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ISSN 1984-5510 Volume 10 ● Número 1 ● Janeiro - Março 2018 Terapia celular combinada com membranas de biopolímeros melhora a cicatrização de úlceras em paciente com dermatomiosite juvenil A lipoescultura como tratamento complementar na ritidoplastia Técnica inovadora para tratamento de flacidez cervical com fio mononylon para sustentação transmastoide A utilidade da microscopia confocal nas lesões de lentigo maligno SU RG ICA L & CO SM ETIC D ERM ATO LO G Y V.10 N . 1 | P. 1-88 JA N /M A R 2018 www.surgicalcosmetic.org.br APOIO CIENTÍFICO: Surgical & Cosmetic Dermatology Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia Publicação Trimestral www.surgicalcosmetic.org.br Periodicidade TrimesTral EDITORA-CHEFE Bogdana Victoria Kadunc Pontifícia Universidade Católica de Campinas - (PUC - Campinas) - Campinas(SP), Brasil Hospital do Servidor Público Municipal - São Paulo (SP), Brasil CO-EDITORES Adilson Costa Emory University School of Medicine - Atlanta/GA, USA. Ada Trindade Almeida Hospital do Servidor Público Municipal - São Paulo (SP), Brasil. Surg Cosmet Dermatol. | Rio de Janeiro | v. 10 | n. 1| Jan-Mar. 2018 | p.01-88 ISSN: 1984-5510 Online ISSN: 1984-8773 Sociedade Brasileira de Dermatologia Afiliada à Associação Médica Brasileira www.sbd.org.br SUR GI CAL & COS ME TIC DER MA TO LOGY Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia Official Publication of Brazilian Society of Dermatology Publicação Trimestral (Quarterly Edition) ISSN 1984-5510 l ISSN-e 1984-8773 l Janeiro - Março 2018 l Volume 10 l Número 1 Surgical & Cosmetic Dermatology Diretoria Executiva Presidente: José Antonio Sanches Junior | SP Vice-Presidente: Sérgio Luiz Lira Palma | PE Secretário Geral: Flávio Barbosa Luz | RJ Tesoureira: Maria Auxiliadora Jeunon Sousa | RJ Primeiro Secretário: Hélio Amante Miot | SP Segunda Secretária: Sílvia Maria Schmidt | SC Editores Editora-chefe: Bogdana Victoria Kadunc Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC Hospital do Servidor Público Municipal - São Paulo (SP), Brasil. Co-editores: Adilson Costa Emory University School of Medicine, Atlanta/GA, USA. Ada Trindade Almeida Hospital do Servidor Público Municipal - São Paulo (SP), Brasil. Editores de áreas Laser e Tecnologia Celia Kalil Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - Porto Alegre (RS), Brasil. Cirurgia Cosmética e Cosmiatria Doris Hexsel Centro Brasileiro de Estudos em Dermatologia - Porto Alegre (RS), Brasil. Cirurgia dermatológica reconstrutiva Emerson Vasconcelos de Andrade Lima Universidade Federal de Pernambuco(UFPE) e Santa Casa de Misericórdia do Recife - Recife (PE), Brasil. Tricologia Fabiane Mulinari-Brenner Universidade Federal do Paraná e Serviço de Dermatolo- gia do Hospital de Clínicas de Curitiba - Curitiba (PR), Brasil. Diagnóstico por Imagens em Dermatologia Gisele Gargantini Rezze Departamento de Oncologia Cutânea do Hospital A. C. Camargo - São Paulo (SP), Brasil. Oncologia Cutânea Lauro Lourival Lopes Filho Universidade Federal do Piauí - Teresina (PI), Brasil. Cirurgia de unhas Nilton Di Chiacchio Hospital do Servidor Público Municipal - São Paulo (SP), Brasil. Editor Júnior Stephanie Langen PUC Campinas - Campinas (SP), Brasil. 2 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 2. Surgical & Cosmetic Dermatology Conselho Editorial Alcidarta dos Reis Gadelha Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Amazônia - Manaus (AM), Brasil. Antonela Tosti Università di Bologna - Itália. Antonio Picoto Centro de Dermatologia Medico-Cirurgica - Portugal. Carlos Baptista Barcaui Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Carlos Machado Faculdade de Medicina do ABC - São Paulo (SP), Brasil. Cleide Ishida Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Denise Steiner Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes - São Paulo (SP), Brasil. Eckart Haneke Department of Dermatology, University of Witten & Herdecke Health Center Academic Teaching Hospital of the University of Diisseldolf - Alemanha. Ediléia Bagatin Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil. Emmanuel França Universidade de Pernambuco (UPE) - Recife (PE), Brasil. Enrique Hernandez Perez Centro de Dermatología y Cirugía Cosmética (CDCC) - São Salvador. Érico Pampado Di Santis Universidade de Taubaté (UNITAU) - Taubaté (SP), Brasil. Francisco M. Paschoal Faculdade de Medicina do ABC - São Paulo (SP), Brasil. Gabriel Gontijo Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - Belo Horizonte (MG), Brasil. Hamilton Stolf Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil. Heitor de Sá Gonçalves Secretaria de Saúde do Estado do Ceará - Fortaleza (CE), Brasil. Humberto Ponzio Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre (RS), Brasil. Izelda Carvalho Costa Universidade de Brasília - Brasília (UNB), Brasil. Jean Carruthers University of British Columbia - Canadá. Jorge Ocampo Candiani Hospital Universitario Dr. José Eleuterio González, Universidad Autónoma de Nuevo León (UANL) - México. Juliano Villaverde Schmidt Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, Faculdade Evangélica do Paraná - Curitiba (PR), Brasil. Lia Cândida Miranda de Castro Universidade Federal de Goiás (UFG) - Goiânia (GO), Brasil. Luis Antonio Torezan Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Luiz Fernando F. Kopke Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis (SC), Brasil. Mercedes Florez University of Miami - Estados Unidos da América. Marcia Ramos e Silva Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Maria Fernanda Gavazzoni Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Maria Helena Lesqueves Sandoval Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (HUCAM), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Vitória (ES), Brasil. Mauro Enokihara Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - São Paulo (SP), Brasil. Miriam Sotto Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Miguel Sanchez Viera Instituto de Dermatología Integral (IDEI) & Hospital Quíron San Camilo - Espanha. Monica Azulay Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Oleg Iosifovich D. M. Sabatovich Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Omar Lupi Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Paulo Ricardo Criado Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. Roberto Gomes Tarlé Serviço de Dermatologia Santa Casa de Curitiba - Curitiba (PR), Brasil. Samira Yarak Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) - Petrolina (PE), Brasil. Sarita Bezerra Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Recife (PE), Brasil. Selma Cernea Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil. Conselho Internacional de Revisores Alastair Carruthers University of British Columbia - Canadá. Dee Anna Glaser St. Louis University Hospital - Estados Unidos da América. Ellen Marmur Division of Dermatologic and Cosmetic Surgery and Assistant Clinical - Estados Unidos da América. Henry Randle Saint Luke's Hospital - Estados Unidos da América. Jerry Brewer University of South Carolina - Estados Unidos da América. John A. ZitelliUniversity of Pittsburgh Medical Center - Estados Unidos da América. Leslie Baumann Baumann Cosmetic and Research Institute - Flórida - Estados Unidos da América. Robert Baran Head of the Nail Disease Center in Cannes - France Rompel Rainer Department of Dermatology, Clinic Kassel - Alemanha. Rompel Rainer Department of Dermatology, Clinic Kassel - Alemanha. Willian Hanke Department of Dermatology, Saint Vincent Carmel Medical Center, Laser & Skin Surgery Center of Indiana - Estados Unidos da América. Zoe Diana Draelos Wake Forest University School of Medicine Winston- Salem - Carolina do Norte - Estados Unidos da América. 3 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 3. PERIODICIDADE TRIMESTRAL EquipE Técnica Bruno Abraão de Souza Marcella Justo Nazareno Nogueira de Souza BiBlioTEcária Vanessa Zampier assinaTuras R$ 250,00 e $180 dólares Informações de pagamento no site: www.surgicalcosmetic.org.br ©2015 Sociedade Brasileira de Dermatologia. Website: www.sbd.org.br Indexações n Sumários. org (www.sumarios.org/) n DOAJ (https://doaj.org/) n Latindex (www.latindex.org) n Lilacs (http://bases.bireme.br/) n SCOPUS (http://www.scopus.com/home.url) n Periódica (http://periodica.unam.mx) n Redalyc (http://www.redalyc.org) 4 Os anún cios vei cu la dos nesta edi ção são de exclu si va res pon sa bi li da de dos anun- cian tes, assim como os con cei tos emi ti dos em arti gos assi na dos são de exclu si- va res pon sa bi li da de de seus auto res, não refle tin do neces sa ria men te a opi nião da SBD. Todos os direi tos reser va dos e pro te gi dos pela lei 9.610 de 19/02/98. Nenhuma parte dessa publi ca ção pode rá ser repro du zi da sem auto ri za ção pré via por escri to da Sociedade Brasileira de Dermatologia, sejam quais forem os meios empre ga- dos: ele trô ni co, mecâ ni co, foto grá fi co, gra va ção ou quais quer outros. Material de dis tri bui ção à clas se médi ca. A revis ta cons ta no Depósito Legal, na Biblioteca Nacional, de acor do com o Decreto nº 1.825, de 20 de dezem bro de 1907. Licença Creative Commons Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 5. A/C SURGICAL & COSMETIC DERMATOLOGY Av. Rio Branco, 39 18º andar Cep: 20.090-003 Rio de Janeiro-RJ, Brasil. Fone: 55 (21) 2253-6747 E-mail: surgical@sbd.org.br web si te: www.surgicalcosmetic.org.br A Surgical & Cosmetic Dermatology é uma publi ca ção ofi cial da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) em par ce ria com a Sociedade Bra- sileira de Cirurgia Dermatológica. O con teú do téc ni co-cien tí fi co apre- sen ta do nesta publi ca ção é de co-pro prie da de da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Editada por: Sociedade Brasileira de Dermatologia. Infor ma ções sobre a Assi na tu ra da Surgical & Cosmetic Dermatology podem ser encon tra das no site www.sur gi cal cos me tic.org.br SURGICAL & COSMETIC DERMATOLOGY / INSTRUÇÕES AOS AUTORES 5 A Surgical & Cosmetic Dermatology (S&CD), editada em 2009, constitui publicação médica destinada a difundir conhecimento e experiência nas áreas de Ci- rurgia Dermatológica, Oncologia Cutânea, Tecnologia em Dermatologia Cosmiatria e Diagnóstico por Imagens em Dermatologia. É uma publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) que conta com o apoio científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e do Colégio Íbero Latino de Dermatologia, que baseia sua política ética e editorial nas regras emitidas pelo The International Commi- ttee of Medical Journal Editors (www.icmje.org). A revista está disponível na íntegra online e adota a política de acesso aberto. A S&CD não cobra aos autores para que submetam ou publiquem manuscritos, não havendo qualquer tipo de custo ou taxas aos autores. A revista adota também a licença de uso da Creative Commons CC BY, https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/. Os manuscritos devem estar de acordo com os pa- drões editoriais para artigos submetidos a periódicos biomédi- cos estabelecidos na Convenção de Vancouver (Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomédicas), regras para relatos de ensaios clínicos e revisões sistemáticas (metanálises). Serão produzidos exemplares impressos da versão em língua portuguesa, com resumos e títulos em inglês. A versão da língua inglesa estará disponível nos websites da SBD e da S&CD, no link: www.surgicalcosmetic.org.br. Todos os artigos propostos à publicação serão previamente submetidos à revisão anônima e confidencial de no mínimo dois membros do Conselho Editorial ou dos Conselhos Nacional e Internacional de Revisores, seguindo-se as diretrizes do COPE (Committee on Publication Ethics). Quando aceitos, estarão sujeitos a pequenas correções ou modificações que não alterem o estilo do autor. As pesquisas em seres humanos devem ter a prévia aprovação de um Co- mitê de Ética em Pesquisa e obedecer aos padrões éticos da Declaração de Helsinki de 1975, revista em 2000, 2008 e 2013. A S&CD segue o Guia para o registro e publicação de retratação e tam- bém o Guia para registro e publicação de errata elaborados pela SciELO, disponível no endereço eletrônico http://www.scielo.org/php/level.php?lang=pt&componen- t=56&item=57 Os autores ao submeterem manuscrito para avaliação da revista devem garantir que o mesmo não contém nenhuma violação de quaisquer direitos autorais ou outro direito de terceiro. A S&CD utiliza software antiplágio para combater o plágio acadêmico e profissional, verificando a originalidade de artigos. ORIENTAÇÕES PARA O PREPARO DOS ARTIGOS A preparação correta do manuscrito torna os processos de revisão e pu- blicação mais eficientes. Assim, recomendamos alguns cuidados que podem facilitar significativamente a preparação dos manuscritos. 1. Os artigos devem ser inéditos e redigidos no idioma de origem do autor (português, espanhol ou inglês): a equipe editorial providenciará as versões necessárias. A escolha da fonte deve ser Times New Roman ou Arial, de número 12. 2. O título do trabalho deve ser curto e conciso, informado em português e inglês, com até 150 caracteres sem espaços, acompanhado de um título resumido. 3. Os resumos em português e inglês devem acompanhar o formato ade- quado ao tipo de artigo. 4. Os autores devem informar o nome com suas abreviaturas, e as suas afiliações institucionais, seguidos de cidade, estado e país. Os vínculos às instituições devem ser citados em ordem hierárquica (ex.1º Departamento, 2º Universidade) e não são permitidas a inclusão dos mini-currículos. Quando um autor é afiliado a mais de uma instituição, cada uma deve ser identificada separadamente. Quando dois ou mais autores estão afiliados à mesma instituição, a sua identificação é feita uma única vez. É obrigatório mencionar o número ORCID, utilizado para a identificação de pesquisadores. O autor deve assumir pelo menos uma responsabilidade na elaboração do trabalho e deverá informar a contribuição de cada um na submissão. Um dos au- tores deve ser designado como autor correspondente, com endereço de e-mail. Deve também ser citado o local de realização do trabalho. 5. Os autores devem informar claramente se houve conflitos de interesse e suporte financeiro. 6. As palavras-chave devem ser citadas em português e em inglês (Keywords), totalizando 3 a 10 por idioma, devendo ser incluídas em todos os tipos de artigos. É recomendável que estas palavras deverão estar contidas no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings) que podem ser acessados na internet. 7. O número limite de palavras para os textos deve ser obedecido segundo o tipo de artigo, e computado excluindo as referências e os resumos em português e inglês. 8. Devem serevitadas informações introdutórias extensas e repetitivas, dan- do-se preferência às mais recentes, ainda não publicadas. Evite textos com repetição da mesma informação no resumo, introdução e discussão. 9. Pesos e medidas devem ser expressos no sistema métrico decimal, e tem- peraturas em graus centígrados. 10. Drogas devem ser mencionadas por seus nomes genéricos, seguidos da dosagem e posologia empregadas, evitando-se a citação de termos comerciais ou marcas. Descrições de quaisquer equipamentos, instrumentos, testes e reagentes devem conter o nome do fabricante e o local de fabricação. 11. De acordo com o ICMJE, apenas podem ser designados como au- tores, aqueles que participaram ativamente no trabalho, podendo assim assumir a responsabilidade pública pelo seu conteúdo. Os créditos de autoria devem se basear exclusivamente em contribuições substanciais para: a- discussão e planejamento do tema e protocolo, análise ou interpretação de dados; b- redação do artigo ou sua crítica; c- responsabilidade pela aprovação final para a publicação. Outras contribuições menores como sugestões de literatura, coleta e análise de dados, obtenção de financiamento, auxílio técnico na execução de rotinas, encaminhamento de pacientes, interpretação de exames de rotina e chefia de serviço ou departamento que não estejam envolvidas no estudo, não constituem critérios para autoria. e podem ser reconhecidas separadamente sob a forma de “agradecimentos”, de acordo com a decisão dos autores. 12. As referências bibliográficas devem ser listadas nas últimas páginas do artigo, e numeradas de acordo com a citação no texto (em ordem numérica seqüen- cial), seguindo o estilo Vancouver, como indicado pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). Referências citadas em legendas de tabelas e fi- guras devem manter a seqüência com as citações no texto. Todos os autores devem ser citados se forem até seis; acima disso, devem ser mencionados os seis primeiros e “et al.”. Seguem-se exemplos dos tipos mais comuns de referências. Exemplos de citações no texto retirados do ICMJE: a-Artigo em periódico: Hallal AH, Amortegui JD, Jeroukhimov IM, Casillas J, Schulman CI, Manning RJ, et al. Magnetic resonance cholangiopancreatography accurately de- tects common bile duct stones in resolving gallstone pancreatitis. J Am Coll Surg. 2005;200(6):869-75. b-Capítulo de livro: Reppert SM. Circadian rhythms: basic aspects and pediatric implications. In: Styne DM, Brook CGD, editors. Current concepts in pediatric endocrinology. New York: Elsevier; 1987. p .91-125. c-Texto na Internet: Ex. com autor indicado: Fugh-Berman A. PharmedOUT [Internet]. Washington: Georgetown University, Department of Physiology and Biophysics; c2006 [cited 2007 Mar 23]. Available from: http://www.pharmedout.org/. Ex. quando o autor é uma organização: International Union of Biochemistry and Molecular Biology. Recom- mendations on Biochemical & Organic Nomenclature, Symbols & Terminology etc. [Internet]. London: University of London, Queen Mary, Department of Chemistry; [updated 2006 Jul 24; cited 2007 Feb 22]. Available from: http://www.chem.qmul. ac.uk/iubmb/. d- Apresentação prévia em eventos: Bruhat M, Silva Carvalho JL, Campo R, Fradique A, Dequesne J, Setubal A, editors. Proceedings of the 10th Congress of the European Society for Gynae- cological Endoscopy; 2001 Nov 22-24; Lisbon, Portugal. Bologna (Italy): Monduzzi Editore, International Proceedings Division; c2001. 474 p. 13. Ilustrações (figuras, quadros, gráficos e tabelas) devem ser referidas em ordem numérica sequencial no texto em números arábicos (exemplo: Figura 3, Grá- fico 7), cabendo ao Editor suprimir as redundantes. As legendas das figuras e gráficos Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 5-6. Introdução: citar as razões que motivaram o estudo, descrevendo o estado atual do conhecimento sobre o tema. Utilizar o último parágrafo para especificar a principal pergunta ou objetivo do estudo, e a principal hipótese testada, se houver. Métodos: Explicar como o estudo foi feito: a- Tipo de estudo: descrever o seu desenho especificando a direção tempo- ral (retrospectivo ou prospectivo), o tipo de randomização quando utilizada (parea- mento, sorteio, sequenciamento, etc), se o estudo foi cego, comparativo, controlado por placebo, etc. b- Local: indicar onde o estudo foi realizado (instituição privada ou públi- ca), citar que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa de sua insti- tuição, os procedimentos de seleção, os critérios de inclusão e exclusão, e o número inicial de pacientes. c- Procedimentos: descrever as principais características das intervenções realizadas, detalhando a técnica e lembrando que o estudo de investigação deverá ser reprodutível. d- Descrição dos métodos utilizados para avaliação dos resultados. e- Inclusão da análise estatística descritiva e/ou comparativa com descrição do planejamento da amostra (representativa do universo a ser estudado), a análise e os testes estatísticos e apresentação dos níveis de significância adotados. A utilização de análises estatísticas não usuais é incentivada, porém neste caso, deve-se fazer uma descrição mais detalhada da mesma. Resultados: descrever os principais resultados que devem ser acompanhados de estimativas pontuais e medidas de dispersão (p.ex., média e erro padrão) ou de estimativas intervalares (p.ex., intervalos de confiança), bem como os níveis descritivos dos testes estatísticos utilizados (p.ex. “p-value”). Os achados também devem ser interpretados sob o ponto de vista clínico. Discussão: enfatizar os novos e importantes resultados encontrados pelo estudo e que farão parte da conclusão. Relatar observações de outros estudos relevantes. Mencionar as limitações dos achados e as implicações para pesquisas futuras. Conclusões: devem ser concisas e responder apenas aos objetivos propostos. A mesma ênfase deve ser dada para estudos com resultados positivos ou negativos. 3 - COMUNICAÇÕES Artigos originais, breves, abordando resultados preliminares de novos achados de interesse nas áreas focadas pela revista. Texto com formatação semelhante ao artigo original, resumo estruturado de até 200 palavras. Limite: texto até 2000 palavras, 8 ilustrações e 15 referências. 4 - ARTIGOS DE REVISÃO COM NOTAS TÉCNICAS DO AU- TOR Poderão ser aprofundados temas específicos nas áreas de interesse da S&CD, algoritmos , compilações e estatísticas, finalizados por relatos descrevendo experiên- cias próprias do autor . Estes trabalhos têm formato livre, porem devem conter resu- mo não estruturado de até 100 palavras e conclusões ou considerações finais. Limite: texto até 6000 palavras, 10 ilustrações e 60 referências. Os artigos de revisão sistemáti- ca ou metanálises devem seguir orientações pertinentes (http://cochrane.bireme.br) 5 – DIAGNÓSTICO POR IMAGEM Abordagem de temas ou casos clínicos, em que os exames de imagens (der- matoscopia, microscopia confocal, ultrassom e outros métodos) são fundamentais no diagnóstico ou tratamento. Resumo não estruturado de até 100 palavras, texto até 1200 palavras, 6 ilustrações e 5 referências. 6 – NOVAS TÉCNICAS Descrição de novas técnicas ou detalhes de técnicas. Resumo não estrutu- rado de até 100 palavras, introdução com revisão de literatura, métodos, resultados, discussão e conclusão. Limite: 1200 palavras, 8 ilustrações e 30 referências. 7 – RELATO DE CASO Descrição de casos ou serie de casos de relevância nas áreas de interesse da S&CD, com descrição de tratamentos, complicações, etc. Resumo não estruturado de até 100 palavras, introdução com revisão de literatura, métodos, resultados, discussão e conclusão, sempre que pertinentes. Limite: texto até 1200 palavras, 8 ilustrações e 30 referências. 8– CARTAS Comentários objetivos e construtivos sobre matérias publicadas. Texto até 600 palavras, e no máximo 5 referências. 6 e os títulos e notas de rodapé das tabelas devem descrever precisamente seu conteúdo com frases curtas, porém suficientes para a compreensão ainda que o artigo não seja totalmente lido. Todos devem ser inseridos no passo correspondente a ilustrações no sistema, evitando que use o campo destinado ao texto para que não contabilizem as palavras dentro das ilustrações. 14. As figuras deverão ter resolução mínima de 300 DPI, largura mínima de 1.200 pixels com altura proporcional, e serem gravadas nos formatos JPG ou TIF. Podem ser colocadas setas ou linhas para localizar as áreas de interesse. As legendas das imagens histológicas devem especificar a coloração e o aumento. Se uma figura já foi publicada anteriormente, deverá citar a fonte original abaixo da mesma e constar nas referências. Deverão enviar à revista a permissão do detentor dos direitos autorais para a sua reprodução. No uso de figuras que identifiquem a face de pacientes será preciso autorização por escrito para divulgação (ver no site da revista o documento Autorização para uso de fotografias). 15. Quanto aos vídeos é necessário inserir legendas contendo informações como título do manuscrito, autoria, instituição e outros comentários pertinentes. No uso de imagens de pacientes, a identidade deverá ser resguardada, do contrário, será preciso anexar-lhes permissão por escrito para divulgação. 16. Os gráficos deverão ser elaborados em Microsoft Excel. As tabelas dispen- sam sua descrição no texto tendo a finalidade de suplementá-lo e não a de aumentá-lo. As unidades utilizadas para exprimir os resultados (m, g, g/100, mL etc.) figurarão no alto de cada coluna. Os pacientes devem ser identificados por números ou letras, e nunca pelos nomes, iniciais ou número de registro hospitalar. 17. O limite máximo de autores aceitável é de 5; só haverá exceção para tra- balhos de maior complexidade (ex. Artigo Original, Revisão) mediante justificativa e aprovação dos editores. 18. As opiniões e declarações contidas na revista são de responsabilidade única e exclusiva de seus autores, não sendo, necessariamente, coincidentes com as da Equipe Editorial, do Conselho de Revisores ou da Sociedade Brasileira de Der- matologia. Os autores deverão submeter seu manuscrito para avaliação do Conselho Editorial da revista no endereço eletrônico que se segue: http://www.sgponline. com.br/scd/sgp/. Todos os documentos como Consentimento de uso para publicação (Co- pyright), Conflito de interesses e Autorização para publicação de fotografias estão disponíveis no site da revista e no sistema de submissão online. Estes documentos devem ser assinados por todos os autores participantes e anexados no sistema ao sub- meter o manuscrito. Autorização para publicação de fotografias só se faz necessária quando identifica a face do paciente por completo. O documento de Contribuição no trabalho deve ser preenchido via sistema de submissão. CONTATO DA REVISTA A/C Surgical & Cosmetic Dermatology Av. Rio Branco, nº 39, 18º andar. Rio de Janeiro – RJ, Brasil. CEP: 20090-003. surgical@sbd.org.br A revista aceita trabalhos inéditos e não publicados das seguintes categorias: 1 – ARTIGOS DE REVISÃO Poderão ser aprofundados os temas específicos nas áreas de interesse da S&CD, algoritmos, compilações e estatísticas. Estes trabalhos têm formato livre, po- rem devem conter resumo não estruturado de até 100 palavras e conclusões ou considerações finais. Limite: texto até 6000 palavras, 10 ilustrações e 60 referências. Os artigos de revisão sistemática ou metanálises devem seguir orientações pertinentes (http://cochrane.bireme.br) 2 – ARTIGO ORIGINAL É o relato de uma pesquisa investigativa original nas áreas de Cirurgia Dermatológica, Oncologia Cutânea, Tecnologia em Dermatologia e Cosmiatria. Exemplos: estudos experimentais, estudos clínicos, comparações e descrições de técnicas ou de métodos de avaliação, estudos de áreas afins (ex: estudos farmacêuticos em cosmiatria). O texto deverá conter até 4000 palavras, 10 ilustrações e 35 refe- rências e seguir o formato IMRDC (Introdução e objetivo, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão) Resumo: deverá conter no máximo 200 palavras e ser estruturado seguindo os itens: Introdução, Objetivo, Métodos, Resultados e Conclusões. Não é permitido afirmar que os resultados ou outros dados serão apresentados ou discutidos. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 5-6. Surgical & Cosmetic Dermatology Sumário / Table of contents Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2017 l Volume 10 l Número 1 ISSN:1984-5510 Online ISSN: 1984-8773 7 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 7-8. Editorial / Editorial Surgical & Cosmetic Dermatology e seu papel na comunicação científica Surgical & Cosmetic Dermatology and its role in scientific communication Bogdana Victoria Kadunc Artigos de Revisão / Review Articles Revisão da literatura: afecções auriculares parte 1: traumas físicos e por alteração térmica Literature review: auricular disorders Part 1 - physical and thermal change related traumas Bhertha M. Tamura, Ana Carolina Junqueira Ferolla, Cândida Naira Lima e Lima Santana Tratamento de verrugas virais com bleomicina intralesional Treatment of viral warts with intralesional bleomycin Leandro Fonseca Noriega, Letícia dos Santos Valandro, Nilton Gioia Di Chiacchio, Marina Lino Vieira, Nilton Di Chiacchio Artigos Originais / Original Articles Investigação sobre o uso do ácido retinoico a 3% e a 5% em soluções para peeling como agente para drug delivery após indução percutânea de colágeno com agulhas (IPCA®): perfil de segurança e protocolo de uso Investigation on the use of 3% and 5% retinoic acid in peeling solutions as a drug delivery agent after percutaneous induction of collagen with needles (IPCA®): safety profile and application protocol Emerson de Andrade Lima, Mariana de Andrade Lima, Cláudio Eduardo Cavalcante de Araújo, Yara Maria Maia Nakasawa, Nilma Cintra Leal Terapia celular combinada com membranas de biopolímeros melhora a cicatrização de úlceras em paciente com dermatomiosite juvenil Combining cell therapy with biopolymer films improves wound healing in a juvenile dermatomyositis patient Paula Tavares Colpas, Paulo Cesar Martins Alves, Carolina Caliári Oliveira, Ana Luiza Resende Pires, Angela Maria Moraes, Maria Beatriz Puzzi A lipoescultura como tratamento complementar na ritidoplastia Liposculpture as a complementary treatment in rhytidoplasty Daniel Nunes e Silva, Isabela Carrijo Pessoa, Agliberto Augusto Barsaglini, Marcondes Rezende, João Ilgenfritz Junior, Marcelo Rosseto, Elaine Leal Loureiro Latanoprosta e minoxidil: estudo duplo-cego comparativo, placebo-controlado no tratamento da queda de cabelos Latanoprost and minoxidil: comparative double-blind, placebo-controlled study for the treatment of hair loss Leila David Bloch, Cassiano Carlos Escudeiro, Fernanda Daud Sarruf, Neusa Yuriko Sakai Valente Avaliação do conhecimento sobre fotoproteção e da exposição solar de estudantes universitários Assessment of university students’ knowledge of photoprotection and exposure to the sun Caroline Nunes Ferreira, Tais Freire Galvão, Priscila Gava Mazzola, Gislaine Ricci Leonardi Estudo comparativo entre dois anestésicos tópicos em procedimentos dermatológicos Comparative study between two topical anesthetics in dermatological procedures Sandra Tagliolatto, Gabriela Nero Mitsuushi Composto nutracêutico no tratamento do eflúvio telógeno associado à síndrome das unhas fracas Nutraceutical compound forthe treatment of telogen effluvium associated with brittle nails syndrome Sergio Schalka, Patrícia Camarano Pinto Bombarda, Camila Canale 9 10 17 22 28 36 41 46 51 55 Sumário / Table of contents 8 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 7-8. Diagnóstico por Imagem / Diagnostic imaging A utilidade da microscopia confocal nas lesões de lentigo maligno The utility of confocal microscopy in lentigo maligna lesions Gisele Gargantini Rezze, Maurício Mendonça Nascimento, Regiane Salera, Clóvis Antonio Lopes Pinto, Francisco Macedo Paschoal Relatos de Caso / Case Reports Técnica inovadora para tratamento de flacidez cervical com fio mononylon para sustentação transmastoide Innovative technique for the treatment of cervical laxity with mononylon thread for trans-mastoid support Frederico Hassin Sanchez, Timótio Volnei Dorn Sutura purse-string combinada com cicatrização por segunda intenção para reparo de defeito cirúrgico temporal Purse string-suture combined with second intention healing for temporal region repair Marcos Noronha Frey, Rita de Cássia Rossini, Felipe Bochnia Cerci Reconstrução de extensa lesão de orelha com retalho em “porta de Saloon” Reconstruction of extensive lesion in the ear with a "saloon door" flap Guilherme Moraes Kruger, Gabriela Kimie Aseka, Carlos Alberto Ferreira de Freitas,Günter Hans Filho A importância do uso precoce de hialuronidase no tratamento de oclusão arterial por preenchimento de ácido hialurônico The importance of the early use of hyaluronidase in the treatment of arterial occlusion resulting from hyaluronic acid based cutaneous filling Ritha de Cássia Capelato Rocha, Luana Bertelli Castilho, Danielle Mechereffe do Amaral Blaas, Reinaldo Tavares Júnior, Ana Paula Tavares, Mariana Isis Wanczinski Tratamento de psoríase vulgar pela microinfusão de medicamentos na pele (MMP®) usando ciclosporina e metotrexato Treatment of psoriasis vulgaris with cyclosporine and methotrexate injections using the MMP® technique Aline Lissa Okita, Samir Arbache, Dirlene Melo Palmeira Roth, Luciana Gasques de Souza, Mariana Morais Tavares Colferai, Denise Steiner Laser versus microagulhamento para tratamento de cicatriz facial – Relato de caso Laser versus microneedling for the treatment of facial scar – Case report Célia Luiza Petersen Vitello Kalil, Clarissa Prieto Herman Reinehr, Laura de Mattos Milman, Valéria Campos 61 65 70 74 77 80 85 9 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 9. Editorial Autor: Bogdana Victoria Kadunc 1, 2 1 Pontifícia Universidade Católica de Campinas - (PUC - Campinas) - Campinas(SP), Brasil. 2 Hospital do Servidor Público Municipal – São Paulo (SP), Brasil. Correspondência para: Bogdana Victoria Kadunc Av. Rio Branco, 39 18º andar Centro 20090 003 - Rio de Janeiro - RJ, Brasil. E-mail: surgical@sbd.org.br DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810101 2018 será o 9º ano de publicação ininterrupta da Surgical & Cosmetic Dermatology (S&CD)!! Inicialmente, gostaria de fazer alguns comentários breves sobre as mu- danças que o atual cenário mundial da comunicação científica apresenta em seus aspectos éticos e comerciais, e como tem sido manter e administrar esta publicação. A possibilidade da obtenção de artigos em acesso aberto e a cobran- ça aos autores de taxas de valor variável para publicação que muitos periódi- cos adotam, são os principais responsáveis por estas mudanças, que ao lado de muitos benefícios, trazem também preocupações. Os grandes benefícios são o au- mento do acesso ao conhecimento científico e da visibilidade dos autores, enquan- to que a maior preocupação se refere ao surgimento dos nefastos assim denominados “periódicos predatórios” que não realizam a avaliação legítima e criteriosa dos artigos, publicam fatores de impacto falsos e tem por objetivo apenas receber as taxas de publi- cação como forma de lucro fraudulento. Destacamos assim a postura da S&CD que não necessita cobrar dos autores taxas de publicação porque possui fontes de financiamento formalizadas institucionalmente (Sociedade Brasileira de Dermatologia-SBD desde o início, e recentemente Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica-SBCD) e obedece as detalhadas exigências éticas e estruturais das bases de indexação (revisão por pares, publicação de artigos oriundos de diferentes regiões geográficas e 50% de trabalhos de investigação). Temos procurado, dentro destes princípios e com muito esforço administrar este periódico que tem se revelado um estímulo à publicação de autores brasileiros em Cirurgia Dermatológica, Oncologia Cutânea, Diagnóstico por Imagens, Avanços Tec- nológicos em Dermatologia e Cosmiatria. Temos também despertado o interesse de pesquisadores da América do Sul, Portugal e Oriente Médio, sem esquecer grandes no- mes da Cirurgia Dermatológica Europeia, como o Dr. Eckart Haneke, que nos ajudam com sua experiencia. Contamos também com o forte apoio científico do Colégio Ibero-Latino de Dermatologia e da SBCD, recentemente reforçado através de compromissos formais com os Drs. Omar Lupi e Mauro Enokihara, respectivamente vice-presidente e presi- dente dessas respeitadas instituições. A S&CD já se encontra incluída em várias importantes bases de dados regio- nais e internacionais, tais como: REDALYC, LATINDEX, LILACS, SCOPUS e DOAJ (Directory of Open Access Journals), um diretório online que indexa e promove acesso somente para publicações de boa qualidade e revisadas por pares. A S&CD também marca sua presença em redes sociais voltadas a pesquisadores, entre elas o ResearchGate. A todos, Corpo Editorial, Conselho de Revisores nacionais e internacionais, equipe da Biblioteca- SBD e autores, agradeço pessoalmente a colaboração neste per- curso em direção à materialização e divulgação da S&CD. Algumas importantes barreiras já estão vencidas, mas muitos outros desafios ainda temos por enfrentar. Profa. Dra. Bogdana Victoria Kadunc Editora-chefe da Surgical & Cosmetic Dermatology Surgical & Cosmetic Dermatology e seu papel na comunicação científica Surgical & Cosmetic Dermatology and its role in scientific communication Revisão da literatura: afecções auriculares parte 1: traumas físicos e por alteração térmica Literature review: auricular disorders Part 1 - physical and thermal change related traumas DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810102 RESU MO A orelha é estrutura com peculiaridades anatômicas, localizada em área exposta a traumas e suscetível a uma série de dermatoses que merecem atenção, muitas vezes subdiagnosti- cadas pelos dermatologistas. Realizou-se revisão de literatura incluindo a embriologia e a anatomia do pavilhão auricular, bem como diagnóstico e tratamento das lesões traumáticas de natureza física e por alterações de temperatura, entre outras. Palavras-chave: Anatomia; Orelha; Otopatias ABSTRACT The ear is a structure with anatomical peculiarities. It is located in an area exposed to trauma and sus- ceptible to a series of dermatoses that are often underdiagnosed by dermatologists and deserve attention. A literature review was carried out including the embryology and anatomy of the auricular pavilion, as well as the diagnosis and treatment of traumatic lesions of physical nature and due to changes in temperature, among others. Keywords: Ear; Anatomy; Ear diseases INTRODUÇÃO O ouvido é dividido em três partes principais: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno. O externo é composto pelo pavilhão auricular e canal auditivo.1 O pavilhão auricular ou aurícula é oriundo do segundo arco faríngeo, podendo ser observado pela primeira vez na sexta semana de gestação. Orevestimento do canal auditivo externo é contínuo com a pele e com a superfície externa do tímpano, tem origem ectodérmica1 e contém glândulas sebáceas apócri- nas modificadas, denominadas glândulas ceruminosas e glândulas sebáceas, ambas associadas a folículos pilosos.2 Devido a sua posição anatômica, o pavilhão auricular está sujeito a traumas e exposições térmicas, além de poder apre- sentar diversos sinais associados a diferentes doenças cutâneas e sistêmicas. A ORELHA A aurícula se desenvolve a partir da primeira crista bran- quial e é composta primariamente de cartilagem e pele que estão aderidas firmemente na região anterior e em menor grau na posterior. Devido a sua localização anatômica o pavilhão auri- cular está comumente exposto ao sol e ao frio. As neoplasias da cartilagem da aurícula são raras; a maioria ocorre na pele ou nos anexos. Artigo de Revisão Autores: Bhertha M. Tamura1 Ana Carolina Junqueira Ferolla1 Cândida Naira L. e L. Santana2 1 Departamento de Dermatologia, Ambulatório de Especialidades Barradas, Bourroul - São Paulo (SP), Brasil. 2 Clínica Dermacare – São Luis (MA), Brasil. Correspondência para: Bhertha M. Tamura Av. Ministro Gabriel de Rezende Passos, 500 Conj. 1506 04521 022 - São Paulo - SP, Brasil E-mail: bhertha.tamura@uol.com.br Data de recebimento: 11/11/2017 Data de aprovação: 18/02/2018 Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Ambulatório de Especialidades Barradas - São Paulo (SP), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum 10 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. Afecções auriculares: traumas físicos e por alteração térmica 11 O canal auditivo externo tem de dois a 3cm de compri- mento e é composto por uma parte cartilaginosa em uma parte óssea. Somente a parte cartilaginosa do canal contém folículos pilosos, glândulas sebáceas e ceruminosas. Na porção superior e posterior do canal, a cartilagem é incompleta e preenchida por tecido fibroso. A junção temporomandibular e a glândula paróti- da se encontram na região anterior ao canal auditivo, estando o osso mastoide e o nervo facial localizados posteriormente. A inervação da aurícula e do canal externo é realizada pelo nervo auricular magno, por ramo auricular do nervo vago, ramo auriculotemporal do nervo trigêmeo e pelo nervo occi- pital inferior.1 EMBRIOLOGIA O desenvolvimento da orelha externa começa no final da quarta semana gestacional, a partir de seis tubérculos auriculares. Alterações congênitas durante a fusão dos tubérculos não são raras devido ao complexo desenvolvimento dos tubérculos. Os primeiros aparecem na região cervical inferior e com o desenvolvimento da mandíbula alongam-se em direção ao crâ- nio mudando a posição das conchas para a altura dos olhos. A posição mais baixa das conchas é frequentemente associada a malformações, na maioria das vezes cromossômicas. A partir da porção posterior do primeiro sulco faríngeo, o meato acústico externo cresce para o interior como um tubo afunilado, até atingir o revestimento endodérmico da cavidade timpânica. No início da nona semana, as células epiteliais do assoalho do meato acústico proliferam e formam uma placa do meato acústico. Essa placa se degenera no sétimo mês, e a surdez congênita ocorre quando ela se mantém.1,2 ANATOMIA DA ORELHA A orelha externa consiste inferiormente do lóbulo, parte macia e arredondada. A moldura externa contínua ao lóbulo é estrutura firme que se denomina hélice. A ela, superiormente se segue a escafa, medialmente a anti-hélix (moldura oponente à hélix) e em seu extremo caudal o antitragus. Medialmente à anti-hélix a cartilagem forma a concha, e superiormente uma outra depressão denominada fossa triangular. Medialmente na área de adesão da orelha ao segmento cefálico circundando o meato acústico (formado pela parte timpânica do temporal) em formato de “S” e o protegendo, encontramos o tragus (Figura 1). Os músculos da orelha são raramente valorizados devido a seu caráter rudimentar, mas precisam ser conhecidos e descri- tos. Podem ser considerados músculos da mímica pertencentes a um sistema de esfíncteres, que em vários animais ainda é bastante proeminente com funções como a movimentação das orelhas ou fechamento do meato acústico durante a hibernação.1,2 Há intensa vascularização da orelha, especialmente no lóbulo, sendo que os vasos se encontram na base de sua implantação. TRAUMA / HEMATOMA O trauma da aurícula ocorre frequentemente por contu- são, laceração ou perda de toda aurícula. Em alguns casos a au- rícula pode ser ressuturada com sucesso. A técnica reconstrutora deve seguir os conceitos básicos da cirurgia plástica. A sutura da pele deve ser cuidadosamente realizada com o controle rigoroso do sangramento porque a pele é justaposta à cartilagem subja- cente. As áreas extremamente maceradas devem ser removidas procurando-se minimizar as deformidades e cicatrizes. O hematoma (Figura 2) da aurícula não ocorre apenas em lutadores, boxeadores, jogadores de rugby, futebol e outros esportes, mas também é comum em crianças. Os hematomas são comuns em esportes com contato físico como as lutas, devido à exposição da orelha. Quando a orelha é atingida pode ocorrer um descolamento entre o pericôndrio a cartilagem, criando-se um espaço preenchido por sangue, e constituindo um hemato- ma. Como a cartilagem não tem circulação própria, esse espaço pode redundar em necrose ou infecção. O trauma é a causa mais comum de hematomas embo- ra discrasias sanguíneas possam levar a pequenas hemorragias. A região externa da aurícula é a área mais afetada devido a sua posição exposta. O sangue se coleta rapidamente após o trau- ma, dissecando o tecido entre o pericôndrio e a cartilagem e criando uma coleção vinhosa que envolve toda a aurícula. Se essa coleção não for tratada precocemente, o sangue se organiza, transformando-se numa massa fibrosa e causando a necrose da cartilagem pela isquemia regional. Essa massa cicatricial especial- mente após traumas repetitivos cria uma deformidade denomi- nada “orelha em couve-flor.3 O tratamento é baseado na drenagem rápida do sangue coletado. Devido à possibilidade de ocorrer uma pericondrite, deve-se fazê-lo assepticamente. Utilizam-se antibióticos de largo espectro, incluindo ação contra Pseudomonas aeruginosa nos pe- ríodos pré e pós-operatório. A incisão deve ser paralela à hélice, na escafa, fazendo-se abertura suficiente para aspirar inteiramen- te o hematoma, realizada precocemente para evitar a organização do mesmo. Nesse caso, haveria necessidade de curetagem. Podem ser colocados drenos pequenos para prevenir nova coleção de sangue ou soro, porém não se deve deixá-lo mais do que 48 horas devido ao risco de infecção. Figura 1: Representação esquemática da anatomia externa da orelha Um curativo compressivo deve ser adaptado ao formato da orelha sobre a área do hematoma e outro na região posterior da aurícula, podendo ser realizada sutura que atravessa toda a es- pessura da aurícula. Deve ser mantido por no mínimo 48 horas. Coleções pequenas residuais devem ser drenadas respeitando-se as técnicas de assepsia. Utiliza-se antibiótico durante cinco a sete dias, e a ocorrência de pericondrite deve ser tratada imediata- mente. LACERAÇÕES E ABRASÕES As lacerações da aurícula exigem o fechamento meticu- loso e detalhado, o realinhamento dos fragmentos e a manu- tenção dos contornos da aurícula. Deve ser feita a comparação com a orelha oposta para que possa ser mantida a maior simetria possível. As lacerações e abrasões podem ser tratadas sob anestesia local, porém, em crianças e nos casos severos ou extensos a opção é a anestesiageral. São comuns casos de laceração e ruptura do lóbulo devidas ao trauma do orifício do brinco.4 A ferida deve ser inspecionada e lavada cuidadosa e in- sistentemente para a remoção de qualquer material estranho ou necrosado. Deve-se realizar um desbridamento, (Figura 3) o mais conservador possível. Lacerações simples da pele são fechadas geralmente com fio mononylon seis zeros e a cartilagem com fio absorvível. Pode ser necessário remover uma pequena faixa de cartilagem ao longo da laceração para facilitar o fechamento do pericôndrio. Deve ser mantido o formato original da borda da hélice. São necessários curativo compressivo durante 24 horas e antibióticos orais durante uma semana. Quando a laceração se estende até o canal auditivo, após a sutura aplica-se um curativo dentro do canal para moldá-lo, mantendo-o durante várias se- manas para evitar estenose. As abrasões devem ser limpas e cobertas por gaze, anti- biótico e curativo oclusivo durante 24 horas. Após a retirada a ferida é tratada apenas com curativo simples até que ocorra a reepitelização. Se houver dor severa sob o curativo, ele deve ser removido imediatamente, e a ferida cuidadosamente examinada, pois podem ocorrer isquemia, hematoma ou infecção. Quando há necessidade de sutura, deve-se iniciá-la nos locais de acesso cirúrgico mais difícil, tais como meato auditivo e concha, ter- minando-se a cirurgia nos locais periféricos. Em alguns casos de ferimentos lacerantes extensos, a ressecção em cunha ou o debri- damento mínimo é necessário, devendo-se aproximar as bordas de maneira a não alterar a curvatura normal da orelha. Nos ferimentos abrasivos extensos ou nos casos em que ocorreram pequenas perdas de pele, procede-se à limpeza exaus- tiva da lesão e à aplicação de curativo oclusivo com gaze de rayon vaselinada. A epitelização se processará de maneira satisfatória no prazo de sete a dez dias, observando-se que a orelha tem enorme capacidade de epitelização secundária. Nos casos em que houver perda significativa de pele,5 com exposição do pericôndrio, utilizam-se enxertos de pele como medida reparadora. A área doadora preferencial é a região retroauricular contralateral, por apresentar pele de coloração e textura semelhantes. Quando há perda de pericôndrio, com exposição de car- tilagem, podem ser utilizados: ressecção em cunha e fechamen- to primário, retalho local, excisão da cartilagem e enxerto de pele, ou ainda manutenção do ferimento aberto. A ressecção em cunha, com fechamento primário, é utilizada quando a lesão é pequena ou localizada perifericamente. Quando se utilizam retalhos locais, a área preferencial é a região retroauricular. Em alguns casos, pode-se levar o retalho para a área exposta e, em segundo tempo, retorná-lo ao seu local de origem, utilizando enxerto de pele na área cruenta. Em ou- tros casos a cartilagem pode ser ressecada, enxertando-se a área cruenta. Esse procedimento tem a vantagem de ser realizado em um único tempo cirúrgico.6 Outra alternativa seria manter o ferimento aberto, tro- cando frequentemente o curativo com gaze embebida em soro fisiológico, aguardando-se a formação de tecido de granulação e realizando a reparação secundária em tempo posterior. 12 Tamura BM, Ferolla ACJ, Santana CNLL Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. Figura 2: Hematoma Figura 3: Borda da ferida desbridada após ruptura do lóbulo da orelha Afecções auriculares: traumas físicos e por alteração térmica 13 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. PERDAS PARCIAIS DA AURÍCULA Quando há desinserção muito importante da orelha, mas a circulação está mantida graças a um pequeno pedículo, deve-se ressuturar os tecidos em sua posição de origem, com o menor trauma possível. Na fixação do arcabouço cartilaginoso utiliza-se fio de náilon monofilamentar 6-0 com a finalidade de mantê-lo em posição. É necessário fazer a reavaliação da viabilidade teci- dual 48 horas após o procedimento inicial. Strauch3 observou a sobrevivência da orelha quando o pedículo era constituído apenas por uma porção do lóbulo ou de pequeno segmento junto à inserção do pavilhão no segmento cefálico. O tratamento ideal nas avulsões parciais com exposição de cartilagem deve visar a sua imediata cobertura. A cartilagem pode ser preservada com um enxerto ou com um segmento par- cialmente aderido, coberta por retalho adjacente ou sepultada sob retalho (em bolsa). Os traumas podem variar de perda par- cial a total da aurícula. Após anestesia, limpeza e debridamento, como já descrito, a extensão da perda tecidual e a condição do restante da estrutura determina se a ferida pode ou não ser sutu- rada primariamente ou se necessita de reconstrução. A perda da pele com pericôndrio intacto pode ser re- parada com um enxerto parcial ou total. A pele retroauricular fornece tecido cuja cor combina com a da pele da aurícula; as áreas supraclaviculares também podem ser utilizadas. Se hou- ver perda de pele e pericôndrio, há necessidade de um tecido vascularizado para cobrir a cartilagem. Podemos então utilizar um retalho da área pré ou retroauricular, mas, retalhos pré-au- riculares para a superfície lateral da aurícula podem parecer espessos e têm resultado cosmético pouco satisfatório. Se a área de cartilagem exposta for pequena, simplesmente pode ser ex- cisada, e as paredes da ferida ressuturadas. Se não for possível utilizar nenhuma dessas alternativas, pode-se esperar a granu- lação do tecido, mantendo-se apenas curativos locais até que possa ser feito um enxerto. A reconstrução de perdas teciduais totais,5 como a re- gião da hélice, do lóbulo da orelha, e defeitos segmentares en- volvendo a aurícula em sua região superior, média ou inferior pode ser bastante complexa ou exigir múltiplas fases. O mé- todo de escolha para a correção dependerá das dimensões do defeito. Defeitos com menos de 2cm podem ser transformados em pequenos fusos e fechados primariamente. Benchemam et al 7 descreveu uma técnica (Antia-Buch) com o uso de retalhos condrocutâneos superiores e inferiores da hélice adjacente ao defeito. Após a incisão da pele e cartilagem da superfície lateral da aurícula, a pele da superfície medial é amplamente divulsio- nada permitindo que os retalhos avancem sobre o defeito. Essas técnicas de avanço podem corrigir grandes defeitos, porém às vezes a diminuição do tamanho da orelha é inaceitável. Nesses casos, deve-se fazer reconstrução em etapas, trazendo outro te- cido ao defeito para reconstruir a hélice. Existe uma variedade de técnicas para rotação de retalhos tubulares para esse propósi- to. Outra opção envolve o avanço de pele da superfície medial da aurícula e da área retroauricular, que pode ser utilizado em combinação com enxertos de cartilagem. Pode-se utilizar essa técnica também em lesões mais extensas da orelha. Quando há a necessidade de várias fases cirúrgicas, não se deve dei- xar a cartilagem exposta. Pode-se cobri-la embutindo-a sob a pele retroauricular onde a área acometida é lavada, limpa, der- moabrasada e anatomicamente ressuturada no coto auricular remanescente. Cria-se, assim, uma bolsa ou túnel retroauricular que abriga esse coto. Duas semanas depois, a porção embutida é reexposta para que se complete a epitelização. Isso fornece uma proteção adequada, e a pele sobrejacente pode ser utilizada para a primeira fase da reconstrução. A cartilagem conchal da orelha contralateral pode ser utilizada para o enxerto composto. Essa técnica pode ser utilizada também para reconstruir orelhas com perda segmentar maior. AVULSÃO TOTAL DA AURÍCULA Na literatura o sucesso do reimplante de orelhas totalmente decepadas foi à custa de terapia agressiva com antibióticos endove- nosos, anticoagulantes e vasodilatadores. A congestão venosa deve seraliviada por múltiplas puncturas ou incisões para drenagem. Atualmente realiza-se a microcirurgia quando possível, com reanastomoses vasculares realizadas com técnicas microci- rúrgicas. Há necessidade também de anticoagulação, antibióticos, curativos frequentes e técnicas de drenagem venosa. A peça amputada deve ser transportada em condições es- téreis, resfriada e ressuturada o mais brevemente possível. Quan- do não for possível resgatá-la, podemos optar por próteses fixas, por implantes osteointegrados ou reconstrução auricular total.6 As amputações da orelha são de solução cirúrgica extre- mamente complexa. Até recentemente, a única alternativa viável consistia em salvar o arcabouço cartilaginoso. As tentativas cautelosas de salvar o arcabouço cartilagi- noso extremamente traumatizado podem prejudicar a recons- trução. Isso ocorre pelo fato de a cartilagem traumatizada ou alterada produzir detalhes ou projeção inadequados. Técnicas atuais de reconstrução utilizando enxertos de car- tilagem autógena com cobertura por retalho da fáscia do músculo temporal oferecem melhores resultados do que aqueles obtidos com tentativas de preservação da cartilagem em locais distantes. Nos casos de amputação, tratados com inserção da carti- lagem desnuda por debaixo do retalho retroauricular e liberação do retalho em duas a quatro semanas, nota-se retração tardia do segmento reinserido, bem como perda da definição e do con- torno da orelha. As reconstruções com cartilagem autógena, utilizando-se segmento da concha da orelha contralateral ou cartilagem costal, associadas à cobertura cutânea adequada, frequentemente produ- zem orelhas mais aceitáveis do ponto de vista estético. O reimplante de grandes segmentos ou de toda a orelha como enxerto composto está fadado, em alguns casos ao insu- cesso, exceto se a área receptora for inicialmente preparada no intuito de aumentar a vascularização.3 MORDEDURA POR ANIMAL Os conceitos básicos de reparações das lesões de orelha são as descritas anteriormente com algumas considerações es- pecíficas. Em primeiro lugar, identificar o animal (incluído o humano) e a extensão da lesão. Assim como outras feridas, é necessário documentar fotograficamente, preocupar-se com a profilaxia do tétano e detectar se há necessidade da profilaxia antirrábica. Todos os pacientes devem ser tratados com antibiótico. Tais lesões têm contaminação por micro-organismos tanto ae- róbios como anaeróbios,4 sendo os mais frequentemente detec- tados nas mordidas por humanos: S. aureus, Pasteurella multocida, Streptococci, Bacteroides e Fusobacterium sp. A penicilina ou a am- picilina cobre a maioria dos patógenos incluindo o P. multocida. O clavulonato de amoxacilina e a ticarcilina têm maior espectro de ação, incluindo o S. aureus e os produtores de beta-lactamase. O tratamento se inicia com a limpeza detalhada e a ir- rigação da ferida. Se ela for muito extensa e demandar recons- trução cirúrgica deve-se considerar se isso será feito imediata ou posteriormente. Há controvérsias, mas a reconstrução posterior nos casos de mordida humana grave ou lesões que ocorreram há várias horas é factível se o intervalo de tempo for inferior a cinco horas, com a ferida bem limpa e que possa ser suturada primaria- mente. Caso o reparo não possa ser realizado de imediato devem ser aplicados curativos locais até que haja tecido de granulação local, limpo e sem infecções. LESÕES POR ALTERAÇÕES TÉRMICAS Frio ou congelamento Provoca trauma localizado que resulta da exposição ao frio8 sendo a perda tecidual devida a lesões celular e vascular direta. Estudos em animais demonstram que após o congela- mento, os condrócitos mostram evidências imediatas de lesão acompanhadas de alterações mínimas das células epidérmicas. A microvasculatura, no entanto, apresenta mudança dramática, ocorrendo separação das células endoteliais da lâmina elástica interna (formação de cristais de gelo), estase e extravasamento de hemácias, edema intersticial, baixo fluxo e necrose tecidual. A liberação de metabólitos do ácido aracdônico, o tromboxane A2 e prostaglandinas pioram a necrose e agem na regulação da vascularização de um modo ainda não totalmente conhecido le- vando à isquemia e perda tecidual. A lesão por frio pode ser superficial ou profunda. Os teci- dos profundos se mantêm viáveis se o congelamento for superfi- cial, o que não acontece se ele atingir as camadas mais inferiores. Esse tipo de lesão é mais frequente nos climas frios, e a região auricular é frequentemente envolvida, por sua posição exposta e pela baixa quantidade de tecido subcutâneo para pro- teger os vasos sanguíneos. O vento, a umidade e a temperatura são determinantes da severidade da lesão. Inicialmente, há va- soconstricção deixando a orelha, especialmente nas partes mais externas, esbranquiçada e fria ao toque. Seguem-se a hiperemia e o edema que prejudicam ainda mais a permeabilidade capilar. A cristalização do fluido intracelular pode ser primariamente responsável por isso. A orelha se torna edemaciada, vermelha, amolecida e pode apresentar bolhas com saída de secreção fluida através da pele. No estágio final da queimadura pelo frio, os ca- pilares regionais se tornam repletos de células vermelhas devido à baixa velocidade da circulação através dos capilares e pela perda do soro em função da permeabilidade anormal. A recuperação é lenta porque ocorrem obstrução, trombose e isquemia, levando à necrose do tecido afetado. O tratamento é baseado no grau de severidade da le- são. A orelha deve ser tratada gentilmente para minimizar as lesões num tecido já traumatizado e desvitalizado. Deve-se evi- tar massagem e outras manipulações. Deixar que a temperatu- ra da orelha retorne gradativamente à temperatura corporal. Quando ocorrer a vasodilatação serão observados sintomas de prurido e dor severa, que deve ser controlada com analgésicos. Nas crianças há necessidade de restringir as mãos. Nos casos severos ou de exposição prolongada, recomenda-se o uso de anticoagulantes para minimizar a trombose e a coagulação in- travascular, devendo-se continuar esse tratamento até que se determine exatamente a área danificada. Em todos os casos po- dem ser usados estrogênios conjugados e bioflavonoides por via endovenosa para reduzir a permeabilidade capilar anormal. Os antibióticos podem ser necessários para prevenir a infecção do tecido desvitalizado. Se a necrose de algumas áreas da aurícula se tornarem evidentes deve-se aguardar sua delimitação com- pleta antes que a excisão cirúrgica seja realizada. A separação espontânea do tecido desvitalizado permite que a cirurgia seja econômica, e o resultado cosmético mais adequado. Se houver indicações de infecção e gangrena a excisão cirúrgica deve ser realizada imediatamente. O frio também pode ser importante fator quando se tra- ta de erupção juvenil da primavera, condrodermatite nodular da hélice, eritema pérnio, lúpus eritematoso e crioglobulinemia. Lesões semelhantes àquelas provocadas pelo frio podem ser de- sencadeadas por uso excessivo de spray de etilclorida para o pier- cing na orelha.2,5 QUEIMADURAS A aurícula é particularmente suscetível ao trauma tér- mico9 devido a sua posição exposta e à mínima quantidade de tecido subcutâneo separando a pele do pericôndrio. Pode-se perder tecido devido ao trauma térmico direto, e a isquemia dérmica progressiva parece resultar de uma interação comple- xa de fatores, incluindo o aumento da permeabilidade vascu- lar com a formação de edema significante e a liberação de mediadores químicos com potentes efeitos na função vascular. O tecido danificado serve como substrato para infecções e fi- nalmente a perda da cartilagem e a subsequente deformidade auricular. Queimaduras de primeiro grau envolvem apenas a epi- derme. A orelha ficaeritematosa, quente e dolorosa ao tato, e se toma conduta expectante. As queimaduras de segundo grau envolvem a epiderme e parte da derme, podendo ser divididas em profundas e superficiais. Queimadura de terceiro grau ou de espessura total é aquela em que ocorre a destruição total da epiderme e da derme. Muitas vezes a diferenciação entre a quei- madura parcial profunda e a de espessura total pode ser difícil. Leve edema pode ocorrer numa queimadura profunda e uma queimadura de espessura total pode ocorrer sem dor ou desse- 14 Tamura BM, Ferolla ACJ, Santana CNLL Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. Afecções auriculares: traumas físicos e por alteração térmica 15 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. cação de tecidos, levando à autoamputação parcial ou total da orelha. A falta da sensação de dor não auxilia a determinação da profundidade da queimadura pois é variável nas queimaduras de segundo e terceiro graus. O principal cuidado nos casos de quei- maduras de segundo e terceiro graus é a prevenção da condricte, infecção séria que leva também à perda da cartilagem. Deve-se realizar um cuidado meticuloso da ferida e evitar a pressão local. Purdue9 descreve regimes que envolvem a lavagem gentil da ore- lha e o uso de sabonetes antibacterianos uma a duas vezes por dia seguida da aplicação de cremes antibióticos, diminuindo assim a incidência da condrite para intervalo de zero a 3%. A cartilagem exposta devido a queimaduras severas deve ser coberta com te- cido vascularizado para tentar preservá-la. LESÕES ARTEFACTUAIS OU IATROGÊNICAS A maioria das outras formas de trauma tendem a ser ar- tefactuais ou iatrogênicas. O piercing pode levar à infecção, sen- do que as complicação decorrente desse procedimento podem chegar a 34%, com formação de queloide, dermatite de conta- to por níquel e pseudolinfoma do lóbulo da orelha. Ruptura da membrana timpânica e atresia adquirida do canal auditivo externo são geralmente resultados de trauma cirúrgico ou ten- tativas intempestivas para remover corpo estranho ou cerúmen impactados. Contratura do meato acústico externo pode seguir as queimaduras. ACANTOMA FISSURADO Trata-se de lesão fissurada, algumas vezes apresentando-se como pápula eritematosa e descamativa lembrando lesão de ce- ratose actínica. Ocorre atrás ou na parte mais superior da orelha, na junção com o couro cabeludo causada por hastes de ócu- los mal ajustados. O diagnóstico diferencial inclui o carcinoma basocelular, a ceratose actínica e o carcinoma espinocelular em fase inicial.6,10 CORPO ESTRANHO Corpos estranhos no canal auditivo compõem um cená- rio comum nas emergências, mais comum na população abaixo de cinco anos de idade. Podem ser assintomáticos ou com dor, inflamação ou infecção no conduto auditivo externo,3 otorréia e tinido.11,12 Na infância a maior parte corresponde a pequenos ob- jetos e grãos e na população adulta a algodão dos cotonetes. O tratamento é feito com a lavagem do ouvido ou por cirurgia. A lista de objetos que podem ser encontrados no canal auditivo é muito variada, sendo o cerúmen impactado causa frequente de irritação. Por outro lado, pouco cerúmen, especialmente em mulheres, pode levar ao prurido. Deve-se ter cuidado e atenção com o uso excessivo de algodão, excesso de limpeza ou coçadura do ouvido. O uso de objetos metálicos pode levar à dermatite de contato. As tentativas intempestivas para a retirada do objeto levam muitas lesões para o istmo ou outros locais. O corpo es- tranho, sendo menor do que o lúmen do canal pode ser remo- vido por um fórceps de Hartmann. Objetos maiores devem ser “pescados” com uma alça, ou, em alguns casos, com injeção de água através da parede à semelhança da retirada de cerúmen, ou ainda, aspirados com sugadores adequados. No caso dos insetos, inicialmente devem ser mortos com tampão de algodão ume- decido com éter, clorofórmio ou álcool durante cinco minutos e depois lavagem para sua retirada. Se a criança estiver agitada, há necessidade de anestesia geral. Muitos dos casos de trauma timpânico e dos ossículos ocorrem com movimentos das crian- ças durante esse tipo de procedimento. Sempre que objetos se instalarem além do istmo deve-se realizar a retirada sob anestesia. Moscas podem depositar seus ovos na orelha e a miíase resultante pode levar à dor, inflamação e ocasionalmente a complicações mais severas. Pelos soltos no canal auditivo também podem ser causa de ruídos no ouvido. CONCLUSÕES A revisão realizada demonstra a grande variedade de afecções que podem atingir a orelha. Embora muitas vezes te- nhamos a impressão de que as doenças atinjam a orelha por que ela faz parte do tegumento, o que é verdade na maioria dos casos, outras se referem exclusivamente a essa região pelas suas próprias características e função. Discorremos sobre as dermatites, trauma, infecções, deformidades congênitas até tumores benignos e ma- lignos tornando o assunto extremamente interessante em termos dermatológicos e também do ponto de vista cirúrgico pelo co- nhecimento mais amplo permitindo abrir um leque em termos de diagnóstico diferencial e alternativa terapêutica. l REFERÊNCIAS 1. Anthwal N, Thompson H. The development of the mammalian outer and middle ear. J Anat. 2015;228(2):217-32. 2. Garvey C, Garvey K, Hendi A. A review of common dermatologic disor- ders of the external ear. 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Rev Stomatol Chir Maxillofac. 2008;109(5):307-11 8. Emsen IM. A dangerous sequele of frostbite: third-degree ear burn. J Burn Care Res. 2007;28(3):539. 9. Purdue GF, Hunt JL. Chondritis of the burned ear: a preventable compli- cation. Am J Surg. 1986;152(3):257-9. 10. Deshpande NS, Sen A, Vasudevan B, Neema S. Acanthoma fissuratum: lest we forget. Indian Dermatol Online J. 2017;8(2):141-3 11. Oztürkcan S, Oztürkcan S. Dermatologic diseases of the external ear. Clin Dermatol. 2014;32(1):141-52. 12. Shea CR. Dermatologic diseases of the external auditory canal. Otolaryngol Clin North Am. 1996;29(5):783-94. 16 Tamura BM, Ferolla ACJ, Santana CNLL Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 10-6. 17 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 17-21. Artigo de Revisão Autores: Leandro Fonseca Noriega1 Letícia dos Santos Valandro2 Nilton Gioia Di Chiacchio1 Marina Lino Vieira1 Nilton Di Chiacchio1 1 Clínica de Dermatologia, Hospital do Servidor Público de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Dermatologia, Hospital de Clínicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil. Correspondência: Leandro F. Noriega Avenida Andrômeda, no 885, sala 2106 - Alphaville Empresarial 13015 121 - Barueri - SP, Brasil Email: leandronorieg@gmail.comData de recebimento: 01/11/2017 Data de aprovação: 02/01/2018 Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. Conflito de Interesses: Nenhum. Tratamento de verrugas virais com bleomicina intralesional Treatment of viral warts with intralesional bleomycin DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810103 RESU MO A verruga viral representa uma das dermatoses mais prevalentes. O quadro clínico varia de lesão única com cura espontânea até múltiplas lesões recalcitrantes. O sulfato de bleomici- na é uma droga de ação citotóxica, aprovada para o tratamento quimioterápico de algumas malignidades. Há mais de 45 anos existem trabalhos demonstrando sua utilidade na der- matologia, em especial na terapia intralesional para verrugas virais, que constitui excelente opção para as lesões em topografias de difícil manejo e para os casos não responsivos a outras abordagens. Palavras-chave: Bleomicina; Tratamento farmacológico; Verruga viral ABSTRACT Viral warts are one of the most prevalent dermatoses. The clinical picture varies from a single lesion with spontaneous cure to multiple recalcitrant lesions. Bleomycin sulfate is a cytotoxic action drug approved for the chemotherapeutic treatment of some malignancies. There are a number of studies that have been carried out during the last 45 years demonstrating its usefulness in dermatology, especially in intralesional therapy for viral warts, meaning it is an excellent option for lesions in difficult-to-han- dle topographies and for cases that do not respond to other approaches. Keywords: Bleomycin; Drug therapy; Viral wart INTRODUÇÃO A bleomicina foi originalmente isolada do fungo Streptomyces verticillus, em 1962, por Umezawa et al.1 Esse glicopeptídeo possui efeito antibacteriano e antiviral, porém sua maior utilidade deve-se ao efeito citotóxico. Foi aprovado pelo Food and Drug Adminis- tration (FDA) para o tratamento, por via sistêmica, do carcinoma testicular, da efusão pleural maligna, do linfoma de Hodgkin e não Hodgkin. Como quimioterapia adjuvante foi aprovado para o tra- tamento de algumas formas avançadas de carcinoma espinocelular cutâneo.2-4 Apesar de não ser aprovado para terapia intralesional, na der- matologia existem muitos relatos de casos e estudos que demonstram eficácia e segurança no tratamento de diversas doenças, como, por exemplo, verrugas virais, queloides, hemangiomas, malformações vasculares e algumas neoplasias malignas (carcinoma basocelular, queratoacantoma, carcinoma espinocelular e sarcoma de Kaposi).3,5,6 Farmacodinâmica Conhecendo-se sua baixa absorção quando administrada por via oral, nos casos de tratamento sistêmico deverão ser utilizadas as vias endovenosa, intramuscular ou subcutânea, a depender do pro- tocolo de abordagem.3 Devido a sua baixa absorção transepidérmica, é necessária dose muito elevada para que seja atingida mínima concentração tecidual, quando de sua aplicação por via tópica.3 Assim, a inje- ção intralesional torna-se alternativa para o tratamento de lesões localizadas. Após uma sessão de infiltração intralesional, conside- ra-se que a absorção sistêmica seja mínima.7,8 James et al.9 dosaram o nível sérico de bleomicina em sete pacientes com verrugas virais palmares, após a injeção de uma unidade (U) da droga. A concentração plasmática variou entre 7,5 e 113,5ng/ml e de 4,9 a 34,8ng/ml após 45 e 120 minutos, respectivamente. Sua excreção é principalmente renal, porém se sugere que exista a participação hepática.3,10 Também ocorre a destrui- ção enzimática por meio da bleomicina hidrolase, enzima pre- sente em diversos tecidos, porém em concentrações variáveis.3 Mecanismo de ação Atua principalmente via clivagem da cadeia de DNA. Na presença de oxigênio, Fe2+ e um agente redutor, a bleomicina transfere elétrons do Fe2+ para o oxigênio, criando espécies reati- vas de oxigênio. O radical livre causa dano oxidativo aos nucleo- tídeos, clivando a cadeia de DNA.3 Também ocorre degradação do RNA celular.11 Outro mecanismo de ação relacionado à boa resposta terapêutica nas verrugas virais é o dano endotelial.11 Não foi descrito efeito direto da bleomicina sobre o papiloma- vírus humano (HPV). Por ser substância hidrofílica, sua permeabilidade através da membrana celular é baixa. Mizuno e Ishida12 demonstraram que a associação da bleomicina com lidocaína, procaína, tetracaí- na, dibucaína, butacaína ou etanol gera maior efeito citotóxico. Essas substâncias causariam desestruturação das membranas ce- lulares e consequentemente maior permeabilidade transmem- brana.3,12 Forma farmacêutica A preparação disponível comercialmente é o sulfato de bleo- micina na forma de pó liofilizado, em frasco/ampola com 15U.3,4 Verrugas virais A verruga viral cutânea é doença benigna comum, causada pelo HPV, que acomete com maior frequência a região das mãos e dos pés (Figura 1).13,14 A apresentação e a gravidade podem variar desde lesão única com resolução espontânea até múltiplas lesões de curso crônico. Acomete qualquer faixa etária, com prevalência variável entre 5 e 30% nas crianças e adultos jovens.13-15 Imunossuprimidos apresentam importante predisposição, com lesões de longa duração e menor resposta ao tratamento.13,15 Além das alterações estéticas e funcionais, devemos lem- brar da associação entre a infecção por HPV e o carcinoma es- pinocelular cutâneo.15 Assim, é importante realizar a biópsia de lesões verrucosas crônicas nos adultos, posto que elas podem re- presentar neoplasias epiteliais malignas. Crioterapia, ácido salicílico, ácido lático, glutaraldeído, imiquimode, eletrocauterização, excisão cirúrgica, curetagem, podofilotoxina, cantaridina, 5-fluorouracil (tópico ou intrale- sional), imunoterapia, terapia fotodinâmica e pulsed dye laser são citados como opções terapêuticas.3,13,14 A topografia, o tamanho, o número de lesões e a falha nos tratamentos prévios influenciam a escolha da abordagem te- rapêutica. Bleomicina intralesional para o tratamento das verrugas virais A primeira descrição de bleomicina intralesional para o tratamento de verruga viral ocorreu na década de 1970, e desde então diversos estudos evidenciaram suas eficácia e segurança. Para muitos autores essa é uma excelente opção terapêutica para lesões em topografias de difícil abordagem, em especial a região periungueal (Figuras 2 e 3), e para lesões recalcitrantes, mesmo em imunossuprimidos.3,8,9,11,13,14,16,17 Dhar et al.18 analisaram 73 pacientes, entre cinco e 50 anos, com o total de 155 verrugas, comparando os usos de crioterapia e bleomicina intralesional. A taxa de cura no grupo da bleomicina foi de 94,9%; no grupo tratado com crioterapia foi de 76,5%. Em estudo semelhante, Adalatkhah et al.19 demostraram cura em 86% e 68% dos casos tratados com bleomicina e crio- terapia, respectivamente. Rossi et al.20 evidenciaram taxa de cura de 82%, sendo 2,5 vezes maior do que no grupo placebo. Além das verrugas vulgares e palmoplantares, há estudos mostrando eficácia no tratamento das verrugas anogenitais, com taxa de cura de até 70%.21 Uma vez que o uso da bleomicina intralesional é modali- dade considerada off-label, não existe uma forma padronizada de diluição. A maioria dos autores descreve o uso dessa droga em concentração variável de um a 1,5U/ml: - 15ml de soro fisiológico (SF) 0,9% para 15U bleomi- cina = 1U/ml.2 - 5ml de água destilada para 15U de bleomicina. Poste- riormente misturar 1/3 dessa solução + 2/3 de lidocaína 2% = 1U/ml.18,22 - 4 ml de SF 0,9% + 6ml de lidocaína 2% para 15U bleo- micina = 1,5U/ml.21 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 17-21. Figura 1: Verruga viral periungueal, com acometimento da dobra ungueal lateral no primeiroquirodáctilo direito 18 Noriega LF, Valandro LS, Di Chiaccio NG, Vieira ML, Di Chiacchio N Bleomicina intralesional: verrugas virais 19 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 17-21. Figura 2: a - Verruga viral periungueal b - Após quatro semanas de terapia intralesio- nal com bleomicina c - Sete meses após sessão única de terapia intralesional com ble- omicina, resolução completa das lesões Figura 3: a - Verruga viral pe- riungueal no hálux esquerdo há cinco meses, sem resposta a diversos tratamentos tópi- cos b - Seis meses após sessão única de infiltração intralesio- nal com bleomicina Figura 4: Quatro dias após o procedimen- to, demonstrando seus sinais caracte- rísticos B C B Deve-se inserir a agulha na base da lesão, infiltrando-a até que ocorra o branqueamento local.18,21 Esse é um importante sinal de que a droga foi injetada corretamente.3 A maioria dos artigos menciona que a dose ideal deve variar entre 0,1 e 0,3U/lesão, sendo 3U a dose máxima reco- mendada por sessão. Habitualmente são necessárias duas ou três sessões, com intervalo de três a quatro semanas.3,18,21,23 Na primeira semana após o procedimento, para lesões localizadas nas mãos e/ou nos pés, espera-se que ocorra a forma- ção de crostas hemáticas e enegrecidas. Isso se deve à diminuição absoluta do fluxo sanguíneo, que resulta em necrose e posterior desaparecimento da lesão (Figura 4). Em geral, ocorre resolução no prazo de duas a quatro semanas. Nas verrugas faciais ocorrem a regressão gradual e o desaparecimento da lesão sem a formação de crosta.3,11 Provavelmente o fluxo sanguíneo diminui após in- jeção, porém não é completamente interrompido, devido à rica vascularização dessa topografia. A indução de apoptose endote- lial e o dano direto ou indireto no queratinócito podem resultar em regressão da verruga sem necrose ou escara.11 A aplicação de uma gota da solução de bleomicina na su- perfície da lesão, seguida de múltiplas puncturas, representa uma alternativa à terapia intralesional, descrita pela nomenclatura múltipla punctura translesional.4,15 Khalid et al.15 aplicaram essa técnica em 15 pacientes, utilizando solução de bleomicina 0,1U/ ml e agulha 27G. A dose utilizada variou entre 0,3 e 0,6ml por sessão. Após quatro semanas uma nova sessão foi realizada nos casos persistentes ou recidivados. Eles observaram que 46,6%, 73,3% e 86,6% apresentaram boa resposta após um, três e seis meses do procedimento, respectivamente. A A 20 Noriega LF, Valandro LS, Di Chiaccio NG, Vieira ML, Di Chiacchio N Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 17-21. Efeitos colaterais A dor representa um dos principais fatores limitantes des- se tratamento, podendo durar até 72 horas, com pico de inten- sidade no momento da injeção.3 Esse seria um dos motivos de alguns autores utilizarem a lidocaína como diluente, reduzindo a dor durante e no pós-procedimento imediato.18,21-23 Outros efeitos colaterais comuns na terapia intralesional com bleomicina são: eritema, edema, exulceração, formação de crostas hemáticas e escara.2,3,16 Pode ocorrer hipopigmentação ou hiperpigmentação transitórias (especialmente em pacientes de fototipos IV, V ou VI), cicatrizes atróficas ou hipertróficas e hematomas. Menos frequentemente foram descritos fenômeno de Raynaud, necro- se digital, distrofia ungueal e perda da unha, após infiltração de verrugas periungueais.2-4,8 Apesar de raramente, também pode ocorrer dermatite flagelada na terapia intralesional.3,24 Não há relatos de complicações sistêmicas com o uso da bleomicina intralesional, com exceção de sintomas gripais-like, descritos apenas no tratamento de hemangiomas ou malforma- ções vaculares.7,21,25 Opções para reduzir a dor durante a infiltração intralesional3,26 - Aplicação de anestésico tópico ou infiltração local - Utilizar agulhas de menor diâmetro (27 ou 30G) - Substituir a agulha, quando várias puncturas forem necessárias - Esticar ou pinçar a pele adjacente - Aplicar gelo ou dispositivos específicos de vibração - Injetar lentamente - Evitar grande volume por área de aplicação Contraindicações Hipersensibilidade ou reação idiossincrática ao medica- mento, fenômeno de Raynaud, doença vascular periférica, ges- tação (categoria D) e amamentação.3,27 Não existem estudos de segurança em relação ao uso dermatológico intralesional na faixa etária pediátrica.3 CONCLUSÃO Apesar de ser descrita há vários anos como opção te- rapêutica eficaz e segura para a abordagem de verrugas virais, a infiltração intralesional de bleomicina permanece uma opção off-label. Estudos evidenciaram elevada taxa de cura mesmo nos casos refratários a outras terapias, nas lesões em topografias de di- fícil abordagem e nos pacientes imunossuprimidos. A dor consti- tui o principal limitante desse procedimento. Ressaltamos a importância da análise histopatológica das lesões verrucosas com longo período de evolução nos adultos, pois podem representar um carcinoma espinocelular e não uma simples verruga viral. l REFERÊNCIAS 1. Umezawa H, Maeda K, Takeuchi T,Okami Y. New antibiotics, bleomycin A and B. J Antibiot (Tokyo). 1966;19(5):200-9. 2. Yamamoto T. Bleomycin and the skin. Br J Dermatol. 2006;155(5):869-75. 3. Saitta P, Krishnamurthy K, Brown LH. Bleomycin in dermatology: a review of intralesional applications. Dermatol Surg. 2008;34(10):1299-313. 4. AlGhamdi KM, Khurram H. Successful treatment of periungual warts with diluted bleomycin using translesional multipuncture technique: a pilot prospective study. Dermatol Surg. 2011;37(4):486-92. 5. 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Nilton Gioia Di Chiacchio | 0000-0001-5944-7737 Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do manuscrito, obtenção, análise e interpretação dos dados. Marina Lino Vieira | 0000-0002-0477-1406 Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do manuscrito, obtenção, análise e interpretação dos dados. Nilton Di Chiacchio | 0000-0001-9536-2263 Concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do manuscrito, obtenção, análise e interpretação dos dados. 19. Adalatkhah H, Khalilollahi H, Amini N, Sadeghi-Bazargani H. Compared therapeutic efficacy between intralesional bleomycin and cryothera- py for common warts: a randomized clinical trial. Dermatol Online J. 2007;13(3):4. 20. Rossi E, Soto JH, Battan J, Villalba L. Intralesional bleomycin in ver- ruca vulgaris. Double-blind study. Dermatologia Revista Mexicana 1981;25(2):158–65. 21. Lee JY, Kim CW, Kim SS. Preliminary study of intralesional bleomy- cin injection for the treatment of genital warts. 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Departa- mento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 92 p. Investigação sobre o uso do ácido retinoico a 3% e a 5% em soluções para peeling como agente para drug delivery após indução percutânea de colágeno com agulhas (IPCA®): perfil de segurança e protocolo de uso Investigation on the use of 3% and 5% retinoic acid in peeling solutions as a drug delivery agent after percutaneous induction of collagen with needles (IPCA®): safety profile and application protocol DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810104 RESU MO Introdução: O ácido retinoico em solução para peelings é amplamente usado no tratamen- to do fotoenvelhecimento. Até o presente momento não conhecemos o grau de esterilidade dessas soluções ou a segurança de seu uso em peles cuja integridade tenha sido perdida por intervenções com microagulhas. Objetivos: Avaliar o potencial bactericida do ácido retinoico 3% e 5% em soluções para peelings com e sem tonalizante, bem como a segurança e tolerância de sua administração imediatamente após o tratamento com microagulhas. Metódos: Amostras de solução de ácido retinoico 3% e 5%, com e sem tonalizante, oriun- das de duas farmácias de manipulação (A e B) foram expostas a colônias de Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. Essas soluções foram usadas como drug delivery após indução percutânea de colágeno com agulhas. Resultados: As amostras avaliadas em D0, D30, D60 e D90 mostraram capacidade bacteri- cida sobre os agentes testados. O uso das soluções após a intervenção com microagulhas foi bem tolerado e apresentou resultados satisfatórios. Conclusão: A solução de ácido retinoico para peelings pode ser utilizada com segurança após procedimentos que levem à perda da integridade da barreira cutânea. A ausência de efeitos adversos e os bons resultados do procedimento permite sugerir a as- sociação de microagulhamento e peeling de ácido retinoico como uma proposta inovadora, reproduzível e segura. Palavras-chave: Abrasão química; Terapêutica; Tretinoína ABSTRACT Introduction: Retinoic acid in peeling solution is widely used in the treatment of photoaging. To date, the degree of sterility of these solutions or the safety of their use in skins whose integrity has been lost through microneedling interventions is unknown. Objectives: To evaluate the bactericidal potential of 3% and 5% retinoic acid in peeling solution, with and without a colored vehicle, as well as the safety and tolerance to its administration immedia- tely after application with microneedles. Methods: Samples of 3% and 5% retinoic acid solution, with and without a colored vehicle, pre- pared by two dispensing pharmacies (A and B) were exposed to Pseudomonas aeruginosa and Staphylococcus aureus colonies. These solutions were used as drug delivery agents after percutaneous induction of collagen with needles. Results: The samples evaluated in D0, D30, D60 and D90 indicated the presence of bactericidal capacity of the tested agents. The use of the solutions following intervention with microneedles was well tolerated and yielded satisfactory results. Conclusion: The retinoic acid peeling solution can be safely used following procedures that lead to a loss of integrity of the skin barrier. The absence of adverse effects and good results yielded by the procedure suggest that the association of microneedling and retinoic acid peeling is an innovative, reproducible and safe proposal. Keywords: Chemexfoliation; Therapeutics; Tretinoin Artigo Original Autores: Emerson de Andrade Lima1 Mariana de Andrade Lima1 Cláudio Eduardo Cavalcante de Araújo2,3 Yara Maria Maia Nakasawa2,3 Nilma Cintra Leal2,3 1 Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Recife – Recife (PE), Brasil. 2 Instituto Aggeu Magalhães (IAM), Fundação Oswaldo Cruz(FIOCRUZ) – Recife (PE), Brasil. 3 Departamento de Microbiologia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – Recife (PE), Brasil. Correspondência para: Emerson de Andrade Lima Av. Agamenon Magalhães, 2939/401 - Espinheiro 52020 000 - Recife - PE, Brasil E-mail: emersonderma@terra.com.br Data de submissão: 20/10/2017 Data de aprovação: 12/01/2018 Trabalho realizado no Instituto Aggeu Magalhães (IAM), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) – Recife (PE), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum 22 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 22-7. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 22-7. INTRODUÇÃO A proposta de tratamentos ablativos visando ao estímulo e remodelamento do colágeno é há muito tempo preconizada pela dermatologia. Sabidamente, a remoção da epiderme de forma me- cânica ou química favorece a liberação de citocinas e a migração de células inflamatórias que culminam na substituição do tecido dani- ficado por um tecido remodelado.1 A utilização do ácido retinoico como agente para peelings tem sido proposta para clareamento, re- juvenescimentoe melhora da textura e do aspecto da pele.2 Ao estimular o turn over celular, a eliminação transcutâ- nea de pigmentos e um moderado remodelamento colagênico, o ácido retinoico possibilita também a atenuação de rugas finas, o tratamento do melasma e a superficialização de cicatrizes ra- sas, bem como melhora do aspecto de estrias. Esse agente é uti- lizado convencionalmente em concentrações que variam de 3% a 5%, isolado ou em associação com outras substâncias para peelings como a solução de Jessner, aplicadas imediatamente antes. Classificado como peeling superficial, objetiva a remoção da ca- mada córnea, com injúria à epiderme, atingindo a membrana ba- sal, e provocando repercussões na derme. A grande vantagem do peeling de ácido retinoico é sua relativa segurança em todos os fo- totipos, com limitado risco de complicações, considerando-se todas as recomendações necessárias para uma intervenção ablativa.1,2. A epiderme com sua membrana basal removida é substituída por um tecido considerado cicatricial com retificação das papilas dérmicas. Uma resposta inflamatória na derme é desencadeada pela destruição da epiderme, ocasionando a produção de feixes espessos de colágeno orientados paralelamente, diferentemente da rede de colágeno en- trelaçado encontrada na pele normal.3 Estudos têm revelado que o fator de crescimento de transformação-β (TGF-β) desempenha um papel significativo nas primeiras 48 horas de formação da cicatriz. Enquanto o TGF-β1 e o TGFβ2 promovem a formação do coláge- no cicatricial, o TGF-β3 parece promover a regeneração e cura da ferida à custa de um colágeno mais próximo do fisiológico, pratica- mente sem as características do anterior. Na busca de um tempo de recuperação mais curto nos pós-procedimentos e risco diminuído de complicações, observa-se atualmente uma tendência à indicação de procedimentos que evitem a desepitelização.4,5 A indução per- cutânea de colágeno com agulhas traz uma proposta de estímulo na produção de colágeno, poupando a pele da desepitelização. A Percu- taneuos Collagen Induction, avaliada inicialmente pelo cirurgião plásti- co africano Des Fernandes,6 cujos estudos com 480 pacientes porta- dores de cicatrizes, rugas e flacidez ofereceram bons resultados, vem sendo praticada no mundo todo. No Brasil, Emerson Lima7 registrou o nome indução percutânea de colágeno com agulhas (IPCA®). Essa intervenção que produz centenas de microlesões por meio de um rolo dotado de microagulhas, resulta na perda parcial da integridade da barreira cutânea, tendo como alvo a dissociação dos queratinó- citos, e estimula a liberação de citocinas tais como a interleucina - 1α, predominantemente, além da interleucina-8, interleucina-6, TNF-α e GM-CSF. Esse processo resulta em vasodilatação dérmica e migração de queratinócitos para restaurar o dano epidérmico.4-6 Lima EVA et al7 avaliaram, em estudo experimental, a relação en- tre o comprimento da agulha e a profundidade do dano provo- cado, utilizando pele de porco vivo, considerada um modelo que se aproxima da pele humana.7 A partir dos resultados, os autores propuseram uma classificação da injúria em leve, moderada e pro- funda, relacionando-a ao comprimento da agulha e a sua capacida- de de provocar o trauma planejado (Quadro 1).7 Considerando o eritema difuso com poucos pontos petequiais observado na injúria moderada, condição propícia à recepção de um ativo, este artigo propõe a utilização da técnica de IPCA® associada ao peeling de ácido retinoico como drug delivery, com o objetivo da otimização dos resultados de procedimentos para melhora da qualidade da pele. Partimos do pressuposto de que um ativo para ser depositado sobre a pele que perdeu a integridade por uma intervenção prévia, com a proposta de drug delivery, precisa ser estéril. Trabalhos publicados até o momento não nos oferecem respaldo sobre a segurança da utili- zação da solução de ácido retinoico comumente usada para peelings após a IPCA®. Iniciamos, assim, nossa investigação, com a avaliação desse ativo. Objetivos Essa investigação teve o objetivo de avaliar a capacidade bactericida de soluções de ácido retinoico a 3% e 5%, formuladas para uso na execução de peelings superficiais, por duas farmácias de manipulação independente, bem como se a esterilidade des- sas soluções seria afetada pela adição de tonalizante, pelo tempo após a fabricação ou pelas condições de conservação. Outro objetivo foi avaliar a segurança das soluções acima re- ferendadas na utilização de procedimentos em que a integridade da epiderme foi perdida, permitindo propor seu uso para drug delivery Metodologia Avaliação da segurança do ácido retinoico a 3% e 5% como agentes de drug delivery Foram avaliadas soluções de ácido retinoico em concen- trações de 3% e 5%, em veículo alcoólico, sem tonalizante e com tonalizante, manipuladas em duas farmácias diferentes: A (Roval) e B (Pharmapele), ambas em Recife (PE), Brasil), com prazo de validade de 90 dias, mantidas em temperatura ambiente (TA) e a 4°C. O objetivo foi investigar esterilidade e ação bactericida. A esterilidade das quatro soluções de cada farmácia foi avaliada no mesmo dia da fabricação, sendo que uma alíquota de 100µL de cada amostra foi semeada em placa de meio BHI agar (Brain Heart Infusion) e incubada a 37ºC durante 24 horas, observando-se o crescimento bacteriano. Na mesma ocasião, a ação bactericida foi testada inicial- mente com uma alíquota de 100µL do ácido retinoico de cada embalagem, diluída em 480µL de meio BHI acrescido de 20µL de uma cultura de 24 horas de Pseudomonas aeruginosa. O mesmo Quadro 1: Classificação da intensidade da injúria provocada pelo microagulhamento Característica do estímulo Comprimento da agulha Injúria leve 0,25 e 0,5mm Injúria moderada 1 e 1,5mm Injúria profunda 2 e 2,5mm Perfil de segurança do ácido retinoico para drug delivery 23 24 Lima EA, Lima MA, Araújo CEC, Nakasawa YMM, Leal NC experimento foi repetido com Staphylococcus aureus (Figura 1). Nesse procedimento o ácido retinoico foi diluído cinco vezes. A ação bactericida do ácido retinoico foi também avaliada no segundo e no terceiro mês de validade. Dessa vez foi utilizado o produto sem diluição, na forma em que é empregado para peelings e recomendado pelos fabricantes, a 3% e 5%, com e sem tonalizante, acondicionado à TA e a 4°C (temperatura de gela- deira recomendada pelas farmácias para a conservação do pro- duto). Uma alíquota de 500µL de cada frasco, foi colocada em microtubos estéreis, inoculados com uma colônia de P. aeruginosa ou S. aureus, e uma alça do produto homogeneizado foi semeada em placas de BHI agar em três situações: logo após a homoge- neização, uma e duas horas após. Como controle, as bactérias foram inoculadas também em uma alíquota de soro fisiológico estéril. As placas foram incubadas a 37ºC durante 24 horas, sendo então observado o crescimento da bactéria (Figura 2). Resultados Na primeira semeadura para avaliação da esterilidade do produto, não foi observado crescimento bacteriano em nenhu- ma das placas semeadas, o que confirmou a esterilidade em todas as embalagens testadas. Nos testes realizados no primeiro mês, quando foi feita a diluição do produto, observou-se crescimento bacteriano em diversas situações. Diante disso, no segundo e no terceiro mês de validade do produto foram feitos os testes com os produtos conforme recomenda o fabricante e como é utili- zado convencionalmente para a realização de peelings. A partir da semeadura logo após a homogeneização do inóculo foi ob- servado que apenas houve crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico e da semeadura de alguns frascos do ácido reti- noico. A semeadura na primeira e na segunda hora só apresen- tou crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico (Figura 2), confirmandoo poder bactericida do ácido retinoico a 3% e 5% com e sem tonalizante, preconizado para o uso. Também foi observado que o produto não sofre alteração se acondicionado à temperatura ambiente ou a 4°C (Tabela 1). Relevante é a obser- vação do efeito bactericida dos agentes testados sobre o S. aureus, mesmo considerando que essa bactéria apresenta a parede celular mais espessa e supostamente mais resistente. Protocolo proposto para associação de IPCA® com peeling de ácido retinoico Diante da capacidade bactericida comprovada pelas so- luções de ácido retinoico nas concentrações de 3% e 5% com e sem tonalizante, propusemos sua utilização como agente de drug delivery em associação com IPCA®. Para tanto foi propos- ta a injúria moderada (Figura 3) para a administração do ácido retinoico 5% tonalizado (Figura 4), considerando que com esse end point a pele estaria sujeita à recepção do ativo, sem que o procedimento sofresse a interferência de sangramento mais in- tenso, como o observado na injúria profunda. Da avaliação dessa associação participaram 12 voluntárias com queixas de cicatrizes de acne e fotoenvelhecimento, com idade entre 21 e 38 anos, provenientes do Ambulatório de Cosmiatria da Santa Casa de Misericórdia do Recife. O estudo foi conduzido de acordo com as recomendações da declaração de Helsinki de 1996, modifica- da em 2013, tendo sido autorizado pelo Comitê de Ética da ins- tituição. O procedimento foi realizado sob anestesia tópica com creme de lidocaína 4% (Dermomax® Aché, São Paulo, Brasil) aplicado 40 minutos antes da intervenção. Foi utilizado um ins- trumento com comprimento das agulhas de 1,5mm (Dr.Roller® Mooham Enterprise Co. Gyeonggi-do South Korea, Anvisa n. 80669600001). Procedeu-se a movimentos de vai e vem, cons- truindo faixas horizontais, posteriormente intercruzadas por fai- xas verticais e diagonais até resultar em um eritema difuso em Figura 1: Algoritmo para teste da capacidade bactericida de soluções de ácido retinoico. A – Teste com Staphylococcus aureus; B – Teste com Pseudo- monas aeruginosa Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 22-7. 6B 3% sem corante 4°C s/c 50UFC s/c > 100UFC 7B 5% sem corante TA s/c s/c s/c s/c 8B 5% sem corante 4°C s/c s/c s/c > 100UFC Figura 1: Algoritmo para teste da capacidade bactericida de soluções de ácido retinoico A – Teste com Staphylococcus aureus; B – Teste com Pseudomonas aeruginosa A B Staphylococcus Semeadura em BHI agar 37ºC - 24 horas 1 colônia 100µL 3% sem corante 100µL 3% com corante. 100µl 5% com corante Semeadura imediata, 1 hora e 2 horas após, em BAB 100µl 5% sem corante 100µL Soro fisiológico A Figura 2: Crescimento bacteriano, no momento da diluição (imediato) e na primeira e na segunda hora 2A: Staphylococcus aureus (A: crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico; B: crescimento bacteriano a partir ácido retinoico logo após a semeadura; C: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a primeira hora da semeadura; D: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a segunda hora da semeadura; 2B: Pseudomonas aeruginosa (A: crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico; B: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico logo após a semeadura; C: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a primeira hora da semeadura; D: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a segunda hora da semeadura Pseudomonas Semeadura em BHI agar 37ºC - 24 horas 1 colônia 100µL 3% sem corante 100µL 3% com corante. 100µl 5% com corante 100µl 5% sem corante 100µL Soro fisiológico Semeadura imediata, 1 hora e 2 horas após, em BAB B Perfil de segurança do ácido retinoico para drug delivery 25 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 22-7. Tabela 1: Crescimento bacteriano em amostras de ácido retinoico de duas farmácias de manipulação Amostras Identificação Estocagem TESTE 2° mês S. aureus TESTE 2° mês P. eruginosa TESTE 2° mês S. aureus TESTE 2° mês P. eruginosa Semeadura imediata Semeadura imediata Semeadura imediata Semeadura imediata 1A 3% sem corante TA s/c s/c s/c 30UFC 2A 3% sem corante 4°C s/c 25UFC s/c > 100UFC 3A 5% sem corante TA s/c s/c s/c > 100UFC 4A 5% sem corante 4°C s/c 100UFC 15UFC s/c 5A 3% sem corante TA s/c 20UFC s/c s/c 6A 3% sem corante 4°C 2UFC 100UFC s/c s/c 7A 5% sem corante TA 100UFC 7UFC > 100UFC s/c 8A 5% sem corante 4°C 100UFC s/c > 100UFC s/c 1B 3% sem corante TA s/c s/c s/c > 100UFC 2B 3% sem corante 4°C s/c s/c 20UFC > 100UFC 3B 5% sem corante TA s/c 25UFC s/c > 100UFC 4B 5% sem corante 4°C s/c 25UFC > 100UFC s/c 5B 3% sem corante TA s/c 100UFC s/c > 100UFC 6B 3% sem corante 4°C s/c 50UFC s/c > 100UFC 7B 5% sem corante TA s/c s/c s/c s/c 8B 5% sem corante 4°C s/c s/c s/c > 100UFC toda a face com modesto sangramento pontuado, caracterizando a injúria moderada (Figura 3). Imediatamente após, uma solução de ácido retinoico 5% tonalizado foi aplicada com pincel estéril, em toda a extensão da área tratada (Figura 4) e deixada durante duas horas, quando foi removida com água corrente e sabonete líquido, em domicílio. Foi recomendado não aplicar nada sobre a pele nas oito horas seguintes, utilizando-se a seguir filtro so- lar FPS > 50. Todos os sujeitos da avaliação foram fotografados antes e após 30 dias da intervenção pelo mesmo investigador, com a mesma máquina fotográfica e usando a mesma incidência luminosa. Oito dias após a intervenção foi orientado o retorno ao ambulatório para avaliação de tolerabilidade da intervenção. Figura 2: Crescimento bacteriano, no momento da diluição (imediato) na primeira e na segunda hora. A: Staphylococcus aureus (A: crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico; B: crescimento bacteriano a partir ácido retinoico logo após a semeadura; C: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a primeira hora da semeadura; D: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a segunda hora da semeadura; B: Pseudomonas aeruginosa (A: crescimento bacteriano a partir do soro fisiológico; B: crescimento bacteriano a partir do ácido reti- noico logo após a semeadura; C: crescimento bacteriano a partir do ácido retinoico após a primeira hora da semeadura; D: crescimen- to bacteriano a partir do ácido retinoico após a segunda hora da semeadura A B 26 Lima EA, Lima MA, Araújo CEC, Nakasawa YMM, Leal NC Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 22-7. Figura 3: A - Paciente imediata- mente após ter sido submetido à injúria moderada B - Paciente após a higienização da pele com soro fisiológico apenas para demonstrar o eritema uniforme da área tratada Figura 4: A - Paciente imediata- mente após aplicação da solução de ácido retinoico 5% tonalizada B: Solução de ácido retinoico 5% tonalizado em cuba estéril e pin- cel estéril recomendados para o procedimento RESULTADOS No oitavo dia pós-procedimento não foram constatadas queixas de desconforto, ardor, vermelhidão ou descamação nas 12 pacientes tratadas. Duas referiram leve ardor entre 48 e 72 horas após a intervenção, e uma referiu descamação importante após 72 horas acompanhada de vermelhidão. Nenhum sujeito do grupo interrompeu suas atividades laborativas no período pós-procedi- mento, permanecendo em uso do filtro solar exclusivamente até o oitavo dia. Na consulta após 30 dias todas referiram clareamento, acentuação do brilho e viço com atenuação de cicatrizes rasas e rugas finas. Dois dermatologistas avaliadores independentes, ana- lisando fotografias padronizadas, consideraram quea intervenção resultou em melhora global da qualidade da pele em todo o grupo tratado. Foram observados no exame físico clareamento, melhora da textura, aumento da luminosidade e fechamento de poros. A totalidade do grupo assinalou a opção muito satisfeito, ao respon- der ao questionário de avaliação que variava de pouco satisfeito, medianamente satisfeito ou muito satisfeito. Não foram observa- dos efeitos adversos como eritema persistente, hipersensibilidade, irritação, prurido ou hiperpigmentação pós-inflamatória. Seis das 12 pacientes apresentaram moderada descamação mesmo após sete dias da intervenção. Nenhuma delas deixou de exercer suas atividades habituais em consequência da intervenção. DISCUSSÃO Os benefícios da IPCA® sobre a correção de cicatrizes, ru- gas e flacidez já estão bem esclarecidos, assim como o potencial do peeling de ácido retinoico, em oferecer melhora cosmética da qualidade da pele. Até o momento, o peeling de ácido retinoico vinha sendo proposto com a pele íntegra, não havendo necessi- dade de questionar sua esterilidade, muito menos seu potencial bactericida, dada a proteção pela barreira cutânea. De acordo com nosso conhecimento esse é o primeiro artigo de investigação que avaliou a competência destrutiva do ácido retinoico sobre duas bactérias comuns no meio ambiente, o S. aureus e P. aeruginosa. Apesar de a viabilidade de micro-organismos em soluções vir sen- do estudada, não foram encontrados relatos sobre a esterilidade das soluções de ácido retinoico usadas para peeling.8,9 Diante dos nos- sos resultados foi possível utilizar com segurança esse ativo, mesmo após a ruptura da integridade da pele por uma injúria moderada desencadeada com microagulhas. Essa proposta oferece mais uma opção terapêutica de associação de técnicas na prática dermato- lógica. Os testes utilizando as soluções conservadas em geladeira e em temperatura ambiente, mesmo três meses depois da fabrica- ção, evidenciando seu potencial bactericida, oferecem a segurança de uma formulação para drug delivery após a intervenção com a IPCA®. Também foi importante para os investigadores a avalia- ção de concentrações diferentes (3% e 5%), além da característica tonalizada das formulações, comprovando o mesmo potencial de A A B B Perfil de segurança do ácido retinoico para drug delivery 27 CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Emerson de Andrade Lima | 0000-0002-6132-5031 Avaliação clínica, revisão bibliográfica, escrita e correção do manuscrito Mariana de Andrade Lima | 0000-0003-2499-0873 Avaliação clínica, revisão bibliográfica, escrita e correção do manuscrito Cláudio Eduardo Cavalcante de Araújo | 0000-0001-7190-6625 Avaliação laboratorial das amostras Yara Maria Maia Nakasawa | 0000-0002-0178-6522 Avaliação laboratorial das amostras Nilma Cintra Leal | 0000-0001-9769-7630 Avaliação laboratorial das amostras REFERÊNCIAS 1. Jackson A. Chemical Peels. Facial Plast Surg. 2014; 30(1):26-34. 2. Kang HY, Valerio L, Bahadoran P, Ortonne JP. The role of topical retinoids in the treatment of pigmentary disorders: an evidence-based review. 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A IPCA® isoladamente produz a liberação de plaque- tas e neutrófilos responsáveis pela disponibilização de fatores de crescimento, os quais atuam sobre os queratinócitos e os fibroblas- tos, tais como os fatores de crescimento de transformação a e β (TGF-a e TGF-β), o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), a proteína III ativadora do tecido conjuntivo e o fator de crescimento do tecido conjuntivo, seguido de neutrófilos, angio- gênese, proliferação de fibroblastos e produção de colágeno tipo III, elastina, glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Paralelamente, o fator de crescimento dos fibroblastos, o TGF-a e o TGF-β são se- cretados pelos monócitos. Aproximadamente cinco dias depois da injúria, a matriz de fibronectina está formada, possibilitando o de- pósito de colágeno logo abaixo da camada basal da epiderme. Esse colágeno tipo III, vai sendo lentamente substituído pelo colágeno tipo I, mais duradouro. Para que toda essa cascata inflamatória se instale, o trauma provocado pela agulha deve atingir a pele em profundidade de 1mm a 3mm, resultando em colunas hemáticas na derme, acompanhadas de edema da área tratada e hemostasia praticamente imediata. A intensidade dessas reações é proporcional ao comprimento da agulha utilizada no procedimento.10-14 A pre- sente investigação propõe uma injúria moderada somada à ação do ácido retinoico 5% tonalizado para a otimização dos resultados, bem como objetivando mascarar as crostículas hemáticas resul- tantes da IPCA®. O retorno imediato às atividades laborativas de todo o grupo avaliado, apenas com a orientação de fotoproteção, oferece comodidade à intervenção que favorece sua aplicabilidade. CONCLUSÕES A solução de ácido retinoico para peelings pode ser uti- lizada com segurança após procedimentos que levem à perda da integridade da barreira cutânea. A ausência de efeitos adversos e satisfação dos pacientes e dos avaliadores permite sugerir a associação de microagulha- mento e peeling de ácido retinoico como uma proposta inova- dora, reproduzível e segura. l Artigo Original Autores: Paula Tavares Colpas1 Paulo Cesar Martins Alves1 Carolina Caliári Oliveira1 Ana Luiza Resende Pires2 Angela Maria Moraes2 Maria Beatriz Puzzi1 1 Laboratório de cultura de célu- las da pele (Ciped), Disciplina de dermatologia, Departamento de medicina interna, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas - Campinas (SP), Brasil. 2 Departamento de Engenharia de Materiais e Bioprocessos, Faculda- de de Engenharia Química, Uni- versidade Estadual de Campinas - Campinas (SP), Brasil. Correspondência: Paula Tavares Colpas Rua Dr João Lopes Vieira, 108. Torre 1 Apt 132 - Vila Bela Dom Pedro 13087 734 - Campinas - SP, Brasil E-mail: paulacolpas@gmail.comData de recebimento: 08/01/2018 Data de aprovação: 28/02/2018 Trabalho realizado na Universidade Estadual de Campinas , Campinas - SP, Brasil. Suporte financeiro: Fapesp, CNPq e Capes. Conflito de interesse: Nenhum. 28 Terapia celular combinada com membranas de biopolímeros melhora a cicatrização de úlceras em paciente com dermatomiosite juvenil Combining cell therapy with biopolymer films improves wound healing in a juvenile dermatomyositis patient DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011129 RESU MO Introdução: Dermatomiosite juvenil (DMJ) é doença sistêmica que afeta a musculatura proximal e a pele de crianças. A doença ulcerada é um desafio terapêutico. Objetivo: Avaliar a melhora da doença ulcerada na DMJ, pelo uso de terapia celular. Métodos: Realização de cocultura de fibroblastos e queratinócitos autólogos e aplicação dessas células nas úlceras juntamente com cola de fibrina e colocação de membrana de quitosana-alginato ou quitosana-xantana sobre as lesões. Resultados: Menos de 12 horas após a terapia, o paciente referiu completa eliminação da dor e, dentro de dois dias, estava presente tecido de cicatrização. Algumas das úlceras estavam quase completamente cicatrizadas no final da primeira semana, e algumas das calcinoses desapareceram. Essa técnica não cura a doença, mas melhora a qualidade de vida, sendo possível criopreservar as células saudáveis do paciente para tratar novas lesões. Sendo as células de origem autóloga, elimina-se o risco de rejeição. Além disso, esse procedimento não necessita de debridamento das lesões nem hospitalização. Conclusões: A aplicação de culturas autólogas de fibroblastos e queratinócitos em úlceras já é considerada tratamento efetivo em pacientes com queimaduras e outras feridas cutâneas e, agora mostrou-se também eficaz no tratamento de feridas na DMJ. Palavras-chave: Calcinose; Cicatrização; Dermatomiosite; Fibroblastos; Polissacarídeos; Queratinócitos; Terapia baseada em transplante de células e tecidos ABSTRACT Introduction: Juvenile dermatomyositis (JDM) is a systemic disease that affects children’s proximal musculature and skin. The ulcerated stage of the disease is a therapeutic challenge. Objective: To evaluate the improvement of ulcerated stage of JDM caused by the use of cell therapy. Methods: Co-culture of autologous fibroblasts and keratinocytes, application of these cells in ulcers in conjunction with fibrin glue, and placement of chitosan-alginate or chitosan-xanthan membrane on the lesions. Results: Less than 12 hours after therapy, the patient reported complete cessation of pain and, within 2 days, healing tissue emerged. Some of the ulcers were almost completely healed by the end of the 1st week, and some of the calcinoses disappeared. This technique does not cure the disease, however it improves the patient’s quality of life, and it is possible to cryopreserve healthy cells to treat new lesions. Given the fact that the cells are of autologous origin, the risk of rejection is eliminated. Furthermore, this procedure does not require debridement of the lesions or hospitalization. Conclusions: The application of autologous cultures of fibroblasts and keratinocytes in ulcers is al- ready considered an effective treatment in patients with burns and other skin wounds, and has now also been proven effective in the treatment of wounds in JDM. Keywords: Calcinosis; Cell-and tissue-based therapy; Dermatomyositis; Fibroblasts; Keratinocytes; Polysaccharides; Wound healing Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. INTRODUÇÃO A dermatomiosite juvenil (DMJ) é doença sistêmica rara e grave que afeta principalmente a musculatura proximal e a pele de crianças, com prevalência de três por um milhão na po- pulação. Sua etiologia não é completamente entendida, mas é sugerido que é causada por reação autoimune em indivíduos geneticamente suscetíveis a gatilhos ambientais.1,2 As manifesta- ções cutâneas da DMJ podem ser graves e difíceis de tratar, com grande morbidade a longo prazo.2,3 A calcinose, caracterizada primariamente pela formação de depósitos de cálcio na pele, geralmente afeta de 10 a 70% dos pacientes pediátricos com DMJ, sendo, normalmente, diagnostica- da nos primeiros três anos da doença. Juntamente com a própria dermatomiosite, a calcinose pode impactar negativamente a qua- lidade de vida do paciente, resultando em fraqueza, incapacidade funcional, atrofia muscular, úlceras cutâneas e, consequentemen- te, dor local e infecções secundárias.4 As calcificações distróficas ocorrem nos locais dos tecidos lesados, onde os níveis séricos de cálcio e fósforo estão normais. Embora possam surgir em qualquer local do corpo, normalmente as áreas mais afetadas são cotovelos, joelhos, tronco, mãos, pés, glúteos e cabeça. A calcinose geralmente é indolor, porém pode estar associada com sensibilidade à palpação e dor à compressão, podendo mostrar paniculite e ulcerações no exame anatomopatológico. Na superfície da pele, ocorre deposi- ção do cálcio, podendo torná-la sítio para infecção.5 Na dermatomiosite juvenil, a gravidade da doença pode estar relacionada a calcinose cutânea, demora no início do tra- tamento e, potencialmente, a polimorfismos genéticos do TNF- -a-308. Apesar da falta de informações sobre a patogênese da cal- cinose no DMJ, um possível mecanismo é a liberação de cálcio das mitocôndrias das células musculares afetadas pela miopatia. Macrófagos, citocinas pró-inflamatórias e a falha nas proteínas reguladoras do cálcio também foram implicadas, assim como a isquemia vascular que também desempenha um papel na cal- cinose. A deposição de cálcio pode ocorrer no subcutâneo ou nos grupos musculares e depois ulcerar, drenando um material semelhante a giz. A doença ulcerada é grave e pode ser mortal, refletindo importante vasculopatia da pele, com hipóxia tecidual e necrose.1,3,6 Como a calcinose na DMJ tende a aumentar com a pro- gressão da doença, intervenção terapêutica precoce e agressiva tem sido sugerida como possível maneira de reduzir as seque- las cutâneas e musculares. Diversas medicações foram utilizadas, como corticosteroides, metotrexate, bifosfonatos, probenicida, warfarina, hidróxido de alumínio, colchicina, diltiazem, inflixi- mab, imunoglobulina, hidroxicloroquina, ciclofosfamida e tali- domida, mas sem consenso sobre a melhor terapia.1-5 O sucesso do uso dessas medicações geralmente está limitado ao controle da doença, sem se estender à sua cura. Além disso, os efeitos cola- terais associados ao seu uso prolongado podem também agravar a condição de saúde do paciente. Como não há um padrão ouro de tratamento nem um algoritmo terapêutico aceito para o manejo da DMJ, e conside- rando que a reparação da pele danificada se dá pela proliferação e crescimento das células da derme (essencialmente fibroblastos) e/ou das células da epiderme (queratinócitos e melanócitos), a terapia celular pode ser alternativa relevante ao tratamento da DMJ associada à calcinose. Resultados promissores foram repor- tados com o uso de terapia celular para tratamento de úlceras crônicas de diversas etiologias;7-17 consequentemente, um resulta- do positivo também poderia ser esperado para essa doença-alvo. Biopolímeros, da classe dos polissacarídeos e proteínas, têm sido amplamente utilizados no desenvolvimento de cura- tivos interativos e bioativos, não só sendo úteis como proteção para a ferida, mas também tendo importante papel na promoção da cicatrização. Formação de tecido de granulação e reepite- lização, acompanhadas de angiogênese e deposição regular de fibras de colágeno, limitando a formação de cicatrizes e retração tecidual, foram observadas, por exemplo, com o uso da quitosa- na.18,19 A associação de diversos polímeros também é relevante, visto que permite o desenvolvimentode curativos com suas pro- priedades melhoradas, como maior absorção de fluidos. Estudos relevantes in vivo foram recentemente descritos com o uso de membranas confeccionadas pela associação de quitosana com xantana20 e alginato21 para o tratamento de úlceras cutâneas em ratos Wistar, combinando ou não células mesenquimais, mos- trando um potencial que pudesse ser utilizado como curativo nas lesões da DMJ. O objetivo deste estudo foi demonstrar uma terapia al- ternativa para o tratamento de úlceras crônicas em paciente com DMJ e calcinose, não responsivas às terapêuticas convencionais, utilizando cultura de células autólogas e subsequentemente co- bertas com membranas de polissacarídeos biocompatíveis. MÉTODOS Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes- quisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp – CEP: 444.726). Descrição do caso e coleta do material Paciente do sexo masculino com 18 anos de idade e diag- nóstico de DMJ desde os cinco anos, em tratamento convencional com metotrexate e corticosteroides, portador de calcinose univer- sal e úlceras cutâneas crônicas, algumas com exposição óssea, foi submetido a biópsia de pele de área não ulcerada no braço direito, após assinatura de Consentimento Livre e Esclarecido. Fragmen- tos de aproximadamente 2cm2 foram coletados e colocados em solução com soro fisiológico 0,9%, antibiótico e antifúngico (An- ti-Anti 15240, lote 577999, GIBCO/Invitrogen) até ser transfe- ridos para frascos de cultura. Durante toda a pesquisa, o paciente manteve o tratamento sistêmico do qual fazia uso. Cultura celular dos fragmentos cutâneos Os fragmentos de pele foram colocados em frascos para cultura contendo meio para queratinócitos (KSFM-GIBCO/ Invitrogen) suplementado com 10% de soro fetal bovino (FBS - LGC Biotechnology) e L-glutamina 0,2mg/ml, penicilina 100UI/mL e estreptomicina 0,1mg/ml (GIBCO/Invitrogen), até o processamento. Depois, os fragmentos foram transferidos para placas de Petri contendo tripsina 2,5% e solução de EDTA Terapia celular e biopolímeros no tratamento de úlceras 29 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. 30 Colpas PT, Alves PCM, Oliveira CC, Pires ALR, Moraes AM, Puzzi MB 0,1% (GIBCO/Invitrogen) e incubados a 370C e 5% CO 2 du- rante três horas, quando a derme foi separada da epiderme. A tripsina foi neutralizada com meio KSFM suplementado com 10% FBS. O sobrenadante (contendo as células da derme e da epiderme) foi filtrado (40mm Falcon/Corning) e centrifugado por 10 minutos a 400G. O pellet de células foi ressuspenso em meio de cultura e transferido para frascos de cultura contendo concentração de 1x105 células/ml em 2ml de meio de cultura específico para cada tipo celular e depois incubado a 370C e 5% CO 2. Os queratinóci- tos foram cultivados em meio KSFM (KSFM-GIBCO/Invitro- gen) suplementado com 10% de soro fetal bovino (FBS - LGC Biotechnology) e L-glutamina 0,2mg/ml, penicilina 100UI/ml e estreptomicina 0,1mg/ml (GIBCO/Invitrogen). Os fibroblas- tos foram cultivados em meio 199 (Sigma-Aldrich), suplemen- tado com 10% de soro fetal bovino (FBS - LGC Biotechnology) e L-glutamina 0,2mg/ml, penicilina 100UI/mL e estreptomici- na 0,1mg/ml (GIBCO/Invitrogen). Os meios de cultura foram trocados três vezes por semana. Quando as células atingiram a confluência, as culturas foram tripsinizadas com tripsina com solução de EDTA por 10 minutos a 370C e 5% CO 2 . Assim como anteriormente, a tripsina foi neutralizada com soro fetal bovino 10%. Esse procedimento foi realizado até a obtenção de uma quantidade mínima de cada tipo celular, aproximadamente 5x106 de queratinócitos e 10x106 de fibroblastos. O processo todo levou entre 21 e 30 dias. As células foram criopreservadas em soro fetal bovino e solução de DMSO a -800C. Todo o processo envolvendo a manipulação das células foi realizado em sala limpa (classe 10.000 ISO 7 - ISO 14644-1). Preparação das membranas O preparo das membranas seguiu técnica já implantada no Departamento de Engenharia de Materiais e de Bioprocessos da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas. As membranas foram obtidas de acordo com adaptações dos métodos estabelecidos por Rodrigues et al.,22 Bueno e Mo- raes23 e adaptado por Pires e Moraes,24 no caso de dispositivos de quitosana-alginato (Q-A), e com base nos procedimentos desen- volvidos por Veiga e Moraes25 e Bellini et al.26 para as membranas de quitosana-xantana (Q-X). Foram utilizados quitosana com grau de desacetilação de 96% (Sigma-Aldrich, lote de número 109K0043V), alginato de sódio de média viscosidade obtido de Macrocystis pyrifera (Sigma-Aldrich, lote de número 058K0126), goma xantana (Sig- ma- Aldrich, lote de número 108K0038), ácido acético glacial, cloreto de cálcio diidratado e hidróxido de sódio (Merck); além disso, a água utilizada foi destilada e deionizada em um sistema Milli-Q (Millipore). As membranas de quitosana e alginato foram preparadas pela adição de alíquotas de 180ml de solução de quitosana a 1% (m/v) dissolvida em ácido acético a 2% (v/v) em 360ml de solução aquosa de alginato a 0,5% (m/v) na vazão de 200ml/h no reator de aço inoxidável mantido a 25°C, sob agitação de 500rpm. Após a mistura das soluções, a intensidade de agitação do material foi aumentada para 1000rpm durante 10 minutos adicionais. Em seguida, 26ml de solução aquosa de NaOH a 2M foram adicionados para aumentar o pH para 7, mantendo-se a agitação durante mais 10 minutos. Em seguida, 7,2ml de solução aquosa de CaCl2 a 2% (m/v) foram adicionados para reticular as carboxilas do alginato que não se complexaram à quitosana. A mistura obtida foi desaerada durante 120 minutos, transferida (em alíquotas de massas iguais) para quatro placas de Petri de poliestireno (diâmetro de 15cm) e seca em estufa a 60°C du- rante seis horas. Após a secagem, as membranas foram imersas em 150ml de solução aquosa de CaCl2 a 2% (m/v) durante 30 minutos, para a reticulação das carboxilas livres remanescentes do alginato, e então lavadas duas vezes durante 30 minutos com 200ml de água deionizada. A etapa final de secagem foi realizada à temperatura ambiente durante 24 horas. No caso das membranas de quitosana e goma xantana, 200ml de solução aquosa de goma xantana a 1,5% (m/v) foram adicionados a 200ml de solução de quitosana a 1,5% (m/v) dissol- vidos em ácido acético a 1,5% (v/v) na vazão de 30ml/h, a 25oC e sob agitação (1000rpm). Em seguida, desaerou-se a suspensão e transferiu-se a mistura para uma placa de poliestireno de 15cm de diâmetro e fez-se a secagem do material a 37oC durante período variável de 24 a 48 horas. A membrana foi lavada duas vezes du- rante 30 minutos com 200ml de água deionizada, uma vez com 250ml de tampão Hepes (Sigma-Aldrich) a 10mM para neutrali- zar o pH e finalmente, com 500ml de água deionizada. Uma eta- pa final de secagem foi realizada à temperatura ambiente durante 24 horas, prendendo-se as bordas para evitar o encolhimento da membrana. As membranas foram esterilizadas com Oxyfume 30 (30% de óxido de etileno e 70% CO 2 ) a 40°C durante oito horas, sob umidade relativa de 30 a 80% pela Central de Esterili- zação Comércio e Indústria Ltda − Acecil (Campinas, SP). Microscopia eletrônica de transmissão foi feita para ve- rificar o comportamento das células na membrana (Figura 1). Tratamento do paciente As células foram descongeladas e cultivadas durante pelo menos 72 horas antes da aplicação. No dia da aplicação, as células foram tripsinizadas, lavadas e contadas conforme protocolos ante- riormente descritos por Rehder et al.,13, Souto et al.,27,15 Bosnardo16 e Dinato et al.17 Foi preparada uma cultura de fibroblastos no total de 1x107 células. Para a aplicação, aspergiram-se as células com a colade fibrina (Beriplast P – CSL-Behring) sobre o leito da úlcera sob condições assépticas, em regime ambulatorial (Figura 2). Após a aspersão das células, sobre a úlcera foram coloca- das as membranas de polissacarídeos previamente intumescidas em solução fisiológica (Figura 3), a fim de proteger a área contra agentes que pudessem retirar o enxerto, visando auxiliar o pro- cesso de cicatrização. O paciente foi acompanhado durante 20 meses, a cada sete dias no primeiro mês e, posteriormente a cada 15 ou 30 dias. Novas aplicações foram realizadas de acordo com a respos- ta do paciente, totalizando sete. A documentação fotográfica foi feita com câmera Nikon D5100, utilizando-se uma régua para Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. Figura 1: Microscopia eletrônica de transmissão: A - membrana de quitosa e xantana com as células (setas brancas) (12930x); B - membrana de quitosana e alginato (1293x); C - membrana de quitosana e alginato (3597x) Figura 2: Aspecto clínico das feridas. A, B, C - apresentação clínica do paciente com DMJ e múltiplas lesões Terapia celular e biopolímeros no tratamento de úlceras 31 determinar a área total da úlcera, delimitando-se suas bordas. As imagens foram processadas com a utilização do software Image J2, e as diferenças dos valores das áreas foram determinadas para cada úlcera usando o software GraphPad Prism5. Também se utilizou um questionário de qualidade de vida (SF-36) antes do início do tratamento e ao final. RESULTADOS O paciente apresentava múltiplas úlceras cutâneas, va- riando de 0,5cm2 a 8cm2, distribuídas por todo o corpo, mas, principalmente nos membros inferiores (Figura 2). As lesões se- lecionadas para o tratamento foram as maiores e mais profundas, que causavam maior desconforto. O processo de cicatrização foi documentado fotograficamente nas semanas zero, três, 21, 28, 42, 64 (Figura 3) e 79 (Figura 4). Menos de 12 horas após a aplicação das células e mem- branas, o paciente referiu completa melhora da dor e, dentro de dois dias, início do processo de cicatrização. Logo após, ob- servou-se um filme brilhante na superfície das úlceras. Alguns dias depois, um intenso exsudato, atribuído a fibrina, tecido de granulação e presença de crosta foi visto em algumas lesões, com seu posterior fechamento centrípeto. Após uma semana de trata- mento, algumas feridas estavam quase totalmente fechadas. A taxa de cicatrização alcançada foi acima de 95%, com melhora contínua, mesmo após cinco meses da última aplicação (Gráfico 1). O paciente não apresentou mais dores nas áreas tra- tadas, com importante melhora na qualidade de vida (Gráfico 2). É interessante notar que a calcinose desapareceu mesmo em áreas não tratadas diretamente. DISCUSSĀO A DMJ é desordem autoimune rara, que afeta principal- mente os músculos e a pele. O principal tratamento é a administra- ção de altas doses de corticosteroides combinados com outras dro- gas imunossupressoras. Aproximadamente 30% dos pacientes não conseguem controlar a doença, apesar de múltiplas intervenções,1-5 resultado visto em nosso paciente. A aplicação de células-tronco foi descrita como último recurso no tratamento de paciente com doenças autoimunes refratárias ao tratamento, porém com persis- tência da doença cutânea, incluindo a calcinose e as contraturas.28 O tratamento da doença ulcerada e refratária é bastante complexo, sendo as doenças autoimunes bastante desafiadoras. A engenharia de tecidos com foco nos queratinócitos e fibroblastos autólogos tem sido usada no tratamento de úlceras cutâneas desde a década de 1980. Inicialmente a técnica foi testada em pacientes com queimadura, mostrando bons resultados. Depois, a melhora na cicatrização foi observada em úlceras vasculares e diabéticas.16,17 Nos últimos anos, a engenharia de tecidos avançou signi- ficativamente com esse propósito, e uma das tendências na der- matologia é o uso de biomateriais compostos de biopolímeros A B C A B C Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. em combinação com células cumprindo os requisitos de biosse- gurança e que são ativas no tipo de ferida tratada.20 Resultados positivos e relevantes foram vistos em nosso paciente com DMJ depois da aplicação dos fibroblastos e queratinócitos autólo- gos, aplicados com cola de fibrina, e seguidos pela cobertura de membranas feitas de quitosana com xantana ou alginato. A proteção fornecida pelos curativos de quitosana-alginato e quitosana-xantana com estímulos negativos do ambiente desem- penha um papel no processo de cicatrização. De acordo com Wang et al.,29 o curativo ideal deve ser flexível e possuir a habilidade de controlar a perda de água no local da feriada. Deve ser resistente à invasão bacteriana, prevenindo sepse, ter boa aderência na úlcera, como também ser não antigênico, atóxico e de fácil aplicação e remoção. Da perspectiva da engenharia, o material para o cura- tivo deve também ter boas propriedades mecânicas para que sua integridade seja mantida durante o uso.24 As taxas de evaporação de água também são importantes, tanto para manter a umidade adequada no leito da ferida como para evitar acúmulo indesejado de secreção. Ambas as membranas utilizadas nesse trabalho atingi- 32 Colpas PT, Alves PCM, Oliveira CC, Pires ALR, Moraes AM, Puzzi MB Figura 3: A-H - acompanhamento clínico da porção lateral do joelho esquerdo; A - semana 0 – primeira aplicação da cultura autóloga de fibroblastos e queratinócitos com membrana de Q-A – notar a exposição óssea; B - semana 3 – segunda aplicação – presença de crosta e início da cicatrização centrípeta; C - semana 4 – 75% de melhora; D - semana 6 – terceira aplicação – notar a membrana de Q-A aplicada; E - semana 21 – quarta aplicação – completa reepitelização da porção distal da úlcera; F - semana 28 – quinta aplicação – devido à atividade da doença, uma progressão da ferida foi observada (de 0,88cm2 para 1,22cm2); G - semana 42 – sexta aplicação, progressão da extensão da úlcera (de 1,22cm2 para 1,43cm2) com melhora em relação à profundidade da lesão; H - semana 64 – 87,85% de melhora Gráfico 1: Evolução da cicatrização das úlceras; as setas indicam o momento da aplicação (semanas 0, 3, 6, 21, 28, 42 e 70). Nas lesões do joelho direito foi utilizada membrana de quitosana-alginato e, nas do esquerdo, quitosa- na-xantana Figura 4: Seguimen- to do joelho direito porção lateral: (A) semana 0; (B) semana 79A B A E B F C G D H Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. ram essa expectativa, sendo efetivas na contribuição para acelerar a regeneração tecidual e promover rápida cicatrização. Além disso, as membranas são transparentes, permitindo a observação do leito da ferida, sem necessidade de removê-las. O complexo quitosana-alginato parece ter ação positiva no processo de remodelação tecidual na cicatriz, aumentando as taxas de síntese de colágeno, enquanto também melhora a compactação das novas fibras e promove a presença de fibroblas- tos maduros.29 Além disso, essas membranas parecem estimular e regular as várias fases do processo de cicatrização,21 sendo útil no tratamento das úlceras cutâneas. Tanto a síntese de coláge- no como a modulação da contração da ferida pela membrana de quitosana-alginato podem resultar em rápido fechamento da lesão.21 Resultados similares foram vistos nas membranas de qui- tosana-xantana, associadas a células mesenquimais.20 O papel da cola de fibrina não está claro nesse caso. O produto é um adesivo biológico que funciona por simular a fase exsudativa da cicatrização, sendo frequentemente utilizada na ci- rurgia plástica, como também em transplante de órgãos. Nossa hipótese do seu potencial benefício, nesse caso, é de que seja pelamelhora da aderência das células e membranas à lesão, e pelas ações hemostática e antibacteriana.30-33 Em condições normais, logo após o ferimento, fibrina e fibronectina são depositadas na ferida. Lá a fibrina age como barreira hemostática, aderindo o tecido e as células em volta e estimulando a migração de fi- broblastos, o que também deve ter ocorrido no presente caso. Redher et al.34 demonstraram que a aplicação apenas da cola de fibrina, sem a cultura de células, foi incapaz de reepitelizar a fe- rida, apesar da formação de crosta. Os autores não mencionaram a redução da dor com essa aplicação. A matriz de fibrina libera fatores de crescimento, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF), fator de cresci- Terapia celular e biopolímeros no tratamento de úlceras 33 Gráfico 2: - SF-36 inicío e final do tratamento – Pontuação varia de 0 (saúde ruim) a 100 (saúde excelente) mento de fibroblasto (FGF) e fator transformador de crescimen- to b (TGF-β), e essas proteínas podem estar relacionadas com a melhora da dor, logo após o início do tratamento. Além da ação antibacteriana, o aumento da migração e proliferação de célu- las endoteliais pode contribuir para uma melhora da irrigação vascular e também promover um ambiente ideal para migra- ção, proliferação e diferenciação dos fibroblastos e queratinócitos melhorando a cicatrização.31 A melhora da calcinose não está clara, e o fenômeno de Köebener não foi observado após o início do tratamento, mes- mo na área da biópsia. A terapia celular com fibroblastos e queratinócitos autó- logos foi usada nesse trabalho para um tratamento mais efetivo das úlceras em paciente com DMJ, com melhor resultado fun- cional e estético, como também levando a uma recuperação mais rápida e eliminação da dor, permitindo que o paciente retomasse seus estudos. O desenvolvimento de uma estratégia baseada em terapia celular representa um avanço no tratamento de úlceras de diferentes etiologias,17 e o uso das membranas de Q-A e Q-X em associação com as células autólogas é muito vantajoso, por- que as membranas podem funcionar com uma barreira física, prevenindo contaminações externas,20 além de um potencial pa- pel na cicatrização. Não foi observada diferença de performance na taxa de cicatrização com as diferentes membranas. Os implantes descritos aqui foram efetivos quando com- parados aos tratamentos convencionais de enxerto de pele de áreas doadoras saudáveis,16,17,35 mesmo que algumas das úlceras não tenham cicatrizado em sua totalidade, provavelmente devi- do à extensão e profundidade. As culturas celulares podem ser criopreservadas e, eventualmente, utilizadas em uma nova apli- cação. As células autólogas são ótimas candidatas, pois com elas elimina-se completamente o risco de rejeição. Outro aspecto positivo é a não necessidade de hospitalização ou debridamento das lesões. CONCLUSÃO Esse foi o primeiro caso descrito mostrando o uso de cul- turas autólogas de fibroblastos e queratinócitos associados a mem- branas de quitosana-alginato ou quitosana-xantana para o trata- mento de úlceras cutâneas associadas a dermatomiosite juvenil. Neste trabalho demonstrou-se uma estratégia efetiva no tratamento de doença cutânea causada pela dermatomiosite ju- venil, embora não tenha sido completamente curada. Talvez a combinação do transplante de células-tronco com células cutâ- neas autólogas possa ser a cura para um paciente como esse, que apresenta doença extensa e debilitante. Apesar de ser técnica so- fisticada e restrita, mostrou estratégia terapêutica válida que pode ser utilizada na DMJ como também em úlceras de diferentes etiologias. l Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 28-35. Comparação Escala de Raw REFERÊNCIAS 1. Batthish M, Feldman BM. 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Artigo Original Autores: Daniel Nunes e Silva1 Isabela Carrijo Pessoa1 Agliberto A. B. Marcondes Rezende1 João Ilgenfritz Junior2 Marcelo Rosseto2 Elaine Leal Loureiro2 1 Faculdade de Medicina, Universi- dade Federal de Mato Grosso do Sul – Campo Grande (MS), Brasil. 2 Clínica Dermatoeplástica – Campo Grande (MS), Brasil. Correspondência: Daniel Nunes e Silva Av. Alto Porã, 51 - Chácara Cachoeira 79040 045 - Campo Grande - MS, Brasil E-mail: dermatoeplastica@gmail.com Data de recebimento: 25/01/2018 Data de aprovação: 01/03/2018 Trabalho realizado na Dermatoeplas- tica – Campo Grande (MS), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. Conflito de Interesses: Nenhum. A lipoescultura como tratamento complementar na ritidoplastia Liposculpture as a complementary treatment in rhytidoplasty DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011144 RESU MO Introdução: As múltiplas abordagens e a utilização de diferentes estratégias cirúrgicas contribuem para a obtenção de resultados mais agradáveis nas ritidoplastias. Nesse cenário, a lipoescultura vem ganhando cada vez mais relevância como alternativa para potencializar esses resultados, agregando maior valor estético final para o procedimento. Objetivos: Avaliar os resultados obtidos em pacientes submetidas à associação de ritido- plastia e lipoescultura facial. Métodos: Quatorze pacientes foram submetidas à ritidoplastia clássica de Pitanguy, associada à lipoescultura em áreas específicas da face, sendo acompanhadas por 12 meses. Os resultados pós-operatórios foram avaliados por 17 voluntários utilizando o método de Antell & Orseck. Resultados: Das 14 pacientes avaliadas, nove (64,2%) tiveram o resultado classificado como excelente, três (21,4%) como moderado e dois (14,2%) como fraco. Nenhuma paciente obteve resultados classificados como perfeito ou ruim. Conclusões: A ritidoplastia associada à lipoescultura da face se valida como alternativa importante para o tratamento do envelhecimento facial, proporcionando a obtenção de resultados agradáveis, seguros e duradouros. Palavras-chave: Cervicoplastia; Rejuvenescimento; Ritidoplastia ABSTRACT Introduction: Multiple approaches and the use of different surgical strategies seem to contribute to the goal of obtaining more satisfactory outcomes in rhytidoplasty. In light of this, liposculpture has been progressively becoming more relevant as an alternative to improve those outcomes, adding greater final aesthetic value to the procedure. Objectives: To evaluate outcomes obtained in patients who underwent the association of rhytidoplas- ty and facial liposculpture. Methods: Fourteen patients underwent classical Pitanguy rhytidectomy associated with liposuction in specific areas of the face, having been subsequently followed up for 12 months. Seventeen volunteers used the Antell & Orseck method to evaluate the postoperative outcomes. Results: Of the 14 patients evaluated, 9 (64.2%) were classified as having experienced excellent outcomes, while 3 (21.4%) had moderate outcomes, and 2 (14.2%) had poor outcomes. None of the patients experienced outcomes rated as perfect or undesirable. Conclusions: Rhytidoplasty associated with facial liposculpture is an important alternative for the treatment of facial aging, leading to satisfactory, safe and long lasting results. Keywords: Cervicoplasty; Rejuvenation; Rhytidoplasty Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 36-40. 36 INTRODUÇÃO O tratamento do envelhecimento facial figura entre as principais condições que impulsionam os pacientes a buscar por procedimentos estéticos.1 A demanda por novos métodos visa atender as expectativas de pacientes, que, após complexas cirur- gias de rejuvenescimento facial, ainda buscam procedimentos complementares, especialmente para suprir a progressiva perda de volume em determinadas regiões da face.2 Diversos estudos vêm tentando compreender os reais fa- tores envolvidos no processo da senilidade da face, oferecendo suporte teórico para quealternativas técnicas ainda possam ser desenvolvidas.3 Acredita-se que o envelhecimento facial é resul- tado de uma soma de múltiplos fatores, destacando-se a reabsor- ção e o remodelamento ósseo, o relaxamento e degeneração de tecidos moles e a atrofia do tecido celular subcutâneo.3 A descrição dos compartimentos anatômicos faciais e o recente entendimento de sua relevância para a cirurgia do reju- venescimento favoreceram a associação da lipoescultura como tratamento complementar nas ritidoplastias. Essa combinação potencializou os resultados e, especialmente, possibilitou uma customização da técnica para cada caso. Os resultados, progressi- vamente mais satisfatórios, fizeram com que o número de profis- sionais que a utilizam aumentasse significativamente nos últimos anos.1,2,4,5 O presente estudo pretende apresentar a experiência dos autores com a associação da lipoescultura às ritidoplastias e dis- cutir a qualidade dos resultados e as vantagens do procedimento. MÉTODOS O estudo aqui relatado foi realizado nos moldes de um artigo original, para o qual foram utilizadas abordagens teóri- co-práticas que objetivaram alcançar resultados conclusivos e significativos. De caráter descritivo e guiado de forma pros- pectiva, o trabalho acompanhou uma amostra de 14 pacien- tes do sexo feminino, durante 12 meses, após ritidoplastia com lipoaspiração da face (região cervical e terço inferior da face) e lipoenxertia em áreas específicas. Os procedimentos foram realizados na clínica privada dos autores, no período de janeiro de 2013 a março de 2016. Não houve comparação entre indi- víduos da amostra sendo os resultados obtidos com avaliação de cada um separadamente. Este estudo foi conduzido segundo as orientações éticas da Declaração de Helsinki. No pré-operatório, produziu-se uma sequência preesta- belecida de fotografias-padrão, realizadas por um mesmo fotó- grafo, no mesmo local e com as mesmas características de ima- gem (Câmera Digital Nikon Inc, Melville, New York). A cirurgia foi realizada seguindo a metodologia clássica detalhada em estudo prévio dos autores,2 tendo sido a lipoes- cultura então associada com o objetivo de potencializar os re- sultados. Com o paciente sedado, realizou-se uma infiltração anestésica na região cérvico-facial com cerca de 350ml de uma solução contendo lidocaína 0,125%, com adrenalina 1:200.000. Realizou-se a lipoaspiração da região cervical e posteriormente a cervicoplastia.6 Antes da execução do roundlifting de Pitanguy,7 realizou-se lipoaspiração do terço inferior da face, respeitando-se sempre a necessidade de cada caso (Figura 1). A gordura colhida na lipoaspiração foi reservada, para se- dimentar. Após a conclusão da ritidoplastia, a gordura já lavada e preparada pela técnica de Maricevich et al.4 (Figura 2) foi in- jetada em regiões específicas da face, conforme as figuras 3 e 4. Após as cirurgias, os pacientes foram acompanhados se- manalmente e depois, a cada dois meses, até o décimo segundo mês, quando novas fotos foram capturadas (em condições idên- ticas às do pré-operatório). A avaliação foi feita com base em preceitos clássicos mo- dificados do método de Antell & Orseck.8 Nesse recurso de aná- lise, as pacientes incluídas no estudo eram avaliadas de forma subjetiva, sem que houvesse padrões anatômicos ou referenciais definidos. Os 17 voluntários (não médicos) analisavam as foto- grafias de pré e pós-operatório dos indivíduos da amostra e, se- gundo opinião pessoal, conferiam notas a cada uma das pacien- tes. As pontuações eram atribuídas da seguinte forma: 1 ponto = sem melhora; 2 pontos = melhora leve; 3 pontos = melhora moderada; 4 pontos = melhora importante (excelente); e 5 pon- tos = resultado considerado perfeito. As notas de cada paciente foram somadas e o resultado classificou o desfecho como: ruim (17-27 pontos); fraco (28-43 pontos); moderado (44-57 pontos); excelente (58-77 pontos); e perfeito (78-85 pontos). A lipoescultura na ritidoplastia 37 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 36-40. BA Figura 1: A - marcação da área a ser lipoaspirada(pontos) e lipoenxertada(barras) na face; B - lipoaspiração ampla da região cérvico-facial Figura 2: Enxerto de gordura preparado para ser injetado na face Figura 4: A e B - Lipoenxertia facial no intra-operatório de facelifting Figura 3: Desenho es- quemático das áreas a lipoaspirar (em azul) e preencher com en- xerto de gordura (em amarelo) RESULTADOS No período do estudo, 14 pacientes do sexo feminino, brancas e com idade média de 55+9 anos foram submetidas à cirurgia descrita. O procedimento cirúrgico teve duração média de 234+33 minutos. Não foi encontrada dificuldade na realiza- ção da associação das técnicas. Todos os pacientes receberam alta em cerca de 24 horas após a cirurgia. A recuperação pós-ope- ratória ocorreu dentro do esperado, tendo apenas uma paciente evoluído com hematoma, que exigiu drenagem em centro ci- rúrgico. As demais pacientes operadas evoluíram sem intercor- rências. Os resultados referentes à avaliação das pacientes (notas finais e classificação) são apresentados na tabela 1. Nove pacien- tes (64,2%) obtiveram o resultado classificado como excelente, três (21,4%) como moderado e dois (14,2%) como fraco. Não houve resultado classificado como ruim ou perfeito. Nas figuras 5 e 6 estão representadas pacientes submetidas à técnica (fotos de pré e pós-operatório de 12 meses, visão frontal e de perfis direito e esquerdo). DISCUSSÃO A tônica dos procedimentos de rejuvenescimento facial continua na manutenção dos resultados a longo prazo e na mini- mização da face estigmatizada. A busca de uma harmonia facial, preservando ou alcançando aspectos anatômicos considerados ideais, continua sendo um grande desafio para os cirurgiões en- volvidos com a cirurgia de ritidoplastia.6 A associação da lipoes- cultura nesse procedimento trata justamente desse aspecto e vem oferecer possibilidades que não eram costumeiramente obtidas com a técnica clássica.9,10 A lipoescultura facial, atualmente figura como uma ex- celente alternativa para garantir resultados superiores na abor- dagem cirúrgica da face, seja ela reparadora ou estética.4,5 A lipoaspiração do terço inferior da face e da região cervical pos- sibilita a obtenção de face mais triangular, aspecto desejável es- pecialmente na cirurgia do rejuvenescimento.6 A possibilidade de esculpir lipoaspirando quantidades específicas para determi- nadas regiões da face, possibilita customizar os efeitos estéticos finais, de modo a minimizar a indesejada uniformização dos resultados.2 Vários autores já divulgaram amplamente as qualidades da gordura como adjuvante na cirurgia facial: ela é um excelente preenchedor subdérmico, com pequenos índices de complica- ções, sendo também de baixo custo.9,10 A gordura, por carrear células tronco, age como importante ator no cenário do reju- venescimento facial, sendo atualmente considerada por muitos cirurgiões alternativa padrão ouro.11 38 Silva DN, Pessoa IC, Rezende AABM, Ilgenfritz Junior J, Rosseto M, Loureiro EL Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 36-40. A B Figura 5: Aspecto da paciente H submetida à técnica (fotos de pré e pós-operatório de 12 meses, visão frontal e de perfis direito e esquerdo) Figura 6: Aspecto da paciente M submetida à técnica (fotos de pré e pós-operatório de 12 meses, visão frontal e de perfis direito e esquerdo) Tabela 1: Apresentação das notas de cada avaliador e a classificação do resultado da lipoenxertia Paciente Soma das Notas Classificação dos Resultados A 61 Excelente B 37 Fraco C 63 Excelente D 64 Excelente E 67 Excelente F 65 Excelente G 75 Excelente H 57 Moderado I 56 Moderado J 58 Excelente K 64 ExcelenteL 42 Fraco M 62 Excelente N 50 Moderado No entanto, em muitas oportunidades − infelizmen- te − a lipoenxertia não figura como procedimento único e definitivo, não sendo possível que se estabeleça, com precisão, o grau de integração do conteúdo enxertado e o resultado final do procedimento.12,13 Logo, após o procedimento finalizado, pode- rão ser necessárias novas intervenções para se atingir o volume ideal para determinado paciente.4,10,14 A avaliação do resultado de uma cirurgia plástica revela dificuldades, e as ferramentas disponíveis vêm sendo questiona- das por diferentes autores há anos.15 Até os dias de hoje, não há um método de análise dos resultados tardios em ritidoplastias que seja considerado perfeito.13,15-17 O método de Antel & Or- seck,8 aqui utilizado, é um dos recursos mais apresentados na literatura e utilizado pela maioria dos autores. Caracteriza-se por ser de rápida aplicação, bom entendimento, muito prático e de resultados confiáveis, independentemente das características dos avaliadores.2,6 Essas qualidades foram novamente evidenciadas em nosso estudo, e a pequena variação das pontuações de cada avaliador para cada paciente corrobora essa afirmação. No âmbito da cirurgia plástica as inovações de táticas, me- todologias e materiais são constantes.17 O universo da ritidoplas- tia não é diferente e exige constante atualização dos profissionais que atuam na área. Várias técnicas diferentes continuam sendo publicadas,15,18 sendo uma tendência atual dos artigos interna- cionais a valorização das estratégias ancilares no trans e pós-ope- ratório.17,18 Entre elas, a lipoenxertia tem-se mostrado alterna- tiva muito eficaz, duradoura e de excelentes resultados4,5,10,14 se colocando como opção muito interessante para os cirurgiões. Outros volumizadores, ainda muito utilizados, geralmente são absorvíveis e de alto custo, dificultando sua ampla utilização e aceitação pelas pacientes.5 Os altos índices de resultados caracterizados como excelentes em nosso estudo demonstram que a técnica descrita pode contribuir para a obtenção de um desfecho pós-operatório agradável, natural e mais harmônico. CONCLUSÃO A lipoescultura complementar à ritidoplastia propor- cionou a obtenção de resultados satisfatórios, com simplicidade técnica e baixos índices de complicações. Embora, ainda sejam necessários mais estudos sobre essa alternativa, especialmente so- bre a manutenção dos resultados a longo prazo, ela se valida, cada vez mais, como opção eficaz nas cirurgias de rejuvenescimento facial. l A lipoescultura na ritidoplastia 39 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 36-40. REFERÊNCIAS 1. Ferreira MC. Cirurgia Plástica Estética: Avaliação dos Resultados. Rev Bras Cir Plast. 2000;15(1):55-66. 2. 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CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Daniel Nunes e Silva | 0000-0003-3050-5838 Análise e/ou interpretação dos dados , Análise estatística, Concepção e desenho do estudo, Realização das operações e/ou experimentos, Redação do manuscrito e revisão crítica de seu conteúdo, Aprovação final do manuscrito Marcelo Rosseto | 0000-0002-4111-9791 Concepção e desenho do estudo, Realização das operações e/ou experimentos Isabela Carrijo Pessoa | 0000-0003-4899-1176 Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Concepção e desenho do estudo, Redação do manuscrito e revisão crítica de seu conteúdo, Aprovação final do manuscrito Agliberto Augusto Barsaglini Marcondes Rezende | 0000-0002-6537-3604 Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Concepção e desenho do estudo, Redação do manuscrito e revisão crítica de seu conteúdo Elaine Leal Loureiro | 0000-0003-4026-3158 Concepção e desenho do estudo, Realização das operações e/ou experimentos João Ilgenfritz Junior| 0000-0002-1384-1541 Concepção e desenho do estudo, Realização das operações e/ou experimentos Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 36-40. 40 Silva DN, Pessoa IC, Rezende AABM, Ilgenfritz Junior J, Rosseto M, Loureiro EL Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 41-5. Artigo Original Autores: Leila David Bloch1 Cassiano Carlos Escudeiro 1 Fernanda Daud Sarruf 1 Neusa Yuriko Sakai Valente2 1 Setor de Pesquisa Clínica, Institu- to de Pesquisa Clínica Integrada (IPClin) – Jundiaí (SP), Brasil. 2 Departamento de Dermatopa- tologia, Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE) – São Paulo (SP), Brasil. Correspondência para: Leila David Bloch Rua Dr. Leonardo Cavalcante, 314 - Centro 13201 013 - Jundiaí - SP, Brasil E-mail: leila@ipclin.com.br Data de recebimento: 16/05/2017 Data de aprovação: 07/03/2018 Trabalho realizado em Instituto de Pesquisa Clínica Integrada (IPClin) – Jundiaí (SP), Brasil. Suporte financeiro: O estudo recebeu suporte financeiro da SM Empreendimentos Farmacêuticos Ltda / Fagron. Conflito de interesse: Os autores afirmam não possuir interesses pessoais, comerciais, acadêmicos, políticos ou financeiros neste manuscrito. Latanoprosta e minoxidil: Estudo duplo- cego comparativo, placebo-controlado no tratamento da queda de cabelos Latanoprost and minoxidil: comparative double-blind, placebo-controlledstudy for the treatment of hair loss DOI: http://dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011015 RESU MO Introdução: A latanoprosta tem demonstrado potencial para o tratamento de queda de cabelos devido ao aumento da espessura e do comprimento dos cílios e hipertricose, ob- servados com seu uso na área dos olhos. Objetivo: Avaliar a eficácia da latanoprosta, isolada ou em associações, na redução da queda e/ou estimulando o crescimento de cabelos em pacientes portadores de eflúvio telógeno ou alopecia androgenética. Métodos: Estudo duplo-cego comparativo, durante 180 dias, entre seis grupos: G1: place- bo G2: minoxidil 5%; G3: minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%; G4: latanoprosta 0,005%; G5: minoxidil 5% + latanoprosta 0,010%; G6: latanoprosta 0,010%. Foi feita a contagem em fototricograma do total e percentual de fios em fase anágena e telógena. Resultados: Houve melhora para os grupos G2 (total de fios e número de fios anágenos em D92 e D180), G3 (total de fios e número de fios anágenos em D242), G4 (total de fios em D182; número de fios anágenos em D92 e D182) e G5 (total de fios em D182; percentual de fios telógenos e anágenos e número de fios anágenos em D92 e D182). O Tratamento do G6 não apresentou diferença significativa em relação ao placebo. Conclusões: Os tratamentos com minoxidil 5%, minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%, latanoprosta 0,005%, minoxidil 5% + latanoprosta 0,010% se mostraram eficazes no controle da queda e no aumento total de fios. Palavras-chave: Alopecia; Cabelo; Minoxidil ABSTRACT Introduction: Latanoprost has been shown to have potential for the treatment of hair loss evidenced by increased thickness and length of eyelashes and hypertrichosis that can be observed when it is used in the periorbital region. Objective: To evaluate the effectiveness of latanoprost, used isolatedly or in associations, for reducing hair loss and/or stimulating its growth in patients bearers of telogen effluvium or androgenic alopecia. Methods: A comparative, double-blind study was carried out during 180 days, with 6 groups: G1 - placebo, G2 - 5% minoxidil, G3 - 5% minoxidil + 0.005% latanoprost, G4 - 0.005% latanoprost, G5 - 5% minoxidil + 0.010% latanoprost, G6 - 0.010% latanoprost. The total and percentage count of hair strands was carried out based on phototrichogram in the anagen and telogen phases. Results: There was improvement in G2 (total number of hair strands, number of anagen strands in D92 and D180), G3 (total number of hair strands and number of anagen hair strands in D242), G4 (total number of strands in D182, and number of anagen hair strands in D92 and D182), and G5 (total number of hair strands in D182, percentage of telogen and anagen hair strands and number of anagen hair strands in D92 and D182). Treatment of G6 did not yield significant difference regarding the placebo. Conclusions: The treatments with 5% minoxidil, 5% minoxidil + 0.005% latanoprost, 0.005% latanoprost, 5% minoxidil + 0.010% latanoprost were shown effective in controlling hair loss and in increasing the total number of hair strands. Keywords: Alopecia; Hair; Minoxidil 41 Foram incluídos 123 participantes, com 21 participantes nos grupos G1, G2 e G3, e 20 participantes nos grupos G4, G5 e G6. Foi realizada a avaliação dermatológica inicial no momen- to da inclusão dos participantes para verificação da ausência de sinais clínicos iniciais incompatíveis com os critérios de inclusão do estudo (D0). Os critérios de inclusão foram: participantes saudáveis de ambos os sexos, fototipo de I a IV, idade entre 20 e 55 anos, presença de alopecia androgenética (graus de I a III em homens, segundo a escala de Hamilton e de I a II em mulheres, segundo a escala de Ludwig), pele íntegra na região do estudo (couro cabeludo), hábito de lavar os cabelos ao menos três vezes por semana e que não tivessem feito uso de nenhum produto para crescimento capilar há pelo menos quatro semanas antes do iní- cio do estudo. Os critérios de não inclusão foram: presença de alopecia cicatricial ou patologias concomitantes do couro cabeludo (in- fecção, psoríase e dermatite seborreica importante); dermatite atópica em atividade; alergia à categoria de produtos testada; gra- videz ou lactação; candidatos transplantados renais, cardíacos ou hepáticos, imunodeficiências, uso de corticosteroides, anti-his- tamínicos, imunossupressores, retinoides ou anti-inflamatórios; realização prévia de transplante capilar ou cirurgia de redução de couro cabeludo; uso de minoxidil ou finasterida (orais ou tópi- cos) nos seis meses antecedentes ao estudo; tratamentos com luz de baixa energia, infravermelho ou laser nos seis meses antece- dentes ao estudo; eritema solar na região de estudo ou previsão de exposição solar intensa ou a lâmpadas UV durante o estudo e uso de apliques nos cabelos, extensões capilares, peruca ou alisa- mento nos três meses antecedentes ao estudo. Procedimentos Os produtos foram utilizados pelos próprios participan- tes, em suas residências, de acordo com o seguinte modo de uso: aplicação tópica diária no couro cabeludo limpo e seco, com as pontas dos dedos. Os participantes foram orientados a lavar as mãos logo após a aplicação do produto. O tratamento teve duração total de seis meses (180 ± 4 dias) para todos os participantes menos para os do grupo G3, cujo tratamento se estendeu por mais dois meses (240 ± 4 dias). As avaliações clínicas dermatológicas de segurança foram realizadas nos seguintes tempos experimentais: D0, D30, D60, D90, D120, D150, D180, D210 e D240 (ou seja, no dia da visita inicial e 30 ± 2, 60 ± 4, 90 ± 4, 120 ± 4, 150 ± 4, 180 ± 4, 210 ± 4 e 240 ± 4 dias após a visita inicial). Nesses mesmos tempos, os participantes responderam a um questionário de sensibilização, a respeito de possíveis sinais clínicos e sensações de desconforto ocasionados pelo uso dos produtos investigados. Para avaliar visualmente a eficácia dos produtos na pro- moção de maior uniformidade e cobertura do couro cabelu- do dos participantes, foram feitos registros de imagens macro empregando-se câmera fotográfica (Canon® T3i), com con- figurações da câmera, distância, fundo (azul) e iluminação pa- dronizadas. As imagens foram capturadas nos seguintes tempos INTRODUÇÃO Entre as causas mais comuns de perda de cabelo, tanto em homens quanto em mulheres, estão a alopecia androgenética e o eflúvio telógeno. A alopecia androgenética é condição andró- geno-dependente caracterizada pela miniaturização dos folículos capilares, com encurtamento de tempo da fase anágena (fase ativa de crescimento capilar) e aumento do tempo da fase telógena (fase de “repouso”) a cada ciclo de desenvolvimento dos folículos ca- pilares.1-4 O eflúvio telógeno caracteriza-se pelo aumento no nú- mero de fios de cabelo em fase telógena e aumento no número de fios de cabelo perdidos por dia, podendo estar associado a diversos fatores, como deficiências nutricionais (zinco, ferro, ácidos graxos essenciais, etc.), desordens endócrinas (tireoide, menopausa, etc.), estresse e reações a medicamentos, entre outros. Atualmente, não há variedade de opções disponíveis para o tratamento da queda de cabelos, sendo o ninoxidil o único tratamento aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) para uso tópico. O minoxidil é agente vasodilatador original- mente usado para o tratamento de hipertensão arterial sistêmica, é empregado topicamente para o tratamento da alopecia andro- genética em humanos.5 A latanoprosta é análoga à prostaglandina F2, usada para o tratamento de glaucoma de ângulo aberto e hipertensão ocu- lar. Esse ativo tem demonstrado potencial para o tratamento de queda de cabelos devido aos efeitos colaterais observados com seu uso em solução tópica para a área dos olhos, onde se desta- cam o aumento da espessura e do comprimento dos cíliose a hipertricose.6,7 Os mecanismos de ação desses ativos não estão totalmen- te elucidados. O minoxidil parece agir estimulando os folículos pilosos, principalmente os dormentes, prolongando a fase anáge- na,5 enquanto a latanoprosta parece agir estimulando a fase aná- gena, aumentando a conversão de pelos velus em pelos terminais. O presente estudo teve como finalidade avaliar a eficá- cia do minoxidil e da latanoprosta, isolados ou em associações, e verificar se esses ativos são capazes de reduzir a queda e/ou estimular o crescimento de cabelos em pacientes portadores de alopecia androgenética e/ou eflúvio telógeno. MÉTODOS Desenho do estudo Estudo duplo-cego comparativo entre seis diferentes grupos de tratamento: G1: placebo − produto controle, sem ativo; G2: loção tópica contendo o ativo minoxidil 5%; G3: loção tópica contendo os ativos minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%; G4: loção tópica contendo o ativo latanoprosta 0,005%; G5: loção tópica contendo os ativos minoxidil 5% + latanoprosta 0,010%; G6: loção tópica contendo o ativo latanoprosta 0,010%. A distribuição dos participantes nos grupos supracitados foi realizada aleatoriamente. Participantes da pesquisa O estudo foi realizado no Instituto de Pesquisa Clínica Integrada – IPclin (Jundiaí-SP). Antes de seu início o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da mesma instituição. 42 Bloch LD, Escudeiro CC, Sarruf FD, Valente NYS Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 41-5. Latanoprosta e minoxidil no tratamento da queda de cabelos 43 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 41-5. experimentais: D0, D90 e D180. Para os participantes que re- ceberam o tratamento minoxidil + latanoprosta 0,005% (G3), as imagens também foram capturadas em D240. Com o propósito de avaliar o crescimento dos fios e o controle da queda, proporcionados pelo uso dos produtos in- vestigados, de acordo com aumento do percentual de fios em fase anágena, diminuição do percentual de fios na fase telógena e do aumento do número total de fios na área experimental, fo- ram realizadas análises de fototricograma. Para tal, imagens foram capturadas com auxílio do equipamento Dermoscope® Dynamic (FotoFinder Systems, Inc, Maryland, EUA) em condições padroni- zadas, equipado com o software Trichoscale, que realiza a conta- gem semiautomática do número de fios em cada fase do ciclo de crescimento. Dados obtidos com o equipamento: número total de fios; percentual de fios em fase anágena e percentual de fios em fase telógena. A captura das imagens foi realizada dois dias após os par- ticipantes terem uma pequena área do couro cabeludo raspada. Para a raspagem, foi selecionada uma área no couro cabeludo (preferencialmente na região frontoparietal direita ou esquerda) de aproximadamente 2cm2, a qual foi demarcada e raspada com cortador elétrico, a favor do fio, tolerando-se o comprimento má- ximo dos fios de 1mm. A obtenção de imagens foi realizada nos seguintes tempos experimentais: D02, D92 e D182. Para os par- ticipantes do G3, as imagens foram também capturadas em D242. Os dados obtidos na análise por fototricograma foram estatisticamente analisados com auxílio do software SPSS versão 17.0. Foi realizado o teste T com dados pareados para determi- nar se houve diferença estatística entre os tempos de avaliação (p-valor ≤ 0,05). RESULTADOS Dos 123 participantes incluídos no estudo, 98 finaliza- ram e 25 desistiram por motivos pessoais não relacionados à pesquisa, sendo três participantes do G1, quatro do G2, sete do G3, quatro do G4, três do G5 e quatro do G6. A alta taxa de desistência pode ser atribuída à duração prolongada do estudo. O total de participantes que finalizaram o estudo para cada tratamento foi: G1: 18 participantes; G2: 17 participantes; G3: 14 participantes; G4: 16 participantes; G5: 17 participantes e G6: 16 participantes. Nenhum participante relatou sensações de desconforto atribuíveis aos tratamentos e não foram detectados sinais clínicos no couro cabeludo após 30 ± 2, 60 ± 4, 90 ± 4, 120 ± 4, 150 ± 4, 180 ± 4, 210 ± 4 e 240 ± 4 dias de uso dos produtos. A avaliação dos resultados dos questionários de sensibilização mostrou que os produtos foram bem tolerados, não havendo sinais significa- tivos de desconforto, coceira, descamação ou vermelhidão no couro cabeludo durante o estudo. Por meio da avaliação visual comparativa das imagens macro, capturadas a cada tempo experimental, por tratamento, não se pôde observar melhora visual para os tratamentos dos grupos G1 e G6, após 90 ± 4 e 180 ± 4 dias de tratamento (res- pectivamente D90 e D180), em relação à condição inicial (D0). Já para os demais tratamentos, foi observada melhora visual para: 35% dos participantes do G2 (seis), 36% dos participantes do G3 (cinco), 19% dos participantes do G4 (três) e 6% dos participan- tes do G5 (um), nos tempos D30, D60, D120 e D150, em relação ao D0. As figuras 1 e 2 ilustram a melhora visual observada para o tratamento com minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%. Com base nas análises comparativas, em relação ao D0, dos parâmetros de fototricograma, foi observado: um aumen- to no total de fios em D92, proporcionado pelo tratamento 2 (p-valor = 0,0010) e em D182 proporcionado pelo tratamento 2 (p-valor = 0,0026), pelo tratamento 4 (p-valor = 0,016) e pelo tratamento 5 (p-valor=0,005). Já o tratamento 3 ocasionou o aumento no total de fios em D242 (p-valor = 0,0025). Com relação aos fios anágenos, foi constatado aumento em D92, nos grupos que receberam os tratamentos 2 (p-valor = 0,0005), 4 (p-valor = 0,024) e 5 (p-valor = 0,004) e também em D182 para os mesmos tratamentos (tratamento 2: p-valor = 0,0003; tratamento 4: p-valor = 0,004; tratamento 5: p-valor = 0,0001), enquanto o tratamento 3 aumentou a quantidade de fios anágenos após 242 dia de uso (D242) (p-valor = 0,001). Nenhum dos seis tratamentos proporcionou redução sig- nificativa na quantidade de fios telógenos. Os gráficos 1, 2 e 3 apresentam o número total de fios, o número de fios anágenos e o número de fios telógenos, respec- tivamente, em cada tempo, por tratamento. A figura 3 ilustra a análise de fototricograma nos diferen- tes tempos (Tratamento com minoxidil 5%). Figura 1: Imagem macro de participante do sexo feminino no tempo inicial e final (tratamento com minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%) Figura 2: Imagem macro de participante do sexo masculino no tempo ini- cial e final (tratamento com minoxidil 5% + latanoprosta 0,005%) D00 D240 D00 D240 44 Bloch LD, Escudeiro CC, Sarruf FD, Valente NYS Figura 3: Imagem para análise de fototricograma nos diferentes tempos (tratamento com minoxidil 5%) Gráfico 1: Número total de fios, por tempo e por tratamento Gráfico 2: Número de fios anágenos, por tempo e por tratamento Gráfico 3: Número de fios telógenos, por tempo e por tratamento DISCUSSÃO Observando os resultados obtidos, o minoxidil 5% (G2) proporcionou aumento significativo no total de fios e no total de fios anágenos, já a partir dos primeiros 90 dias de aplicação. Re- sultado superior ao observado anteriormente, em que aumento da densidade total de fios só foi observada após 24 semanas de aplicação do produto investigado.8 Em outra pesquisa, o aumen- to foi relatado após 16 semanas.9 A latanoprosta 0,005% (G4) apresentou resultados um pouco inferiores aos do minoxidil 5%, no aumento do número total de fios e no total de fios anágenos após 180 dias de uso. Por outro lado, a latanoprosta a 0,010% (G6) não gerou melhora estatisticamente significativa, tendo resultados comparáveis aos do placebo. Quando utilizada por um período prolongado e em uma concentração maior, foram observados resultados mais efi- cazes. No final de tratamento com duração de 24 semanas, em concentraçãode 0,1%, a latanoprosta promoveu o aumento da porcentagem de fios anágenos e diminuição na porcentagem de fios telógenos.6 A associação dos dois tratamentos apresentou melhor de- sempenho para a concentração de latanoprosta igual a 0,010% (G5), a qual proporcionou aumento no número total de fios após seis meses de tratamento, enquanto, quando utilizada a 0,005%, a latanoprosta associada ao minoxidil 5% (G3) só gerou aumento no total de fios após oito meses de uso. CONCLUSÃO Nenhum participante relatou sensações de desconforto, e não foram detectados sinais clínicos no couro cabeludo durante o período do estudo. A partir da avaliação de fototricograma pode-se concluir que: • O tratamento com a loção tópica de minoxidil 5% aumentou o número total de fios e o número to- tal de fios anágenos já nos primeiros três meses de estudo (D92). • O tratamento com a loção tópica contendo os ativos minoxidil 5% + latanoprosta 0,005% só promoveu aumento do número total de fios e o total de fios anágenos oito meses de estudo (D242). • O tratamento com a loção tópica de latanoprosta 0,005% aumentou o número total de fios após seis meses de tratamento (D182). • O tratamento com a loção tópica contendo os ati- vos minoxidil 5% + latanoprosta 0,010%) aumen- tou o número total de fios após seis meses de tra- tamento (D182). O tratamento com a loção tópica de latanoprosta 0,010% não apresentou diferença significativa, em relação ao placebo. l Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 41-5. D02 D92 D182 Latanoprosta e minoxidil no tratamento da queda de cabelos 45 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 41-5. REFERÊNCIAS 1. HALAL J. Tricologia e a Química Cosmética Capilar. São Paulo: Cengage Learning; 2011. 2. KLEINHANS ACS. Stress e raiva em mulheres com Alopecia Androgené- tica [dissertação]. Campinas: Pontifícia Universidade Católica de Cam- pinas, Centro de Ciências da Vida, Área de Psicologia; 2012. 3. OLSEN EA. Hair. In: Freedberg IM, Eisen AZ, Wolff K, Austen KF, Goldsmi- th LA, Katz SI, editors. Fitspatrick's Dermatology in General Medicine. 6th edition. United States of America: McGraw-Hill; 2003. p. 633-655. 4. Sinclair R, Patel M, Dawson TL Jr, Yazdabadi A, Yip L, Perez A, et al. Hair loss in women: medical and cosmetic approaches to increase scalp hair fullness. Br J Dermatol. 2011; 165(Suppl 3):12-18. 5. Pires FE, Fonseca MB, Ramos-e-Silva M. Minoxidil nas alopecias. Folha Médica 1994;108(4):113-17. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Leila David Bloch | 0000-0001-9596-9583 Suporte clínico durante a condução do estudo e redação do texto Cassiano Carlos Escudeiro | 0000-0001-6637-3430 Supervisão da condução e desenvolvimento do estudo e conferência do texto final do artigo Fernanda Daud Sarruf | 0000-0003-4454-6323 Coordenação do estudo, análise dos resultados e elaboração do artigo Neusa Yuriko Sakai Valente | 0000-0002-8065-269 Conferência do texto final do artigo 6. Blume-Peytavi U, Lönnfors S, Hillmann K, Bartels NG. A randomized double-blind placebo-controlled pilot study to assess the efficacy of a 24-week topical treatment by latanoprost 0,1% on hair growth and pigmentation in healthy volunteers with androgenetic alopecia. J Am Acad Dermatol. 2012;66(5):794-800. 7. Sasaki S, Hozumi Y, Kondo S. Influence of prostaglandin F2alpha and its analogues on hair regrowth and follicular melanogenesis in a murine model. Exp Dermatol. 2005;14(5):323-8. 8. Blume-Peytavi U, Hillmann K, Dietz E, Canfield D, Bartels NG. A randomi- zed, single-blind trial of 5% minoxidil foam once daily versus 2% mino- xidil solution twice daily in the treatment of androgenetic alopecia in women. J Am Acad Dermatol. 2011; 65(6): 1126-34. 9. Olsen EA, Whiting D, Bergfeld W, Miller J, Hordinsky M, Wanser R, et al. A multicenter, randomized, placebo-controlled, double-blind clinical trial of a novel formulation of 5% minoxidil topical foam versus placebo in the treatment of androgenetic alopecia in men. J Am Acad Dermatol. 2007; 57 (5):767-74. 46 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 46-50. Artigo Original Autores: Caroline Nunes Ferreira1 Tais Freire Galvão1 Priscila Gava Mazzola1 Gislaine Ricci Leonardi1 1 Faculdade de Ciências Farmacêu- ticas(FCF), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil. Correspondência: Gislaine Ricci Leonardi Rua Cândido Portinari, 200 13083 871 - Cidade Universitária - Campinas - SP, Brasil. E-mail: gislaine.leonardi@fcf. unicamp.br Data de recebimento: 09/12/2017 Data de aprovação: 13/03/2018 Trabalho realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) - Campinas (SP), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. Conflito de Interesses: Nenhum. Avaliação do conhecimento sobre fotoproteção e da exposição solar de estudantes universitários Assessment of university students’ knowledge of photoprotection and exposure to the sun DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011118 RESU MO Introdução: O número de casos de carcinoma cutâneo tem aumentado cada vez mais e vem determinando a necessidade de aprimorar estratégias de saúde economicamente eficazes para prevenir a doença e suas complicações. Objetivo: Realizar estudo transversal, tendo os dados sido coletados diretamente com os participantes, por meio da aplicação de questionário. Métodos: Com os dados coletados realizou-se o cálculo da regressão logística bivariada, obtendo-se a razão de chances (OR) e o intervalo de confiança (IC) 95% entre as variáveis independentes e o comportamento de risco, o qual foi determinado pela não utilização diária de filtro solar e/ou outros meios de fotoproteção. A amostra foi composta por 200 estudantes, 50% da área de exatas e 50% da área biológica. Resultados: Não foi constatada diferença significativa entre o comportamento dos gra- duandos nas diferentes áreas analisadas. Mulheres apresentaram menor comportamento de risco em relação aos homens (OR=0,07; IC95%: 0,01-0,56). Conclusões: A maior parte dos universitários não se protege da exposição solar adequa- damente, sendo esse comportamento de risco inferior nas mulheres. Ações de fotoeduca- ção são importantes entre os estudantes Palavras-chave: Estudantes; Pele; Prevenção de doenças; Radiação solar ABSTRACT Introduction: The number of cases of cutaneous carcinoma has been steadily increasing, which calls for the necessity of improving cost effective health strategies aimed at preventing that disease and related complications. Objective: To perform a cross-sectional study with data collected directly from the participants, throu- gh the application of a questionnaire. Methods: Once the data was collected, the bivariate logistic regression was used to calculate the odds ratio (OR) and the 95% confidence interval (CI) between the independent variables and the risk behavior, which corresponded to the non-daily use of sunscreen and/or other photoprotection method. The sample consisted of 200 students – of which 50% studied mathematical sciences and 50% studied biological sciences. Results: There was no significant difference between the students' behavior according to the different science field they were studying. Women presented lower risk behavior as compared to men (OR = 0.07; CI 95% = 0.01 - 0.56). Conclusions: Most university students do not protect themselves adequately when exposed to the sun, with this risk behavior being lower in women. Actions aimed at photo-educating students are important. Keywords: Disease prevention; Skin; Solar radiation; Students Importância da fotoeducação para universitários 47 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeirov.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 46-50. INTRODUÇÃO Os casos de carcinoma cutâneo têm aumentado em todo o mundo, fato que representa alto custo social e financeiro para as pessoas e para os sistemas de saúde.1-3 O reconhecimento desse impacto cada vez maior vem determinando a necessidade de aprimorar estratégias de saúde economicamente eficazes para prevenir a doença e suas complicações.1-3 A etiologia do câncer de pele está relacionada, principalmen- te, ao aumento da exposição ao sol, o que ocorre significativamente na infância.3-8 Os efeitos da exposição à radiação ultravioleta represen- tam fator de risco bem estabelecido para câncer de pele e fotoenve- lhecimento. A exposição ao sol durante as primeiras décadas de vida aumenta a vulnerabilidade aos efeitos nocivos da radiação.3-8 Considerando a expectativa de vida de 78 anos, 23% da radiação ultravioleta a que uma pessoa se submete ocorre até os 18 anos, 46% até os 40 anos e 74% até os 59 anos de idade.9 Orientações sobre fotoeducação devem incluir jovens, crianças e seus cuidadores, para que adquiram hábitos saudáveis e cons- cientes, e, assim, reduzam o risco de desenvolvimento de algum problema tardio devido à exposição solar irresponsável.10,11 A fo- toeducação é importante para a manutenção da saúde da popu- lação adulta, principalmente pelo fato de os danos causados pelos raios ultravioletas serem cumulativos ao longo da vida.10 Além disso, jovens costumam expor-se excessivamente à radiação solar, posto que passam bastante tempo ao ar livre. É im- portante, portanto, conhecer o comportamento dos universitários a fim de promover sua conscientização, pois, se a fotoproteção for inadequada, constituirá fator de risco ao câncer de pele.12,13 Este estudo teve como objetivo investigar as práticas de exposição e proteção solar e fatores associados em estudantes universitários de Campinas, São Paulo, Brasil. MÉTODOS Delineamento Trata-se de estudo transversal realizado com estudantes de graduação da Universidade Estadual de Campinas (UNI- CAMP) em 2016. Contexto A UNICAMP é universidade pública localizada no in- terior de São Paulo, Brasil. Os participantes da pesquisa eram alunos de graduação dos cursos de farmácia, biologia, medicina, engenharia de alimentos, estatística, ciclo básico integrado, quí- mica, engenharia química, engenharia mecânica e licenciatura integrada química e física. As entrevistas ocorreram nos meses de abril, junho, setembro, outubro e novembro de 2016 nos turnos da manhã e da tarde nas dependências da universidade. Participantes Foram considerados elegíveis universitários dos cursos de exatas e biológicas/saúde de qualquer idade e de ambos os sexos. Os participantes foram selecionados por amostragem de conve- niência no período em que a entrevistadora se encontrava no local de recrutamento. Variáveis Foram coletadas variáveis demográficas e de conheci- mento sobre fotoproteção, incluindo: gênero (masculino ou fe- minino), idade (em anos, categorizada posteriormente em 17- 18; 19-20 e >21anos), uso de filtro solar diariamente e quando exposição proposital (nunca, às vezes, sempre), uso de outros meios de fotoproteção diariamente e em exposição proposital (sim ou não), meios de fotoproteção além do filtro solar (sim ou não e resposta descritiva em caso de sim), exposição em câmara de bronzeamento artificial (nunca, uma ou mais vezes), conhe- cimento sobre quanto aplicar do produto e sobre a diferença da radiação ultravioleta A e B, opinião sobre bronzeado ser saudável (sim ou não e resposta descritiva em caso de sim) e o uso de filtro solar em dias nublados (sim ou não). Fontes de dados, mensuração e controle de qualidade Os dados foram coletados diretamente com os partici- pantes, por meio de questionário em papel aplicado pela entre- vistadora, acadêmica de graduação em farmácia. O questionário semiestruturado foi elaborado com base em estudos anteriores4 e composto por questões de identificação (nome, universidade, curso, sexo e idade) e questões abertas e fechadas sobre o com- portamento quanto à fotoproteção. A conclusão do estudo apontou comportamento de risco com relação à proteção solar dos entrevistados, definido como respostas “às vezes” ou “não” nas questões fechadas que avaliavam o uso do filtro solar ou outros meios de fotoproteção diariamen- te, na exposição proposital e em dias nublados e na exposição em câmara de bronzeamento artificial. A ausência de resposta nas perguntas sobre o uso e a descrição de outros meios de fotopro- teção, além da formulação fotoprotetora, foi considerada “não”. As perguntas abertas foram utilizadas para avaliar o co- nhecimento dos participantes sobre a quantidade necessária de formulação fotoprotetora que deve ser aplicada, bem como o conhecimento da diferença e da importância da proteção contra os raios ultravioleta A e B. Após coleta de dados, as respostas obtidas foram tabula- das em planilhas do Microsoft Excel pela própria entrevistadora, com revisão posterior da digitação. Tamanho do estudo Não foi realizado cálculo do tamanho da amostra, sendo estipulado mínimo de 100 participantes de cada área de conhe- cimento (exatas e biológicas). Métodos estatísticos Inicialmente foi realizada estatística descritiva, obtendo as frequências absolutas e relativas de cada variável. Foi calculada a regressão logística bivariada para estimar a razão de chances (oddsratio, OR) e o intervalo de confiança de 95% (IC 95%) en- tre o comportamento de risco de proteção solar e as variáveis independentes. Adotou-se o nível de p < 0,05 para definir sig- nificância estatística. Aspectos éticos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui- sa da Universidade Federal de São Paulo, pelo parecer número 1.192.131 e certificado de apresentação para apreciação ética número 46273415.8.0000.5505. Todos os participantes foram orientados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido confirmando a 48 Ferreira CN, Galvão TF, Mazzola PG, Leonardi GR Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 46-50. concordância em participar da pesquisa. RESULTADOS Foram entrevistados 200 universitários, sendo 75,5% do sexo feminino, 50% da área de exatas e 50% da área da saúde e biológicas, e mais da metade (59%) com idade de até 20 anos. A prevalência do comportamento de risco com relação à proteção solar entre esses universitários foi 83% (IC 95%: 77,7- 88,3%); nenhum acadêmico sabia a diferença entre os raios ul- travioleta A e B, 96% deles desconheciam a quantidade correta de filtro solar que deve ser aplicada, e 23% acreditavam que o bronzeado da pele é algo saudável, tendo a maioria dos sujeitos o relacionado à síntese de vitamina D (Tabela 1). O uso de outros meios de fotoproteção corresponde a 15,5% diariamente e 47,5% quando de exposição proposital. Além disso, 80% e 16% não utilizam o filtro solar nessas mesmas situa- ções, e 67% não o utilizam em dias nublados (Tabela 1). Nenhum dos participantes submeteu-se à câmara bronzeadora artificial. O uso de óculos de sol foi o meio de fotoproteção, além do filtro solar, mais citado (54,3%) para proteção diária, seguido pela opção de manter-se à sombra ou não se expor (11,4%). Em situações esporádicas de exposição proposital, 37,8% relataram o uso de boné ou chapéu, 32,4% de óculos de sol, e 18,9% de guarda-chuva ou guarda-sol (Tabela 2). O gênero mostrou-se associado ao comportamento de risco, que foi significativamente menor entre as mulheres OR = 0,07 (IC95%: 0,01-0,56). Idade, área da graduação, co- nhecimento da diferença entre raios ultravioleta A e B, conside- rar bronzeado saudável e saber quanto aplicar de filtro solar não se associaram ao comportamento de risco de exposição solar (Tabela 3). DISCUSSÃO Neste estudo mais de 80% dos universitáriosentrevistados apresentaram comportamento de risco com relação à exposição solar. Entre os homens esse comportamento foi significativamente maior. O culto ao corpo, a prática de atividade física ao ar livre e a valorização estética do bronzeado podem levar os jovens à ex- posição solar prolongada e, muitas vezes sem proteção adequada. Este estudo apresentou limitações como a amostra por conve- niência, falta de informações socioeconômicas e emprego de questio- nário não validado, o que reduz a extrapolação dos resultados. Outros estudos também relatam a baixa adesão diária de filtro solar em jovens universitários. Na Arábia Saudita em estu- do transversal com 2.622 pessoas em 2010 e 2011, AlGhamdi et al.3 relataram que 23,7% (do total de 2.566) dos jovens usavam filtro solar diariamente.3 No estudo transversal analítico em uma universidade brasileira na região Centro-Oeste, Castilho, Sousa e Leite13 relataram que cerca de 25% dos 308 jovens entrevistados aplicavam filtro solar diariamente. Em contraste com esses resultados, em pesquisa realizada na Região Metropolitana de Porto Alegre foi verificada a adesão ao filtro solar por 85% dos 1.030 entrevistados em 2001.12 Na Itália aplicaram-se questionários a estudantes entre 11 e 16 anos, observando-se que 91% dos 379 adolescentes afirmam utilizar Tabela 1: Características da população entrevistada e frequência das variáveis individuais que compuseram o desfecho Variável N % Características demográficas Gênero Masculino 49 24,5 Feminino 151 75,5 Idade (anos) 17-18 36 18 19-20 82 41 >21 82 41 Área da graduação Exatas 100 50 Saúde e biológicas 100 50 Hábitos diários de proteção solar Filtro solar Não 160 80 Sim 40 20 Outros meios Não 169 84,5 Sim 31 15,5 Filtro solar em dias nublados Não 134 67 Sim 66 33 Hábitos de proteção solar em exposição proposital Filtro solar Não 32 16 Sim 168 84 Outros meios Não 105 52,5 Sim 95 47,5 Conhecimento em fotoeducação Sabe diferenciar radiação ultravioleta A e B Não 200 100 Sim 0 - Sabe quanto aplicar de filtro solar Não 192 96 Sim 8 4 Considera bronzeado saudável Não 154 77 Sim 46 23 o filtro solar, mas apenas 50,4% o reaplicam. A necessidade da aplicação do filtro solar quando a exposição ao sol é proposital, excluindo estar na praia, foi questionada, e 52% acreditavam que esse uso não seria necessário.7 Neste estudo, a adesão por outros meios de fotoproteção foi de 15,5% diariamente e 47,5% quando em exposição proposi- Importância da fotoeducação para universitários 49 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 46-50. Tabela 2: Descrição dos meios de fotoproteção utilizados, excluindo-se a aplicação de filtro solar, diariamente e em exposição proposital Meios citados Uso diário Uso esporádico N % N % Boné/chapéu 3 8,6 56 37,8 Guarda-chuva/sol 3 8,6 28 18,9 Maquiagem 3 8,6 1 0,7 Roupas 3 8,6 9 6,1 Sombra/não se expor 4 11,4 4 2,7 Óculos de sol 19 54,3 48 32,4 Protetor labial 0 - 2 1,4 Tabela 3: Razão de chance (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC 95%) do comportamento de risco pelas variáveis do estudo Variável OR (IC 95%) Valor p Características demográficas Sexo Masculino 1 Feminino 0,07 (0,01-0,56) 0,012 Idade (anos) 17-18 1 19-20 1,84 (0,67-5,06) 0,235 >21 1,28 (0,49-3,35) 0,620 Área Exatas 1 Biológicas 0,75 (0,36-1,58) 0,452 Conhecimento em fotoeducação Considera bronzeado saudável Não 1 Sim 1,90 (0,69-5,24) 0,213 Sabe quanto aplicar de filtro solar Não 1 Sim 0,60 (0,12-3,11) 0,543 tal. Em contraste, na Arábia Saudita, 81,5% relatam usar óculos de sol, 95% roupas compridas, 90% bonés ou chapéus, e 97,9% bus- cam sombra para se proteger do sol.3 Na Alemanha, em pesquisa realizada em 2015 por telefone com adolescentes e adultos a res- peito do comportamento relativo à proteção solar, encontrou-se que o meio de fotoproteção mais utilizado era roupa com mangas compridas, referida por 54% dos 3.000 entrevistados, e o menos utilizado foi chapéu, usado por apenas 18% do total dos entrevis- tados.8 Na China verificou-se que as mulheres preferiam o uso do guarda-sol e do filtro solar para se proteger, enquanto os homens optavam por vestir roupas com mangas compridas e reduzir a ex- posição ao sol; sendo, em ambos os sexos, menor a preocupação quando se tratava da proteção dos olhos.14 A influência do gênero no comportamento de risco tam- bém foi relatada em estudos realizados no Brasil (Porto Alegre, Piauí, Curitiba) e em outros países (Austrália, Arábia Saudita, Alemanha e China), onde as mulheres apresentaram melhores hábitos de fotoproteção e a não utilização do filtro solar foi maior em homens.2,3,8,12,14-16 Poucos participantes souberam dizer a quantidade cor- reta que deve ser aplicada de filtro solar. Estudo realizado na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, com 200 volun- tários comprovou que a quantidade aplicada de formulação fo- toprotetora influencia sua eficácia. Quanto menor a quantidade aplicada, menor é a proteção, o que evidencia a necessidade do conhecimento a respeito da quantidade correta a ser utilizada.17 Nenhum dos universitários entrevistados conhecia a di- ferença entre as radiações ultravioleta A e B. O fator de proteção solar (número do FPS) citado na embalagem em produtos foto- protetores refere-se apenas à proteção contra os raios ultravioleta B, que podem ocasionar vermelhidão, dor, manchas, descama- ção.1,16 É necessário que o consumidor busque também a prote- ção contra os raios ultravioleta A, que contribuem de forma mais significativa para a imunossupressão e o envelhecimento precoce, ressecando a pele e danificando sua elasticidade.1,16 Boa parte dos universitários que consideram saudável a pele bronzeada relatou a importância do sol para a síntese de vitamina D, que ocorre por fotólise na epiderme através da ação da radiação ul- travioleta B sobre o ergosterol e o colesterol.18 A falta de exposição solar pode gerar deficiência na síntese de vitamina D,19 porém essa exposição deve ser responsável, ou seja, devem ser adotadas medi- das de fotoproteção para que os benefícios dessa exposição sejam aproveitados, minimizando os malefícios. Em estudo realizado na China, foi exposta a importância do sol para a síntese da vitamina D, verificando-se também que os homens possuíam a crença de que pele bronzeada é mais saudável e atrativa, enquanto as mulheres acreditavam que pessoas bronzeadas parecem mais envelhecidas.14 Nenhum dos participantes se submetera a exposição em câmara bronzeadora artificial. Esse resultado pode ser fruto da cons- cientização dos perigos desse método e da dificuldade de acesso em decorrência de medidas regulatórias. Em Taguatinga (Distrito Federal, Brasil), esse hábito foi relatado por 3,5% de 202 mulheres estudantes em 2007, próximo aos 4,5% dos 379 adolescentes en- trevistados na Itália em 2010, que afirmaram fazer uso da câmara bronzeadora e dos 7,4% desse mesmo estudo, que julgaram ser se- guro realizar o bronzeamento artificial antes da exposição solar.7,13 A área de graduação não influenciou o comportamento de risco dos universitários, semelhante a estudo prévio realizado em Curitiba com 398 acadêmicos de medicina em 2012 que haviam cursado ou não a disciplina de dermatologia.16 Contrariando esses resultados, estudo transversal também com 398 universitários bra- sileiros em Teresina, Piauí, em 2011 observou que acadêmicos da área da saúde possuíam melhores hábitos de fotoproteção.15 Estudos australianos com 101.449 adolescentes entrevis- tados em 1993, 1996, 1999 e 2002 observaram que os cuida- dos relacionados à exposição solar diminuíram com o passar dos anos.6 Um estudo na Alemanha também constatou ser mais ele- vado o comportamentode risco dos participantes mais novos.8 Na Arábia Saudita verificou-se que os jovens empregados ou estudantes abaixo de 30 anos usavam mais protetor solar do que os desempregados e acima dos 30 anos.3 50 Ferreira CN, Galvão TF, Mazzola PG, Leonardi GR Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 46-50. Os participantes deste estudo demonstraram alto com- portamento de risco, evidenciando a carência da difusão da foto- proteção. Nos Estados Unidos também levantou-se a necessidade da adoção da fotoproteção, pois verificou-se que a proteção solar era incomum nas escolas de todos os níveis, mas principalmente menos adotada pelos estudantes do ensino médio.5 Um exemplo bem-sucedido da disseminação de conhe- cimento acerca do tema foi a intervenção realizada na Austrália entre 1992 e 1996, a respeito do uso diário de filtro solar para a prevenção do câncer da pele. Em estudo posterior, de 1997 a 2002, os participantes mostraram maior adesão à aplicação de formulação fotoprotetora e comportamento mais seguro em re- lação à exposição solar.2 Devido às características geográficas e às tendências cul- turais, os brasileiros estão entre os povos que anualmente mais se expõem ao sol.20 Logo, medidas de fotoeducação devem ser es- timuladas e divulgadas no Brasil a fim de se prevenir o desenvol- vimento de danos actínicos agudos e crônicos, principalmente porque os dados epidemiológicos apontam aumento contínuo na incidência de câncer de pele. CONCLUSÃO O comportamento de risco quanto à proteção solar é alto entre os universitários e é mais comum entre os homens. Os estudantes possuem baixo conhecimento em fotoproteção. Atividades de fotoeducação são importantes para os jovens. l AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida à autora Caroline Nunes Ferreira. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Caroline Nunes Ferreira | 0000-0002-1679-8921 Obtenção, análise e interpretação dos dados, elaboração e redação do texto. Tais Freire Galvão | 0000-0003-2072-4834 Análise estatística, auxílio na redação, revisão crítica e aprovação da versão final. Priscila Gava Mazzola | 0000-0002-3795-8189 Revisão da literatura e do texto. Gislaine Ricci Leonardi | 0000-0002-7126-1326 Aprovação da versão final, concepção e planejamento do estudo, elaboração e redação do texto, participação efetiva na orientação da pesquisa, revisão crítica da literatura e do texto. REFERÊNCIAS 1. Sgarbi FC, do Carmo ED, Rosa LFB. Radiação ultravioleta e carcinogêne- se. Rev Ciênc Méd. 2007;16(4-6):245-0. 2. van der Pols JC, Williams GM, Neale RE, Clavarino A, Green AC. Long-term increase in sunscreen use in an Australian community after a skin cancer prevention trial. Prev Med. 2006;42(3):171-6. 3. AlGhamdi KM, AlAklabi AS, AlQahtani AZ. Knowledge, attitudes and practices of the general public toward sun exposure and protection: A national survey in Saudi Arabia. Saudi Pharm J. 2016;24(6):652-7. 4. Leonardi GR, Banin TM, Corazza FG, Fegadolli C. Education about pro- tection against solar radiation for teachers teaching young children: a contribution to promote school health. Biomed Biopharm Res. 2014;2(11):179-9. 5. Jones SE, Guy GP Jr. Sun Safety Practices Among Schools in the United States. JAMA Dermatol. 2017;153(5):391-7. 6. Livingston PM, White V, Hayman J, Dobbinson S. Australian ado- lescents' sun protection behavior: who are we kidding? Prev. Med. 2007;44(6):508-2. 7. de Giorgi V, Gori A, Grazzini M, Janowska A, Rossari S, Papi F, et al. Sun exposure and children: what do they know? An observational study in an Italian school. Prev Med. 2011;52(2):186-7. 8. Görig T, Diehl K, Greinert R, Breitbart EW, Schneider S. Prevalence of sun protective behavior and intentional sun tanning in German adoles- cents and adults: results of a nationwide telephone survey. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2018;32(2):225-5. 9. Godar DE, Urbach F, Gasparro FP, van der Leun JC. UV Doses of Young Adults. Photochem Photobiol. 2003;77(4):453-7. 10. Criado PR, Nakano de Melo JN, Prado de Oliveira ZN. Fotoproteção tópi- ca na infância e na adolescência. J Pediatr. 2012;88(3):203-0. 11. Çelik S, Ilçe A, Andsoy II. Knowledge and protective behaviors about skin cancer among nursing students in the west black Sea Region of Turkey. J Cancer Educ. Forthcoming 2017. 12. Costa FB, Weber MB. Evaluation of solar exposure and sun-protection behaviors among university students in the.Metropolitan Region of Porto Alegre, Brazil. An Bras Dermatol. 2004;79(2):149-5. 13. Castilho IG, Sousa MAA, Leite RMS. Photoexposure and risk factors for skin cancer: an evaluation of behaviors and knowledge among univer- sity students. 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Schalka S, Steiner D, Ravelli FN,. Steiner T, Terena AC, Marçon CR, Et al. Brazilian Consensus on Photoprotection. An Bras Dermatol. 2014;89(6 Suppl 1):1-75. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 51-4. 51 Artigo Original Autores: Sandra Tagliolatto1 Gabriela Nero Mitsuushi1 1 Dermoclínica – Dermatologia e Laser - Campinas (SP), Brasil. Correspondência: Sandra Tagliolatto Rua Luzitana, 740 - 4º andar Bosque 13015 121 - Campinas - SP, Brasil E-mail: dermoclinica@dermoclinica. med.br Data de recebimento: 14/01/2018 Data de aprovação: 04/03/2018 Trabalho realizado em Dermoclínica – Dermatologia e Laser, Campinas – SP, Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. Conflito de Interesses: Nenhum. Estudo comparativo entre dois anestésicos tópicos em procedimentos dermatológicos Comparative study between two topical anesthetics in dermatological procedures DOI:http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011136 RESU MO Introdução: A dor durante a execução dos procedimentos dermatológicos é um desafio na prática médica. Vários anestésicos tópicos estão disponíveis para ser utilizados previa- mente aos tratamentos minimamente invasivos. Objetivo: Avaliar a eficácia do uso do anestésico tópico na redução da dor durante a exe- cução de procedimentos dermatológicos e comparar a eficácia de dois deles, utilizando a escala visual numérica de dor. Métodos: 25 pacientes foram submetidos a procedimentos dermatológicos faciais após a aplicação da preparação comercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% em uma hemiface e preparação comercial de lidocaína 4% em outra hemiface. A intensidade da dor foi avaliada por escala visual numérica de dor (EVN) no final do procedimento. Resultados: 84% dos pacientes referiram escore de dor menor na hemiface que recebeu preparação comercial de lidocaína e tetracaína a 7%. A média dos escores de dor nas hemi- faces que receberam preparação comercial de lidocaína 4% foi de 7,3, enquanto naquelas que receberam preparação comercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% foi de 5,3. Conclusões: Anestésicostópicos são eficazes e seguros para diminuição da dor em pro- cedimentos dermatológicos, sendo que a preparação comercial de lidocaína e tetracaína a 7% foi mais eficaz na redução da dor do que a preparação comercial de lidocaína 4%. Palavras-chave: Anestesia; Anestesia local; Percepção da dor; Procedimentos cirúrgicos dermatológicos; Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos; Tratamento preliminar ABSTRACT Introduction: Managing pain during the performance of dermatological procedures is a challenge. Several topical anesthetics are available for use prior to carrying out minimally invasive treatments. Objective: To evaluate the efficacy of topical anesthetics for reducing the pain during dermatological procedures and to compare the effectiveness of two different anesthetics using a visual numeric pain scale. Methods: Twenty-five patients underwent facial dermatological procedures after the application of two commercial preparations: one containing 7% lidocaine and 7% tetracaine (applied in one hemi- face) and the other containing 4% lidocaine. Each of the preparations was applied in one hemiface. Pain intensity was assessed using the Visual Numeric Pain Scale (VNS) at the end of the procedure. Results: Eighty-four percent of the patients reported a lower pain score in the hemiface that received the commercial preparation containing 7% lidocaine and 7% tetracaine. The mean pain score in the hemifaces that received the 4% lidocaine preparation was 7.3, while that computed for the hemifaces that received the 7% lidocaine and 7% tetracaine preparation was 5.3. Conclusions: Topical anesthetics are effective and safe for pain reduction in dermatological procedu- res, with the commercial preparation containing 7% lidocaine and 7% tetracaine was more effective than the one containing 4% lidocaine. Keywords: Anesthesia; Anesthesia, local; Dermatologic surgical procedures; Minimally invasive surgical procedures; Pain perception; Pretreatment INTRODUÇÃO É notável o aumento na demanda e na realização de procedimentos dermatológicos cosmiátricos; um desafio para sua realização, entretanto, é a dor. Isso levou a aumento da necessi- dade do uso de anestésicos tópicos eficazes e seguros, garantindo maior conforto ao paciente e assegurando melhores resultados.1,2 Há diversos anestésicos tópicos disponíveis no mercado brasileiro, tais como preparação comercial de lidocaína 2,5% e prilocaína 2,5% (Emla® AstraZeneca do Brasil Ltda, São Paulo, Brasil),3 preparação comercial de lidocaína 4% (Dermomax® Aché laboratórios farmacêuticos, São Paulo, Brasil)4 e preparação co- mercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% (Pliaglis® Galderma Brasil Ltda, São Paulo, Brasil).5 O objetivo deste trabalho foi comparar a eficácia de dois anestésicos tópicos, preparação comercial de lido- caína 4% (Dermomax®) e preparação comercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% (Pliaglis®), avaliando os escores de dor em pacientes submetidos a diversos tipos de procedimentos dermatológicos. MÉTODOS Estudo-piloto, prospectivo e comparativo no mesmo pa- ciente. 25 pacientes de uma clínica privada em Campinas (SP) foram submetidos a procedimentos dermatológicos diversos – laser de CO 2 fracionado (SmartXide®, Deka Medical Lasers, Florença, Itália), luz intensa pulsada (todos os comprimentos de onda – Harmony XL®, LBT Lasers, São Paulo, Brasil), in- fravermelho (Cutera xeo®, ponteira Titan®, Califórnia, EUA), radiofrequência (Reaction®, Viora Medical Solutions, Israel), laser q-switched para remoção de pigmento das sobrancelhas e aplicação intradérmica de ácido hialurônico. Todos os pacientes eram do sexo feminino, com idades entre 25 e 71 anos (média de 48,6 anos). 30 minutos antes do procedimento, foi aplicada uma espessa camada de preparação comercial de lidocaína 4% (Dermomax® Aché laboratórios farmacêuticos, São Paulo, Brasil) em uma das hemifaces esco- lhida de maneira aleatória e contralateralmente foi aplicada pre- paração comercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% (Pliaglis® Galderma Brasil Ltda, São Paulo, Brasil). O estudo foi cego para os pacientes. Os parâmetros utilizados em cada procedimento foram iguais nas hemifaces. A intensidade da dor foi avaliada pela escala visual numérica de dor (EVN) no final do procedimento (Figuras 1), considerando-se zero a ausência de dor e dez a dor máxima.6,7 As orientações éticas da Declaração de Helsinki foram adotadas neste estudo. RESULTADOS 80% (20/25) dos pacientes referiram melhor analgesia no lado em que foi aplicada a preparação comercial de lidocaína e tetracaína em quantidades iguais de 7%; 12% (3/25) dos pa- cientes relataram escores iguais de dor; e 8% (2/25) referiram dor levemente menor na hemiface em que recebeu preparação comercial de lidocaína 4%, conforme tabela 1. A média dos escores das hemifaces em que foi aplicada a preparação comercial de lidocaína 4% (Dermomax®) foi de 7,4, Tabela 1: Número e percentual de pacientes com menor ou igual escore de dor com cada anestésico avaliado N % Número total de pacientes avaliados 25 100 Pacientes cujo escore de dor foi menor na hemiface com lidocaína e tetracaína a 7% 20 80 Pacientes cujo escore de dor foi menor na hemiface com lidocaína 4% 2 8 Pacientes cujo escore de dor foi igual nas hemifaces 3 12 enquanto a média das hemifaces em que foi aplicada preparação comercial de lidocaína 7% e tetracaína 7% (Piaglis®) foi de 5,3, conforme tabela 2. Os dois pacientes que relataram valores iguais na escala de dor (pacientes 12 e 24, conforme Tabela 1) referiram notas altas na escala de dor, respectivamente 8 e 9 em escala que co- loca dor máxima como 10. Ainda em relação à comparação dos dois anestésicos, tivemos casos, como os pacientes 15 e 22, que relataram grande diferença em relação à avaliação do efeito de analgesia quando comparadas as duas hemifaces (Tabela 1). Cha- mamos a atenção também para a paciente 16, que referiu dor máxima (nota 10) na realização do procedimento laser de CO 2 fracionado na hemiface em que foi aplicado o anestésico à base de lidocaína e nota 7,5 na hemiface comparativa, em que foi aplicado o anestésico que contém lidocaína em maior concen- tração e associação com tetracaína, o que nos permite inferir um efeito importante na analgesia patrocinada pelo produto com associação dos anestésicos. Somente dois pacientes relataram dor maior na hemiface em que foi aplicada a preparação comercial de lidocaína e tetracaína a 7%, porém cabe ressaltar que a dife- rença foi pequena em relação ao lado comparativo em que foi utilizado o anestésico contendo apenas a lidocaína a 4% (pacien- tes 11 e 18, diferença de 1 ponto). Não ocorreram efeitos colaterais significativos. DISCUSSÃO A dor ainda é fator limitante na execução de diversos procedimentos dermatológicos. Com o advento dos anestésicos tópicos, tais procedimentos se tornaram mais plausíveis na práti- ca clínica, sem a necessidade de se recorrer à anestesia infiltrativa, bloqueios ou sedação.1,2,8 Os anestésicos tópicos são eficazes e seguros para muitos procedimentos dermatológicos, tais como lasers ablativos e não ablativos, injeções de preenchedores e toxina botulínica, radio- frequência, infravermelho e luz intensa pulsada, com baixo risco de efeitos adversos.8-10 Esses agentes atuam nas terminações nervosas dérmicas, diminuindo a transmissão dos impulsos nervosos aferentes.11,12 O anestésico tópico interage com os canais de sódio das termi- nações nervosas, bloqueando seu influxo. O limiar de excitação aumenta e reduz gradualmente a deflagração do potencial de ação e a condução do impulso nervoso. Porém, para que isso ocorra, os anestésicos locais devem difundir-se através da camada Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 51-4. 52 Tagliolatto S, Mitsuushi GNAnestésicos tópicos em procedimentos dermatológicos 53 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 51-4. Tabela 2: Resultados obtidos Paciente Procedimento feito Nota, segundo escala de dor, na hemiface em que foi utilizado o anestésico à base de lido caína e tetracaína a 7% Nota, segundo escala de dor, na hemiface em que foi utilizado o anestésico à base de lidocaína 4% Paciente 1 20 80 Skinbooster 5 5 Paciente 2 3 12 Infravermelho 6,5 8 Paciente 3 Radiofrequência 3 4 Paciente 4 Laser de CO2 fracionado 5 9 Paciente 5 Laser de CO2 fracionado 4 8 Paciente 6 Laser de CO2 fracionado 3 8 Paciente 7 Laser de CO2 fracionado 6 7 Paciente 8 Laser de CO2 fracionado 6 7 Paciente 9 Laser de CO2 fracionado 2 3 Paciente 10 Laser de CO2 fracionado 5 7 Paciente 11 Laser de CO2 fracionado 8 9 Paciente 12 Laser de CO2 fracionado 8 8 Paciente 13 Laser de CO2 fracionado 5 7 Paciente 14 Laser de CO2 fracionado 6 8 Paciente 15 Laser de CO2 fracionado 1 8 Paciente 16 Laser de CO2 fracionado 7,5 10 Paciente 17 Laser de CO2 fracionado 5 7 Paciente 18 Laser de CO2 fracionado 7 6 Paciente 19 Luz intensa pulsada 5 7 Paciente 20 Laser de CO2 fracionado 6 8 Paciente 21 Laser de CO2 fracionado 6,5 8 Paciente 22 Laser de CO2 fracionado 2 8 Paciente 23 Laser de CO2 fracionado 7 9 Paciente 24 Laser de CO2 fracionado 9 9 Paciente 25 Laser de CO2 fracionado 4 7 MÉDIA 5,3 7,4 à redução da dor relatada durante a execução do procedimento dermatológico, indicada na escala visual numérica de dor (Figura 1); apresentando diferença de dois pontos quando comparada com a outra formulação contendo apenas a lidocaína a 4% Três pacientes referiram escores iguais para os dois produtos. Também vale ressaltar que nos dois únicos pacientes que relataram dor maior com o uso da associação de lidocaína com tetracaína, a diferença foi pequena em relação ao lado comparativo em que foi utilizado o anestésico contendo apenas a lidocaína a 4%. CONCLUSÃO Neste estudo foi possível constatar, pela escala de dor, que o creme constituído de lidocaína e tetracaína em quantidades iguais a 7% foi, na maior parte dos pacientes avaliados, mais efi- caz na analgesia da face durante a execução de diversos tipos de tratamentos dermatológicos do que o produto composto por lidocaína 4%. l REFERÊNCIAS 1. Froes GC, Otoni FA, Gontijo G. Topical anesthetics. Surg Cosmet Derma- tol. 2010; 2(2) 111-16. 2. Bastazini Júnior I, Martins ALGP, Alves FS, Nascimento DC. Comparing the pain ratings of two topical lidocaine preparations. Surg Cosmet Dermatol. 2011; 3(1):28-30. 3. Astrazeneca.com.br [Internet]. Bula Emla® AstraZeneca do Brasil Ltda, São Paulo, Brasil. [acesso 10 Mar 18]. Disponível em: https://www.astrazeneca. com.br/content/dam/az-br/Medicine/medicine-pdf/Emla_Paciente.pdf 4. Aché.com.br [Internet]. Bula Dermomax® Aché laboratórios farmacêu- ticos, São Paulo, Brasil. [acesso 10 Mar 18]. Disponível em: http://www. ache.com.br/produtos/dermatologicos/dermomedicamentos/dermo- max-346/ 5. Galderma.com.br [Internet]. Bula Pliaglis® Galderma Brasil Ltda, São Paulo, Brasil. [acesso 10 Mar 18]. Disponível em: http://www.galderma. com.br/Portals/0/images/2015/BULAS/Bula%20pliaglis%20profissio- nal.pdf 6. Pereira LV, Pereira GA, Moura LA, Fernandes RR. Pain intensity among institutionalized elderly: a comparison between numerical scales and verbal descriptors. Rev Esc Enferm USP. 2015; 49(5):804-10. 7. Tandon M, Singh A, Saluja V, Dhankhar M, Pandey CK, Jain P. Validation of a new "Objective Pain Score" Vs. "Numeric Rating Scale" for the evaluation of acute pain: a comparative study. Anesth Pain Med. 2016; 6(1): e32101. 8. Kouba DJ, LoPiccolo MC, Alam M, Bordeaux JS, Cohen B, Hanke CW, et al. Guidelines for the use of local anesthesia in office-based dermatologic surgery. J Am Acad Dermatol. 2016;74(6):1201-19. 9. Hashim PW, Nia JK, Taliercio M, Goldenberg G. Local anesthetics in cos- metic dermatology. Cutis. 2017;99(6):393-97. 10. Alster TS. The lidocaine/tetracaine peel: a novel topical anesthe- tic for dermatologic procedures in adult patients. Dermatol Surg. 2007;33(9):1073-81. 11. Moraes AM, Pimentel ERA, Sampaio SAP. Topical anethesia in dermato- logical surgery. An Bras Dermatol. 1990; 65(2):65-6. 12. Greveling K, Prens EP, Ten Bosch N, van Doorn MB. Comparison of lido- caine/tetracaine cream and lidocaine/prilocaine cream for local ana- esthesia during laser treatment of acne keloidalis nuchae and tattoo removal: results of two randomized controlled trials. Br J Dermatol. 2017;176(1):81-86. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Sandra Tagliolatto | 0000-0003-2203-0692 Coleta de dados, revisão do texto e submissão do artigo. Gabriela Nero Mitsuushi | 0000-0003-1941-525x Revisão bibliográfica e elaboração do manuscrito. 54 Tagliolatto S, Mitsuushi GN córnea até o interior das fibras nervosas. Capacidade de difusão, potência anestésica, características farmacocinéticas e eventos adversos estão intrinsecamente relacionados com sua estrutura química e propriedades físico-químicas.1,2,9,10,12 Apesar de a sensação de dor constituir sintoma subjetivo de difícil aferição, a escala visual numérica de dor (EVN) já se consagra como um bom parâmetro de quantificação de dor e é largamente utilizada em várias áreas da medicina.6,7 O presente estudo comparou a eficácia no controle da dor de dois anestésicos tópicos: preparação comercial de lidocaína e tetracaína em quantidades iguais a 7% e preparação comercial de lidocaína a 4%. Os escores de dor foram menores na maioria dos pacientes que receberam preparação comercial de lidocaína e tetracaína a 7% (20 pacientes – 80%) e maiores nos pacientes que receberam preparação comercial de lidocaína a 4%. A primeira preparação comercial avaliada foi mais efetiva em 80% dos 25 pacientes participantes deste estudo, em relação Figura 1: Escala visual numérica de dor Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 51-4. 55 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. Artigo Original Autores: Sergio Schalka1 Patrícia Camarano Pinto Bombarda2 Camila Canale3 1 Diretoria, Medcin Pesquisa - Osasco (SP), Brasil. 2 Setor de Gerência, Medcin Pesquisa - Osasco (SP), Brasil. 3 Setor de Eficácia, Medcin Pesquisa - Osasco (SP), Brasil. Correspondência: Sergio Schalka Rua Atílio Delanina, 178 - Vila Campesina 06023 070 - Osasco - SP, Brasil. E-mail: sergio.schalka@medcin. com.br Data de recebimento: 18/12/2016 Data de aprovação: 28/02/2018 Trabalho realizado na Medcin Pesquisa - Osasco (SP), Brasil. Suporte Financeiro: Laboratório Cristália, Itapira – SP, Brasil. Conflito de Interesses: Os autores afirmam não possuir interesses pes- soais, comerciais, acadêmicos, políti- cos ou financeiros neste manuscrito. Composto nutracêutico no tratamento do eflúvio telógeno associado à síndrome das unhas fracas Nutraceutical compound for the treatment of telogen effluvium associated with brittle nails syndrome DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.2018101954 RESU MO Introdução: O uso de produtos nutracêuticos no tratamento do eflúvio telógeno crônico de causa inespecífica, associado ou não a sinais e sintomas de fragilidade da lâmina ungueal, tem sido proposto na literatura. A suplementação de nutrientes e oligoelementos essenciais ao metabolismo do folículo parece ser o mecanismo relacionado a esse efeito. Objetivo: Avaliar a eficácia de nutracêutico contendo, entre outros elementos, vitaminas A, C, E, complexo B, ácido fólico, ferro, niacina, biotina, zinco e pantetonato de cálcio, no tratamento do eflúvio telógeno associado à síndrome das unhas fracas. Métodos: Estudo clínico,prospectivo, aberto e unicêntrico, com avaliação de 62 voluntá- rias. Medidas de avaliação clínica, por fototricograma digital e por imagem, foram realizadas na visita inicial, 45 e 90 dias após o uso do produto estudado. Resultados: Ao final do estudo, observou-se redução estatisticamente significativa (p < 0,05) de 31,56% do número de fios telógenos, acompanhado de melhora significativa nos parâmetros clínicos relacionados aos cabelos e às unhas. A avaliação instrumental por análise de imagens demonstrou redução de 36,63% da descamação das unhas, que, embora não estatisticamente significativa, demonstrou benefícios no resultado absoluto. Conclusões: O uso de produto nutracêutico demonstrou eficácia no tratamento do eflú- vio telógeno associado à síndrome das unhas frágeis. Palavras-chave: Alopecia; Suplementos nutricionais; Unhas ABSTRACT Introduction: The use of nutraceutical products in the treatment of chronic telogen effluvium of non- -specific cause – associated or not with signs and symptoms of nail plate frailty – has been proposed in the literature. Supplementation of nutrients and trace elements that are crucial to follicle’s metabolism seems to be linked to this effect. Objective: To evaluate the efficacy of a nutraceutical containing vitamins A, C, E and B complex, folic acid, iron, niacin, biotin, zinc and calcium pantetonate, among others, in the treatment of telogen effluvium associated with the brittle nails syndrome. Methods: A clinical, prospective, open and monocentric study was carried out with the evaluation of 62 volunteers. Clinical evaluation measurements – based on digital phototrichogram and imaging – were performed at the baseline, and at 45 and 90 days after the use of the studied product. Results: At the end of the study, a statistically significant (p <0.05) reduction of 31.56% in the number of telogen strands could be observed, coupled with a significant improvement in clinical parame- ters related to hair and nails. The instrumental evaluation based on image analysis showed a 36.63% reduction in nail desquamation, which, although not statistically significant, has shown benefits in the absolute outcome. Conclusions: The use of nutraceuticals was proven effective in the treatment of telogen effluvium associated with the brittle nails syndrome. Keywords: Alopecia; Dietary supplements; Nails INTRODUÇÃO Podemos definir os distúrbios do cabelo como quaisquer condições nas quais a cobertura visível dos fios sobre a pele não mais representa os parâmetros normais de seu crescimento.1 Os parâmetros normais de crescimento do cabelo, por sua vez, va- riam conforme gênero, grupo étnico, idade e/ou cultura local.1 A queixa de queda capilar difusa é problema tão comum quanto desafiador para o dermatologista.2 Existem inúmeras causas para o distúrbio, sendo que o eflúvio telógeno (ET) figura entre as mais comuns.2-4 O ET é anormalidade do ciclo capilar que resulta em perda excessiva de fios telógenos.3,4 Sua real incidência é incer- ta, já que muitos casos são subclínicos.3 Causas comuns de ET incluem uso de medicamentos, distúrbios da tireoide e período pós-parto. No entanto, não conseguimos encontrar sua causa em grande parcela dos casos.3-5 A atividade do folículo piloso é cíclica, sendo que os fo- lículos do couro cabeludo ciclam de 10 a 30 vezes durante a vida.3 Em pessoas saudáveis, o cabelo cresce aproximadamente 0,35mm/dia.4,6 A densidade capilar do couro cabeludo é va- riável, sendo que a maioria das pessoas possui entre 100.000 e 150.000 fios.3,7 Podemos perder de 40 a 100 fios de cabelo em um dia normal, e de 200 a 300 fios nos dias em que os lavamos.6 O crescimento do cabelo ocorre na fase anágena; a in- volução, na catágena; e o repouso, na telógena.3,4 A liberação do cabelo “morto” através do folículo (fase exógena) acontece no final da fase telógena ou no início da anágena.3 Com o início de cada fase anágena, um novo fio de cabelo é produzido.3 No couro cabeludo, 86% dos fios estão na fase anágena (que dura de dois a seis anos) e até 13% na fase telógena (que dura de três a seis meses).6 A fase catágena é efêmera, durando de três a seis semanas, sendo que 1% dos fios encontram-se nessa fase.3,4,6 No ET ocorre um desequilíbrio no ciclo capilar, em que um fator desencadeante precipita a passagem simultânea de grande quantidade de fios anágenos para telógenos, que se des- prendem ao mesmo tempo.4 A principal queixa do paciente é a queda de cabelos.4 Diante da queixa, devemos realizar anamnese completa e deta- lhada, interrogando antecedentes familiares, uso de medicações, doenças prévias, cirurgias recentes e dietas restritivas.4,6 Deve- mos solicitar hemograma completo, urina I, ferritina, hormô- nios tireoidianos, dosagem de vitamina D e outras vitaminas, de acordo com a anamnese.7 Dos métodos diagnósticos auxiliares no diagnóstico e acompanhamento do ET, o considerado mais adequado é o fototricograma feito pelo equipamento Trichoscan (TRICHOLOG GmbH, Freiburg, GER). Trata-se de método não invasivo que combina microsco- pia de epiluminescência com análise de imagens digitais auto- máticas para o estudo de importantes parâmetros capilares.7,8. É capaz de analisar: a densidade capilar (n por cm2), o diâmetro do fio (µm), a taxa de crescimento (mm por dia) e a relação anáge- no/telógeno.7,8 É uma opção muito útil nos casos de alopecias difusas, quando precisamos identificar e quantificar a resposta aos tratamentos instituídos. No tratamento do ET, além da eliminação da causa, é de particular importância o suprimento das substâncias envolvidas na formação do fio.9 Como o cabelo está entre os tecidos mais ativos metabolicamente do corpo humano, o estímulo ao metabolismo folicular pode aumentar a resistência do cabelo aos agentes noci- vos externos, além de estimular o crescimento capilar.9 A utilização de suplementação vitamínica e mineral nas patologias capilares é utilizada de longa data com diversos regis- tros na literatura.9,10 Especial atenção é dada aos micronutrientes, termo que inclui elementos-traço minerais, vitaminas e aminoá- cidos. Sendo os fios capilares compostos em 98% de proteínas, presume-se que uma dieta rica em proteínas seja essencial para sua vitalidade. De fato, em estados nutricionais em que há carência na ingesta de proteínas, os fios capilares são claramente afetados. A utilização de vitaminas, especialmente as do complexo B, também é descrita há muito em relatos na literatura, com evi- dências de benefícios no crescimento capilar. Na deficiência da tiamina (Vitamina B1), instala-se o quadro de beribéri, que tem como uma das consequências a formação de fios finos. A vita- mina B5 (ácido pantotênico) é considerada ingrediente que for- nece força e flexibilidade aos fios.9 O zinco é mineral apontado como um dos responsáveis pela repercussão na fragilidade capilar que sucede quadros com deficiência de proteína,9 sendo também essencial para o crescimento dos anexos (cabelos e unhas), já que os folículos capilares mantêm metabolismo celular elevado com maior exigência de aporte de nutrientes. A biotina, ou vitamina H, é cofator de diversas enzimas metabólicas, tendo sido utilizada com sucesso no tratamento de animais com deficiência de cres- cimento de pelos.9 Embora a dose diária recomendada não seja conhecida, há relatos de que sua suplementação traga benefícios ao tratamento das unhas frágeis e de queda de cabelo.9 Diferentes estudos avaliaram o benefício do uso de su- plementação vitamínica no tratamento do eflúvio telógeno, com resultados, positivos.9,10 Por outro lado, a síndrome das unhas frágeis (SUF) é anormalidade heterogênea, caracterizada por aumento da fragi- lidade da lâmina ungueal. Cerca de 20% da população é afetada, e as mulheres duas vezes mais do que os homens.11-13 É frequente a associação entre ETe SUF, normalmente exigindo abordagem conjunta do dermatologista. A maioria dos pacientes experimenta unhas frágeis como problema cosmético significativo e um número substancial in- dica que essas anormalidades são dolorosas, prejudicam as ativi- dades diárias e podem ter impacto negativo sobre habilidades profissionais.11-13 Hidratação e delaminação da lâmina ungueal podem mudar com as estações do ano e podem desempenhar papel significativo em ocupações como as de dona de casa, enferma- gem e cabeleireiro, nas quais as repetitivas imersão e secagem das mãos resultam em contração e expansão da unha, levando a fraturas. Em particular, a exposição ocupacional a produtos químicos, como os tioglicolatos, cimento, solventes, ácidos, ál- calis, anilinas, sal e soluções de açúcar podem dissolver lípidos Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. 56 Schalka S, Bombarda PCP, Canale C Nutracêutico no tratamento de cabelos e unhas 57 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. intercelulares e, portanto, danificar a coesão intercelular provo- cando fraturas.11-13 Além disso, os cosméticos, especialmente os removedores de esmalte de unhas e de cutícula, e procedimen- tos como a excessiva utilização de instrumentos de manicure podem causar fraturas intercelulares. O trauma interativo da unha (por exemplo digitação, telefone de discagem, corte de unhas impróprios, e longa duração das unhas) podem danificar a lâmina ungueal e causar fraturas.11-13 O tratamento da SUF deve considerar o afastamento dos fatores causais e a utilização de nutracêuticos, que tem sido fre- quentemente proposta com bons resultados. O presente estudo avaliou os benefícios da utilização de suplemento alimentar (nutracêutico) no tratamento do ET e na fortificação. MÉTODOS Objetivo do estudo O objetivo deste estudo foi avaliar, de forma aberta, não comparativa, a eficácia e a segurança de composto nutracêutico no tratamento do ET crônico, associado à SUF. População estudada Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), no período de maio a outubro de 2016 foram recrutados e in- cluídos 68 voluntários do sexo feminino com idade entre 18 e 45 anos, com queixa de queda de cabelos difusa e inespecífica asso- ciada à queixa de unhas fracas. Todas as voluntárias expressaram sua vontade em participar do estudo por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes de ser submetidas a quaisquer procedimentos previstos pelo protocolo clínico. Para garantir a elegibilidade das voluntárias, além das características populacionais elas deveriam apresentar, como critério primário de inclusão, taxa de fios telógenos em região centroparietal maior ou igual a 20%, determinada por fototrico- grama, e não poderiam atender a nenhum dos seguintes crité- rios: gestação ou risco de gestação, lactação, presença de alopecia areata ou androgênica, sinais de onicopatias específicas, histórico de carências nutricionais ou alterações hormonais ou qualquer outra condição clínica sistêmica que pudesse alterar o aspecto de cabelos e unhas. Nenhuma dieta alimentar restritiva poderia ter sido começada até três meses antes do início do estudo. Tra- tamentos capilares como alisamentos e tinturas nos últimos três meses também seriam considerados critério de exclusão. Procedimentos metodológicos Avaliação clínica Avaliações clínicas foram realizadas nos tempos inicial (T0), em 45 dias após o início (T45) e em 90 dias após o início (T90), por meio de escala padronizada para avaliação da queda de cabe- los, densidade (cobertura do couro cabeludo), qualidade dos fios (flexibilidade, resistência à tração, quebra das pontas) e de sinais de fraqueza das unhas (separação laminar, separação transversal, estrias e sulcos, separação longitudinal e afinamento ungueal). Foi utili- zada escala de quatro pontos, em que zero representou ausência de alteração e três a alteração máxima em cada critério. Fototricograma (Trichoscan®) A avaliação instrumental por fototricograma é metodo- logia não invasiva, que consiste na captação de imagem de forma padronizada para avaliação do crescimento dos fios capilares. Uma vez definida a localização da área experimental, o equipamento permite realizar as captações das imagens micro, com aumento de lente padronizado em 20 vezes de área de 2cm de diâmetro, com o cabelo raspado. A leitura da imagem micro é realizada pelo software do Trichoscan® Fotofinder (TRICHO- LOG GmbH, Freiburg, GER), equipamento que emite laudo com as seguintes informações: • densidade dos fios: número de fios de cabelo por centímetro quadrado; • fios anágenos: indica o percentual de fios em cresci- mento; • fios telógenos: indica o percentual de fios na fase de queda. Avaliação da descamação ungueal por análise de imagens As imagens das unhas foram registradas utilizando um suporte específico. Cada imagem contém as unhas dos dedos médios, indicador e anelar das duas mãos. Somente uma unha foi escolhida para análise. As imagens foram captadas na visita inicial (antes da uti- lização do produto investigacional) e após 90 dias de estudo (T90), a partir das quais, o software Image Pro Plus® versão 6 (Media Cybernetics, Rockville, EUA) analisou as imagens das unhas, quantificando os pixels claros e relacionando-os ao grau de descamação. O software calculou o histograma acumulado da imagem com descamação. O próximo passo da análise foi o cálculo do ponto de inflexão do histograma determinado pelo ponto de tangência das retas a 45°. Todos os pixels acima do ponto de inflexão foram considerados áreas de descamação. O percentual de descamação foi calculado pela seguinte fórmula: % descamação = 100 * Px / Pt onde: Px = número de pixels acima do ponto de inflexão. Pt = número de pixels total da imagem. Produto estudado O produto nutracêutico (Tacitá® Cristália, Itapira, SP, Brasil) tem em sua composição as vitaminas A, complexo B, C, E, ácido fólico, ferro, niacina, biotina, zinco, pantetonato de cálcio, magnésio, selênio e luteína, entre outros micronutrientes. A tabela 1 apresenta a composição detalhada do produto de estudo. Foram fornecidos pelo patrocinador, para execução dos estudos, 90 cápsulas por voluntária incluída. Cada voluntária foi orientada a ingerir uma cápsula ao dia, durante os 90 dias de estudo. 58 Schalka S, Bombarda PCP, Canale C RESULTADOS A faixa etária das voluntárias incluídas foi de 19 a 45, com média etária de 36 anos. Três voluntárias não retornaram para avaliação final, o que foi considerado perda de seguimento. Quatro voluntárias apresentaram evento adverso durante o estudo, de intensidade leve e de difícil relação com o uso do produto. Três dessas voluntárias foram descontinuadas e seus da- dos não foram considerados nas avaliações de eficácia. Sessenta e duas voluntárias tiveram seus dados considerados população Per Protocol. Avaliação de eficácia O critério primário de eficácia foi definido como sendo a redução do percentual de fios telógenos na avaliação do foto- tricograma pelo Trichoscan®. Critérios secundários de eficácia foram: • Aumento percentual dos fios anágenos pelo fototri- cograma • Aumento da densidade de fios pelo fototricograma • Redução da descamação ungueal pela análise de imagens • Melhora dos parâmetros clínicos para avaliação dos cabelos • Melhora dos parâmetros clínicos para avaliação das unhas O gráfico 1 apresenta a evolução das médias dos parâme- tros: densidade, fios anágenos e telógenos, avaliados inicialmen- te (D0) e após 90 dias de utilização do produto investigacional (D90), por fototricograma. A tabela 2 apresenta os valores numéricos referentes à va- riação percentual dos parâmetros avaliados pelo fototricograma, assim comoa análise estatística, realizada pelo teste t de Student. Em relação ao critério primário de eficácia, podemos constatar que houve redução estatisticamente significativa (p ≤ 0,05) em 31,56% dos fios telógenos, após uso continuado do produto durante 90 dias. Em relação aos critérios secundários de eficácia, avaliados pelo fototricograma, constatamos que houve aumento da densi- dade de fios em 6,74% e aumento de fios anágenos em 19,64%, ambos também estatisticamente significativos (p < 0,05). Na avaliação clínica, e em relação à queda de cabelos, observamos melhora estatisticamente significativa nos três pa- râmetros avaliados (queda de cabelos, qualidade e densidade de fios) ao final de 90 dias. Na avaliação intermediária (45 dias), somente o parâmetro “queda de cabelos” apresentou melhora estatisticamente significativa. A tabela 3 apresenta os resultados da avaliação clínica de parâmetros relacionados aos cabelos. Com relação à avaliação da descamação das unhas pela técnica de imagens, foi observada redução de 36,63% na media- na dos valores de descamação na amostra avaliada, entre o tempo inicial e o final (T90). Apesar dos valores representativos, em decorrência da dispersão da amostra, a análise estatística pelo teste de Wilcoxon não demonstrou diferenças significativas entre o tempo inicial e o final (p > 0,05). Quando, entretanto, observamos os resultados obtidos pela avaliação clínica realizada pelos médicos investigadores, per- cebemos que a melhora foi estatisticamente significativa (p < 0,05) em todos os parâmetros e em todos os tempos experimen- tais, conforme vemos na tabela 4: As figuras 1 e 2 apresentam exemplos dos resultados en- contrados em dois voluntários, por meio de imagens do fototri- cograma e das fotografias de unhas, exemplificando como foram avaliados os critérios de eficácia Tabela 1: Composição do produto do estudo por unidade posológica Ingrediente Concentração % VD Vitamina A 2000UI 100 Vitamina E 14,9UI 100 Ácido fólico 240mcg 100 Biotina 30mcg 100 Niacinamida 16mg 100 Vitamina B1 1,2mg 100 Vitamina B12 2,4mg 100 Vitamina B2 1,3mg 100 Vitamina B6 1,3mg 100 Vitamina C 45mg 100 Ácido pantotênico 5mg 100 Ferro 14mg 100 Mágnésio 130mg 50 Selênio 34mcg 100 Zinco 7mg 100 Tabela 2: Percentual de variação para os tempos experimentais D90-D0 Parâmetro % variação Valor de p Conclusão Densidade 6,74 0,047 Rejeita a hipótese Anágenos 19,64 < 0,001 Rejeita a hipótese Telógenos -31,56 < 0,001 Rejeita a hipótese * Nível de significância: 5% **Hipótese: Não existe diferença entre os tempos experimentais Gráfico 1 - Médias dos parâmetros densidade, fios anágenos e telógeno, antes e após 90 dias de utilização do produto investigacional Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. Nutracêutico no tratamento de cabelos e unhas 59 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. Figura 2: Fotografias clínicas de unhas de dois voluntários do estudo; à esquerda na visita inicial, à direita na visita final DISCUSSÃO A queixa de queda de cabelos e unhas fracas é muito comum no consultório dermatológico, muitas vezes apresenta- da em conjunto e resultando num transtorno psicológico aos pacientes,2 na maior parte mulheres jovens, preocupadas com o efeito estético. Afastadas as causas específicas, o eflúvio telógeno crônico inespecífico e a síndrome das unhas fracas respondem pelo maior contingente de casos.3-5 Após a exclusão de patologias sistêmicas, a introdução de tratamento é mandatória. Nesses casos, a suplementação oral com nutracêuticos específicos para cabelos e unhas é opção bas- tante frequente entre os dermatologistas, trazendo retorno posi- tivo ao paciente.9,10 A combinação de vitaminas e micronutrientes é a alter- nativa mais adequada nessas circunstâncias, promovendo a re- posição de elementos muitas vezes depletados pela alimentação inadequada, mas ainda sem sinais evidentes de carência clinica- mente manifesta.9,10 Compostos nutracêuticos especialmente desenvolvidos para o tratamento de cabelos e unhas conseguem oferecer doses próximas às da ingestão diária recomendada (IDR) de vitaminas, micronutrientes e oligoelementos essenciais no metabolismo de cabelos e unhas.9,10 Tabela 3: Teste de comparação (t-Student) dos tempos experimentais em relação à visita inicial Parâmetro Tempo Variação Valor p Conclusão** Queda dos cabelos D45-D0 54% < 0,001 Rejeita a hipótese* D88-D0 50% < 0,001 Rejeita a hipótese* Densidade dos cabelos D45-D0 17% 0,182 Não rejeita a hipótese* D88-D0 27% 0,017 Rejeita a hipótese* Qualidade dos fios D45-D0 8% 0,373 Não rejeita a hipótese* D88-D0 23% 0,005 Rejeita a hipótese* Tabela 4: Teste de comparação (t-Student) dos tempos experimentais em relação à visita inicial Parâmetro Tempo Variação Valor p Conclusão** Separação lamelar - onicosquizia D45-D0 39% < 0,001 Rejeita a hipótese* D88-D0 49% < 0,001 Rejeita a hipótese* Separação transversal D45-D0 69% 0,018 Rejeita a hipótese* D88-D0 66% 0,036 Rejeita a hipótese* Estrias e sulcos D45-D0 9% 0,034 Rejeita a hipótese* D88-D0 36% 0,006 Rejeita a hipótese* Separação longitudinal D45-D0 65% 0,060 Não rejeita a hipótese* D88-D0 87% 0,022 Rejeita a hipótese Separação e afinamento ungueal D45-D0 53% < 0,001 Rejeita a hipótese* D88-D0 69% < 0,001 Rejeita a hipótese * Hipótese: Não existe diferença entre os tempos ** Nível de significância de 5% * Hipótese: Não existe diferença entre os tempos ** Nível de significância de 5% O nutracêutico avaliado no presente estudo tem o obje- tivo exatamente de propiciar a ingestão adequada desses elemen- tos, prevenindo e tratando os primeiros sinais de eflúvio telóge- no associado à síndrome das unhas fracas. Os resultados obtidos após tratamento de 90 dias foram bastante positivos, mostrando que o produto em teste foi capaz de reduzir estatisticamente o percentual de fios telógenos e, da mes- ma forma, aumentar, de forma também significativa, o percentual de fios anágenos. A reversão do ET é exatamente caracterizada Figura 1: Fototrico- gramas digitais realizados em dois voluntários; as imagens superiores correspondem à visita inicial, as inferiores à visita final; a escala lateral representa a proporção de fios anágenos e telógenos Fase anágena Fase anágena Fase telógena Fase telógena 59,4% 66,8% 40,6% 33,2% 66,5% 33,5% 75,3% 24,7% 60 Schalka S, Bombarda PCP, Canale C por esse efeito, pelo aumento da relação anágeno/telógeno. Além disso, as avaliações clínicas seguiram no mesmo padrão, com resul- tados estatisticamente positivos para os três parâmetros avaliados. Em relação ao tratamento de fortificação das unhas, os resultados obtidos foram também positivos. A avaliação instru- mental por análise de imagens demonstrou redução de 36,63% da descamação das unhas avaliadas e, ainda que não estatistica- mente significativo em decorrência da dispersão dos dados, o resultado absoluto não deixa dúvidas do benefício obtido. Para corroborar essa ação positiva, as avaliações clínicas seguiram o mesmo caminho, com melhoras expressivas para os itens “sepa- ração transversal” e “separação longitudinal”. CONCLUSÃO O uso de associação contendo vitaminas A, complexo B, C, E, ácido fólico, ferro, niacina, biotina, zinco, pantetonato de cálcio, magnésio, selênio e luteína demonstrou capacidade de tratar o ET crônico associado à síndrome das unhas fracas, au- mentando a relação anágeno/telógeno e melhorando o aspecto das unhas afetadas, demonstrando ser opção terapêutica adequa- da no tratamento de cabelos e unhas. l REFERÊNCIAS 1. Breitkopf T, Leung G, Yu M, Wang E, McElwee KJ. The basic Science of hair biology: what are the causal mechanisms for the disorderedhair follicle? Dermatol Clin. 2013;31(1):1-19. 2. Shrivastava SB. Diffuse hair loss in an adult female: Approach to diagnosis and management. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2009;75(1):20-7. 3. Harrison S, Sinclair R. Telogen Effluvium. Clin Exp Dermatol. 2002;27(5):389-95. 4. Mulinari-Brenner FA, Bergfeld WF. Understanding telogen effluvium. An Bras Dermatol. 2002; 77(1):87-94. 5. Mounsey AL, Reed SW. Diagnosing and treating hair loss. Am Fam Phy- sician.2009; 80(4):356-62. 6. Jackson AJ, Price VH. How to diagose hair loss. Dermatol Clin. 2013;31(1):21-8. 7. Hoffmann R. TrichoScan: combining epiluminescence microscopy with digital image analysis for the measurement of hair growth in vivo. Eur J Dermatol. 2001;11(4):362-68. 8. Hoffmann R. Trichoscan: what's new? Dermatology. 2005;211(1):54-62. 9. Finner AM. Nutrition and hair: deficiencies and supplements. Dermatol Clin. 2013; 31(1):167-72. 10. Lengg N, Heidecker B, Seifert B, Truieb RM. Dietary supplement increa- ses anagen hair rate in women with telogen effluvium: results of a dou- ble-blind, placebo-controlled trial. Therapy. 2007; 4(1):59-65. 11. Van de Kerkhof PC, Pasch MC, Scher RK, Kerscher M, Gieler U, Haneke E, et al. Brittle nail syndrome: a pathogenesis-based approach with a pro- posed grading system. J Am Acad Dermatol. 2005; 53(4):644-51. 12. Iorizzo M, Pazzaglia M, Piraccini BM, Tullo S, Tosti A. Brittle nails. J Cosmet Dermatol. 2004; 3(3):138-44. 13. Costa IMC, Nogueira LSC, Garcia PS. Brittle nail syndrome. An Bras Der- matol. 2007; 82(3):263-7. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Sérgio Schalka | 0000-0003-2425-7962 Investigador principal do estudo, autor principal do texto Patrícia Camarano Pinto Bombarda | 0000-0001-5791-2631 Co-investigadora do estudo, contribuiu com a tabulação de dados e análise estatística, revisou o artigo Camila Canale | 0000-0002-9548-7987 Co-investigadora do estudo, contribuiu com a tabulação de dados e análise estatística Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 55-60. 61 Diagnóstico por Imagem Autores: Gisele Gargantini Rezze1 Maurício Mendonça Nascimento2 Regiane Salera1 Clóvis Antonio Lopes Pinto3 Francisco Macedo Paschoal1,4 1 Dermaimage Médicos Associados - São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil. 3 Departamento de Anatomia Patológica, AC Camargo Cancer Center - São Paulo (SP), Brasil. 4 Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina do ABC - São Paulo (SP), Brasil. Correspondência para: Gisele Gargantini Rezze Av. General Furtado do Nascimento, 740 cj. 23 05465 070 - Alto de Pinheiros - São Paulo - SP, Brasil. E-mail: ggrezze@hotmail.com Data de recebimento: 23/01/2018 Data de aprovação: 02/03/2018 Trabalho realizado na Dermaimage Médicos Associados - São Paulo (SP), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum A utilidade da microscopia confocal nas lesões de lentigo maligno The utility of confocal microscopy in lentigo maligna lesions DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.201810105 RESU MO O diagnóstico das lesões pigmentadas da face é considerado desafiador uma vez que lesões benignas e malignas podem compartilhar características clínicas e dermatoscópicas semelhantes, principalmente em lesões iniciais, sendo muitas vezes difícil de identificar as lesões de lentigo maligno da face. Assim, a microscopia confocal de reflectância pode se tornar uma ferramenta útil no diagnóstico dos lentigos malignos bem como para o seu planejamento cirúrgico. Palavras-chave: Ceratose actínica; Dermoscopia; Melanoma; Microscopia confocal; Sarda melanótica de Hutchinson ABSTRACT The diagnosis of pigmented facial lesions is considered challenging since benign and malignant lesions might have similar clinical and dermoscopic features – especially in the early stages of the lesion – entailing that it is often difficult to identify lentigo maligna lesions in the face. In this way, confocal reflectance microscopy has the potential to become a useful tool both in the diagnosis and surgical planning of lentigo maligna. Keywords: Dermoscopy; Hutchinson's melanotic freckle; Keratosis, actinic; Melanoma; Microscopy, confocal INTRODUÇÃO O lentigo maligno (LM) é uma forma de melanoma in situ que ocorre na pele com fotodano em pacientes idosos. Por se apre- sentar na maioria das vezes como lesão pigmentada da face, seu diagnóstico clínico é desafiador, pois pode se assemelhar às lesões pigmentadas benignas.1 A dermatoscopia da face apresenta algumas peculiaridades devido à área anatômica. Trata-se de região com intensa exposição à radiação ultravioleta, acarretando certo grau de atrofia epidérmi- ca, elastose solar e retificação dos cones epiteliais levando à ausên- cia da rede pigmentar (utilizada para a classificação das lesões como melanocíticas ou não melanocíticas em outras regiões da pele) e à presença da chamada pseudorrede. Essa é formada pela interrupção do pigmento melânico nos óstios foliculares e de estruturas anexiais, presente em lesões melanocíticas e não melanocíticas da face.2,3 Em 2000, Schiffner et al.2 propuseram um modelo diagnósti- co dermatoscópico para as lesões de LM e lentigo maligno melanoma (LMM) com acurácia de 93%, sensibilidade de 89% e especificidade de 96%. Segundo esses autores, as características dermatoscópicas de Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 61-4. pontos e glóbulos acinzentados, estruturas romboidais escuras e pigmentação assimétrica dos óstios foliculares, presentes de for- ma combinada, são as mais comumente observadas nessas lesões e correlacionam-se com os aspectos histopatológicos próprios desse tipo de melanoma, particularmente o foliculotropismo.2 Apesar de os achados dermatoscópicos descritos para o diagnóstico do LM apresentarem alta acurácia diagnóstica, o diagnóstico diferencial com a queratose actínica pigmenta- da (QAP) ainda é um desafio, uma vez que essas lesões podem apresentar algumas das características dermatoscópicas próprias do LM. Apenas os black blotches (áreas de borrões pretos) são específicos para o diagnóstico dos LM, porém sua ocorrência é tardia e raramente nas lesões iniciais.3 Nesse contexto, Nascimento e colaboradores descre- veram uma nova característica dermatoscópica relevante, o inner gray halo (IGH), cuja presença mostrou-se bastante eficaz na di- ferenciação entre LM e QAP. A presença de três ou mais dessas novas estruturas (IGH) caracterizaria uma QAP, com sensibilida- de de 91,4%, especificidade de 71,4% e valor preditivo positivo de 89,8%. O substrato histopatológico do IGH seria o padrão de guarda-chuva descrito por Pinkus.4 Principalmente em lesões pigmentadas incipientes da face, a dermatoscopia apresenta limitações, e a microscopia con- focal se torna exame promissor na realização de um diagnóstico mais fidedigno.1 RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino de 42 anos, pele tipo II de Fitzpatrick, cabelos e olhos castanhos claros, com história de queimadura solar na infância e adolescência, antecedente fami- liar de melanoma cutâneo (pai e avô paterno, comprovados por exame histopatológico) e antecedente pessoal de nevos atípicos excisados cirurgicamente e com comprovação histopatológica. Na quinta avaliação de seguimento do exame de mapeamento corporal total e dermatoscopia digital (múltiplos nevos mela- nocíticos), apresentou lesão pigmentada nova no lábio superior esquerdo de aproximadamente 3mm de diâmetro (Figura 1A). A dermatoscopia evidenciou lesão com pseudorrede acastanha- da, com discreta área de padrão anular-granular, pigmentação assimétrica das aberturas foliculares e duas estruturas compatí-veis com IGH periféricas (Figura 1B). As hipóteses diagnósti- cas de QAP e LM foram consideradas. Foi realizado o exame de microscopia confocal que evidenciou a presença de células dendríticas brilhantes em grande quantidade na epiderme com ausência de papilas por retificação epidérmica típica da face e a presença de células dendríticas brilhantes ao redor e nas abertu- ras anexiais na junção dermo-epidérmica (JDE) e presença de células dendríticas brilhantes nos anexos epidérmicos na derme papilar (Figura 2). Com os achados clínicos, dermatoscópicos e de micros- copia confocal foi realizada a hipótese diagnóstica de LM em área de fotodano. O exame histopatológico (H&E) da biópsia excisional evidenciou proliferação melanocítica atípica na ca- mada juncional da epiderme com extensão para o infundíbulo folicular. Os melanócitos atípicos apresentavam padrões epite- Figura 1: A - Fotogra- fia clínica da lesão pigmentada em lábio superior E (círculo vermelho). B - Derma- toscopia (aumento de 10x) evidenciando a pseudo-rede com pig- mentação assimétrica folicular (seta amarela) e as duas estruras IGH na periferia da lesão (setas brancas) Figura 2: A - Microscopia confocal da epiderme (3,5x3,0 mm): presença de favo de mel atípico (quadro amarelo pontilhado). B - Microscopia confocal área de zoom da figura 2A (1,0x2,5 mm): presença de células dendríticas perifoliculares. C - Microscopia confocal da JDE/ Derme (4,0x4,5mm): pre- sença de células dendríticas no interior e ao redor das aberturas anexiais. D - Microscopia confocal área de zoom da figura 2C (0,5x0,5mm): presença de células dendríticas no óstio folicular (pontos amarelos) e presença de célu- las dendríticas lembrando paliçada no anexo epidérmico (ponto vermelho) Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 61-4. 62 Rezze GG, Nascimento MM, Salera R, Pinto CAL, Paschoal FM A D B A B C Microscopia confocal nas lesões de lentigo maligno 63 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 61-4. Figura 3: A - Histopatologia (aumento de 100x): Melanócitos atípicos na junção e também na bainha folicular. B - Histopatologia (aumento de 200x): melanócitos atípicos em contiguidade na JDE. C - Histopatologia (aumento de 100x) com os marcadores MITIF/ P63 (em marrom o MITIF e em vermelho o p63): Proliferação irregular e contígua dos melanócitos na JDE. D - Histopatologia (aumento de 200x) com os marcadores MITIF/ P63 (em marrom o MITIF e em vermelho o p63): Detalhes dos melanócitos atípicos na JDE Figura 4: A - Fotografia clínica da área de cicatriz após biópsia excisional em lábio superior E. B - Dermatoscopia (10x) da área de cicatriz evidenciando discreta pigmentação no pólo inferior (ponto amarelo). C - Microsco- pia confocal (0,5x0,5mm) da epiderme: presença de células dendríticas (pontos vermelhos). D - Fotografia clínica com marcação da área com persistência de lesão (LM) para planejamento cirúrgico D A B C D A B C lioides e fusiformes. Os núcleos eram hipercromáticos, algumas vezes multilobulares. Os melanóctitos se distribuíam de forma contínua e contígua. Algumas células se dispunham de forma perpendicular à epiderme. O citoplasma apresentava quantidade variável de moderada a intensa de pigmento melânico. Presença de escassas mitoses atípicas nos melanócitos juncionais. Na der- me não havia proliferação de melanócitos, apenas melanófagos na derme papilar. Na junção dermo-epidérmica e na bainha fo- licular em contiguidade estavam presentes alguns grupamentos de células dendríticas com figuras de mitose e melanócitos atí- picos multinucleados (Figuras 3A e 3B). O estudo imuno-histo- químico com a dupla expressão dos anticorpos MITF1/P63 de- monstrou a presença de proliferação lentiginosa de melanócitos atípicos na camada basal da epiderme. Os núcleos dos melanó- citos marcam em marrom o anticorpo MITF1 e os núcleos dos queratinócitos em vermelho o P63 (Figuras 3C e 3D). Quinze dias depois de feita a biópsia, para refinar a pro- gramação cirúrgica (diminuir a chance de recidiva local e al- cançar melhor resultado estético), foi realizado novo exame de microscopia confocal que evidenciou a persistência da lesão em uma das margens da cicatriz (Figura 4). DISCUSSÃO A microscopia confocal é útil no diagnóstico precoce do LM e do LMM. Embora essas entidades tenham natureza celular distinta da QAP, o diagnóstico diferencial entre elas é por vezes difícil, tanto no aspecto clínico como no dermatoscópico. Nesse contexto a microscopia confocal pode ser de grande ajuda na definição diagnóstica.5 O achado de células dendríticas brilhantes invadindo o óstio folicular sugere fortemente o diagnóstico de LM e corres- pondem às aberturas foliculares assimetricamente pigmentadas à dermatoscopia. Embora essas células dentro do folículo pos- sam ser confundidas com a paliçada do carcinoma basocelular na junção dermo-epidérmica, as imagens da camada espinhosa são a chave do diagnóstico com a presença de grande quantidade de células dendríticas. Os achados dermatoscópicos das estruturas IGH podem ser explicados pela presença de células brilhantes pequenas que não invadem os folículos na periferia da lesão, fato que somado ao arranjo em favo de mel atípico e fotodano sugere o diag- nóstico de QAP. A não invasão por células tumorais do epitélio perifolicular na queratose actínica à histopatologia descrita por Pinkus, é um modelo de correlação possível com a dermatosco- pia e com a microscopia confocal, podendo constituir um fator de auxílio no diagnóstico diferencial com o LM.4 A microscopia confocal nesse caso clínico ganhou im- portância não só na elucidação do diagnóstico clínico, confir- mado pela histopatologia, como se mostrou de grande utilidade para o planejamento cirúrgico identificando a presença da lesão nas margens da biópsia excisional realizada. l 64 Rezze GG, Nascimento MM, Salera R, Pinto CAL, Paschoal FM REFERÊNCIAS 1. Guitera P, Pellacani G, Crotty KA, Scolyer RA, Li LX, Bassoli S, et al. The im- pact of in vivo reflectance confocal microscopy on the diagnostic accu- racy of lentigo maligna and equivocal pigmented and nonpigmented macules of the face. J Invest Dermatol. 2010; 130(8):2080-91. 2. Schiffner R, Schiffner-Rohe J, Vogt T, Landthaler M, Wlotzke U, Cognetta AB, et al. Improvement of early recognition of lentigo maligna using dermatoscopy. J Am Acad Dermatol. 2000; 42(1 Pt 1):25-32. 3. Akay BN, Kocyigit P, Heper AO, Erdem C. Dermatoscopy of flat pigmen- ted facial lesions: diagnostic challenge between pigmented actinic ke- ratosis and lentigo maligna. Br J Dermatol. 2010; 163(6): 1212–7. 4. Nascimento MM, Shitara D, Enokihara MM, Yamada S, Pellacani G, Rezze GG. Inner gray halo, a novel dermoscopic feature for the diagnosis of pigmented actinic keratosis: clues for the differential diagnosis with lentigo maligna. J Am Acad Dermatol. 2014;71(4):708-15. 5. Nascimento MM. Lentigo maligno, lentigo maligno melanoma e quera- tose actínica pigmentada. In: Rezze GG; Casagrande J, editors. Atlas de Microscopia Confocal na Dermatologia. São Paulo: Editora Lemar; 2016. p. 139-49. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 61-4. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Gisele Gargantini Rezze | 0000-0001-9084-4634 Concepção, elaboração e redação do manuscrito. Obtenção, análise e interpretação dos dados. Participação intelectual em conduta propedêutica e terapêutica do caso estudado. Aprovação da versão final do manuscrito Maurício Mendonça do Nascimento | 0000-0003-0060-8473 Concepção, elaboração e redação do manuscrito. Aprovação da versão final do manuscrito. Regiane Salera | 0000-0002-2961-1361 Obtenção, análise e interpretação dos dados. Clóvis Antonio Lopes Pinto | 0000-0003-1711-0081Concepção, elaboração e redação do manuscrito. Obtenção, análise e interpretação dos dados. Francisco Macedo Paschoal | 0000-0002-6264-1538 Participação intelectual em conduta propedêutica e terapêutica do caso estudado. Aprovação da versão final do manuscrito. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 65-9. Relato de Caso Autores: Frederico Hassin Sanchez1 Timótio Volnei Dorn2 1 Centro de Cirurgia Micrográfica do Rio de Janeiro, Policlínica Ronaldo Gazolla – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Dermacenter Alto Vale – Rio do Sul (SC), Brasil. Correspondência para: Frederico H. Sanchez Rua da Assembléia 10, sala 2807 20011 000 - Centro Rio de Janeiro - RJ, Brasil E-mail: fredhsanchez@gmail.com Data de recebimento: 13/09/2017 Data de aprovação: 07/03/2018 Trabalho realizado no EpiOne Centro de Ensino e Pesquisa – Chapecó (SC), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum 65 Técnica inovadora para tratamento de flacidez cervical com fio mononylon para sustentação transmastoide Innovative technique for the treatment of cervical laxity with mononylon thread for trans-mastoid support DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011084 RESU MO Existem muitos procedimentos para o rejuvenescimento da região cervical; os mais invasi- vos, porém, como a ritidectomia, podem gerar cicatrizes inestéticas relativamente grandes. Em contrapartida, procedimentos pouco invasivos, como os clássicos fios de sustentação absorvíveis, não têm efeito significativo no tratamento das bandas platismais mais eviden- tes. Visando solucionar o problema da pouca durabilidade relacionada aos fios de sustenta- ção e eliminar a cicatriz submentoniana indesejável causada pela ritidoplastia, descreve-se uma técnica pouco invasiva para tratamento da flacidez cervical, que pode ser usada iso- ladamente em pacientes com pouca redundância de pele, ou associada ao minilifting nos pacientes com muita flacidez. Palavras-chave: Estética; Mandíbula; Músculos do pescoço; Procedimentos cirúrgicos dermatológicos; Rejuvenescimento; Remoção; Ritidoplastia; Técnicas cosméticas ABSTRACT There are many procedures for the rejuvenation of the cervical region. Nevertheless, the most invasive ones – such as the rhytidectomy – can lead to relatively large unaesthetic scars. In contrast, noninvasive procedures – such as the classic absorbable lifting threads – have no significant effect on the treatment of the most evident platysmal bands. Aiming at solving the problem of short durability linked to the lifting threads and eliminating the undesirable submental scar caused by rhytidoplasty, a less invasive technique is described for the treatment of cervical laxity. This technique can be used isolatedly in patients with small amounts of skin redundancy, or associated to mini face lifts in patients with considerable sagginess. Keywords: Cosmetic techniques; Dermatologic surgical procedures; Esthetics; Lifting; Mandible; Neck muscles; Rejuvenation; Rhytidoplasty INTRODUÇÃO A reabsorção óssea, combinada com a flacidez, determina a aparência inestética da região cervical.1,2 Com o passar do tempo, ocorrem perda do contorno mandibular, acúmulo de gordura submentoniana com consequente aumento do ângulo cérvico-mentoniano, hipotonia muscular, proeminência das bandas platismais, ptose das glândulas submandibulares e alterações de tex- tura e pigmentação decorrentes da fotoexposição.1,2 Existem diversas classifi- cações para quantificar a severidade do envelhecimento cervical, dentre elas a de MacKinney (Tabela 1).3 Embora as técnicas de lifting cervical tenham passado por um no- tável avanço, o estigma causado por cicatrizes aparentes ou pelo aspecto de “face esticada”, faz com que muitos pacientes busquem técnicas alternativas à ritidoplastia.2,4,5 O minilifting e suas variações são considerados tratamentos muito efi- cazes, porém, muito invasivos. Recentemente os fios de sustentação, populari- zaram o tratamento dessa região.5,6 Os fios de sustentação de ácido poliláctico ou polidioxanona são geralmente absorvíveis e prometem causar um efeito lift da pele, e promover estímulo de colágeno.7-9 No entanto, normalmente Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 65-9. 66 Sanchez FH, Dorn TV Tabela 1: Classificação de MacKinney para envelhecimento cervical Grau Achados clínicos Tratamento normalmente indicado I Bandas platismais pouco visíveis, mínima flacidez Suspensão do Sistema mús- culo aponeurótico superficial (SMAS) II Bandas platismais moderada- mente visíveis Plicatura das bandas platismais na linha médio-cervical III Bandas platismais muito visíveis, flacidez Plicatura das bandas na linha médio-platismal, e ressecção da pele redundante IV Bandas platismais muito evi- dentes e excesso de flacidez Plicatura da linha médio-platis- mal e tração lateral do SMAS não são ancorados a nenhuma estrutura óssea, e seu efeito lift é limitado e efêmero. Em contrapartida, a ritidoplastia tem efeito duradouro; no entanto, uma cicatriz indesejável, medindo de três a 5cm, na região submentoniana é necessária para a realização da plicatura das bandas platismais.4 Visando solucionar o problema da pouca durabilida- de relacionada aos fios de sustentação e da indesejável cicatriz submentoniana causada pela ritidoplastia, um dos autores deste trabalho desenvolveu uma técnica para tratamento da flacidez cervical que visa proporcionar maior durabilidade, com mínimas cicatrizes visíveis. O objetivo do artigo é descrever uma técnica pouco in- vasiva para tratamento da flacidez cervical, denominada pelos autores sustentação transmastoide (STM). MÉTODO Pacientes do sexo feminino, magras, com bandas platis- mais proeminentes e perda da definição do ângulo da mandíbula (grau II e III de MacKinney) são as que mais se beneficiam com essa técnica. Pacientes com grande acúmulo de gordura submentoniana podem necessitar de lipoaspiração ampla da área submentoniana, e, se houver grande flacidez de pele (grau IV de Mackinney), a associação com minilifting deve ser considerada (Figuras 1 e 2). Após limpeza da pele, realiza-se a marcação cirúrgica, com o paciente sentado, cabeça retificada em posição anatômica para que se possa identificar e marcar o ponto central do ângulo cérvico-mentoniano, bem como a área a ser lipoaspirada (Figura 3). Prossegue-se com a infiltração anestésica de solução tumes- cente 0,5% de lidocaína e 1/100.000 de adrenalina. Descrição da técnica cirúrgica 1- Incisão com lâmina 11, suficiente para a passagem da cânula de lipoaspiração de 2mm, na região retroauricular bilate- ralmente, na topografia do osso mastoide. 2- Incisão com lâmina 11 na prega submentoniana para passagem da cânula. 3- Realização de lipoaspiração tumescente da região sub- mentoniana de acordo com a necessidade de cada paciente. Para as pacientes que não possuem muito acúmulo de gordura nessa re- Figura 1: Pré-ope- ratório: bandas platismais visíveis e assimétricas, acúmu- lo de gordura submentoniana, flacidez do pescoço e terço inferior da face Figura 2: Pré-opera- tório, perfil: apaga- mento do contorno da mandíbula, ptose das bandas platismais com aumento do ângulo cérvico- mandibular e acúmulo de gordura submentoniana Figura 3: Marcação cirúrgica. 1- Setas vermelhas, ramo marginal da mandíbula do N. facial.; 2- setas amarelas, bandas platismais; 3- seta azul, ângulo cérvico- -mandibular onde sai a agulha de Casagrande com o fio; 4- seta roxa, prega submentonia- na onde entra a cânu- la para lipoaspiração da parte anterior Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 65-9. Nova técnica para flacidez cervical com fio mononylon 67Figura 4: Fixação do fio mononylon. Fixa- ção do fio de sutura no periósteo do osso mastoide. Notar que o fio do lado contra- lateral já foi passado e encontra-se com a ponta na parte ante- rior do pescoço Figura 5: Passagem do fio. Passando a agulha de Casagran- de como guia, o fio se encontra na ponta da agulha. A outra extre- midade já está fixada no mastoide Figura 6: Pós-operatório imediato. Pós-operatório imediato, mostrando a sutura no local onde a agulha de Casagrande passou o fio e a sutura na pre- ga submentoniana por onde passou a cânula de lipoaspiração gião, a lipoaspiração tem como objetivo fazer uma dissecção rom- ba e descolar parcialmente a pele, facilitando a passagem do fio. 4- Ampliação das excisões retroauriculares até o periós- teo do osso mastoide, bilateralmente. 5- Dois fios de sutura mononylon 3.0 são respectivamente fixados no periósteo do osso mastoide de cada lado (Figura 4). 6- Após a fixação do fio no periósteo, a agulha circular do mesmo é desprezada. A ponta livre do fio é passada através de uma pertúito na agulha de CasagrandeTM que em seguida é in- troduzida pela incisão na região retroauricular, passando ao lon- go do contorno mandibular no sentido do ângulo cérvico-men- toniano. Uma pequena incisão com lâmina 11 no centro desse ângulo é suficiente para sair com agulha de CasagrandeTM e o fio de sutura. O processo é repetido no lado contralateral (Figura 5). 7- Os fios se encontram na região ventral do pescoço, na incisão realizada no centro do ângulo cérvico-mentoniano. Um nó cirúrgico é realizado para unir e tracionar as duas pontas do fio até alcançar a retração desejada das bandas platismais. Em seguida, o nó é posicionado para dentro da incisão de modo a não ficar visível (Figura 6). 8- Fechamento cirúrgico das incisões realizadas na pele. Alguns pacientes com muita flacidez apresentarão redundância de pele na região pré-auricular após o tracionamento dos fios, e isso deve ser corrigido por meio de minilifting, posicionando as cicatrizes na região pré e pós-auricular. RESULTADO O resultado pode ser visto imediatamente após o proce- dimento. No caso demonstrado, foi necessário remover a pele redundante na região pré-auricular após o tracionamento do fio (Figuras 7 e 8). O efeito foi duradouro com grande melhora da flacidez cervical e sem complicações. No pós operatório já é possível notar a melhora no contorno do pescoço e mandíbula (Figura 9). Figura 7: Pós-operatório tardio (1 ano). Pós-operatório tardio após 12 me- ses do procedimento. Notar a melhora das bandas platismais, que pratica- mente desapareceram, e o melhor contorno do rebordo mandibular 68 Sanchez FH, Dorn TV Figura 8: Pós-opera- tório tardio. Notar a melhora no contorno da mandíbula e a di- minuição do ângulo cérvico-mandibular devido à diminuição da ptose das bandas platismais. Houve melhora global da região cervical. A ci- catriz pré-auricular do minilifting está quase imperceptível. Pacientes com pouca redundância de pele nem necessitam de minilifting associado, o que os poupa da ci- catriz pré-auricular DISCUSSÃO Uma silhueta mais jovem caracteriza-se pelo contorno cérvico-mandibular e ramo da mandíbula bem definido, ângulo cérvico-mentoniano de aproximadamente 90 graus, pouca flaci- dez e adiposidade local. O conhecimento da anatomia possibilita maior preci- são no tratamento do pescoço senil, diminuindo a incidência de complicações pós-operatórias. Abaixo da derme encontram-se a gordura subcutânea e a fascia cervical superficial, que está intimamente conectada com o músculo platisma ao SMAS. A técnica de STM ocorre no plano entre a fascia cervical super- ficial e a derme, pela sucção da gordura submentoniana e da gor- dura subcutânea da lateral do pescoço, com posterior passagem do fio de sustentação no referido plano. Merece atenção o ramo marginal da mandíbula do ner- vo facial, que se encontra sob o platisma, ao longo do corpo da mandíbula (em 80% dos casos), ou dois centímetros abaixo, superficializando-se na borda anterior do músculo masseter. Sua lesão pode provocar paralisia dos músculos depressores do ân- gulo da boca e do lábio inferior, causando assimetria durante o sorriso.10,11 Para pacientes com micrognatismo pode-se associar a mentoplastia cirúrgica ou preenchimento. Bandas platismais muito proeminentes, e pele redundante, classificadas como grau IV de McKinney, podem necessitar de minilifting associado. Atenção deve ser dada a mulheres extremamente magras, nas quais a suspensão provocada pela técnica de STM pode anterio- rizar e projetar a cartilagem tireoide, dando aparência masculini- zada ao pescoço.2,12 Diversos fios já foram utilizados no rejuvenescimento cervical, entre eles, polipropileno, polipropileno espiculado, mononylon espiculado. Giampapa e Di Bernardo foram pre- cursores na utilização de fios de sustentação cervicais como Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 65-9. alternativa à ritidectomia tradicional.13 Posteriormente popu- larizou-se o uso de fios de polipropileno espiculados, técnica conhecida como “fio russo”.9 Recentemente, publicaram nova técnica, usando-se um mononylon 2.0 incolor modificado, es- piculado especificamente desenvolvido para o lifting cervical, e comercializado com nome de I-lift®, introduzido com uma agulha epidural 18G de 14cm, podendo ser uma alternativa no tratamento cervical.14 CONCLUSÃO Consideramos a técnica STM uma boa opção por não demandar fio específico, sendo realizada com um simples fio de sutura mononylon 3.0. Além do baixo custo, é de fácil execução, e não deixa cicatrizes submentonianas extensas. A técnica consegue tratar diretamente os principais fato- res envolvidos no envelhecimento cervical: o acúmulo de gordu- ra submentoniana e a flacidez do músculo platisma. l Figura 9: Visão frontal e perfil esquerdo e direito, antes e após o proce- dimento. A - Pré operatório visão frontal; B - Pós operatório imediato visão frontal; C - Pré operatório, perfil esquerdo; D - Pós operatório de sete dias, perfil esquerdo; E - Pré operatório, perfil direito; F - Pós operatório de sete dias, perfil direito A C E B D F Nova técnica para flacidez cervical com fio mononylon 69 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 65-9. REFERÊNCIAS 1. Roy S, Buckingham E. The Difficult Neck in Facelifting. Facial Plast Surg. 2017;33(3):271-78. 2. Patel BC. Aesthetic surgery of the aging neck: options and techniques. Orbit. 2006;25(4):327-56 3. McKinney P. The management of platysma bands. Plast Reconstr Surg. 1996;98(6):999-1006. 4. Kim BJ, Choi, JH, Lee Y. Development of facial rejuvenation procedures: thirty years of clinical experience with face lifts. Arch Plast Surg. 2015; 42(5):521-31. 5. Stephenson KL. The "mini-lift": an old wrinkle in face lifting. Plast Re- constr Surg. 1970;46(3):226-35. 6. Mulholland RS. 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Braz J Otorhinolaryngol. 2017; 83(6):712-19. 13. Giampapa VC, Di Bernardo BE. Neck recontouring with suture suspen- sion and liposuction: an alterna- tive for the early rhytidectomy can- didate. Aesthetic Plast Surg 1995;19(3):217-23. 14. De Carolis V, Gonzalez M. Neck rejuvenation with mastoid-spanning barbed tensor threads (MST operation). Aesthetic Plast Surg. 2014; 38(3):491-500. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Frederico H. Sanchez | 0000-0001-5856-216x Responsável pelas fotografias, orientação e revisão do artigo. Timotio Volnei Dorn | 0000-0001-9666-6146 Responsável pela revisão da bibliografia, e elaboração da redação do artigo. Relato de Caso Autores: Marcos Noronha Frey1 Rita de Cássia Rossini1 Felipe Bochnia Cerci2 1 Serviço de Dermatologia, Hospital Santa Casa de Curitiba – Curitiba (PR), Brasil. 2 Serviço de Dermatologia, Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná – Curitiba (PR), Brasil. Correspondência para: Marcos Noronha Frey Av. Itajaí 110 / 202 - Petrópolis 90470 140 - Porto Alegre - RS, Brasil E-mail: marcos.frey@gmail.com Data de recebimento: 05/10/2017 Data de aprovação: 28/02/2018 Trabalho realizado no serviço de Dermatologia do Hospital Santa Casa de Curitiba – Curitiba (PR), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum Sutura purse-string combinada com cicatri- zação por segunda intenção para reparo de defeito cirúrgico temporal Purse string-suture combined with second intention healing for temporal region repair DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011100 RESU MO A sutura purse-string é uma das várias técnicas de reparo em cirurgia dermatológica. Suas principais indicações são feridas com formato oval ou redondo localizadas em tronco e membros. Os autores descrevem a combinação da sutura purse-string com cicatrização por segunda intenção para reparo de defeito cirúrgico em região temporal, após remoção de carcinoma basocelular. A sutura purse-string é capaz de produzir resultados estéticos favoráveis em casos seleciona- dos. Apesar de mais indicada no tronco e nos membros, pode ser indicada na região tem- poral quando se deseja evitar métodos de reparo mais complexos. Palavras-chave: Ferimentos e lesões; Técnicas de fechamento de ferimentos; Técnicas de sutura ABSTRACT The purse-string suture is one of the several repair options in dermatologic surgery. Its main indica- tions are round or oval wounds on the trunk and limbs. The authors describe the combination of purse string suture and second intention healing for a surgical defect after removal of a basal cell carcinoma on the temple. The purse-string suture is an important closure method that may yield good results in selected cases. Although it is more often indicated on the trunk and limbs, it may be performed on the temple to avoid more complex repair. Keywords: Suture techniques; Wound closure techniques; Wounds and injuries 70 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 70-3. INTRODUÇÃO A sutura purse-string é uma das várias técnicas de reparo para defeitos cirúrgicos em cirurgia dermatológica. É considerada método de fechamento primário, que pode ser usado para fechamento completo ou parcial de feridas redondas ou ovais.1,2 Desde sua descrição, há cerca de 60 anos, a técnica sofreu variações ao longo do tempo e pode ser combinada com outros métodos de reconstrução.1-4 Relatamos o uso da sutura purse-string associada à cicatrização por segunda intenção para defeito cirúrgico na região temporal. RELATO DE CASO Homem de 72 anos com carcinoma basocelular nodular bem delimitado em região temporal direita medindo 2 x 1,5cm (Figura 1). Foi submetido à exérese com margens de 5mm, re- sultando em ferida operatória de 2,7 x 2,5cm, acima da fáscia temporal superficial (Figuras 2 e 3). Outras opções de reparo como retalho, enxerto e fechamento linear parcial foram consi- Purse-string para reparo temporal 71 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 70-3. deradas; os autores, entretanto, optaram pelo fechamento parcial com purse-string intradérmico a fim de prevenir e minimizar a possibilidade de lesão do nervo temporal, e otimizar o tempo de cicatrização (quando comparado à cicatrização por segunda intenção isolada). A sutura foi realizada com inserção da agu- lha na horizontal no plano dérmico, avançando 5-10mm a cada passada, e com a saída da agulha em direção ao centro da ferida. Aproximadamente 2-5mm além do local de saída, a agulha era reinserida consecutivamente até que toda a circunferência da fe- rida fosse abrangida pela sutura (Figura 4). Finalmente, o fio foi tracionado e amarrado com o nó permanecendo sepultado no interior da derme (Figura 5). A sutura utilizada foi de poligle- caprone 25 4-0 e, após o purse-string, o tamanho do defeito foi reduzido para 1,4 x 1,1cm (78% de redução) (Figura 6). Não foi realizado descolamento dos bordos, e o defeito cirúrgico restan- te foi deixado para cicatrizar por segunda intenção (Figura 7), obtendo-se completo fechamento após quatro semanas. A figura 8 mostra o seguimento de oito semanas, com resolução do enru- gamento provocado, sem danos ao nervo temporal. Figura 1: Carcinoma basocelular nodular (linhas pontilhadas) com margens cirúrgicas de 5mm Figura 2: A e B - Ferida operatória medindo 2,7 x 2,5cm A B Figura 3: Defeito cirúrgico criado sobre o trajeto do ramo temporal do nervo facial Figura 5: A-D - Sutura tracionada e nó sepultado intradérmico Figura 4: A-D: Detalhe da sutura realizada no plano intradérmico A B A B C D C D 72 Frey MN, Rossini RC, Cerci FB Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 70-3. DISCUSSÃO A sutura purse-string consiste em um movimento unifor- me de toda a borda da ferida cutânea em direção centrípeta. Pode ser realizada com a introdução do fio horizontalmente na derme (purse-string intradérmico) ou verticalmente cruzando todas as camadas da pele (purse-string cuticular).1 As principais indicações da técnica são feridas com formato oval ou redondo localiza- das em tronco e membros; todavia, pode ser utilizada em casos selecionados de defeitos cirúrgicos localizados na face, princi- palmente em áreas que cicatrizam bem por segunda intenção como a região temporal.1-6 A sutura purse-string pode ser realizada isoladamente para o fechamento completo de feridas pequenas ou médias, assim como para o fechamento parcial em feridas maiores, deixando o defeito restante cicatrizar por segunda in- tenção. Além disso, pode ser realizada em associação com outras técnicas de reparo, como os enxertos ou fechamento linear.1-7 Destaca-se por ser procedimento rápido e simples, que otimiza o tempo de cicatrização ao reduzir significativamente o tamanho das feridas.4 Além disso, auxilia na hemostasia e poupa tecido viável adjacente (dog ears). Os pacientes ideais são os idosos, com A Figura 7: Aparência inicial do defeito parcialmente fechado e deixado cicatrizar por segunda intenção Figura 8: A e B - Cicatrização completa após oito semanas pele frouxa, fotodano ou quando convém evitar reconstruções complexas em razão de maior risco cirúrgico ou para melhor seguimento oncológico. A principal desvantagem é a aparência inicial grosseira da cicatriz, bem como a preocupação do pacien- te em lidar com uma ferida aberta.8 Desse modo, a orientação do paciente é essencial. Estudos mostram que desfechos estéticos e funcionais a longo prazo da sutura purse-string são similares ou até melhores que outros métodos de reparo emferidas de tronco e membros, que tendem a se alargar mesmo quando a sutura linear é realizada por planos.1,2 A opção de descolar ou não os bordos da ferida antes da sutura purse-string é controversa. Alguns autores não recomendam o descolamento com a justificativa de minimizar a morbidade do procedimento; outros recomendam realizá-lo para aumentar a mobilidade do tecido diminuindo a tensão dos bordos.1-3 Na maioria das vezes, entretanto, pode ser obtido movimento adequa- do do tecido com pouco ou nenhum descolamento.3 Os autores acreditam que a decisão deve ser individualizada de acordo com o defeito, flacidez cutânea adjacente e proximidade de estrutu- B Figura 6: A e B - Defeito final com 1,4 x 1,1cm A B Purse-string para reparo temporal 73 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 70-3. ras próximas, que podem ser lesadas ou distorcidas (por exemplo, margens livres, nervos motores). Diferentes fios de sutura podem ser utilizados na técnica de purse-string, sendo os mais utilizados os monofilamentares absorvíveis (tamanho 3-0 ou mais).1-3 REFERÊNCIAS 1. Cohen PR, Martinelli PT, Schulze KE, Nelson BR. The purse-string suture revised: a useful technique for the closure of cutaneous surgical wou- nds. Int J Dermatol. 2007; 46(4):341-7. 2. Cohen PR, Martinelli PT, Schulze KE, Nelson BR. The cuticular purse string suture: a modified purse string suture for the partial closure of round postoperative wounds. Int J Dermatol. 2007; 46(7): 746-53. 3. Weisberg NK, Greenbaum SS. Revisiting the purse-string closure: some new methods and modifications. Dermalol Surg. 2003; 29(6):672-76. 4. Hughes MP, Kalajian AH, Brown TS. Purse-string-assisted full-thickness skin graft: an underutilized technique to reduce graft size and improve outcome. J Cutan Med Surg. 2016; 20(6): 607-9. 5. Brady JG, Grande DJ, Katz AE. The purse-string suture in facial recons- truction. J Dermatol Surg Oncol. 1992; 18(9):812-6. 6. Ciatti S, Greenbaum SS. Modified purse-string closure for reconstruc- tion of moderate/large surgical defectsof the face. Dermatol Surg. 1999; 25(3): 215-9. 7. Yuen JC. Versatility of the subcuticular purse-string suture in wound closure. Plast Reconstr Surg. 1996; 98(7):1302-05. 8. Dzubow LM. Patient contribution to reconstructive Decision: The pur- se-string closure. JAMA Dermatol. 2015; 151(10): 1142-3 CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Marcos Noronha Frey | 0000-0003-3914-2586 Investigador principal, responsável pela revisão bibliográfica, escrita e revisão do artigo e Cirurgião Dermatológico do caso. Rita de Cássia Rossini | 0000-0002-2867-5822 Responsável pela revisão da bibliografia, e elaboração da redação do artigo. Felipe Bochnia Cerci | 0000-0001-9605-0798 Revisão e correção do artigo. CONCLUSÃO A sutura purse-string é técnica de reparo cutâneo com re- sultados estéticos aceitáveis e surpreendentes em casos seleciona- dos. Apesar de mais apropriada para o tronco e membros, pode ser indicada para aplicação na região temporal quando se deseja evitar métodos de reparo mais complexos. l Relato de Caso Autores: Guilherme Moraes Kruger1 Gabriela Kimie Aseka1 Carlos Alberto Ferreira de Freitas2 Günter Hans Filho1 1 Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil. 2 Disciplina de cirurgia de cabeça e pescoço, Departamento de Cirurgia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil. Correspondência para: Guilherme Moraes Krüger Av. Afonso Pena, 4730, apt. 1304 Chácara da Cachoeira 79040 010 - Campo Grande - MS, Brasil. Email: krugergm@hotmail.com Data de recebimento: 07/07/2017 Data de aprovação: 11/03/2018 Trabalho realizado no Ambulató- rio de Dermatologia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campo Grande (MS), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum Conflito de Interesses: Nenhum Reconstrução de extensa lesão de orelha com retalho em “porta de Saloon” Reconstruction of extensive lesion in the ear with a "saloon door" flap DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011042 RESU MO O carcinoma basocelular, também conhecido como epitelioma basocelular, é a neoplasia epitelial mais frequente em nosso meio, sendo mais comum em homens. Relata-se o caso de paciente do sexo feminino, de 75 anos, portadora de um carcinoma basocelular nas regiões da concha, anti-hélice e fossa triangular da orelha direita, que foi completamente excisado, com inclusão da cartilagem. A reparação do defeito foi feita por meio de retalho do tipo "porta de saloon", com bom resultado estético e funcional. O retalho auricular posterior é opção versátil para a reconstrução parcial do defeito da orelha. Palavras-chave: Carcinoma basocelular; Neoplasias cutâneas; Retalhos cirúrgicos ABSTRACT Basal cell carcinoma, also known as basal cell epithelioma, is the most frequent epithelial neoplasm in the dermatological practice, being more common in men. The authors report the case of a 75-year-old female patient with a basal cell carcinoma in the concha, anti-helix and triangular fossa regions of the right ear. The lesion was completely excised, including the cartilage. The surgical defect was repaired by means of a "saloon door" flap, which yields good aesthetic and functional outcomes. The posterior auricular flap is a versatile option for partial reconstruction of defects in the ear. Keywords: Carcinoma, basal cell; Skin neoplasms; Surgical flaps 74 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 74-6. INTRODUÇÃO O carcinoma basocelular (CBC), também conhecido como epitelioma basocelular, é a neoplasia epitelial mais fre- quente em nosso meio, sendo mais comum em homens. Sua in- cidência aumenta faixas etárias mais altas, estimando-se que nos últimos 30 anos tenha aumentado de 20 a 80%. A idade média do diagnóstico é 68 anos.1 O retalho retroauricular em ilha, também conhecido como retalho em “porta de saloon”, retalho em porta giratória, ou retalho flip flop, foi introduzido por Masson em 1972.2 A técnica original foi modificada mais tarde por vários autores, e as indica- ções para seu uso estendidas para defeitos auriculares extensos.3-5 RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 75 anos de idade, compareceu à consulta referindo o surgimento de lesão na concha da orelha direita há cerca de um ano. Ao exame físico apresentava placa eritematosa, infiltrada, na porção central aderida à cartilagem. Ao exame dermatoscópico observaram-se vasos arboriformes e estruturas hipercrômicas tipo folha de bordo (Figura 1). A bióp- sia prévia revelou CBC do subtipo nodular. Durante o plane- jamento da cirurgia a lesão foi demarcada por dermatoscopia com margem de 5mm; fez-se também a marcação do retalho na região retroauricular. Foi usada anestesia local infiltrativa. Reali- zou-se a exérese da lesão e da cartilagem subjacente, seguindo-se a confecção da ilha na porção retroauricular e a rotação da pele Reconstrução de extensa lesão de orelha 75 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 74-6. tiva de manter a estética facial. As alternativas à reconstrução do defeito são: fechamento por segunda intenção, enxertos de pele e excisão de cunha que reduzem a altura auricular. Alguns estudos demonstram que a taxa de excisão com- pleta de CBC, quando se utiliza a dermatoscopia para demar- cação de margens, é alta, de 95% a 98,5%.6 Assim, é de grande importância, quando não se dispõe da cirurgia micrográfica de Mohs, a demarcação das margens pela dermatoscopia. O retalho auricular posterior é opção versátil para a re- construção parcial do defeito da orelha.A chave para alcançar bons resultados estéticos é o planejamento com escolha da téc- nica adequada e individualizada para cada tipo de tumor, locali- zação e condições do paciente. l para a porção anterior (Figura 2). O retalho foi acomodado e suturado. Posteriormente procedeu-se ao fechamento do defeito posterior (Figura 3). As suturas foram realizadas em plano único, com fio de náilon e pontos simples, retirados 15 dias depois. O resultado do exame anatomopatológico confirmou tratar-se de um CBC do subtipo nodular com margens livres. A cicatrização ocorreu sem intercorrências e bom resultado estético e funcio- nal foi observado após três semanas (Figura 4). DISCUSSÃO A reconstrução de defeitos parciais da orelha, sem reduzir o tamanho e sem alterar seu contorno e forma naturais, é um desafio. Nessa localização se faz necessária, além da cura, a tenta- Figura 1: A - Placa eritematosa, infiltrada, na porção central do pavilhão auricular, compro- metendo parte da concha, anti-hélice e toda a fossa trian- gular; com marcação de margem de 5mm. B - Dermatosco- pia evidenciando vasos arboriformes e estruturas hipercrô- micas tipo folha de bordo Figura 2: A - Exérese da lesão e da carti- lagem subjacente. B - Confecção da ilha na porção retroauri- cular. C - Ilha com a base presa à mastoi- de passando através do defeito para a face anterior da orelha. D - Retalho acomodado na face anterior do pavilhão auricular Figura 3: A - Retalho suturado à pele anterior, fechando completamente a face anterior do pavilhão auricular. B - Fechamento primário do defeito posterior suturando a pele posterior da orelha à pele da mastoide. Figura 4: Resultado final após 15 dias A A A B B B C D Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 74-6. REFERÊNCIAS 1. 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Cabeça Pescoço. 2013;42(1):47-52 CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Guilherme Moraes Kruger | 0000-0003-1296-2103 Concepção e planejamento do trabalho, participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado, revisão do manuscrito, revisão de literatura e aprovação da versão final do manuscrito. Gabriela Kimie Aseka | 0000-0002-5573-2378 Revisão crítica do manuscrito. Carlos Alberto Ferreira de Freitas | 0000-0003-2501-0128 Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica do caso estudado, revisão do manuscrito, revisão de litera- tura e aprovação da versão final do manuscrito. Günter Hans Filho | 0000-0001-9324-3703 Revisão crítica do manuscrito e aprovação da versão final do manuscrito. 76 Kruger GM, Aseka GK, Freitas CAF, Hans Filho G Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p.77-9. 77 A importância do uso precoce de hialuroni- dase no tratamento de oclusão arterial por preenchimento de ácido hialurônico The importance of the early use of hyaluronidase in the treatment of arterial occlusion resulting from hyaluronic acid based cutaneous filling DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011110 RESU MO A isquemia cutânea é um dos eventos adversos vasculares decorrentes da aplicação de áci- do hialurônico, causada por embolia arterial. A aplicação precoce de hialuronidase repre- sentará o sucesso da degradação e reversão do quadro que pode ser grave e causar danos ao paciente. Relatam-se casos com suspeita de oclusão arterial no qual foi realizada degrada- ção com hialuronidase em diferentes períodos. Tal análise permitiu observar que o tempo de degradação e a eficácia do procedimento relacionam-se com tempo de intervenção Palavras-chave: Dermatologia; Isquemia; Reperfusão ABSTRACT Cutaneous ischemia, caused by arterial embolism, is one of the vascular adverse events resulting from the application of hyaluronic acid. Early application of hyaluronidase will lead to the successful degradation and reversal of the condition – which might be severe and cause harm to the patient. The authors report cases with suspected arterial occlusion in which degradation was performed with hyaluronidase at different timepoints. This analysis has evidenced that the degradation time and the procedure’s effectiveness are correlated to the intervention timepoint. Keywords: Dermatology; Ischemia; Reperfusion INTRODUÇÃO A isquemia cutânea representa uma das complicações mais gra- ves e indesejáveis após a aplicação de ácido hialurônico em procedimen- tos estéticos de rejuvenescimento e volumização facial. É causada por embolismo arterial de ácido hialurônico ou oclusão por compressão, com manifestações frequentemente imediatas, sendo o seu diagnóstico, clínico. As alterações variam de livedo reticularis, eritema, palidez até, raramente, necrose. O uso de hialuronidase em concentração correta e aplicação precoce no tratamento da oclusão, representará o sucesso da degradação e o reestabelecimento do fluxo sanguíneo local.¹ Tal efeito adverso constitui potencial desconforto estético e ris- co de dano irreversível ao paciente caso o diagnóstico e a degradação precoces não sejam instituídos. A seguir, relataremos dois casos de isque- mia após uso de ácido hialurônico para procedimentos estéticos, reverti- dos com uso de hialuronidase em diferentes tempos de abordagem para reversão do quadro, demonstrando que a degradação precoce obteve resolução do quadro bem mais rápida. Indicações e contraindicações do uso de hialuronidase As indicações da hialuronidase listadas pelo Food and Drugs Administration (FDA) estão distribuídas em três situações:2-4 1- faci- litar a absorção e dispersão de outras drogas injetáveis; 2- auxiliar na infusão de fluidos subcutâneos; e 3- na urografia subcutânea. Na der- matologia a droga tem sido indicada para o transplante capilar e para a lipoaspiração tumescente. Recentemente também tem sido utilizada em procedimentos de preenchimentos cutâneos seguidos de isquemia, Relato de Caso Autores: Ritha de Cássia Capelato Rocha1 Luana Bertelli Castilho2 Danielle Mechereffe do Amaral Blaas3 Reinaldo Tavares Júnior4 Ana Paula Tavares5 Mariana Isis Wanczinski6 1 Clínica de Dermatologia Ritha Capelato – Maringá (PR), Brasil. 2 Clínica, UPA 24 horas Ana Ja- cinta – Presidente Prudente (SP), Brasil. 3 Clínica de Dermatologia Da- nielle Mechereffe – Pelotas (RS), Brasil. 4 Centro Médico San Rafaele – Maringá (PR), Brasil. 5 Clínica, Rede de assistência à saúde Metropolitana (Rede Metropolitana) – Sarandi (PR), Brasil. 6 Clínica de Dermatologia Ma- riana Wanczinski - Brusque (SC), Brasil. Correspondência para: Ritha de Cássia Capelato Rocha Av. Pedro Taques, 294 Sala 1704 Edifício Atrium, Torre Sul Zona 03 87030 000 - Maringá - PR, Brasil. Email: rithacapelato@hotmail. com Data de recebimento: 11/11/2017 Data de aprovação: 23/03/2018 Trabalho realizado na Clínica de Dermatologia Dra. Ritha Capelato – Maringá (PR), Brasil. Suporte financeiro: Nenhum. Conflito deinteresse: Nenhum. Figura 1: Evolução terapêutica após aplicação de hialuronidase em ponta nasal respectivamente no 1o dia, 7o dia e 3 meses após a aplicação Figura 2: Evolução terapêutica após aplicação de hialuronidase em sulco nasogeniano respectivamente no 1o, 4o e 21o dia após aplicação 78 Rocha RCC, Castilho LB, Blaas DMA, Tavares Júnior R, Tavares AP, Wanczinski MI para diminuir o tempo de revascularização tecidual e auxiliar o processo de cicatrização, levando a um prognóstico favorável. Os efeitos colaterais do uso da hialuronidase têm baixa incidência, citando-se prurido devido à aplicação local, descrito no trabalho de Sopakar e colaboradores em apenas dois pacientes de amostra de 100 pessoas.2-4 Outro efeito colateral relaciona-se à hialuroni- dase de origem bovina, de fabricação caseira, em que a patologia associada é a encefalite espongiótica.5-7 RELATO DE CASOS CASO 1 MBF, do sexo feminino, 27 anos, procurou atendimento médico por insatisfação estética na região nasal, apesar de rinoplas- tia prévia. Após avaliação, realizou-se a aplicação de 0,8ml de ácido hialurônico, Emervel Deep® (Galderma, Otten, Suíça), na região da columela e ponta nasal com agulha, aspirando-se previamente à injeção, sem qualquer alteração no momento do procedimento. De- corridas 36 horas, a paciente retornou ao consultório apresentando dor local intensa, palidez entremeada com áreas de livedo reticularis, compatível com oclusão arterial. Para a reversão do quadro, foi uti- lizada hialuronidase Biometil ® (Laboratório Biometil, São Bento do Sul, Santa Catarina), 1600UI em aplicação única associada a me- dicamentos orais: Aspirina® (Bayer, Barmen, Alemanha) 100mg/ dia, cilostazol (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 100mg 12/12 horas, prednisona (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 40mg/dia, rivaroxabana (Bayer, Barmen, Alemanha) 20mg/dia, ciprofloxacina (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 500mg 12/12 horas, e clindamicina (Teuto-Brasi- leiro S/A, Anápolis, Goiás) 300mg 12/12 horas, durante 15 dias. Foi realizada ultrassonografia com Doppler – US Doppler, do local, que demonstrou fluxo sanguíneo arterial e venoso normais, três sessões de câmara hiperbárica nos primeiros três dias e compressas mornas várias vezes ao dia durante sete dias. A paciente evoluiu com me- lhora progressiva e resolução completa do quadro após três semanas. CASO 2 MSM, do sexo feminino, 31 anos, buscou atendimento para realização de harmonização facial. Foi realizada aplicação de ácido hialurônico em vários locais da face e, entre eles, no sulco nasogeniano esquerdo proximal profundo (fossa piriforme), com agulha a 90o e aspiração prévia à injeção de 0,1ml de Emervel Deep® (Galderma, Otten, Suíça). Imediatamente, foi observada área eritêmato-arroxeada que se estendeu da região lateral esquer- da da asa nasal até a região média do sulco nasogeniano ipsilateral. Após 12 horas, devido à permanência das alterações e hipótese de oclusão arterial, optou-se pela degradação precoce com 400UI de hialuronidade (Biometil®) e uso de sildenafil 100mg/dia, clexane (Sanofi-Aventis Farmarcêutica Ltda, Suzano, São Paulo) 40mg/ dia, prednisona (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 40mg/dia, ciproflo- xacina (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 500mg 12/12 horas e clari- tomicina (Eurofarma, São Paulo, Brasil) 500mg 12/12 horas, du- rante 15 dias. Também foi realizada ultrassonografia com Doppler – US Doppler do local, cujo resultado mostrou fluxo sanguíneo normal. Evidenciaram-se melhora da coloração após dois dias da degradação e resolução completa após quatro dias. DISCUSSÃO Com o aumento da realização de procedimentos estéti- cos utilizando ácido hialurônico, o conhecimento das possíveis reações adversas e de seu manejo é necessário. A fisiopatologia do processo embólico a partir desses procedimentos ainda não está elucidada; entretanto, a diminuição do fluxo sanguíneo pode Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p.77-9. Tratamento de oclusão arterial por preenchimento de ácido hialurônico 79 REFERÊNCIAS 1. DeLorenzi C. New High Dose Pulsed Hyaluronidase Protocol for Hyaluro- nic Acid Filler Vascular Adverse Events. Aesthet Surg J.2017;37(7):814-25. 2. Glaich AS, Cohen JL, Goldberg LH. Injection necrosis of the glabella: pro- tocol for prevention and treatment after use of dermal fillers. Dermatol Surg. 2006;32(2):276- 81. 3. Lee A, Grummer SE, Kriegel D, Marmur E. Hyaluronidase. Dermatol Surg. 2010;36(7):1071-77. 4. Rzany B, Becker-Wegerich P, Bachmann F, Erdmann R, Wollina U. Hyalu- ronidase in the correction of hyaluronic acid-based fillers: a review and recommendation for use. J Cosmet Dermatol. 2009;8(4):317-23 5. Brody HJ. Use of hyaluronidase in the treatment of granulomatous hyaluronic acid reactions or unwanted hyaluronic acid misplacement. Dermatol Surg. 2005;31(8 Pt 1):893-7. 6. Hirsch RJ, Brody HJ, Carruthers JD. Hyaluronidase in the office: a neces- sity for every dermasurgeon that injects hyaluronic acid. J Cosmet Laser Ther. 2007;9(3):182-5 7. Jones D, Tezel A, Borrell M. In vitro resistance to degradation of hyaluro- nic acid dermal fillers by ovine testicular hyaluronidase. Dermatol Surg. 2010;36(Suppl 1):804-9. 8. Cohen JL. Understanding, avoiding, and managing dermal filler compli- cations. Dermatol Surg. 2008;34(Suppl. 1):S92-9. CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Ritha de Cássia Capelato Rocha | 0000-0001-9792-758x Autora principal do relato de caso, responsável pela revisão do relato e orientação aos demais autores. Luana Bertelli Castilho | 0000-0003-0680-8337 Responsável por revisar artigos sobre o tema e por realizar parte da escrita do relato. Danielle Mechereffe do Amaral Blaas | 0000-0002-3350-1405 Responsável por revisar artigos sobre o tema e por realizar parte da escrita do relato. Reinaldo Tavares Júnior | 0000-0003-2140-7160 Responsável por revisar artigos sobre o tema e por realizar parte da escrita do relato e responsável pelos exames de imagem que comprovam a revascularização após o procedimento com o uso da hialuronidase. Ana Paula Tavares | 0000-0001-7432-6730 Responsável por revisar artigos sobre o tema e por realizar parte da escrita do relato. Mariana Isis Wanczinski | 0000-0003-3118-6138 Responsável por revisar artigos sobre o tema e por realizar parte da escrita do relato. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p.77-9. estar relacionada ao volume injetado e ao local de injeção de preenchedores viscosos.8 Em ambos os casos relatados foram ob- servadas alterações do fluxo sanguíneo decorrentes da aplicação do ácido hialurônico, com manifestações típicas em diferentes tempos. Comumente, a cronologia das manifestações dermato- lógicas do processo embólico passa pelo branqueamento, vesí- culas, escaras e necrose, de forma que é essencial ao profissional reconhecê-las precocemente.¹ O uso da hialuronidase é reco- mendado para a degradação do material o que resulta no retorno do fluxo sanguíneo normal do local e na prevenção das sequelas. A terapia de apoio baseia-se no aumento da perfusão, diminui- ção do processo inflamatório e profilaxia de infecções associadas, podendo contar com vasodilatadores, corticosteroides, antimi- crobianos e agentes antiagregantes.2 Comparando os casos relatados e observando a evolução conforme a figura 1 e 2, podemos perceber que o tempo para degradação do ácido hialurônico mostrou impacto significativo no prognóstico e reestabelecimento do fluxo sanguíneo local. Além disso, vimos que a hialuronidase degrada apenas o ácido hialurônico injetável, não interferindo no que existe em nosso organismo, visto que no primeiro caso foi usada uma grande quantidade sem qualquer alteração na fisionomia prévia da pa- ciente. l Relato de Caso Autores: Aline Lissa Okita1 Samir Arbache2Dirlene Melo Palmeira Roth1 Luciana Gasques de Souza1 Mariana Morais Tavares Colferai1 Denise Steiner1 1 Departamento de Dermatologia, Faculdade de Medicina, Universida- de de Mogi das Cruzes – Mogi das Cruzes (SP), Brasil. 2 Departamento de Dermatologia, Escola Paulista de Medicina, Univer- sidade Federal de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil. Correspondência para: Aline Lissa Okita Rua Paulistania, 205. Apt 16 c Sumarezinho 05440 000 - São Paulo - SP, Brasil Email: alinelissaokita@gmail.com Data de recebimento: 04/10/2017 Data de aprovação: 09/03/2018 Trabalho realizado em Departamen- to de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes – Mogi das Cruzes (SP), Brasil. Suporte financeiro: Nenhum. Conflito de interesse: O autor Samir Arbache está envolvido com a empresa Traderm que comercializa produtos relacionados à técnica MMP®. Os autores Aline Lissa Okita, Dirlene Melo Palmeira Roth, Luciana Gasques de Souza ministram aula no curso da técnica MMP®. Tratamento de psoríase vulgar pela microinfusão de medicamentos na pele (MMP®) usando ciclosporina e metotrexato Treatment of psoriasis vulgaris with cyclosporine and methotrexate injections using the MMP® technique DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011098 RESU MO Medicações sistêmicas orais como ciclosporina (CYA) ou metotrexato (MTX) para tra- tamento de psoríase tem biodisponibilidade limitada devido à absorção incompleta gas- trointestinal e metabolização de primeira passagem hepática. Além disso, estão associados a efeitos adversos. A aplicação de CYA ou MTX através da Microinfusão de Medicamentos pela pele (MMP®) para tratamento de psoríase vulgar mostrou resposta terapêutica com redução significativa de lesões, sem indução de efeitos colaterais. Neste relato, descrevemos 4 casos de psoríase vulgar tratados com MMP® com CYA ou MTX. Palavras-chave: Ciclosporina; Metotrexato; Psoríase ABSTRACT Systemic oral medications – such as cyclosporine (CYA) or methotrexate (MTX) – for the treatment of psoriasis have limited bioavailability due to incomplete gastrointestinal absorption and first-pass hepatic metabolism. Moreover, they are associated with adverse effects. The application of CYA or MTX using the microinfusion of drugs into the skin method (MMP®) for the treatment of psoriasis vulgaris yielded a therapeutic response with significant reduction of lesions, and absence of side effects. In the present report, the authors describe 4 cases of psoriasis vulgaris treated using the MMP® method, with the application of CYA or MTX. Keywords: Cyclosporine; Methotrexate; Psoriasis INTRODUÇÃO Psoríase é doença inflamatória crônica e recorrente da pele com prevalência mundial de aproximadamente 2%, associa- da a alto grau de morbidade e impacto na qualidade de vida. A apresentação mais comum é a psoríase vulgar que acomete de 85 a 90% dos casos.1-3 Devido às suas diversas apresentações clínicas, o tratamento deve ser individualizado, considerando-se a locali- zação das lesões, o impacto na qualidade de vida e a coexistência de artrite psoriásica. Três modalidades são principalmente usadas, isoladamen- te ou em combinação: agentes tópicos, fototerapia e medicações sistêmicas. Tanto a fototerapia quanto as medicações sistêmicas são usadas em casos moderados a graves, definidos como aqueles com 10% ou mais de acometimento da área corpórea (Índice BSA − Body Surface Area); ou 10 pontos ou mais no Psoriasis Area Severity Index (Pasi) ou no Dermatology Quality of Life Index (DLQI). As medicações sistêmicas mais comumente utilizadas são o metotrexato (MTX), a acitretina e a ciclosporina (CYA).4,5 O MTX é substância teratogênica usada de forma oral, subcutânea ou intramuscular. Além de estar associado à intole- rância gastrointestinal, apresenta risco de mielossupressão e he- Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 80-4. 80 MMP® em psoríase: uma alternativa terapêutica 81 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 80-4. patotoxicidade.6 Sua biodisponibilidade é limitada por via oral devido à absorção incompleta pelo trato gastrointestinal (TGI) além da metabolização na primeira passagem hepática, liberando na circulação sistêmica pequenas concentrações da droga ape- sar da ingestão de altas doses. A reduce folate carrier 1 (RFC1), proteína transportadora transmembrana ubíqua, pode limitar a absorção oral do MTX quando saturada, o que ocorre a partir de 15mg de MTX.7,8 A CYA, um inibidor da calcineurina, disponível para uso oral ou intravenoso, tem resposta rápida como tratamento da psoríase, porém pode ser nefrotóxica e aumentar os níveis pres- sóricos, além de estar associada a efeitos colaterais como distúr- bios hidroeletrolíticos, hiperlipidemia, entre outros. Sua biodis- ponibilidade também é limitada na forma oral devido à baixa absorção e metabolização de primeira passagem hepática.9-14 Buscando manter e eventualmente melhorar a eficácia terapêutica mas com diminuição dos efeitos colaterais dos tra- tamentos sistêmicos, propomos o tratamento de pacientes com psoríase vulgar pela microinfusão de medicamento pela pele (MMP®), descrita por Arbache15,16 com o uso de MTX (Theva- metho® fabricado pela Pharmachemie BV em Haarlem, Holan- da e importado pela Teva Farmacêutica Ltda de São Paulo, Brasil, ampola estéril de 25mg/ml) e CYA (Sandimmun® Novartis, am- pola estéril de 50mg/ml). RELATOS DE CASO Caso 1: paciente do sexo masculino, 38 anos, ingestão de bebida alcóolica frequente, portador de psoríase vulgar com lesões nos membros superiores e tronco há nove anos. Relata- va uso prévio de acitretina e metotrexato, suspensos por efeitos colaterais. Recebeu quatro aplicações com intervalo de duas se- manas da MMP® com CYA em concentração de 12,5mg/ml nas lesões do antebraço direito. A ciclosporinemia sérica oito horas após a intervenção não foi detectável, e os exames laboratoriais e níveis pressóricos foram mantidos dentro da normalidade. Não houve queixa de efeitos adversos pelo paciente. Ocorreu a re- missão de todas as lesões, tanto as tratadas no antebraço direito quanto as não tratadas no braço esquerdo e no dorso (Figura 1) Caso 2: paciente do sexo masculino, 27 anos. Psoríase em placas há cinco anos. Lesões nas regiões anterior e posterior da perna direita, resistentes à terapia tópica. Recebeu três sessões da MMP® com MTX 25mg/ml distribuído nas lesões. Duas se- manas após a primeira aplicação, houve diminuição da descama- ção e da espessura e remissão do prurido (Figura 2). Após três aplicações de duas em duas semanas, houve remissão completa das lesões. Não foram detectados níveis de metotrexato sérico no dia seguinte à aplicação nem queixas de efeitos colaterais. Caso 3: paciente do sexo masculino, 58 anos, hipertenso, antecedente de AVC com hemiparesia à esquerda há 12 anos, em uso contínuo de captopril, AAS, atenolol e amlodipina. Por- tador, há 17 anos, de psoríase em placas localizadas, resistentes a tratamento tópico. Recebeu cinco sessões de MMP® com CYA em concentração de 12,5mg/ml de duas em duas semanas na lesão do dorso com melhora de aproximadamente 90% da lesão (Figura 3). Paciente teve boa tolerância ao procedimento, sem Figura 1: A - Pré-tratamento: braço direito, braço esquerdo e dorso. B - Após quatro aplicações de CYA por MMP® no braço direito com melhora de ambos os braços e dorso necessidade de analgesia tópica. A ciclosporinemia sérica após seis horas foi indetectável. Os exames laboratoriais e os níveis pressóricos se apresentaram inalterados. O paciente continua em tratamento. Caso 4: paciente do sexo masculino, 22 anos, com pso- ríase em placas há dois anos, tendo apresentado melhora prévia com MTX oral, porém não teve aderência ao tratamento, apre- sentando recidivadas lesões. Pasi inicial: 10,4. Foi realizada uma aplicação da MMP® com MTX nas lesões do dorso e do braço esquerdo (Figura 4). Após uma semana, as lesões estavam menos espessas e descamativas, e, após duas semanas, foram observadas apenas máculas no local das lesões tratadas e melhora das lesões a distância (Figuras 5 e 6). Segue em tratamento. Os pacientes foram devidamente informados sobre os detalhes do tratamento e assinaram o Termo de Consetimento Livre e Esclarecido. Figura 2: A - Antes do tratamento. B - duas semanas depois de MMP® com MTXA A B B 82 Okita AL, Arbache S, Roth DMP, Souza LG, Colferai MMT, Steiner D Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 80-4. Figura 4: A - Lesões que receberam aplicação de MMP® com MTX; B - Imediatamente após; C - Após uma semana; D - Após duas semanas Figura 5: Melhora das lesões nas pernas não submetidas a tratamento algum em paciente que recebeu MTX apenas nas lesões do dorso Figura 6: Melhora de lesões nos braços não submetidas a tratamento algum em paciente que recebeu MTX apenas nas lesões do dorso Figura 3: A - Pré-tratamento; B - Após uma sessão de MMP® com CYA; C - Após três sessões; D - Após cinco sessões DISCUSSÃO O tratamento da psoríase moderada a grave envolve me- dicações associadas a possíveis efeitos colaterais.4 Como alterna- tiva, alguns estudos investigaram a possibilidade de uso de MTX tópico, o que diminuiria a ocorrência de tais efeitos. Por ser uma molécula hidrossolúvel, sua capacidade de permear o estra- to córneo é limitada, e seu uso na pele íntegra, ineficaz.17, 18 Por isso, técnicas como eletroporação, iontoforese e lasers ablativos foram utilizados para aumentar sua permeação através da pele com resposta terapêutica no tratamento da psoríase.18-20 De forma similar, estudos de uso tópico de CYA foram ineficazes na pele íntegra.21-25 Griffiths et al. conseguiram respos- ta terapêutica após injeção intralesional de 2ml de CYA na con- centração de 17mg/ml nas lesões de psoríase, três vezes por se- mana, com níveis indetectáveis de ciclosporinemia sérica. Apesar da aplicação de quantidade considerável da medicação, devido à característica lipofílica da CYA, ela rapidamente se redistribuiria pelos tecidos, tornando-se indetectável em níveis plasmáticos. O principal efeito colateral no estudo foi a dor do procedimento.26 Pela técnica da MMP® 27 foi possível infundir o medica- mento diretamente nas lesões com excelente tolerância do pa- ciente após anestesia tópica. A droga injetada percutaneamente tem potente efeito local e consegue evitar o metabolismo de pri- meira passagem hepática, atingindo a circulação sistêmica em con- centração baixa indetectável, porém suficiente para obter resposta terapêutica, tratando pacientes com psoríase moderada a severa e também lesões resistentes a outras terapias sem efeitos colaterais. CONCLUSÃO O tratamento com a técnica da MMP® utilizando solu- ção de MTX ou CYA demonstrou boa tolerabilidade, nenhum efeito adverso, resposta rápida já notada em duas semanas e efi- cácia tanto em lesões tratadas isoladamente quanto em lesões a distância que não receberam a aplicação. A MMP® com CYA ou MTX pode ser uma nova mo- dalidade de tratamento para psoríase em placas resistentes, em localizações de difícil tratamento e em pacientes com risco de complicações associadas ao tratamento sistêmico. Serão necessários estudos para definir protocolos e ensaios clínicos randomizados a fim de determinar a eficácia, efetividade e eficiência da MMP® para o tratamento da psoríase com MTX e CYA. l A A C C B B D D REFERÊNCIAS 1. Christophers E. Psoriasis - epidemiology and clinical spectrum. Clin Exp Dermatol. 2001; 26(4): 314-20. 2. Nestle FO, Kaplan DH, Barker J. Psoriasis. N Engl J Med. 2009; 361(5): 496-509. 3. Griffiths CE, Barker JN. Pathogenesis and clinical features of psoriasis. Lancet. 2007;370(9583):263-71 4. Menter A, Griffiths CE. Current and future management of psoriasis. Lancet. 2007; 370(9583): 272-84. 5. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Consenso brasileiro de Psoríase 2012: guias de avaliação e tratamento. 2 ed. 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Dirlene Melo Palmeira Roth | 0000-0003-1007-5498 Revisão do artigo e aprovação do artigo final. Luciana Gasques de Souza | 0000-0001-5160-7572 Revisão do artigo e aprovação do artigo final. Mariana Morais Tavares Colferai | 0000-0002-1667-4988 Produção e coleta de dados, Revisão do artigo e aprovação do artigo final. Denise Steiner | 0000-0001-6450-9234 Revisão do artigo e aprovação do artigo final. Relato de Caso Autor: Célia Luiza Petersen Vitello Kalil1 Clarissa Prieto Herman Reinehr2 Laura de Mattos Milman3 Valéria Campos4 1 Ambulatório de Cosmiatria, Departamento de Derma- tologia, Santa Casa de Mi- sericórdia de Porto Alegre – Porto Alegre (RS), Brasil. 2 Clínica Dermatológica Célia Kalil – Porto Alegre (RS), Brasil. 3 Ambulatório, Santa Casa de Misericórdia de Porto Ale- gre – Porto Alegre (RS), Brasil. 4 Departamento de Dermato- logia, Faculdade de Medicina de Jundiaí – Jundiaí (SP), Brasil. Correspondência: Clarissa Prieto Herman Reinehr Rua Félix da Cunha, 1009 - Conj. 401 90570-001 - Floresta - Porto Alegre – RS E-mail: cla.reinehr@gmail.com Data de recebimento: 20/07/17 Data de aprovação: 07/03/18 Trabalho realizado na Clínica Dermatológica Célia Kalil – Porto Alegre (RS), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. Conflito de Interesses: Nenhum. 85 Laser versus microagulhamento para tratamento de cicatriz facial - Relato de caso Laser versus microneedling for the treatment of facial scar – Case report DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181011047 RESU MO Tanto o microagulhamento quanto o laser fracionado ablativo podem ser utilizados para o tratamento de cicatrizes. Neste artigo relata-se o caso de paciente do sexo feminino foi tratada em metade de cicatriz perioral com laser fracionado ablativo de CO2 e na outra metade da cicatriz com microagulhamento utilizando roller 2mm. Os resultados obtidos foram superiores na metade submetida ao procedimento com laser. Palavras-chave: Cicatriz; Colágeno; Lasers ABSTRACT Both microneedling and ablative fractional laser can be used for the treatment of scars. The present article reports the case of a female patient who had the first half of a perioral scar treated with ablative fractional CO2 laser, and the second half treated with microneedling, using a 2mm roller. Outcomes were superior in the half treated with laser. Keywords: Cicatrix; Collagen; Lasers INTRODUÇÃO Tanto o microagulhamento quanto o laser fraciona- do ablativo são benéficos para o tratamento de cicatrizes. Várias condições envolvendo fibrose, contraturas e cicatrizes podem ser tratadas com o laser fracionado de CO2.1 Da mesma forma, o mi- croagulhamento também pode ser utilizado para estimular o re- modelamento tecidual.2 Neste relato de caso os autores comparam o uso do laser de CO 2 com o de microagulhamento para tratamento de uma cicatriz traumática localizada na região perioral. RELATO DE CASO Apresentou-se à consulta paciente do sexo feminino, de 35 anos, com cicatriz na região perioral devido a acidente au- tomobilístico durante a infância. Já havia sido submetida a três cirurgias plásticas reconstrutivas prévias no local para melhora do aspecto cicatricial, porém permanecia insatisfeita e com res- trição para abertura da boca e para sorrir (Figura 1). A cicatriz foi dividida em duas áreas, a primeira localizada na hemiface direita, foi tratada com laser fracionado de CO 2 , e o microa- gulhamento foi realizado na metade da cicatriz localizada na hemiface esquerda. Anestésico tópico (cloridrato de lidocaína − Dermomax 40mg/g creme, Biosintética, Guarulhos, SP) foi aplicado 30 minutos antes do procedimento tendo sido feita complementação com anestesia injetável com cloridrato de li- docaína 1% com epinefrina 1:200.000 (Xylestesin®, Cristália Pro- dutos Químicos Farmacêuticos Ltda, São Paulo SP). O laser de CO 2 (Sculptor, Vydence Medical) foi realizado com a ponteira de 120nm, primeira passada: modo random, energia 140mJ, den- Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 85-7. 8686 Kalil CLPV, Reinehr CPH, Milman LM, Campos V sidade 75MTZ/cm²; segunda passada: modo brush, energia 30mJ, densidade 200MTZ/cm². O microagulhamento foi realizado com cilindros agulhados da marca Dr.Roller® (Mooham Enter- prise Co. Gyeonggi-do South Korea, Anvisa no 80669600001). Com agulhas de 2mm, o movimento de rolamento foi reali- zado de dez a 15 vezes, nas quatro direções, de forma a atin- gir 250-300 punturas/cm² e sangramento pontuado uniforme (Figura 2). Imediatamente após o procedimento foi aplicada formulação para drug delivery contendo Hidroxyprolisilane 4%, Omega active 5%, Regestril 2%, Matrixyl 3000 2% and IGF 1,5% sérum anidro fluido (Farmácia de manipulação Dermogral, Porto Alegre, RS, Brasil). Os ativos selecionados atuam na síntese de colágeno e elastina, como o Hidroxiprolisilane e o Matrixil 3000, além de inibirem a colagenase, no caso do Regestril e do Omega active.3 Foram realizadas duas sessões do procedimento com intervalo de 20 dias entre elas. A melhora das cicatrizes foi avaliada com a escala de Manchester (5 a 28, sendo que os maiores escores representam as piores cicatrizes).4 O lado direito da cicatriz, tratado com o laser de CO 2 apresentou os melhores resultados (Figuras 3A e B). A escala de Manchester inicial para ambos os lados tratados era de 13 pontos (Tabela 1); após o tratamento a área tratada com o laser teve melhora de cinco pontos, e a área tratada com microa- gulhamento de um ponto (Tabela 2). DISCUSSÃO Tanto o microagulhamento, também chamado indução percutânea de colágeno, quanto os lasers fracionados ablativos são opções terapêuticas efetivas para o tratamento de cicatrizes. Além disso, ambos possibilitam a realização de drug delivery para otimizar a entrega tópica de medicamentos. O remodelamento que ocorre após o uso do laser fra- cionado de CO 2 se dá pelo efeito fotomecânico, que remove as bandas cicatriciais escleróticas contendo colágeno espessado e libera o tecido com contratura, mediante remodelamento dér- mico. Na literatura, o uso do laser de CO 2 para tratamento de cicatrizes demonstra promover melhora na textura e na pig- mentação. No caso deste relato a melhora foi observada em textura, pigmentação, contorno, brilho e distorção. Além disso, os estudos que utilizaram as maiores densidades obtiveram os melhores resultados, o que justifica os parâmetros escolhidospara uso no presente caso.5 Particularmente para cicatrizes hi- pertróficas, resultados positivos podem ser observados na re- dução da firmeza da cicatriz e na melhora da superfície e das contraturas.6 Figura 1 - Paciente com cicatriz traumática na região perioral Figuras 3: A - Resultados observados 30 dias e B - um ano após a segunda sessão, observando-se superioridade na metade direita da cicatriz, na área de aplicação do laser fraciona- do ablativo Figura 2 - Pós- -procedimento imediato, na metade direita da cicatriz foi realizado laser fracionado e na metade esquer- da microagu- lhamento com agulhas de 2mm Tabela 1: Escala de Manchester pré-tratamento Cor Discromia evidente3 Cicatriz brilhante versus não brilhante Brilhante2 Contorno − slightly proud Indentado2 Distorção Moderada3 Textura Firme3 Escore total 13 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 85-7. A B Tabela 2: Escala de Manchester pós-tratamento Lado direito (laser) Lado esquerdo (microagulhamento) Cor Discromia leve2 Discromia leve2 Cicatriz brilhante versus não brilhante Não brilhante1 Brilhante2 Contorno No mesmo nível da pele adjacente1 Indentado2 Distorção Leve2 Moderada3 Textura Somente palpável2 Firme3 Escore total 8 12 REFERÊNCIAS 1. Haedersdal M, Erlendsson AM, Paasch U, Anderson RR. Translational medicine in the field of ablative fractional laser (AFXL)-assisted drug delivery: A critical review from basics to current clinical status. J Am Acad Dermatol. 2016;74(5):981-1004. 2. Lima EVA, Lima MA, Takano D. Microneedling experimental study and classification of the resulting injury. Surg Cosmet Dermatol. 2013; 5(2):110-4. 3. Souza VM, Antunes JD. Ativos Dermatológicos: dermocosméticos e nu- tracêuticos. Ed. Especial 10 anos. São Paulo: Pharmabooks; 2013. vol. 1-8. 4. Beausang E, Floyd H, Dunn KW, Orton CI, Ferguson MW. 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O microagulhamento, da mesma forma, estimula a cascata da cicatrização, culminando com a formação de colágeno tipo I; esse propósito é alcançado desde que as agulhas penetrem de um a 3mm, de forma a atingir a derme. Uma vez que somente 50-70% do comprimento total das agulhas penetra durante o rolamento, as agulhas devem ter no mínimo 1,5mm de comprimento.2 Estudos demonstram que a espessura epidérmica pode ser aumentada em até 205% com a realização de sessões seriadas de microagulhamen- to; além disso, o tecido conectivo dérmico se torna mais denso.7,8 A agulha utilizada em nosso caso, de 2mm, foi escolhida com o objetivo de gerar injúria profunda na derme, que é a indicada para tratamento efetivo de cicatrizes.2 Apesar do comprimento de agu- lhas utilizado ter sido adequado, observamos resultados superiores na área tratada com o laser fracionado ablativo. CONCLUSÃO Neste relato de caso observamos superioridade do uso do laser de CO 2 fracionado sobre o de microagulhamento com agulhas de 2mm para tratamento de uma cicatriz traumática pe- rioral; no entanto, tal resultado necessita de estudos com maior número de pacientes e de sessões, randomizados e cegados para comprovação dos achados obtidos. Ressaltamos ainda a possibi- lidade de realizar drug delivery no pós-procedimento imediato de ambas as modalidades terapêuticas, desde que com ativos apro- priados e com formulação adequada para tal objetivo. l CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES: Célia Luiza Petersen Vitello Kalil | 0000-0002-1294-547x Elaboração do manuscrito, escolha dos procedimentos a serem comparados e dos parametros do laser/comprimento agulha roller, correção do manuscrito escrito. Clarissa Prieto Herman Reinehr | 0000-0003-1811-4519 Execução do procedimento de laser e microagulhamento, fotografar o pré-proceedimento, pós-imediato e tardios, revisão da literatura, escrita do manuscrito. Laura de Mattos Milman | 0000-0002-3249-0396 Revisão da literatura, escrita do manuscrito. Valéria Campos | 0000-0002-3350-8586 Elaboração do manuscrito, escolha dos procedimentos a serem comparados e dos parametros do laser/comprimento agulha roller, correção do manuscrito escrito. Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 85-7. Laser versus microagulhamento para tratamento de cicatriz 87 88 Surgical & Cosmetic Dermatology Janeiro / Fevereiro / Março de 2018 Impresso em Março de 2018 Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.10 n.1 jan-mar. 2018 p. 88.