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Princípios da Execução

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www.professordanielneves.com.br 
Princípios da execução 
 
01 – Introdução 
 
O estudo dos princípios para qualquer ramo do direito sempre se mostrou de essencial 
importância, considerando-se que tanto o legislador na elaboração das normas gerais e 
abstratas, como o operador do direito na sua interpretação e aplicação prática, devem 
levar em considerações os princípios que regem o ordenamento jurídico.1 Na análise 
de um processo específico como a que nos propomos fazer com relação ao processo 
de execução, tem maior importância os princípios específicos sobre o tema, em 
detrimento dos princípios processuais gerais, sendo justamente esses que serão objeto 
de nossas considerações. 
 
Além da inegável importância do estudo dos princípios para a melhor compreensão dos 
fenômenos processuais, é importante ressaltar que no campo do processo executivo 
percebem-se mudanças de mentalidade e modificações legislativas que fazem com 
que a análise de tradicionais princípios deva ser feita sob uma nova ótica. Alguns, 
inclusive, vêm sua condição de princípios ameaçados, tantas são as exceções 
amplamente aceitas na praxe forense a eles. Justamente essa nova realidade da 
execução que nos motivou a elaboração do presente texto, que busca tão somente 
uma indicação das modernas propostas referentes à interpretação de tradicionais 
princípios do processo executivo. 
 
02 –Autonomia 
 
1
 Nesse sentido as lições de Gisele Santos Fernandes Góes, Princípio da proporcionalidade no processo 
civil, São Paulo, Saraiva, 2004, pp. 16/17: “Existe a convergência entre os doutrinadores no sentido de 
que os princípios ocupam posição de relevo no sistema jurídico, uma vez que são gerais e assentam as 
suas orientações, perfazendo-se como guias do ordenamento para a interpretação e aplicação das 
normas jurídicas, seja para dar coerência geral ao sistema (Jorge Miranda), seja para transparecer sua 
contingência constante (Helenilson Cunha Pontes)”. 
 
 
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Esse tradicional princípio do processo executivo deve ser analisado nos dias atuais 
levando-se em conta as transformações sofridas pelo Código de Processo Civil, em 
especial àquelas promovidas com relação à forma de execução do mais clássico dos 
títulos executivos judiciais; a sentença civil condenatória (art. 584, I, CPC). 
 
“A doutrina arrola o princípio da autonomia dentre os princípios do processo de 
execução, fazendo crer que, ainda hoje, este é o princípio que revela a relação 
existente entre processo de conhecimento e processo de execução. A 
modificação das estruturas processuais propugnadas pelas reformas, no 
entanto, realçou a existência de situações em que cognição e execução se 
realizam na mesma relação jurídico-processual, que antes figuravam como mera 
exceção ao princípio da autonomia da execução perante a cognição.” (José 
Miguel Garcia Medina, Execução civil – princípios fundamentais, São Paulo, RT, 
2002, p. 190) 
 
A lição tradicional ensina que o processo de execução se desenvolve de forma 
autônoma, constituindo um ente à parte dos processos de conhecimento e cautelar. 
Entende-se, portanto, que o processo de execução não pode ser considerado como 
mero ciclo final do processo de conhecimento. Tanto assim que a relação jurídica 
formada no processo de execução poderá ser diferente daquela formada no processo 
de execução (vide o caso da legitimação ordinária superveniente). Frise-se que 
estamos tratando do processo de execução, e não da fase de execução (art. 461 
(obrigações de fazer/não fazer), 461-a (obrigações de entrega de coisa), e com a 
aprovação de Projeto de Lei que se encontra na Câmara também referente às 
obrigações de pagar quantia certa2), que inclusive parcela da doutrina prefere chamar 
de fase de satisfação - para evitar indevidas confusões - já que naturalmente nesse 
caso não haverá autonomia. 
 
 
2
 Para uma análise do Projeto de Lei que foi batizado como “cumprimento de sentença”, consultar 
SÉRGIO SHIMURA, “Cumprimento de sentença”, pp. 241/251 e OLAVO DE OLIVEIRA NETO, “Novas 
perspectivas da execução civil – cumprimento da sentença”, pp. 183/202, ambos in Execução no 
processo civil – novidades & tendências, coord. Sérgio Shimura e Daniel Amorim Assumpção Neves, São 
Paulo, Método, 2004. Ainda Cássio Scarpinella Bueno, “Ensaio sobre o cumprimento das sentenças 
condenatórias”, in Revista de Processo nº 113, São Paulo, RT, 2004, pp. 22/76. 
 
 
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A justificativa para a autonomia do processo executivo como inicialmente imaginado 
pelos doutrinadores que trataram do tema encontrava-se alicerçada em duas 
justificativas fundamentais: (a) a diversidade de atividades jurisdicionais (no processo 
de conhecimento atividades cognitivas; no processo de execução atividades práticas e 
materiais) e (b) os diferentes objetivos traçados para cada uma dessas atividades (no 
processo de conhecimento reconhecer o direito do autor e, dependendo do caso, 
constituir uma nova relação jurídica ou condenar o réu; no processo de execução 
satisfazer o direito do exequente)3. Lembrava-se também a formação de uma nova 
relação jurídica processual, independente daquela formada no processo de 
conhecimento, conforme já aventado. 
 
Leonardo Greco indica sete características formais que confirmariam a autonomia do 
processo de execução como regra no processo civil brasileiro: “1ª a admissibilidade de 
execução por título extrajudicial ou por condenação criminal, sem processo civil de 
conhecimento anterior; 2º a possibilidade de que as partes na execução não sejam as 
mesmas do processo de conhecimento, como ocorre, por exemplo, na hipótese de 
execução contra o fiador judicial; 3º a impossibilidade de extinção do processo no lapso 
de tempo que medeia entre o trânsito em julgado da sentença condenatória e o início 
da execução, porque não há processo pendente; 4º a perda da eficácia da medida 
cautelar concedida no curso do processo de conhecimento, se a execução não for 
instaurada logo após o encerramento daquele; 5º a prescrição da execução se entre o 
término do processo de conhecimento e a instauração do processo de execução 
decorrer o prazo de prescrição da ação previsto em lei; 6º a necessidade de nova 
citação na execução 7º a necessidade de iniciativa originária do autor, não podendo ser 
instaurada ex officio (a execução)”4 
 
 
3
 Cfr. Enrico Tullio Liebman, Processo de Execução, 4ª ed., São Paulo, Saraiva, 1980, pp. 37/38. 
4
 Cfr. O processo de execução, vol. I, Rio de Janeiro, Renovar, 1999, pp. 169/170. 
 
 
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Respeitando-se a opinião dos doutrinadores que continuam a ver na autonomia um 
princípio do processo de execução, é necessário se observar que renomados 
doutrinadores acreditam que tal princípio não mais se justifica, devendo ser repensado, 
permitindo-se sempre que possível uma mera fase de execução em detrimento do 
processo autônomo. Essa visão, inclusive, não é nova, mas somente 
contemporaneamente passou a ser prestigiada pelo legislador. Humberto Theodoro Jr., 
em obra lançada no distante ano de 1987, já apontava as razões que demonstravam 
ser injustificada a manutenção da autonomia da execução de sentença, e as vantagens 
que o afastamento de tal princípio traria ao ordenamento processual. 
 
Para o doutrinador mineiro cinco razões principais demonstrariam a inadequação de se 
exigir que a satisfação de um direito reconhecido judicialmente se desse por via de um 
processo autônomo: 
 
“a) a pretensão que justifica a prestação jurisdicional não comporta a falsa 
dissociação em pretensão de condenar e pretensão de executar. na realidade, 
só há uma pretensão: a de compelir o devedorà prestação por inadimplência; 
b) se a lide real não se compõe apenas com a sentença condenatória, tem o 
órgão judicial, para atingir o desiderato da pacificação social, que prosseguir 
através de atos que tornem efetiva a restauração da ordem jurídica violada; 
c) se a condenação não basta para pacificar a lide, e necessária ainda se faz a 
atuação executiva, razão não há para encerrar-se a função jurisdicional com a 
sentença de mérito e exigir que o credor proponha outra ação para levar o 
órgão judicial a executar sua própria ordem de condenação; 
d) as nulidades ou ilegalidades do processo de conhecimento jamais seriam 
motivo para exigir a execução completa, apenas com o fito de ensejar 
embargos do devedor, pois outros meios há de se defender contra tais vícios, 
fora e dentro do processo executivo; 
e) na verdade, a execução, como processo autônomo e completo, só se 
justifica na cobrança dos títulos extrajudiciais, porque equiparados à sentença, 
dispensam a fase de cognição e já autorizam o início da atividade jurisdicional 
no estágio da realização prática do direito ao credor, sem perder tempo com 
sua definição ou acertamento”5 
 
Concordamos quase que integralmente com os argumentos acima expostos, 
discordando parcialmente tão somente do último deles, que afirma ser o processo 
 
5
 Cfr. A execução de sentença e a garantia do devido processo legal, Rio de Janeiro, Aide, 1987, pp. 
253/254. 
 
 
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autônomo de execução somente justificável para a execução dos títulos extrajudiciais. 
É importante lembrar que ainda que se busque um sincretismo maior entre o processo 
de conhecimento e o de execução, existem títulos judiciais previstos pelo art. 584, 
CPC, que sempre demandarão a existência de um processo autônomo de execução: 
sentença penal condenatória transitada em julgado (art. 584, II, CPC); sentença 
estrangeira homologada pelo stf (antes da EC 45) ou stj (depois da EC 45) (art. 584, IV, 
CPC); sentença arbitral (art. 584, VI, CPC). 
 
Após indicar as razões que demonstrariam a inadequação da exigência da autonomia 
para a satisfação dos direitos reconhecidos judicialmente o autor mineiro passa a 
elencar as vantagens da existência de um processo sincrético, com uma fase de 
conhecimento seguida por uma fase satisfativa: 
“a) a eliminação da propositura da execução forçada de sentença em nova 
petição inicial do credor; 
b) a eliminação da citação executiva: na própria sentença seria feita a 
assinatura do prazo para pagamento, o qual, ultrapassado sem comunicação 
ou prova de resgate, acarretaria a automática expedição do mandado de 
imissão de posse, se a condenação for de entrega de coisa, ou de penhora, se 
de pagamento de dinheiro; 
c) desaparecerão os embargos à execução, porque sendo único o processo, 
toda a matéria de defesa terá de ser produzida obrigatoriamente antes da 
sentença, como hoje ocorre com as ações possessórias e com as de despejo. 
com isso desapareceriam, também, os embargos de retenção; 
d) a prova de pagamento ou de outra causa de extinção da dívida, para 
encerramento da execução, será feita por meio de simples petição do 
executado. só em casos de alta complexidade, o juiz remeterá as partes para 
as vias ordinárias, sem, contudo, suspender a execução; 
e) as alegações de nulidade do processo de execução, ou da sentença 
exeqüenda, quando se tratar de nulidade de pleno iure, que prescinde da ação 
rescisória, serão argüidas, também, por simples petição do executado, 
enquanto não ultimada a execução; 
f) sem efeito suspensivo, poder-se-iam admitir apenas embargos à 
arrematação, se o processo chegasse ao final expropriativo, sem atentar-se 
para alguma nulidade ocorrida nos próprios atos executivos, e contra a qual 
não tivesse ocorrido a preclusão; 
g) para maior prestígio e maior eficácia da condenação, principalmente nos 
casos de dívida de dinheiro, poder-se-ia privar a apelação do efeito 
suspensivo, o que permitiria, logo após a sentença, a penhora, e eliminaria o 
risco de inutilizar-se a condenação, na demora da tramitação recursal, pela 
superveniência de insolvência do devedor ou algum ato fraudulento dele.”6 
 
6
 Cfr. A execução de sentença e a garantia do devido processo legal, op. cit., pp. 254/255. 
 
 
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Nos parece que tanto o legislador quanto o operador do direito tendem a afastar o 
princípio da autonomia do processo de execução sempre que a busca da satisfação do 
direito possa ser realizada no próprio processo em que esse direito foi reconhecido, 
como mera fase de satisfação7. O próprio conceito de autonomia dos processos – e 
não só o de execução – passa por sentida crise atualmente, havendo forte corrente 
doutrinária que defende um sincretismo total entre os processos previstos pelo 
ordenamento processual, imaginando-se que num mesmo processo seja possível a 
realização de atos cognitivos, executivos e cautelares. 
 
Cumpre apontar, inclusive, corrente doutrinária que entende que após o advento do art. 
273, § 7º, CPC, que trata da fungibilidade da tutela antecipada com a tutela cautelar, a 
autonomia do processo cautelar já não mais se justificaria. (Teresa Arruda Alvim 
Wambier e Luiz Rodrigues Wambier8; J.E. Carreira Alvim9; Marcus Vinicius Rios 
Gonçalves10; Joaquim Felipe Spadoni11; Fredie Didier Jr.12; Juvêncio Vasconcelos 
Viana 13) 
 
Esclareça-se, com relação ao tema, não ser essa a nossa opinião diante da inovação 
legislativa, nos parecendo que a concessão de medida cautelar quando requerida 
tutela antecipada pelo autor, além de preencher os requisitos típicos da tutela cautelar 
(fumus boni iuris e periculum in mora), deve também preencher os requisitos 
 
7
 Faz interessante observação a respeito do princípio da autonomia José Miguel Garcia Medina, 
Execução civil, op. cit., p. 216: “Como se assinalou no item 1., retro, é comum que o ordenamento jurídico 
preveja exceções a um princípio jurídico. A evolução de um sistema jurídico, no entanto, pode determinar 
que exceções eventualmente existentes num ordenamento jurídico se desenvolvam fecundamente, de 
modo a se poder considerar, diante de tal fenômeno, não se estar mais diante de meras exceções, senão 
diante de um novo princípio jurídico.” 
8
 Breves comentários à 2ª fase da reforma do Código de Processo Civil, 2ª ed., São Paulo, RT, 2002, pp. 
59/60. 
9
 Código de Processo Civil reformado, 5ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2003, p. 131. 
10
 Novo curso de direito processual civil, vol. 1, São Paulo, Saraiva, 2004, pp. 305/306. 
11
 “Fungibilidade das tutelas de urgência”, in Revista de Processo nº 110, São Paulo, RT, 2003, pp. 90/91. 
12
 A nova reforma processual, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 2003, pp. 87/88. 
13
 “A antecipação de tutela de acordo com a lei 10.444/2002”, in Revista Dialética de Direito Processual nº 
02, São Paulo, Dialética, 2003, p. 54. 
 
 
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tradicionais da fungibilidade (dúvida fundada e inexistência de erro grosseiro). Trata-se, 
portanto, de situação excepcional de exceção ao princípio da autonomia do processo 
cautelar, como já tivemos oportunidade de afirmar14. (Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio 
Cruz Arenhart15; Joel Dias Figueira Jr.16; Luiz Orione Neto17). 
 
De qualquer forma não se pode negar que o princípio da autonomia dos processos em 
geral, e mais claramente o princípio da autonomia do processo de execução vêm 
sofrendo seguidas flexibilização, rumando o processo civil brasileiro para a construção, 
sempre que possível, de um processo sincrético absoluto, em que o juiz possa exercer 
atividades de qualquer natureza. 
 
03 - Nulla executio sine titulo 
 
Não há execução sem títuloque a embase (nulla executio sine titulo), já que no 
processo executivo, além de se permitir a invasão patrimonial do executado por meio 
de atos materiais praticados pelo juiz (p. ex., penhora, busca e apreensão, imissão na 
posse), esse é colocado numa situação processual desvantajosa com relação ao 
exequente. Assim, exige-se a existência de título executivo, que demonstra ao menos 
uma probabilidade de que o crédito exeqüendo efetivamente exista. Nesse sentido as 
lições de Cândido Rangel Dinamarco: “A exigência de título executivo, sem o qual não 
se admite a execução, é consequência do reconhecimento de que a esfera jurídica do 
indivíduo não deve ser invadida, senão quando existir uma situação de tão elevado 
grau de probabilidade de existência de um preceito jurídico material descumprido, ou 
de tamanha preponderância de outro interesse sobre o seu, que o risco de um 
 
14
 Nova reforma processual civil, São Paulo, Método, 2003, pp. 128/130. 
15
 Manual do processo de conhecimento, 2ª ed., São Paulo, RT, 2003, p. 264. 
16
 Comentários à novíssima reforma do CPC, Rio de Janeiro, Forense, 2003, pp. 120/121. 
17
 Processo cautelar, São Paulo, Saraiva, 2004, pp. 67/69. 
 
 
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sacrifício injusto seja, para a sociedade, largamente compensado pelos benefícios 
trazidos na maioria dos casos.”18 
 
Correlato ao princípio de que não pode existir execução sem título, há outro que deve 
ser lembrado: o da tipicidade dos títulos executivos (nulla titulus sine lege). Significa 
dizer que o elenco de títulos executivos, contido no Código de Processo Civil ou em leis 
extravagantes, constitui numerus clausus, sendo, portanto, restritivo, o que impossibilita 
ao operador do direito criar títulos executivos que não estejam previstos em lei como 
tal. Nem mesmo a vontade dos participantes da relação jurídica de direito material 
possibilita a formação de um título executivo, diferentemente de outros ordenamentos 
processuais, como o alemão. Assim, mesmo que os contratantes celebrem um contrato 
e dispensem expressamente a assinatura das testemunhas, afirmando em cláusula 
contratual estarem formando um título executivo, o contrato não será instrumento apto 
a ensejar o processo executivo. 
 
Da análise conjunta desses dois princípios surge interessante questão envolvendo a 
execução de decisões interlocutórias, em especial aquelas que concedem uma tutela 
antecipada (art. 273, CPC). Se por um lado não se admite a execução sem título, e de 
outro somente será título àquilo que como tal estiver expressamente previsto em lei, 
como seria possível à parte a busca da satisfação fática de seu direito obtido em sede 
de antecipação de tutela, considerando-se que nem no Código de Processo Civil e nem 
em qualquer lei extravagante a decisão interlocutória consta como título executivo? 
 
Parte da doutrina entende que nesse caso haveria uma exceção ao princípio da nulla 
executio sine titulo, admitindo-se que atos executivos sejam praticados ainda que 
inexistente o título executivo. Fala-se, inclusive, no tocante a necessidade de existência 
de título executivo como instrumento a permitir atos materiais na busca da satisfação 
fática do direito, a convivência de dois princípios: o da nulla executio sine titulo e o 
 
18
 Cfr. Execução civil, 6ª ed., São Paulo, Malheiros, 1998, pp. 457/458. 
 
 
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princípio da execução sem título permitida.19 Não nos parece, entretanto, que esse seja 
o melhor entendimento sobre o tema, embora reconheçamos que o suposto problema 
exige uma explicação convincente diante de sua larga aplicação prática. 
 
Nos perfilhamos com outra corrente doutrinária, que entende que no termo “sentença 
condenatória”, prevista no art. 584, I, CPC, está abrangido qualquer pronunciamento 
judicial de conteúdo condenatório, inclusive as decisões interlocutórias. Afirma-se que 
em 1973 o legislador não imaginava a possibilidade de decisões interlocutórias 
necessitarem de execução, daí a redação restritiva do dispositivo legal acima citado. 
Diante de uma nova realidade gerada pelo art. 273, CPC, o termo “sentença 
condenatória” já não é mais apto a descrever todas as hipóteses de pronunciamentos 
decisórios do juiz que demandavam satisfação, o que passou a exigir uma 
interpretação mais ampliativa de seu conteúdo.20 
 
04 - Patrimonialidade 
 
Costuma-se dizer que a execução será sempre real, e nunca pessoal, em razão de 
serem os bens do executado os responsáveis materiais pela satisfação do direito do 
exequente. Não existe no direito brasileiro, e nem em qualquer ordenamento moderno 
que se tenha conhecimento, satisfação na pessoa do devedor, como existia na antiga 
Lei das XII Tábuas, que choca o leitor ao estabelecer que em determinadas condições 
seria possível “dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os 
credores” ou ainda “vender o devedor a um estrangeiro, além do Tigre”, o que 
 
19
 Essa a opinião de José Miguel Garcia Medina, “A execução da liminar que antecipa efeitos da tutela 
sob o prisma da teoria geral da tutela jurisdicional executiva – o princípio da execução sem título 
permitida”, in Processo de Execução, coord. Sérgio Shimura e Teresa Arruda Alvim Wambier, São Paulo, 
RT, 2001, pp. 509/535 e Luiz Guilherme Marinoni, Tutela antecipatória, julgamento antecipado e 
execução imediata da sentença, 4ª ed., São Paulo, RT, 2000, p. 22 e ss. 
20
 Nesse sentido Araken de Assis, Manual do processo executivo, 7ª ed., São Paulo, RT, 2001, p. 146; 
SÉRGIO SHIMURA, Título executivo, São Paulo, Saraiva, 1997, p. 209; Paulo Henrique dos Santos 
Lucon, Eficácia das decisões e execução provisória, São Paulo, RT, 2000, pp. 228/229. 
 
 
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significaria ou morte ou vida de extrema penúria, considerando que além do Tigre 
estavam os fenícios, inimigos capitais dos romanos. 
 
A prisão civil, prevista em nossa Constituição Federal para os casos de devedor 
inescusável e voluntário de alimentos e de depositário infiel (a par da discussão da 
permanência dessa possibilidade de prisão em razão do Pacto de San José da Costa 
Rica), não é exceção a regra da patrimonialidade da execução. A prisão, nesses casos, 
não é meio de satisfação do direito do credor, servindo simplesmente como forma de 
coerção psicológica do mesmo para que cumpra sua obrigação. É, portanto, uma forma 
de execução indireta, que por sua violência resta limitada a excepcionais situações, 
com expressa previsão constitucional. 
 
Parece ter entendimento contrário a esse respeito o Ministro do Superior Tribunal de 
Justiça, Teori Albino Zavaski, para quem “atualmente, no direito brasileiro, há apenas 
resquícios da execução pessoal, limitados à prisão civil como meio de coação para 
obter o pagamento da prestação alimentícia e o cumprimento dos deveres de fiel 
depositário.”21 
 
A proibição de que o corpo do devedor responda por suas dívidas, reservando-se tal 
garantia a seu patrimônio, é vista como representação da humanização que o processo 
de execução adquiriu durante seu desenvolvimento histórico, desde o direito romano, 
abandonando gradativamente a idéia de se utilizar a execução como forma de 
vingança privada do credor. A doutrina que enfrentou o tema é unânime em apontar 
que a Lex Poetelia, do ano 326 a.C., representou o início da transformação da 
responsabilidade pessoal para a patrimonial.22 Passou-se a proibir a morte e o 
acorrentamento do devedor, a se prever de forma institucionalizada a satisfação do 
 
21
 Cfr. (Processo de execução – parte geral, 3ª ed., São Paulo, RT, 2004, p. 111). Compartilhando desse 
entendimentoAraken de Assis, Processo de Execução, op. cit., p. 107. 
22
 Nesse sentido Paulo Henrique dos Santos Lucon, Embargos à execução, São Paulo, Saraiva, 1996, p. 
18. 
 
 
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crédito mediante a prestação de trabalhos forçados, o que, se hoje em dia parece 
inaceitável, à época representou grande avanço. A idéia de vingança privada, 
entretanto, ainda continuava fortemente arraigada na mentalidade romana da época. 
 
É interessante notar que mesmo dentro da responsabilidade patrimonial, que veio a se 
verificar de forma mais concreta no período clássico e pós-clássico do direito romano, 
houve uma evolução. Basta lembrar que a bonorum venditio representava uma 
execução universal e coletiva, na qual o devedor respondia por sua dívida com a 
integralidade de seu patrimônio, em procedimento muito parecido com a atual falência 
e insolvência civil. A partir do advento do período clássico (com os novos institutos aí 
previstos) passou-se em alguns casos a limitação patrimonial, com o valor dos bens 
expropriados correspondente ao da dívida, o que se aproxima de nosso atual esquema 
de responsabilidade na atual execução forçada. 
 
É preciso observar, ainda, que o desenvolvimento humanista da execução não se 
deteve nesse ponto de limitar a responsabilidade patrimonial ao valor da dívida, 
progredindo até ser criada a impenhorabilidade de bens. Atualmente existem bens que 
apesar de pertencerem ao patrimônio do devedor, não respondem por suas dívidas, já 
que a lei os considera impenhoráveis (art. 649 – absolutamente impenhoráveis; art. 650 
– relativamente impenhoráveis). Também há bens que, apesar de não mais estarem no 
patrimônio do devedor, respondem pela dívida, sempre que tenham sido transferidos 
em fraude. Por fim, há ainda situações em que bens de terceiros (meros responsáveis) 
e não do devedor, respondem pela dívida desse segundo.23 
 
05 - Resultado (desfecho único) 
 
 
23
 Com relação ao exagero quanto a impenhorabilidade de bens levando à frustração da tutela executiva, 
consultar Daniel Amorim Assumpção Neves, Impenhorabilidade de bens – análise com vistas à 
efetivação da tutela jurisdicional, pp. 47/80 e Guilherme Freire de Barros Teixeira, A penhora de salários 
e a efetividade do processo de execução, pp. 115/142, ambos in Execução no processo civil – novidades 
& tendências, op. cit.. 
 
 
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Como ocorre com todos os processos, também o executivo pode ter um final normal ou 
anômalo. A execução chega a seu final normal quando é bem sucedida, ou seja, 
quando se verifica a entrega ao exequente exatamente aquilo que receberia se não 
necessitasse do processo de execução. Sempre que o exequente satisfizer o direito 
exeqüendo a execução chegará a seu final normal, extinguindo-se por meio da 
prolação da sentença prevista no art. 794, CPC, que é meramente declaratória quanto 
ao final do procedimento executivo. O final anômalo do processo de execução – aliás, 
como também o de conhecimento e cautelar – é sua extinção sem o julgamento do 
mérito, o que ocorrerá por um dos motivos previstos pelo art. 267, CPC, ou com o 
acolhimento integral de embargos à execução cujo fundamento seja a inexistência do 
direito material exeqüendo. 
 
O processo de execução se desenvolve com um único objetivo; entregar ao exequente, 
dentro da maior proximidade possível, tutela idêntica a que obteria sem o processo. Por 
ser esse o objetivo único da execução, fala-se também em princípio do desfecho único, 
considerando-se que a única forma de prestação que pode ser obtida em tal processo 
é a satisfação do direito do credor. O executado, na melhor das hipóteses, verá 
impedida sua satisfação com a extinção sem o julgamento de mérito do processo, mas 
jamais terá a possibilidade de obter uma decisão de mérito favorável a ele. Na 
execução não se discute mérito (direito material), busca-se tão somente a sua 
satisfação, sendo, portanto, impossível uma improcedência do pedido do exequente. 
 
Sobre esse assunto há interessante debate doutrinário no que se refere ao acolhimento 
da defesa do executado conhecida pela doutrina como “exceção de pré-executividade”, 
tema que merece um estudo aprofundado incompatível com as pretensões do presente 
texto. Sendo o objeto de tal defesa as matérias de mérito da execução, que envolvem 
invariavelmente a inexistência do direito exeqüendo (p. ex., prescrição, pagamento), o 
seu eventual acolhimento levaria a extinção do processo executivo, havendo notável 
dissenso a respeito da natureza dessa sentença. Embora seja secular nossa tradição 
 
 
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de se afirmar que no processo de execução não há julgamento de mérito, a partir do 
momento em que se permite a solução do processo pelo acolhimento justamente de 
uma matéria de mérito não nos resta outra alternativa que não afirmar que nesse caso, 
absolutamente excepcional, será possível até mesmo em se falar em sentença que 
rejeita a pretensão executiva do credor (art. 296, I, CPC). Apesar disso, nos parece que 
o princípio do desfecho único continue a ser a regra, justificada inclusive pelas 
excepcionais exceções. 
 
Justamente em razão do desfecho único do processo de execução, que não tem como 
tutelar o direito material do réu, é permitido ao exequente, a qualquer momento, ainda 
que pendente de julgamento embargos à execução, desistir do processo, dispensado-
se a concordância do executado para que tal desistência gere efeitos jurídicos (art. 
569, CPC), bastando para tanto a homologação do juiz. Não tendo o executado nada a 
ganhar no processo executivo, a lei presume sua aceitação, dispensado a 
concordância expressa e não aceitando qualquer discordância por inutilidade prática de 
continuação do processo executivo. 
 
“Princípio informativo típico do processo de execução é o da disponibilidade: a 
execução tem por única finalidade a satisfação do crédito, de modo que sua 
razão de ser está relacionada exclusivamente ao interesse e ao proveito do 
credor, que dela pode dispor. No processo de conhecimento, destinado que é 
a eliminar incertezas sobre a existência ou não do direito subjetivo, ou de sua 
ameaça ou violação, o interesse das partes litigantes é concorrente, e não só 
do demandante, eis que a sentença de improcedência faz coisa julgada a 
favor do demandado. Daí por que a desistência da ação cognitiva após 
decorrido o prazo da resposta supõe o assentimento do réu (§ 4º do art. 267). 
O mesmo não ocorre no processo de execução, perante o qual o executado 
não pode alimentar “qualquer expectativa se solução favorável”, a não ser a de 
almejar “que o processo se extinga”. Assim, no pressuposto de que a 
desistência da execução a ninguém prejudica e que “é sempre favorável ao 
réu”, até porque tudo volta ao status quo, assentou-se o princípio de que o 
exequente tem a disponibilidade da ação de execução, podendo dela desistir, 
no todo ou em parte, independentemente da concordância do executado, que 
se presume.”24 
 
 
24
 Cfr. Teori Albino Zavaski, Processo de execução – parte geral, op. cit., p. 97. 
 
 
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Com relação à disponibilidade do processo executivo há algumas características 
dignas de nota, que exporemos de forma direta: a) desistência não se confunde com 
renúncia, instituto de direito material. Significa dizer que o exequente simplesmente 
desiste de cobrar executivamente seu direito naquele momento, naquele processo 
específico, podendo, entretanto, ingressar posteriormente com ação idêntica; b) sendo 
possível ao exequente desistir de toda a execução, também será admitida a 
desistência referente a alguma medida executiva em hipóteses em que houver uma 
pluralidade de meios a disposição doexequente (multa diária, prisão, alienação de 
bens, etc). Nesse caso, o juiz deverá levar em consideração na homologação da 
desistência a menor onerosidade ao executado (art. 620, CPC) e a eficácia da tutela 
jurisdicional; c) havendo litisconsórcio é admitida a desistência por um ou mais dos 
litisconsortes, independentemente da concordância dos outros litisconsortes ou do 
executado; d) todos os legitimados a propor a execução podem dela dispor, à exceção 
do Ministério Público (atuação processual orientada pelo princípio da indisponibilidade), 
que tem a disponibilidade somente com relação às medidas executivas; e) a 
admissibilidade da desistência da execução está condicionada a não realização no 
processo de atos que não possam ser anulados sem prejuízo do devedor ou de 
terceiro. Dessa forma, arrematado um bem em hasta pública, não se admitirá a 
desistência da execução, da mesma forma que será inadmissível a desistência se na 
execução de fazer fungível a obrigação já tiver sido satisfeita por terceiro (art. 634, 
CPC). 
 
No caso de desistência do processo de execução, interessante questão surge no 
tocante aos embargos de execução pendentes de julgamento. Caso os embargos 
versem sobre matéria meramente processual (p. ex., ilegitimidade de parte, falta de 
liquidez do título, etc), perderão o objeto e serão extintos sem o julgamento do mérito, 
condenado-se o embargado – credor ao pagamento das custas judiciais e honorários 
advocatícios. Nesse caso a extinção dos embargos à execução é uma conclusão lógica 
da desistência da ação de execução, considerando-se que no eventual acolhimento da 
 
 
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matéria aduzida o embargante conseguiria uma sentença terminativa do processo de 
execução, exatamente aquilo que já obteve com a homologação da desistência de tal 
processo. Haverá, portanto, perda superveniente do objeto dos embargos, que se 
tornarão inúteis e por isso devem ser extintos sem a necessidade de concordância do 
embargante. 
 
Por outro lado, caso os embargos versem sobre matéria de mérito, ligada ao direito 
material alegado pelo exequente (p. ex. novação, compensação, inexistência de título 
na execução por título extrajudicial, etc.), a extinção dos embargos está condicionada a 
concordância do embargante. A razão para se condicionar à extinção dos embargos à 
concordância do embargante é clara: tratando-se de matérias de mérito, também é 
possível vislumbrar interesse desse na continuação dos embargos, obtendo sentença 
de mérito a seu favor, que demonstraria a inexistência do direito material do exequente. 
A coisa julgada material que seria formada em tal circunstância impediria a propositura 
do processo de execução novamente, o que não ocorreria com a simples desistência 
do processo. Nesse sentido a melhor doutrina: 
 
“Se o fundamento dos embargos fora a inexistência do crédito e se o 
julgamento lhe for favorável, o executado-embargante terá em seu benefício 
uma sentença declarando que nada deve. Passada em julgado, trar-lhe-á 
perpétua segurança a respeito e o suposto crédito do adversário jamais 
poderá voltar a ser cobrado (coisa julgada material, imutabilidade dos efeitos 
da sentença). Por isso é que, pendentes os embargos de mérito, a desistência 
da execução só os extinguirá se assim o admitir o embargante. É o seu direito 
de ação, afinal, que alei visa resguardar quando deixa a seu exclusivo critério 
a extinção desses embargos em consequência de haver o credor desistido da 
execução”25 
 
Com relação à interpretação do art. 549, par. único, CPC, algumas observações 
rápidas e diretas se impõem: a) não se exige a concordância do embargado, 
considerando-se que ao desistir do processo de execução presumidamente o 
 
25
 Cfr. Cândido Rangel Dinamarco, A reforma do Código de Processo Civil, 4ª ed., São Paulo, Malheiros, 
1998, p. 287. 
 
 
 
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exequente também está abrindo mão do julgamento dos embargos; b) não havendo a 
concordância do embargante, os embargos perdem tal natureza, passando a ser 
tratado como ação autônoma declaratória. A apelação, portanto, será recebida no 
duplo efeito (não se aplicará a exceção do art. 520, V, CPC); c) embargos fundado em 
excesso de execução, embora não tratem em algumas hipóteses de matéria 
processual, serão automaticamente extintos diante da desistência do processo de 
execução; d) embargos de retenção, embora não tratem de questões processuais, 
serão automaticamente extintos com a desistência do processo de execução; e) no 
caso de renúncia ao direito exeqüendo, os embargos – tanto com matéria processual 
como com matéria de mérito – serão automaticamente extintos. 
 
06 - Utilidade 
 
Como todo processo, também o de execução deve servir a efetivamente entregar ao 
vitorioso aquilo que lhe é de direito. Não se justifica, portanto, processo de execução 
que possa apenas prejudicar o devedor sem trazer qualquer proveito prático ao credor. 
Em razão desse princípio, a penhora não será realizada quando restar evidente que o 
produto da execução dos bem encontrados for ser totalmente absolvido pelo 
pagamento das custas da execução. 
 
É também o princípio da utilidade que impede a aplicação das astreintes – multas no 
caso de descumprimento de obrigação de fazer/não fazer e entrega de coisa – quando 
o juiz perceber que a obrigação se tornou impossível. Somente prejudicaria o 
executado, sem nenhum proveito ao exequente na busca da satisfação de seu direito, 
a aplicação de uma medida que se entende por coercitiva (e não punitiva) quando 
apurado a impossibilidade do cumprimento da obrigação. 
 
Nunca é demais lembrar que a execução não é forma de vingança privada, como 
utilizada no direito romano. Trata-se de mecanismo judicial para a satisfação do direito 
 
 
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do credor, e sempre que se entender que esse direito não pode ser satisfeito, não 
haverá razão plausível para a admissão da execução. A regra se aplica também aos 
meios executivos, que sempre que se mostrarem inúteis para tal satisfação do direito 
deverão ser indeferidos pelo juiz. 
 
07 - Menor onerosidade 
 
O processo de execução não é instrumento de exercício de vingança privada, como 
amplamente afirmado, nada justificando que o executado sofra mais do que o 
estritamente necessário na busca da satisfação do direito do exequente. Gravames 
desnecessários à satisfação do direito do credor devem ser evitados sempre que for 
possível tal satisfação por meio de outros mecanismos. Dessa constatação a regra de 
que quando houver vários meios de satisfazer o direito do credor, o juiz mandará que a 
execução se faça pelo modo menos gravoso ao devedor (art. 620, CPC). 
 
É evidente que tal princípio deve ser interpretado à luz do princípio da efetividade da 
tutela executiva, sem a qual o processo não passa de enganação. O credor tem direito 
a satisfação de seu crédito, e no caminho para sua obtenção naturalmente criará 
gravames ao devedor. O que se pretende evitar é o exagero desnecessário de tais 
gravames. Esse um dos motivos para não se permitir que bem do devedor seja 
alienado em hasta pública por preço vil (art. 692, CPC). O sacrifício da efetividade da 
tutela executiva, entretanto, não pode resultar do respeito de tal princípio. Caberá ao 
juiz no caso concreto, encontrar um “meio-termo”, como lembrado pela melhor doutrina: 
 
“Dispondo o art. 620 do Código de Processo Civil que “quando por vários 
meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo 
modo menos gravoso para o devedor”, a norma que desse texto se extrai 
mediante uma interpretação sistemática é a de que a execução deve pautar-se 
por duas balizas fundamentais, antagônicas, mas necessariamente 
harmoniosas, que são (a) a do respeito à integridadepatrimonial do 
executado, sacrificando-o o mínimo possível e (b) a do empenho a ser feito 
para a plena realização do direito do exequente. É indispensável a harmoniosa 
convivência entre o direito do credor à tutela jurisdicional para a efetividade de 
 
 
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seu crédito e essa barreira mitigadora dos rigores da execução, em nome da 
dignidade da pessoa física ou da subsistência da jurídica – a qual outra coisa 
não é que a personificação de grupos de pessoas físicas reunidas em torno de 
um objetivo comum. Ao juiz impõe-se, caso a caso, a busca da linha de 
equilíbrio entre essas duas balizas, para não frustrar o direito do credor nem 
sacrificar o patrimônio do devedor além do razoável e necessário.” 26 
 
Assim, penhorada uma casa que sirva de residência ao devedor, existindo outras nas 
mesmas condições, obviamente que se mostra gravame desnecessário tal penhora, 
podendo o executado pleitear a modificação do bem objeto de constrição. O mesmo, 
entretanto, não ocorre quando o devedor tenha aplicações em banco penhoradas e 
pretenda modificar a penhora por velhas máquinas que dificilmente serão expropriadas 
em hasta pública. Registre-se que o posicionamento conservador do STJ referente à 
penhora do faturamento se funda justamente na aplicação do princípio estudado, ainda 
que em muitas ocasiões seja ignorado o direito do credor à satisfação rápida e integral 
de seu direito. 
 
08 - Lealdade e boa-fé processual 
 
Tais princípios, ligados à imprescindível e necessária ética em todo e qualquer 
processo, vêm representados pelas previsões constantes nos arts. 600 e 601, CPC.27 
O primeiro trata do rol de atos que compõe os chamados atos atentatórios à dignidade 
da justiça, enquanto os segundos tratam da punição ao executado que realiza ato 
tipificado no artigo antecedente. 
 
É considerado ato atentatório à dignidade da justiça quando o devedor: (i) frauda a 
execução; (ii) se opõe maliciosamente à execução, empregando meios ardis e meios 
 
26
 Cfr. Cândido Rangel Dinamarco, A nova era do processo civil,São Paulo, Malheiros, 2003, pp. 
290/291. 
 
27
 Para uma análise mais aprofundada sobre o tema do ato atentatório à dignidade da justiça, consultar 
Daniel Amorim Assumpção Neves, “Ato atentatório à dignidade da Justiça (arts. 600 e 601 do CPC)”, in 
Linhas Mestras do Processo Civil, São Paulo, Atlas, 2004, pp. 113/130. 
 
 
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artificiosos; (iii) resiste injustificadamente às ordens judiciais; (iv) não indica ao juiz 
onde se encontram os bens sujeito à execução. Cometido qualquer desses atos, o 
executado, após ser ouvido (contraditório), será condenado ao pagamento de até 20% 
do valor atualizado do débito, sem prejuízo das sanções de natureza processual ou 
material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na própria execução. 
 
Mais uma vez de forma direta e simples algumas observações a respeito do instituto do 
ato atentatório à dignidade da justiça: a) somente os atos do executado serão 
considerados como atos de atentatórios contra a dignidade da justiça. Exclui-se, 
portanto, a figura do exequente, que obviamente também pratica atos no processo de 
execução, e quando o fizer imbuído de má-fé estará incurso nos atos tipificados no art. 
17 do Código de Processo Civil; b) além do processo de execução, também se incluem 
os atos praticados nos embargos à execução e na fase executiva das ações 
sincréticas; c) a expressão “fraude à execução” (art. 600, I, CPC), deve ser interpretada 
de forma ampliativa, entendendo-se por fraudar qualquer ato praticado que leva a 
inutilização do processo executivo, e não só os casos tipificados pelo art. 593, CPC, 
como sendo cometidos em fraude à execução; d) a resistência injustificada às ordens 
do juiz deverá também ensejar a multa prevista no art. 14, par. único, CPC – ato 
atentatório à dignidade da jurisdição. No caso não haverá bis in idem, já que a multa do 
art. 601, CPC, é revertida para a parte contrária, enquanto a multa prevista no art. 14, 
CPC, é revertida ao Estado; e) o STJ entende não ser um dever do executado a 
indicação dos bens à penhora, tratando-se de mero ônus. Dessa forma, o 
descumprimento ao previsto no art. 600, IV, CPC, não gera qualquer sanção ao 
devedor, que simplesmente ao deixar de nomear bens à penhora transfere ao credor a 
tarefa de indicar tais bens em seu patrimônio. 
 
 
 
 
 
 
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09 - Contraditório 
 
Afirma-se tradicionalmente na doutrina que no processo de execução não se discute o 
seu mérito, já que o juiz parte de uma presunção de existência do direito do exequente 
(derivada do título executivo judicial) e busca tão somente a satisfação de tal direito. 
Não se nega que exista mérito no processo de execução, entendido como o pedido 
elaborado pelo exequente, condicionando-se seu julgamento ao ingresso dos 
embargos à execução, ação de conhecimento autônoma e incidental ao processo de 
execução. 
 
Essa ausência de julgamento de mérito no processo de execução (regra) fez com que 
alguns doutrinadores chegassem a chamar o processo de execução de processo do 
credor, ou ainda conjunto de meios materiais colocados à disposição do juiz para 
satisfazer o direito do credor. Criou-se até mesmo doutrina, hoje francamente 
superada, que afirmava ser dispensável o contraditório no processo de execução 
justamente por ausência de julgamento de mérito ou qualquer outra atividade cognitiva 
por parte do juiz. 
 
“Confunde-se, porém, contraditório com mérito: na execução, é verdade, não 
se podem mais abordar as questões de mérito previamente resolvidas. Mas o 
contraditório vai além da mera contestação (entendida aqui como negação, 
pelo devedor, do direito contra ele alegado pelo credor), abrangendo, isso sim, 
o direito de reação, bem mais amplo, de tal sorte que apenas uma espécie de 
gênero reação (a saber, a contestação do direito material alegado pelo credor) 
estaria impedida no processo executivo (a situação aqui seria de preclusão, já 
que a oportunidade do devedor de apresentar sua defesa de mérito ter-se-ia 
esgotado com o término do processo de conhecimento). Inegável, pois, a 
existência de contraditório no processo executivo: uma vez que o executado 
obrigatoriamente deve ser informado sobre os atos processuais sob pena de 
caracterizar-se nulidade, abre-se aí a possibilidade de reação, e isto acontece 
desde o início do processo até seu término, abrangendo, sem exceção, todas 
as questões ligadas às condições da ação, aos pressupostos processuais e à 
regularidade do procedimento, matérias que, como se sabe, podem ser 
conhecidas de ofício pelo juiz”.28 
 
28
 Cfr. Carlos Alberto Carmona, “Em torno do processo de execução”, in Processo civil – evolução 20 
anos de vigência, coord. José Rogério Cruz e Tucci, São Paulo, Saraiva, 1995, p. 17. 
 
 
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Apesar da situação especial em que se coloca o processo de execução em razão de 
suas características próprias, não há como negar sua natureza jurisdicional, tratando-
se indubitavelmente de processo que seguirá sob o crivo do contraditório, garantido 
constitucionalmente (art. 5º, lV, CF). O juiz é chamado no processo executivo a resolver 
uma série de questões incidentes, sendo absurdo acreditar que em tais situações não 
haja necessidade de se realizar o contraditório. Apesar da função principalmente 
material do juiz no processo de execução, é inegável que exista também cognição 
acerca de questões incidentes no processo, e nesse caso o contraditório é 
indispensável. 
 
Há diversas situações no processo executivo que demonstram o acerto de tal 
posicionamento. A decisão sobre a natureza do bem penhorado; quantoà ordem de 
penhora dos bens, sobre a modificação ou reforço de penhora; sobre a alienação 
antecipada de bens, sobre o preço vil na arrematação, sobre a avaliação do bem, etc. 
em todos esses casos, naturalmente, haverá nulidade se não observado o 
contraditório. 
 
“Basta dizer, por exemplo, que na execução de obrigação alternativa, cabendo 
ao devedor a escolha do modo como será cumprida a prestação, este será 
citado para manifestar sua opção (art. 571 do CPC). Ao exercer a opção, 
estará o executado influindo decisivamente no resultado final do processo 
executivo, já que sua escolha terá de ser respeitadas, e todas a atividade 
executiva será realizada em direção ao cumprimento forçado da obrigação 
pelo modo escolhido pelo executado. Assim, por exemplo, se a obrigação é 
alternativa, cabendo ao executado escolher entre a entrega ao credor de dez 
sacas de feijão preto ou dez sacas de arroz, citado o devedor, e manifestando 
ele sua escolha (e.g., optando o executado pela entrega das sacas de feijão), 
deverá o Estado-juiz determinar a busca e apreensão das sacas de feijão 
(salvo, obviamente, se o próprio executado entrega-las voluntariamente). Terá 
o executado, assim, influído no resultado final da atividade executiva.”29 
 
 
 
29
 Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, vol II, 7ª edição, Rio de Janeiro, Lumen 
Juris, 2003, p. 157.

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