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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO trabalho carol

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 
Toda decisão judicial deve ser clara e precisa. Daí a importância dos embargos de declaração, cuja interposição visa dissipar a dúvida e a incerteza criada pela obscuridade e imprecisão da decisão judicial.
 De acordo com o art. 382 do CPP, qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão. Por sua vez, segundo o art. 619 do CPP, aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de 2 (dois) dias contado da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.
Hipóteses de cabimento 
Funcionam os embargos de declaração como o instrumento de impugnação posto à disposição das partes visando à integração das decisões judiciais, sejam elas decisões interlocutórias, sentenças ou acórdãos. No âmbito do CPP, são cabíveis quando a decisão impugnada estiver eivada de:
Ambigüidade: ocorre quando a decisão, em qualquer ponto, permite duas ou mais interpretações. Na Lei nº 9.099/95 (art. 83, caput), a palavra “ambiguidade” é substituída pela palavra “dúvida”, que, no fundo, tem o mesmo significado;
Obscuridade: ocorre quando não há clareza na redação da decisão judicial, de modo que não é possível que se saiba, com certeza absoluta, qual é o entendimento exposto na decisão;
 Contradição: ocorre quando afirmações constantes da decisão são opostas entre si. Exemplificando, suponha-se que o juiz reconheça que a conduta delituosa atribuída ao acusado é atípica, por conta do princípio da insignificância. Porém, ao invés de o acusado ser absolvido com fundamento no art. 386, inciso III, do CPP (“não constituir o fato infração penal”), a sentença absolutória é fundamentada no art. 386, inciso VI (“existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena, ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência”)
 Omissão: ocorre quando a decisão judicial deixa de apreciar ponto relevante acerca da controvérsia. A título de exemplo, suponha-se que o juiz tenha deixado de fixar o regime inicial de cumprimento da pena.
Os embargos de declaração também podem ser utilizados com fins de pre questionamento. Como se sabe, para fins de admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial, é indispensável que a matéria tenha sido discutida nas instâncias inferiores. Daí a importância dos embargos de declaração com fins de prequestionamento. Afinal, consoante dispõe a súmula nº 356 do STF, “o ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios não pode ser objeto de recurso extraordinário por faltar o requisito do prequestionamento”.
Prazo
 Quanto ao prazo para a interposição, os arts. 382 e 619 do CPP prevêem que os embargos de declaração opostos na 1ª e na 2ª instância estão submetidos ao prazo de 2 (dois) dias. Segundo o art. 263 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, aos acórdãos proferidos pela Corte Especial, pelas Seções ou pelas Turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de 5 (cinco) dias, em se tratando de matéria cível, ou no prazo de 2 (dois) dias, em se tratando de matéria penal, contados de sua publicação, em petição dirigida ao Relator, na qual será indicado o ponto obscuro, duvidoso, contraditório ou omisso, cuja declaração se imponha. Nos Juizados Especiais Criminais, o prazo é de 5 dias (Lei nº 9.099/95, art. 83, § 1º), mesmo prazo a que estão submetidos os embargos de declaração no Supremo Tribunal Federal (Regimento Interno do STF, art. 337, § 1º).
Procedimento
 Em relação à forma de interposição, os embargos de declaração devem ser opostos por petição já acompanhada das respectivas razões. Não se admite sua interposição por termo nos autos. Se opostos contra sentença, deverão ser endereçados ao próprio juiz prolator da decisão impugnada; na hipótese de acórdãos, os embargos serão dirigidos ao desembargador relator. No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, os embargos de declaração podem ser opostos por escrito ou oralmente (Lei nº 9.099/95, art. 83, § 1º). Pelo menos em regra, não há necessidade de intimação da parte contrária para apresentação de contrarrazões, porquanto os embargos de declaração visam apenas a esclarecer obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão da decisão impugnada. No entanto, na hipótese de embargos de declaração com efeitos infringentes, ou seja, aqueles que, diante da apreciação de ponto omisso da decisão, podem provocar a modificação do sentido do decisum, doutrina e jurisprudência são uníssonas em afirmar à necessidade de se intimar a parte contrária para apresentar contrarrazões, em fiel observância ao princípio do contraditório.
Efeitos quanto aos demais prazos recursais 
No tocante aos efeitos em relação ao prazo dos demais recursos, prevalece o entendimento de que, diante do silêncio do CPP acerca do assunto, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Civil, que prevê que a interposição dos embargos de declaração interrompem o prazo para o recurso cabível, que só começará a fluir, integralmente, após a decisão dos embargos. A propósito, o art. 1026, caput, do novo CPC, prevê que os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso. Nessa linha, como já se pronunciou o STJ, os embargos de declaração, tempestivamente apresentados, interrompem o prazo para a interposição de outros recursos.
Essa interrupção do prazo para interposição de outros recursos ocorrerá ainda que os embargos de declaração não sejam acolhidos. Todavia, se os embargos de declaração não forem conhecidos, em virtude, por exemplo, da intempestividade, não haverá a interrupção do prazo para oposição dos outros recursos. O início do prazo recursal terá tido início, portanto, no primeiro dia útil subsequente à intimação da decisão embargada.
Na mesma linha, quando os embargos de declaração forem reconhecidos como meramente protelatórios, não se deve conceder aos mesmos a interrupção, nem tampouco a suspensão do prazo de outro recurso, pois se estaria premiando a manobra fraudulenta (v.g., Regimento Interno do STF, art. 339, caput, e § 2º). A propósito, segundo a súmula 98 do STJ, “embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não tem caráter protelatório”.
Novamente, há de se prestar atenção às diferenças entre os embargos regulamentados pelo CPP e aqueles previstos na Lei dos Juizados Especiais Criminais. Isso porque, nos Juizados,quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso (Lei nº 9.099/95, art. 83, § 2º), ou seja, julgados os embargos, o prazo para eventual apelação voltará a ocorrer pelo tempo que faltava. Perceba-se que o art. 83, § 2º, da Lei nº 9.099/95, refere-se apenas aos embargos declaratórios opostos contra sentença. Logo, a suspensão do prazo recursal não se aplica aos embargos opostos contra acórdão de Turma Recursal: aqui, o efeito será a interrupção do prazo para interposição de outro recurso, aplicando-se, por analogia, o quanto disposto no art. 538 do CPC (art. 1026, caput, do novo CPC).
Quanto aos embargos de declaração no âmbito do STJ, o art. 265,caput, do RISTJ prevê que sua oposição acarretará a suspensão do prazo para a interposição de recursos por qualquer das partes. Por sua vez, no âmbito do Supremo, os embargos de declaração suspendem o prazo para interposição de outro recurso, salvo quando reconhecido seu caráter protelatório (RISTF, art. 339, caput, e § 2º).
 AGRAVO EM EXECUÇÃO 
De acordo com o art. 197 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), das decisões proferidas pelo juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo. Portanto, tratando-se de decisão proferida pelo juízo das execuções, o recurso adequado será o agravo em execução.
 Hipóteses de cabimento
Considerando que o recurso de agravo em execução é oinstrumento adequado para a impugnação das decisões proferidas pelo juízo das execuções, parece-nos que, antes mesmo de analisarmos as peculiaridades desse recurso, é de fundamental importância relembrar a competência do juízo da execução.
 Acerca do assunto, o art. 66 da LEP preceitua que compete ao Juiz da execução: I – aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado; II – declarar extinta a punibilidade; III– decidir sobre: a) soma ou unificação de penas; b) progressão ou regressão nos regimes; c) detração e remição da pena; d) suspensão condicional da pena; e) livramento condicional; f) incidentes da execução. IV – autorizar saídas temporárias; V – determinar: a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução; b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade; c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos; d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por medida de segurança; e) a revogação da medida de segurança; f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior; g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca; h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei. VI – zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança; VII– inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade; VIII– interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta Lei; IX– compor e instalar o Conselho da Comunidade. X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.
 Ainda em relação à competência do Juízo da execução, convém lembrar que tem sido admitida pelos Tribunais a concessão antecipada de benefícios prisionais ao preso cautelar, enquanto se aguarda o julgamento de recurso interposto pela defesa, mas desde que tenha se operado o trânsito em julgado da sentença condenatória para o Ministério Público, pelo menos em relação à pena (princípio da non reformatio in pejus – CPP, art. 617). Prova disso é o teor da súmula nº 716 do STF: “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória”.
 Nesse caso, a quem compete a concessão dos benefícios: ao juízo da condenação ou ao juízo da execução? Uma primeira corrente entende que a competência é do Juiz da condenação. Prevalece, todavia, o entendimento de que a competência é do Juízo da Execução Penal. Destarte, na hipótese de haver decisão referente à concessão antecipada de benefícios prisionais pelo juízo da execução (v.g., progressão de regimes ao preso cautelar), o recurso adequado também será o agravo em execução. 
Procedimento
 O art. 197 da LEP nada diz acerca do procedimento recursal do agravo em execução. À época em que a Lei nº 7.210/84 entrou em vigor, houve certa controvérsia acerca do procedimento a ser observado. Parte da doutrina entendia que o procedimento a ser utilizado seria aquele do agravo de instrumento. Prevalece, no entanto, o entendimento no sentido de que devem ser aplicadas, subsidiariamente, as normas procedimentais pertinentes ao recurso em sentido estrito. Afinal, antes de utilizarmos subsidiariamente o Código de Processo Civil, devemos verificar se não há, no próprio Código de Processo Penal, procedimento que possa ser utilizado, tal como ocorre nesta hipótese. Prova disso, aliás, é o teor da súmula 700 do Supremo, que diz que “é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal”.
Destarte, se o procedimento a ser observado é semelhante ao do RESE, conclui-se que o agravo em execução pode ser interposto por petição ou por termo nos autos, facultando-se ao recorrente a apresentação das razões em momento subsequente à interposição, ou, se preferir, sua imediata juntada. 
Nos mesmos moldes que o RESE, o agravo em execução deve subir para o Tribunal competente por meio de instrumento. Daí por que a parte deve indicar, no ato da interposição, as peças dos autos que pretende traslado. 
Prazo
 O prazo é semelhante ao RESE: 05 (cinco) dias para interposição (CPP, art. 586,caput) e 02 (dois) dias para apresentação de razões e contrarrazões (CPP, art. 588, caput).
Efeitos 
Em relação aos efeitos, é sabido que, como todo e qualquer recurso, o agravo em execução também é dotado de efeito devolutivo. Como é aplicável, subsidiariamente, o mesmo procedimento do RESE, conclui-se que o agravo também é dotado de efeito regressivo (diferido ou iterativo), permitindo que o juiz da execução possa se retratar de sua decisão. 
No tocante ao efeito suspensivo, o art. 197 da LEP é categórico ao dizer que o agravo em execução não o possui. Supondo, assim, que o juiz conceda a progressão de regime a preso que se encontrava no regime fechado, transferindo-o para o regime semi-aberto, esta decisão produzirá efeitos de imediato, independentemente da interposição (ou não) de recurso pelo Ministério Público. 
A despeito da ausência de previsão legal de efeito suspensivo, parece-nos ser plenamente possível que o órgão ministerial possa se valer de mandado de segurança para atribuir tal efeito ao seu agravo em execução, impedindo, no exemplo citado, a transferência do preso para o regime semiaberto. Afinal, segundo a Lei nº 12.016/09 (art. 5º, II), não se concederá mandado de segurança quando se tratar de decisão judicial da qual cabia recurso com efeito suspensivo. Ora, se se trata de recurso desprovido de efeito suspensivo, não há por que se negar a possibilidade de impetração simultânea do mandado de segurança com o agravo em execução, a fim de se obter efeito suspensivo a este. 
Essa possibilidade – de se atribuir efeito suspensivo ao agravo em execução por meio de mandado de segurança, apesar da expressa vedação do art. 197 da LEP – é extremamente controversa. Há julgados isolados no STJ admitindo que o MP detém legitimidade subjetiva ativa e interesse processual para interpor mandado de segurança visando obter efeito suspensivo ao Agravo em Execução (art. 197 da CEP), ou qualquer outra medida capaz de produzir tal efeito, mas o seu deferimento depende da presença dos elementos que autorizam a concessão do feito mandamental, quais sejam a plausibilidade de provimento do recurso e o perigo de dano irreversível. Prevalece, por ora, o entendimento de que não é possível, por meio de mandado de segurança, emprestar efeito suspensivo a recurso de agravo em execução interposto pelo Ministério Público com o fim de desconstituir a decisão do juízo das execuções criminais, haja vista sua ilegitimidade ativa ad causam. 
Se, pelo menos em regra, o agravo em execução não é dotado de efeito suspensivo, especial atenção deve ser dispensada ao quanto disposto no art. 179 da LEP, que dispõe que “transitada em julgado a sentença, o juiz expedirá ordem para a desinternação ou a liberação”. Como se percebe, a partir do momento que o dispositivo condiciona a desinternação ou a liberação do agente inimputável ou semi-imputável cuja periculosidade tenha cessado ao trânsito em julgado da referida decisão, é de se concluir que, nesse caso, o agravo em execução é dotado de efeito suspensivo, visto que sua simples interposição tem o condão de impedir o trânsito em julgado, ao qual está condicionada a produção dos efeitos da referida decisão.

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