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Estudos Dirigidos da Teoria Geral do Direito (compilação)

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Estudo Dirigido nº 1
PARTE I
Introdução: ação, trabalho, labor, jus e lex
Questões 1 e 2
Os conceitos trabalhados em sala de aula, cuja diferenciação era fundamentada na organização social da sociedade grega, foram primeiramente desenvolvidos por Hannah Arendt e, posteriormente, utilizados por Tércio Sampaio em seu livro. Apesar da Era Industrial trazer a equidade de significados entre os termos, na Antiguidade grega há a distinção entre labor, trabalho e ação.
O trabalho é conceituado como as atividades que produzem bens cujo valor está no fim que esse bem proporciona e não no valor imbuído nele mesmo materialmente. O valor é dado com base no que esse bem é capaz de oferecer como meio adequado para atingir determinado fim. O resultado do trabalho é sempre instrumento de auxílio para o labor ou a ação, como uma faca para matar porcos, ou um projeto de arquitetura para a construção da ágora onde reuniam-se os indivíduos para discussões, debates e assembleias do povo.
O labor era atividade destinada a produzir bens de consumo, bens que suprissem o instinto fundamental e necessário do ser humano de sobreviver. De acordo com os gregos, esse instinto de sobrevivência encarcerava o ser humano em sua necessidade de labor, ou seja, atividades que produzissem bens perecíveis de subsistência. Dentro da sociedade grega o labor tinha como local de excelência a casa (oikia), a esfera privada era aquela em que o ser humano era privado de sua liberdade ao ser acossado por suas necessidades fundamentais de subsistência não possuindo liberdade para agir em prol de outros fins que não as satisfizessem.
 A ação, ao contrário do labor era uma atividade dominada pela palavra, pela discussão, sua prática era limitada aos que podiam libertar-se da condição de labor e adentrar à esfera pública, nesse caso apenas os chefes de família podiam dar-se a esse luxo. Os patriarcas dominavam o topo da hierarquia da esfera privada  podendo usufruir do ócio proporcionado pelos que laboravam para eles na esfera privada - mulheres e escravos.
Na esfera pública imperava a igualdade entre os indivíduos, não havia uma hierarquia de poder uma vez que o uso da ação sobrepõe-se à necessidade de violência por necessidades primitivas. Dessa forma a prática da ação, para os gregos, dignificava o homem.
Tércio Sampaio utiliza esses três conceitos para uma reflexão jurídica sobre o significado do direito (jus) em três diferentes períodos: a antiguidade grega, a Modernidade e a Contemporaneidade.
Na antiguidade grega se tem jus superior a lex (a lei), dessa forma prevalecia o direito como resultado da ação, da discussão de homens livres, o critério para um julgamento era um resultado mais justo do que “legal”, em enfoque mais zetético do que dogmático. Havia espaço para deliberação sobre o que era justo, mesmo se contradizente à lei vigente.
Na sociedade moderna vê-se uma alteração na semântica dos conceitos utilizados, agora, com a dignificação do homem pelo trabalho, a ação perde destaque como atividade política e aproxima-se do que os gregos chamavam de trabalho, portanto, passa a ser uma prática finalista. A evolução do direito se dá de forma que o mesmo torna-se um instrumento de dominação do ser humano sobre o outro.
Isso significa que o Direito de ação da Antiguidade, se transforma em instrumento de comando na Modernidade, como um objeto de uso. Ocorre a mudança da relação entre jus e lex, se antes eram diferentes pendendo para o direito, agora há a equidade entre ambos presente nas teorias jurídico-políticas do séculos XVII e XVIII. A lei passa a ser tida como principal fonte do direito, a tecnicidade domina o Direito à medida que não discute-se mais, como na ágora o que é justo ou injusto.
No período Contemporâneo ainda há a instrumentalização do Direito como na Modernidade, porém agora esse processo é aliado à sua efetivação como realidade de objeto de consumo. Portanto o direito passa a expressar-se pela lei, não há mais discussões sobre o que é justo ou não, mas a legalidade dá-se pela lex. O código de Napoleão passa a produzir esse tipo de mentalidade. A lei válida produz a decisão. Isso vai originar o que os juristas passam a chamar de ciência dogmática do Direito.
O texto de Mario G. Losano acorda com o desenvolvimento de Tércio Sampaio na medida em que critica a instrumentalização da ciência, eclipsada pelo domínio da esfera econômica dentro da sociedade. Por conta da tecnicização das ciências em prol da sociedade capitalista, comandada pela burguesia em ascensão com o desenrolar do período que chamamos de Modernidade,  há uma supervalorização de ciências cujos métodos e pesquisas produzam resultados imediatos ou à curto prazo. 
Portanto, ocorre uma defasagem no que diz respeito à métodos científicos ou discussões com finais puramente reflexivos ou conceituais. A Filosofia do Direito, como abordado por Losano, uma vez que busca a obtenção de decisões mais justas, por meio de reflexões e questionamentos - ou seja, da mesma maneira que exercia-se a relação entre jus e lex na antiguidade grega - é tida como menos importante dentro de uma sociedade que prioriza o exercício do Direito de forma pragmática e mecânica, tomando as leis como preceitos básicos e inquestionáveis.
Parte II
O problema dos diferentes enfoques teóricos: zetético e dogmático
3. O enfoque dogmático do Direito possui pontos fundamentais e indiscutíveis, como o dogma de uma doutrina, ou seja, há premissas que não são “verdades” necessariamente ou comprovadas, mas sim certezas impostas por um ato de poder que buscam definir como algo “deve ser”. Portanto, há uma relação de poder em que prevalece o sentido diretivo da linguagem com a finalidade de gerar interferências no comportamento de outros indivíduos, seja de forma a provocar um ação ou omissão. Esse tipo de enfoque da teoria jurídica originou as doutrinas jurídicas, as leis válidas, por exemplo, constituem dogmas judiciais para os juristas, apesar de poderem ser alteradas e revogadas.
	O enfoque zetético do Direito, por outro lado, possui o ponto fundamental de perquirir, indagar. É um enfoque mais indagador e problematizador que procura constatar sem juízo de valor, ou como utiliza Tércio Sampaio: “O zetético [...] desintegra,  dissolve as opiniões, pondo-as em dúvida. Questões zetéticas têm uma função explicativa explícita e são infinitas” . O sentido da linguagem que prevalece é o informativo, portanto há o predomínio do juízo de fato, descritivo e não apelativo. É um enfoque que possui evidências mais ou menos admitidas como verificáveis/comprováveis, ou seja, não são impostas por uma relação de poder
4. Em certo ponto da história o homem procura criar o real, trazendo o real para si e buscando explicá-lo por meio da razão e não por meio da metafísica, o real instiga à perguntas. Esse conjunto de perguntas leva ao vagaroso desprendimento de Deus, do metafísico e eventual ligação com o concreto e provável. Assim, aproximando-se de um enfoque zetético da teoria, de acordo com Tércio Sampaio Ferraz Jr., que gera eventualmente, um pensamento que culminou na área de pesquisa da Filosofia.
	A afirmação do caráter dogmático da Teologia, por Tércio Sampaio, dá-se por conta do conjunto de premissas inalteráveis da ciência teológica. A critério exemplificativo: a Filosofia, por possuir um enfoque mais zetético, questiona a existência de Deus e pode chegar a uma conclusão negativa, mas dentro da Teologia esse tipo de questionamento não é plausível, há uma série de premissas que precedem o estudo religioso - como a existência de Deus - que, portanto, justificam o caráter dogmático da Teologia em comparação com a Filosofia.
5. O exemplo contido nesta questão contém uma análise do direito que parte do enfoque dogmático do direito, uma verdade que se passa de absoluta imposta por um ato de poder. Isto se dá pois não há nenhuma comprovação científica e nenhum indício de que todos os seres humanos ao completarem 18 anos estarão maduros e responsáveis o suficiente para terem todos os seusdireitos civis liberados, afinal sabemos que o desenvolvimento tanto físico quanto psicológico é diferente para cada indivíduo. Assim, entende-se que fez-se necessário a utilização do enfoque dogmático na organização social de cada Estado, já que estimar a maturidade de cada indivíduo para que este atinja a maioridade civil seria uma tarefa desnecessariamente trabalhosa em comparação com a saída dogmática de estabelecer uma idade pré definida para que esta maioridade seja dada.
6. O exemplo contido nesta questão contém uma análise do direito que parte do enfoque zetético, pois é uma afirmação que pode ser considerada como verificável, mas que acima de tudo busca explicar e levantar questionamentos sobre um certo fenômeno ou  afirmação, buscando expandir a área de questionamentos e debates quase que infinitamente. Portanto, a afirmação de que o Direito não é mais do que o conjunto das normas válidas, postas pelo Estado, busca explicitar o enfoque dogmático das leis à partir do enfoque zetético, expandindo o campo das discussões sobre o papel do Estado e da disciplina do Direito como um todo.
Estudo Dirigido nº 2
Parte I - O universalismo jusnaturalista
Questão 1, 2 e 3
O jusnaturalismo é a “teoria segundo a qual existe, e pode ser conhecido um direito natural anterior e eticamente superior ao direito positivo”. De forma bastante genérica identificam-se teorias jusnaturalistas por meio da admissão de um direito natural dentro da teoria que deve preceder e prevalecer sobre o direito positivo.
Portanto, pode-se concluir que o jusnaturalismo possui uma dicotomia fundamentada na diferença entre a natureza e a cultura, sendo a natureza pontos inerentes e inegáveis ao ser humano, e a cultura elementos produzidos, inventados ou idealizados pelo ser humano. Portanto, há uma parte natural do direito que independe da vontade humana e outra parte humanamente criada.
	Segundo as teorias jusnaturalistas o conteúdo do direito natural pode ser conhecido, é acessível, mas não é exatamente acordado entre os autores jusnaturalistas. Na Idade Média esse conteúdo seria dado por uma visão, muito provavelmente, religiosa, já na Modernidade, uma sociedade extremamente individualista, o direito natural seria dado com base na manutenção da autonomia individual de cada indivíduo.
Traçando um parâmetro com a Antiguidade, no pensamento de Aristóteles, o conhecimento do direito natural pode ser alcançado por meio do uso da razão. O filósofo faz a distinção entre o justo por lei e o justo por natureza, sendo que os gregos tendem ao que era, em sua respectiva conjectura, justo por natureza. Contudo, não se pode dizer que todos os direitos naturais eram acatados pelos gregos, há que considerar que haviam facetas do direito natural ignorados pelos gregos por ser considerado fora da ordem natural do universo. Os homens livres podiam participar da Acrópole, mas também era de seu direito “natural”, na época, possuir escravos e utilizar-se de violência ao legitimar sua autoridade dentro de sua esfera privada, assim como era natural a superioridade dos homens sobre as mulheres.
Dessa forma  a noção de justiça na Antiguidade é diferente da concepção de justiça da Idade Média que, por sua vez, difere da Modernidade. Na Antiguidade é uma justiça que podemos chamar de imanente, na Idade Média há uma justiça transcendente, e na Modernidade é uma justiça que diz respeito aos direitos dos indivíduos em relação ao Estado. São concepções completamente distintas.
Na Modernidade, todo o jusnaturalismo que procede Hobbes - como de Locke e Rousseau - parte da premissa de que o direito natural é direito do indivíduo perante o Estado, portanto, mesmo que os autores possuam divergências ideológicas, convergem no que diz respeito ao direito natural do indivíduo perante a autoridade do Estado. O jusnaturalismo moderno é revolucionário, pois a noção de que o indivíduo nasce com direitos inatos limitam o exercício da autoridade política que, se desrespeitar esses direitos, justifica uma revolta contra si. Há um potencial explosivo dentro desse discurso: nasce-se com direitos naturais, individuais, inatos; que deveriam ser respeitados e prevalecer sobre o positivismo jurídico.
	Contudo, a grande ironia da História, é que movimentos revolucionários, fundamentados na lógica do direito natural, geram exatamente o momento em que o jusnaturalismo moderno celebra seu triunfo e esgota sua função, pois ascende o positivismo jurídico ao criar-se um ordenamento jurídico que garante os direitos dos indivíduos perante o Estado. Na necessidade que haver respeito à Constituição para manter a nova ordem política, coloca-se em xeque a própria noção de jusnaturalismo em valorização ao positivismo e as doutrinas jurídicas nascentes.
	Por conta disso o jusnaturalismo não é uma moral, mas uma teoria da moral que consiste na naturalização de uma ideologia conjectural.
4.  A exigência do direito natural tem como premissa que é possível adaptar o direito conforme as necessidades da sociedade em que ele está inserido, já a teoria Jusnaturalista compreende o direito natural como imutável, pois ele é inerente a natureza do homem, sendo provida por sua tradição. A segunda guerra mundial não se tornou um renascimento para o Jusnaturalismo pois nesse momento histórico passou a imperar o pensamento de que o direito natural seria mutável a depender da natureza dos homens, afastando-se assim do Jusnaturalismo jurídico e o axioma valorativo supostamente universal posto até então.
Parte II - O positivismo jurídico relativista
5. No mundo da causalidade toda a ação realizada, irá necessariamente ter uma consequência determinada, “ Se A é, então B também é ”, identifica-se, portanto, um sentido definitivo de causa e consequência, em que não há como contornar dada causalidade. Já na teoria do mundo da imputação existe uma consequência determinada para as ações, porém não se pode ter plena certeza se ela irá ter efeito ou se necessariamente irá ocorrer, influenciada por fatores adversos, “Se A é, então B deve ser”, mas não necessária ou imediatamente o é.
Dessa forma, o grande equívoco identificado por Kelsen na teorias jusnaturalistas é sua fundamentação em uma moral “universal”, pois a moral é relativa à época em que está inserida e o contexto cultural da sociedade que a professa.
Questões 6 e 8
Kelsen parte do relativismo axiológico ao colocar que a validação do direito positivo está ligada, necessariamente, à validez da regra perante o órgão legislador, e não obrigatoriamente ao caráter justo, ou falta do mesmo, da legislação em questão. Portanto há uma diferenciação entre validade e justiça, uma norma válida pode, e sempre será, tida como justa ou injusta por diferentes indivíduos justamente por conta da ausência de uma universalidade de axiomas como posto pelo jusnaturalismo.
Portanto não há como utilizar a justiça como premissa para a validade de uma norma e é uma distorção da teoria de Kelsen, entender que este, por seus princípios e sua obra, legitimava e defendia o sistema jurídico nazista.
Este equívoco categórico acontece por conta de uma má interpretação da dicotomia que Kelsen apresenta entre leis Válidas e Justas. Para o autor, uma lei sendo considerada válida pelo aparato jurídico-burocrático de um estado deve ser reforçada independente da aceitação dos indivíduos, e é neste ponto em que os críticos do autor equivocadamente interpretam sua teoria como uma defesa do sistema nazista. 
Porém, esta visão ignora a ideia de uma lei justa, uma vez que não necessariamente uma lei válida é justa, como afirma o autor. Portanto, o aparato nazista só funcionava pois a população também não questionava se as leis eram justas para a população, aceitando um sistema válido que possibilitou um estado nazista, que não questionava a justiça das leis. 
7. Ambas teorias pertencem à Filosofia do Direito. A Teoria da Justiça busca investigar e identificar os ditos “valores supremos” ao que o Direito tende. Já a Teoria Geral do Direito ocupa-se, do problemada validade e em que consiste o direito como regra obrigatória e coativa, quais são as características peculiares de um ordenamento jurídico distinto de outros ordenamentos normativos e, portanto, determinar os meios para realizar esses fins.
Estudo Dirigido nº 3
Parte I - Justiça, Validade e Eficácia
1. A valoração de uma norma corresponde a disciplina em que ela está vinculada, permitindo dessa forma o seu estudo e compreensão aprofundados. O estudo da teoria da justiça está ligada ao estudo do valor, conhecido também como axiologia do direito, analisando se o direito está de acordo com os valores. A valoração da validade está determinada no estudo do Juízo de Fato, ou Ontologia, buscando entender se o direito está válido perante as normas vigentes. E por fim a eficácia está ligado ao estudo da sociologia jurídica e a Fenomenologia do direito.
Questões 2, 4, 5 e 6
Os três critérios são definidos por Bobbio como independentes com relação à valoração da norma jurídica. Por exemplo, uma norma não precisa ser obrigatoriamente justa para ser válida, ou eficaz para ser justa. Portanto há um descolamento desses critérios que os tornam independentes um do outro. O autor lista, inclusive, seis proposições para esclarecer as relações independentes entre “justiça”,”validade” e “eficácia”.
	Como dito anteriormente, uma norma não precisa ser justa para ser válida, sua validez se dá por sua vigência dentro do ordenamento do direito positivo em questão, portanto sua validade em nada relaciona-se com seu lastreamento em um axioma “natural” como defendido pelos jusnaturalistas. Reduzindo a validade do direito positivo à justiça, o Jusnaturalismo ignora o relativismo axiológico colocado por Bobbio. Ou seja, não há como reduzir o ordenamento jurídico a um suposto conjunto de valores ideais a todos, justamente porque não há uma unidade de valores universais, tal pretensão mostra-se idealista demais para ser fundamentalmente aplicada ao direito positivo de forma eficaz.
	O exemplo inverso explica uma norma que é justa sem ser válida. Os teóricos do direito natural, por exemplo, formulavam um conjunto de normas fundamentadas em preceitos jurídicos “universais”. Mas essas normas não eram válidas a menos que positivadas dentro do Direito.
	A redução do Direito à validade das normas é recorrente dentro da linha teórica do Positivismo. Dentro dessa teoria a validade de uma norma jurídica depende de sua existência como tal, ou seja, se realmente é uma regra jurídica dentro do ordenamento em questão. O Positivismo Jurídico, portanto, reduz a norma jurídica à sua validade, tomando que justamente por essa característica a norma é automaticamente justa.
	A crítica feita à redução do direito positivo à validade dá-se pela retomada do direito positivo nos princípios hobbesianos. A imposição do mais forte torna-se válida precisamente por ser o mais forte que a promulga. Dessa forma uma norma tida como justa por ser válida eclipsa completamente a relação de poder vertical que a caracteriza com tal validez. Para criar-se um ordenamento válido portanto basta fazer-se o mais forte no topo da pirâmide. Vale lembrar nesse momento o exemplo clássico do ordenamento jurídico nazista na Alemanha, composto de normas válidas, vigentes, exercidas pelas autoridades concernentes do ordenamento e, no entanto o mais distantes possível do que pode ser tido como “justo” para com os direitos de um ser humano.
	O Realismo Jurídico por sua vez engrandece o critério da eficácia das normas jurídicas. Uma norma pode ser válida, mas não eficaz, ou seja, não seguida pela sociedade como deveria por ser prescrita no ordenamento jurídico. Normas sociais, por sua vez, são eficazes, mas inválidas dentro do direito positivo. Buscar colocar a justiça com dependente da eficácia de uma lei acaba por criar uma noção falaciosa do primeiro critério - colocar por exemplo a questão da escravidão como um ordenamento eficaz à época não torna tais normas justas.
	Tomar como paralelos a validez e a eficácia levam à crítica do autor de que tal lógica poderia tornar válidas, então, normas sociais eficazes, ao que rebate-se que há a necessidade de uma forma jurídica que determine o ordenamento. Portanto o extremismo de tomar os dois critérios como interdependentes peca no que concerne à forma jurídica.
	Portanto não basta que uma norma seja apenas válida, pois pode haver um lapso no que lastreia sua justiça, e não é suficiente uma norma meramente justa que não seja incluída ao ordenamento jurídico, pois assim não há plena validez da mesma ao não ser imposta juridicamente, muito menos é são tomar a eficácia das normas como prova de sua validade ou justiça. Bobbio coloca que todas as teorias que reduzem a validade do direito positivo a um dos critérios de valoração, seja justiça, validade ou eficácia, peca pelo “reducionismo” que ofusca um dos três elementos que constituem a experiência jurídica.
3. Ao pensar na melhor maneira de se organizar em sociedade, não se pode deixar nenhum destes três critérios mencionados acima de lado, todos são igualmente importantes para uma boa organização da vida social. Bobbio elabora a participação dos três critérios como três aspectos complementares no entendimento de um problema maior envolvendo a experiência humana, apesar de poderem ocorrer independentemente no que tange à valoração da norma jurídica enquanto tal. O autor não dispensa a necessidade de encarar o ordenamento com o fator humano incluso em sua organização, com seus ideais de justiça, instituições normativas e suas ações efetivas.
Parte II - As prescrições jurídicas
7. Uma sanção é uma consequência desagradável que ocorre sempre no momento de resposta à um ilícito, à uma violação social cometida. Neste conceito existem três tipos sanções enxergadas por Bobbio, estas são a sanção moral, social e jurídica. Uma sanção moral é a única que é interna ao indivíduo quando este comete o ilícito, tratando-se daquela que é o próprio indivíduo aplica à si mesmo (como uma sensação ruim ou o sentimento de culpa) quando este comete algum ato que seja incompatível com seus preceitos morais em relação à sociedade. 
A sanção social e jurídica são por natureza externas ao indivíduo, quando este comete o ilícito, porém, a diferença entre estas acontece no caráter da institucionalização. A sanção social é externa mas não institucionalizada, acontecendo assim quando o indivíduo comete um ilícito que não é institucionalizado na figura de um Estado, por exemplo, mas é reprovável dentro de seu grupo social e será este grupo que irá exercer a sanção em relação ao indivíduo. Já a sanção jurídica é aquela externa e institucionalizada por um Estado ou constituição, por exemplo, onde a sanção acontecerá por esse mecanismo que é legitimado e a caracterização do ilícito também acontecerá por este.
8. O autor inicialmente apresenta que existe a discussão entre os aspectos da sanção no ordenamento jurídico, com isso é apresentado um argumento dos pensadores não-sancionistas, o da adesão espontânea das pessoas a norma estabelecida, algo que é contra argumentado pelo autor mostrando que a sanção em alguns casos não é utilizada, porém ela deve existir e se fomentar na ideia da violação da norma por alguma das partes e com isso é necessário sua aplicação. Outra análise que Bobbio promove é referente a normas que não possuem sanção, sendo essas normas que promovem uma disputa intelectual, porém o autor apresenta que a sanção tem como fator determinar a eficácia da norma, dessa forma aquela que não apresentam sanção sua eficácia se consente ou são normas ligadas a hierarquia ou constitucionais, dessa forma devem ser analisadas com um entendimento diferenciado. Co isso é apresentado diversos fatores que demonstram que as normas têm um vínculo muito íntimo com a sanção principalmente para o contínuo funcionamento do sistema jurídico
9. Para o autor as normas que não são sancionadas estão em total acordo com coerção do direito, pois a graduação da própria coerção evolui de acordocom o nível de poder dentro do ordenamento civil. Dessa forma quando a coerção do direito se aproxima do núcleo do poder, sendo ele entendido como constituinte, é natural a redução da ação de coerção, porém se é entendido que o sistema promova que suas instituições se mantenham alinhadas com o “Estado de Direito”.
10. O autor apresenta dois tipos diferentes de Estado, que se diferenciam pela organização e atuação de suas instituições de poder na sociedade, sendo eles o “Estado de Polícia” e o “Estado de Direito”. As instituições de poder dentro do “Estado de Polícia” são arbitrárias e não possuem meios controle jurídico, dessa forma o “Estado de Direito “substitui essas entidades por outras com poderes juridicamente controlados e responsáveis, modificando o sistema da sociedade. Outra alteração visível desses dois sistemas está em relação às sanções que são aplicadas dentro de todo o ordenamento jurídico do sistema, ampliando seu mecanismo sancionatório.
11. Ao se estudar direito internacional, no pensamento de Norberto Bobbio, o princípio jurídico da sanção institucionalizada não está presente de forma convencional. Isso acontece pela ausência de um poder maior centralizado que seja capaz de exercer ações incontestado pelas partes constituintes do sistema, deste modo, o princípio da autotutela, em vez da heterotutela, é o modo mais reforçado na esfera internacional, apesar de ser menos eficiente que a heterotutela. A autotutela, quando a vítima de um crime é aquela que deve buscar aplicar a sanção cabível e aprovada no sistema contra seu agressor, é priorizada em relação à heterotutela, quando um terceiro ou mecanismo superior é responsável pela a aplicação das sanções cabíveis ao agressor; uma vez que leva-se em consideração a ausência de um mecanismo superior no sistema internacional.
12. Na concepção de Bobbio, o fundamento do poder jurídico está tanto na força quanto no consenso, uma vez que ambos são essenciais para um bom ordenamento jurídico de um sistema, uma vez que sem força não existe nem a possibilidade da efetivação das sanções impostas, e assim não existe poder. Porém também é necessário o consenso, uma vez que sem este, as normas e consequentemente as sanções esvaziam-se para aqueles sob estas normas sem consenso pois estes muitas vezes não as seguem, esvaziando-se assim, mais uma vez o poder jurídico.
Estudo Dirigido nº 4
A unidade do ordenamento jurídico
1. De forma concisa, podemos extrair a ideia de que Norberto Bobbio considera como Ordenamentos Jurídicos Complexos aqueles que são derivados de mais de  uma fonte, ademais o autor explora que eles fazem parte das experiências de historiadores e juristas. O autor completa sua linha de raciocínio exemplificando o que exteriorizou na conceituação do termo, utilizando-se de um exemplo prático como o de uma família na qual o pai delega uma parte do poder normativo que, pode ou não ter sido criado pela autoridade paterna, a sua esposa ou ao filho mais velho. Então, até mesmo em um campo menor, pouco institucionalizado e de poucos membros existem uma série de fontes e não apenas uma fonte que serve de inspiração para a criação de regras.
Sendo assim, naturalmente, pode-se apreender que um ordenamento jurídico é complexo pelo fato de que é necessário mais de uma fonte para minimizar os confrontos sociais e estabelecer regras de condutas compatíveis com o grupo. A pluralidade das sociedades complexas modernas, como conceituado na Academia de Antropologia, exige uma positivação do Direito concernente às diversas esferas que a compõem, dessa forma nada mais lógico do que uma positivação legislativa igualmente complexa na manutenção da harmonia social.
Há então, as fontes do ordenamento jurídico, as fontes diretas de positivação são, classicamente, pertencentes ao poder Legislativo do Estado Moderno. Contudo, Bobbio aponta, não são apenas os legisladores que produzem normas jurídicas. Existem diversas normas que são produzidas cotidianamente por outros atores. Nesse contexto entram as fontes indiretas do ordenamento.
O poder Executivo, por exemplo, pode produzir normas jurídicas, por meio do fenômeno da delegação. Como exposto em sala, essa forma de positivação normativa acaba gerando um efeito “cascata”, delega-se certa autonomia a um ator que deve basear-se nas diretrizes do órgão superior e assim sucessivamente. Um regulamento estadual está sujeito à superioridade jurídica da Constituição, por exemplo, que delegou ao Estado o poder de se auto-regular, desde que em acordo com a legislação constitucional.
Há ainda as Fontes Indiretas reconhecidas, em que certas normas são reconhecidas como concernentes e compatíveis com o novo ordenamento, o costume pode virar uma fonte subsidiária, no século XIX era aliás uma fonte equiparável com a produção normativa do ordenamento jurídico. Dessa forma o caráter receptivo dessas normas é imperativo para sua perpetuação dentro do novo ordenamento jurídico.
Portanto o Direito é criado, majoritariamente pelo Legislativo, mas não exclusivamente, dado que o Legislativo delega poderes inferiores de produção normativa e também reconhece determinadas normas que não foram produzidas pelo próprio.
2. No sentido literal, o poder originário é a origem do do ordenamento jurídico, é um poder político que cria um novo ordenamento para legitimar o próprio exercício de poder. Portanto, esse poder capaz de inaugurar um ordenamento para se positivar, está sujeito, justamente por seu caráter político, à disputas.
	Ser a origem, contudo, não faz desse poder absoluto e imutável, sempre possuíra dois limites: externo e interno a ele mesmo.
	Dos limites externos: uma vez que um novo ordenamento não surge plenamente incondicionado, ou seja, não elimina completamente as estratificações normativas que o precederam; parte daquelas regras vêm a fazer parte do novo  ordenamento, seja através de conhecimento expresso ou tácito. Portanto há a recepção de normas do antigo ordenamento que são aceitas e permitidas.
	Já para os limites internos pode-se definir que não há como limitar todas as camadas sociais, portanto o limite interno delega gradações de autonomia derivadas do poder originário. Assim, essa  limitação interna se impõe ao poder soberano como uma autolimitação do próprio em decorrência da criação de estruturas normativas criadas no poder originário. Deste modo, o poder soberano subtrai para si próprio uma parte do poder normativo para dá-lo a outros órgãos ou entidades, de alguma forma dele dependentes.
3. Considera-se como Normas Produtiva as àquelas normas que expressam um poder enquanto as Normas Executivas são aquelas que expressam um dever. As  normas, de modo geral, apresentam -se em ordem hierárquica. A Norma Fundamental é responsável por dar unidade a todo o ordenamento jurídico, ela está acima de todas as normas, portanto no vértice da pirâmide, e é somente produtiva. Em contrapartida, os Atos Executivos estão localizados no ponto mais baixo da pirâmide e são somente executivos.
Bobbio afirma que todas as outras normas que compõem o ordenamento jurídico (partes intermediárias) possuem a dualidade de serem produtivas e executivas ao mesmo tempo. Um Ato executivo está ligado às normas constitucionais que são produtoras das normas inferiores. Seguindo uma linearidade, de norma em norma, o Ato Executivo  poderia ter como última referência a norma constitucional. Desta forma, verifica -se que os termos execução e produção são relativos.
Justificam-se os dois extremos da pirâmide, o vértice e a base, usando suas respectivas características essenciais. O Poder é emanado da Norma Fundamental, fundamentalmente produtiva,  enquanto a execução desse mandamento é cumprida pelos pelo caráter executivo das instâncias inferiores. Não podendo, no entanto, poupar a existência de um em detrimento da de outro; poder e dever são dois conceitos correlatos.
4. A Norma Fundamental Hipotética é Atributiva, ou seja, atribui ao poder originário a faculdade de produzir normas jurídicas eao mesmo tempo é Imperativa, pois obriga a obediência ao poder originário. Contudo, por não ser uma norma posta (ela é pressuposta; fruto de ficção) ela é vazia de conteúdo ideológico. A sua importância é justificada devido ao apoio dado ao sistema. De modo que seria impossível compreendê-lo se não considerássemos sua existência fictícia. A norma Fundamental Hipotética serve para limitar o  raciocínio jurídico criado ao âmbito jurídico e isso apenas.
5. A norma fundamental não pode ser entendida como parte da teoria do direito natural, por conta de se adaptar à sociedade em que está atribuída, e com isso organizar como o ordenamento jurídico vigente irá se organizar, sujeita, portanto, à conjuntura em questão. Para estabelecer o pertencimento de uma norma ao ordenamento jurídico, há de se remontar sua validade até a norma fundamental, dado que a norma fundamental é “o fundamento de validade de todas as normas do sistema” (p. 62).
	No texto, Bobbio resvala brevemente na questão de qual seria o fundamento da norma fundamental, mas o descarta como “problema estéril”(p. 63). Seu principal argumento é que para definir tal origem seria preciso sair da esfera jurídica em corrente discussão, o que não concerne ao desenvolvimento que ele busca. Portanto, a norma fundamental é postulada como fundamento de validade de todo ordenamento jurídico válido.  
6. A norma fundamental, como constituição básica para o ordenamento jurídico de uma sociedade idealmente não teria conteúdo ideológico, pois esta molda os mecanismos iniciais necessários para uma organização jurídica removida de caráter ideológico da positividade da ordem vigente que gera o ordenamento jurídico, de acordo com a discussão de Bobbio a partir de Kelsen. 
Porém, com as mudanças morais e categóricas de uma sociedade, é possível que esta norma seja considerada injusta aos ideais vigentes da conjuntura em questão. Dessa forma o ordenamento jurídico deve seguir o andamento da norma fundamental, que em certas medidas por ser entendido como injusto, porém ele acompanha o caráter social vigente na sociedade em que é estabelecido, se for entendido que deve ser modificado, será fruto de um adaptamento social ou de um total reformulação do andamento da sociedade.
Estudo Dirigido nº 5
A coerência do ordenamento jurídico
1. Sistema pode ser definido como totalidade ordenada, ou seja, um conjunto de entes entre os quais existe uma certa ordem. Segundo Bobbio, para que um ordenamento jurídico constitua um sistema, as normas que o compõem devem estar num relacionamento de coerência entre si.
	A palavra sistema pode ser interpretada de três formas, ou seja, pode haver três significados: i) sistema dedutivo, quando todas as normas de um ordenamento jurídico são deriváveis de alguns princípios gerais, considerados da mesma maneira que os postulados de um sistema científico; ii) sistemática, termo usado para indicar um ordenamento jurídico da matéria, realizado através de processo indutivo, ou seja, partindo do conteúdo de simples normas com o intuito de construir conceitos mais gerais, e classificações ou divisões da matéria inteira; iii) o terceiro e mais importante significado de sistema equivale à validade do princípio que exclui a incompatibilidade das normas, ou seja, quando houver duas normas incompatíveis uma delas ou ambas deverá ser excluída do ordenamento.
	Assim, podemos concluir que, para Bobbio, o ordenamento jurídico é um sistema que admite o princípio que exclui a incompatibilidade da norma e tem, como consequência, a queda de uma das duas normas ou no máximo duas, e não mais de todo o sistema.
2. Antinomia pode ser definida como a situação de normas incompatíveis entre si, ou seja, situação na qual são colocadas em existência duas normas, das quais uma obriga e a outra proíbe, ou uma obriga e a outra permite, ou uma proíbe e a outra permite o mesmo comportamento.
	Para ocorrer a antinomia é necessário que as duas normas pertençam ao mesmo ordenamento e devem ter o mesmo âmbito de validade (temporal, espacial, pessoal e material), pois se as normas forem de ordenamentos diferentes o intérprete será obrigado a eliminar não somente as antinomias no interior de um ordenamento, mas também as subsistentes entre o dois ordenamentos.
	Portanto, podemos definir antinomia jurídica como aquela situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade.
3. Para solucionar antinomias, são três os critérios mais utilizados: o critério cronológico (fraco), o critério hierárquico (forte) e, por fim, o critério da especialidade (forte).
	O critério cronológico prescreve que dentre duas normas incompatíveis, a norma posterior deverá prevalecer. Essa regra se explica pelo fato de a eficácia da lei no tempo ser limitada ao prazo de sua vigência, que começa com sua publicação e perdura até a sua revogação.
	O critério hierárquico orienta que dentre as normas, como já visto, pertencente a planos distintos, aquela que estiver sobre as demais deverá prevalecer; a inferioridade de uma norma em relação a outra consiste na menor força de seu poder normativo.
	O terceiro critério prescreve que a lei especial derroga lei geral. Desse modo, se mantém o respeito à exigência fundamental de justiça. A passagem da regra geral para à tutela da regra especial demonstra as diferenciações das categorias e externa que determinada lei é mais competente que outra para um assunto específico sem ferir a norma geral.
4. Denomina-se de antinomia aparente àquelas antinomias passíveis de solução; elas pressupõem a existência de critérios que permitam sua solução. Constatada a antinomia aparente, cumpre ao operador jurídico conhecer os critérios que podem ser utilizados na solução do impasse ocasionado entre as normas aparentemente incompatíveis. Por outro lado, a antinomia insolúvel, chamada de reais, são aquelas em que há ausência de critérios para solucioná-las; elas pressupõem um conflito ou uma colisão entre normas jurídicas, que se excluem reciprocamente, por ser impossível remover a contradição com os critérios existentes no ordenamento jurídico, até porque esses são conflituosos.
5. Antinomia de segundo grau se refere ao conflito de critérios usados para solução da incompatibilidade entre as normas. Um conflito entre normas resulta em uma antinomia, e o conflito entre os critérios para solução das antinomias resulta em uma antinomia de segundo grau. Assim, para saber se as antinomias são solúveis ou insolúveis, é preciso analisar caso a caso o conflito entre os critérios, e avaliar se existem regras tradicionais que solucionariam o conflito entre critérios.	
	Se o conflito for entre critério hierárquico e cronológico, prevalece o critério hierárquico. Se o conflito for entre critério de especialidade e cronológico, prevalece o critério de especialidade. Se o conflito for entre o critério hierárquico e o de especialidade, temos um conflito entre dois critérios fortes, e neste caso deve-se avaliar o caso concreto da antinomia em questão. Assim, a solução será aplicada caso a caso.
6. As antinomias em sentido impróprio são originadas por situações dadas no ordenamento jurídico. Elas podem surgir devido a valores opostos que permeiam o ordenamento jurídico, configurando as antinomias de princípios. Podem também surgir por antinomias de valoração, como na punição de um crime. Ainda existem as antinomias teleológicas, de finalidade, que ocorrem quando há uma contradição entre a norma que prescreve um meio e uma que prescreve o fim, impedindo a sua compatibilidade concreta.
	Não há uma sistematização de critérios, cabendo ao operador do direito pesar a solução dessas antinomias.
	As antinomias de princípios não são de fato antinomias jurídicas, mas podem dar origem a normas incompatíveis, à antinomias em sentido próprio. Já essas antinomias devem ser tratadas segundo critérios, quando possível (hierárquico, cronológico, especialidade). Desta forma, as antinomias de princípio,não são passíveis de resolução com critérios sistemáticos, mas as antinomias que criam, podem.
7. As antinomias em sentido impróprio ocorrem quando os fundamentos norteadores do sistema jurídico entram em contradição, por ser possível ocorrer a coexistência de dois princípios, as quais envolveriam antinomias de princípios, de avaliação e antinomias teleológica. O legislador deverá atender as normas de resolução de cada tipo de antinomias impróprias, podendo eliminar uma delas, ambas as normas ou conservar ambas, dessa forma buscando a resolução do conflito. Porém essas antinomias não poderiam ser consideradas propriamente antinomias, pois o conflito existente não se dá entre normas, por isso é necessário sua análise.
Estudo Dirigido nº 6
A completude do ordenamento jurídico
A completude do ordenamento jurídico reside na existência de norma para regular qualquer caso, portanto, a completude é a ausência de lacunas. Uma lacuna se configura pela incompletude do sistema jurídico, que não possui nem a norma que proíbe e nem a norma que permite tal comportamento, ou que não possui parâmetros para julgar um dado caso.
    O arquétipo da completude de um sistema jurídico no texto de Bobbio é dado em um código civil francês, no qual o juiz é obrigado a julgar todos os casos que sejam designados a este baseando-se na legislação vigente, não importando se há lacunas ou contradições na lei. Esta obrigação do juiz se dá uma vez que são aplicadas, neste sistema, sanções contra o juiz se este se recusar a julgar qualquer caso que seja, independente da legislação.
Ambas as teorias, tanto a da autointegração quanto a da heterointegração partem do mesmo princípio, o que pressupõe uma lacuna no ordenamento jurídico. A diferença entre elas é como cada uma procura completar essa lacuna.
A autointegração procura entender casos similares e fundamentar-se na lei já vigente do ordenamento jurídico, utilizando-se desta para encontrar a melhor solução para a lacuna, muitas vezes, por meio de analogias ou silogismos comuns. A heterointegração, por sua vez, recorre a ordenamentos diversos, não necessariamente aquele dominante para que se complete a lacuna, absorvendo e integrando certos critérios normativos destes outros. Pode-se exemplificar essa prática pensando no direito positivo e no jusnaturalismo, na existência de uma lacuna no ordenamento positivo o juiz, praticando o princípio da heterointegração, poderia recorrer às leis do direito jusnaturalista para julgar o caso em questão.
No caso brasileiro, um exemplo que pode se relacionar com a discussão entre ambas teorias é no âmbito da discussão do direito digital e proteção de dados. Com a disseminação de uma prática abusiva de uso dos dados pessoais coletados pelas empresas em plataformas de pesquisa ou redes sociais, observou-se as lacunas legislativas na lei brasileira referente à proteção desses dados pessoais. No caso do Marco Civil da Internet, de 2014, que procurou sanar estas lacunas em certa medida, pode-se entender que utilizou-se de uma heterointegração para se começar a pensar na constituição deste projeto. Porém uma vez consolidado, pode servir de analogia para questões que se manifestem futuramente, constituindo-se uma autointegração.
Um dos pontos mais defendidos pela escola do Direito livre é que o direito legislado possui lacunas desde o momento de sua criação. A única maneira de se suprir – e consequentemente resolver esse problema – seria por meio da liberdade na hora de decidir, liberdade esta que seria dada ao juiz e em seu poder criativo.
	Com a formação da corrente sociológica jurídica, passou-se a entender o direito como um fenômeno social e que, portanto, tornar o Direito um produto do Estado era justamente o que conduzia o entendimento da existência de uma completude do ordenamento jurídico. Esse segmento teórico, profundamente relacionado com a escola do direito livre, critica o conformismo pois entende que o direito deve se adaptar reorganização das leis nos espaço jurídico baseando-se em estudos da sociedade e organizando-se perante a mesma. A lei não é entendida como a única forma de criação do ordenamento jurídico, estando presente outras formas entendimento do sistema jurídico, como a jurisprudência e os fatores sociológicos.
Essa teoria, a do espaço jurídico vazio, entende que existam duas instâncias na sociedade, aquelas que têm aplicadas em si o pensamento jurídico, sendo assim relevantes para o Direito e aquelas que não possuem nenhum tipo de ação ou pensamento jurídico aplicados, constituindo um espaço jurídico vazio, que é considerado irrelevante ao Direito.
	A partir disso é afirmado que o problema das lacunas simplesmente está em um problema de perspectiva, uma vez que a perspectiva da teoria do espaço jurídico vazio é que a existência de uma lacuna constitui simplesmente um espaço jurídico vazio, ou seja, é irrelevante para o direito. Bobbio é crítico desta perspectiva, uma vez que entende que o mais adequado nesta situação é pensar a partir do conceito de norma geral exclusiva.
	Pensando assim, a crítica é feita a partir da questão de que tudo juridicamente irrelevante para a teoria do espaço jurídico vazio é permitido pelo sistema normativo vigente e portanto, tendo o pensamento jurídico integrado, contrariando a teoria. Assim a solução para as lacunas propostas pela teoria da norma geral exclusiva seria a partir da visão do juiz, uma vez que o ordenamento em si não consegue fazer isso pela contradição entre normas exclusivas e inclusivas muitas vezes.
A Lacuna Real é um fenômeno que ocorre quando se torna impossível realizar a distinção entre duas normas, ocorrendo entre uma Norma Geral Exclusiva e uma Norma Particular Inclusiva. Segundo o autor, a incompletude do ordenamento jurídico está relacionada a que o ordenamento jurídico não abrange, sendo então um ponto de discussão entre duas frentes, apoiando ou não essa tese, principalmente por uma acreditar que o ordenamento jurídico abrange todos os aspectos da vida. Essa discussão se organiza também em quesito do julgamento, pois um juiz nunca pode deixar de realizar um julgamento com a premissa que o ordenamento não abrange aquele aspecto legal; o autor entende que para que o ordenamento não abrange todos os aspectos da vida, porém existem critério jurídicos para ser realizado determinado processo legal.

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