto-conservação: no inicio esses dois se somam resultando a pulsão de vida. A pulsão sexual se apóia na pulsão de auto-conservação ao buscar o alimento no peito. Posição esquizoparanóide Definição: Termo introduzido por Melanie Klein para indicar um ponto no desenvolvimento de relações objetais antes de o bebê haver reconhecido que as imagens da mãe boa e da mãe má, com as quais esteve relacionado, se referem à mesma pessoa. Conquanto a posição esquizoparanóide seja contrastada com a posição depressiva (em que são curadas rupturas na personalidade e no objeto), também existe um movimento oscilatório entre os dois e, na vida adulta, normalmente se pode encontrar uma evidência de ambas as posições. No esquema de desenvolvimento, a posição esquizoparanóide ocorre não importa qual tenha sido o estado de identidade primária que possa ter existido. O "split", ou divisão, a característica da posição esquizoparanóide, não é a mesma coisa que uma "desintegração" do self primário. Nesta última, as várias divisões trazem consigo uma exigência de totalidade e tendem a atuar em direção a uma intensificação da personalidade. A qualidade da angústia nessa circunstância é paranóide (isto é, o medo do bebê, talvez, de perseguição e ataque). Seu meio de defesa é separar de si o objeto (isto é, uma manobraesquizóide). O bebê divide a imagem da mãe de modo a ficar com as boas e controlar as más versões dela. Também se fende dentro de si próprio em virtude da intensa ansiedade causada pela presença de sentimentos aparentemente irreconciliáveis de amor e ódio. Sugeriu-se que a capacidade de resistir a essa divisão é um requisito prévio para qualquer síntese posterior de opostos. Porém, como enfatizava Jung, em primeiro lugar estes devem ser diferenciados; isto é, separados um do outro. A posição esquizoparanóide reflete um estilo de consciência que Jung designava por "heróico", pelo fato de que o bebê tende a se comportar de uma maneira superiormente determinada e orientada para o objetivo.