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Equações diofantinas Uma equação diofantina linear de duas variáveis (denotadas por x e y) é uma equação da forma ax+ by = c onde a, b ∈ Z∗ (ou seja, a e b são números inteiros não nulos) e c ∈ Z. Uma solução da equação diofantina é um par ordenado de números inteiros (x, y) cujas coordenadas x e y satisfazem a equação a · x+ b · y = c. Quando estamos trabalhando com equações diofantinas, estamos interessados apenas em soluções inteiras, ou seja, estamos interessados apenas em valores de x, y ∈ Z. Exemplo 1. A equação linear 3x+ 2y = 7 é uma equação diofantina de duas variáveis. O par ordenado (1, 2) é uma solução dessa equação diofantina, pois 3 · 1 + 2 · 2 = 3 + 4 = 7 O par ordenado (3,−1) também é uma solução dessa equação diofantina, pois 3 · 3 + 2 · (−1) = 9− 2 = 7 O par ordenado (−1, 5) também é uma solução dessa equação diofantina, pois 3 · (−1) + 2 · 5 = −3 + 10 = 7 Observe que as soluções de uma equação diofantina linear nada mais são do que as cons- tantes x e y das combinações lineares de a e b que resultam no número inteiro c. Logo, para uma equação diofantina linear ter solução é necessário que c possa ser escrito como combinação linear de a e de b. Mas (pela demonstração do Teorema de Bèzout) vimos que se c pode ser escrito como combinação linear dos números a e b, então necessariamente mdc(a, b) | c (ou seja, c é um múltiplo do máximo divisor comum de a e de b). Afirmação: Todo múltiplo do mdc(a, b) pode ser escrito como combinação linear de a e de b. Prova: Seja c um múltiplo de d = mdc(a, b). Então existe n ∈ Z tal que c = d · n. Pelo Teorema de Bèzout, d pode ser escrito como combinação linear de a e de b. Ou seja, existem números x0, y0 ∈ Z tais que d = a · x0 + b · y0 Multiplicando ambos os lados da equação por n, obtemos d · n = (a · x0 + b · y0) · n d · n = a · x0 · n+ b · y0 · n c = a · (x0 · n) + b · (y0 · n) Logo, se tomarmos x = x0 · n e y = y0 · n, então c = a · x+ b · y e, portanto, c pode ser escrito como combinação linear de a e de b. Proposição 1. A equação diofantina linear ax+ by = c possui solução se, e somente se, c for um múltiplo do mdc(a, b). 1 Exemplo 2. A equação diofantina linear 9x+ 6y = 7 não possui solução inteira, pois mdc(9, 6) = 3 e 3 ��| 7. Exemplo 3. A equação diofantina linear 7x+ 3y = 5 possui solução inteira, pois mdc(7, 3) = 1 e 1 | 5. Se mdc(a, b) = 1, então a equação diofantina linear ax+ by = c necessariamente possui solução. De fato, como 1 | c para todo c ∈ Z, então a equação diofantina linear ax + by = c possui solução. Exemplo 4. Determine (se existir) uma solução para a equação diofantina linear 112x+ 264y = 56 Vamos calcular mdc(112, 264). Temos que 264 = 112 · 2 + 40 112 = 40 · 2 + 32 40 = 32 · 1 + 8 32 = 8 · 4 + 0 Concluímos que mdc(112, 264) = mdc(8, 0) = 8. Como 56 é múltiplo de 8, então a equação diofantina tem solução. Para determinar uma solução, vamos escrever 8 = mdc(112, 264) como combinação linear de 112 e de 264. 264 = 112 · 2 + 40 → 40 = 264− 112 · 2 112 = 40 · 2 + 32 → 32 = 112− 40 · 2 40 = 32 · 1 + 8 → 8 = 40− 32 Logo, 8 = 40− 32 = 40− (112− 40 · 2) = 40− 112 + 40 · 2 = 40 · 3− 112 = (264− 112 · 2) · 3− 112 = 264 · 3− 112 · 6− 112 = 264 · 3− 112 · 7 = 264 · 3 + 112 · (−7) = 112 · (−7) + 264 · 3 Portanto, 8 = 112 · (−7) + 264 · 3 Como 56 = 8 · 7, então 8 · 7 = (112 · (−7) + 264 · 3) · 7 56 = 112 · (−7) · 7 + 264 · 3 · 7 56 = 112 · (−49) + 264 · 21 Concluímos que (−49, 21) é uma solução da equação diofantina. 2 Proposição 2. Suponha que (x0, y0) é uma solução particular da equação diofantina linear ax+ by = c. Então a equação diofantina possui infinitas soluções e o conjunto dessas soluções é S = {( x0 + b d t, y0 − a d t ) ∣∣∣∣ t ∈ Z} onde d = mdc(a, b). Chamamos o conjunto S de solução geral da equação diofantina. Prova: Nessa proposição, temos que: Hipótese: (x0, y0) é uma solução da equação diofantina linear ax+ by = c Tese: O conjunto de todas as soluções da equação diofantina é S = {( x0 + b d t, y0 − ad t ) ∣∣ t ∈ Z}, onde d = mdc(a, b). Observe que temos que provar duas afirmativas. A primeira é: Toda solução da equação diofantina é da forma ( x0 + b d t, y0 − ad t ) para algum t ∈ Z. A segunda é: Todo par ordenado da forma ( x0 + b d t, y0 − ad t ) , t ∈ Z, é solução da equação diofantina. Vamos provar primeiro que se (x, y) é uma solução da equação diofantina, então existe t ∈ Z tal que x = x0 + b d t e y = y0 − a d Suponha que (x, y) é uma solução qualquer da equação difantina. Temos que ax+ by = c Como (x0, y0) é solução também, então ax0 + by0 = c Logo, ax+ by = c = ax0 + by0 ax+ by = ax0 + by0 ax− ax0 = by0 − by a(x− x0) = b(y0 − y) Como d = mdc(a, b), então existem números inteiros n,m tais que a = d · n e b = d ·m dn(x− x0) = dm(y0 − y) n(x− x0) = m(y0 − y) ⇒ n | m(y0 − y) Como d é o maior divisor comum possível de a e de b, então mdc(n,m) = 1. Logo, devemos ter n|(y0 − y) Existe então algum t ∈ Z tal que y0 − y = n · t e, posrtanto, y = y0 − n · t = y0 − a d t Substituindo isso na equação a(x− x0) = b(y0 − y) 3 obtemos a(x− x0) = b ( y0 − [ y0 − a d t ]) a(x− x0) = b ( y0 − y0 + a d t ) a(x− x0) = b · a d t x− x0 = b d t x = x0 + b d t Logo (x, y) = ( x0 + b d t, y0 − ad t ) é solução da equação diofantina. Vamos provar agora que todo par ordenado da forma ( x0 + b d t, y0 − ad t ) , t ∈ Z, é solução da equação diofantina. Suponha que (x0, y0) é solução da equação diofantina. Temos que a ( x0 + b d t ) + b ( y0 − a d t ) = ax0 + � � �ab d t+ by0 − � � �ba d t = ax0 + by0 = c Logo, ( x0 + b d t, y0 − ad t ) é solução da equação diofantina. Exemplo 5. Determine a solução geral das seguintes equações diofantinas: (a) 112x+ 264y = 56. Já sabemos que (−49, 21) é uma solução da equação diofantina e que mdc(112, 264) = 8. Temos que a d = 112 8 = 14 e b d = 264 8 = 33. Logo, a solução geral da equação diofantina é S = {( −49 + b d t, 21− a d t ) ∣∣∣∣ t ∈ Z} = {(−49 + 33t, 21− 14t) | t ∈ Z} Para cada valor de t ∈ Z que tomarmos, (−49 + 33t, 21− 14t) será solução da equação diofantina. Por exemplo, • Se tomarmos t = 1, obtemos a solução (−49 + 33, 21− 14) = (−16, 7). • Se tomarmos t = 0, obtemos a solução particular utilizada para construir a solução geral (−49, 21). • Se tomarmos t = −1, obtemos a solução (−49− 33, 21 + 14) = (−82, 35). • Se tomarmos t = 2, obtemos a solução (−49 + 66, 21− 28) = (17,−7). • Se tomarmos t = −2, obtemos a solução (−49− 66, 21 + 28) = (−115, 49). 4
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