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DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Universidade Federal do Triângulo Mineiro Disciplina de Estágio Supervisionado em Análises Clínicas Márcia Maria Ferreira Silva Maio, 2018 O exame laboratorial de amostras de fezes pode ter as seguintes finalidades: DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Estudo de funções digestivas Dosagem de gordura fecal Pesquisa de sangue oculto Coprocultura Pesquisa de parasitos – Exame parasitológico de fezes Exame Parasitológico de Fezes: Diagnosticar os parasitos intestinais do homem, através da pesquisa das diferentes formas parasitárias que são eliminadas nas fezes. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Exame Parasitológico de fezes Protozoários Ascaris Lumbricoidis Tichuris Trichuria Ancylostoma duodenale Strongiloides Stercoralis Enterobius vermicularis Schistossoma mansoni Taenia solium ou saginata Giardia Lamblia Isospora belli Cryptosporidium parvum Entamoeba Histolytica Geohelmintos Helmintos Hemintos Pesquisa de larvas e ovos nas fezes ou região perianal (Enterobius Vermicularis) Protozoários Cistos, Trofozoítos e oocistos DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Geo-helmintos - São os helmintos que necessitam, obrigatoriamente, para completar o seu ciclo evolutivo, de um estágio no solo. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Trofozoítos de protozoários: fezes diarréicas. Cistos de protozoários: fezes semi-formadas e formadas. Oocistos de protozoários: fezes diarréicas, semi-formadas e formadas. Ovos e larvas de helmintos: fezes diarréicas, semi-formadas e formadas. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Devem ser observados os critérios de coleta: Trofozoítos de protozoários se degeneram mais rapidamente do que as formas císticas - estudo de espécimes fecais deve ser realizado o mais rápido possível. Barato, fácil execução, grande aplicabilidade clínica. Segundo a OMS, mais de 2 bilhões de pessoas estão infectadas com algum tipo de parasito. Representam a sexta causa de morbidade no Brasil, totalizando um índice de 7,28% da morbidade hospitalar (DataSUS, 2014). Exame Parasitológico de Fezes: DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Para melhorar a sensibilidade do exame parasitológico de fezes, é importante considerar que: Algumas espécies de parasitos só são evidenciadas por técnicas específicas; Um exame isolado, em que o resultado é negativo, não deve ser conclusivo; A produção de cistos, ovos ou larvas não é uniforme ao longo do dia ou do ciclo do parasito; O material deve ser examinado o mais rapidamente possível. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES COLETA Pesquisa de oxiúros Necessário método especial de coleta – região perianal DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Cuidados na fase pré analítica é fundamental para a qualidade do exame. Deve-se coletar 30 g de fezes em recipiente limpo e seco. Frasco próprio, boca larga, bem fechado e identificado. A iidentificação deve conter: o nome do paciente e idade, data e, se possível, a hora da coleta. É recomendável coletar 3 amostras em dias alternados. Evitar contaminação por urina. Baixas temperaturas: geladeira (5° a 10°C até 3 dias), para evitar a putrefação. Conservadores: 3 partes desse para 1 de fezes. Formol a 10%: conserva por mais de 1 mês os ovos ou larvas de helmintos e os cistos de protozoários. MIF (Mertiolato, Iodo e Formol) SAF (Acetato de sódio, Ácido acético e Formol) PVA (álcool polivinílico) ARMAZENAMENTO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES ARMAZENAMENTO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Amostras frescas: Formas vegetativas de protozoários. Fezes coletadas a horas ou dias- Pesquisa de cistos de protozoários e ovos de vermes – colocar em líquido conservador ( formol + ácido acético) Fezes líquidas (diarréicas) devem ser coletadas em soluções conservadoras para possibilitar a pesquisa de trofozoítos de protozoários. Ascaris lumbricoides É o exame macroscópico que orienta quanto à escolha da parte mais suspeita a ser submetida ao exame microscópico ou técnicas de concentração DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES O exame de fezes é realizado em duas etapas: análise macroscópica e análise microscópica Exame macroscópico: Permite verificar: Consistência das fezes Odor Restos alimentares Presença muco, vermes adultos ( Tênias, Áscaris, Oxiúros e Necátor) Diluição de pequena quantidade de matéria fecal em solução fisiológica ou lugol e em seguida análise microscópica DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES 2. Exame microscópico: Realiza-se primeiro o exame direto, a fresco. Método simples Permite a visualização de trofozoitos, cistos e oocistos de protozoários e de ovos e larvas de helmintos. É recomendável, como rotina, o emprego de 03 procedimentos distintos: exame direto a fresco, para observação dos movimentos do trofozoito, técnicas de concentração de parasitas um esfregaço de fezes com coloração permanente. O exame pode ser quantitativo ou qualitativo. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES 2. Exame microscópico: Métodos quantitativos: Os métodos quantitativos são aqueles nos quais se faz a contagem de ovos para avaliação da carga parasitária. O mais empregado atualmente é o de Kato Katz. Métodos qualitativos DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES 2. Exame microscópico: São os mais utilizados para a demonstração da presença das formas parasitárias. Freqüentemente o número das formas parasitárias é pequeno, sendo necessário processos de enriquecimento para concentrá-las. MÉTODO DE KATO-KATZ DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Contagem dos ovos nas fezes Método quantitativo Avaliar a intensidade do parasitismo Solução de verde-malaquita- Conserva as fezes e clarifica o parasita - Exame microscópico DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Técnicas de concentração de ovos e cistos Visa ao achado rápido nas infecções, ainda que ligeiras, em que o exame direto é negativo. Há técnicas diferentes para concentração de helmintos e cistos de protozoários. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Principais métodos de concentração: Sedimentação espontânea: método de Hoffmann, Pons e Janer ou método de Lutz. Este método permite o encontro de ovos e larvas de helmintos e cistos de protozoários; Sedimentação por centrifugação: Método de Blagg, conhecido por MIFC; Método de Ritchie, e o Coprotest. Usados para a pesquisa de cistos de protozoários e de ovos e larvas de helmintos. Flutuação: Método de Willis. Indicado para pesquisa de ovos leves (ancilostomídeos). Centrífugo-flutuação: Método de Faust. Utilizado para pesquisa de cistos e oocistos de protozoários e de ovos leves. Concentração de larvas de helmintos: Método de Baermann-Moraes e o método de Rugai usados para pesquisa de larvas de Strongyloides stercoralis. HPJ: HOFFMAN, PONS E JANER DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Método de sedimentação espontânea Indicado principalmente para pesquisa de ovos de schistossoma mansoni e larvas de outros vermes. HPJ- Técnica: Diluir as fezes (2g) em água destilada (5 ml) Acrescentar mais 20 ml de água Filtrar a suspensão em gaze dobrada em quatro assentada sobre um funil para um cálice Deixar sedimentar por 24 horas Com o canudinho ou pipeta, depositar uma gota do sedimento sobre a lâmina e colocar lamínula Observar com a objetiva de 40x. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Método de Ritchie (sedimentação por centrifugação): permite o encontro de ovos e larvas de helmintos, cistos de protozoários. Homogeneizar bem as fezes em formol 10% Filtrar a suspensão em gaze cirúrgica dobradaem quatro em tubo cônico de centrifugação Acrescentar 2ml de éter sulfúrico e agitar vigorosamente Centrifugar por 10 min a 3000rpm Desprezar o sobrenadante Acrescenta ao sedimento gotas de salina Colocar em lâmina e examinar com a objetiva de 40x DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES MÉTODO DE BAERMANN-MORAES Funil Gaze com as fezes Água (45 graus)) Tubo de borracha Pinça Método Baermann-Moraes DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES Específico para isolamento e pesquisa de larvas de estrongiloides). Concentração de larvas de helmintos por migração ativa, devido ao termotropismo e hidrotropismo positivos (água morna) MÉTODO DE GRAHAN (FITA ADESIVA) Pesquisa de ovos de Enterobius Vermicularis DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES MÉTODOS DE COLORAÇÃO PARA PESQUISA DE PROTOZOÁRIOS DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES - Coloração para coccídios intestinais: coloração de Ziehl-‐ Neelsen e suas Modificações. Ziehl neelsen modificado e azul de metileno MÉTODOS DE COLORAÇÃO PARA PESQUISA DE PROTOZOÁRIOS DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES CARACTERÍSTICAS DAS FORMAS PARASITÁRIAS ENCONTRADAS NO EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Ascaris lumbricoides Características das formas parasitárias encontradas no exame parasitológico de fezes Adultas Longas, robustas, cilíndricas, extremidades afiladas Machos 20 a 30cm cor leitosa vestíbulo bucal na extremidade anterior (3 fortes lábios com serrilha de dentículos) 2 espículos (cópula) Extremidade posterior encurvada ≠ da fêmea Fêmeas 30 a 40cm Ovíparas – Mais de mil ovos-dia + robustas cor leitosa Extremidade posterior retilínea Ascaris lumbricoides Ovos: 20 a 30µm de largura; Membrana mamilonada espessa; Aspecto alongado com camada amarela-acastanhada. A infecção se dá por ingestão de ovos viáveis. Ascaris lumbricoides ANCILOSTOMÍDEOS Ancylostoma duodenale: Adultos cilindriformes com extremidade anterior curvada dorsalmente. Possuem ventosas que se fixam no ID. Dimorfismo sexual Macho: 8-11mm Fêmeas: 10-18mm, extremidade posterior afilada com um pequeno processo espiniforme terminal Ovos: 60x40µm- elipticos, de membrana fina e transparente, lisa com protoplasma dividido em 2 a 8 segmentos arredondados Ovos eclodem no solo evoluindo para a forma infectante (larvas filarioides Ovo de Ancilostomídeo Strongyloides stercoralis 6 formas evolutivas: Fêmea partenogenética Fêmea de vida livre Macho de vida livre Ovos Larva filarióide-Infectante Fêmea: única forma parasitária adulta Larva rabditóide - Fezes frescas Ovos visualizados pela técnica de Baerman-Moraes Ovos: elípticos, parede fina e transparente, praticamente idênticos aos de ancilostomídeos. Origem: Fêmea partenogenética 0,05mm Fêmea de vida livre 0,07mm. Strongyloides stercoralis LARVAS: Larvas rabditóides: Cutícula fina e hialina. Cauda pontiaguda Larvas filariódeis: Cutícula fina e hialina. Porção anterior afilada e posterior afina-se gradualmente terminando em duas pontas (cauda entalhada) ≠ das larvas filarióides de ancilostomídeos, que é pontiaguda. Forma infectante do parasito Larvas de Strongyloides stercoralis Ovos: 50-55µm de comprimento Forma elíptica c/ poros salientes e transparentes nas extremidades (opérculos) Casca c/ 3 camadas distinas: lipídica externa, quitinosa intermediária e vitelínica intetrna (resistência dos ovos no ambiente) Trichuris trichiura Ovo de Trichuris trichiura Ovos de Trichuris trichiura e Ovos de Ascaris lumbricoides Enterobius vermicularis Fêmea: -1 cm de comprimento X 0,4mm de diâmetro -Cauda pontiaguda e longa Macho: -5mm de comprimento x 0,2 mm de diâmetro -Cauda recurvada em sentido ventral Vermes amiúdes encontrados nas fezes Fêmeas gravidas podem migrar para a região perianal Coleta pelo método de Grahan ou fita gomada Enterobius vermicularis Ovos de Enterobius vermicularis Taenia sp e Hymenolopis Taenia solium e Taenia saginata Taenia solium: Escólex globoso, com rostro e com dupla fileira de acúleos Proglotes com ramificações uterinas pouco numerosas e do tipo dendrítico. Taenia saginata: Escólex quadrangular, sem rostro e sem acúleos Proglotes com ramificações uterinas muito numerosas e do tipo dicotômico. Ovos: indistinguíveis Ovos esféricos, com casca espessa e estrias radiais Ovos Taenis sp Hymenolepis nana Verme adulto: 3 a 5 cm 100 a 200 proglotes estreitas com genitália masculina e feminina O escólex apresenta quatro ventosas e um rostro retrátil contendo de 20 a 30 acúleos Ovos: 40 µm de diâmetro carapaça e incolor Membrana externa delgada envolvendo um espaço claro Membrana interna envolve a oncosfera Ovos de Hymenolepis nana Ovo de Hymenolepis nana Schistosoma mansoni Schistosoma mansoni 150 µm x 60 µm Formato oval Espículo voltado para trás na parte mais larga. Coloração amarelada Ovo de Schistosoma mansoni PROTOZOOSES ➜ Giardíase Giardia lamblia ➜ Criptosporidiose Cryptosporidium parvum ➜ Isosporíase Isospora belli ➜ Amebíase Entamoeba histolítica TROFOZOÍTO Forma vegetativa Ativa Alimentação Reprodução Movimentação CISTO Forma infectante Não se locomove Não alimenta Resistente Locomoção: pseudópodes Reprodução: divisão binária simples PROTOZOOSES Giardia lamblia Trofozoíto: 20µm X 10µm Formato de pêra Simetria bilateral Face dorsal é lisa e convexa e face ventral é côncava 2 núcleos 4 pares de flagelos Cisto: 12µm X 8µm Oval ou elipsóide 2 ou 4 núcleos Cistos de Giardia lamblia Trofozoíto de Giardia lamblia Entamoeba histolytica Trofozoíto: 20 a 40 µm Geralmente tem só 1 núcleo Motilidade progressiva no exame a fresco Podem conter eritócidos ingeridos por fagocitose Cistos: 8 a 20µm Esféricos ou ovais Até 4 núcleos São a forma de resistência e disseminação da infecção. Emitem pseudópodes grossos e digitiformes Cisto de Entamoeba histolytica APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS: Idade: Sexo: Nome do paciente: Nome do médico: Data: EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Consistência das fezes: dado não disponível (fezes no conservador) Método empregado: Ritchie Resultado: não foram encontrados ovos ou larvas de helmintos, nem cistos ou trofozoítos de protozoários no material examinado. Observação: coleta de três amostras em dias alternados. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS: Idade: Sexo: Nome do paciente: Nome do médico: Data: EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES Consistência das fezes: pastosas Método empregado: HPJ Resultado: Ovos de Ascaris lumbricoides Larvas de Strongyloides stercoralis Cistos de Giardia lamblia DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZES RESUMO- DIAGNÓSTICO DE HELMINTOS E PROTOZOÁRIOS INDICAÇÃO MÉTODOS ESTRUTURASOBSERVÁVEIS Ascaridíase HPJ,Ritchie Ovos Ancilostomíase HPJ,Ritchie,Faust,Willis Ovos Tricuríase HPJ,Ritchie,Faust,Willis Ovos Esquistossomose HPJ,Ritchie,Kato-Katz Ovos Estrongioidíase Baermann-Moraes,Rugai Larvas Enterobiose Graham(fitaadesiva) Ovos Teníase Tamização,Graham Proglotes,Ovos Giardíase Fezes formadas:HPJ,Ritchie,Faust,WillisFezesdiarréicas:diretoa fresco Cistos Trofozoítos Amebíase Fezes formadas:HPJ,Ritchie,Faust,WillisFezesdiarréicas:diretoa fresco Cistos Trofozoítos 1. De Carli, G. A. Parasitologia clínica: seleção de métodos e técnicas de laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas. 2ª ed. São Paulo: Aheneu, 2007. 2. NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 9º e 10º ed - São Paulo: Atheneu, 1998 e 2000. 3. REY, L. Bases da Parasitologia médica. Rio de Janeiro –2º ed. -: Guanabara-Koogan, -1992. 4. Henry, Dignóstico clínico e tratamento por métodos laboratoriais. Editora Manole, 2012. 5. Lima, A.O. Métodos de laboratório aplicados à clínica. Editora Guanabara Koogan, 2001. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE AMOSTRAS DE FEZESReferências Bibliográficas