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ESPAÇO CIENTÍFICO Revista do CEUL de Santarém Vol. 14 – Nº2 – 2013 ISSN 1518-5044 ESPAÇO CIENTÍFICO Indexador: Latindex Comissão Editorial Celso Shiguetoshi Tanabe Maria Sheyla Cruz Gama Maria Viviani Escher Antero Comissão Científica Carmen Tereza Velanga – UNIR Damião Pedro Meira Filho – IFPA Felipe Schaedler de Almeida – UFRGS Francisco dos Santos Rocha – CEULM/ULBRA Gilbson Santos Soares – CEULS/IFPA Izabel Alcina Evangelista Soares – CEULS/UEPA José Ricardo Geller – CEULS/OAB Lidiane Nascimento Leão – UFOPA Luiz Fernando Gouveia e Silva – UEPA Maria Lilia Imbiriba Sousa Colares – UFOPA Maria Marlene Escher Furtado – UFOPA Marialina Corrêa Sobrinho – CEULS/IESPES Paula Chistina Figueira Cardoso – USP Robinson Severo – UFOPA Rosângela Maria Lima de Andrade CEULS/ ULBRA/IESPES Sylviane Beck Ribeiro – UNIR Troy Patrick Beldini – UFOPA Wallinhgton de Araujo Gabler – UFOPA Correspondência Av. Sergio Henn, 1787, Bairro Diamantino CEP: 68025-000 – Santarém/PA Fone/Fax: (93) 3524.1055 E-mail: pesquisa.stm@ulbra.br EDITORA DA ULBRA Diretor: Astomiro Romais Coord. de periódicos: Roger Kessler Gomes Capa: Everaldo Manica Ficanha Editoração: Isabel Kubaski PORTAL DE PERIÓDICOS DA ULBRA Gerência: Agostinho Iaqchan Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. COMUNIDADE EVANGÉLICA LUTERANA SÃO PAULO Presidente Adilson Ratund Vice-Presidente Jair de Souza Junior Reitor Marcos Fernando Ziemer Pró-Reitor de Planejamento e Administração Romeu Forneck Pró-Reitor Acadêmico Ricardo Willy Rieth Pró-Reitor Adjunto de Ensino Presencial Pedro Antonio González Hernández Pró-Reitor Adjunto de Ensino a Distância Pedro Luiz Pinto da Cunha Pró-Reitor Adjunto de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor Adjunto de Extensão e Assuntos Comunitários Valter Kuchenbecker Capelão Geral Pastor Lucas André Albrecht CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE SANTARÉM Diretor Geral Ildo Schlender Capelão Rev. Maximiliano Wolfgramm Silva Coordenador de Ensino Celso Shiguetoshi Tanabe Coordenadora de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão Maria Viviani Escher Antero Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero – ULBRA/Canoas E77 Espaço Científico : revista do Centro Universitário Luterano de Santarém / Universidade Luterana do Brasil. – N. 1 (jan./jun. 2000)- . – Canoas : Ed. ULBRA, 2000- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1518-5044 1. Pesquisa científica – periódicos. 2. Ciência e tecnologia – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. II. Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém. CDU 5/6(05) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sumário 3 Editorial 4 Revestimentos cerâmicos de fachadas e juntas de movimentação: caracterização e prevenção de patologias Amanda Neves Lima, Paulo Henrique Lobo Neves 18 Produzir para transformar: a horticultura como forma de recuperação e profissionalização de condenados Paulo Henrique Dias Barbosa 33 A percepção de alunos do ciclo básico universitário sobre as estratégias de produção de resumo: um estudo de caso em Santarém-PA Paula Cristina Galdino de Oliveira, Maria Sheyla Gama (Orientadora) 43 Mídias tecnológicas na educação: o uso do laptop na Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmã Leodgard Gausepohl Lúcia Maria Maia Pimentel, Rosângela Maria Lima de Andrade 65 Aconselhamento pastoral: Apontamentos sobre o uso da “Terapia Breve com foco na Solução” no cuidado de pessoas em estado depressivo Maximiliano Wolfgramm Silva 81 O novo modelo de gestão pública brasileira: uma análise do terceiro setor Izabel Evangelista, Mara Jeane Dantas da Silva Costa 105 Disponibilidade de P no solo e na solução do solo em diferentes tipos de uso na região do planalto santareno no ano de 2012 Renata de Andrade Coelho, Juliano Gallo, Raimundo Cosme de Oliveira Junior, Celso Tanabe, Paulo Henrique Barbosa, Isabel Cristina Tavares Martins, Edson Reis, Gilbson Soares, Daniel Rocha de Oliveira, Ellen Pinon 122 Normas editoriais Editorial O Centro Universitário Luterano de Santarém – CEULS busca com mais um número da Revista Espaço Científico a “qualidade e constância, os caminhos que devem e podem levar ao desenvolvimento regional sustentável, com responsabilidade ambiental e equidade social”. Como Instituição de Ensino Superior entende-se que a dinâmica da investigação deve ser socializada e que estas levem conhecimentos as mais distantes comunidades. Neste sentido a revista oportuniza a comunidade acadêmica e científica apresentar suas pesquisas e revisões em diferentes áreas do conhecimento. Nesta edição o leitor encontra sete artigos que expressam de forma relevante resultados de trabalhos que possam enriquecer as suas leituras. Sejam bem vindos e convidados para apresentar seus relatórios de pesquisa neste espaço aberto à publicação. Comissão Editorial Espaço Científico Santarém v.15, n.2 p.4-17 2014 Revestimentos cerâmicos de fachadas e juntas de movimentação: caracterização e prevenção de patologias Amanda Neves Lima Paulo Henrique Lobo Neves RESUMO Ao longo dos tempos, o revestimento cerâmico tornou-se mais que um item de decoração ou acabamento. Com novas tecnologias aplicadas à técnica milenar da produção da cerâmica, obteve- se um elemento que passou a ser, na maioria das vezes, indispensável na construção civil. A alta resistência às mais diversas condições ambientais, tem sido uma das principais razões pela qual os edifícios têm utilizado este tipo de material. Apesar das inúmeras qualidades que o uso do sistema de revestimento cerâmico de fachadas pode apresentar, a incidência das manifestações patológicas tem sido cada vez mais comum, onerando os custos até mesmo em edifícios recentes. Estas ocorrências preocupam os construtores e as grandes empresas de fabricação de cerâmica. Neste trabalho são apresentadas ações que podem eliminar ou ao menos minimizar a incidência desses problemas, os quais exigem uma adequada tecnologia de produção que resulte em um revestimento com maior capacidade de absorver deformações, o que vem sendo obtido principalmente pelo emprego de materiais mais adequados e de detalhes construtivos, tais como juntas de movimentação e telas de reforço. Palavras-chave: Revestimentos cerâmicos. Fachadas. Patologias. Juntas de Movimentação. ABSTRACT Throughout the ages, the ceramic coating has become more than a decorative item or finish. With new technologies applied to the ancient technique of ceramics production, we obtained a factor which has become, in most cases, indispensable in construction. The high resistance to various environmental conditions, has been one of the main reasons why the buildings have used this type of material. Despite numerous qualities that the use of ceramic tile façade system can provide, the incidence of pathological manifestations have been increasingly common , burdening costs even in newer buildings. These occurrences concern to builders and major companies manufacturing ceramic. In this work actions that can eliminate or at least minimize the incidence of these problems requires adequate production technology that results in a coating with a higher capacity to absorb deformation , which has been achieved mainly by the use of suitable materials and construction details are presented such as movement joints and screens reinforcements . Keywords: Ceramic Coatings. Facades. Pathologies. Together Movement. Amanda Neves Lima é Especialista e Engenheira Civil. Paulo Henrique Lobo Neves é Engenheiro Civil, IFPA, Professor do CEULS ULBRA. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 5 1 INTRODUÇÃO O desempenho do sistema de revestimento cerâmico de fachadade um empreendimento depende da relação de todos os materiais e suas técnicas de aplicação específica para aquela situação de projeto. Todavia, a NBR 13529 diz que o sistema de revestimento é o “conjunto formado por revestimento de argamassa e acabamento decorativo, compatível com a natureza da base, condições de exposição, acabamento final e desempenho, previstos em projeto.” Conforme Ribeiro e Barros (2010), o revestimento de fachada complementa as funções da vedação vertical, da qual faz parte, juntamente com as alvenarias e as esquadrias. Além destas, também desempenha funções de proteção contra a ação de agentes de deterioração, contribuindo para a estanqueidade da água e para o isolamento termoacústico; e constitui o acabamento, exercendo funções estéticas, de durabilidade e de valorização econômica. Para garantir a eficiência dos revestimentos cerâmicos, é necessário considerar-se vários fatores: a apropriação dos materiais ao tipo de uso, a qualidade e o planejamento dos serviços de assentamento e a manutenção após a aplicação de acordo com o uso a que se destina (REBELO, 2010). O objetivo deste trabalho é analisar a vantagem do uso dos revestimentos cerâmicos, que apresentam grande durabilidade e menor necessidade de manutenção e identificar as patologias associadas às fachadas, principalmente quando estes revestimentos põem em risco a vida de pessoas, por exemplo, no caso de descolamentos de placas. 2 METODOLOGIA Este estudo está fundamentado em trabalhos publicados disponíveis sobre o assunto, que enfocam o uso dos revestimentos cerâmicos nas fachadas das edificações e os cuidados para as possíveis ocorrências patológicas, assim como as ações para minimizar tais problemas. 3 REVESTIMENTOS CERÂMICOS DE FACHADAS 3.1 Origem e características da matéria-prima A indústria cerâmica possui um contexto histórico milenar, em vista da facilidade da extração da matéria-prima (argila). Desde a antiguidade, o homem utiliza a argila para confecção de potes, tendo descoberto que o aquecimento tornava rígida essa argila, originando o metódo do cozimento, utilizado até hoje nas indústrias cerâmicas. Espaço Científico v.15, n.2, 20146 O revestimento cerâmico também vem sendo utilizado há muitos séculos para revestir paredes e pisos. Utilizado apenas pela nobreza, os antigos artesãos ceramistas fabricavam as placas para decorar os grandes palácios e construções nobres. Segundo a ABCERAM (Associação Brasileira de Cerâmica), a abundância de matérias-primas naturais, fontes alternativas de energia e disponibilidade de tecnologias práticas embutidas nos equipamentos industriais, fizeram com que as indústrias cerâmicas brasileiras evoluíssem rapidamente. As placas cerâmicas são obtidas basicamente da moldagem, secagem e queima da argila ou alguma mistura contendo argila. Além disso, em seu processo de fabricação é feita a esmaltação e sua decoração. 3.2 Funções e classificação dos revestimentos As principais vantagens de utilização de revestimentos cerâmicos em fachadas são: a durabilidade do material; facilidade de limpeza e manutenção; qualidade do acabamento final; proteção dos elementos de vedação; isolamento térmico e acústico; estanqueidade à água e aos gases; segurança ao fogo; e aspecto visual e estético agradável. A qualidade e durabilidade de uma superfície com revestimento cerâmico está fundamentada em conceitos relacionados ao planejamento e escolha do revestimento; qualidade do material de assentamento; qualidade da construção e do assentamento e manutenção. É fundamental que o consumidor esteja ciente de que a absorção de água, bem como as resistências mecânicas (impacto, compressão, flexão), a abrasão, a gretagem, os choques térmicos, o frio intenso e a formação de manchas por ataques químicos variam de forma acentuada, de um produto para outro. É preciso ter especial cuidado com a escolha da cerâmica a ser aplicada, especialmente no que se refere à absorção de água. Observado o seguinte quadro, os produtos cerâmicos estão enquadrados em cinco grupos principais. TABELA 1 – Classificação dos Revestimentos Cerâmicos quanto à absorção de água. PRODUTO ABSORÇÃO DE ÁGUA ( % ) CARACTERÍSTICA DA ABSORÇÃO PORCELANATO 0 a 0,5 quase nula GRÉS (“PASTILHA”) 0,5 a 3 baixa SEMI - GRÉS 3 a 6 média SEMI - POROSO 6 a 10 média alta POROSO 10 a 20 alta Fonte: NOGUEIRA, Sylvio. 2010. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 7 O ladrilho porcelânico de grés ou pastilha e o porcelanato apresentam-se como os melhores produtos, sob o ponto de vista da absorção de água, obviamente que os demais quesitos, citados na tabela, devam ser considerados, atenta e cuidadosamente, na escolha final do produto. As funções dos revestimentos cerâmicos de fachadas são proteger a edificação das ações de chuvas, sol e vento, preservando-se assim sua estrutura, alvenaria, bem como dar um acabamento arquitetônico ao conjunto. A escolha do revestimento cerâmico para fachadas deve ocorrer no projeto arquitetônico da edificação, levando-se em conta vários aspectos da construção e sua localização geográfica. A localização geográfica é um fator importante na hora de escolher o revestimento correto. Se for uma região chuvosa, deverá ser aplicado um revestimento de maior resistência à água, com as características que já foram citadas acima, mesmo que seja em uma região com pouca chuva a escolha deve seguir a norma técnica brasileira NBR 13755/1996. Devem também ter fácil limpeza e não podem perder sua coloração original com a ação da luz solar. O vento também é um importante fator, pois sua ação, levando-se em consideração principalmente em cidades com maior índice de poluição, pode causar a oxidação dos revestimentos cerâmicos em maior intensidade, atuando em conjunto com as chuvas. 3.3 Execução de revestimento cerâmico de fachadas No presente estudo, avalia-se os revestimentos aplicados em fachadas, que para maior aproveitamento do uso, deve-se respeitar as normas de colocação. O revestimento cerâmico deve possuir juntas especiais, segundo a NBR-13755, também chamadas juntas de movimentação ou de dessolidarização. Para Nogueira (2010), tais juntas devem ser abertas, no corpo da parede, até o plano dos tijolos, formando painéis de apropriadas dimensões, de acordo com projeto específico ou catálogo do fabricante. O objetivo fundamental do emprego de juntas no sistema de revestimento cerâmico de fachada está relacionado principalmente ao aumento da capacidade de absorver deformações. Porém, além dos quesitos funcionais, este elemento necessariamente precisa ser estanque e manter a integridade física do revestimento, contribuindo assim para a manutenção da estética ao longo da vida útil do edifício. Espaço Científico v.15, n.2, 20148 FIGURA 1 – Representação esquemática do sistema de revestimento cerâmico. (1) representa o substrato; (2) é a argamassa de preparo do substrato, usualmente denominada chapisco; (3) corresponde à argamassa de regularização, denominada emboço; (4) é a argamassa colante industrializada de fixação das placas cerâmicas e (5) corresponde ao conjunto formado pelas peças cerâmicas e a argamassa de preenchimento das juntas de assentamento. Fonte: Mansura, A. P.; Nascimento, O. L.; Mansura, H. S., 2012. p.19. O assentamento deverá ser efetuado com argamassa pré-fabricada, do tipo colante, para superfícies externas, observando-se, com extremo rigor, as instruções do fabricante, inclusive as condições climáticas durante o trabalho, quantidades de massa em função da velocidade de aplicação, formação de película, ferramental próprio, tempos de cura, etc. Os rejuntes, entre as peças, também devem ser pré-fabricados, de alta adesividade e aditivados com polímeros, para que possam exercer sua função em cada painel formado pelas juntas, sem sofreresmagamento. Após completa cura dos assentamentos e rejuntes, as superfícies devem ser hidrofugadas, ou seja, devem receber vedação ou impermeabilização especial, incolor Espaço Científico v.15, n.2, 2014 9 e penetrante, com preferência para produtos à base de silano ou siloxano. Vale advertir contra o uso de repelentes superficiais siliconados, formadores de película, pois estes são fotossensíveis e desagregam sob ação do sol, podendo ocasionar, no futuro, graves problemas para as fachadas. Por fim, as juntas de movimentação devem ser limpas, desengorduradas, usando-se metiletilcetona e evitando-se o thinner; e vedadas com mástique de silicone, pigmentado, de elasticidade permanente. Além das etapas, anteriormente descritas, devem ser observados, na contratação do colocador, os seguintes requisitos: a) firma especializada, com fartas referências de clientes anteriores; b) responsável técnico (CREA), integrando o contrato social da empresa; c) adequados equipamentos de proteção individual e de segurança; d) comprovação de seguros (vida e danos), para empregados e terceiros; e) transcrição, no corpo do contrato, de todas as especificações, tanto de produtos como dos procedimentos técnicos anteriormente descritos. 4 PATOLOGIAS As patologias dos revestimentos cerâmicos são anomalias que podem surgir logo após o assentamento, ou após algum tempo de uso. As anomalias mais comuns são o descolamento e as fissuras. Conforme Chaves (2009). Para diminuir o aparecimento desses problemas, deve-se conhecer a origem e identificar esses defeitos. Assim, as patologias são classificadas em: • Congênitas - Originárias na fase de projeto em decorrência do desrespeito às tecnologias normatizadas pela ABNT, de falhas de especificações de material e no detalhamento e especificação inadequada dos revestimentos. • Construtivas - Quando os assentadores não dominam a tecnologia e os responsáveis pela obra não controlam corretamente os procedimentos produtivos. • Adquiridas - Ocorrem durante a vida útil dos revestimentos, resultam de agressões do meio ambiente, ou decorrentes de falta de manutenção ou manutenção inadequada, ou ainda, de agressões ao revestimento, em função de instalação de outros sistemas nas edificações danificando as placas, rejuntamentos e por via de consequência desencadeando patologias. • Acidentais - Caracterizadas situações não previstas que causem impactos que o revestimento não seja capaz de suportar, tais como incêndio e movimentações estruturais não previstas. Espaço Científico v.15, n.2, 201410 4.1 Principais manifestações patológicas Dentre as principais patologias dos revestimentos cerâmicos de fachadas podem-se destacar os destacamentos de placas; as trincas, gretamento e fissuras; as eflorescências e deterioração das juntas. 4.1.1 Destacamentos Segundo Fontenelle e Moura (2004), os destacamentos são caracterizados pela perda de aderência das placas cerâmicas do substrato ou da argamassa colante, quando as tensões surgidas no revestimento cerâmico ultrapassam a capacidade de aderência das ligações entre a placa cerâmica e argamassa colante e/ou emboço. O primeiro sinal desta patologia é a ocorrência de um som oco nas placas cerâmicas, ou ainda nas áreas em que se observa o estufamento da camada de placas cerâmicas e rejuntes, seguido do destacamento destas áreas, que pode ser imediato ou não. Devido à maior probabilidade de acidentes envolvendo os usuários e os custos para seu reparo, esta patologia é considerada mais séria. Geralmente, estas patologias ocorrem nos primeiros e últimos andares do edifício, devido ao maior nível de tensões observados nestes locais. As principais causas destas manifestações patológicas são: a) ausência de detalhes construtivos em projeto específico, no caso, contravergas e juntas de dessolidarização; b) deformação lenta da estrutura de concreto armado, variações de umidade e de temperatura; c) instabilidade do suporte, devido à acomodação do edifício como um todo; d) utilização da argamassa colante já aberta, após o vencimento delimitado pelo fabricante; e) assentamento sobre superfície contaminada; f) imperícia ou negligência da mão-de-obra na execução e/ou controle dos serviços (assentadores, mestres e engenheiros). Uma outra forma de se evitar a ocorrência deste tipo de patologia, além de corrigir todos os passos mencionados anteriormente, seria evitar a execução dos revestimentos cerâmicos em uma fase da construção em que o suporte ainda esteja recém executado, evitando-se assim as retrações que podem ocasionar tensões não consideradas no projeto do revestimento cerâmico. A recuperação desta patologia é extremamente trabalhosa e, na maior parte das vezes, cara também, já que o reparo localizado nem sempre é suficiente para acabar com o problema, que volta a ocorrer em outras áreas do revestimento cerâmico. Muitas Espaço Científico v.15, n.2, 2014 11 vezes, a solução é a retirada total do revestimento, podendo-se chegar até ao emboço e refazer todas as camadas. 4.1.2 Trincas, gretamento e fissuras Estas patologias aparecem por causa da perda de integridade da superfície da placa cerâmica, que pode ficar limitada a um defeito estético, no caso de gretamento, ou pode evoluir para um destacamento, no caso de trincas (FONTENELLE e MOURA, 2004). As trincas são rupturas da placa cerâmica provocadas por esforços mecânicos, que causam a separação destas placas em várias partes; podem ter aberturas superiores a 1 mm. As fissuras são rompimentos nas placas cerâmicas, com aberturas menores que 1 mm e que não causam a ruptura total das placas. Já o gretamento é uma série de aberturas inferiores a 1 mm e que ocorre na superfície esmaltada dos revestimentos cerâmicos, dando a ele uma aparência de teia de aranha. Estas patologias também ocorrem normalmente nos primeiros e últimos andares do edifício, geralmente pela falta de especificação de juntas de movimentação e detalhes construtivos adequados. A inclusão destes elementos no projeto de revestimento e o uso das argamassas bem dosadas ou colantes podem evitar o aparecimento destes problemas. O Quadro 1, a seguir, aponta as principais causas das ocorrências deste tipo de deformação, inclusive suas principais características. QUADRO 1 – Causas das trincas, gretamento e fissuras . Causas das trincas, gretamentos e fissuras Descrição Dilatação e retração das placas cerâmicas Este problema ocorre quando há variação térmica e/ou de umidade (a expansão por umidade é uma característica limitada em 0,6 mm/m pela NBR 13818). Estas variações geram um estado de tensões internas que, quando ultrapassam o limite de resistência da placa cerâmica, causam trincas e fissuras e, quando ultrapassam o limite de resistência da camada de esmalte, causam gretamento. Deformação estrutural excessiva Esta deformação do edifício pode criar tensões na alvenaria que, quando não são completamente absorvidas, podem ser transferidas aos revestimentos. Estes, por sua vez, podem não resistir ao nível de tensões, rompendo -se e, muitas vezes, destacando -se do substrato. Ausência de detalhes construtivos A falta de alguns detalhes construtivos, tais como vergas, contravergas nas aberturas de janelas e portas, pingadeiras nas janelas, platibandas e juntas de movimentação, podem ajudar a dissipar as tensões que chegam até os revestimentos. Espaço Científico v.15, n.2, 201412 Causas das trincas, gretamentos e fissuras Descrição Retração da argamassa de fixação Este problema ocorre quando se usa argamassa de fixação dosada em obra em vez de argamassa colante industrializada. A retração da argamassa causada pela hidratação do cimento podem causar um aperto ou “beliscão” na placa cerâmica que, por estarfirmemente aderente à argamassa, pode tornar a superfície convexa e tracionada, causando gretamento, fissuras ou mesmo trincas nas placas cerâmicas. Fonte: Campante; Baía (2003, apud FONTENELLE; MOURA; 2004, p.8). 4.1.3 Eflorescência Esta manifestação patológica é evidenciada pelo surgimento, na superfície do revestimento, de depósitos cristalinos de cor esbranquiçada, comprometendo a aparência do revestimento. Estes sais em contato com o ar solidificam, causando depósitos. Segundo Fontenelle e Moura (2004), estes depósitos surgem quando os sais solúveis nas placas de cerâmicas, nos componentes da alvenaria, nas argamassas de emboço, de fixação ou de rejuntamento são transportados pela água utilizada na construção ou vinda de infiltrações, através dos poros dos componentes de revestimento (placas cerâmicas não esmaltadas, rejuntes). Em algumas situações, como em ambientes constantemente molhados e com alguns tipos de sais de difícil secagem, estes depósitos apresentam-se como uma exsudação na superfície. Não haverá ocorrência deste problema, quando eliminado qualquer um desses fatores: sais solúveis, presença de água ou porosidade do componente de revestimento. Algumas precauções podem ser tomadas para evitar a eflorescência: a) reduzir o consumo de cimento Portland na argamassa de emboço ou usar cimento com baixo teor de álcalis; b) utilizar placas cerâmicas de boa qualidade, ou seja, queimadas em altas temperaturas, que elimina os sais solúveis de sua composição e a umidade residual; c) garantir o tempo necessário para secagem de todas as camadas anteriores à execução de revestimento cerâmico. Para a remoção dos depósitos nas áreas já comprometidas com a ocorrência deste problema, pode-se recorrer a uma simples lavagem da superfície do revestimento, o que geralmente é suficiente para a eliminação dos depósitos, mas eles podem voltar a ocorrer, principalmente se as condições continuarem propícias. Com o passar do tempo, porém, o problema tende a diminuir, na medida em que os sais forem eliminados. Para Espaço Científico v.15, n.2, 2014 13 Fontenelle e Moura (2004), durante a limpeza do revestimento cerâmico, deve-se evitar o uso de ácido muriático. Caso seja necessário seu uso, fazê-lo em concentrações baixas e em pequena quantidade, enxaguando muito bem a superfície após seu uso. 4.1.4 Deterioração das juntas de assentamento Este problema, apesar de afetar diretamente as argamassas de preenchimento das juntas de assentamento (rejuntes) e de movimentação, compromete o desempenho dos revestimentos cerâmicos como um todo, já que estes componentes são responsáveis pela estanqueidade do revestimento cerâmico e pela capacidade de absorver deformações. Os sinais de que está ocorrendo uma deterioração das juntas são perda de estanqueidade da junta e envelhecimento do material de preenchimento. A perda da estanqueidade pode iniciar-se logo após a sua execução, através de procedimentos de limpeza inadequados. Estes procedimentos de limpeza podem causar deterioração de parte do material aplicado, como ácidos e bases concentrados, que, somados aos ataques de agentes atmosféricos agressivos e/ou solicitações mecânicas por movimentações estruturais, podem causar fissuração ou trincas, bem como infiltração de água. O envelhecimento das juntas entre componentes, por serem preenchidas com materiais à base de cimento, normalmente não representa grandes problemas, já que o cimento é um material de excelente durabilidade, desde que bem executado. Sua deterioração é observada quando na presença de agentes agressivos, como a chuva ácida ou aparecimento de fissuras. Quando estes rejuntes possuem uma quantidade grande de resinas, deve -se considerar que estas são de origem orgânica e podem envelhecer, além de perder a cor, caso sejam responsáveis pela coloração das juntas de assentamento. As juntas de movimentação são preenchidas com selantes à base de poliuretano, polissulfetos, silicone, dentre outros. Estes materiais de origem orgânica apresentam durabilidade variadas, geralmente em torno de 5 anos, embora existam materiais no mercado que possuem garantia de 20 anos. Sua deterioração é causada também por microorganismos, razão pela qual, após o período de garantia, devem ser inspecionados e trocados. As maneiras de se evitar a ocorrência desta patologia estão diretamente ligadas ao controle da execução do rejuntamento ou preenchimento das juntas de movimentação, bem como à escolha de materiais de preenchimento que atendam aos requisitos de projeto. 4.2 As juntas de movimentação – recuperação e prevenção para as patologias Tratando-se de tecnologia da construção, o termo junta tem o conceito além de união, sobretudo, tem o sentido de separação. É com esse sentido que a junta é definida Espaço Científico v.15, n.2, 201414 por Filho Neto (2005, apud RIBEIRO e BARROS, 2010, p.61) como sendo uma “abertura estreita, fenda ou rebaixo que se deixa longitudinalmente entre duas pecas ou elementos construtivos, com a finalidade de separá-los” Segundo Ribeiro e Barros (2010), as juntas constituem-se em elementos construtivos que devem ser dotados de mecanismo de funcionamento e desempenho determinados. Quando considerado seu aspecto funcional, as juntas podem ser consideradas um elemento construtivo presente entre dois outros elementos paralelos, cuja função é proporcionar a união entre estes e o acabamento da sua junção. Ou podem ser concebidas com a função de acomodar os movimentos diferenciais entre os dois elementos paralelos. Nesse caso, são denominadas juntas de movimentação. Em revestimentos aderidos de fachadas, a função principal das juntas de movimentação é minimizar a propagação de esforços neles atuantes e que provêm, geralmente, dos elementos com os quais se conectam (estrutura, parede, revestimento) e do seu comportamento intrínseco diante das ações do meio ambiente (variação de temperatura e umidade, por exemplo). Nesse caso, é função das juntas minimizar as tensões introduzidas no revestimento. O emprego desse detalhe construtivo objetiva evitar patologias, como o aparecimento de fissuras ou até mesmo o destacamento de partes do revestimento. Para Ribeiro e Barros (2010), a constituição de cada tipo de junta de movimentação varia de acordo com sua função no sistema de revestimento cerâmico, e os principais elementos que podem estar presentes na junta são o limitador de profundidade ou a fita isoladora e o selante, os quais, de uma maneira ou de outra, interagem com o substrato. “Pode-se dizer que as superfícies laterais da junta de movimentação, nas quais o selante vai aderir, constituem seu substrato, que é constituído pelas diversas camadas que compõem o sistema de revestimento e podem ser porosas ou não” (RIBEIRO e BARROS, 2010, p.67). Quanto à função, as juntas de movimentação podem ser classificadas em: • Junta de trabalho - interrompe a superfície do revestimento nas regiões em que houver descontinuidades no substrato, com a função principal de acomodar os movimentos da sua base suporte, sobretudo aqueles resultantes da interação vedação-estrutura. • Junta de transição - interrompe as camadas de acabamento e fixação e tem como função principal permitir a transição entre materiais com diferentes características térmicas na fachada. • Junta de contorno - a função é separar as interfaces entre o revestimento cerâmico e outros elementos construtivos adjacentes. • Junta de dessolidarização - a função é dessolidarizar a camada de acabamento da base. Além disso, permite dissipar de tensões pela subdivisão de áreas extensas de revestimentos. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 15 As juntas de movimentação são classificadas, quanto ao seu tratamento, em juntas seladas e juntas pré-formadas. • Juntas seladas - sãopreenchidas por selante em um estado não-curado. Os selantes de poliuretano e de silicone são os mais recomendados para uso em revestimentos cerâmicos de fachadas, sobretudo por serem mais resistentes ao intemperismo e apresentarem melhor capacidade de deformação que os selantes acrílicos. • Juntas pré-formadas - são preenchidas por material celular comprimido dentro da junta. Podem ser feitas com material selante pré-formado extruturado ou com selante pré-formado moldado, sendo a segunda opção bastante utilizada para recuperação de juntamente deterioradas. Como são parte do subsistema de revestimentos cerâmicos de fachadas, as juntas de movimentação devem satisfazer aos requisitos de desempenho relacionados à durabilidade, dissipação de tensões, estanqueidade e estética. Há uma tendência de fazer as juntas de movimentação bem estreitas e de aumentar as distâncias entre elas, a fim de reduzir o impacto visual na arquitetura do edifício. Essa tendência pode causar conflitos na função de acomodação dos movimentos e resistência às tensões. Para Ribeiro e Barros (2010), as falhas mais comuns nas juntas de movimentação são a perda de adesão; falha de coesão; escorrimento; dobramento e intrusão; deformação excessiva; ataque químico; desgaste precoce e desagregação. Existem diversos fatores que podem ocasionar essas falhas nas juntas selantes, como deficiência de projeto e especificação das juntas; escolha incorreta do selante; aplicação sobre o susbstrato contamidado ou úmido; temperatura inadequada para aplicação; defeitos na preparação da superfície ou aplicação do selante; ocorrência de movimentações não previstas, etc. O conhecimento existente sobre tecnologia de produção de juntas de movimentação seladas destaca a importância da realização de um criterioso projeto de revestimentos de fachadas e dimensionamento das juntas. A fase inicial do projeto de revestimentos é constituída por um conjunto de informações sobre a obra objeto do projeto de revestimento. O projetista de revestimentos deve reunir informações que possibilitem o seu entendimento acerca dos fatores que originam movimentos na fachada do edifício e que lhe permita fazer a previsão do comportamento potencial das camadas de revestimento em razão daqueles fatores e, por consequência, o comportamento da própria junta. O dimensionamento de juntas consiste na definição do posicionamento e das dimensões da abertura da junta (largura e profundidade). Recomenda-se que sejam feitas juntas horizontais a cada pavimento, coincidindo com o fundo da laje ou da viga, na região de fixação da alvenaria à estrutura; as juntas verticais também são localizadas preferencialmente nos encontros entre a alvenaria e a estrutura. Tanto as juntas horizontais, quanto as verticais, podem ser empregadas às juntas de trabalho ou Espaço Científico v.15, n.2, 201416 juntas de dessolidarização. A escolha deverá ser feita pelo projetista, que deverá levar em consideração a melhor opção para o edifício em análise. O selante é o material responsável pelo cumprimento da maior parte das funções da junta; assim, sugere-se iniciar a seleção dos materiais pela sua determinação e, em seguida, escolhe-se os demais, que deverão ser compatíveis com ele. Para a escolha do selante, deve-se levar em consideração os catálogos dos materiais, informações de fornecedores, verificação de edificações vizinhas, ensaios laboratoriais, etc. Essas informações ajudam na definição do material a ser utilizado. Após a definição do tipo de selante, o projetista deve fornecer ao executor as informações necessárias para a aquisição e aplicação do selante, as quais consistem em informações gerais sobre os produtos, propriedades necessárias durante a aplicação e propriedades de uso. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do estudo sobre revestimentos de fachada, fica evidenciada a necessidade de uma série de procedimentos que influenciam na durabilidade e desempenho das placas cerâmicas. Mesmo nos edifícios mais recentes, vários tipos de patologias podem ser identificados; isso se deve à corrente falta de qualificação e certificação de mão de obra, além da verificação do material a ser utilizado para o assentamento das placas. Outro motivo para o surgimento de patologias é a falta de projeto específico de fachada. Este trabalho também proporcionou maior conhecimento sobre as principais manifestações patológicas, e ainda enfatizou a prevenção destas patologias, a partir de cuidados específicos para cada anomalia e a introdução de juntas de movimentação, para o melhor desempenho da função dos revestimentos de fachada e diminuição das anomalias. Afirma-se ainda que uma das considerações mais importantes a que se pode chegar após a conclusão deste trabalho é a importância de fiscalização adequada e a presença do responsável técnico especializado na obra, pois são fundamentais para atender a qualidade, o desempenho e o custo final determinado para cada projeto. 6 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA. Informações Técnicas. Disponível em: <http://www.abeceram.org.br>. Acesso em: 23 abr 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13817: Placas cerâmicas para revestimento - Classificação. 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Espaço Científico Santarém v.15, n.2 p.18-32 2014 Produzir para transformar: a horticultura como forma de recuperação e profissionalização de condenados PauloHenrique Dias Barbosa RESUMO O sistema carcerário brasileiro passa por um momento muito delicado, resultado de processos de desleixo da administração pública e de pré-conceitos da sociedade.Assim sendo, a laborterapia, sendo ela baseada na agricultura ou não, é uma alternativa para reduzir a situação trágica encontrada nos presídios e outras instituições carcerárias brasileiras, através de atividades que busquem a recuperação, transformação e profissionalização do condenado. O objetivo do projeto de extensão foi trabalhar junto aos reclusos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) visando à instalação e manejo de uma horta comunitária para o consumo interno, buscando a valorização do recuperando e de seu trabalho, ao mesmo tempo em que se promove a discussão e práticas de educação ambiental. O projeto foi realizado por meio de aulas expositivas, dinâmicas e práticas em campo.Os impactos do trabalho foram positivos, tendo aumentado o número de participantes do projeto ao longo do ano, além do gasto com verduras e alguns legumes diminuir consideravelmente, reduzindo em até 90% o gasto da associação com compra de verduras folhosas. Palavras-chave: Extensão, valorização humana, horta comunitária. ABSTRACT The Brazilian prison system passes through a very delicate moment, there sultof carelessness processes of public administration and the society preconception. Thus, the work therapy, being base donagricultureornot, is an alternative toreducethetragic situation found in other Brazilian prisons and penitentiary institutions through activities that seek recovery, transformation and professionalization of the condemned. The purpose of the extension project was to work with the inmatesof the Association for the Protection and Assistanceto Condemned ( APAC ) for the installation and management of a community garden for domestic consumption , seeking convicts recovery and their work , while that promotes discussion and practice of environmental education . The project was actualized by expository classes, dynamic and practical lessons on the field. The impacts of the project were positive, with increased number of project participants throughout the year, in additiontospending some vegetable sand legumes decreased considerably, reducingupto 90 % of the expense associated with buy ingleafy greens. Keywords: extension, humanenhancement, communityGarden . Paulo Henrique Dias Barbosa é Engenheiro Agrônomo do INCRA/SR30 e Professor Assistente do curso de Agronomia do Centro Universitário Luterano de Santarém – CEULS/ULBRA - Av. Marechal Rondon, 3438, casa B, Santarém, PA. CEP 68040-328. E-mail: phdbarbosa@hotmail.com. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 19 INTRODUÇÃO Comecei a trabalhar na laborterapia da APAC sem muito interesse. Aos poucos fiz um pequeno barco e fui descobrindo como eu era importante, que podia fazer muito mais e melhor. Que podia ser feliz e fazer minha família feliz. As idéias de vingança e de ódio que tinha anteriormente foram cedendo espaço à criatividade e à paz. A serenidade passou a ser meu lema. O trabalho me modificou inteiramente, dando-me o sentido da responsabilidade. Descobri que não tenho vocação para viver atrás das grades e que o trabalho engrandece o ser humano. Tudo isso foi descoberto nas mesas de laborterapia.” (Depoimento de um recuperando – R.D.C – descrito no Livro “Vamos matar o Criminoso?” de Mário Ottoboni) O objetivo de iniciar a discussão do projeto com a passagem acima é mostrar, já de início, a importância da laborterapia na recuperação e transformação do indivíduo. O sistema carcerário brasileiro passa por um momento muito delicado, resultados de processos de desleixo da administração pública e de pré-conceitos da sociedade. Atualmente, segundo o Ministério da Justiça (BRASIL, 2010), estão registradas 473.626 pessoas em cárcere no Brasil, sendo que a capacidade máxima seria de 294.684 pessoas. Esse quadro mostra a total falta de estrutura e de qualidade de vida dentro dos presídios, como superlotação das celas, falta de assistência médica, social, profissional, jurídica e educacional, alimentação e condições higiênicas precárias, entre outros. Assim sendo, a laborterapia, sendo ela baseada na agricultura ou não, é uma alternativa para reduzir a situação trágica encontrada nos presídios e outras instituições carcerárias brasileiras, através de atividades que busquem a recuperação, transformação e profissionalização do condenado (CEZARIO et al., 2009). O trabalho como elemento transformador Seguindo essa linha atuação, o projeto foi realizado junto à Apac, uma entidade civil dedicada à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade, cujo trabalho baseia-se em um método de valorização humana vinculada à evangelização. Procuram também, em uma perspectiva mais extensa, a proteção da sociedade e a promoção da justiça. A Associação é amparada pela Constituição Federal para atuar nos presídios e age como entidade auxiliar na execução e administração do cumprimento das penas nos regimes fechado, semi-aberto e aberto (FBAC, 2010). O objetivo da Apac é promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Seu propósito é evitar a reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar. A Apac distingue-se do sistema carcerário comum sob vários aspectos, especialmente na co-responsabilidade do condenado em sua recuperação e nas assistências espiritual, médica, psicológica, educacional e jurídica prestadas a ele pela comunidade. Outro importante diferencial do Método, segundo Alvim (2009) é o Espaço Científico v.15, n.2, 201420 estabelecimento de uma disciplina rígida, caracterizada por respeito, ordem, trabalho e o envolvimento da família do sentenciado. O Método Apac é composto por doze elementos, que devem ser adotados de forma conjunta e articulada para obtenção de êxito no trabalho de recuperação dos condenados, sendo o trabalho um deles. No regime fechado tem-se a função de recuperação; no semi-aberto, profissionalização e, regime no aberto, de inserção social (ALVIM, 2009). Perspectivas do Trabalho Prisional no Brasil O trabalho prisional como um todo se insere em um contexto atual e amplamente discutido em diversas áreas do conhecimento científico, principalmente nas ciências sociais aplicadas e na saúde. Porém, as atividades laborterápicas com ênfase na agricultura são pouco discutidas no ambiente prisional, havendo diversas lacunas sobre a influência dessas práticas na recuperação de condenados. Segundo Carvalho e Baldin (2005) o trabalho prisional, da forma que é aplicado hoje na maioria dos centros de detenção do Brasil, não possui um viés que busca a profissionalização e ressocialização do condenado, sendo necessária uma reorganização de todo sistema carcerário brasileiro. De acordo com as autoras, as modificações seriam pautadas a partir de deficiências endógenas, ou seja, os projetos partiriam das necessidades dos presidiários e não as necessidades se enquadrariam nos projetos que são impostos. Junior (2008), em seu trabalho sobre a dignidade da pessoa humana, também enfatiza essa questão da reformulação do sistema, porém tratando de outro problema, que é o trabalho prisional influenciando a perda da dignidade da pessoa. O autor mostra que as condições de reclusão do sistema penitenciário não promovem a recuperação do condenado, além de contribuírem para derrocar ainda mais a pessoa. A dignidade da pessoa humana é um dos direitos a todos os brasileiros descritos na constituição, inclusive àqueles em estado de reclusão (Art.1º, inciso III; art.5º, inciso XLIX, da CF/88). Outro enfoque que se dá ao trabalho prisional pelas atividades de laborterapia, são as atividades com o objetivo de realizar terapias com os condenados visandoà transformação e ressocialização dos mesmos e de profissionalizá-los para atuarem no mercado de trabalho (CEZARIO et al., 2009). Segundo o Código Penal Brasileiro, “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condição para a harmônica integração social do condenado e do internado.” (artigo 1º da Lei nº 7.210/84 da lei de execução penal) Porém, o que se vê na realidade é muito distante dessa descrição. Segundo Adorno (1993), o sistema penitenciário brasileiro é muito precário e não oferece, quase sempre, qualquer tipo de possibilidade do indivíduo ali inserido se recuperar e se reintegrar à sociedade. Diversos problemas, presentes em grande parte dos presídios brasileiros, podem ser citados como superlotação das celas, falta de assistência médica, social, profissional, jurídica e educacional, alimentação e condições higiênicas precárias, entre outros. Esse emaranhado de problemas gera como consequências fugas, Espaço Científico v.15, n.2, 2014 21 rebeliões, agressões entre os condenados, transmissão de doenças (causadas por más condições de higiene, por insetos e roedores, sexualmente transmissíveis, etc.), tráfico de drogas, exploração humana e outros. Dessa forma, o indivíduo que é sentenciado a uma pena, além de não se recuperar, fica exposto a todas as condições ideais para se “especializar na criminalidade”, visto que não há, praticamente, programas educacionais e profissionalizantes dentro dos presídios, sendo esses uma forma eficiente de diminuir todos esses problemas. Cezario et al. (2009) em seu trabalho sobre a relação entre queixas de cansaço e dores pelos condenados da Penitenciária Estadual de Maringá e as atividades laborterápicas desenvolvidas, chegou à conclusão de que as mesmas tinham relação com as posições ergonômicas durante as atividades, devido à falta de estrutura e espaço para a realização das atividades, e não com as atividades, pois, todos os condenados preferiam participar das mesmas a ficarem ociosos. De acordo com as conclusões desse trabalho e de vários outros relacionados ao tema é perceptível a unanimidade em relação à utilização de estruturas apropriadas ao desenvolvimento adequado das práticas laborterápicas, a fim de proporcionarem os objetivos esperados, ou seja, promover a transformação e profissionalização do indivíduo (COSTA e BRATKOWSKI, 2007). Além de estruturas apropriadas à realização das atividades laborterápicas, são necessários articuladores e interventores que saibam atuar adequadamente no ambiente prisional, buscando a partir das necessidades do grupo a formulação das atividades (CARVALHO E BALDIN, 2005). Porém, Presno Amodeo (2007), em seu trabalho sobre as armadilhas na participação, mostra a complexidade e a multidimensionalidade dos processos participativos, ou seja, como alguns processos ditos participativos podem apresentar como formas de evidenciar e aumentar relações de poder dentro de grupos sociais, sendo muito importante a preparação do agente responsável pelas atividades no grupo. Trabalho prisional, laborterapia e recuperação A utilidade e a produtividade do trabalho, ao longo da história, passaram a ser em grande parte das relações, uma medida de valor financeiro e de troca de serviços (CARVALHO E BALDIN, 2005), porém, aplicado de forma adequada, é uma solução para diminuir os problemas sociais presentes nos presídios e outros centros de detenção de todo o país, efetivando sua função o seu valor social (LEAL, 2004). O trabalho prisional pode ser ou não remunerado, caracterizando-se, geralmente, por atividades internas como limpeza, manutenção de máquinas, organização de documentos e livros, lavagem de roupas, etc, e, em alguns centros de reclusão, são prestados serviços para instituições terceirizadas, como empresas e órgãos públicos (CEZARIO et al., 2009). Segundo Dejours (1992), o trabalho traz ao recluso um sentimento de valorização do seu esforço aumentando sua auto-estima, além de capacitar e habilitar os condenados Espaço Científico v.15, n.2, 201422 em atividades variadas, sendo uma forma a mais de inclusão no mercado profissional. O trabalho como laborterapia (ou terapia ocupacional) pode ser exercitado através do artesanato, música, agricultura e outros trabalhos manuais, sendo muito importante no processo de recuperação do indivíduo, principalmente, quando o mesmo está ainda em regime totalmente fechado. Nesse período, de acordo com Guimarães Júnior (2005) é necessário que o condenado descubra primeiramente seus próprios valores como ser humano, que aumente sua auto-estima e que transforme todos os seus sentimentos negativos, como raiva, vingança e ódio em sentimentos positivos, como compaixão, tolerância e bondade, sendo a laborterapia uma forma de incentivar essa transformação. Após essa fase, o recuperando estará mais preparado para se reintegrar à comunidade local e às atividades que serão desenvolvidas na mesma. Como mencionado anteriormente, a laborterapia é qualquer atividade com o objetivo terapêutico e profissional ao mesmo tempo. Dessa forma, as atividades relacionadas à agricultura também podem desempenhar um papel laborterápico, pois, auxiliam na recuperação e profissionalização do indivíduo, através de atividades de jardinagem, arborização, ornamentação, horticultura entre outros. Essas práticas permitem que o recuperando tenha contato com a terra e com seres vivos, instigando nele mesmo o sentido de ser útil e de valorização da vida (BINKOWSKI; NICOLAUD, 2007) Partindo de todas as premissas anteriores, o objetivo geral desse projeto de extensão foi trabalhar junto aos reclusos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), visando à instalação e manejo de uma horta comunitária para o consumo interno, buscando a valorização do recuperando e de seu trabalho, ao mesmo tempo em que se promove a discussão e práticas de educação ambiental. Os objetivos específicos foram os seguintes: pesquisar fontes de material didático para a realização das atividades descritas; elaborar, organizar e preparar materiais de simples compreensão, no intuito de facilitar e aumentar o interesse dos recuperandos aos temas abordados; instalar e manejar uma horta comunitária; abordar temas relacionados à sustentabilidade ambiental, como reaproveitamento de resíduos, uso da água, importância da fauna e flora, tendo como aplicação prática as atividades relacionadas à horta comunitária; facilitar as atividades em equipe, através de dinâmicas e atividades de campo que promovam a importância da cooperação e do trabalho em grupo; capacitar os recuperandos, por meio de atividades práticas e palestras, para os manejos de horta, utilizando procedimentos e manejos sustentáveis; articular os resultados obtidos com a sociedade e a comunidade acadêmica através de simpósios, mostras e outros tipos de eventos. MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente foi feita uma pesquisa entre os recuperandos sobre o conhecimento á respeito dos temas propostos pelo projeto. Essa pesquisa foi realizada através Espaço Científico v.15, n.2, 2014 23 de conversas informais e dinâmicas de grupo, suscitando a familiarização entre os estudantes participantes e os recuperandos. A próxima fase consistiu em levantar e organizar os materiais didáticos que foram utilizados nas palestras, atividades práticas, e dinâmicas. A abordagem do tema relacionado à educação ambiental foi feita através de palestras, dinâmicas e aplicação prática durante a realização das atividades na horta comunitária. Os recursos utilizados foram cartilhas informativas, fotografias, gravuras, desenhos, revistas específicas e gerais, livros e jogos. Todo o material didático foi formulado de acordo com grau de escolaridade dos condenados, visando gerar mais interesse dos mesmos pelos temas propostos,bemcomo mais participação do grupo durante as atividades. Os temas inicialmente escolhidos para serem abordados nas palestras e nas dinâmicas, de forma prática na horta comunitária, foram meio ambiente e sociedade; o ser humano como agente de modificação do ambiente; meio ambiente e políticas públicas; agricultura sustentável; recursos hídricos e utilização consciente da água; produção e reutilização do lixo e outros resíduos domésticos para a utilização na agricultura; olericultura (cultivo de hortaliças) básica; produção de adubos orgânicos através de resíduos caseiros; preparação e utilização de caldas; plantio de hortaliças por sementes e mudas; tratos culturais em hortaliças (poda, replantio, transplantio, etc.); irrigação; colheita e pós- colheita de hortaliças. As dinâmicas, que tiveram o cunho de estimular e facilitar o trabalho em grupo e cooperação entre os recuperandos foram feitas sempre em grupos, sejam eles menores ou maiores. As palestras e algumas dinâmicas foram realizadas e discutidas em grupos grandes, pois, essas objetivaram promover a interação e articulação entre todos os indivíduos. Já para as atividades práticas na horta e algumas palestras foram formados grupos menores, no intuito de não ocorrer dispersão e consequentemente favorecer o aprendizado. A abordagem dos temas relacionados especificamente à implantação e manejo de hortas foi feitas em duas etapas: 1) Durante as palestras e dinâmicas como citado anteriormente, onde foram apresentadas, de uma forma simplificada e interativa, informações teóricas sobre as culturas, sua implantação, manejo e cuidados na colheita, pós-colheita, etc.; 2) Atividades práticas (LUZ, 1998): Nessa etapa, os temas abordados nas palestras e dinâmicas foram colocados em prática, além da discussão de outros aspectos que foram abordados somente em campo, como tipos de solos e umidade, interpretação do ambiente, desenvolvimento das plantas (raízes e parte aérea) e outras abordagens que aconteceram durante a realização do projeto . A fase seguinte consistiu em definir quais culturas seriam implantadas na horta comunitária. Inicialmente, foram utilizadas as seguintes variedades (EPAMIG, 2007), que foram modificadas ao longo do projeto por sugestões dos recuperandos: Horta: Cebolinha (Alliumschoenoprasum), Salsa (Petroselinumcrispum), Cenoura (Daucuscarota), Alface (Lactuca sativa), Almeirão (Cichoriumintybus), Couve-flor (Brassicaoleraceavar.botrytis), Couve-comum (Brassicaoleraceavar.acephala), Repolho (Brassicaoleraceavar.capitata), Abóbora (Cucurbita moschata), Beterraba (Beta vulgarisvar. crassa) Espaço Científico v.15, n.2, 201424 As sementes e as mudas foram adquiridas através de compra (utilização da bolsa de extensão) em estabelecimentos especializados e de doações desses próprios estabelecimentos ou de setores relacionados ao tema da Universidade Federal de Viçosa ou de produtores rurais. A próxima fase consistiu em manejar de forma sustentável a produção, com utilização de caldas, adubos de resíduos orgânicos produzidos na própria Apac, tratos culturais, irrigação, colheita, conservação pós-colheita, como já descrito. As fases foram colocadas de forma cronológica somente para efeito de entendimento, porém todas as fases aconteceram simultaneamente ou de forma intercalada. DISCUSSÃO Inicialmente a proposta era trabalhar a implantação de uma horta comunitária através de práticas ambientalmente sustentáveis com todos os recuperandos da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), porém, ao começar o trabalho foram encontrados alguns contratempos (parte intrínseca da extensão) que tiveram que ser contornada. Dentro da Apac existem três modelos de sistema: o regime fechado, onde o recluso não tem contato fora da instituição e é privado de alguns espaços dentro da própria Apac; o regime semi-aberto (extra e intramuros) onde o recluso tem algum contato fora da instituição e liberdade de utilizar todos os espaços dentro da instituição; e o regime aberto, onde o recluso fica na Apac somente à noite e finais de semana. De acordo com a metodologia utilizada na associação, os reclusos de diferentes regimes devem manter o mínimo possível de contato, então o projeto teve que ser realizado somente um grupo, visto que o espaço para a horta era pequeno. Foi definido trabalhar com o regime semi-aberto,pois o mesmo recebe um número bem menor de voluntários do que o fechado e também pelo fato do projeto ter um caráter profissionalizante, sendo, a curto prazo, mais urgente para regime semi-aberto. Como os reclusos do regime semi-aberto poderiam a qualquer momento serem liberados para trabalharem fora da Apac, percebeu-se desinteresse por parte da maioria deles durante as atividades. Além do fato de estarem na expectativa de saírem, eles estavam acompanhando o projeto porque eram obrigados. A regularidade nas aulas também era um problema, pois, alguns reclusos trabalhavam também na marcenaria e na padaria da Associação, ocorrendo, algumas vezes, presença de apenas dois reclusos nas atividades. Em uma reunião com o coordenador da Apac, alguns pontos no projeto foram modificados: 1) Os reclusos do regime fechado que se interessassem pelo projeto poderiam participar das atividades. Para o projeto tomar forma de curso sem perder o seu objetivo, foram utilizados materiais doados pelo Centro de Produções Técnicas Espaço Científico v.15, n.2, 2014 25 (CPT) sobre implantação e cultivo de hortas caseiras e mais alguns materiais à parte. Utilizando esse material, ao final do curso os reclusos receberiam um certificado de conclusão do mesmo (após realização de uma prova); 2) A carga horária presencial na Apac para a realização do curso não poderia exceder seis horas semanais, pois, existem vários outros projetos (voluntários ou não) sendo realizados na Associação que também precisavam ser executados. Como o planejado eram 12 horas semanais, as demais horas foram utilizadas para preparo das atividades e para a leitura de bibliografias pertinentes ao tema. Em relação à estrutura de trabalho, todo material requisitado para a realização da horta (esterco, sementes, pá, enxada, etc.) e das aulas (quadro-negro, giz, DVD, televisão, sala de aula e materiais escolares) foram adquiridos pela própria Apac, através de doações ou de recurso financeiro próprio. O esterco para adubação foi doado pelo Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, as mudas de couve com os funcionários do Campo Experimental do curso de Agronomia (Departamento de Fitotecnia) e os demais produtos foram comprados pela instituição. Foram adquiridas, para a implantação da horta, sementes de Alface, Almeirão, Mostarda, Abóbora, Moranga, Salsa, Cebolinha, Beterraba, Cenoura, Couve-flor e Repolho. Como o espaço da horta não era muito grande as espécies foram cultivadas de forma intercalada, sendo que os recuperandos escolheram quais hortaliças seriam cultivadas primeiro. Após nove semanas que a horta foi implantada,os recuperandos começaram a colher algumas verduras, como alface, almeirão e mostarda, cebolinha e salsa. As hortaliças produzidas foram utilizadas no consumo interno da associação e o pouco excedente foi doado para algumas famílias carentes. Quando se iniciou o projeto não havia nada plantado no terreno destinado a horta, havendo somente muitos entulhos e pedras por toda a área. Ao final do mesmo estavam cultivados dois canteiros com alface, um com couve, um com beterraba e cenoura, um com e mostarda, um com salsinha, cebolinha e azedinho e alguns pés de berinjela. Os impactos do projeto foram positivos, pois, as atividades se iniciaram com poucos recuperandos (cinco) e no final doze estavam participando e mais três estavam interessados em participar. Além disso, o gasto com verduras e alguns legumes diminuiu consideravelmente, pois, a hortaproduzia constantemente, diminuindo em 90% os gastos com folhosas e até 60% com as outras hortaliças. Pouco antes do encerramento do projeto a Apac passou a ter uma barraca na Feira que acontece todo sábado em Viçosa, onde os produtores rurais da região comercializam seus produtos. Nessa barraca seriam vendidos todos os artigos produzidos na padaria (pães recheados, salgadinhos, bolo, biscoitos, etc.), na marcenaria (mesas, cadeiras, enfeites, etc.) e na parte de artesanato (enfeites de madeira, papel, cera, vidro, etc.). Antes de encerrar o projeto alguns recuperandos já estavam cultivando algumas plantas ornamentais e chás e temperos em vasos para comercializarem na barraca também. Espaço Científico v.15, n.2, 201426 CONCLUSÕES Durante a graduação, na maioria das vezes, os alunos são preparados somente para atuar na pesquisa ou só no ensino, sendo que a extensão e a interação entre os três pilares acabam não sendo abordados. Porém, projetos como esse são uma forma se ter essa interação, pois, ao mesmo tempo que ocorre a atuação extensionista, é necessária a interação com a pesquisa científica e com métodos de ensino. Nesse aspecto, o projeto da Apac foi excepcional. O aprendizado foi extremamente amplo, tanto na extensão quanto na pesquisa e no ensino. No entanto, o maior aprendizado desse projeto foi entender um pouco o significado da expressão valorização da pessoa humana. É importante não somente aprender, mas também viver, experiência essa vivenciada na troca de sentimentos, na quebra de preconceitos e na construção de um novo paradigma. O projeto poderia ter continuidade, mas não seria necessário. Em teoria (e logicamente o que deve ser colocado em prática), um projeto de extensão não é um projeto assistencialista, visto que, o objetivo da extensão é auxiliar na construção dos meios e não levar aos fins. Ao longo dos onze meses algumas sementes foram plantadas e é completamente possível acreditar que os conhecimentos sobre a implantação e manejo sustentável da horta foram e continuarão sendo construídos entre os recuperandos, mantendo continuamente a produção da mesma. Como extensão é feita de elos e parcerias, não se pode deixar de agradecer a todos os recuperandos da Apac (Senhor Carlito, Juscelino, Nandino, Marcos, Sidnei, Eduardo, Leacir, Jacinto, Guilherme, Willian e Senhor Aristides, João Carlos, Senhor Antônio) pela paciência, compreensão e, principalmente, por dar uma aula prática sobre o verdadeiro sentido da frase de Mário Ottoboni que diz: “Todo homem é maior que seu erro”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, S. Sistema penitenciário no Brasil: problemas e desafios. Revista do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Brasília, 1(2): 63-87, jul/dez 1993. ALVIM, W. B. A ressocialização do preso brasileiro. Buscalegis, América do Norte, 0 7 07 2009. APAC, Associação de Proteção e Assistência aos Condenados. www.apacitauna.com.br BINKOWSKI, P.; NICOLAUD, B. Horta agroecológica terapêutica. Revista Brasileira de Agroecologia, v.2, n.1, fev. 2007. BRASIL. Constituição (1988). 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APÊNDICES FIGURA 1 – Terreno destinado à horta no início do projeto. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico v.15, n.2, 201428 FIGURA 2 – Início das atividades na horta. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. FIGURA 3 – Organização da horta em canteiros. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 29 FIGURA 4 – Organização e demarcação dos canteiros. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. FIGURA 5 – Plantio de mudas de cebolinha no canteiro. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico v.15, n.2, 201430 FIGURA 6 – Crescimento das hortaliças (Alface e Cebolinha em destaque). Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. FIGURA 7 – Recuperandos em atividades de manejo da horta (8 semanas de projeto). Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 31 FIGURA 8 – Recuperandos Eduardo, Sr.Carlito, Edilson, Sidnei, Marcos e Willian (Direita para esquerda). Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. FIGURA 9 – Canteiro de alface no ponto de colheita. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico v.15, n.2, 201432 FIGURA 10 – Recuperando Nadino colhendo beterrabas. Fonte: Paulo Henrique Dias Barbosa. Espaço Científico Santarém v.15, n.2 p.33-42 2014 A percepção de alunos do ciclo básico universitário sobre as estratégias de produção de resumo: um estudo de caso em Santarém-PA Paula Cristina Galdino de Oliveira Maria Sheyla Gama (Orientadora) RESUMO O presente estudo visou abordar as predisposições de alunos do ciclo básico de uma instituição particular, de Santarém-PA, com o foco na efetivação do processamento de leitura, mais especificamente as estratégias em geral, conforme pressupostos teórico-práticos constantes em Solé, 1998; Kleiman, 1999; Dias (2006); Machado, Lousada e Abreu-Taderlli (2004). A metodologia constitui-se de uma abordagem quali-quantitativa, visto que o intento foi verificar as estratégias metacognitivas de leitura utilizadas pelos discentes para produção de resumo, procurando identificar aquelas que necessitam de maior investimento pedagógico. Para isso, foi desenvolvido como instrumento de coleta de dados um questionário semiestruturado, que permitiu um estudo exploratório. Os resultados mostram que, no geral, aproximadamente a metade dos alunos investigados conhece ou faz uso de estratégias metacognitivas indispensáveis à produção de resumo, como a visualização do texto por completo, a identificação de título, subtítulos, autor, gênero textual, data de publicação. Verifica-se que boa parte dos alunos realiza uma leitura geral para confirmação das hipóteses, bem como a observância de cada parágrafo, buscando identificar seus tópicos síntese. Por outro lado, notou-se também que há dificuldade na identificação das ideias principais, visto que a grande maioria, no destaque das ideiasprincipais, afirmam frisar exemplos, justificativas, informações facilmente deduzíveis, ou seja, dão relevo a ideias secundárias e não principais. Percebeu-se ainda o conhecimento, por uma parte significativa de alunos, de outras estratégias metacognitivas, como buscar explicitar a relação estabelecida entre as ideias principais e ainda identificar os atos verbais do autor do texto lido, que, por sua vez, é um indicativo de uma leitura adulta, acadêmica de fato. O estudo, ainda em andamento, busca cruzar os dados, mediante a atuação das variáveis que os condicionaram. Palavras-chave: Estratégias de leitura; Percepção acadêmica; Produção de resumo. ABSTRACT The present study aimed to address the predispositions of students in the basic cycle of a particular institution, Santarém-PA, with a focus on effective processing of reading, specifically the strategies in general, as the theoretical-practical constants in Solé, 1998; Kleiman, 1999; Dias (2006); Machado, Lousada-Taderlli and Abreu (2004). The methodology consists of qualitative and quantitative approach, since the intent was to verify the metacognitive reading strategies used Paula Cristina Galdino de Oliveira é Especialista em Metodologia do Ensino Superior (CEULS/ULBRA), Graduada em Letras E-mail: paula.oliveyra@gmail.com. Maria Sheyla Gama é Profa. Msc. e Coordenadora dos Cursos de Letras – Habilitação em Letras-Língua Portuguesa e Habilitação em Letras-Língua Inglesa no Centro Universitário Luterano de Santarém - CEULS/ ULBRA. E-mail: sheylagama@yahoo.com.br. Espaço Científico v.15, n.2, 201434 by students to produce short, trying to identify those who need further educational investment. Therefore, it was developed as a tool for data collection, a semi-structured questionnaire, which allowed an exploratory study. The results show that, overall, about half of the students surveyed know or makes use of metacognitive strategies essential for the production of short, as the text display altogether, identifying title, subtitle, author, genre, release date . It appears that most of the students held a general reading for confirmation of hypotheses, and observance of each paragraph in order to identify their topics synthesis. Moreover, it was noted that there is also difficulty in identifying the main ideas, since the vast majority, the highlight of the main ideas, examples stress claim, justifications, easily derivable information, in other words, emphasize the main ideas and not secondary. It was noticed even knowledge, for a significant portion of students from other metacognitive strategies, such as seeking to clarify the relationship between the main ideas, and identify the verbal acts of the author of the text read, which, in turn, is a indicative of an adult reading, academic apparel. The study, still in progress, looking across the data, by operating variables that conditioned. Keywords: Reading strategies; Perception academic; Production summary. 1 INTRODUÇÃO O ato de ler, após passar por diversas percepções, é compreendido atualmente não apenas como uma atividade linguística e cognitiva, em que nesta se realiza operações mentais/interpretativas, e naquela se mobiliza conhecimentos sobre o léxico, a morfossintaxe e a semântica. O processamento de um texto, seja em termos de produção textual ou de leitura, constitui-se também uma atividade sociointerativa, visto se ativar todo um conhecimento de mundo e um conhecimento sociointeracional. Segundo Koch (1998), tais conhecimentos compreendem os objetivos verbalizados nos diversos gêneros textuais e mesmo do próprio objetivo de leitura em um dado momento; englobam ainda as normas gerais de comunicação, denominadas em Grice (1969 apud Koch, 1998) de máximas – quantidade de informação necessária, gênero textual e linguagem adequada ao contexto de interação etc.; o conhecimento da estrutura composicional do gênero textual que se está lendo ou produzindo; e o conhecimento de diversos recursos para assegurar a compreensão e a aceitação do texto. Assim, no processo de interação entre leitor e texto, mobiliza-se não apenas conhecimentos linguísticos e textuais, mas psicossociais e interacionais. Kleyman (1989), ao discorrer sobre a complexidade dos processos envolvidos na leitura, afirma que o processo de leitura não é “linear e serial, passo a passo, desde o olho até a memória [...]” (1989, p.17). Mas, pelo contrário, o leitor é engajado, antecipa o material até a formação de uma imagem, porque sua decisão de pausar ou fixar em determinado fragmento, pauta-se não apenas pelo que acaba de ler na página, porém inclui seu conhecimento sobre os recursos linguísticos, o assunto e tantos outros sistemas de conhecimentos. Pode-se inverter no caminho, e partir do todo, “da síntese” para a análise das unidades, a fim de se verificar hipóteses. E, deste modo, a leitura é vista como um “processo interativo”, visto que os diversos conhecimentos do leitor se imbricam em todo momento com o explícito e implícito no material sociolinguístico para chegar à compreensão. Espaço Científico v.15, n.2, 2014 35 Nesta interação complexa entre leitor e texto, entram em ação as estratégias de leitura, que, segundo Solé (1998, 71), são “procedimentos de ordem elevada que envolvem o cognitivo e o metacognitivo”. As estratégias cognitivas dizem respeito às ações inconscientes no ato de leitura, como ativação do conhecimento de mundo, do conhecimento linguístico e textual. As metacognitivas implicam controlar e regular ações, isto é, explicitar objetivos da leitura, ações para detectar e corrigir falhas na compreensão, lembrar o que se lê, entre outros objetivos. Solé (1998) ainda propõe estratégias metacognitivas para antes – estabelecer objetivos e previsões, ativar conhecimento prévio...-, durante - fazer novas previsões, relacionar a nova informação ao conhecimento prévio; resumir as ideias do texto...- e após a leitura - identificar ideia principal, elaboração de resumo, e formulação e resposta de perguntas. Como se observa, e Solé (1998) também salienta, é difícil delimitar precisa e claramente o que vem antes, durante e depois, visto que estas estratégias se relacionam intimamente, sendo de grande orientação, na escolha e uso delas, o(s) objetivo(s) específico(s) que o leitor possui. Na educação superior, pode-se dizer que o objetivo geral da leitura é estudar/ aprender/construir conhecimento. Neste intuito, desdobram-se os específicos, isto é, lê-se, em geral, para fazer um resumo, uma resenha, um debate, um seminário, uma socialização, uma avaliação escrita ou oral que, por sua vez, atendem a objetivos outros, específicos ao domínio de cada componente curricular de um curso superior, que pode ir ao encontro do saber comparar, atribuir valor, identificar, caracterizar, posicionar-se criticamente, etc. A linguagem é por si mediadora, na concepção de Vygotsky e tantos outros. Rojo (2004), por exemplo, afirma: [...] ser letrado e ler na vida e na cidadania é muito mais que isso: é escapar da literalidade dos textos e interpretá-los, colocando-os em relação com outros textos e discursos, de maneira situada na realidade social; é discutir com os textos, replicando e avaliando posições e ideologias que constituem seus senti-dos; é, enfim, trazer o texto para a vida e colocá-lo em relação com ela. A partir dessa compreensão é que podem ser validadas quaisquer estratégias de leitura, as quais devem superar o nível da compreensão e atingir o posicionamento interdiscursivo. A universidade, ou a escola, reveste-se dessa valorosa condição, a de promover a troca de ideias, as contraposições e a constituição da subjetividade ancorada na mediação, via ato de ler, escrever, falar, ouvir. Nesse sentido, ressaltamos que o objetivo da leitura no âmbito escolar diz respeito à produção própria do conhecimento, a partir
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