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� PAGE \* MERGEFORMAT �5�
MUSEU DA LOUCURA
O HOLOCAUSTO BRASILEIRO ATRAVÉS DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO. 
Josileide Marques�
Thiago da Rocha Soares Pires�
RESUMO
O Hospital Colônia de Barbacena MG, fundado em 12 de outubro de 1903, sendo a primeira instituição de referencia com a finalidade em tratamento de transtornos mentais, como tempo o hospital tornou-se um depósito de pessoas excluídas da sociedade sem se quer ter nenhuma deficiência mental eram algemados torturados com procedimentos como eletro choques. Em 1958 a imprensa começa a denunciar casos de maus tratos o que mais tarde vai gerar uma luta por uma reforma manicomial em prol de melhorias no sistema. Em 1980 a instituição ficou conhecida como a “cidade dos loucos” por tratarem os pacientes de forma desumana.
O presente seminário de prática tem como objetivo utilizar para registrar a memória tão pouco conhecida pela sociedade utilizando os veículos de comunicação como criam e promovem a imagem bem como o museu em divulgar o patrimônio e sua memória e compreender porque essa fase irá ser intitulada de “Holocausto brasileiro”.
 
Palavras-chave: Hospital Colônia de Barbacena, loucura, memória, patrimônio,museu, holocausto brasileiro,imprensa.
1 INTRODUÇÃO.
Palco de uma das maiores atrocidades contra a humanidade no Brasil, o hospício conhecido como Colônia, em Barbacena (MG), violou, matou e mutilou dezenas de milhares de internos.
O que era antes um sanatório particular para tratamento de tuberculose passou a ser o primeiro hospital psiquiátrico de Minas, dando assistência para pessoas com todo tipo de problema psiquiátrico.
Com o passar dos anos, o tratamento dispensado aos pacientes passou a ser desumano e degradante, atingindo elevadas taxas de mortalidade. O hospital Colônia tornou-se depósito de doentes e marginalizados, minorias. Alcoólatras, homossexuais, prostitutas, epiléticos, tímidos e até meninas que engravidavam antes do casamento eram mandadas para lá. Aproximados 70% dos pacientes não tinham doença mental alguma. Inevitavelmente, Barbacena ganhou o título de “Cidade dos Loucos”.
Dentro do dessa temporalidade de acontecimentos, os meios de comunicação se apropria dos fatos e denunciam através de fotos, reportagens, documentários e livro. E nesse cenário o papel da imprensa investigativo foi de suma importância cumprindo com grande êxito a missão de preservar a memória do circo de horrores que boa parte dos manicômios representou ao longo da história não só em Minas ou no Brasil.
 
A importância do Museu da Loucura em Barbacena tem como objetivo principal resgatar a história do primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais, o lendário Hospital Colônia de Barbacena. Oferece um espaço para discussão e reflexão acerca das atuais diretrizes no campo da saúde mental. 
O acervo do museu é composto por textos, fotografias, documentos, equipamentos, objetos e instrumentação cirúrgica que relatam a história do tratamento ao portador de sofrimento mental. Além de um espaço físico que conta com cinco salas: a criação e evolução do Hospital Psiquiátrico, descrição das formas de tratamento, o doente mental com a abordagem do preconceito, abandono e descaso do paciente pela família e pela sociedade, a vida dentro do hospício e a representação de um centro cirúrgico com aparelhos utilizados na psicocirurgia, as quais o visitante poderá compreender melhor os caminhos e descaminhos do tratamento psiquiátrico estabelecido em Minas Gerais.
2-HISTÓRICO
No século XIX, o Brasil passava por transformações no campo da esfera política, econômica, social e cultural. Entre 1841 e 1889 tivemos a consolidação do Estado Monárquico conhecido como Segundo Reinado. Seus objetivos principais eram reforçar a figura do Imperador – D. Pedro II, recém coroado – e restaurar o Poder Moderador criado outrora pelo seu pai D. Pedro I. Dessa forma, o Império brasileiro almejava a implantação de novas práticas políticas e institucionais, uma vez que a população aumentava nas cidades de forma desordenada. Com o crescimento das cidades aumentava também os seus problemas de ordem social. Era preciso, portanto, uma série de transformações por parte das autoridades a fim de sanar tais problemas. É neste contexto que a medicina, inspirada no ideal positivista e pelas práticas médicas francesas, vai servir como meio neste processo de transformação, defendendo a moral e o progresso dessa sociedade. Em meio a tantas transformações, uma delas acabou sendo a produção de um discurso que iria qualificar e excluir aqueles que estivessem fora do padrão social da época, identificando-os como loucos. “O doente mental, o excluído do convívio dos iguais, dos ditos normais, foi então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos que não ameaçavam a sociedade”. (GONÇALVES E SENA, 2001, p. 49-50).
Diante desse cenário, de inclusão social surgem espalhados por varias regiões do Brasil diversos asilos, hospícios e mais tarde hospital psiquiátricos para tratamento de transtornos mentais. 
Segundo (ODA E DALGALARRONDO, 2005), Durante o Segundo Reinado não foi apenas o Hospício de alienados D. Pedro II o único responsável pelo tratamento dos doentes mentais. Como a loucura havia se tornado um “problema” de ordem nacional, outras instituições objetivando o tratamento psicossomático foram construídasem algumas províncias brasileiras como, por exemplo: Pernambuco (1864 – Hospício Provisório de Recife-Olinda), Pará (1873 – Hospício Provisório de Alienados), Bahia (1874 – Asilo de Alienados São João de Deus), Rio Grande do Sul (1884 – Hospício de Alienados São Pedro) e Ceará (1886 – Asilos de Alienados São Vicente de Paulo). (ODA E DALGALARRONDO, 2005).
Em 1903 houve uma série de duvidas políticas na questão de onde seria a capital do Estado de Minas Gerais, Barbacena também tinha sido indicada para ser a capital do Estado. Porém com os estudos e as pesquisas, constataram que não tinha recursos hídricos para a implantação de grandes empresas então a cidade ganhou como prêmio um hospital psiquiátrico.
Nesse contexto nasceria o modelo que viria a ser o Hospital Colônia de Barbacena�/ Minas Gerais, construído em terras da Fazenda da Caveira propriedade de Joaquim Silvério dos Reis, a princípio como um sanatório formado por dezesseis pavilhões independentes com capacidade para 200 leitos, o primeiro diretor da instituição foi o Dr. Joaquim Antônio Dutra. O sanatório tinha como finalidade terapêutica tratamento de doentes de febres, doença provocada pela falta de vitamina B1 no organismo, o que provoca fraqueza muscular e dificuldades respiratórias, falta de saúde nervosa ou mental, Ou doenças pulmonares como a tuberculose, como mostra o anúncio do Jornal Diário de Minas, de 23 de setembro de 1889 e relata os tratamentos e serviços prestados aos pacientes da época.
 
Imagem 1 -Recorte do Hotel e casa de saúde Jornal Diário de Minas, de 23 de setembro de 1889.
Sanatório é retratado no anúncio como clinica de Saúde de luxo privada ressalta o fator de estar situado em uma região com clima de montanha o que na época era considerado favorável para a cura da tuberculose por alguns médicos e como um local ideal para o tratamento de doenças psiquiátricas além de outros males Além da vantagem de fácil acesso ao transporte ferroviário para a locomoção dos pacientes. Onde mais tarde se tornaria um hospital de referência consagrado.
 Com o passar do tempo ocorreram a super lotação�, não tinha como dar aquelas pessoas uma condição de dignidade, devido à precariedade o hospital é vendido para o Estado. Nesse período as pessoas que eram indesejadas na sociedade como mães solteiras, os andarilhos, os mendigos, as prostitutas, os alcoólatras, ladrões, grávidas violentadas por seus patrões, meninas que perderam a virgindade antes do casamento, ou seja, todo mundo que era indesejado os familiares colocavam nos trens de doido e mandavam para o Hospital Colônia em Barbacena, transformando em um local de campo de extermínio para aqueles que não se adequavam aos padrões normativos da época ou não atendiam aos interesses políticos de classes dominantes. Ao chegarem ao hospício e logo eram obrigados a entregar suas roupas e rasparem as cabeças. Lá começaram a viver a realidade do inferno. As alimentações dos pacientes muitas vezes eram comidas estragadas, às vezes eram obrigadas a comerem ratos e beber água de esgoto ou urina para não morrerem de fome e de sede. 
As condições de vida dentro da instituição do Hospital Colônia era subumanas, todos eram tratados como loucos mesmo não tendo insanidade mental, muitas vezes espancados e violentado, dormiam sobre um capim onde acabavam dormindo com ratos que os mordiam durante a noite isso sem falar que muitos morrendo de hipotermia devido a invernos rigoroso, eram totalmente sem valor. Por falta de água bebiam água do esgoto ou até mesmo de suas urinas. Abandonados à própria sorte, os internos perambulavam nus e descalços pelos pavilhões e comiam comida servida em tachos, sem colheres. Os pacientes mais rebeldes e os acusados de alguma insubmissão eram mantidos presos em celas gradeadas, algemados dos pés as mãos. Muitos andavam nus ou cobriam-se apenas com trapos. De forma que os tratamentos aplicados ao louco estavam mais interessados na ação em benefícios próprios do que em atender as necessidades daqueles que mais precisavam: os doentes mentais. Por outro lado, tudo o que a sociedade queria era se manter - livre daquela escória nem que para isso fosse preciso trancá-los como animais.
Além de serem forçados a trabalhar manualmente os internos ainda precisavam lidar com estupros, torturas físicas e psicológicas que eram freqüentes dentro do Hospital, pacientes eram submetidos os mais perversos tratamentos, também não eram muito diferentes do tratamento recebido pelos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Os pacientes eram forçados a utilizar medicações fortíssimas, e algumas eram até misturadas para acalmar os pacientes, torturas como os choques elétricos, banhos gelados à noite, pacientes sendo amarrados e amordaçados e ainda passando por lobotomia�, também conhecida como leucotomia. Estima-se que 16 pessoas morriam por dia por causa de fome, frio e doenças. Os cadáveres vendidos para as faculdades de medicina
 é real, as pessoas que morreram aqui na condição de indigência, e esses cadáveres, eram vendidos para as faculdades de medicina, para os anatômicos estudarem.
A situação começou a se modificar a partir do final da década de 1970. Já em 1961, foi
mostrado pela imprensa um trabalho do fotógrafo Luiz Alfredo Ferreira, publicado na revista
O Cruzeiro, onde trazia imagens dos “bastidores” de Barbacena, mostrando um ambiente
hostil e perturbador. Tais imagens deram origem ao livro “Colônia: uma trajetória silenciosa”,
organizado pelo psiquiatra Jairo Furtado Toledo. Mas foi realmente no final daquela década,
em meio ao final da ditadura e inicio da abertura política, é que essas denúncias começaram a
vir com mais freqüência, causando maior impacto na população. Nesse período o país
procurou livrar-se dos fantasmas da ditadura, como maneira de reconquistar os direitos civis e
a democracia. 
  Diante de todas denuncia de atrocidades o Estado se viu pressionado em realizar logo a reforma psiquiátrica. Em 1979 aconteceu o 3º Congresso Mineiro de Psiquiatria em Belo Horizonte, onde foi convidado um psiquiatra italiano chamado Franco Basaglia, ele revolucionou o sistema de assistência psiquiátrica. Franco conheceu o hospício de Barbacena, onde ficou horrorizado comparando o hospital como “Holocausto”. Através destas polêmicas a instituição foi repensada, o governo teve que investir em estrutura física, manutenção, alimentação, medicação, contratação de pessoal, montagem de equipes inter disciplinares. Foi melhorado, evoluíram, as assistentes sociais no sentido de resgatar as possíveis famílias existentes para acolher aquela pessoa que estava com o quadro psiquiátrico estabilizado.
Neste cenário morreram cerca de 60 mil pacientes eram tratados pior que animais, chegando a conclusão que mesmo depois de 128 anos depois, constatamos que o anúncio não chegou a um terço da verdade sobre o que acontecia no “Hotel e Casa de Saúde” em Barbacena. A verdade é que o local hoje guarda tristes memórias da época.
Após todo o processo de reforma psiquiátrica no Brasil, em 1996 o Hospital Colônia fechou e foi reaberto e nomeado de Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) desta vez transformado em um dos seus espaços no "Museu da Loucura”.
2.1-HOLOCAUSTO BRASILEIRO E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
Foi essa realidade que possibilitou a apropriação dos meios de comunicação na representação de investigação do jornalismo dentro de grandes hospitais, os horrores do hospício já tinham sendo denunciados desde 1961 pelos impactantes registros do fotógrafo Luiz Alfredo na revista “O Cruzeiro”, dispostos a denunciar o cotidiano dos internados, atribuindo a Minas Gerais destaque nacional. No decorrer de 1978, o jornalista Hiram Firmino publicou no Jornal Estado de Minas uma série de reportagens intituladas “Nos Porões da Loucura”, tratando da situação das instituições psiquiátricas mineiras, como o Hospital Colônia de Barbacena. Tinha como intenção expor as atrocidades de comedidas em um espaço aparentemente terapêutico,fazendo uma comparação entre o horror e as vivências pessoais, as invocações de socorro, as tentativas de contato dos internos com parentes e amigos, houve portanto, a responsabilidade coletiva na divulgação do ocorrido.
Prosseguindo a mesma concepção de denúncia no ano de 1979 foi lançado o documentário de Helvécio Ratton, que se chamou “Em nome da razão- Um filme sobre os porões da loucura”. O documentário de 25 minutos foi filmado integralmente dentro do manicômio de Barbacena onde pela primeira vez que uma câmera cinematográfica esteve dentro de um manicômio no país. Helvécio percorria todos os pavilhões e ambientes do hospital, cenário onde a única realidade dos internos como: homens, mulheres, crianças, idosos, portadores de debilidades físicas e mentais compartilhavam o chão e a dor do desprezo da sociedade. O diretor do hospital ainda diria que o objetivo do hospital nunca foi à cura ou a recuperação, mas sim o controle.
Conforme Viviane Borges (2012, p. 126), a loucura se tornou também um fantasma a ser expurgado, e isso ocorreu graças à grande divulgação dessas reportagens denúncia, onde se mostrava o interior e o cotidiano não apenas de Barbacena, mas das instituições psiquiátricas espalhadas pelo país.
A imprensa teve contribuição fundamental para a Reforma psiquiátrica no Brasil, pois através de suas denúncias a sociedade tomou conhecimento. O psiquiatra italiano e pioneiro da luta pelo fim dos manicômios Franco Basaglia conta que em 1979, esteve no Brasil e conheceu a colônia, chamou a imprensa e declarou: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em nenhum lugar do mundo, presenciei uma tragédia como esta”. (Arbex,2013,p.14).
Em 2009, a jornalista mineira Daniela Arbex teve contato com fotografias históricas feitas em 1961 por Luiz Alfredo Ferreira, repórter da revista “O Cruzeiro”. A partir de então em 2011 sua história, começava a ganhar forma. Da mesma forma que sentimos em relação ao Holocausto aplicado contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, Arbex tinha o sentimento de que todos precisavam saber o que havia acontecido naquele lugar, para que jamais voltasse a se repetir. 
A jornalista Daniela Arbex resgatou essa história onde documentou e transformou essas memórias em um livro-reportagem, contendo depoimentos de grande variedade de fontes, como pessoais, documentais; fotografias, incluindo a reportagem sobre o Hospital Colônia. Diante de tanto atributos o livro consagrou no best-seller, o “Holocausto Brasileiro”, que relata a história de ex-internos, familiares e funcionários do Hospital Colônia, em Barbacena, um dos maiores manicômios do Brasil e pioneiro no movimento da reforma psiquiátrica no Brasil. Ao abordar a história a autora reproduz o cenário de crueldade e genocídio cometido sistematicamente pelo Estado brasileiro, com a participação dos médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade.
 Um genocídio é o extermínio proposital de uma comunidade, um grupo, uma raça. Ocorreu um genocídio no Brasil durante todo o século XX, que teve como cúmplices o Estado e a sociedade, pois "O descaso diante da realidade nos transforma em prisioneiros dela. Ao ignorá-la, nos tornamos cúmplices dos crimes que se repetem diariamente diante de nossos olhos." (ARBEX, 2013, pág. 255).
Devido a todos esses acontecimentos macabros o holocausto se confronta com o massacre contra os judeus na Segunda Guerra Mundial, mas de fato a Colônia realmente era um ambiente comparado um campo de concentração em toda a sua perversidade. E nesse cenário que o papel dos meios de comunicação foi de suma importância, cumprindo com grande êxito a missão de preservar a memória do circo de horrores que boa parte dos manicômios representou ao longo da história não só em Minas ou no Brasil.
2.3-MUSEU DA LOUCURA. 
Conforme Lucimar Pereira, coordenadora técnica do Museu, desde a sua criação:
Em fevereiro de 1987 uma nova Exposição é montada no Palácio das
Artes em Belo Horizonte, também com fotos, documentos,
reportagens, objetos e instrumentos sobre o antigo Hospital Colônia.
Essa Exposição ficou marcada como uma espécie de pedra
fundamental do projeto de criação do Museu. O objetivo seria o
resgate da história da assistência psiquiátrica pública em Minas
Gerais e ainda servir como centro de documentação e pesquisa na
área da psiquiatria. Assim iniciam as negociações para a instalação
do museu (PEREIRA, 2011, p.35).
Com a parceria da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e a fundação Municipal de Cultura de Barbacena (Fundac), elaboraram o projeto de um museu chamado “Memória Viva”, onde sua instalação seria no Torreão do hospital construído em 1922.
Em 16 de agosto de 1998 foi inaugurado o Museu da Loucura com o objetivo de resgatar a história da cidade e o lendário Hospital Colônia.
 
 Museu nas dependências do maior hospital psiquiátrico brasileiro nos permite compreender que memórias ligadas ao sofrimento são interpretadas através de um discurso político que ao torná-las pública despertam reflexões sobre as fronteiras entre a loucura e a razão. O museu tem a função de resgatar a memória do povo com o objetivo de que deve ser lembrado de forma exclusiva. Como alegoria do discurso da Reforma Psiquiátrica, o Museu atua através de um discurso de não ser esquecido, para que “o passado de horrores e equívocos nunca volte a acontecer novamente.
A composição do museu é separada por sete salas onde são distribuídos vários objetos do acervo. Sendo assim o primeiro cômodo localiza-se o Torreão: Hall de entrada, contando com a recepção do Museu. 
Na segunda sala do museu constam relatos da criação e evolução do Hospital de Assistência aos Alienados de Minas Gerais como fotos de trabalhadores que construíram o hospital colônia, há também uma linha do tempo com fotos marcantes e alguns objetos pessoais de Joaquim Dutra , fundador do hospital.
Na terceira sala à esquerda bem de frente com a entrada nos deparamos com os uniformes usados pelos pacientes os chamados “azulões” que a partir de seu uso se tornava sua identidade, há também fotos de pacientes na parede e bonecos feitos por eles (um desses bonecos possuía algemas) confeccionados para suas distrações uma vez que todos os seus pertences eram recolhidos na sua entrada inclusive seus documentos pessoais.
A na quarta sala apresenta a cozinha com vários utensílios preso no teto e uma fotografia ao fundo mostrando os horrores vividos naquele ambiente.
A quinta sala é a representação de um centro cirúrgico escuro de portas fechadas, onde um expositor de vidro mantém um crânio que representa o comercio de cadáveres para as faculdades e diversos instrumentos utilizados no procedimento cirúrgico da lobotomia.
Subindo as escada para o andar superior ao olharmos para cima nos deparamos com a formação de coração formado pelo corredor.
 A sexta sala mostra as produções de reportagens denunciando os casos de tortura e desumanização, propõe aos visitantes uma reflexão a respeito da individualidade e do olhar dos pacientes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, a partir da nova realidade hospitalar. 
A sétima e última sala abriga exposições temporárias.
 Segundo (MENESES, 1994, p. 14) faz reflexão a respeito deste acervo que permite pensar seu valor patrimonial.
os museus não serão espaços anacrônicos e nostálgicos, receosos
de se contaminarem com os vírus da sociedade de massas, mas
antes, poderão constituir extraordinárias vias de conhecimento e
exame dessa mesma sociedade. Serão, assim, bolsões para os
ritmos personalizados de fruição e para a formação da consciência
crítica, que não pode ser massificada (MENESES, 1994, p. 14).
A criação do Museu e a exibição de peças do cotidiano psiquiátrico enquanto objetos musicológicos evidenciam uma nova sensibilidade em relação à loucura. Tais objetos não servem mais paraagredir, prender, punir, uniformizar, ou legitimar um diagnóstico, eles não atendem mais as suas funções originais, eles passaram a ser valorados como vestígios de um passado doloroso. Os usos públicos e políticos dessa memória ligada à dor indicam uma perspectiva mais ampla, configurando uma memória á dor que indica uma perspectiva mais ampla, configurando uma memória que procura apresentar todas as instituições psiquiátricas brasileiras e os vividos por seus internos aos longos dos anos. Tal discurso pretende acertar as contas com um passado perturbador, tornando memorável não os acontecimentos propriamente ditos, mas reconhecendo e difundindo o sacrifício dos envolvidos, e mais que isso, suas atitudes de resistência à dor e a homogeneização do sofrimento existência que caracteriza algumas instituições de internamento, exercendo uma função social em que recordar assegure a transmissão do sentido memorável atribuído às tragédias e às experiências traumáticas (JEUDY, 1995, p. 59).
CONCLUSÃO
Diante dos fatos não podemos esquecer que o Hospital Colônia faz parte da nossa história, que representa a omissão coletiva de toda a sociedade brasileira. Porém mesmo com o papel cultural e social do museu da loucura em preservar a memória das atrocidades para conscientizar e nos despertar para refletirmos sobre a loucura.
Porém mesmo com o passar dos anos notamos que o descaso continua sendo realidade nos nossos dias atuais, pois a reforma psiquiátrica, que teve como principal objetivo substituir as internações por um tratamento mais humanizado dos pacientes com transtornos mentais não deu certo porque o Sistema Único de Saúde (SUS) não conseguiu multiplicar as experiências positivas como os Centros de Ação Psicossocial (CAPs)  que só não funciona bem por falta de investimentos. Dados do Ministério da Saúde revelam que ainda existem no Brasil 59 hospitais psiquiátricos públicos funcionando no modelo antigo de tratamento e outros 160 credenciados ao SUS. 
Isso comprova que ainda vivemos e pensamos como a um século passado. Devemos lutar para o fechamento de manicômios como o Hospital da Colônia, mas sempre nos preocupando entender que a doença mental não requer necessariamente o isolamento total do doente em sua exclusão na sociedade, e também compreendo que a participação de todos é fundamental para que a mudança e o progresso se instalem de fato.
.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
ARBEX, Daniela. Holocausto brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
GONÇALVES, Alda Martins; SENA, Roseni Rosângela de. A reforma psiquiátrica no Brasil: contextualização e reflexos sobre o cuidado com o doente mental na família. Rev. Latino-am Enfermagem, São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto / USP, v. 9, n. 2 mar. 2001, p. 49-50.
JEUDY, Henri-Pierre. Patrimônio e catástrofe. In: Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa
da Palavra, 1995. p.59.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Do teatro da memória ao laboratório da História: a
exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v.2,
p.14-19, jan./dez. 1994.
PEREIRA, Lucimar. Memórias da loucura: o papel do Museu na ressignificação do imaginário
urbano. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso MBA Executivo em Saúde.
Pós-graduação lato Sensu, Nível de Especialização Programa FGV-FHEMIG, 2011.
ODA, A. M. G. R; DALGALARRONDO, P. História das primeiras instituições para alienados no Brasil. Rev. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz. v.12, n.3, set.-dez. 2005 p. 983-1010.
https://www.barbacenamais.com.br/gente/66-em-destaque/3502-jornal-de-1889-mostra-materia-sobre-sanatorio-de-barbacena
IMAGEM.
Imagem 1: recorte do Hotel e casa de saúde Jornal Diário de Minas, de 23 de setembro de 1889.
� Acadêmico- Centro Universitário Leonardo da Vinci- Uniasselvi- NEAD- Núcleo de Educação a Distância - História (HID 0583) – Prática do Módulo IV-06/06/2018-Email: josimarques2011@gmail.com.
� - Professor externo - Centro Universitário Leonardo da Vinci- Uniasselvi- NEAD- Núcleo de Educação a Distância.
� Barbacena não foi o único caso mostrado em rede nacional: em 1980, imagens da Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, foram mostradas em rede nacional em horário nobre. O lugar foi apresentado como “cidade dos rejeitados”, um espaço esquecido pela anistia e pelas comissões de direitos humanos. As imagens desvelavam pavilhões insalubre superlotação, descaso.
� A superlotação parece ter sido uma constante nas instituições psiquiátricas de diferentes regiões do país: “Ao fim da década de 1950 a situação já era caótica: o Juqueri abrigava 14 a 15 mil doentes. O mesmo ocorre em Barbacena, onde 3.200 enfermos desdobravam em verdadeira pletora e com o Hospital São Pedro, de Porto Alegre, que acolhia 3.000 e só tinha capacidade para 1.700; os hospitais colônia de Curitiba e Florianópolis, de construção relativamente recente, já atingiam, cada um, a casa dos 800 pacientes, sem que suas instalações comportassem a metade dessa cifra” (RESENDE, 1987, p.54).Sem pretender esgotar o tema, a respeito da superlotação em diferentes períodos e em diferentes instituições ver Machado et al. (1978); Costa (1981); Cunha (1986); Engel (2001); Wadi (2002a, 2009);
� A lobotomia é uma psicocirurgia, uma técnica cirúrgica usada no tratamento das doenças mentais. Foi desenvolvida por Egas Moniz na primeira metade do século XX. Consistia na abertura de orifícios na parte sagital do crânio, para (seccionamento) retirada das fibras nervosas dessa região do cérebro. O procedimento transformava pacientes agressivos em pessoas calmas e apáticas.

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