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Survival Kit - Italo Marsili

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EDITOR CHEFE 
ARNO ALCÂNTARA
REDAÇÃO E CONCEPÇÃO
MARCELA ANDRADE
DIREÇÃO DE CRIAÇÃO
MATHEUS BAZZO
 
DESIGNER 
JONATAS OLIMPIO
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - WRL TREINAMENTOS
3
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Médico psiquiatra formado pela Universida-
de Federal do Rio de Janeiro. Trabalhou como 
psiquiatra forense canônico no Tribunal 
Eclesiástico de São Sebastião do Rio de Janei-
ro. Italo já ministrou os cursos “Os 4 tempe-
ramentos”, “Afetividade infantil e harmonia 
familiar”, “Faça a coisa certa” e “Segredos 
da suplementação”. Atualmente, além de 
atender como psiquiatra em seu consultório 
particular no Rio de Janeiro, Italo se dedica 
à produção de conteúdo para o seu canal 
no Youtube, tendo recebido o prêmio Digital 
Awards Brasil 2018, na categoria Redes So-
ciais. Italo é pai de 6 filhos (and counting…).
D
r. 
Ita
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EM 2019, QUERO QUE VOCÊ 
TENHA A OUSADIA DE MUDAR.........................
PARE DE FAZER FOFOCA E 
RECLAMAR DAS COISAS!......................................
VOCÊ SE SENTE DESVALORIZADO? 
ENTÃO PRECISA LER ISTO....................................
EM BUSCA DE SENTIDO E 
DA MELHOR PERFORMANCE............................
COMECE O DIA 
COM PRESENÇA........................................................
VOCÊ TEM ANDADO COM 
PESSOAS INVALIDADORAS?................................
COMO GERAR ENERGIA 
NO DIA A DIA................................................................
COMO ACELERAR A CONQUISTA 
DOS SEUS OBJETIVOS...........................................
RECEITA PARA NÃO SE FRUSTRAR 
COM OS OBJETIVOS DE ANO NOVO................
SU
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DE MUDAR
Não passam de traidores 
nossas dúvidas, que nos 
privam, por vezes, do que 
fora nosso, se não tivéssemos 
receio de tentá-lo.
- William Shakespeare - 
“Medida por medida”
As oportunidades passam 
na nossa frente de vez 
em quando. Quando elas 
passam, você tem duas 
opções: ou você se caga 
nas calças, ou você as 
agarra.
- Mairo Vergara -
ou
EM 2019, 
QUERO 
QUE VOCÊ 
TENHA A 
OUSADIA
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Vou confessar uma coisa para vocês: eu adoro 
planejamento de ano novo. Se, por um lado, a diferença 
entre o dia 31 de dezembro e o dia 1º de janeiro é de 
apenas uma folhinha no calendário, por outro, é 
importante estarmos inseridos nesses marcos – seja 
nos marcos cosmológicos, seja nos marcos civis.
Eu sempre reforço a importância de anotarmos as 
coisas, e agora não é diferente: gostaria que você 
escrevesse aquelas coisas que você fez bem neste ano, 
aquelas coisas que você poderia ter feito melhor, e 
também elegesse dois pontos nos quais você vai bater 
firme no ano que vem.
Então, quero que você escolha duas coisas, duas 
áreas, em que é preciso melhorar, e anote. 
Essas coisas têm de ser de domínios importantes. 
Quais são os domínios importantes da vida? Há vários, 
como a religião, os relacionamentos, a vida financeira, 
a vida familiar, a vida profissional, a saúde. Preciso que 
você escolha algum ponto de um desses domínios, 
para estabelecermos a meta que você vai perseguir 
diariamente no ano que vem. 
Por que isso é importante? Porque isso é um símbolo 
da sua capacidade de mudança. Se eu me acostumo 
a nunca estar bem disposto, a nunca estar bem, se 
eu acho que acabo frustrando todas as metas que 
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estabeleço, que, enfim, eu não consigo mudar, isso vai 
criando um desânimo, e pode entrar no nosso espírito 
uma predisposição ruim, uma sensação de: “É, estou 
aqui remando contra a maré, e as coisas não estão indo 
muito bem”.
Aqui está o ponto central: isso NÃO é verdade. 
Podemos de fato mudar, podemos nos transformar 
ao longo da jornada da nossa vida, e essa é a 
nossa tarefa pessoal. Minha tarefa pessoal é ajudar 
você a se transformar, a sair diferente de quando 
entrou, a sair melhor. É para isso que estamos aqui. 
Essa transformação passa por um melhoramento 
intelectual. Tenho muito conteúdo preparado, de boa 
qualidade, que transmitirei a você ao longo deste ano.
A outra coisa que eu quero de fato dar para 
você é essa esperança, essa capacidade, essas 
ferramentas de mudança pessoal para ajudar no 
amadurecimento da personalidade e no controle 
da emotividade. 
O sentido de tudo isso é ir preparando nosso intelecto 
para que a nossa personalidade, a nossa vida, a nossa 
biografia faça sentido no final de tudo.
Então eu quero que você escolha dois pontos e os 
anote, para ir conferindo ao longo do ano que se inicia. 
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Como exemplo de metas que você pode se propor, 
temos, por exemplo, aquelas que mudem o nosso jeito, o 
nosso mau jeito. Pessoas, por exemplo, mal-humoradas, 
pessoas que têm dificuldade de ser simpáticas. Se você é 
assim e acha que isso atrapalha sua vida, pode se propor 
um belo exercício: sorrir para as pessoas antipáticas, 
por exemplo. Ou então, para aqueles que acordam de 
mau humor, estabelecer como meta acordar sorrindo. 
Ora, não há razão para acordar de mau humor. A vida 
é um dom, é o lugar que nos foi dado para poder agir, 
servir aos outros, para que possamos desenvolver 
nossa biografia, nossa personalidade. Por que ter mau 
humor nesta vida? Uma meta para os mal-humorados, 
então, pode ser esta: acordar sorrindo. 
Alguns vão dizer que isso é artificial, mas a verdade é 
que, quando mudamos o nosso estado biológico, quan-
do mudamos a forma como fazemos as coisas exte-
riormente, ativamos mudanças bioquímicas, o nosso 
estado muda. É uma via de mão dupla: quando muda-
mos nosso estado de espírito, mudamos nosso com-
portamento; muitas vezes, quando mudamos nosso 
comportamento, mudamos nosso estado de espírito. 
Muitas vezes é mais fácil mudar o comportamento, 
acordar sorrindo e falar: “Hoje serei bem-humorado. 
As pessoas que estão ao meu redor não merecem que 
eu seja intratável, eu não mereço ser assim”. Essa pode 
ser uma meta. Outra meta possível é melhorar inte-
lectualmente. Separe um tempo diariamente para a 
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leitura, ou para assistir a um podcast, além deste, que 
possa de fato acrescentar um valor em sua vida.
Banho frio e não reclamar não são metas de ano novo; 
são metas de vida. Isso é para fazer sempre, todo dia, 
todo ano. 
Não tente parecer bonitinho ao escolher os pontos 
de melhora. Olhe sinceramente para onde você 
precisa melhorar. Seus pontos de melhora podem 
parecer bobos, mas isso não importa; eles têm de ser 
verdadeiros. Também não importa se os pontos que 
você escolheu são fáceis ou difíceis; o que importa é 
o seu tesão por perseguir o resultado durante um ano 
inteiro. É para escolher apenas dois; três, no máximo. 
Se você escolher mais do que isso, você está com treta 
e eu vou te mandar para aquele lugar.
• A GRANDE SACADA •
Selecionar 2 pontos de mudança para perseguir ao 
longo do ano de 2019 lhe dará a confiança de que é 
possível mudar para melhor.
• APLICAÇÃO PRÁTICA •
Selecione 2 pontos de mudança, de domínios 
importantes, para perseguir ao longo do ano de 2019.
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• 1º ponto de mudança:
• Área:
• Com relação a essa meta…Como estou hoje?
• Como quero estar daqui a 1 ano?
• O que posso fazer para que isso aconteça?
Exemplos de domínios importantes: Religião/Vida 
Espiritual; Vida Intelectual; Relacionamentos; Convívio 
Familiar; Saúde; Vida Financeira; Trabalho. 
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• 1º ponto de mudança:
• Área:
• Com relação a essa meta…Como estou hoje?
• Como quero estar daqui a 1 ano?• O que posso fazer para que isso aconteça?
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AH, DR. ITALO, EU NÃO 
CONSIGO MUDAR! 
BUÁ, BUÁ.
GENTEM, O FRACASSO 
ESTÁ SUBINDO À CABEÇA.
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PARE DE 
FAZER 
FOFOCA E 
RECLAMAR 
DAS COISAS!
Quando todo mundo quer saber é 
porque ninguém tem nada com isso.
- Millôr Fernandes -
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Para que você se torne uma pessoa mais presente, 
exercendo o domínio sobre os seus afetos, é preciso 
reprogramar algumas disposições habituais de 
agir no mundo. Se não ajustarmos certas disposições, 
nosso “jeito”, nosso temperamento, há uma grande 
chance de que nossas melhores intenções sejam 
frustradas. 
Vou contar um caso que ouvi há alguns dias, de uma 
senhora que não conseguia emagrecer. Ela é cozinheira 
gourmet, daquelas que vão à casa das pessoas e 
preparam o cardápio da semana. Essa senhora cozinha 
muito bem, mas não conseguia emagrecer. Então, foi 
à nutricionista e disse: “Não sei por que não estou 
emagrecendo. Eu não como nada, só belisco um 
pouquinho. Fico o dia inteiro cozinhando, acabo não 
parando, não me sento para almoçar, para tomar café 
da manhã, para jantar, porque, se eu parar para fazer 
isso, não dou conta do meu trabalho. Vou provando um 
pouquinho das coisas que cozinho para as famílias, e 
isso é tudo que eu como ao longo do dia. Não como mais 
nada além disso.” A nutricionista, muito sabiamente, 
falou o seguinte: “Vamos fazer assim: antes de 
começarmos a dieta, você vai levar esta balança aqui 
e, sempre que for provar alguma coisa, vai colocar 
uma medida igual na balança, para vermos quanto, no 
final do dia, você está ingerindo.” A cozinheira então 
me contou: “Você não imagina o quanto eu como por 
dia! Só de prova de comida, eu como um quilo e meio.” 
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Tudo que ela ia beliscando ao longo do dia somava 
um quilo e meio. Ora, ela não emagrecia porque comia 
muito. Mas até então ela achava que quase não comia, 
só “beliscava” um pouquinho. É como muitos pensam: 
“É só um pouquinho. Isso não me afeta, não altera o 
meu comportamento, meu corpo.” 
Temos o mau hábito de dar por pressupostas muitas 
coisas em nossa vida. “Eu já ajo bem, já examinei o 
problema, tal coisa não acontece comigo, tal risco não 
existe para mim.” A verdade é que certos hábitos 
em nossa vida destroem nossa disposição para 
interagir com as pessoas que convivem conosco, 
e hoje vamos falar sobre dois deles. Por experiência 
de atendimento, por experiência de família, por 
experiência pessoal, sei que esses maus hábitos estão 
presentes em quase todo mundo do território nacional. 
E, se essas coisas estiverem de fato presentes no dia a 
dia, na dianteira da nossa atuação, nossa capacidade de 
interação positiva com os outros acaba se deteriorando.
Dois hábitos que destroem nossa capacidade de 
amar
Proponho a você um desafio semelhante àquele da 
cozinheira: quero que você ponha na balança a 
quantidade de vezes que você se queixa. Passe a 
reparar quantas vezes você reclama ao longo do dia – 
expressamente ou apenas mentalmente. Queria que 
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você contabilizasse isso, a partir de hoje. E por que 
razão? É porque uma pessoa que habitualmente vai 
botando reclamações na “bagagem” chegará ao final do 
dia com a carga muito pesada. E a pessoa não consegue 
se livrar daquilo, porque a queixa, a reclamação, tem 
pouco potencial para nos ajudar a melhorar como 
pessoas.
Reclamação e queixa prejudicam nosso status de 
percepção. A cabeça e o corpo ficam vibrando em uma 
espécie de “modo de operação negativa”. Dificilmente 
sai alguma coisa boa de uma pessoa que só se queixa. 
Ela vai nutrindo, ao longo da vida, uma característica 
de pessimismo, de olhar para tudo com um olhar 
negativo, um olhar meio cinza. Essa pessoa terá pouca 
capacidade de abraçar a vida com disposição, 
com energia, com alegria. Se na fronteira dos meus 
relacionamentos está uma tendência a me queixar, 
não terei condições de entregar um grande valor para 
aqueles com quem convivo. Reparem que, em geral, 
não queremos conviver por muito tempo com uma 
pessoa que tem sempre uma reclamaçãozinha a fazer, 
que sempre se queixa de algo. Convivemos com essas 
pessoas por necessidade.
Acontece, aí, uma coisa muito simples: se somos 
reclamões, fatalmente traremos essa característica 
para os círculos mais íntimos da nossa convivência, 
e o mais natural é que nosso marido, nossa esposa, 
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nossos filhos, nossos amigos, também passem a nutrir 
uma disposição de se afastar de nós. E chegará um dia 
em que você não vai entender por que essas pessoas 
não querem conviver com você. Ora, quem gosta de 
conviver com quem só reclama? Você se sentaria a uma 
mesa que só tenha reclamões? Ou preferiria se sentar 
a uma mesa onde estejam pessoas mais animadas, que 
param para ouvir, que perguntam como está a nossa 
vida? Sabemos que, no ambiente profissional, na vida 
em família etc., as pessoas que só reclamam são, em 
geral, as menos confiáveis, porque daqui a pouco 
estarão reclamando de nós.
O desafio dos 8 dias
Contar o número de queixas é importante. E, depois 
que você tiver uma média de quantas vezes reclama de 
algo por dia, é a hora de aceitar o desafio dos oito dias. 
Por oito dias, aceite o desafio de não reclamar de 
nada. “Ah, isso é artificial.” É mesmo, é artificial. É um 
exercício, um exercício artificial. Por acaso não vamos 
à academia de ginástica fazer exercícios artificiais que 
depois vão dar um efeito bom para o nosso corpo? É a 
mesma coisa aqui. Espero que você aceite o desafio de 
não se queixar por 8 dias (e olha que são só 8 dias). 
Por 8 dias, não vale reclamar do cosmos, da política, 
da economia, do patrão, do empregado, do vizinho. 
Se você observar um movimento de queixa, recue 
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e diga: “Eu aceitei um desafio. Tenho o desafio de 
fazer com que meus filhos, no médio prazo, queiram 
ficar perto de mim. Tenho o desafio de fazer com que 
meu marido, minha esposa, no médio prazo, queira 
conviver comigo; que as pessoas com quem trabalho 
queiram conviver comigo. Eu entendi que uma pessoa 
que se queixa é uma pessoa chata, uma pessoa que não 
acrescenta nada, uma pessoa que, no final das contas, 
vai ficar sozinha – ou vai atrair outras pessoas que 
só se queixam.” No desafio de 8 dias, se você se pegar 
reclamando, terá de pagar uma prenda. Estabeleça 
para si mesmo uma punição – tem de ser algo sério, 
algo que tenha o poder de coibir o vício de reclamar. 
“Fulano é muito bom, mas...”: 
Pare agora mesmo de fofocar
Quase todo mundo fofoca. Provavelmente, aprende-
mos isso em casa. Com a graça de Deus, algumas pes-
soas podem ter uma família onde não há fofoca, mas, 
habitualmente, nosso ambiente familiar é um ambien-
te de fofoca. Geralmente, um está sempre falando do 
outro. Repare se não é assim: quando abrimos a boca 
para falar de outra pessoa, começamos de um modo 
neutro: “Essa pessoa é muito boa, etc e tal, mas...” E 
a coisa vai descambando. A fofoca raramente vai dar 
em elogio, em exaltação, em reconhecimento das vir-
tudes do outro. Em geral, a pessoa fofoqueira termina 
falando mal do outro, mas com um ar de “eu sou uma 
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pessoa ponderada, estou apontando um defeito em 
fulano pelo bem dele, seria melhor que esse defeito 
não existisse.” Existe também aquele sujeito que não 
reclama, mas é o engraçadão do grupo, está sempre 
fazendo uma fofoca, falando uma coisa má do outro. 
Esse é o fofoqueiro disfarçado.
Na verdade, fofoca é coisa de invejoso. Quando co-
meçamos a nutrir inveja, começamos a fofocar. Re-
parem que fofocamos principalmente das pessoas de 
quem temos inveja. Fofocar é ruim.Quem fofoca bate 
o martelo sobre o juízo que faz da outra pessoa. O fofo-
queiro vai se fechando para a percepção do outro. 
Começa a aparecer no nosso peito um sentimento de 
inveja, e nos fechamos para as bênçãos da vida, para 
as coisas boas que a vida oferece. As pessoas que têm 
a fofoca como hábito vão se tornando cada vez mais 
incapazes de perceber que estão vivas, que a vida é 
boa, que estamos no mundo para desenvolver nossos 
talentos, ajudar os outros, crescer, devolver algo para 
a sociedade, para aqueles que amamos, para a família, 
para o cônjuge. As pessoas que não têm essa capacida-
de de se sentir vivas são, em geral, as pessoas que estão 
entregues à queixa e à fofoca. O espírito de queixa 
rouba de nós a capacidade de amar, de agir, de ser 
grato pela vida. Se queremos demonstrar amor 
para as pessoas do nosso convívio, entregando-
-lhes nossa personalidade inteira e as fundações 
com as quais elas possam construir a sua própria 
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vida, eis aí dois pontos dos quais devemos cuidar: 
a reclamação e a fofoca.
Afinal, não é para isso que estamos aqui, como pai, 
como mãe, como professor, como educador, como 
marido e como mulher? De algum modo, nós somos 
suporte, um suporte amoroso para que os outros 
possam desenvolver sua personalidade, sua biografia. 
Se não estamos aqui para isso, provavelmente nossa 
vida de fato não está sendo bem vivida. Quando uma 
pessoa diz que a vida está sem sentido, ou que não se 
sente viva, que os dias estão passando como a água que 
passa por debaixo da ponte, sem deixar marca – essa 
pessoa em geral tem razão, sua vida está sem sentido 
mesmo. Não estou aqui para ser animador de torcida. 
Não vou ficar falando que a coisa é boa, se não for. Para 
ganharmos essa capacidade, essa disposição de encarar 
a vida, uma boa dica é parar de se queixar e de fazer 
fofoca. Esse é um exercício excelente, que, se praticado 
com afinco, pode nos transformar ao longo deste 
ano. Não existe essa história de “ficou velho, não 
muda mais”. Isso não é verdade. Podemos mudar 
até o último dia da nossa vida, no último segundo da 
nossa vida, e, às vezes, basta um exercício desses para 
a gente mudar. Repare que, se estamos desocupados, 
ficamos fofoqueiros; se estamos muito ocupados, nos 
queixamos da vida. Mas há, no meio disso, uma coisa 
chamada vida – essa vida maravilhosa, que está pronta, 
que está pedindo para ser vivida, para que entremos 
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nela e consigamos produzir, entregando o melhor 
para os que convivem conosco, para as pessoas que 
amamos, para a sociedade.
• A GRANDE SACADA •
Os hábitos de reclamar e fazer fofoca roubam de nós a 
capacidade de amar, de viver com mais abertura para 
as bênçãos da vida, e, no fim, nos tornamos pessoas 
desagradáveis, com quem ninguém quer conviver.
• IDÉIA EM AÇÃO •
PARE de RECLAMAR
Passe a observar quantas vezes você reclama de alguma 
coisa ao longo do dia, seja expressamente ou apenas 
mentalmente.
PARE de fazer FOFOCA
Passar oito dias sem reclamar de nada, de NADA, não 
importa o que aconteça. Por oito dias, não reclamar 
do trânsito, da política, da comida fria, do feijão sem 
bacon, das manias do cônjuge e dos filhos.
• APLICAÇÃO PRÁTICA •
Registre em um caderno, em seu diário, “journal”, ou o 
que o valha, diariamente e por oito dias, as ocasiões em 
que você teve o ímpeto de reclamar de alguma coisa, 
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mas conseguiu se conter. Observe como se sentiu 
depois, ao notar o seu autocontrole vencendo essa 
má inclinação. Sua percepção da situação concreta 
teria sido afetada caso você entrasse no estado de 
reclamação?
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VOCÊ SE 
SENTE DES-
VALORIZA-
DO? ENTÃO 
PRECISA 
LER ISTO
Suportai-vos uns aos outros e 
perdoai-vos mutuamente, toda 
vez que tiverdes queixa contra 
outrem. 
- Colossenses 3:13 -
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Hoje eu quero comentar com vocês o resultado de 
uma pesquisa encomendada por algumas empresas 
para informar qual é o maior motivo pelo qual as pes-
soas pedem demissão. Tratava-se de um questionário 
aberto, a pessoa podia escrever o que quisesse. 
Podemos pensar em vários motivos pelos quais uma 
pessoa pede demissão: baixo salário, carga horária 
muito pesada, medo de ir para o trabalho, enfim, há 
várias opções. Mas o incrível é que 70% das pessoas 
que responderam ao questionário afirmaram que 
o principal motivo pelo qual estavam pedindo 
demissão era não se sentirem valorizadas. 
Vamos pensar um pouco: a pessoa está ali empregada, 
ganhando seu dinheiro; ela empenhou energia, 
estudou para aquilo, se formou, se dedicou, procurou 
emprego, foi chamada, levanta cedo todos os dias, se 
prepara para o trabalho, busca cumprir sua tarefa, 
mas, depois de um tempo acaba não se sentindo 
valorizada. Então a pessoa faz o quê? Pede para sair. 
70% das pessoas que pedem para sair alegam que não 
estavam se sentindo valorizadas. 
Essa pesquisa nos serve de alerta. As áreas de estudo da 
família, da pedagogia e da interação pessoal carecem, 
muitas vezes, de estudos científicos. Não é fácil 
encontrar estudos consistentes nas áreas da interação 
humana, dos relacionamentos, da afetividade, da 
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pedagogia, da educação. Muitas vezes os estudos a 
que recorremos são de outras áreas, e é dali que temos 
de derivar nossas observações, é dali que extraímos 
o conteúdo que será trabalhado para criar uma base 
de conceitos, uma base teórica. Geralmente é assim 
que funciona. Por isso, todo esse campo da empresa 
traz para nós uma série de critérios, de conteúdo, 
de estudos muito interessantes, como é o exemplo 
desse estudo que mencionei: 70% das pessoas que 
abandonam o barco tomam essa decisão porque não 
estão se sentindo valorizadas.
Quando paramos para olhar as interações humanas, 
seja de pais e filhos, seja de marido e mulher, vemos 
que muitas vezes as pessoas estão incomodadas 
e insatisfeitas – estão reclamando, buscando 
compensações em outros lugares, nas amizades ou 
em outros relacionamentos, em traições, ou estão 
buscando compensações no trabalho porque não se 
sentem valorizadas dentro de casa. Isso nós vemos 
acontecer com frequência. Infelizmente, é uma 
realidade. Como mudar essa realidade na nossa vida? 
Em primeiro lugar, é preciso evitar cair em uma cer-
ta tentação. Quando procuramos um curso sobre rela-
cionamento, sobre interação de pai e filho, ou quando 
assistimos às lives do Dr. Italo, há sempre a tentação de 
projetar no outro o que estamos ouvindo. Quando eu 
digo que 70% das pessoas que abandonam o barco 
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o fazem porque não estão se sentindo valorizadas, 
temos a tentação de pensar imediatamente: “Eu 
também passo por isso, fulano não me valoriza. 
Meu filho não me valoriza. Meu marido não me 
valoriza. Minha esposa não me valoriza.” Essa é a 
primeira tentação que aparece: a de projetar no outro 
o conteúdo que estamos ouvindo. 
Para resolver isso, podemos tentar fazer o contrário e 
pensar o seguinte: “Será que eu estou valorizando meu 
filho, minha filha, meu marido, minha esposa? Será 
que eu, quando olho para ele, estou tentando encon-
trar dentro daquele espírito, daquela biografia, daque-
la pessoa, o valor que ela tem?” Em vez de projetar no 
outro uma insatisfação, podemos primeiro sondar em 
nós mesmos, investigar em nós quais são os pontos 
que podemos de fato mudar. A mudança pessoal de 
fato está na nossa mão; a mudança do outro, muitas 
vezes, não. O outro vai precisar de um estalo, de um 
start para que ele mude. E muitas vezes esse estalo, 
esse start, só acontece a partir da nossa mudança em 
primeiro lugar. 
O outro precisa da nossa atenção
Se 70% das pessoas que abandonam o barcoo fazem 
porque não estão sendo valorizadas, como eu posso 
agir para que o outro perceba que eu o valorizo? Há uma 
coisa fundamental – uma coisa que, se conseguirmos 
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trabalhar diariamente, nos ajudará a vencer. Que coisa 
é essa? É a atenção. 
Parece muito simples, mas a atenção é o primeiro mar-
co de que estamos valorizando o outro. Uma pessoa 
que recebe atenção naturalmente vai se sentir valo-
rizada. Não precisamos de grandes recursos para que 
possamos fazer com que o outro note que o amamos. 
Há um livro do Gary Chapman chamado “As cinco lin-
guagens do amor”. É um livro muito bom, recomendo 
que vocês o leiam. Esse livro ensina que cada pessoa 
tem um modo distinto de reconhecer o amor, de reco-
nhecer que está sendo amada, que está sendo valori-
zada – seja seja pelos presentes que podemos lhe dar, 
seja pelas palavras afirmativas que lhe dirigimos, seja 
pelos serviços que lhe prestamos.
Isso tudo é verdade, o Gary Chapman está certo. Mas há 
uma coisa que é anterior a todas as cinco lingua-
gens do amor, que é a atenção. Por exemplo, uma 
das linguagens do amor que Gary Chapman sinaliza 
no livro é “dar presentes”. Muitas pessoas se sentem 
valorizadas quando recebem presentes. Mas acontece 
o seguinte: antes desse presente, é preciso que exista 
um esforço de estar atento, de estar presente. No nosso 
idioma podemos fazer um trocadilho útil: muitas ve-
zes a pessoa não quer presente, mas presença; ela não 
quer ganhar um presente; quer, sim, ganhar a nossa 
presença. Presente e presença são coisas que a gente 
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sempre tem de trabalhar para que aquele presente que 
oferecemos seja reconhecido como um valor. Muitas 
vezes, antes de dar o presente para alguém, temos de 
ter oferecido nossa presença. E isso nós oferecemos 
através da nossa atenção. Conheço muitas mulheres 
que dizem: “Fulano me deu um presente só para com-
pensar um erro antigo.” Ou seja, a pessoa não conse-
gue valorizar o presente que está recebendo porque 
sabe que a outra pessoa não lhe dispensou a atenção 
necessária. 
A dica muito clara que daremos hoje é a seguinte: 
como garantir que estamos presentes em uma 
relação – seja com um amigo, com um filho, com 
nosso marido, esposa, namorado, namorada? 
A resposta é: se conseguimos lhes dar atenção. 
Como podemos notar se estamos dando atenção 
ou não? A primeira providência é tomar posse da 
totalidade da nossa consciência quando entramos 
em uma relação humana. 
Isso não chega a ser um desafio, mas é um convite: a 
primeira coisa que temos de observar, quando entramos 
em uma relação – qualquer que seja ela, pode ser uma 
relação com o flanelinha que está guardando o nosso 
carro, uma relação com a secretária de um consultório 
médico, uma relação com o chefe, com o subordinado, 
com a esposa, com o filho –, é preciso prestar atenção 
no seguinte: eu entrei ali com a totalidade do meu 
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olho? Essa é a primeira coisa que temos de observar. 
Quando eu entro em um lugar para interagir com uma 
pessoa, eu busco olhar para ela com o meu olho? Ou 
estou olhando para ela com uma série de projeções, 
com uma série de expectativas, com a periferia da 
minha alma? Aqui está o ponto: se entramos em 
um lugar e não conseguimos acessar o nosso olho, 
se nosso olho não bate no olho da outra pessoa, 
na alma da outra pessoa, na biografia da outra 
pessoa, podemos ter certeza de que não estamos 
atuando com a totalidade da nossa presença. 
Isso é um sinal de que ainda não dominamos 
essa função do nosso espírito. Necessariamente, 
as pessoas com as quais interagimos vão se sentir 
desvalorizadas, porque elas estão de fato sendo 
desvalorizadas de alguma forma. Não estamos 
conseguindo encontrar o valor da pessoa humana 
do outro lado. 
Esse é o exercício que vamos propor hoje: conseguir 
recrutar a totalidade do nosso olho. Isso é um exercí-
cio que podemos ir fazendo ao longo de toda a nossa 
vida. Sempre podemos melhorar isso. Muitos pro-
blemas de desobediência e irritação infantil são 
resolvidos quando simplesmente o pai e a mãe 
conseguem virar essa chave. Eles conseguem, ao 
longo de uma, duas, três semanas, recrutar a to-
talidade do próprio olho para observar, para es-
tar em contato, para tocar no filho. Muitas vezes, 
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conseguimos resgatar casamento assim, conseguimos 
reacender uma coisa que estava apagada. Consegui-
mos despertar uma coisa que estava adormecida se 
um dos dois – e aqui está a maravilha, basta um dos 
dois – começar a se exercitar assim. Se um dos dois co-
meça todo dia, ao longo de uma, duas, três semanas, a 
olhar para o outro, a procurar o outro, o outro começa 
a ser encontrado. E, quando o outro é encontrado, ele 
começa a falar a partir do lugar em que nós o encon-
tramos. Isso parece uma coisa à toa, mas não é. Isso é 
um recurso psicológico, um fenômeno psicológico. 
Se entra no meu consultório um sujeito com uma man-
cha de ketchup na blusa, meu olho bate na mancha 
de ketchup e naturalmente a pessoa pára e olha para 
onde eu olhei. Não é assim que funciona? Em geral as 
pessoas olham para onde a gente está olhando. Se nós, 
em um relacionamento, começamos a olhar dia 
após dia para o centro da outra pessoa, essa outra 
pessoa começa a olhar para o seu próprio centro, 
começa a falar a partir dali. Ela já não vai agir a par-
tir da sua periferia. Isso parece poesia, parece abstrato, 
mas isso é uma das coisas mais concretas que existem 
em relacionamento humano. Isso aqui muda destino, 
consegue mudar a qualidade da interação, levar mes-
mo nossos relacionamentos para um outro nível. Isso 
é a primeira coisa. Parece abstrato, mas não é. Isso é 
muito concreto. 
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Queria propor que vocês anotassem ao longo dos dias: 
“Eu realmente comecei a reparar no meu olho e come-
cei a recrutá-lo quando eu começava a interagir com 
as pessoas.” Queria que vocês escrevessem a mudança 
que vão reparar na qualidade da interação. É curiosís-
simo, as pessoas que estão ao nosso redor começam 
a melhorar. Muito do segredo de consultório é isso: a 
pessoa chega aqui e eu estou olhando para ela. Eu fico 
uma hora olhando para a pessoa. Eu estou olhando 
para a totalidade do espírito dela, olhando para a to-
talidade da sua biografia. Eu tento não me dispersar e 
a pessoa vai melhorando. É uma coisa que parece má-
gica, parece bruxaria, mas é só tecnologia, tecnologia 
psicológica. É assim que a coisa acaba funcionando. 
Esse é um recurso de tecnologia psicológica que eu es-
tou dando para você. Vamos começar a olhar para o 
outro com o olho, essa é a primeira coisa. 
Ponha seu smartphone em seu devido lugar
Existe um outro exercício que talvez possa dar uma 
métrica mais palpável. É algo que está à mão de todo 
mundo. Todos nós temos um smartphone hoje em dia, 
não é? E não há nada que roube mais nossa atenção do 
que isso. Quando vamos interagir com qualquer pes-
soa, temos de nos policiar bastante quanto a isso. Por-
que a todo momento aparece um pop-up: três, quatro 
notificações aparecendo no Whatsapp: será algum pa-
ciente grave? Será minha mãe querendo falar comigo? 
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Será minha esposa querendo falar comigo? O que está 
acontecendo? É minha secretária? O que está aconte-
cendo? Ficamos desatentos. Assim, não conseguimos 
envelopar a outra pessoa com toda a nossa atenção, 
com tudo o que ela merece. 
Por isso, quero propor um desafio para quando você 
for a um almoço ou a um jantar com seu filho, com 
sua esposa, com seu marido: deixar o celular no carro. 
Pessoal, ninguém morre. Deixar o celular no carro 
e estar ali, na totalidade, com a pessoa que está à 
nossa frente. Isso pode doer – “Não, não consigo. Não 
consigo deixaro celular no carro, vai que...” Esse “vai 
que alguém precisa” é que acaba matando as relações 
que estão na nossa frente. Por causa desse “vai que al-
guém precisa de mim”, você acaba não dando atenção 
para alguém que de fato precisa de você e está na sua 
frente: seu marido, sua esposa, seu filho, sua filha ou 
um amigo que está precisando de você. Aqui, sim, já 
se trata de um desafio. O primeiro não é um desafio, 
é um convite permanente. Este é um desafio: convide 
seu marido ou sua esposa para jantar. Peça a alguém 
ficar com as crianças se for possível. Peça uma comi-
da boa em casa, não sei qual é a rotina de vocês. E aí 
você deixa seu celular no carro e não entre com ele no 
restaurante. Ou, se vocês forem pedir uma comidinha 
em casa, deixe o celular na gaveta de um cômodo a que 
vocês não têm acesso. E vocês vão ver que uma hora 
e meia, duas horas, sem o celular por perto, dá uma 
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qualidade de interação magnífica. Muitas vezes, para a 
relação com filho ou filha é a mesma coisa. Não conse-
guimos estar na totalidade da nossa presença ali com 
eles porque estamos sendo roubados, a nossa presen-
ça está sendo roubada, sugada por esses dispositivos. 
Para podermos amar com a totalidade do nosso espírito, 
temos de envelopar o outro com a totalidade da nossa 
atenção. Deste modo a pessoa se sentirá valorizada, 
porque de fato a estaremos valorizando. Não se trata 
apenas do sentir; isto é algo do ser. Muitas vezes a 
pessoa não se sente valorizada porque não está sendo 
valorizada mesmo.
É preciso internalizar alguns recursos que nos 
permitam mudar realmente a nossa mentalidade, 
nosso comportamento, e ir para um outro nível na 
qualidade da nossa interação. Queremos evitar 
o automatismo, pois o olhar automático não 
funciona para relacionamento humano. Uma 
pessoa humana tem algo que é distinto de todas as 
outras coisas – como, por exemplo, deste copo aqui. 
Este copo não pode me surpreender: eu sei do que ele 
é feito e sei para que serve. Gente, pessoa, não é assim. 
Pessoa, ser humano, sempre tem dentro dele uma 
capacidade de superação, uma capacidade de 
mudança, uma capacidade de nos surpreender. 
Entrar “no automático” no relacionamento é igual a 
dizer que a outra pessoa é um objeto, que a outra pessoa 
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é um copo. “Eu já sei do que você é feito e para que você 
serve.” Isso é sempre falso: não sabemos do que o outro 
é feito; não sabemos para que o outro serve. Somos 
seres animados, há sempre a capacidade de mudança. 
Por isso esse olhar tem de estar sempre renovado em 
qualquer relacionamento, seja com o frentista que 
abastece o nosso carro ou com o nosso cônjuge. É uma 
pessoa que está ali; não é um ser inanimado, não é um 
poste. Essa postura acaba matando a nossa capacidade 
de ser humano também. Você não tem de estar o 
tempo inteiro com a pessoa, mas, durante o tempo 
em que estiver, você tem de estar por inteiro com ela. 
Recrutando nosso olho e botando o smartphone 
na gaveta, você vai perceber que a outra pessoa vai 
mudando também. Isso é um princípio psicológico, 
como eu disse. Cresce a árvore no terreno para o 
qual a gente mais olha. Esse também é um princípio 
psicológico. Se estamos olhando para a outra pessoa 
como um terreno baldio, um terreno feio, um terreno 
pouco arado, vai nascer erva daninha. Se estamos 
olhando para a outra pessoa como um terreno bom, 
positivo, onde a terra tem vigor, então nasce árvore 
frondosa, com frutos. Esses são princípios psicológicos 
que podemos sempre usar.
• A GRANDE SACADA •
Para que as pessoas com quem convivemos se sintam 
valorizadas, precisamos lhes dar atenção. Dar atenção 
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a uma pessoa significa relacionar-se com ela tentando 
olhar para sua biografia inteira, para a totalidade de 
sua história, evitando o automatismo e abrindo-se 
para a possibilidade de que ela nos supreenda.
• IDÉIA EM AÇÃO •
Em vez de se sentir desvalorizado, inverta a chave e 
pergunte-se: será que você tem valorizado as pessoas 
com quem convive? Será que tem conseguido lhes dar 
atenção, ou tem lidado com elas “no automático”?
• APLICAÇÃO PRÁTICA •
Procure “recrutar a totalidade do seu olho” ao lidar com 
uma pessoa do seu convívio. Registre suas mudanças 
de percepção sobre ela, e também as mudanças que 
você perceber nas reações da própria pessoa, como 
resposta à sua nova atitude de abertura.
 
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EM BUSCA DE 
SENTIDO E 
DA MELHOR 
PERFORMANCE
“Dá de ti. Dá de ti quanto puderes:
o talento, a energia, o coração.
Dá de ti para os homens e as mulheres
como as árvores dão e as fontes dão.
Não somente os sapatos que não queres
e a capa que não usas no verão.
Darás tudo o que fores e tiveres:
o talento, a energia, o coração.
Darás sem refletir, sem ser notado,
de modo que ninguém diga obrigado
nem te deva dinheiro ou gratidão.
E com que espanto notarás, um dia,
que viveste fazendo economia
de talento, energia e coração!”...
- Giuseppe Ghiaroni -
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Para não frustrar aqueles 2 pontos de mudança que 
você decidiu perseguir ao longo do ano de 2019, é preci-
so que você recrute a totalidade do seu coração, da sua 
atenção, do seu espírito, da sua biografia. Você pode 
aprender uma série de conteúdos interessantíssi-
mos, mas, apesar disso, não estar bem preparado, 
não ter dentro de si aquele mindset, aquela men-
talidade capaz de fazer essas conquistas perdura-
rem, e isto é o mais importante. 
Muitas vezes, conseguimos vencer dificuldades 
pontuais em nossa vida, mas repararmos que, no 
geral, as coisas não melhoraram muito. Enfim, não 
basta conseguir fazer alguma coisa; é preciso 
saber absorver o benefício daquilo. Todo mundo 
já teve essa experiência de alguma forma. Por isso é 
importante que você crie uma disposição para que 
possa de fato aproveitar essas mudanças que virão no 
decurso da sua vida.
Eu lhe darei dicas bem práticas, mas de vez em quando 
será preciso voltar a esse ponto sobre a mudança de 
mentalidade, para que as alterações pontuais em sua 
vida sejam integradas na sua história como um todo. 
A idéia aqui é montar o quebra-cabeça inteiro; não é 
pegar pequenas peças do quebra-cabeça e deixar aqui 
e ali desconectado da nossa história.
Esqueça JÁ o plano B
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Vocês conhecem os famosos planos B, os planos alter-
nativos que temos em nossa cabeça. Uma máxima que 
vem do mercado financeiro, e que todo mundo prova-
velmente já ouviu, afirma que você não deve colocar 
todos os ovos na mesma cesta. Todos já ouviram isso 
de algum modo, e isso parece frase de gente muito 
ponderada, muito experiente, que conhece a vida. A 
verdade é que isso só serve para o mercado financeiro 
– e, mesmo assim, nem sempre; às vezes o melhor a 
fazer, mesmo no mercado financeiro, é colocar os ovos 
na mesma cesta. Mas, para o mercado financeiro e in-
vestimentos, em geral essa frase serve. 
Já nos outros domínios da nossa vida, em geral essa 
idéia de não botar todos os ovos na mesma cesta – ou 
seja, não aplicar todos os nossos recursos em uma 
coisa só – impede que nossa vida progrida, faz com que 
estejamos sempre presos no mesmo estado, faz com 
que olhemos para os anos anteriores e percebamos 
que estamos cometendo os mesmos erros, tendo as 
mesmas dificuldades, que nossa vida não progride e 
parece que não faz muito sentido. 
Então, essa é a primeira idéia que deveríamos 
demolir da nossa cabeça. Na maior parte dos 
domínios da nossa vida, o verdadeiro progresso, 
a alta performance, a realização de um sentido, 
dependem justamente de que coloquemos todos 
os ovos na mesma cesta. 
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Que ovos são esses, que cestas são essas? Por exemplo, 
na vida profissional.Se eu não me dedicar a uma só 
coisa até levá-la à excelência, a tendência é que eu 
me torne uma pessoa frustrada. Se eu ficar pulando 
de galho em galho, não conseguirei atingir o nível de 
performance, de excelência, que eu de fato poderia 
atingir. Não serei capaz de entregar o meu melhor. 
E, para que eu possa entregar o meu melhor, eu 
preciso de tempo dedicado intensivamente e 
exclusivamente àquilo. É assim em quase tudo na 
nossa vida. 
Se eu penso assim: “Eu vou ser psiquiatra, vou me 
dedicar a atender em consultório”, e já no primeiro ano 
eu penso: “Quer saber? Eu vou fazer outra coisa. Na 
verdade, não vou ser psiquiatra. Vou me especializar 
em outro domínio da medicina.” O que vai acontecer? 
Na verdade, eu não vou ser nem uma coisa nem outra. 
Porque eu não tive tempo de levar à excelência essa 
minha atuação de psiquiatra em consultório. Isso serve 
para a vida profissional, serve para a vida em família 
e serve para a educação de filho também. Se nos 
lançamos em um casamento, em um relacionamento, 
com um plano B na cabeça (“Se não der certo aqui, 
eu pulo fora”), daqui a pouco vou tocar minha vida 
de outro modo, vou encontrar outra pessoa, ou então 
decido que fico melhor sozinho... O que aconteceu? 
Não programamos nossa cabeça para de fato investir 
tudo o que poderíamos investir. 
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Muita gente pensa que, se investir tudo em uma 
coisa só, tem grandes chances de se frustrar, 
de dar com a cara no chão. Mas, em geral, é 
o contrário que acontece. Em geral ficamos 
frustrados e arrependidos quando sabemos, no 
fundo, que não investimos tudo o que poderíamos 
ter investido em um projeto. Quando investimos 
tudo que poderíamos ter investido em um projeto, e o 
projeto não vai adiante, em geral ficamos tranquilos: 
“Eu fiz tudo o que eu podia ter feito. Eu não entrei na 
história com reservas, eu não guardei uma parte do 
meu coração, do meu intelecto, com mesquinharias. 
Não. Eu entreguei tudo que eu poderia ter entregado, 
e, se a coisa não aconteceu do melhor jeito, eu fico 
tranquilo.” 
Isso acontece em educação de filhos também. Às ve-
zes ficamos com medo de nos entregar completamen-
te ao projeto de estar ali com as crianças, cortar uma 
ou outra coisa de benefício próprio, de hobby que a 
gente tinha, ou de convívio com outras pessoas que às 
vezes não são tão relevantes assim. Muita gente pen-
sa: “Daqui a pouco os filhos crescem e aí eu não sei 
o que fazer da minha vida.” É verdade, os filhos vão 
crescer, mas essa história de não saber o que fazer da 
nossa vida é uma falsidade do pensamento. Se apren-
demos desde já, com filho pequeno, com filho maior, 
a funcionar desse modo, com esse hábito de dar tudo, 
apostando tudo, não deixando o nosso coração com re-
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servas, não deixando nossa cabeça com reservas, con-
vertemos isso em um hábito. Daqui a pouco, quando 
nossos filhos forem embora, a ausência deles não irá 
nos deprimir, porque há um motor aqui dentro cha-
mado motivação, ou seja, conseguiremos sempre atu-
ar, conseguiremos fazer as coisas com o nível máximo. 
As pessoas que se dedicaram completamente aos 
filhos – de verdade, sem reservas –, que entregaram 
tudo no casamento, para os filhos, para o trabalho, 
enfim, que entregaram tudo de si, quando 
se aposentam, ou quando os filhos crescem, 
continuam conseguindo encontrar sentido na 
vida, porque é o jeito que elas aprenderam a viver. 
Elas aprenderam a pegar qualquer realidade da vida 
e transformar isso em projeto pessoal no qual vão 
entregar tudo que podem entregar. As pessoas não se 
sentem vazias.
O custo de oportunidade e a pergunta:
Para quem estou acordando hoje?
Outra queixa bastante comum é sobre a falta de sentido 
da vida: “Minha vida não está tendo muito sentido. 
Estou sentindo um vazio.” Obviamente, excluídas 
as doenças, que são coisas orgânicas, em geral essas 
reclamações acontecem quando a pessoa não está 
acostumada a colocar todo o coração, toda a sua 
energia no projeto que ela entendeu que é relevante 
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para ela. Aqui aparece um segundo conceito, que é o 
custo de oportunidade. Às vezes as pessoas colocam 
tudo, apostam tudo no trabalho, mas isso acaba tendo 
um grande custo para a saúde ou para a vida familiar, e 
logo, é evidente, essas pessoas vão ficar frustradas em 
médio prazo, porque apostaram na coisa errada. Daí 
entra o conceito de custo de oportunidade. Temos de 
observar com muita cautela e precisão quais são 
aqueles projetos em que podemos de fato apostar 
tudo, porque esses projetos vão, por assim dizer, 
“pagar bem”. Esses projetos fazem sentido? Esses 
projetos me ajudam a entregar o que eu tenho de 
melhor? Eu ajudo a melhorar os demais quando 
me dedico com constância, energia, com toda a 
vitalidade, a esse projeto? É nisso que temos de 
pensar.
Se embarcamos nos projetos – seja a nossa vida em fa-
mília, em um relacionamento, o trabalho – tendo um 
plano B, não vamos entregar o que podemos entregar 
de melhor. Esse é o ponto central. Temos de entregar 
tudo com a máxima excelência. Ter plano B, por exem-
plo, na educação de filhos, plano B em vida de família 
com o nosso marido, com a nossa esposa, com nosso 
noivo, namorada, em geral não funciona. Isso é uma 
coisa que temos de demolir da nossa cabeça. Temos 
de ver quais são aqueles planos B que vamos cultivan-
do ao longo da nossa história e que estão nos traindo, 
tirando de nós a capacidade que temos de entregar o 
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que temos de melhor para nós mesmos, para os que 
convivem com a gente, para as outras pessoas. 
Há várias perguntas que é bom nos fazermos todos 
os dias quando acordamos. “Quem precisa de mim 
hoje? Para quem eu estou acordando? Quem 
precisa que eu apareça hoje?” Essa motivação 
extrínseca é boa. Evidentemente, temos motivações 
intrínsecas, que temos de saber cultivar também, 
para não pararmos quando as motivações extrínsecas 
cessarem. 
Há motivações externas que é bom conhecer e 
cultivar, e uma delas só descobrimos quando fazemos 
essa pergunta habitualmente: “Quem precisa que eu 
apareça hoje?” Daí nos ocorrem nomes – nome do 
filho, da esposa, do esposo etc. É bom nos cercarmos 
de lembretes dessas pessoas; por exemplo, vale a pena 
colocar como tela de fundo do celular a foto daquela 
pessoa ou daquelas pessoas que precisam que a gente 
apareça. Isso nos dá, muitas vezes, uma energia para 
acordar: “Eu preciso aparecer. Se eu não aparecer, 
essa pessoa vai ter uma vida pior no dia de hoje.” Isso 
pode ser a sua motivação, pode ser o que está faltando 
para você acordar com energia e motivação. Então, é 
preciso saber quem precisa que você apareça, quem 
precisa que você entregue o que você tem de melhor. 
Essa é uma pergunta que você precisa fazer. 
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Outra coisa que você deve fazer é botar no papel, 
escrever mesmo, quais são os planos B que lhe roubam a 
capacidade de entregar o seu melhor. Vale a pena de fato 
escrever isso, precisamos ter essas coisas registradas. 
Às vezes, quando as coisas estão só na nossa cabeça, 
elas somem; mas, se a gente baixa um aplicativo, o 
Evernote, ou escreve no note do nosso smartphone 
(cada um tem a sua ferramenta de registro), enfim, 
quando escrevemos, em geral conseguimos concretizar 
essas coisas de verdade. Precisamos tomar nota mesmo: 
“Quais os projetos em que estou envolvido hoje? Eu 
tenho algum plano B para esse projeto? Será que não 
é esse plano B que está me tirando a capacidade de 
produzir melhor, de entregar um melhor resultado?” 
Temos de pensar sobre isso.
• A GRANDE SACADA •
A idéia de ter sempre um plano B não funciona para 
a vida. Na vida, a única maneira de obter êxito em 
algum projeto é lançando-se a ele integralmente e sem 
reservas.Para isso, é preciso que você avalie com cuidado quais 
projetos valem realmente a pena.
• IDÉIA EM AÇÃO •
Pare um pouco e pense se você tem conduzido a 
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relação com seu cônjuge ou namorado(a), a educação 
de seus filhos, ou sua vida profissional, com planos B 
na cabeça. Pergunte-se sobre a razão de você alimentar 
esses planos alternativos.
APLICAÇÃO PRÁTICA:
Pense naquele plano B que você tem em mente. Agora, 
elimine-o do seu imaginário. Que ações você teria de 
tomar, nesse novo cenário? O que seria necessário 
fazer?
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COMECE 
O DIA COM 
PRESENÇA
Quem cedo e a tempo ao pouco não se 
obriga, tarde por muito menos se afadiga.
- Goethe, trad. de Alberto Ramos -
“Lenda da Ferradura”
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Agora vamos falar sobre como começar o dia com 
presença – como esses 90 minutos iniciais do nosso 
dia determinam todo o restante do dia, como esse dia 
vai determinar a semana, como a semana determina 
o mês, como o mês determina a vida, e como a vida 
concreta que levamos determina todo o sentido 
daquilo que fazemos.
Planejando bem os inícios:
A importância de planejarmos bem o início do dia
É uma verdade filosófica que um pequeno erro no 
princípio vai se tornar um grande erro no fim. Se um 
navio sai do Rio de Janeiro rumo a Lisboa com um erro 
de 1 grau na saída, esse navio não vai parar em Lisboa, 
mas na ponta sul da África, provavelmente. Por isso é 
importante tomar muito cuidado com os inícios, com 
tudo que está iniciando. Não é aquele cuidado obsessi-
vo da pessoa que tem medo de tudo, mas o cuidado da 
pessoa com coragem, com visão, que sabe que tem de 
garantir muito bem o começo dos projetos, para que 
eles cheguem até o final realizados.
 
Quantas vezes já abandonamos projetos na nossa vida 
porque não cuidamos bem do início, de como iríamos 
começar a coisa?
Vou dar um exemplo pessoal. Um dos meus projetos 
era cuidar da minha saúde, entrar na academia. 
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Antes de entrar na academia, eu já sabia de coisas 
que haviam me paralisado antes. Faço academia de 
manhã e venho direto para o consultório. Então, 
naturalmente, vou precisar ter a roupa de ginástica, 
shampoo, sabonete etc. organizados previamente, 
porque vou tomar banho na academia e seguirei direto 
para o consultório. O que poderia me paralisar aqui, 
que é muito simples? Por exemplo, não ter uma bolsa, 
onde vou carregar o shampoo, a toalha, o tênis etc. É 
nesse nível mesmo. Muitas vezes, ficamos paralisados 
diante da vida, não vamos para o próximo nível, não 
cumprimos as nossas tarefas, por falta de previsão de 
coisas desse tipo. Muitas vezes, não nos doamos 100% 
para os nossos filhos, para nosso marido, para nossa 
esposa, para nossos amigos, porque negligenciamos 
essas pequenas tarefas do início.
 
Se eu tivesse me matriculado em uma academia sem 
comprar uma bolsa, ter separado uma bermuda, uma 
blusa, uma toalha etc., certamente, ao acordar, eu 
ia achar tudo difícil, com aquele monte de crianças 
dormindo em casa, a esposa organizando as coisas dela, 
enfim. Essa rotina de ter de arrumar as coisas, pensar 
de improviso pela manhã, organizar tudo na última 
hora, me atrapalharia de tal modo, que eu certamente 
deixaria de cumprir aquela tarefa que me propus.
Por isso eu convido vocês a pensar e escrever: 
“Quantas vezes eu abandonei coisas na vida porque 
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elas eram um mero desejo, mas não estavam escri-
tas em lugar nenhum?” Outra coisa que é impor-
tante sabermos: se a coisa é só um desejo, mas não 
está no calendário, então ela não é absolutamente 
um desejo. Ela tem de estar escrita em algum lu-
gar, porque, se não, nem um desejo essa coisa é. 
Isso é importante saber. Faz sentido para você? Se 
eu não escrevi, se não tive tempo, não gastei tempo 
para escrever a coisa, para planejar minimamente, 
então não posso esperar que aquilo se realize sozi-
nho. O importante é estar planejado para começar o 
processo de cumprimento. Eu preciso cumprir aquela 
atividade. Para que eu possa cumprir, ela precisa estar 
planejada, a fim de que eu consiga visualizar o proces-
so, sobretudo os inícios.
Então vamos lá: qual é o projeto que todo dia eu 
enfrento? Esse projeto que todo dia eu enfrento chama-
se VIVER. Todo dia eu preciso cumprir uma jornada de 
um dia, uma jornada de 18 horas, 12 horas, enfim, não 
sei quantas horas produtivas você tem no seu dia. O 
fato é que todos os dias, sempre, você vai despertar e 
vai permanecer acordado até o final do dia, quando 
então você finaliza essa jornada. 
Nós temos essa unidade, que é a unidade do dia, e 
por isso precisamos planejar bem o seu início. Às 
vezes nos esquecemos desse detalhe. Se eu não 
planejo o início de cada dia, pode ser que, no final 
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de uma semana, ou de um mês, eu tenha 7 ou 30 
dias de fracasso. Porque eu não planejei o início 
dessa unidade, que é o dia. O dia é a partida para 
construirmos a capacidade real de estar presente dentro 
da nossa vida. Isso não é poesia, não é filosofia, não é 
bruxaria: isso é tecnologia. Isso é fundamental para que 
possamos ter uma vida plena – plena de sentido, uma 
vida em que que possamos servir verdadeiramente aos 
outros, uma vida em que encontremos amor e que nos 
permita dar amor também.
Muitas vezes a origem de nossas impaciências e 
frustrações com os filhos, ou de nossa desesperança 
no nosso relacionamento, é porque não tivemos a 
coragem, a consciência, de que precisávamos planejar 
o início do nosso dia.
Essa dica vai para todas as pessoas que começam o dia 
um pouco, digamos assim, reativamente. A primeira 
coisa é viver a nossa agenda. Isso não é um convite 
ao egoísmo, ao egocentrismo, não é um convite para 
abandonar o altruísmo, a sua capacidade de serviço. 
Pelo contrário, é um convite para que você se organize 
e, assim, se organizando, você verá que vai sobrar mais 
tempo livre, mais energia para você se dedicar a todos 
os projetos.
Sua vida está sendo sequestrada pela agenda dos 
outros?
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A primeira coisa é não sermos reativos à agenda dos 
outros. Veja bem: todos os dias nós acordamos, e todos 
os dias vai haver centenas de demandas recaindo so-
bre nós. As primeiras demandas que podem recair so-
bre nós, a que podemos agir apenas reativamente, são: 
todo o conteúdo que está dentro do Whatsapp, na cai-
xa de e-mail, no smartphone. Veja se faz sentido para 
você. Uma boa parte das mensagens que recebemos 
não são respostas a algo que damos, mas sim deman-
das espontâneas: uma pessoa que chama para fazer 
tal coisa, uma pessoa que pede um favor, uma pessoa 
que manda ler algo que não pedimos. Temos de ser es-
pertos: não podemos começar o nosso dia dentro da 
agenda de outra pessoa.
Se eu começo o meu dia abrindo o Whatsapp, antes de 
fazer qualquer outra coisa, o que estou comunicando 
para a minha cognição, para o meu corpo, para a minha 
biografia? Estou comunicando para mim mesmo que 
o importante no dia é a agenda dos outros, e não a 
minha agenda. Eu acordo e a primeira coisa que eu faço 
é atender a demanda de outra pessoa, uma demanda 
que não estava na minha escala de prioridades. Esse é 
o ponto central. 
Temos de ter uma escala de prioridades, uma lista de 
coisas que tenham importância, que teremos de fazer. 
Se não tenho essa lista, se não sei o que é prioridade na 
minha vida, provavelmente vou viver reativamente, 
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atendendo às demandas dos outros. Então, quando 
chegar o final da semana, do mês, eu vou olhar para 
dentro de mim e perguntar: “O que eu fiz nessa semana? 
O que eu fiz nesse mês? Cadê a minha vida?” Claro 
que eu tenho uma vida, eu faço ascoisas, as coisas 
acontecem, mas cadê aquele centro? Cadê a minha 
voz? Cadê aquela agulha que foi costurando com a 
linha da minha vontade, da minha inteligência, esse 
tecido que é a vida? Então vamos tendo uma série de 
retalhos, uma série de pedaços que não vão dar uma 
unidade para a nossa vida. E, quando olho para essa 
realidade, não consigo me enxergar ali.
Por isso é fundamental não despertar de manhã 
reativamente. Precisamos começar nosso dia com 
presença. Esse é um conselho que estou dando para 
vocês, com base nas pessoas que atendo e que já 
treinei – pessoas que conquistam as coisas na vida: 
não começar o dia reativamente. 
Como gerar energia:
O ritual de presença nos primeiros 90 minutos do 
dia
A segunda coisa, que pode parecer maluquice, é a 
seguinte: essa energia que temos, ou não temos, 
não aparece ou desaparece: ela se cria. Criamos a 
nossa energia (com exceção daquelas pessoas que 
têm depressão grave, ansiedade grave, problemas 
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clínicos). A maior parte das pessoas como nós, que 
não apresenta questões graves da psiquiatria, pode 
gerar uma quantidade de energia. Mas não se gera 
uma quantidade de energia simplesmente pela força 
do querer, não é assim que funciona. O que podemos 
é gerar uma inclinação, uma disposição, que faz com 
que tenhamos essa energia que nos capacita a realizar 
as atividades diárias.
Para que possamos gerar essa energia – insisto 
mais uma vez, pois não podemos deixar isso passar 
–, devemos ter um ritual de presença nos primeiros 
90 minutos do dia. A palavra-chave é presença. Pode 
ser que tenhamos rituais de dispersão. Por exemplo, 
esse ritual de despertar e já olhar o Whatsapp. Isso é 
um ritual de dispersão, não de presença. 
O que é um ritual de presença? Vou dar um exemplo 
para uma pessoa que tem as primeiras horas do dia 
mais ou menos tranquilas (alguém já levou as crian-
ças para o colégio ou as crianças acordam mais tarde). 
Você acordou e está ali, somente você, sem mais nin-
guém. O ritual de presença, por exemplo, é simples: 
você acorda, abre os olhos, levanta da cama. Pode ser 
que façamos esse primeiro movimento completamen-
te na intuição, não estejamos presentes no primeiro 
movimento do dia, que é se levantar. É como dirigir: 
muitas vezes você dirige da casa para o trabalho, do 
trabalho para casa, mas não está atento exatamente à 
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rua, ao trajeto. Você vai meio no automático, reagin-
do (não posso bater nesses carros aqui, tenho de che-
gar ali, tenho de parar quando o sinal fecha), mas você 
não está 100% presente na situação. Em geral é assim. 
Você está executando a função, mas não está presente. 
Minha chamada para os primeiros 90 minutos do dia 
é tentarmos estar presentes ao máximo, o quanto for 
possível. Esse primeiro movimento do dia é fundamen-
tal para termos o domínio da nossa presença. A pri-
meira coisa que devíamos fazer é levantar conscientes 
do nosso movimento corporal. Isso não é obsessão, é 
só para marcar no nosso cérebro, no nosso espírito, no 
nosso jeito de viver, que queremos estar presentes em 
cada segundo de nossa vida; é o primeiro comunicado 
cognitivo que iremos passar para nós mesmos. Então, 
antes de me levantar da cama, vou pensar: “Vou me le-
vantar.” Não precisa verbalizar, só precisa estar atento 
aos movimentos. Você se levanta, percebendo o que 
está fazendo, gira na cama – basta você estar atento. 
Vai se levantar, ficar em pé, ir até o banheiro. “Vou la-
var o rosto, escovar os dentes”. Independentemente da 
sua rotina ao acordar, o convite é estar atento a cada 
coisa. 
Você pode ter esse mindset, essa mentalidade de pre-
sença total. Isso muda a qualidade da nossa vida, muda 
a produtividade no nosso dia. Isso muda aquela queixa 
que muita gente tem: “Puxa, sou muito esquecido. Não 
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lembro de nada.” Provavelmente aquelas pessoas que 
sempre repetem que são esquecidas, descartando-se 
que tenham de fato alguma doença, não devem fazer 
esse exercício de presença. Muitas vezes estamos vi-
vendo o nosso dia, mas não estamos presentes dentro 
de nós mesmos, na nossa vida. Então, o que podemos 
fazer? Despertar e levantar com total presença logo 
nos primeiros minutos do dia. 
Se você tem filho pequeno em casa e foi ele que o acor-
dou, aí não temos o que fazer, estamos ali para servi-lo 
mesmo, então vamos acordar olhando para ele, para 
a demanda dele. Ah, não foi meu filho que me acor-
dou, foi o despertador que tocou. Hoje a maioria dos 
despertadores é o próprio celular, então aqui vai um 
desafio: não olhar o conteúdo, apenas desligar o alar-
me e levantar. E, ao levantar, fazer isso com presen-
ça. Quando for fazer o café, prestar atenção na água 
caindo no copo. Quando for ligar a cafeteira elétrica, 
prestar atenção no barulho do botão, no movimento. 
Isso pode parecer um pouco obsessivo no início, mas, 
com o tempo, com a prática, você verá a coisa fluindo 
naturalmente, você vai tendo um sentido de presen-
ça, e a sua produtividade, no médio prazo, vai decolar, 
disparar.
“Ah, não tenho energia.” Não temos energia porque 
estamos em uma vida dispersa. Mandamos energia 
para todos os lados, menos para o foco da nossa 
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atividade, do nosso interesse, do nosso coração, da 
nossa demanda verdadeira nesta vida. O que podemos 
fazer para vencer a nossa falta de energia, vencer a 
dispersão, é estar profundamente presente em cada 
movimento. Aqui falo primeiro dos movimentos 
corporais no nosso dia, nas tarefas simples: prestar 
atenção no café, no barulho da cafeteira, no barulho 
da manteiga passando no pão, prestar atenção nos 
nossos primeiros movimentos. Isso é um ponto. Por 
outro lado, não estar reativo às demandas de outras 
agendas. Para que isso? Para ser uma pessoa mais 
obsessiva? Não. Para ter mais tempo livre.
 
Quando nós estamos presentes com energia e foco, 
acabamos por ter mais tempo livre na nossa vida. 
Conseguimos aproveitar melhor os momentos, 
porque não estamos sempre correndo atrás de prazo, 
correndo atrás de resultados, tendo de tapar buraco, 
enxugar gelo. Vamos perceber que, quando agimos 
assim, estando mais presentes nos primeiros 
minutos, nos entregaremos mais, estaremos mais 
disponíveis para nossos filhos, nosso cônjuge, a 
qualidade das interações humanas melhora muito. 
Às vezes a gente resolve vidas só com esse exercício da 
presença matinal. Uma pessoa presente é uma pessoa 
que consegue se entregar, que está presente para as 
demandas dos outros quando essas outras demandas 
fizerem sentido.
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Esse é o exercício da semana. É uma atividade que 
parece simples. Obviamente, uma pessoa com mais 
energia e atenção é mais produtiva que uma pessoa 
sem energia, sem atenção. Isso é senso comum. O que 
ocorre é que nem sempre o senso comum é uma prática 
comum. É claro que é melhor não matar do que matar. 
É melhor não roubar do que roubar. É evidente, é senso 
comum, mas, para muitas pessoas, não é uma prática 
comum. O truque acontece quando o senso comum 
torna-se uma prática comum. Iremos nos tornar uma 
pessoa que está em outra categoria. Há pessoas que já 
alcançaram um certo nível e querem ir para o próximo, 
e outras que estão iniciando. Isso serve tanto para os 
iniciantes quanto para os avançados.
Como lidar com os imprevistos, as demandas exter-
nas? Estando presentes. Muitas vezes não consegui-
mos planejar nossa rotina. Um vendedor externo, por 
exemplo, cada dia deve estar em uma cidade, em um 
bairro – ele não sabe, recebe a agenda do dia na hora. 
Eu acordo, meu filho está doente, minha esposa pede 
algo, meu marido pede algo. Uma coisa que é sem-
pre domínio nosso, que sempre depende da gente, 
é a atenção, a presença total que vamos recrutarda 
nossa atenção, do nosso espírito, da nossa biogra-
fia, e colocar intensivamente naquela atividade. 
Isso depende de nós. 
Aquele exercício de não reclamar que propusemos dias 
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atrás já acabou, pois já se passaram oito dias. Devemos 
renová-lo por mais oito dias. Muitas vezes a reclamação 
é a maior fonte de dispersão do nosso espírito. Quando 
reclamamos, jogamos nossa atenção para um mundo 
de fantasia que não existe. Aquele mundo, “Ah, podia ser 
de outro jeito, mas não é.” Então vamos tentar colocar 
a intenção total em cada atividade que fazemos. 
• A GRANDE SACADA •
Ter um ritual diário para os primeiros 90 minutos após 
despertar é fundamental para que vivamos o dia mais 
presentes aos nossos atos, com mais autocontrole e 
foco. Com o tempo, esse hábito nos ajudará a tomar 
as rédeas da nossa vida, passando da mera reatividade 
à posição de alguém que de fato está planejando seus 
passos e construindo sua história ativamente.
• IDÉIA EM AÇÃO •
Desenvolva um ritual de presença para os primeiros 
90 minutos após despertar. Esteja maximamente 
presente a cada ato, por mais simples que seja: 
levantar-se da cama, alongar o corpo, preparar o café. 
Evite, nesses primeiros minutos, dispersar sua atenção 
com mensagens de Whatsapp, e-mails etc. Aproveite 
esses minutos iniciais do dia para praticar o foco e 
a concentração que você deseja que se tornem uma 
constante no seu modo de viver.
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 • APLICAÇÃO PRÁTICA •
Procure visualizar, vivamente e em detalhes, o seu 
ritual de presença para a manhã do dia seguinte.
Anote as ações que você irá EVITAR nos primeiros 90 
minutos do dia.
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VOCÊ TEM 
ANDADO COM 
PESSOAS 
INVALIDADO-
RAS?
Aqueles que nada têm nada podem 
partilhar; os que não vão a lugar algum 
não podem ter companheiros de viagem.
- C. S. Lewis -
“Os quatro amores”
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Vamos falar agora sobre toda a realidade que envolve 
nossas necessidades básicas, necessidades psicológicas, 
necessidades de preenchimento, de se sentir pleno. 
Não sei se vocês conhecem um autor chamado Mihaly, 
do campo da psicologia positiva. É um autor bem 
interessante. Não estou recomendando que vocês o 
leiam, porque ele lida com conceitos que precisam ser 
muito bem compreendidos e bem trabalhados. Dentre 
os conceitos que ele aborda, existe o de “flow”, que é 
bem interessante. 
Segundo esse conceito, existem alguns momentos 
na vida, algumas atividades nas quais conseguimos 
mergulhar com tal domínio, com tal profundidade, 
que atingimos um outro patamar de operação, que 
ele chama de “flow”. O autor dá como exemplo os 
maestros, que precisam de um grande domínio técnico, 
de uma atenção monstruosa aos diversos momentos 
da orquestra, e de uma tal presença, que todos os 
naipes da orquestra precisem olhar para ele; o maestro 
vai conduzindo os músicos com uma segurança, com 
uma intensidade, com uma entrega que o lança nesse 
estado que o autor chama de “flow”.
Para que possamos atingir o estado de “flow”, preci-
samos nos esforçar por adquirir o máximo de ferra-
mentas, o máximo de capacidade, de competência 
técnica, e temos de nos entregar a uma atividade 
de fato desafiadora. Ele diz que é justamente na arti-
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culação entre uma grande competência e um desafio 
verdadeiro que conseguimos atingir plenamente o es-
tado de “flow”. Se somos jogados em um desafio verda-
deiro sem ter todas as competências, vamos nos tor-
nar ansiosos, tensos, desorganizados. E se, por outro 
lado, temos muitas competências mas nos lançamos a 
um desafio baixo, vamos entrar num estado de apatia, 
de morosidade, enfim, num estado pouco alerta. 
Então, vamos imaginar que um grande tenista, o Guga, 
vá jogar tênis comigo. Eu não tenho a mínima noção 
de tênis, não sei nem segurar uma raquete direito. E do 
outro lado está alguém que tem todas as competências, 
todas as habilidades, sendo muito pouco desafiado 
por mim, que não tenho competência e habilidade 
nenhuma no tênis. O Guga não vai conseguir entrar 
no estado de “flow”. Mas imaginem o Guga no final 
do torneio de Roland-Garros, competindo contra um 
outro jogador igualmente bom. Para que ele possa 
se entregar àquela atividade, para que possa estar ali 
presente, ele vai ter de adquirir o estado de “flow”. Ele 
estará na situação de ser maximamente desafiado, 
tendo todas as competências já desenvolvidas na 
sua pessoa. Do encontro entre o desafio máximo 
e a competência máxima vem o estado de “flow”, 
que, segundo o Mihaly, é um estado fantástico, um 
estado de preenchimento, de plenitude.
O supremo desafio:
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A vida em família
Uma das situações na vida que nos convocam a tomar 
posse desse estado de “flow” é, precisamente, todas as 
realidades que envolvem a nossa vida familiar, a vida 
doméstica. Quando entra um bebezinho na nossa 
vida, ou quando estamos desenvolvendo uma criança 
de quatro, cinco, seis anos, vemos que ela nos convoca, 
ela chama a nossa atenção, a nossa biografia, a nossa 
atividade, a nossa atitude, para um desafio, que é o 
de conseguir fazer com que aquela criança cresça de 
modo harmônico, de modo saudável, de tal modo que 
consigamos suprir todas as suas necessidades, atender 
a todas as suas demandas. 
Por isso, esse estado de pai, de mãe, de educador, já nos 
recruta, automaticamente, para um grande desafio. E, 
para que não fiquemos ansiosos, para que não pe-
reçamos, não nos desorganizemos, não fiquemos 
desestimulados, loucos, só podemos fazer uma 
única coisa: adquirir uma série de competências. 
Temos diante de nós um grande desafio, uma grande 
demanda, e esse desafio não vai ceder, não vai dimi-
nuir. Uma criança continua demandando de nós con-
forme o tempo passa. Em primeiro lugar, uma criança 
demanda de nós o nosso físico – precisamos acordar 
várias vezes, a criança faz xixi, faz cocô, temos de lim-
par, de cuidar etc. Depois, há uma demanda relaciona-
da ao desenvolvimento intelectual, e precisamos estar 
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atentos às várias dimensões daquela criancinha: inte-
lectual, espiritual, afetiva.
Essa demanda é muito grande, e não conseguimos 
baixar o seu nível. Às vezes, no trabalho, é possível 
baixar. Se me contrataram para ser CEO de uma 
empresa XYZ e eu vejo que não estou dando conta 
daquilo, é simples: eu peço demissão e vou para um 
cargo de gerência, um cargo inferior. Mas pai e mãe não 
podem se demitir da função. Teremos de ficar lá para 
sempre. Nós precisamos necessariamente adquirir 
algumas competências para poder entrar nisso que o 
Mihaly chama de estado de “flow”.
Em um dos livros dele, “The Evolving Self” (creio que 
não há tradução desse livro), há uma teoria muito 
interessante. Lá no meio do livro ele coloca uma 
pirâmide em cuja base estão nossas necessidades 
básicas; depois vêm as necessidades psicológicas, 
e depois a necessidade de plenitude. Isso é muito 
interessante, ele dá um giro no conceito. Necessidades 
básicas são necessidades de comida, descanso etc. As 
necessidades psicológicas, sobre as quais eu queria 
falar aqui hoje, se não são supridas, nos impedem de 
evoluir, de adquirir competências importantes. 
Segundo o Mihaly – e eu concordo com ele –, não 
basta termos todo o domínio técnico-ferramental 
para abordar, por exemplo, uma situação com uma 
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criança. Imagine só: eu tenho uma excelente formação 
na pedagogia, na psicologia, tenho uma base teórica 
bem sólida, mas não tenho as minhas necessidades 
psicológicas atendidas. Ou seja, não conseguirei 
entregar meu melhor “eu” naquela atuação.
Então, vamos recapitular: se temos um desafio na 
vida, um desafiode trabalho, de relacionamento, 
um desafio enquanto pais, não é suficiente 
possuir todo o ferramental para abordar o 
problema. Precisamos também estar nós mesmos 
construindo a nossa própria personalidade. E como 
fazemos isso? Atendendo às nossas necessidades 
psicológicas e à necessidade de plenitude. Se não 
construímos também esse edifício interior, não vamos 
conseguir entregar o melhor que podemos, porque, se 
eu tenho a melhor serra elétrica do mundo, mas não 
estou forte o suficiente para segurá-la e manejá-la, ela 
de nada valerá, e não vou conseguir cortar a árvore.
Essa é uma analogia útil para que entendamos que 
nós precisamos estar atentos, também, para a nossa 
formação interior. O Mihaly separa essas necessidades 
interiores em duas: existem as necessidades psicológi-
cas e a necessidade de plenitude. Eu gostaria de falar 
sobre um ponto muito interessante relacionado às ne-
cessidades psicológicas.
Dize-me com quem andas
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e eu te direi quem tu poderás te tornar
O autor diz que nossas necessidades de estima, de au-
to-estima, precisam ser atendidas. Precisamos con-
viver com pessoas que nos estimem, que gostem 
de nós. Isso não é egoísmo, mas uma necessidade hu-
mana. Vivemos em uma comunidade humana, não é 
bom que o homem esteja só, não é bom que criemos 
as coisas sozinhos, pois, em algum momento, vamos 
perecer, não vamos chegar tão longe quanto podería-
mos. É bom estarmos em companhia. 
Aí está o ponto: companhia de quem? Essa é uma 
coisa importante. Essa é uma máxima que devemos 
guardar na nossa cabeça, que eu levo para a minha 
vida, que é o seguinte: se eles não sonham, acorde. Se 
eu convivo com pessoas que não sonham, que não 
têm projetos, que não têm essa dimensão do apoio 
mútuo em projetos, em sonhos, em perspectivas, 
eu acordo: opa, tem alguma coisa errada aqui, eu 
tenho de acordar. Não posso continuar vivendo 
com essas pessoas desse modo. Se os outros não 
sonham, acorde. 
Quando eu começo a conviver com pessoas muito “pé 
no chão”, muito concretas, muito cheias de tarefas 
objetivas, que não têm a capacidade de projetar, de sonhar, 
de entender os projetos nos quais eu estou envolvido, 
eu tenho, de algum modo, de reposicionar essa pessoa 
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na minha vida. Por quê? Porque essas pessoas levam 
a gente para baixo mesmo. Se começamos a conviver 
só com gente que não sonha, que não tem projeto, que 
não tem uma perspectiva de transcendência na vida, 
nós começamos a ficar esquisitos, a diminuir, a nos 
preocupar só com as coisas deste mundo, e tudo acaba 
nos afetando, no final das contas. 
Dito de outro modo: os pessimistas não são pessoas 
muito razoáveis. São pessoas que terminarão tristes. São 
pessoas que não completam, que não alcançam, que 
não entregam. Os pessimistas não são pessoas mais 
“realistas” – uma coisa não tem nada que ver com a 
outra. A realidade pode ser vista de vários ângulos. 
Os pessimistas escolhem ver a realidade segundo 
suas deficiências, suas limitações, as limitações do 
ambiente. Os que sonham são pessoas que em geral 
alcançam. Aquela frase de para-choque de caminhão, 
“Quem sonha, conquista”, está certa. Se eu nem sonho, 
eu nunca vou conquistar.
Então, esse é o exercício de hoje: faça uma lista das 
pessoas que convivem com você e se pergunte se elas 
têm sonhos, se elas entendem os seus sonhos, ou se 
elas sempre invalidam os seus projetos, de tal modo que 
você nem consegue mais se expressar. Se você convive 
com pessoas assim, então você tem um grande desafio, 
que é mostrar para elas que os seus sonhos podem 
colocar você para frente, funcionam na verdade como 
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um motor, não são coisas aleatórias. 
Então, a primeira coisa que temos de ter na 
cabeça é o seguinte: antes de sentar e programar 
os objetivos muito concretos, temos de ter nosso 
objetivo grande, a finalidade, o objetivo de longo 
prazo, o sentido. É isso que chamamos de “sonho”, 
no fim das contas. É isso que eu quero, no fim das 
contas. Então, eu preciso saber quais são as pessoas 
com as quais eu vou conviver, e se elas são pessoas 
invalidadoras, pessoas que vão roubar de nós os nossos 
sonhos. 
Pessoas que roubam de nós os nossos sonhos são 
pessoas que nos roubam de nós mesmos, pessoas 
que não nos ajudam. Como já dizia Santo Tomás de 
Aquino, amizade é querer as mesmas coisas e rejeitar 
as mesmas coisas. Amigo é aquele que ama o mesmo 
que você e odeia o mesmo que você. Então, se você 
convive com pessoas que não sonham, acorde. Isso é 
muito importante. Você tem de entender que fulano, 
beltrano e sicrano são pessoas que têm mais dificuldade 
de fazer projetos, de ter um projeto de longo prazo, ou 
transcendente, enfim, um projeto que importe.
Educar filho tem sempre essa dupla dimensão. Quando 
educamos uma criança, ficamos em uma tensão, no 
meio de um caminho. Um dos extremos desse caminho 
é o “get things done”, pois há certas coisas que devemos 
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fazer sempre: a criança sempre tem de estar vestida, 
alimentada, com o cabelo cortado, com a gaveta em 
ordem etc. Essas são as coisas materiais relacionadas à 
educação de filho, e são importantes, é preciso ter um 
método para que sejam alcançadas. 
Porém, em educação de filho, é preciso ter um outro 
objetivo, de longo prazo, que é o da transcendência: 
aonde eu quero que meu filho chegue? Quem eu quero 
que ele seja? Essa pergunta pede uma resposta que 
sempre transcende o mundo sensível. A resposta a 
essas perguntas – quem eu quero que fulano seja? Quem 
eu quero ser para essa pessoa? – sempre transcende as 
coisinhas que eu tenho de fazer no dia-a-dia. Porém, 
se eu só respondo a essas perguntas, se eu só tenho 
o sonho, sem ter a articulação com as coisas a fazer 
no dia-a-dia, eu vou me perder também, não vou 
alcançar meu sonho. 
Aqui está uma grande sabedoria sobre educação 
de filho e sobre projetos de vida. Precisamos ter 
essa necessidade psicológica da estima atendida 
– precisamos saber que as pessoas nos valorizam, 
valorizam aquilo que temos de mais superior, que 
são os nossos sonhos, nossos projetos, o interior da 
nossa alma. Precisamos dessa necessidade psicológica 
sempre atendida. Quando essa necessidade psicológica 
é atendida, nossa personalidade vai se formando, e 
então torna-se possível alcançar aquela necessidade 
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de plenitude. 
Para que a necessidade da estima seja atendida, 
precisamos de pessoas ao nosso redor. Precisamos 
montar um time de pessoas que validam nossos 
sonhos. Pessoas que estão ali querendo saber o que 
temos na cabeça, quais são os nossos sonhos, os nossos 
projetos, qual o nosso próximo passo, o que estamos 
fazendo para alcançar o próximo passo – enfim, onde o 
nosso coração de fato pulsa. Precisamos ter a sabedoria 
de montar esse time. 
Temos de perder a mania tipicamente brasileira de 
“não vai dar certo”, essa mania de dizer para alguém 
que tem um sonho, um projeto: “Ah, cara, esqueça isso, 
vá fazer um concurso público.” Nada contra concurso 
público, mas o concurso público muitas vezes é 
um símbolo dessa incapacidade de sonhar, de dar o 
próximo passo, de acreditar na nossa própria potência 
– validados, apoiados por outras pessoas. Então, essa 
é a idéia de hoje: a necessidade psicológica da estima. 
E, para que tenhamos essa necessidade suprida – para 
que tenhamos força para entregar o melhor de nós, o 
melhor serviço, o melhor produto –, precisamos ter a 
sabedoria de nos cercar de pessoas que não invalidam 
os nossos sonhos.
Na educação de filho, nós temos um grande sonho: 
queremos que nosso filho seja um bom cidadão, seja 
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uma boa pessoa, um bom pai de família, uma pessoa 
que entregue valor,

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