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1 S u rv iv al K it 2 S u rv iv al K it EDITOR CHEFE ARNO ALCÂNTARA REDAÇÃO E CONCEPÇÃO MARCELA ANDRADE DIREÇÃO DE CRIAÇÃO MATHEUS BAZZO DESIGNER JONATAS OLIMPIO TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - WRL TREINAMENTOS 3 S u rv iv al K it Médico psiquiatra formado pela Universida- de Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou como psiquiatra forense canônico no Tribunal Eclesiástico de São Sebastião do Rio de Janei- ro. Italo já ministrou os cursos “Os 4 tempe- ramentos”, “Afetividade infantil e harmonia familiar”, “Faça a coisa certa” e “Segredos da suplementação”. Atualmente, além de atender como psiquiatra em seu consultório particular no Rio de Janeiro, Italo se dedica à produção de conteúdo para o seu canal no Youtube, tendo recebido o prêmio Digital Awards Brasil 2018, na categoria Redes So- ciais. Italo é pai de 6 filhos (and counting…). D r. Ita lo M ar si li 4 S u rv iv al K it EM 2019, QUERO QUE VOCÊ TENHA A OUSADIA DE MUDAR......................... PARE DE FAZER FOFOCA E RECLAMAR DAS COISAS!...................................... VOCÊ SE SENTE DESVALORIZADO? ENTÃO PRECISA LER ISTO.................................... EM BUSCA DE SENTIDO E DA MELHOR PERFORMANCE............................ COMECE O DIA COM PRESENÇA........................................................ VOCÊ TEM ANDADO COM PESSOAS INVALIDADORAS?................................ COMO GERAR ENERGIA NO DIA A DIA................................................................ COMO ACELERAR A CONQUISTA DOS SEUS OBJETIVOS........................................... RECEITA PARA NÃO SE FRUSTRAR COM OS OBJETIVOS DE ANO NOVO................ SU M Á R IO 5 13 23 36 46 60 74 87 96 5 S u rv iv al K it DE MUDAR Não passam de traidores nossas dúvidas, que nos privam, por vezes, do que fora nosso, se não tivéssemos receio de tentá-lo. - William Shakespeare - “Medida por medida” As oportunidades passam na nossa frente de vez em quando. Quando elas passam, você tem duas opções: ou você se caga nas calças, ou você as agarra. - Mairo Vergara - ou EM 2019, QUERO QUE VOCÊ TENHA A OUSADIA 6 S u rv iv al K it Vou confessar uma coisa para vocês: eu adoro planejamento de ano novo. Se, por um lado, a diferença entre o dia 31 de dezembro e o dia 1º de janeiro é de apenas uma folhinha no calendário, por outro, é importante estarmos inseridos nesses marcos – seja nos marcos cosmológicos, seja nos marcos civis. Eu sempre reforço a importância de anotarmos as coisas, e agora não é diferente: gostaria que você escrevesse aquelas coisas que você fez bem neste ano, aquelas coisas que você poderia ter feito melhor, e também elegesse dois pontos nos quais você vai bater firme no ano que vem. Então, quero que você escolha duas coisas, duas áreas, em que é preciso melhorar, e anote. Essas coisas têm de ser de domínios importantes. Quais são os domínios importantes da vida? Há vários, como a religião, os relacionamentos, a vida financeira, a vida familiar, a vida profissional, a saúde. Preciso que você escolha algum ponto de um desses domínios, para estabelecermos a meta que você vai perseguir diariamente no ano que vem. Por que isso é importante? Porque isso é um símbolo da sua capacidade de mudança. Se eu me acostumo a nunca estar bem disposto, a nunca estar bem, se eu acho que acabo frustrando todas as metas que 7 S u rv iv al K it estabeleço, que, enfim, eu não consigo mudar, isso vai criando um desânimo, e pode entrar no nosso espírito uma predisposição ruim, uma sensação de: “É, estou aqui remando contra a maré, e as coisas não estão indo muito bem”. Aqui está o ponto central: isso NÃO é verdade. Podemos de fato mudar, podemos nos transformar ao longo da jornada da nossa vida, e essa é a nossa tarefa pessoal. Minha tarefa pessoal é ajudar você a se transformar, a sair diferente de quando entrou, a sair melhor. É para isso que estamos aqui. Essa transformação passa por um melhoramento intelectual. Tenho muito conteúdo preparado, de boa qualidade, que transmitirei a você ao longo deste ano. A outra coisa que eu quero de fato dar para você é essa esperança, essa capacidade, essas ferramentas de mudança pessoal para ajudar no amadurecimento da personalidade e no controle da emotividade. O sentido de tudo isso é ir preparando nosso intelecto para que a nossa personalidade, a nossa vida, a nossa biografia faça sentido no final de tudo. Então eu quero que você escolha dois pontos e os anote, para ir conferindo ao longo do ano que se inicia. 8 S u rv iv al K it Como exemplo de metas que você pode se propor, temos, por exemplo, aquelas que mudem o nosso jeito, o nosso mau jeito. Pessoas, por exemplo, mal-humoradas, pessoas que têm dificuldade de ser simpáticas. Se você é assim e acha que isso atrapalha sua vida, pode se propor um belo exercício: sorrir para as pessoas antipáticas, por exemplo. Ou então, para aqueles que acordam de mau humor, estabelecer como meta acordar sorrindo. Ora, não há razão para acordar de mau humor. A vida é um dom, é o lugar que nos foi dado para poder agir, servir aos outros, para que possamos desenvolver nossa biografia, nossa personalidade. Por que ter mau humor nesta vida? Uma meta para os mal-humorados, então, pode ser esta: acordar sorrindo. Alguns vão dizer que isso é artificial, mas a verdade é que, quando mudamos o nosso estado biológico, quan- do mudamos a forma como fazemos as coisas exte- riormente, ativamos mudanças bioquímicas, o nosso estado muda. É uma via de mão dupla: quando muda- mos nosso estado de espírito, mudamos nosso com- portamento; muitas vezes, quando mudamos nosso comportamento, mudamos nosso estado de espírito. Muitas vezes é mais fácil mudar o comportamento, acordar sorrindo e falar: “Hoje serei bem-humorado. As pessoas que estão ao meu redor não merecem que eu seja intratável, eu não mereço ser assim”. Essa pode ser uma meta. Outra meta possível é melhorar inte- lectualmente. Separe um tempo diariamente para a 9 S u rv iv al K it leitura, ou para assistir a um podcast, além deste, que possa de fato acrescentar um valor em sua vida. Banho frio e não reclamar não são metas de ano novo; são metas de vida. Isso é para fazer sempre, todo dia, todo ano. Não tente parecer bonitinho ao escolher os pontos de melhora. Olhe sinceramente para onde você precisa melhorar. Seus pontos de melhora podem parecer bobos, mas isso não importa; eles têm de ser verdadeiros. Também não importa se os pontos que você escolheu são fáceis ou difíceis; o que importa é o seu tesão por perseguir o resultado durante um ano inteiro. É para escolher apenas dois; três, no máximo. Se você escolher mais do que isso, você está com treta e eu vou te mandar para aquele lugar. • A GRANDE SACADA • Selecionar 2 pontos de mudança para perseguir ao longo do ano de 2019 lhe dará a confiança de que é possível mudar para melhor. • APLICAÇÃO PRÁTICA • Selecione 2 pontos de mudança, de domínios importantes, para perseguir ao longo do ano de 2019. 10 S u rv iv al K it • 1º ponto de mudança: • Área: • Com relação a essa meta…Como estou hoje? • Como quero estar daqui a 1 ano? • O que posso fazer para que isso aconteça? Exemplos de domínios importantes: Religião/Vida Espiritual; Vida Intelectual; Relacionamentos; Convívio Familiar; Saúde; Vida Financeira; Trabalho. 11 S u rv iv al K it • 1º ponto de mudança: • Área: • Com relação a essa meta…Como estou hoje? • Como quero estar daqui a 1 ano?• O que posso fazer para que isso aconteça? 12 S u rv iv al K it AH, DR. ITALO, EU NÃO CONSIGO MUDAR! BUÁ, BUÁ. GENTEM, O FRACASSO ESTÁ SUBINDO À CABEÇA. 13 S u rv iv al K it PARE DE FAZER FOFOCA E RECLAMAR DAS COISAS! Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso. - Millôr Fernandes - 14 S u rv iv al K it Para que você se torne uma pessoa mais presente, exercendo o domínio sobre os seus afetos, é preciso reprogramar algumas disposições habituais de agir no mundo. Se não ajustarmos certas disposições, nosso “jeito”, nosso temperamento, há uma grande chance de que nossas melhores intenções sejam frustradas. Vou contar um caso que ouvi há alguns dias, de uma senhora que não conseguia emagrecer. Ela é cozinheira gourmet, daquelas que vão à casa das pessoas e preparam o cardápio da semana. Essa senhora cozinha muito bem, mas não conseguia emagrecer. Então, foi à nutricionista e disse: “Não sei por que não estou emagrecendo. Eu não como nada, só belisco um pouquinho. Fico o dia inteiro cozinhando, acabo não parando, não me sento para almoçar, para tomar café da manhã, para jantar, porque, se eu parar para fazer isso, não dou conta do meu trabalho. Vou provando um pouquinho das coisas que cozinho para as famílias, e isso é tudo que eu como ao longo do dia. Não como mais nada além disso.” A nutricionista, muito sabiamente, falou o seguinte: “Vamos fazer assim: antes de começarmos a dieta, você vai levar esta balança aqui e, sempre que for provar alguma coisa, vai colocar uma medida igual na balança, para vermos quanto, no final do dia, você está ingerindo.” A cozinheira então me contou: “Você não imagina o quanto eu como por dia! Só de prova de comida, eu como um quilo e meio.” 15 S u rv iv al K it Tudo que ela ia beliscando ao longo do dia somava um quilo e meio. Ora, ela não emagrecia porque comia muito. Mas até então ela achava que quase não comia, só “beliscava” um pouquinho. É como muitos pensam: “É só um pouquinho. Isso não me afeta, não altera o meu comportamento, meu corpo.” Temos o mau hábito de dar por pressupostas muitas coisas em nossa vida. “Eu já ajo bem, já examinei o problema, tal coisa não acontece comigo, tal risco não existe para mim.” A verdade é que certos hábitos em nossa vida destroem nossa disposição para interagir com as pessoas que convivem conosco, e hoje vamos falar sobre dois deles. Por experiência de atendimento, por experiência de família, por experiência pessoal, sei que esses maus hábitos estão presentes em quase todo mundo do território nacional. E, se essas coisas estiverem de fato presentes no dia a dia, na dianteira da nossa atuação, nossa capacidade de interação positiva com os outros acaba se deteriorando. Dois hábitos que destroem nossa capacidade de amar Proponho a você um desafio semelhante àquele da cozinheira: quero que você ponha na balança a quantidade de vezes que você se queixa. Passe a reparar quantas vezes você reclama ao longo do dia – expressamente ou apenas mentalmente. Queria que 16 S u rv iv al K it você contabilizasse isso, a partir de hoje. E por que razão? É porque uma pessoa que habitualmente vai botando reclamações na “bagagem” chegará ao final do dia com a carga muito pesada. E a pessoa não consegue se livrar daquilo, porque a queixa, a reclamação, tem pouco potencial para nos ajudar a melhorar como pessoas. Reclamação e queixa prejudicam nosso status de percepção. A cabeça e o corpo ficam vibrando em uma espécie de “modo de operação negativa”. Dificilmente sai alguma coisa boa de uma pessoa que só se queixa. Ela vai nutrindo, ao longo da vida, uma característica de pessimismo, de olhar para tudo com um olhar negativo, um olhar meio cinza. Essa pessoa terá pouca capacidade de abraçar a vida com disposição, com energia, com alegria. Se na fronteira dos meus relacionamentos está uma tendência a me queixar, não terei condições de entregar um grande valor para aqueles com quem convivo. Reparem que, em geral, não queremos conviver por muito tempo com uma pessoa que tem sempre uma reclamaçãozinha a fazer, que sempre se queixa de algo. Convivemos com essas pessoas por necessidade. Acontece, aí, uma coisa muito simples: se somos reclamões, fatalmente traremos essa característica para os círculos mais íntimos da nossa convivência, e o mais natural é que nosso marido, nossa esposa, 17 S u rv iv al K it nossos filhos, nossos amigos, também passem a nutrir uma disposição de se afastar de nós. E chegará um dia em que você não vai entender por que essas pessoas não querem conviver com você. Ora, quem gosta de conviver com quem só reclama? Você se sentaria a uma mesa que só tenha reclamões? Ou preferiria se sentar a uma mesa onde estejam pessoas mais animadas, que param para ouvir, que perguntam como está a nossa vida? Sabemos que, no ambiente profissional, na vida em família etc., as pessoas que só reclamam são, em geral, as menos confiáveis, porque daqui a pouco estarão reclamando de nós. O desafio dos 8 dias Contar o número de queixas é importante. E, depois que você tiver uma média de quantas vezes reclama de algo por dia, é a hora de aceitar o desafio dos oito dias. Por oito dias, aceite o desafio de não reclamar de nada. “Ah, isso é artificial.” É mesmo, é artificial. É um exercício, um exercício artificial. Por acaso não vamos à academia de ginástica fazer exercícios artificiais que depois vão dar um efeito bom para o nosso corpo? É a mesma coisa aqui. Espero que você aceite o desafio de não se queixar por 8 dias (e olha que são só 8 dias). Por 8 dias, não vale reclamar do cosmos, da política, da economia, do patrão, do empregado, do vizinho. Se você observar um movimento de queixa, recue 18 S u rv iv al K it e diga: “Eu aceitei um desafio. Tenho o desafio de fazer com que meus filhos, no médio prazo, queiram ficar perto de mim. Tenho o desafio de fazer com que meu marido, minha esposa, no médio prazo, queira conviver comigo; que as pessoas com quem trabalho queiram conviver comigo. Eu entendi que uma pessoa que se queixa é uma pessoa chata, uma pessoa que não acrescenta nada, uma pessoa que, no final das contas, vai ficar sozinha – ou vai atrair outras pessoas que só se queixam.” No desafio de 8 dias, se você se pegar reclamando, terá de pagar uma prenda. Estabeleça para si mesmo uma punição – tem de ser algo sério, algo que tenha o poder de coibir o vício de reclamar. “Fulano é muito bom, mas...”: Pare agora mesmo de fofocar Quase todo mundo fofoca. Provavelmente, aprende- mos isso em casa. Com a graça de Deus, algumas pes- soas podem ter uma família onde não há fofoca, mas, habitualmente, nosso ambiente familiar é um ambien- te de fofoca. Geralmente, um está sempre falando do outro. Repare se não é assim: quando abrimos a boca para falar de outra pessoa, começamos de um modo neutro: “Essa pessoa é muito boa, etc e tal, mas...” E a coisa vai descambando. A fofoca raramente vai dar em elogio, em exaltação, em reconhecimento das vir- tudes do outro. Em geral, a pessoa fofoqueira termina falando mal do outro, mas com um ar de “eu sou uma 19 S u rv iv al K it pessoa ponderada, estou apontando um defeito em fulano pelo bem dele, seria melhor que esse defeito não existisse.” Existe também aquele sujeito que não reclama, mas é o engraçadão do grupo, está sempre fazendo uma fofoca, falando uma coisa má do outro. Esse é o fofoqueiro disfarçado. Na verdade, fofoca é coisa de invejoso. Quando co- meçamos a nutrir inveja, começamos a fofocar. Re- parem que fofocamos principalmente das pessoas de quem temos inveja. Fofocar é ruim.Quem fofoca bate o martelo sobre o juízo que faz da outra pessoa. O fofo- queiro vai se fechando para a percepção do outro. Começa a aparecer no nosso peito um sentimento de inveja, e nos fechamos para as bênçãos da vida, para as coisas boas que a vida oferece. As pessoas que têm a fofoca como hábito vão se tornando cada vez mais incapazes de perceber que estão vivas, que a vida é boa, que estamos no mundo para desenvolver nossos talentos, ajudar os outros, crescer, devolver algo para a sociedade, para aqueles que amamos, para a família, para o cônjuge. As pessoas que não têm essa capacida- de de se sentir vivas são, em geral, as pessoas que estão entregues à queixa e à fofoca. O espírito de queixa rouba de nós a capacidade de amar, de agir, de ser grato pela vida. Se queremos demonstrar amor para as pessoas do nosso convívio, entregando- -lhes nossa personalidade inteira e as fundações com as quais elas possam construir a sua própria 20 S u rv iv al K it vida, eis aí dois pontos dos quais devemos cuidar: a reclamação e a fofoca. Afinal, não é para isso que estamos aqui, como pai, como mãe, como professor, como educador, como marido e como mulher? De algum modo, nós somos suporte, um suporte amoroso para que os outros possam desenvolver sua personalidade, sua biografia. Se não estamos aqui para isso, provavelmente nossa vida de fato não está sendo bem vivida. Quando uma pessoa diz que a vida está sem sentido, ou que não se sente viva, que os dias estão passando como a água que passa por debaixo da ponte, sem deixar marca – essa pessoa em geral tem razão, sua vida está sem sentido mesmo. Não estou aqui para ser animador de torcida. Não vou ficar falando que a coisa é boa, se não for. Para ganharmos essa capacidade, essa disposição de encarar a vida, uma boa dica é parar de se queixar e de fazer fofoca. Esse é um exercício excelente, que, se praticado com afinco, pode nos transformar ao longo deste ano. Não existe essa história de “ficou velho, não muda mais”. Isso não é verdade. Podemos mudar até o último dia da nossa vida, no último segundo da nossa vida, e, às vezes, basta um exercício desses para a gente mudar. Repare que, se estamos desocupados, ficamos fofoqueiros; se estamos muito ocupados, nos queixamos da vida. Mas há, no meio disso, uma coisa chamada vida – essa vida maravilhosa, que está pronta, que está pedindo para ser vivida, para que entremos 21 S u rv iv al K it nela e consigamos produzir, entregando o melhor para os que convivem conosco, para as pessoas que amamos, para a sociedade. • A GRANDE SACADA • Os hábitos de reclamar e fazer fofoca roubam de nós a capacidade de amar, de viver com mais abertura para as bênçãos da vida, e, no fim, nos tornamos pessoas desagradáveis, com quem ninguém quer conviver. • IDÉIA EM AÇÃO • PARE de RECLAMAR Passe a observar quantas vezes você reclama de alguma coisa ao longo do dia, seja expressamente ou apenas mentalmente. PARE de fazer FOFOCA Passar oito dias sem reclamar de nada, de NADA, não importa o que aconteça. Por oito dias, não reclamar do trânsito, da política, da comida fria, do feijão sem bacon, das manias do cônjuge e dos filhos. • APLICAÇÃO PRÁTICA • Registre em um caderno, em seu diário, “journal”, ou o que o valha, diariamente e por oito dias, as ocasiões em que você teve o ímpeto de reclamar de alguma coisa, 22 S u rv iv al K it mas conseguiu se conter. Observe como se sentiu depois, ao notar o seu autocontrole vencendo essa má inclinação. Sua percepção da situação concreta teria sido afetada caso você entrasse no estado de reclamação? 23 S u rv iv al K it VOCÊ SE SENTE DES- VALORIZA- DO? ENTÃO PRECISA LER ISTO Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. - Colossenses 3:13 - 24 S u rv iv al K it Hoje eu quero comentar com vocês o resultado de uma pesquisa encomendada por algumas empresas para informar qual é o maior motivo pelo qual as pes- soas pedem demissão. Tratava-se de um questionário aberto, a pessoa podia escrever o que quisesse. Podemos pensar em vários motivos pelos quais uma pessoa pede demissão: baixo salário, carga horária muito pesada, medo de ir para o trabalho, enfim, há várias opções. Mas o incrível é que 70% das pessoas que responderam ao questionário afirmaram que o principal motivo pelo qual estavam pedindo demissão era não se sentirem valorizadas. Vamos pensar um pouco: a pessoa está ali empregada, ganhando seu dinheiro; ela empenhou energia, estudou para aquilo, se formou, se dedicou, procurou emprego, foi chamada, levanta cedo todos os dias, se prepara para o trabalho, busca cumprir sua tarefa, mas, depois de um tempo acaba não se sentindo valorizada. Então a pessoa faz o quê? Pede para sair. 70% das pessoas que pedem para sair alegam que não estavam se sentindo valorizadas. Essa pesquisa nos serve de alerta. As áreas de estudo da família, da pedagogia e da interação pessoal carecem, muitas vezes, de estudos científicos. Não é fácil encontrar estudos consistentes nas áreas da interação humana, dos relacionamentos, da afetividade, da 25 S u rv iv al K it pedagogia, da educação. Muitas vezes os estudos a que recorremos são de outras áreas, e é dali que temos de derivar nossas observações, é dali que extraímos o conteúdo que será trabalhado para criar uma base de conceitos, uma base teórica. Geralmente é assim que funciona. Por isso, todo esse campo da empresa traz para nós uma série de critérios, de conteúdo, de estudos muito interessantes, como é o exemplo desse estudo que mencionei: 70% das pessoas que abandonam o barco tomam essa decisão porque não estão se sentindo valorizadas. Quando paramos para olhar as interações humanas, seja de pais e filhos, seja de marido e mulher, vemos que muitas vezes as pessoas estão incomodadas e insatisfeitas – estão reclamando, buscando compensações em outros lugares, nas amizades ou em outros relacionamentos, em traições, ou estão buscando compensações no trabalho porque não se sentem valorizadas dentro de casa. Isso nós vemos acontecer com frequência. Infelizmente, é uma realidade. Como mudar essa realidade na nossa vida? Em primeiro lugar, é preciso evitar cair em uma cer- ta tentação. Quando procuramos um curso sobre rela- cionamento, sobre interação de pai e filho, ou quando assistimos às lives do Dr. Italo, há sempre a tentação de projetar no outro o que estamos ouvindo. Quando eu digo que 70% das pessoas que abandonam o barco 26 S u rv iv al K it o fazem porque não estão se sentindo valorizadas, temos a tentação de pensar imediatamente: “Eu também passo por isso, fulano não me valoriza. Meu filho não me valoriza. Meu marido não me valoriza. Minha esposa não me valoriza.” Essa é a primeira tentação que aparece: a de projetar no outro o conteúdo que estamos ouvindo. Para resolver isso, podemos tentar fazer o contrário e pensar o seguinte: “Será que eu estou valorizando meu filho, minha filha, meu marido, minha esposa? Será que eu, quando olho para ele, estou tentando encon- trar dentro daquele espírito, daquela biografia, daque- la pessoa, o valor que ela tem?” Em vez de projetar no outro uma insatisfação, podemos primeiro sondar em nós mesmos, investigar em nós quais são os pontos que podemos de fato mudar. A mudança pessoal de fato está na nossa mão; a mudança do outro, muitas vezes, não. O outro vai precisar de um estalo, de um start para que ele mude. E muitas vezes esse estalo, esse start, só acontece a partir da nossa mudança em primeiro lugar. O outro precisa da nossa atenção Se 70% das pessoas que abandonam o barcoo fazem porque não estão sendo valorizadas, como eu posso agir para que o outro perceba que eu o valorizo? Há uma coisa fundamental – uma coisa que, se conseguirmos 27 S u rv iv al K it trabalhar diariamente, nos ajudará a vencer. Que coisa é essa? É a atenção. Parece muito simples, mas a atenção é o primeiro mar- co de que estamos valorizando o outro. Uma pessoa que recebe atenção naturalmente vai se sentir valo- rizada. Não precisamos de grandes recursos para que possamos fazer com que o outro note que o amamos. Há um livro do Gary Chapman chamado “As cinco lin- guagens do amor”. É um livro muito bom, recomendo que vocês o leiam. Esse livro ensina que cada pessoa tem um modo distinto de reconhecer o amor, de reco- nhecer que está sendo amada, que está sendo valori- zada – seja seja pelos presentes que podemos lhe dar, seja pelas palavras afirmativas que lhe dirigimos, seja pelos serviços que lhe prestamos. Isso tudo é verdade, o Gary Chapman está certo. Mas há uma coisa que é anterior a todas as cinco lingua- gens do amor, que é a atenção. Por exemplo, uma das linguagens do amor que Gary Chapman sinaliza no livro é “dar presentes”. Muitas pessoas se sentem valorizadas quando recebem presentes. Mas acontece o seguinte: antes desse presente, é preciso que exista um esforço de estar atento, de estar presente. No nosso idioma podemos fazer um trocadilho útil: muitas ve- zes a pessoa não quer presente, mas presença; ela não quer ganhar um presente; quer, sim, ganhar a nossa presença. Presente e presença são coisas que a gente 28 S u rv iv al K it sempre tem de trabalhar para que aquele presente que oferecemos seja reconhecido como um valor. Muitas vezes, antes de dar o presente para alguém, temos de ter oferecido nossa presença. E isso nós oferecemos através da nossa atenção. Conheço muitas mulheres que dizem: “Fulano me deu um presente só para com- pensar um erro antigo.” Ou seja, a pessoa não conse- gue valorizar o presente que está recebendo porque sabe que a outra pessoa não lhe dispensou a atenção necessária. A dica muito clara que daremos hoje é a seguinte: como garantir que estamos presentes em uma relação – seja com um amigo, com um filho, com nosso marido, esposa, namorado, namorada? A resposta é: se conseguimos lhes dar atenção. Como podemos notar se estamos dando atenção ou não? A primeira providência é tomar posse da totalidade da nossa consciência quando entramos em uma relação humana. Isso não chega a ser um desafio, mas é um convite: a primeira coisa que temos de observar, quando entramos em uma relação – qualquer que seja ela, pode ser uma relação com o flanelinha que está guardando o nosso carro, uma relação com a secretária de um consultório médico, uma relação com o chefe, com o subordinado, com a esposa, com o filho –, é preciso prestar atenção no seguinte: eu entrei ali com a totalidade do meu 29 S u rv iv al K it olho? Essa é a primeira coisa que temos de observar. Quando eu entro em um lugar para interagir com uma pessoa, eu busco olhar para ela com o meu olho? Ou estou olhando para ela com uma série de projeções, com uma série de expectativas, com a periferia da minha alma? Aqui está o ponto: se entramos em um lugar e não conseguimos acessar o nosso olho, se nosso olho não bate no olho da outra pessoa, na alma da outra pessoa, na biografia da outra pessoa, podemos ter certeza de que não estamos atuando com a totalidade da nossa presença. Isso é um sinal de que ainda não dominamos essa função do nosso espírito. Necessariamente, as pessoas com as quais interagimos vão se sentir desvalorizadas, porque elas estão de fato sendo desvalorizadas de alguma forma. Não estamos conseguindo encontrar o valor da pessoa humana do outro lado. Esse é o exercício que vamos propor hoje: conseguir recrutar a totalidade do nosso olho. Isso é um exercí- cio que podemos ir fazendo ao longo de toda a nossa vida. Sempre podemos melhorar isso. Muitos pro- blemas de desobediência e irritação infantil são resolvidos quando simplesmente o pai e a mãe conseguem virar essa chave. Eles conseguem, ao longo de uma, duas, três semanas, recrutar a to- talidade do próprio olho para observar, para es- tar em contato, para tocar no filho. Muitas vezes, 30 S u rv iv al K it conseguimos resgatar casamento assim, conseguimos reacender uma coisa que estava apagada. Consegui- mos despertar uma coisa que estava adormecida se um dos dois – e aqui está a maravilha, basta um dos dois – começar a se exercitar assim. Se um dos dois co- meça todo dia, ao longo de uma, duas, três semanas, a olhar para o outro, a procurar o outro, o outro começa a ser encontrado. E, quando o outro é encontrado, ele começa a falar a partir do lugar em que nós o encon- tramos. Isso parece uma coisa à toa, mas não é. Isso é um recurso psicológico, um fenômeno psicológico. Se entra no meu consultório um sujeito com uma man- cha de ketchup na blusa, meu olho bate na mancha de ketchup e naturalmente a pessoa pára e olha para onde eu olhei. Não é assim que funciona? Em geral as pessoas olham para onde a gente está olhando. Se nós, em um relacionamento, começamos a olhar dia após dia para o centro da outra pessoa, essa outra pessoa começa a olhar para o seu próprio centro, começa a falar a partir dali. Ela já não vai agir a par- tir da sua periferia. Isso parece poesia, parece abstrato, mas isso é uma das coisas mais concretas que existem em relacionamento humano. Isso aqui muda destino, consegue mudar a qualidade da interação, levar mes- mo nossos relacionamentos para um outro nível. Isso é a primeira coisa. Parece abstrato, mas não é. Isso é muito concreto. 31 S u rv iv al K it Queria propor que vocês anotassem ao longo dos dias: “Eu realmente comecei a reparar no meu olho e come- cei a recrutá-lo quando eu começava a interagir com as pessoas.” Queria que vocês escrevessem a mudança que vão reparar na qualidade da interação. É curiosís- simo, as pessoas que estão ao nosso redor começam a melhorar. Muito do segredo de consultório é isso: a pessoa chega aqui e eu estou olhando para ela. Eu fico uma hora olhando para a pessoa. Eu estou olhando para a totalidade do espírito dela, olhando para a to- talidade da sua biografia. Eu tento não me dispersar e a pessoa vai melhorando. É uma coisa que parece má- gica, parece bruxaria, mas é só tecnologia, tecnologia psicológica. É assim que a coisa acaba funcionando. Esse é um recurso de tecnologia psicológica que eu es- tou dando para você. Vamos começar a olhar para o outro com o olho, essa é a primeira coisa. Ponha seu smartphone em seu devido lugar Existe um outro exercício que talvez possa dar uma métrica mais palpável. É algo que está à mão de todo mundo. Todos nós temos um smartphone hoje em dia, não é? E não há nada que roube mais nossa atenção do que isso. Quando vamos interagir com qualquer pes- soa, temos de nos policiar bastante quanto a isso. Por- que a todo momento aparece um pop-up: três, quatro notificações aparecendo no Whatsapp: será algum pa- ciente grave? Será minha mãe querendo falar comigo? 32 S u rv iv al K it Será minha esposa querendo falar comigo? O que está acontecendo? É minha secretária? O que está aconte- cendo? Ficamos desatentos. Assim, não conseguimos envelopar a outra pessoa com toda a nossa atenção, com tudo o que ela merece. Por isso, quero propor um desafio para quando você for a um almoço ou a um jantar com seu filho, com sua esposa, com seu marido: deixar o celular no carro. Pessoal, ninguém morre. Deixar o celular no carro e estar ali, na totalidade, com a pessoa que está à nossa frente. Isso pode doer – “Não, não consigo. Não consigo deixaro celular no carro, vai que...” Esse “vai que alguém precisa” é que acaba matando as relações que estão na nossa frente. Por causa desse “vai que al- guém precisa de mim”, você acaba não dando atenção para alguém que de fato precisa de você e está na sua frente: seu marido, sua esposa, seu filho, sua filha ou um amigo que está precisando de você. Aqui, sim, já se trata de um desafio. O primeiro não é um desafio, é um convite permanente. Este é um desafio: convide seu marido ou sua esposa para jantar. Peça a alguém ficar com as crianças se for possível. Peça uma comi- da boa em casa, não sei qual é a rotina de vocês. E aí você deixa seu celular no carro e não entre com ele no restaurante. Ou, se vocês forem pedir uma comidinha em casa, deixe o celular na gaveta de um cômodo a que vocês não têm acesso. E vocês vão ver que uma hora e meia, duas horas, sem o celular por perto, dá uma 33 S u rv iv al K it qualidade de interação magnífica. Muitas vezes, para a relação com filho ou filha é a mesma coisa. Não conse- guimos estar na totalidade da nossa presença ali com eles porque estamos sendo roubados, a nossa presen- ça está sendo roubada, sugada por esses dispositivos. Para podermos amar com a totalidade do nosso espírito, temos de envelopar o outro com a totalidade da nossa atenção. Deste modo a pessoa se sentirá valorizada, porque de fato a estaremos valorizando. Não se trata apenas do sentir; isto é algo do ser. Muitas vezes a pessoa não se sente valorizada porque não está sendo valorizada mesmo. É preciso internalizar alguns recursos que nos permitam mudar realmente a nossa mentalidade, nosso comportamento, e ir para um outro nível na qualidade da nossa interação. Queremos evitar o automatismo, pois o olhar automático não funciona para relacionamento humano. Uma pessoa humana tem algo que é distinto de todas as outras coisas – como, por exemplo, deste copo aqui. Este copo não pode me surpreender: eu sei do que ele é feito e sei para que serve. Gente, pessoa, não é assim. Pessoa, ser humano, sempre tem dentro dele uma capacidade de superação, uma capacidade de mudança, uma capacidade de nos surpreender. Entrar “no automático” no relacionamento é igual a dizer que a outra pessoa é um objeto, que a outra pessoa 34 S u rv iv al K it é um copo. “Eu já sei do que você é feito e para que você serve.” Isso é sempre falso: não sabemos do que o outro é feito; não sabemos para que o outro serve. Somos seres animados, há sempre a capacidade de mudança. Por isso esse olhar tem de estar sempre renovado em qualquer relacionamento, seja com o frentista que abastece o nosso carro ou com o nosso cônjuge. É uma pessoa que está ali; não é um ser inanimado, não é um poste. Essa postura acaba matando a nossa capacidade de ser humano também. Você não tem de estar o tempo inteiro com a pessoa, mas, durante o tempo em que estiver, você tem de estar por inteiro com ela. Recrutando nosso olho e botando o smartphone na gaveta, você vai perceber que a outra pessoa vai mudando também. Isso é um princípio psicológico, como eu disse. Cresce a árvore no terreno para o qual a gente mais olha. Esse também é um princípio psicológico. Se estamos olhando para a outra pessoa como um terreno baldio, um terreno feio, um terreno pouco arado, vai nascer erva daninha. Se estamos olhando para a outra pessoa como um terreno bom, positivo, onde a terra tem vigor, então nasce árvore frondosa, com frutos. Esses são princípios psicológicos que podemos sempre usar. • A GRANDE SACADA • Para que as pessoas com quem convivemos se sintam valorizadas, precisamos lhes dar atenção. Dar atenção 35 S u rv iv al K it a uma pessoa significa relacionar-se com ela tentando olhar para sua biografia inteira, para a totalidade de sua história, evitando o automatismo e abrindo-se para a possibilidade de que ela nos supreenda. • IDÉIA EM AÇÃO • Em vez de se sentir desvalorizado, inverta a chave e pergunte-se: será que você tem valorizado as pessoas com quem convive? Será que tem conseguido lhes dar atenção, ou tem lidado com elas “no automático”? • APLICAÇÃO PRÁTICA • Procure “recrutar a totalidade do seu olho” ao lidar com uma pessoa do seu convívio. Registre suas mudanças de percepção sobre ela, e também as mudanças que você perceber nas reações da própria pessoa, como resposta à sua nova atitude de abertura. 36 S u rv iv al K it EM BUSCA DE SENTIDO E DA MELHOR PERFORMANCE “Dá de ti. Dá de ti quanto puderes: o talento, a energia, o coração. Dá de ti para os homens e as mulheres como as árvores dão e as fontes dão. Não somente os sapatos que não queres e a capa que não usas no verão. Darás tudo o que fores e tiveres: o talento, a energia, o coração. Darás sem refletir, sem ser notado, de modo que ninguém diga obrigado nem te deva dinheiro ou gratidão. E com que espanto notarás, um dia, que viveste fazendo economia de talento, energia e coração!”... - Giuseppe Ghiaroni - 37 S u rv iv al K it Para não frustrar aqueles 2 pontos de mudança que você decidiu perseguir ao longo do ano de 2019, é preci- so que você recrute a totalidade do seu coração, da sua atenção, do seu espírito, da sua biografia. Você pode aprender uma série de conteúdos interessantíssi- mos, mas, apesar disso, não estar bem preparado, não ter dentro de si aquele mindset, aquela men- talidade capaz de fazer essas conquistas perdura- rem, e isto é o mais importante. Muitas vezes, conseguimos vencer dificuldades pontuais em nossa vida, mas repararmos que, no geral, as coisas não melhoraram muito. Enfim, não basta conseguir fazer alguma coisa; é preciso saber absorver o benefício daquilo. Todo mundo já teve essa experiência de alguma forma. Por isso é importante que você crie uma disposição para que possa de fato aproveitar essas mudanças que virão no decurso da sua vida. Eu lhe darei dicas bem práticas, mas de vez em quando será preciso voltar a esse ponto sobre a mudança de mentalidade, para que as alterações pontuais em sua vida sejam integradas na sua história como um todo. A idéia aqui é montar o quebra-cabeça inteiro; não é pegar pequenas peças do quebra-cabeça e deixar aqui e ali desconectado da nossa história. Esqueça JÁ o plano B 38 S u rv iv al K it Vocês conhecem os famosos planos B, os planos alter- nativos que temos em nossa cabeça. Uma máxima que vem do mercado financeiro, e que todo mundo prova- velmente já ouviu, afirma que você não deve colocar todos os ovos na mesma cesta. Todos já ouviram isso de algum modo, e isso parece frase de gente muito ponderada, muito experiente, que conhece a vida. A verdade é que isso só serve para o mercado financeiro – e, mesmo assim, nem sempre; às vezes o melhor a fazer, mesmo no mercado financeiro, é colocar os ovos na mesma cesta. Mas, para o mercado financeiro e in- vestimentos, em geral essa frase serve. Já nos outros domínios da nossa vida, em geral essa idéia de não botar todos os ovos na mesma cesta – ou seja, não aplicar todos os nossos recursos em uma coisa só – impede que nossa vida progrida, faz com que estejamos sempre presos no mesmo estado, faz com que olhemos para os anos anteriores e percebamos que estamos cometendo os mesmos erros, tendo as mesmas dificuldades, que nossa vida não progride e parece que não faz muito sentido. Então, essa é a primeira idéia que deveríamos demolir da nossa cabeça. Na maior parte dos domínios da nossa vida, o verdadeiro progresso, a alta performance, a realização de um sentido, dependem justamente de que coloquemos todos os ovos na mesma cesta. 39 S u rv iv al K it Que ovos são esses, que cestas são essas? Por exemplo, na vida profissional.Se eu não me dedicar a uma só coisa até levá-la à excelência, a tendência é que eu me torne uma pessoa frustrada. Se eu ficar pulando de galho em galho, não conseguirei atingir o nível de performance, de excelência, que eu de fato poderia atingir. Não serei capaz de entregar o meu melhor. E, para que eu possa entregar o meu melhor, eu preciso de tempo dedicado intensivamente e exclusivamente àquilo. É assim em quase tudo na nossa vida. Se eu penso assim: “Eu vou ser psiquiatra, vou me dedicar a atender em consultório”, e já no primeiro ano eu penso: “Quer saber? Eu vou fazer outra coisa. Na verdade, não vou ser psiquiatra. Vou me especializar em outro domínio da medicina.” O que vai acontecer? Na verdade, eu não vou ser nem uma coisa nem outra. Porque eu não tive tempo de levar à excelência essa minha atuação de psiquiatra em consultório. Isso serve para a vida profissional, serve para a vida em família e serve para a educação de filho também. Se nos lançamos em um casamento, em um relacionamento, com um plano B na cabeça (“Se não der certo aqui, eu pulo fora”), daqui a pouco vou tocar minha vida de outro modo, vou encontrar outra pessoa, ou então decido que fico melhor sozinho... O que aconteceu? Não programamos nossa cabeça para de fato investir tudo o que poderíamos investir. 40 S u rv iv al K it Muita gente pensa que, se investir tudo em uma coisa só, tem grandes chances de se frustrar, de dar com a cara no chão. Mas, em geral, é o contrário que acontece. Em geral ficamos frustrados e arrependidos quando sabemos, no fundo, que não investimos tudo o que poderíamos ter investido em um projeto. Quando investimos tudo que poderíamos ter investido em um projeto, e o projeto não vai adiante, em geral ficamos tranquilos: “Eu fiz tudo o que eu podia ter feito. Eu não entrei na história com reservas, eu não guardei uma parte do meu coração, do meu intelecto, com mesquinharias. Não. Eu entreguei tudo que eu poderia ter entregado, e, se a coisa não aconteceu do melhor jeito, eu fico tranquilo.” Isso acontece em educação de filhos também. Às ve- zes ficamos com medo de nos entregar completamen- te ao projeto de estar ali com as crianças, cortar uma ou outra coisa de benefício próprio, de hobby que a gente tinha, ou de convívio com outras pessoas que às vezes não são tão relevantes assim. Muita gente pen- sa: “Daqui a pouco os filhos crescem e aí eu não sei o que fazer da minha vida.” É verdade, os filhos vão crescer, mas essa história de não saber o que fazer da nossa vida é uma falsidade do pensamento. Se apren- demos desde já, com filho pequeno, com filho maior, a funcionar desse modo, com esse hábito de dar tudo, apostando tudo, não deixando o nosso coração com re- 41 S u rv iv al K it servas, não deixando nossa cabeça com reservas, con- vertemos isso em um hábito. Daqui a pouco, quando nossos filhos forem embora, a ausência deles não irá nos deprimir, porque há um motor aqui dentro cha- mado motivação, ou seja, conseguiremos sempre atu- ar, conseguiremos fazer as coisas com o nível máximo. As pessoas que se dedicaram completamente aos filhos – de verdade, sem reservas –, que entregaram tudo no casamento, para os filhos, para o trabalho, enfim, que entregaram tudo de si, quando se aposentam, ou quando os filhos crescem, continuam conseguindo encontrar sentido na vida, porque é o jeito que elas aprenderam a viver. Elas aprenderam a pegar qualquer realidade da vida e transformar isso em projeto pessoal no qual vão entregar tudo que podem entregar. As pessoas não se sentem vazias. O custo de oportunidade e a pergunta: Para quem estou acordando hoje? Outra queixa bastante comum é sobre a falta de sentido da vida: “Minha vida não está tendo muito sentido. Estou sentindo um vazio.” Obviamente, excluídas as doenças, que são coisas orgânicas, em geral essas reclamações acontecem quando a pessoa não está acostumada a colocar todo o coração, toda a sua energia no projeto que ela entendeu que é relevante 42 S u rv iv al K it para ela. Aqui aparece um segundo conceito, que é o custo de oportunidade. Às vezes as pessoas colocam tudo, apostam tudo no trabalho, mas isso acaba tendo um grande custo para a saúde ou para a vida familiar, e logo, é evidente, essas pessoas vão ficar frustradas em médio prazo, porque apostaram na coisa errada. Daí entra o conceito de custo de oportunidade. Temos de observar com muita cautela e precisão quais são aqueles projetos em que podemos de fato apostar tudo, porque esses projetos vão, por assim dizer, “pagar bem”. Esses projetos fazem sentido? Esses projetos me ajudam a entregar o que eu tenho de melhor? Eu ajudo a melhorar os demais quando me dedico com constância, energia, com toda a vitalidade, a esse projeto? É nisso que temos de pensar. Se embarcamos nos projetos – seja a nossa vida em fa- mília, em um relacionamento, o trabalho – tendo um plano B, não vamos entregar o que podemos entregar de melhor. Esse é o ponto central. Temos de entregar tudo com a máxima excelência. Ter plano B, por exem- plo, na educação de filhos, plano B em vida de família com o nosso marido, com a nossa esposa, com nosso noivo, namorada, em geral não funciona. Isso é uma coisa que temos de demolir da nossa cabeça. Temos de ver quais são aqueles planos B que vamos cultivan- do ao longo da nossa história e que estão nos traindo, tirando de nós a capacidade que temos de entregar o 43 S u rv iv al K it que temos de melhor para nós mesmos, para os que convivem com a gente, para as outras pessoas. Há várias perguntas que é bom nos fazermos todos os dias quando acordamos. “Quem precisa de mim hoje? Para quem eu estou acordando? Quem precisa que eu apareça hoje?” Essa motivação extrínseca é boa. Evidentemente, temos motivações intrínsecas, que temos de saber cultivar também, para não pararmos quando as motivações extrínsecas cessarem. Há motivações externas que é bom conhecer e cultivar, e uma delas só descobrimos quando fazemos essa pergunta habitualmente: “Quem precisa que eu apareça hoje?” Daí nos ocorrem nomes – nome do filho, da esposa, do esposo etc. É bom nos cercarmos de lembretes dessas pessoas; por exemplo, vale a pena colocar como tela de fundo do celular a foto daquela pessoa ou daquelas pessoas que precisam que a gente apareça. Isso nos dá, muitas vezes, uma energia para acordar: “Eu preciso aparecer. Se eu não aparecer, essa pessoa vai ter uma vida pior no dia de hoje.” Isso pode ser a sua motivação, pode ser o que está faltando para você acordar com energia e motivação. Então, é preciso saber quem precisa que você apareça, quem precisa que você entregue o que você tem de melhor. Essa é uma pergunta que você precisa fazer. 44 S u rv iv al K it Outra coisa que você deve fazer é botar no papel, escrever mesmo, quais são os planos B que lhe roubam a capacidade de entregar o seu melhor. Vale a pena de fato escrever isso, precisamos ter essas coisas registradas. Às vezes, quando as coisas estão só na nossa cabeça, elas somem; mas, se a gente baixa um aplicativo, o Evernote, ou escreve no note do nosso smartphone (cada um tem a sua ferramenta de registro), enfim, quando escrevemos, em geral conseguimos concretizar essas coisas de verdade. Precisamos tomar nota mesmo: “Quais os projetos em que estou envolvido hoje? Eu tenho algum plano B para esse projeto? Será que não é esse plano B que está me tirando a capacidade de produzir melhor, de entregar um melhor resultado?” Temos de pensar sobre isso. • A GRANDE SACADA • A idéia de ter sempre um plano B não funciona para a vida. Na vida, a única maneira de obter êxito em algum projeto é lançando-se a ele integralmente e sem reservas.Para isso, é preciso que você avalie com cuidado quais projetos valem realmente a pena. • IDÉIA EM AÇÃO • Pare um pouco e pense se você tem conduzido a 45 S u rv iv al K it relação com seu cônjuge ou namorado(a), a educação de seus filhos, ou sua vida profissional, com planos B na cabeça. Pergunte-se sobre a razão de você alimentar esses planos alternativos. APLICAÇÃO PRÁTICA: Pense naquele plano B que você tem em mente. Agora, elimine-o do seu imaginário. Que ações você teria de tomar, nesse novo cenário? O que seria necessário fazer? 46 S u rv iv al K it COMECE O DIA COM PRESENÇA Quem cedo e a tempo ao pouco não se obriga, tarde por muito menos se afadiga. - Goethe, trad. de Alberto Ramos - “Lenda da Ferradura” 47 S u rv iv al K it Agora vamos falar sobre como começar o dia com presença – como esses 90 minutos iniciais do nosso dia determinam todo o restante do dia, como esse dia vai determinar a semana, como a semana determina o mês, como o mês determina a vida, e como a vida concreta que levamos determina todo o sentido daquilo que fazemos. Planejando bem os inícios: A importância de planejarmos bem o início do dia É uma verdade filosófica que um pequeno erro no princípio vai se tornar um grande erro no fim. Se um navio sai do Rio de Janeiro rumo a Lisboa com um erro de 1 grau na saída, esse navio não vai parar em Lisboa, mas na ponta sul da África, provavelmente. Por isso é importante tomar muito cuidado com os inícios, com tudo que está iniciando. Não é aquele cuidado obsessi- vo da pessoa que tem medo de tudo, mas o cuidado da pessoa com coragem, com visão, que sabe que tem de garantir muito bem o começo dos projetos, para que eles cheguem até o final realizados. Quantas vezes já abandonamos projetos na nossa vida porque não cuidamos bem do início, de como iríamos começar a coisa? Vou dar um exemplo pessoal. Um dos meus projetos era cuidar da minha saúde, entrar na academia. 48 S u rv iv al K it Antes de entrar na academia, eu já sabia de coisas que haviam me paralisado antes. Faço academia de manhã e venho direto para o consultório. Então, naturalmente, vou precisar ter a roupa de ginástica, shampoo, sabonete etc. organizados previamente, porque vou tomar banho na academia e seguirei direto para o consultório. O que poderia me paralisar aqui, que é muito simples? Por exemplo, não ter uma bolsa, onde vou carregar o shampoo, a toalha, o tênis etc. É nesse nível mesmo. Muitas vezes, ficamos paralisados diante da vida, não vamos para o próximo nível, não cumprimos as nossas tarefas, por falta de previsão de coisas desse tipo. Muitas vezes, não nos doamos 100% para os nossos filhos, para nosso marido, para nossa esposa, para nossos amigos, porque negligenciamos essas pequenas tarefas do início. Se eu tivesse me matriculado em uma academia sem comprar uma bolsa, ter separado uma bermuda, uma blusa, uma toalha etc., certamente, ao acordar, eu ia achar tudo difícil, com aquele monte de crianças dormindo em casa, a esposa organizando as coisas dela, enfim. Essa rotina de ter de arrumar as coisas, pensar de improviso pela manhã, organizar tudo na última hora, me atrapalharia de tal modo, que eu certamente deixaria de cumprir aquela tarefa que me propus. Por isso eu convido vocês a pensar e escrever: “Quantas vezes eu abandonei coisas na vida porque 49 S u rv iv al K it elas eram um mero desejo, mas não estavam escri- tas em lugar nenhum?” Outra coisa que é impor- tante sabermos: se a coisa é só um desejo, mas não está no calendário, então ela não é absolutamente um desejo. Ela tem de estar escrita em algum lu- gar, porque, se não, nem um desejo essa coisa é. Isso é importante saber. Faz sentido para você? Se eu não escrevi, se não tive tempo, não gastei tempo para escrever a coisa, para planejar minimamente, então não posso esperar que aquilo se realize sozi- nho. O importante é estar planejado para começar o processo de cumprimento. Eu preciso cumprir aquela atividade. Para que eu possa cumprir, ela precisa estar planejada, a fim de que eu consiga visualizar o proces- so, sobretudo os inícios. Então vamos lá: qual é o projeto que todo dia eu enfrento? Esse projeto que todo dia eu enfrento chama- se VIVER. Todo dia eu preciso cumprir uma jornada de um dia, uma jornada de 18 horas, 12 horas, enfim, não sei quantas horas produtivas você tem no seu dia. O fato é que todos os dias, sempre, você vai despertar e vai permanecer acordado até o final do dia, quando então você finaliza essa jornada. Nós temos essa unidade, que é a unidade do dia, e por isso precisamos planejar bem o seu início. Às vezes nos esquecemos desse detalhe. Se eu não planejo o início de cada dia, pode ser que, no final 50 S u rv iv al K it de uma semana, ou de um mês, eu tenha 7 ou 30 dias de fracasso. Porque eu não planejei o início dessa unidade, que é o dia. O dia é a partida para construirmos a capacidade real de estar presente dentro da nossa vida. Isso não é poesia, não é filosofia, não é bruxaria: isso é tecnologia. Isso é fundamental para que possamos ter uma vida plena – plena de sentido, uma vida em que que possamos servir verdadeiramente aos outros, uma vida em que encontremos amor e que nos permita dar amor também. Muitas vezes a origem de nossas impaciências e frustrações com os filhos, ou de nossa desesperança no nosso relacionamento, é porque não tivemos a coragem, a consciência, de que precisávamos planejar o início do nosso dia. Essa dica vai para todas as pessoas que começam o dia um pouco, digamos assim, reativamente. A primeira coisa é viver a nossa agenda. Isso não é um convite ao egoísmo, ao egocentrismo, não é um convite para abandonar o altruísmo, a sua capacidade de serviço. Pelo contrário, é um convite para que você se organize e, assim, se organizando, você verá que vai sobrar mais tempo livre, mais energia para você se dedicar a todos os projetos. Sua vida está sendo sequestrada pela agenda dos outros? 51 S u rv iv al K it A primeira coisa é não sermos reativos à agenda dos outros. Veja bem: todos os dias nós acordamos, e todos os dias vai haver centenas de demandas recaindo so- bre nós. As primeiras demandas que podem recair so- bre nós, a que podemos agir apenas reativamente, são: todo o conteúdo que está dentro do Whatsapp, na cai- xa de e-mail, no smartphone. Veja se faz sentido para você. Uma boa parte das mensagens que recebemos não são respostas a algo que damos, mas sim deman- das espontâneas: uma pessoa que chama para fazer tal coisa, uma pessoa que pede um favor, uma pessoa que manda ler algo que não pedimos. Temos de ser es- pertos: não podemos começar o nosso dia dentro da agenda de outra pessoa. Se eu começo o meu dia abrindo o Whatsapp, antes de fazer qualquer outra coisa, o que estou comunicando para a minha cognição, para o meu corpo, para a minha biografia? Estou comunicando para mim mesmo que o importante no dia é a agenda dos outros, e não a minha agenda. Eu acordo e a primeira coisa que eu faço é atender a demanda de outra pessoa, uma demanda que não estava na minha escala de prioridades. Esse é o ponto central. Temos de ter uma escala de prioridades, uma lista de coisas que tenham importância, que teremos de fazer. Se não tenho essa lista, se não sei o que é prioridade na minha vida, provavelmente vou viver reativamente, 52 S u rv iv al K it atendendo às demandas dos outros. Então, quando chegar o final da semana, do mês, eu vou olhar para dentro de mim e perguntar: “O que eu fiz nessa semana? O que eu fiz nesse mês? Cadê a minha vida?” Claro que eu tenho uma vida, eu faço ascoisas, as coisas acontecem, mas cadê aquele centro? Cadê a minha voz? Cadê aquela agulha que foi costurando com a linha da minha vontade, da minha inteligência, esse tecido que é a vida? Então vamos tendo uma série de retalhos, uma série de pedaços que não vão dar uma unidade para a nossa vida. E, quando olho para essa realidade, não consigo me enxergar ali. Por isso é fundamental não despertar de manhã reativamente. Precisamos começar nosso dia com presença. Esse é um conselho que estou dando para vocês, com base nas pessoas que atendo e que já treinei – pessoas que conquistam as coisas na vida: não começar o dia reativamente. Como gerar energia: O ritual de presença nos primeiros 90 minutos do dia A segunda coisa, que pode parecer maluquice, é a seguinte: essa energia que temos, ou não temos, não aparece ou desaparece: ela se cria. Criamos a nossa energia (com exceção daquelas pessoas que têm depressão grave, ansiedade grave, problemas 53 S u rv iv al K it clínicos). A maior parte das pessoas como nós, que não apresenta questões graves da psiquiatria, pode gerar uma quantidade de energia. Mas não se gera uma quantidade de energia simplesmente pela força do querer, não é assim que funciona. O que podemos é gerar uma inclinação, uma disposição, que faz com que tenhamos essa energia que nos capacita a realizar as atividades diárias. Para que possamos gerar essa energia – insisto mais uma vez, pois não podemos deixar isso passar –, devemos ter um ritual de presença nos primeiros 90 minutos do dia. A palavra-chave é presença. Pode ser que tenhamos rituais de dispersão. Por exemplo, esse ritual de despertar e já olhar o Whatsapp. Isso é um ritual de dispersão, não de presença. O que é um ritual de presença? Vou dar um exemplo para uma pessoa que tem as primeiras horas do dia mais ou menos tranquilas (alguém já levou as crian- ças para o colégio ou as crianças acordam mais tarde). Você acordou e está ali, somente você, sem mais nin- guém. O ritual de presença, por exemplo, é simples: você acorda, abre os olhos, levanta da cama. Pode ser que façamos esse primeiro movimento completamen- te na intuição, não estejamos presentes no primeiro movimento do dia, que é se levantar. É como dirigir: muitas vezes você dirige da casa para o trabalho, do trabalho para casa, mas não está atento exatamente à 54 S u rv iv al K it rua, ao trajeto. Você vai meio no automático, reagin- do (não posso bater nesses carros aqui, tenho de che- gar ali, tenho de parar quando o sinal fecha), mas você não está 100% presente na situação. Em geral é assim. Você está executando a função, mas não está presente. Minha chamada para os primeiros 90 minutos do dia é tentarmos estar presentes ao máximo, o quanto for possível. Esse primeiro movimento do dia é fundamen- tal para termos o domínio da nossa presença. A pri- meira coisa que devíamos fazer é levantar conscientes do nosso movimento corporal. Isso não é obsessão, é só para marcar no nosso cérebro, no nosso espírito, no nosso jeito de viver, que queremos estar presentes em cada segundo de nossa vida; é o primeiro comunicado cognitivo que iremos passar para nós mesmos. Então, antes de me levantar da cama, vou pensar: “Vou me le- vantar.” Não precisa verbalizar, só precisa estar atento aos movimentos. Você se levanta, percebendo o que está fazendo, gira na cama – basta você estar atento. Vai se levantar, ficar em pé, ir até o banheiro. “Vou la- var o rosto, escovar os dentes”. Independentemente da sua rotina ao acordar, o convite é estar atento a cada coisa. Você pode ter esse mindset, essa mentalidade de pre- sença total. Isso muda a qualidade da nossa vida, muda a produtividade no nosso dia. Isso muda aquela queixa que muita gente tem: “Puxa, sou muito esquecido. Não 55 S u rv iv al K it lembro de nada.” Provavelmente aquelas pessoas que sempre repetem que são esquecidas, descartando-se que tenham de fato alguma doença, não devem fazer esse exercício de presença. Muitas vezes estamos vi- vendo o nosso dia, mas não estamos presentes dentro de nós mesmos, na nossa vida. Então, o que podemos fazer? Despertar e levantar com total presença logo nos primeiros minutos do dia. Se você tem filho pequeno em casa e foi ele que o acor- dou, aí não temos o que fazer, estamos ali para servi-lo mesmo, então vamos acordar olhando para ele, para a demanda dele. Ah, não foi meu filho que me acor- dou, foi o despertador que tocou. Hoje a maioria dos despertadores é o próprio celular, então aqui vai um desafio: não olhar o conteúdo, apenas desligar o alar- me e levantar. E, ao levantar, fazer isso com presen- ça. Quando for fazer o café, prestar atenção na água caindo no copo. Quando for ligar a cafeteira elétrica, prestar atenção no barulho do botão, no movimento. Isso pode parecer um pouco obsessivo no início, mas, com o tempo, com a prática, você verá a coisa fluindo naturalmente, você vai tendo um sentido de presen- ça, e a sua produtividade, no médio prazo, vai decolar, disparar. “Ah, não tenho energia.” Não temos energia porque estamos em uma vida dispersa. Mandamos energia para todos os lados, menos para o foco da nossa 56 S u rv iv al K it atividade, do nosso interesse, do nosso coração, da nossa demanda verdadeira nesta vida. O que podemos fazer para vencer a nossa falta de energia, vencer a dispersão, é estar profundamente presente em cada movimento. Aqui falo primeiro dos movimentos corporais no nosso dia, nas tarefas simples: prestar atenção no café, no barulho da cafeteira, no barulho da manteiga passando no pão, prestar atenção nos nossos primeiros movimentos. Isso é um ponto. Por outro lado, não estar reativo às demandas de outras agendas. Para que isso? Para ser uma pessoa mais obsessiva? Não. Para ter mais tempo livre. Quando nós estamos presentes com energia e foco, acabamos por ter mais tempo livre na nossa vida. Conseguimos aproveitar melhor os momentos, porque não estamos sempre correndo atrás de prazo, correndo atrás de resultados, tendo de tapar buraco, enxugar gelo. Vamos perceber que, quando agimos assim, estando mais presentes nos primeiros minutos, nos entregaremos mais, estaremos mais disponíveis para nossos filhos, nosso cônjuge, a qualidade das interações humanas melhora muito. Às vezes a gente resolve vidas só com esse exercício da presença matinal. Uma pessoa presente é uma pessoa que consegue se entregar, que está presente para as demandas dos outros quando essas outras demandas fizerem sentido. 57 S u rv iv al K it Esse é o exercício da semana. É uma atividade que parece simples. Obviamente, uma pessoa com mais energia e atenção é mais produtiva que uma pessoa sem energia, sem atenção. Isso é senso comum. O que ocorre é que nem sempre o senso comum é uma prática comum. É claro que é melhor não matar do que matar. É melhor não roubar do que roubar. É evidente, é senso comum, mas, para muitas pessoas, não é uma prática comum. O truque acontece quando o senso comum torna-se uma prática comum. Iremos nos tornar uma pessoa que está em outra categoria. Há pessoas que já alcançaram um certo nível e querem ir para o próximo, e outras que estão iniciando. Isso serve tanto para os iniciantes quanto para os avançados. Como lidar com os imprevistos, as demandas exter- nas? Estando presentes. Muitas vezes não consegui- mos planejar nossa rotina. Um vendedor externo, por exemplo, cada dia deve estar em uma cidade, em um bairro – ele não sabe, recebe a agenda do dia na hora. Eu acordo, meu filho está doente, minha esposa pede algo, meu marido pede algo. Uma coisa que é sem- pre domínio nosso, que sempre depende da gente, é a atenção, a presença total que vamos recrutarda nossa atenção, do nosso espírito, da nossa biogra- fia, e colocar intensivamente naquela atividade. Isso depende de nós. Aquele exercício de não reclamar que propusemos dias 58 S u rv iv al K it atrás já acabou, pois já se passaram oito dias. Devemos renová-lo por mais oito dias. Muitas vezes a reclamação é a maior fonte de dispersão do nosso espírito. Quando reclamamos, jogamos nossa atenção para um mundo de fantasia que não existe. Aquele mundo, “Ah, podia ser de outro jeito, mas não é.” Então vamos tentar colocar a intenção total em cada atividade que fazemos. • A GRANDE SACADA • Ter um ritual diário para os primeiros 90 minutos após despertar é fundamental para que vivamos o dia mais presentes aos nossos atos, com mais autocontrole e foco. Com o tempo, esse hábito nos ajudará a tomar as rédeas da nossa vida, passando da mera reatividade à posição de alguém que de fato está planejando seus passos e construindo sua história ativamente. • IDÉIA EM AÇÃO • Desenvolva um ritual de presença para os primeiros 90 minutos após despertar. Esteja maximamente presente a cada ato, por mais simples que seja: levantar-se da cama, alongar o corpo, preparar o café. Evite, nesses primeiros minutos, dispersar sua atenção com mensagens de Whatsapp, e-mails etc. Aproveite esses minutos iniciais do dia para praticar o foco e a concentração que você deseja que se tornem uma constante no seu modo de viver. 59 S u rv iv al K it • APLICAÇÃO PRÁTICA • Procure visualizar, vivamente e em detalhes, o seu ritual de presença para a manhã do dia seguinte. Anote as ações que você irá EVITAR nos primeiros 90 minutos do dia. 60 S u rv iv al K it VOCÊ TEM ANDADO COM PESSOAS INVALIDADO- RAS? Aqueles que nada têm nada podem partilhar; os que não vão a lugar algum não podem ter companheiros de viagem. - C. S. Lewis - “Os quatro amores” 61 S u rv iv al K it Vamos falar agora sobre toda a realidade que envolve nossas necessidades básicas, necessidades psicológicas, necessidades de preenchimento, de se sentir pleno. Não sei se vocês conhecem um autor chamado Mihaly, do campo da psicologia positiva. É um autor bem interessante. Não estou recomendando que vocês o leiam, porque ele lida com conceitos que precisam ser muito bem compreendidos e bem trabalhados. Dentre os conceitos que ele aborda, existe o de “flow”, que é bem interessante. Segundo esse conceito, existem alguns momentos na vida, algumas atividades nas quais conseguimos mergulhar com tal domínio, com tal profundidade, que atingimos um outro patamar de operação, que ele chama de “flow”. O autor dá como exemplo os maestros, que precisam de um grande domínio técnico, de uma atenção monstruosa aos diversos momentos da orquestra, e de uma tal presença, que todos os naipes da orquestra precisem olhar para ele; o maestro vai conduzindo os músicos com uma segurança, com uma intensidade, com uma entrega que o lança nesse estado que o autor chama de “flow”. Para que possamos atingir o estado de “flow”, preci- samos nos esforçar por adquirir o máximo de ferra- mentas, o máximo de capacidade, de competência técnica, e temos de nos entregar a uma atividade de fato desafiadora. Ele diz que é justamente na arti- 62 S u rv iv al K it culação entre uma grande competência e um desafio verdadeiro que conseguimos atingir plenamente o es- tado de “flow”. Se somos jogados em um desafio verda- deiro sem ter todas as competências, vamos nos tor- nar ansiosos, tensos, desorganizados. E se, por outro lado, temos muitas competências mas nos lançamos a um desafio baixo, vamos entrar num estado de apatia, de morosidade, enfim, num estado pouco alerta. Então, vamos imaginar que um grande tenista, o Guga, vá jogar tênis comigo. Eu não tenho a mínima noção de tênis, não sei nem segurar uma raquete direito. E do outro lado está alguém que tem todas as competências, todas as habilidades, sendo muito pouco desafiado por mim, que não tenho competência e habilidade nenhuma no tênis. O Guga não vai conseguir entrar no estado de “flow”. Mas imaginem o Guga no final do torneio de Roland-Garros, competindo contra um outro jogador igualmente bom. Para que ele possa se entregar àquela atividade, para que possa estar ali presente, ele vai ter de adquirir o estado de “flow”. Ele estará na situação de ser maximamente desafiado, tendo todas as competências já desenvolvidas na sua pessoa. Do encontro entre o desafio máximo e a competência máxima vem o estado de “flow”, que, segundo o Mihaly, é um estado fantástico, um estado de preenchimento, de plenitude. O supremo desafio: 63 S u rv iv al K it A vida em família Uma das situações na vida que nos convocam a tomar posse desse estado de “flow” é, precisamente, todas as realidades que envolvem a nossa vida familiar, a vida doméstica. Quando entra um bebezinho na nossa vida, ou quando estamos desenvolvendo uma criança de quatro, cinco, seis anos, vemos que ela nos convoca, ela chama a nossa atenção, a nossa biografia, a nossa atividade, a nossa atitude, para um desafio, que é o de conseguir fazer com que aquela criança cresça de modo harmônico, de modo saudável, de tal modo que consigamos suprir todas as suas necessidades, atender a todas as suas demandas. Por isso, esse estado de pai, de mãe, de educador, já nos recruta, automaticamente, para um grande desafio. E, para que não fiquemos ansiosos, para que não pe- reçamos, não nos desorganizemos, não fiquemos desestimulados, loucos, só podemos fazer uma única coisa: adquirir uma série de competências. Temos diante de nós um grande desafio, uma grande demanda, e esse desafio não vai ceder, não vai dimi- nuir. Uma criança continua demandando de nós con- forme o tempo passa. Em primeiro lugar, uma criança demanda de nós o nosso físico – precisamos acordar várias vezes, a criança faz xixi, faz cocô, temos de lim- par, de cuidar etc. Depois, há uma demanda relaciona- da ao desenvolvimento intelectual, e precisamos estar 64 S u rv iv al K it atentos às várias dimensões daquela criancinha: inte- lectual, espiritual, afetiva. Essa demanda é muito grande, e não conseguimos baixar o seu nível. Às vezes, no trabalho, é possível baixar. Se me contrataram para ser CEO de uma empresa XYZ e eu vejo que não estou dando conta daquilo, é simples: eu peço demissão e vou para um cargo de gerência, um cargo inferior. Mas pai e mãe não podem se demitir da função. Teremos de ficar lá para sempre. Nós precisamos necessariamente adquirir algumas competências para poder entrar nisso que o Mihaly chama de estado de “flow”. Em um dos livros dele, “The Evolving Self” (creio que não há tradução desse livro), há uma teoria muito interessante. Lá no meio do livro ele coloca uma pirâmide em cuja base estão nossas necessidades básicas; depois vêm as necessidades psicológicas, e depois a necessidade de plenitude. Isso é muito interessante, ele dá um giro no conceito. Necessidades básicas são necessidades de comida, descanso etc. As necessidades psicológicas, sobre as quais eu queria falar aqui hoje, se não são supridas, nos impedem de evoluir, de adquirir competências importantes. Segundo o Mihaly – e eu concordo com ele –, não basta termos todo o domínio técnico-ferramental para abordar, por exemplo, uma situação com uma 65 S u rv iv al K it criança. Imagine só: eu tenho uma excelente formação na pedagogia, na psicologia, tenho uma base teórica bem sólida, mas não tenho as minhas necessidades psicológicas atendidas. Ou seja, não conseguirei entregar meu melhor “eu” naquela atuação. Então, vamos recapitular: se temos um desafio na vida, um desafiode trabalho, de relacionamento, um desafio enquanto pais, não é suficiente possuir todo o ferramental para abordar o problema. Precisamos também estar nós mesmos construindo a nossa própria personalidade. E como fazemos isso? Atendendo às nossas necessidades psicológicas e à necessidade de plenitude. Se não construímos também esse edifício interior, não vamos conseguir entregar o melhor que podemos, porque, se eu tenho a melhor serra elétrica do mundo, mas não estou forte o suficiente para segurá-la e manejá-la, ela de nada valerá, e não vou conseguir cortar a árvore. Essa é uma analogia útil para que entendamos que nós precisamos estar atentos, também, para a nossa formação interior. O Mihaly separa essas necessidades interiores em duas: existem as necessidades psicológi- cas e a necessidade de plenitude. Eu gostaria de falar sobre um ponto muito interessante relacionado às ne- cessidades psicológicas. Dize-me com quem andas 66 S u rv iv al K it e eu te direi quem tu poderás te tornar O autor diz que nossas necessidades de estima, de au- to-estima, precisam ser atendidas. Precisamos con- viver com pessoas que nos estimem, que gostem de nós. Isso não é egoísmo, mas uma necessidade hu- mana. Vivemos em uma comunidade humana, não é bom que o homem esteja só, não é bom que criemos as coisas sozinhos, pois, em algum momento, vamos perecer, não vamos chegar tão longe quanto podería- mos. É bom estarmos em companhia. Aí está o ponto: companhia de quem? Essa é uma coisa importante. Essa é uma máxima que devemos guardar na nossa cabeça, que eu levo para a minha vida, que é o seguinte: se eles não sonham, acorde. Se eu convivo com pessoas que não sonham, que não têm projetos, que não têm essa dimensão do apoio mútuo em projetos, em sonhos, em perspectivas, eu acordo: opa, tem alguma coisa errada aqui, eu tenho de acordar. Não posso continuar vivendo com essas pessoas desse modo. Se os outros não sonham, acorde. Quando eu começo a conviver com pessoas muito “pé no chão”, muito concretas, muito cheias de tarefas objetivas, que não têm a capacidade de projetar, de sonhar, de entender os projetos nos quais eu estou envolvido, eu tenho, de algum modo, de reposicionar essa pessoa 67 S u rv iv al K it na minha vida. Por quê? Porque essas pessoas levam a gente para baixo mesmo. Se começamos a conviver só com gente que não sonha, que não tem projeto, que não tem uma perspectiva de transcendência na vida, nós começamos a ficar esquisitos, a diminuir, a nos preocupar só com as coisas deste mundo, e tudo acaba nos afetando, no final das contas. Dito de outro modo: os pessimistas não são pessoas muito razoáveis. São pessoas que terminarão tristes. São pessoas que não completam, que não alcançam, que não entregam. Os pessimistas não são pessoas mais “realistas” – uma coisa não tem nada que ver com a outra. A realidade pode ser vista de vários ângulos. Os pessimistas escolhem ver a realidade segundo suas deficiências, suas limitações, as limitações do ambiente. Os que sonham são pessoas que em geral alcançam. Aquela frase de para-choque de caminhão, “Quem sonha, conquista”, está certa. Se eu nem sonho, eu nunca vou conquistar. Então, esse é o exercício de hoje: faça uma lista das pessoas que convivem com você e se pergunte se elas têm sonhos, se elas entendem os seus sonhos, ou se elas sempre invalidam os seus projetos, de tal modo que você nem consegue mais se expressar. Se você convive com pessoas assim, então você tem um grande desafio, que é mostrar para elas que os seus sonhos podem colocar você para frente, funcionam na verdade como 68 S u rv iv al K it um motor, não são coisas aleatórias. Então, a primeira coisa que temos de ter na cabeça é o seguinte: antes de sentar e programar os objetivos muito concretos, temos de ter nosso objetivo grande, a finalidade, o objetivo de longo prazo, o sentido. É isso que chamamos de “sonho”, no fim das contas. É isso que eu quero, no fim das contas. Então, eu preciso saber quais são as pessoas com as quais eu vou conviver, e se elas são pessoas invalidadoras, pessoas que vão roubar de nós os nossos sonhos. Pessoas que roubam de nós os nossos sonhos são pessoas que nos roubam de nós mesmos, pessoas que não nos ajudam. Como já dizia Santo Tomás de Aquino, amizade é querer as mesmas coisas e rejeitar as mesmas coisas. Amigo é aquele que ama o mesmo que você e odeia o mesmo que você. Então, se você convive com pessoas que não sonham, acorde. Isso é muito importante. Você tem de entender que fulano, beltrano e sicrano são pessoas que têm mais dificuldade de fazer projetos, de ter um projeto de longo prazo, ou transcendente, enfim, um projeto que importe. Educar filho tem sempre essa dupla dimensão. Quando educamos uma criança, ficamos em uma tensão, no meio de um caminho. Um dos extremos desse caminho é o “get things done”, pois há certas coisas que devemos 69 S u rv iv al K it fazer sempre: a criança sempre tem de estar vestida, alimentada, com o cabelo cortado, com a gaveta em ordem etc. Essas são as coisas materiais relacionadas à educação de filho, e são importantes, é preciso ter um método para que sejam alcançadas. Porém, em educação de filho, é preciso ter um outro objetivo, de longo prazo, que é o da transcendência: aonde eu quero que meu filho chegue? Quem eu quero que ele seja? Essa pergunta pede uma resposta que sempre transcende o mundo sensível. A resposta a essas perguntas – quem eu quero que fulano seja? Quem eu quero ser para essa pessoa? – sempre transcende as coisinhas que eu tenho de fazer no dia-a-dia. Porém, se eu só respondo a essas perguntas, se eu só tenho o sonho, sem ter a articulação com as coisas a fazer no dia-a-dia, eu vou me perder também, não vou alcançar meu sonho. Aqui está uma grande sabedoria sobre educação de filho e sobre projetos de vida. Precisamos ter essa necessidade psicológica da estima atendida – precisamos saber que as pessoas nos valorizam, valorizam aquilo que temos de mais superior, que são os nossos sonhos, nossos projetos, o interior da nossa alma. Precisamos dessa necessidade psicológica sempre atendida. Quando essa necessidade psicológica é atendida, nossa personalidade vai se formando, e então torna-se possível alcançar aquela necessidade 70 S u rv iv al K it de plenitude. Para que a necessidade da estima seja atendida, precisamos de pessoas ao nosso redor. Precisamos montar um time de pessoas que validam nossos sonhos. Pessoas que estão ali querendo saber o que temos na cabeça, quais são os nossos sonhos, os nossos projetos, qual o nosso próximo passo, o que estamos fazendo para alcançar o próximo passo – enfim, onde o nosso coração de fato pulsa. Precisamos ter a sabedoria de montar esse time. Temos de perder a mania tipicamente brasileira de “não vai dar certo”, essa mania de dizer para alguém que tem um sonho, um projeto: “Ah, cara, esqueça isso, vá fazer um concurso público.” Nada contra concurso público, mas o concurso público muitas vezes é um símbolo dessa incapacidade de sonhar, de dar o próximo passo, de acreditar na nossa própria potência – validados, apoiados por outras pessoas. Então, essa é a idéia de hoje: a necessidade psicológica da estima. E, para que tenhamos essa necessidade suprida – para que tenhamos força para entregar o melhor de nós, o melhor serviço, o melhor produto –, precisamos ter a sabedoria de nos cercar de pessoas que não invalidam os nossos sonhos. Na educação de filho, nós temos um grande sonho: queremos que nosso filho seja um bom cidadão, seja 71 S u rv iv al K it uma boa pessoa, um bom pai de família, uma pessoa que entregue valor,
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