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Prospecção das cadeias produtivas

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ARTIGO
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E
GESTÃO DA INFORMAÇÃO
AntônioMariaGomesdeCASTROI
RESUMO
A aplicaçãodetécnicasprospectivastemsido introduzidanapesquisaenagerênciado
agronegócioedesuascadeiasprodutivas,sendocapazdetornarmaisprecisaeeficaza
formulaçãodeestratégiaseaprópriagestãodacompetitividade.Todavia,parasetorna-
remrealidade,estesmecanismosanalíticosprecisammanejargrandesquantidadesde
informação,sema qualtodaa suaeficiênciasetornacomprometida.Estetrabalhopro-
põe-sea apresentarestesnovosconceitoseferramentasdeanálisedeagronegócioe de
cadeiasprodutivas,notadamentenoquetangeaaplicaçãodeestudosdefuturofocadosno
desempenhodessessistemas.É tambémexaminadaa questãoda informaçãocomobase
paraestesestudoseparaaformulaçãodeestratégiasediscutem-seformasdeaprimorara
gestãodesteinsumovitalpara o aprimoramentododesempenho.
Palavras-chave:agronegócio;cadeiasprodutivas;competitividade;informação.
ABSTRACT
Theapplicationofprospectivetechniqueshasbeenrecentlyintroducedin agribusiness
R&D andmanagementinBrazilaimingatmakingstrategydevelopmentmorepreciseand
accurate.However,to beactuallyuseful,theseanalyticaltoolsneedto managea great
dealof information,notalwaysavailable,whichmayblurtheirresults.Thispaperintinds
presentageneralreviewofsuchnewconceptandtoolsanalyticalusedinBrazil,asa way
of strategyand decisionmakingwithin theagribusinessand commoditiesproduction
chainsenvironment.lt establishestheimportanceof informationmanagementfor the
attainmentofusefulresultsandagribusinessdevelopmentstrategymaking.
Key words:agrobusiness;productivechains;competitiveness;information.
INTRODUÇÃO desempenhodiferenciado,a preocupaçãocoma
qualidade,eficiênciaecompetitividade,antespouco
evidenciadas,passarama emergirenfatizandoa
importânciadagestãonessessetores.
Estechoquedemercadoe competitividade
tambémveioacompanhadodavalorizaçãodainova-
ção,comofatordecrescimentoparaasorganizações
ligadasao agronegócio.Inovaçãotecnológicae
gerencialpassaramarepresentarfatorcrucialparaa
A aberturadosmercados,ocorridaaolongoda
décadade90noBrasil, acarretouamodificaçãona
gestãodediversossegmentosdoagronegóciobrasi-
leiro.Váriosprodutosesetores,antesprotegidosda
competiçãoporbarreirasalfandegáriasefiscais,pas-
sarama sesubmeterà competiçãodeconcorrentes
externos,pelopredomíniodo mercadonacional.O
I. Eng.Agrônomo,PhDemSystemsAnalysisandSimulation,e-maila.mcastro@uol.com.br
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competitividade das organizações,tanto para
aquelasdiretamenteenvolvidasnaproduçãodebens
agrícolas,comoaspertencentesaoambienteorga-
nizacionaldessesistema,comoéo casodasorgani-
zaçõesdeP&D.
A própriaconceituaçãodaagriculturacomo
agronegóciofoiumamudançaauspiciosa.A preocu-
paçãocomainovaçãoecomo desempenholevouà
conclusãoqueo focoemsegmentosdaagriculturae
emdisciplinasdo conhecimento,já nãoeramsufi-
cientesparagerara compreensãonecessáriaparaa
gestãodaatividade(CastroetaI., 1992).
A visãosistêmicatrazidapelaconceituação
do setoragrícolacomoagronegóciofoi umavanço
no métodocientífico,apoiandoa pesquisaneste
segmentodaeconomia.Ao consideraraagricultura
comoagronegóciofoi possível realçaradimensão
gerencialdesteempreendimentoe reforçaraneces-
sidadede inovaçãotecnológicae gerencial,como
instrumentosparao seucrescimento.
Analisar o agronegóciocomo um grande
sistemanacional,vocacionadoparaa produçãode
produtosagrícolasesegmentadoemsubsistemasde
finalidadesmaisespecíficas,ascadeiasprodutivas,
ofereceexcelentesoportunidadesparaincrementaro
conhecimentosobreo desempenhodessessistemas.
A partirdesseconhecimentoampliado,é possivel
traçarestratégiasmaisrealistasparaasuagestão.
A formulaçãodeestratégiassempredemanda,
entreoutrospré-requisitos,o conhecimentosobre
cenáriosouvisõesdefuturo.Estratégiasenglobam
padrõesde respostasa oportunidadesou ameaças
que devemser interpretadasa partir de eventos,
fatos,comportamentosatuaise suastendências.A
aplicaçãodetécnicasprospectivasofereceo marco
conceitualeasferramentasadequadasparatrabalhar
convenientementeestaquestão.
Todoestesofisticadoaparatotécnicoegeren-
cialtemsidointroduzidonapesquisaenagerência
doagronegócioeécapazdetomarmaisprecisaeefi-
cazaformulaçãodeestratégiaseaprópriagestãoda
competitividadenoseu âmbito.Todavia,parase
tomaremrealidade,estesmecanismosanalíticospre-
cisammanejargrandesquantidadesdeinformação,
sema qualtodaa suaeficiênciasetomacompro-
metida.Coletar,interpretar,armazenar,recuperare
difundirinformaçãodequalidadesobreo desem-
penhodasorganizaçõesdiretae indiretamente
ligadasaoagronegócioéumatarefadeformidável
complexidadee de impactodiretosobreos seus
futurosavanços.
Estetrabalhopropõe-sea apresentarestes
novosconceitose ferramentasdeanálisedeagro-
negócioe decadeiasprodutivas,notadamenteno
quetangeaaplicaçãodeestudosdefuturofocados
nodesempenhodessessistemas.Discorre-sesobreo
marcoconceitual,metodologiasetécnicasutilizadas
e sobrea aplicaçãodosresultadosobtidosnesses
estudosparaagestãododesempenhodoagronegó-
cio.É tambémexaminadaaquestãodainformação
comobaseparaestesestudose paraa formulação
deestratégiasediscutem-seformasdeaprimorara
gestãodesteinsumovitalparaoaprimoramentodo
desempenho.
A VISÃO SISTÊMICA DA AGRICULTURA
Conceito de agronegócio e
de cadeias produtivas
Os conceitosde agronegócio(ounegócio
agrícola),decadeiaprodutiva,sistemaprodutivo
constituemaplicaçõesdateoriageraldossistemas,
ouenfoquesistêmico.Umsistemaé,nadefinição
deSppeding(1975),"umconjuntodecomponentes
interativos".A caracterizaçãodeumsistema(ou
suaanálise)inicia-secomo estabelecimentode
seusobjetivos,seguidadadefiniçãodeseuslimites,
subsistemase entidadescomponentese contexto
externo.Ao definirlimitese hierarquias,estabe-
lecem-seasinteraçõesdeseussubsistemascom-
ponentes,mensuram-sesuasentradase saídase
respectivosdesempenhosintermediários(subsiste-
mas)efinal(sistema).
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PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
A agriculturacomoumtodocompreende
componenteseprocessosinterligadosquepropiciam
a ofertadeprodutosaosseusconsumidoresfinais,
atravésdatransformaçãodeinsumospelasentidades
ouorganizaçõescomponentes.Esteconjuntodepro-
cessose instituiçõesligadasporobjetivoscomuns
constituiumsistemaque,porsuavez,englobaoutros
sistemasmenores,ousubsistemas.Osistemamaioré
o chamadonegócioagrícola,"agribusiness",ou
agronegócio,termoqueseráadotadoporestetraba-
lho(CastroetaI.,1996(b);1996(c».
O agronegóciocompõe-sedecadeiasprodu-
tivas,e estaspossuementreseuscomponentesos
sistemasprodutivos,queoperamemdiferentesecos-
sistemasousistemasnaturais.Noambienteexterno
oucontextodoagronegócio,existeumconglome-
radodeinstituiçõesdeapoio,compostodeorgani-
zaçõesdecrédito,pesquisa,assistênciatécnica,entre
outras,e umaparatolegalenormativo,exercendo
forteinfluêncianoseudesempenho(Davis& Gold-
berg,1957;AraujoetaI.,1990).
Conseqüentemente,agestãodoagronegócio
buscamobilizarconceitose instrumentosdeinter-
vençãonascadeiasprodutivas,comoocréditoagrí-
cola,ainovaçãotecnológicaegerencial,asnormas
detaxação,serviçosdeapoioetc.paramelhoraro
desempenhoemrelaçãoa algumindicadorespecí-
fico.Estasintervenções,entretanto,só setomam
eficazesquandoépossívelcompreendersistemati-
camente,nãosóoqueocorrenoslimitesdasproprie-
dadesrurais,masemtodosossegmentosemquea
produçãoagropecuáriaseinsere.
O agronegócioé definidocomoum
conjuntodeoperaçõesdeprodução,processa-
mento,armazenamento,distribuiçãoecomer-
cializaçãodeinsumosedeprodutosagrope-
cuáriose agroflorestais.Inclui serviçosde
apoioeobjetivasupriroconsumidorfinalde
produtosdeorigemagropecuáriaeflorestal.
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A cadeiaprodutivaé o conjuntode
componentesinterativos,incluindoossiste-
masprodutivos,fornecedoresde insumos
e serviços,industriaisdeprocessamentoetransformação,agentesde distribuiçãoe
comercialização,alémde consumidores
finais.Objetivasupriro consumidorfinalde
determinadosprodutosou sub-produtos
(CastroetaI.1994;1996(a».
A Figura1ilustraumatípicacadeiaprodutiva
agrícola,comos seusprincipaiscomponentese
fluxos.Distinguem-seos seuscomponentesmais
comuns,ousejam,o mercadoconsumidor,com-
postopelosindivíduosqueconsomemo produto
final(epagamporele),arededeatacadistasevare-
jistas,aindústriadeprocessamentoe/outransforma-
çãodoproduto,aspropriedadesagrícolas,comseus
diversossistemasprodutivosagropecuáriosou
agroflorestaiseosfornecedoresdeinsumos(adubos,
defensivos,máquinas,implementose outrosser-
viços).
Essescomponentesouentidadesestãorela-
cionadosaumambienteinstitucional(leis,normas,
instituiçõesnormativas)eaumambienteorganiza-
cional(instituiçõesdegoverno,decréditoetc.),que
emconjunto,exerceminfluênciasobreoscompo-
nentesdacadeiaesobreoseudesempenhocomoum
todo.
As cadeiasprodutivasagrícolasdevemsuprir
o consumidorfinal de produtosem qualidadee
quantidadecompatíveiscomassuasnecessidadese
apreçoscompetitivos.Por estarazão,émuitoforte
nelas a influênciado consumidorfinal sobreos
demaiscomponentese é importanteconheceras
demandasdessemercadoconsumidor.
O sistemaprodutivoéumconjuntode
componentesinterativosqueobjetivaaprodu-
çãodealimentos,fibras,energéticose outras
matérias-primasdeorigemanimalevegetal.É
um subsistemada cadeiaprodutiva,referin-
do-seàsatividadesprodutivas,denominadas
comode"dentrodaporteiradafazenda"(Cas-
troetaI. 1996(b».
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Ambienteorganizacional
Ambienteinstitucional
q Fluxodemateriais . Fluxodecapital
D ComponentesdaCP ouelosT Transações
Figura 1.Representaçãodacadeiaprodutiva.
Fonte:CastroetaI., 1995,citandoZibersztain,1994.
No gerenciamentodossistemasprodutivos,
busca-se,emgeral:
a) maximizara produçãobiológicae/ou
econômica;
b)minimizarcustos;
c)maximizara eficiênciadosistemaprodu-
tivoparadetenninadocenáriosocioeconô-
mlCO;
d)atingirdeterminadospadrõesdequalidade;
e)proporcionarsustentabilidadeaosistema
produtivo;
f) garantircompetitividadeaoproduto.
Análise de cadeiasprodutivas
A compreensãodofuncionamentodoagrone-
gócioé essencialparaa suagestão.Esteconheci-
mentopodesergrandementeampliadoaplicando-se
a lógicae as técnicasde análisede sistemas.A
análisedoagronegóciocomosistemapodefornecer
importantessubsídiosparaa fonnulaçãodemacro-
políticase de estratégiasde desenvolvimento
setorial.Todavia,os resultadosdasanálisesde
cadeiasprodutivasoferecemmaioresoportunidades
de aplicação,pela suamaiorespecificidadee
possibilidadedeaprofundamento,sejanoplanodo
desenvolvimentosetorial,nagestãodascadeiasou
na identificaçãode demandastecnológicaspara
P&D.
Por estarazão,desenvolveu-sepreferencial-
mentemetodologiaparaaanálisedecadeiasprodu-
tivaseparaaprospecçãodesuasdemandas(Castro
etaI., 1995),comconceitose instrumentosaplicá-
veis.No documentoproduzido,encontram-seméto-
dose técnicassugeridasparaexecutara análiseda
cadeiaprodutivaeaprospecçãodedemandastecnló-
gicae nãotecnológicas,dosdiversoscomponentes
dacadeia.
A basecomumdasetapasnametodologiasão
asmesmasdoselementosnecessáriosà caracteri-
zaçãodeumsistema:
a)explicitaçãodeobjetivoselimitesdosiste-
ma;
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Fazendasb:AI I q
Fonecedores
I. Sistemas
Agro- Atacadistas ..!Consumidoresdeinsumo produtivos. industria . . Varejistas finais
T5 ,1,2,3,...n T4 T21 IT IT3
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
b)caracterizaçãodocontextoouambienteex-
ternodosistema;
c)definiçãodecomponentesdosistemaeseus
respectivosfluxosou interações;
d)especificaçãodosinsumos,produtossaídos
edepontosdeestrangulamento,considera-
doscríticosou relevantesao desempenho
dosistema.
Sobaóticadeanáliseproposta,ospontosde
estrangulamento,oufatorescríticosaodesempenho,
atuais,potenciaisefuturos,constituem-sedeman-
dastecnológicase nãotecnológicas,quepassama
orientarasintervençõesparaagestãodacadeiapro-
dutiva.
Umaapresentaçãomaisdetalhadadestameto-
dologiaedastécnicasempregadaséfeitaposterior-
mentenestetrabalho.
Desempenhode cadeiasprodutivas
o processoprodutivodeveterseudesempe-
nhoorientadoeaferidoporumconjuntodecritérios.De
formageral,osprincipaismarcosdereferênciapara
valorardemandasdeumacadeiaprodutivapodem
considerarcomocritérios:competitividade,eficiên-
cia,qualidadee/ouequidade(Castroetal.,1996).
Recentemente,foi desenvolvidoum novo
conceitoparaacompetitividadedasempresas,o de
vantagemcompetitiva(Porter,1997).Por estecon-
ceito,distinguem-seapenasduasformasdeempre-
sasquesediferenciaremdesuasconcorrentes,apre-
sentandoumavantagemcompetitiva:a diferencia-
çãoouosbaixoscustos.Umaterceiradimensãoaser
considerada,afetandoa diferenciaçãoouosbaixos
custoséo escopo,ouseja,agamadesegmentosde
mercadovisadospela empresa.A funçãodeste
modeloconceitualé o fornecimentode elementos
paraaformulaçãodeestratégiasdegestãodacompe-
titividadedasempresas.
Juntamentecom o conceitode competitivi-
dadeindustrial,Porterdesenvolveuo conceitode
cadeiadevalornaEmpresa,ummodelodeanálise
competitivaeumconjuntodeestratégiasgenéricas,
capazesdeorientaraformulaçãodeestratégiasespe-
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cíficasdecompetitividade.Isto seconstituiunuma
baseteóricaparaoplanejamentodecompetitividade
industrial,tomando-seumareferênciaparaoplane-
jamentodacompetitividadenosmeiosacadêmicose
empresariais(MintzbergetaI.,2000).
O conceitode competitividadeem cadeias
produtivasagropecuáriaspodeserderivadoapartir
doconceitoestabelecidoporPorter,considerandoos
produtosou subprodutosdacadeiacompetindono
mercadoconsumidordeprodutosagropecuários.Há
que se distinguir,entretanto,produtoscom valor
agregadooudiferenciadosporalgumtipodecaracte-
rísticadistintivaeprodutosdotipocommodities.O
estabelecimentodevantagemcompetitivaserádife-
renteemcadacaso.
Parao casodecadeiasprodutivasprodutoras
decommodities,faceanãodiferenciaçãodoproduto
final, a competitividadeé principalmenteestabe-
lecidaporbaixoscustos,quepermitemumalucrati-
vidadeparaa cadeiaprodutivamesmoquandoos
preçosdosprodutossãobaixos.Isto significauma
eficiênciaprodutivamaior,aolongodetodaacadeia
produtiva.Notarqueaanálisenestecasoécompara-
tiva,abrangendoascadeiasprodutivasconcorrentes,
edeveenglobartudooqueocorreantes,dentroefora
daporteiradafazendae nãoapenaso quesepassa
dentrodafazenda,nossistemasprodutivos.
Umaoutrasituaçãoespecíficadecompetitivi-
dadedecadeiasprodutivaséaqueenvolveprodutos
comvaloragregado,ousejaprodutosdiferenciados,
nosquaisavantagemcompetitivaseráestabelecidaa
partirde um desempenhomaioremqualidadede
produtosou seja,no estabelecimentodeumaima-
gemdediferenciação,produtosquesãoreconheci-
dospelosseusconsumidorescomopossuindocarac-
terísticasdiferenciadas.
Na suaformulaçãomaisgeral,eficiênciade
umsistemaémensuradapelarelaçãoentreinsumos
(I) necessáriosà formaçãodoprodutodosistemae
esteprodutoou"output"(O). Insumose produtos
devemsermensuradosnummesmoelementodeflu-
xo (capital,energia,materiais,informações),sendo
por isso a eficiênciauma medidasemdimensão
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(Spedding,1975).Paraaanálisedeumacadeiapro-
dutiva(oudeseusrespectivossistemasprodutivos),
oelementodefluxomaisapropriadoparaamensura-
çãoé o de capital,traduzidoemumadeterminada
moeda(Dólaresamericanos,Reaisetc.).
Qualidadeé a totalidadedaspropriedadese
característicasdeumproduto,serviçoouprocesso,
quecontribuemparasatisfazernecessidadesexplíci-
tasouimplícitasdosclientesintermediáriose finais
deumacadeiaprodutivaedeseuscomponentes.
Usualmente,qualidadeé traduzida por um
conjuntodenormasepadrõesaserematingidosporprodutoseserviços,ofertadospelascadeiasesiste-
masprodutivos.O conceitoabrange,também,as
entradase saídasde processosadministrativosno
contextodascadeiasprodutivas.
Velazquezetal.(1998)informamqueospro-
dutosfinaisdevemtersuaspropriedadesintrínsecas
e extrínsecasidentificadas.Estaspropriedades,no
casodecadeiasprodutivasagropecuárias,podemse
referira:
· qualqueratributonecessárioparao uso
adequadodoprodutoeseumanejo;
· propriedadesfísicas(cor,peso,integridade,
tamanho,graudematuração,características
para empacotamento,métodode conser-
vação,formadeuso,perenidadeetc);
· propriedadesquímicastaiscomopureza
(emoposiçãoàpresençaderesíduosquími-
cos) contribuiçõesnutricionaise estabili-
dadedoproduto;
· propriedadesorganolépticas,ouavaliação
sensorialsobreodor,apresentaçãovisual,
sabor,sensaçãorecebidapelautilização:
· atributosespeciais:produtossaudáveis,
ecologicamentecorretos,com proprieda-
desnutricionaisespecíficas.
A qualidadedeprodutoseprocessosnacadeia
produtivadeveseravaliadaporindicadoresdequali-
dade,preferencialmentequantitativos,cujoconjunto
irá comporumanormadequalidadeparadetermi-
nadoprodutoou processoprodutivo.Um exemplo
deindicadorpoderiaserapercentagemdeumidade
deumasementecomercial.Esteindicador,junta-
mentecomoutros,taiscomopercentagemdegermi-
nação,graude purezapodemconstituiremum
padrãodequalidadeparasementescertificadas,à
medidaqueosníveismínimosaserematingidospor
umlotedesementessãoestabelecidos.
Equidadeédefinidacomoequilíbrionaapro-
priaçãodosbenefícioseconômicosgeradosaolongo
da cadeiaprodutivapelosseuscomponentesou,
internamente,entreosindivíduoseorganizaçõesde
umsegmentodacadeiaprodutiva.Podeseranali-
sadaquantificando-sefluxodecapital,a partirdo
consumidorfinal e verificando-sea acumulação
destenosdemaiscomponentes.
Historicamente,asorganizaçõesdecomercia-
lizaçãotêmacumuladoa maiorpartedoscapitais
circulantesna cadeia,comofoi demonstradono
trabalhodeLeite& Pessoa(1996),nacadeiaprodu-
tivadocaju.Ossistemasprodutivoseosprodutores
ruraisgeralmentetêmrecebidoa menorfração
relativadosbenefícios,salvoemsituaçõesextraor-
dinárias.
Demandastecnológicase nãotecnológicas
As demandastecnológicasdeumacadeiapro-
dutivapodemserdefinidasemfunçãodossistemas
quelhesdãoorigeme classificadasem trêstipos
básicos:Demandastipo1,paraproblemasdependen-
tesde açõesde adaptação/difusãode tecnologias;
Demandastipo11,paraproblemasnecessitandode
açõesdegeraçãodetecnologias;Demandastipo111,
paraproblemasnãodependentesdesoluçãotecnoló-
gica,ligadosa fatoresconjunturais,infra-estrutura
deapoio,etc.mascomimpactoindiretonosresul-
tadosdapesquisa.
No casodascadeiasesistemasprodutivos,as
demandassãonecessidadesdeconhecimentosetec-
nologias,visandoreduziro impactode limitações
identificadasnoscomponentesdacadeiaprodutiva,
paraamelhoriadaqualidadedeseusprodutos,efi-
ciênciaprodutiva,competitividadee equidadena
distribuiçãodebenefíciosentreosseuscomponentes.
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PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Intervenção:aplicaçãodosresultadosdosestu-
dos prospectivosna gestão
Osobjetivosdosestudosdecadeiasproduti-
vaspodemsermúltiplos,emborao conhecimento
adquiridosobregargaloseoportunidades,sobafor-
madedemandastecnológicase não-tecnológicas
sejadealtovalorparaaformulaçãodeestratégias.
Váriasagênciaspúblicase privadaspodem
utilizarosresultadosdosestudosparaorientarsua
atuação.Demandastecnológicaspodemorientara
pesquisapúblicaeprivadanaformulaçãodebons
projetosde P&D. Agênciasde desenvolvimento
regionalpodemformularpolíticasparaincrementar
a competitividadedascadeiasestudadas,sejana
soluçãodefatoreslimitantesdacompetitividade,ou
no aproveitamentodeoportunidades.Gerentesde
organizaçõesparticipantesdacadeiapodemaprimo-
rarassuasestratégiasdecompetitividade,buscando
umaposiçãomaisfavorávelnacadeiaprodutiva.
Estetópicoserádetalhadonopróximoitem.
ESTUDOS DE DESEMPENHO FUTURO DE
CADEIAS PRODUTIVAS: IMPORTÂNCIA,
CONCEITOS E METODOLOGIAS
Importância dos estudosprospectivosde
cadeiasprodutivas
Na gestãode cadeiasprodutivas
As organizaçõescomponentesdas cadeias
produtivaspodemteratitudescooperativasoucon-
flituosas.Muitos fatoresestãorelacionadosa este
comportamento,mascertamenteograuemquecada
umadessasatitudesprevaleçamdependemdotipo
decoordenaçãoqueacadeiaapresenta.Idealmente,
oselosdeumacadeiaprodutivadeveriamsercoope-
rativos,enquantoacompetiçãodeveriaocorrerentre
asorganizaçõescomponentesdemesmanatureza.
Conseqüentemente,acoordenaçãonacadeia
é umpontoimportanteparaa eficiênciae sucesso
damesma.Cadeiascoordenadasconseguemsuprir
o mercadoconsumidorde produtosdeboaquali-
dade,deformacompetitivaesustentávelnotempo.
61
Cadeiasnãocoordenadas,comconflitosnãonego-
ciadosentreos componentessefragilizam,per-
dendoemcompetitividade.
Umexemplomarcantedautilidadedosestu-
dosprospectivosparaagestãodascadeiasprodutivas
é oferecidopelotrabalhodeWrighteta1.(1992).
Analisandoa cadeiaprodutivadauvae dovinho,
aquelesautoresidentificaramumbaixopotencial
paraaproduçãodevinhosfinosnoBrasilemfunção
daconcorrênciadovinhoimportado.Detectou-se
umaltopotencialdeexpansãoparaosucodeuvaque
apresentava,na ocasião,padrãointernacionalde
qualidade.Finalmente,verificou-sequeum dos
fatoresdeinibiçãodacompetitividadedovinhofino
brasileiroerao custodaembalagem,notadamente
garrafaerolha,quechegavamacustarmaisqueo
própriovinho.
Estesresultadosda análiseprospectivada
cadeiaserviramparacriarconsciêncianosseuscom-
ponentes,notadamentenosetoragro-industrial,dos
problemas,ameaçaseoportunidadesdosetor,pro-
porcionandomeiosparaumamaiorcoordenaçãona
cadeiaprodutiva.Serviramtambémparaumacom-
pletareformulaçãoestratégicadaprogramaçãode
P&D, que,a partirdeentão,passoua incorporar
questõesanteriormentenãoconsideradasemsua
programação.
No planejamento de P&D
A ofertaadequadadetecnologiaàclientelare-
queraantecipaçãodesuasnecessidadeseaspirações
futuras.Trata-sededesenvolvervisãoprospectiva,
utilizando-seosmétodoscorrespondentes(Johnson
& Marcovitch,1994).A análiseprospectivaé o
conjuntodeconceitosetécnicasparaaprevisãode
comportamentode variáveissocioeconômicas,
políticas,culturaisetecnológicas.Umtipoespecial
deanáliseprospectiva,a prospecçãotecnológica,
objetivaidentificardemandastecnológicasatuais,
potenciaisefuturas,deumacadeiaprodutivacliente
deumcentrodeP&D.Nestecaso,estasseconsti-
tuemnomercadodetecnologiasdeumcentrode
P&D(Castroeta1.,1996).
Transinformação,v. 13,nO2,p. 55-72,julho/dezembro,2001
62 A. M. G. deCASTRO
o mercadodetecnologiaé definido
comoo encontrodaofertadetecnologiasde
um centrodeP&D comasdemandasdas
diversasorganizaçõescomponentesda(s)
cadeia(s)produtiva(s)quelheé(são)pertinen-
te(s)(CastroetaI.,1996(a».Esteconceitoé
ilustradonaFigura2.
o interessepelatecnologiaestárelacionado
comascaracterísticassocioeconômicasdosclientes
docentrodeP&D. Graudeeducaçãoformal,nível
derenda,acessoaosmeiosde informação,crenças
sãovariáveisquetêmsidorelacionadascomo inte-
ressepordeterminadostiposdetecnologia.Produto-
resdeagriculturadesubsistênciatêmtidohistorica-
mentemaior dificuldade(e portantomenorinte-
resse)emadotartecnologiascomplexascomgrande
incorporaçãode insumosprodutivos.Em suma,
conhecere considerarestasparticularidadesda
clientelaé aumentar,apriori, aspossibilidadesde
adoçãodatecnologiaproduzida.
É claro, portanto,que a identificaçãode
demandaséumpontofundamentalparaaatuaçãode
um centrodeP&D. Esteenfoqueemdemandasó
poderáserexercitadocombasestambémampliadas
Fornecedores
deinsumos
Agro-
indústria
deinformaçãoquecontemplem,alémdasvariáveis
tradicionalmentetrabalhadassobreossistemaspro-
dutivos,aquelasreferentesaos demaissegmentos
dascadeiasprodutivas.
A evoluçãodasanálisesdomercadodetecno-
logiatemdemonstradoqueessemercadoenvolvetodosossegmentossociaiscomponentesdascadeias
produtivas.As necessidadeseaspiraçõesdoconsu-
midorfinaldosprodutosdascadeiasafetamospro-
cessosprodutivosegerenciaiseconseqüentemente
geramnovasdemandasportecnologiasgerenciaise
deprodução.Devem,portanto,serconsideradasno
processodeidentificaçãodessademanda.
No planejamentodo
desenvolvimentosetorialeregional
o crescimentoeconômicodeumaregiãoestá
associadoaodesempenhodediversascadeiasprodu-
tivas.Variáveisde desenvolvimentosocial, como
níveldeemprego,saúde,habitação,fteqüentemente
tambémestãoassociadasaodesempenhodedetermi-
nadascadeiasprodutivas.Assim,o planejamentodo
desenvolvimentoregionalou setorialé beneficiado
pelabaseampliadadeinformaçãogeradapelosresul-
tadosdaanáliseprospectivadecadeias.
qI Atacadistas~
Consumidores
finais
Varejistas~
Novos
mercados
I
Mercadodetecnologia
~ Oportunidades
dedemandas
11.Com
NovosP&D ] ~
demanda
Prospecção
dedemandas
CentrosdeP&D
projetos
Figura 2.RepresentaçãodomercadotecnologiadeumcentrodeP&D.
Fonte:CastroetaI., 1998.
Transinformação,v. 13,nO2,p. 55-72,julho/dezembro,2001
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
As possibilidadesnestecamposãoilimitadase
váriosexemplospodemserapontados.NaRegiãoSul
doBrasil, apreocupaçãoera intensa,durantetodaa
décadade90,comrelaçãoaosimpactosdaimplanta-
çãodoMercosuledaglobalizaçãosobreaeconomia
regional,notadamentesobreo agronegócio.Vários
estudosforamrealizados,enfocandoa competitivi-
dadedascadeiasprodutivasdaregiãoemrelaçãoas
dosdemaispaísesdoMercosuI.
Silva (1994)procedeua análisedascadeias
produtivasdasoja,trigo,leite,vinho,pêssego,alhoe
cebola.As análisesforamconduzidascomparando
todososcomponentesedesempenhosatuaisepassa-
dosdascadeiasprodutivas,enfocandoas questões
relacionadascoma competitividade.Os resultados
destetrabalhoestãosumariadosnaTabela1.
De formasemelhante,Cunhaet aI. (1993)
analisaramas cadeiasprodutivasdo leite,suínos,
milho,cebola,alho,uvaevinho,sojaebatatasoba
óticada competitividadeemrelaçãoao Mercosul,
comresultadosidênticosaosanteriores.
Metodologia de estudos
prospectivosde cadeiasprodutivas
Em síntese,acompreensãosobreo desempe-
nhopassadoe futurodecadeiasprodutivaséessen-
cialparaaformulaçãodeestratégiasdegestãoepode
sertrabalhadaporumtipoespecíficodeanálisede
sistemasdenominadoanáliseprospectivadecadeias
produtivas.Paratrabalharestetipodeanálise,Castro
etaI.(1995)desenvolveramummarcoconceituale
metodológico,queé resumidamenteapresentadoa
segUlr.
63
A estratégiametodológicaadotadanosestu-
dosdecadeiasprodutivascompreende:
· aplicaçãodeconceitosetécnicasdeanálise
decadeiasprodutivas,visandoadetermina-
çãodefatorescríticosdecompetitividade;
· modelagemeanálisedefluxosdemateriais
ecapitaisnacadeiaprodutiva;
· análisepreliminardemercadoparaosprin-
cipaisprodutosdaCP eparaprodutoscom-
petidores,em buscade oportunidadese
fatorescríticosdecompetitividade;
· análisepreliminarcomparativadeambien-
tesorganizacionale institucional(impos-
tos, transportes,armazenagem,crédito,
normaseleis)daCP edeCPscompetidoras
embuscadefatorescríticosdecompetitivi-
dade;
· análisepreliminardeprocesso,compara-
tiva, paraa estruturade comercialização
varejistae atacadista.Determinaçãode
fatorescríticosdecompetitividade;
· análisecomparativadeprocessoprodutivo
agro-industriale agrícola,em buscade
fatorescríticosdecompetitividade;
· análisecomparativapreliminardaestrutura
defornecimentodeinsumos.
As etapas,paraanálisedecadeiaprodutiva
derivadasdaestratégiaanterior,estãoresumidasna
Tabela1.A análiseseiniciapelacaracterizaçãodos
consumidoresdacadeiaprodutivae peladefinição
dasnecessidadese aspiraçõesdessemercadocon-
sumidoremrelaçãoao(s)produto(s)dacadeiaprodu-
tiva(CP).A posiçãorelativadacadeiaprodutivano
negócioagrícolaéexaminada,eoslimiteserelações
como ambienteexternodacadeiasãodefinidos.
Tabela 1.CompetitividadedealgumascadeiasprodutivasnoMercosul-sumárioderesultados.
Cadeia
produtiva
Soja
Trigo
Leite
Pêssego
Cebola
Alho
Vinho
Países
comparados
Brasil eArgentina
Brasil, Argentina,Uruguai,Paraguai
Brasil,Argentina,Uruguai,Paraguai
Brasil eArgentina
Brasil, Argentina,Paraguai,Uruguai
Brasil eArgentina
Brasil, Argentina,Uruguai
Fonte:Silva, 1994.
Princípais resultados-
fatoresdecompetitividade
Solosmaisférteis,transporte,cargatributária
Custos,qualidade,insumosmaiscaros
Tributos,insumos,preçosestáveis
Cultivares,irrigação,infra-estrutura,tributos
Gestão,tributos,tecnologia,infra-estrutura
Câmbio,economiadeinsumos,tributos
Preço,qualidade,custos
Transinformação,v. 13,n°2,p. 55-72,julho/dezembro,200I
64 A. M. G. deCASTRO
Deumafonnageral,comojá foi apresentado
noitemDesempenhodecadeiasprodutivas,osprin-
cipaisobjetivosde desempenhoperseguidospelas
cadeiasprodutivas,oupelosseuscomponentesindi-
vidualmente,sãoaeficiência,aqualidade,acompe-
titividadeeaequidade.A metodologiadeanálisedas
cadeiasprodutivasdeve responderquais desses
objetivossãomaisapropriadosparaa situaçãoem
análise,quaisospadrõesaatingirerespectivosins-
trumentosemecanismosdemensuração.Na maioria
doscasos,os estudossãofocadosna competitivi-
dade,comênfaseemfatorescríticosde eficiência
produtivaequalidadedeprocessoseprodutos.
Umacadeiaprodutivatemfortedependência
de seusconsumidoresfinais.Sãoestes,emúltima
instância,quedetenninamepremiamodesempenho
dacadeiaprodutiva,fonnandoo seumercado.Este
mercadopodeserentendidocomoum conjuntode
indivíduose empresasque apresentaminteresse,
rendaeacessoaprodutosdisponíveis.Seráomerca-
doconsumidorfinalqueirádetenninarascaracterís-
ticasdosprodutosa seremoferecidos.Essasprefe-
rênciasafetamos demaiscomponentesda cadeia
produtiva,inclusiveos sistemasprodutivos.Desta
1
Fom.
fertilizantes
Empresas
degrande
porte
(SP/AG)
t
Fom.de
defensivos Empresas
deporte
médio
(SP/AG)
Fom.de
equipamentos
fonna,Omercadoconsumidortoma-sefonteprimá-
riadasdemandasparaumacadeiaprodutiva.
Por estarazão,é importantequeametodolo-
giadeanáliseincluaasegmentação,quedivideesses
mercadosemconjuntoshomogêneos,defonnaque
qualquerum possaser selecionadocomo merca-
do-alvo,aseratingídoporum"marketing"distintoe
adequadoàssuascaracterísticascomuns.A segmen-
taçãodemercadoéfundamentalporquenãoépossí-
vel uma organizaçãoser competitiva,se não for
capazdedistinguirasnecessidadeseaspiraçõesdos
váriossegmentosdeseumercado,especialmenteem
relaçãoàscaracterísticasdoprodutoesub-produtos
dacadeiaprodutiva.
Conseqüentemente,aanálisedacadeiaprodu-
tivadeveiniciar-sepelaelaboraçãodeum modelo
geraldasentidadescomponentes,segmentadoem
elos e segmentosde elos. Este modelo geral é
apresentadosoba fonna deum fluxo de capitale
materiais,nosquaisretângulosrepresentamelosou
segmentosdeelosesetasindicamfluxodecapitalou
materiais.Um exemplode fluxo dessanaturezaé
apresentadonaFigura3.
!
l Cadeiasintegradas
Figura 3.Exemplodediagramadefluxosegmentadodecadeiaprodutiva.
Fonte:Lima etaI. (2000).
Transinformação,v. 13,nO2, p.55-72,julho/dezembro,2001
--
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
A partirdomodelogeral,oselosesegmentos
dacadeiaprodutivasãoqualificadosequantificados,
bemcomoas relações,soba formade transações
entreasorganizaçõescomponentes.Definem-seos
critériosdemensuraçãode desempenhodacadeia
produtiva,pondo-seênfasenos de eficiênciapro-
dutiva,qualidadee competitividade.As entradase
saídasdecapitalemcadasegmentocomponentesão
quantificadas,paraestudoindividualdaeficiência,
qualidadee competitividadee da distribuiçãode
beneficiosnacadeia.
Definidoo desempenhodosprincipaiscom-
ponentes,opassoseguinteéexplicaro seucompor-
tamento.Isto é feito examinando-seos processos
produtivosdosprincipaissegmentoscomponentes.Nesteexame,identificam-seas variáveiscríticas,
aquelasdemaiorimpactono(s)critério(s)dedesem-
penhoeleitos,equeexplicamo funcionamentoatual
epassadodacadeia.
As demandassãodefinidasapartirdadeter-
minaçãodefatorescríticosdemaiorimpactosobrea
melhoriadeeficiência,dequalidadeedacompetiti-
vidadedacadeiaprodutiva.
As etapasdametodologiadeanálisedosiste-
maprodutivosãomuitosimilaresàs do estudoda
cadeiaprodutiva.Istosejustificaporqueo desem-
penhodossistemasprodutivoséfortementeinfluen-
ciado pelocomportamentodacadeiaprodutivaem
quese Insere.
Sãoaplicadas,comotécnicasdeestudo,a
revisãoda informaçãosecundáriadisponívele o
levantamento,processamentoe síntesede infor-
65
maçõesprimáriassobreodesempenhoeacompetiti-
vidadedoscomponentesdacadeiaprodutivae dos
seus competidores.Os levantamentosde dados
primáriospodemserrealizadosaplicando-setécni-
casdeRapidRuralAppraisal(CastroetaI.,2000)
Concluídaa fasede análisedo desempenho
atualepassadodacadeiaprodutiva,comadetermi-
naçãodosfatorescríticosdedesempenho,éiniciada
a faseprospectivado estudo.Nestemomentosão
aplicadasas técnicasprospectivasextrapolativas,
tais comoas de CenáriosTendenciaise Explora-
tórios e a Técnica Delphi, para reflexão sobre
desempenhosfuturosdealgunsdosfatorescríticos
de competitividadedasCP. Estasmetodologiase
técnicasestãodetalhadamentedescritasnotrabalho
de Castroet aI. (2001).A metodologiaDelphi é
resumidamenteapresentadaaseguir.
A TécnicaDelphi,desenvolvidaporpesquisa-
doresdaRandCorporation.Resumidamente,o pro-
cessoéapresentadonaFigura4 (Wrigth,citadopor
CastroetaI., 1995;CastroetaI.,2000;Lima etaI.
2000).Apresentaasseguintescaracterísticas(Lins-
tone& Turoff, 1975):
· buscadeconsensoentreespecialistas(ex-
perts)sobreeventosfuturos;
· avaliaçãointuitivacoletivabaseadaem:
a)usoestruturadodoconhecimento;b)ex-
periência;c)criatividade;d)anonimato;
· trabalhaemambientescomsérieshistóri-
casdeficientes;
· benfoqueinterdisciplinar;perspectivasde
mudançasemtendências(rupturas);
Tabela2.Principaisetapasparaaanálisededemandasdacadeiaprodutiva.
Transinformação,v. 13,nO2, p. 55-72,julho/dezembro,2001
Etapas Cadeia produtiva Sistemaprodutivo
Diagnóstico Definiçãodeobjetivos Definiçãodeobjetivos
Hierarquiaerelaçõescomo agronegócio Hierarquiaerelaçõescomacadeiaprodutiva
Modelagem,limitesesegmentaçãodeelos Limitesesegmentação(tipologia)
Análise quantitativa(eficiência,qualidade,com- Análise quantitativa(eficiência, qualidade,
petitividade) competitividade)
Determinaçãodefatorescríticos Determinaçãodefatorescríticos
Prognóstico Análiseprospectiva(cenários,projeçõesextrapo- Análiseprospectiva(cenários,projeçõesextra-
lativas,TécnicaDelphi» polativas,TécnicaDelphi»
Definiçãodedemandasatuais,potenciaisefuturas Demandasatuais,potenciaise futuras
66 A. M. G. deCASTRO
· tratamentoestatísticosimples;
· reavaliaçãoderespostasparanovoquestio-
nário.
Na operacionalizaçãodoPainelDelphi,sele-
cionam-seespecialistas,queresponderãoaquestio-
náriocomdefiniçãoclaradeobjetivos,dohorizonte
temporaledosresultadosdesejados.As questõessão
baseadasemanálisetendencial,apoiadaspor cená-
rios futuros,claramenteformuladas,semeventos
compostos,comesclarecimentodeprevisõescontra-
ditóriasepermitindocomplementaçõesdosespecia-
listas.NaTabela3,osprincipaispassosparaacons-
truçãodoquestionárioDelphisãoapresentados.
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E PROSPECÇÃO
A informaçãorepresentaum importante
insumoparaarealizaçãodeestudosprospectivosde
cadeiasprodutivase é aomesmotempoproduto
dessesestudos.Analisarcadeiasprodutivasde-
mandaumenormequantidadedeinformação,aser
identificada,coletada,interpretada,transformadano
Início
Elaboraçãode
questionários/
seleçãode
especialistas
D Relatóriofinal
formatoadequado,armazenadae posteriormente
recuperada.Todo esteprocessocaracterizaum
sistemadegestãodeinformaçãoegeracomopro-
dutoumabasesistematizadadeinformaçãosobrea
cadeiaprodutiva,quepodesernovamenteutilizada
nofuturo.
Alémdisso,osestudosprospectivosgeram,
emseusresultados,informaçãonova,sobaformade
descriçãoeinterpretaçõesdefatos,eventosevariá-
veis representativasdessesfatose eventos,que
ampliama basede conhecimentoanteriormente
existente,resultandoeminformaçãoquepodeser
difundidaparaorientara geraçãodeestratégiae a
gestãodascadeiasprodutivas.Pode-sedefinireste
novoacervogeradopelosestudosprospectivos
comoumabaseampliadadeinformação,sobreo
desempenhopassadoe futurodeumacadeiapro-
dutiva.
Nositensseguintes,estasduasdimensõesda
gestãodainformaçãorelacionadacomaprospecção
decadeiasprodutivassãobrevementeexaminadas.
Respostas
eretomo Análise
Não
Sim
Relatório
paraos
especialistas
Conclusão
geral
Figura 4.DiagramadoprocessodeexecuçãodatécnicaDelphi.
Transinformação,v. 13,n°2,p. 55-72,julho/dezembro,200I
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
Principais passos
Elaborarperguntassobreo comportamentodecadafatorcriticoe forças(restritivasepropulsoras)no futuro.
Paracadapergunta:
a) Identificarasinformaçõesrelacionadasjá disponíveis(sérieshistóricasobtidasdurantea análisediagnóstica);
b) Decidir sobreo tipodequestãomaisadequadoparacadapergunta(aberta,múltipla-escolhaetc.)
Elaborarquestão(ões)pararespondercadapergunta,integrando:
a) informaçõeshistóricasdisponíveís;
b) cenáriosparao sistemaemestudo;
c) corpodaquestão.
Revere redefinircadaquestão,coma equipe,atentandopara:
a) consistênciacomobjetivosdapesquisaDelphi;
b) adequaçãodaquestãoformulada.
Revisaremequipeo produtoobtido.
Tabela3.EtapasdaconstruçãodoQuestionárioDelphi.
1.
2.
3.
4.
5.
Informaçãocomoinsumoaos
estudosprospectivos
A dificuldadenestecasoé,emgeral,identifi-
carfontesdeinfonnaçãosobreo desempenhogeral
da cadeiaprodutiva,ou doseloscomponentes,no
fonnatodemandadopelo modelode análise,com
confiabilidadesuficientee emsérieshistóricasde
duraçãocompatívelcomosobjetivosdosestudos.
O padrãodainfonnaçãodisponívelé,emge-
ral,organizadopordisciplinas,enquantoos estudos
prospectivosdecadeiasadotamoenfoquesistêmico.
Estaéumadascausasdedificuldadesdefonnato.O
registrona versãodisciplinartendea serestático,
enquantoavisãosistêmicaé dinâmica,incluindoa
variáveltemponoprocessoanalítico.Por isso,rara-
menteestãodisponíveisno acervode infonnação
existentesobreumacadeiaprodutiva,sérieshistó-
ricassobrefluxosdemateriaise decapitalentreas
organizaçõescomponentesdoselos,porexemplo.
Umaoutradificuldadeéaobtençãodeinfor-
maçãoqualitativaequantitativaquepennitaanali-
sarprocessosprodutivos,sejanoeloagrícola,sejano
industrialou agro-industrial.Istoocorreporrazões
diversas.No eloagrícola,afaltaderegistrodeinfor-
maçãonamaioriadasempresasruraistomaarecu-
peraçãodainfonnaçãosobreoperaçãoecustosdos
processosprodutivosum exercícioárduoe impre-
ciso.No eloindustrial,ondeosprocessosderegistro
67
de infonnaçãosãomaisaprimorados,a questãodo
sigiloparaminimizara imitaçãocompetitivatoma
a coletade infonnaçãoaindamaisproblemática,
havendomuitasvezesanecessidadedeseempregar
técnicasdecoletacruzada,paraesclarecerdetenni-
nadostemas.
As técnicasempregadasparaestatarefasãoa
coletadedadossecundários,realizadaporprocesso
depesquisabibliográficae debuscana Internet,e
levantamentodireto,entrevistandopesquisadores,
extensionistas,gerentesdeagênciasde crédito,de
desenvolvimento,cooperativas,empresáriose
comerciantesdeinsumose produtos.Estetrabalho
decampopenniteàequipecoletarumgrandeacervo
deinfonnaçõesqualitativaseeventualmentequanti-
tativas,degrandeutilidadeparaaanálisededesem-
penhodascadeiasprodutivas,e raramentedisponí-
velembasesdeinfonnaçãomaisestruturadas.
Umavezcoletada,a infonnaçãoéorganizada
emsérieshistóricas,gráficos,tabelasouemfonnato
descritivo,quandosetratardeinfonnaçãoqualitativa.
Nestetratamento,asplanilhaseletrônicaseossoftwa-resdeanáliseestatísticasãoasferramentasmaisem-
pregadas.Estasferramentasinfonnatizadastambém
pennitemoarmazenamento,arecuperaçãorápidaeo
intercâmbioeletrônico,viabilizandoo trabalhode
pesquisaemredesvirtuais.
Transinformação,v. 13,nO2,p. 55-72,julho/dezembro,2001
68 A. M. G. deCASTRO
Informaçãocomoprodutodos
estudosprospectivos
Uma dasgrandescontribuiçõesdosestudos
prospectivosdecadeiasprodutivasé a organização
dabasedainformaçãodisponívelsobreo desempe-
nhopassado,atuale futurodessacadeia.Em geral,
estainformaçãoéescassaeainformaçãodisponível
estáfragmentada,tornandoasuarecuperaçãoeuso
custosose ineficientes.
Os estudosprospectivosgeraminformação
organizadaesistematizada,oferecendovisãosistêmi-
ca e prospectivaaosgestoresde organizaçõesdas
cadeiasprodutivas.Pelosresultadosdessesestudos,
a informaçãosobre os fatoresdeterminantesdo
desempenhoestarádisponívelem formatomuito
maisacessívelagerentesetomadoresdedecisão.
Os meiosa utilizar paraarmazenamentoe
difusãodainformação,alémdotradicionalrelatório
escritosãoashome-pagesemídiaeletrônica,como
osCDs, quepodemagilizaro processodedissemi-
nação,deorganizaçãoebuscadainformação.
RESULTADOSOBTIDOS
No ProgramaAnualdaPesquisaeDesenvol-
vimentoda Agropecuária(PRONAPA) de 1996e
1997(EMBRAP A, 1996e 1997),relacionaram-se
maisde60 subprojetosemandamentono Sistema
NacionaldePesquisaAgropecuária(SNPA) sobre
prospecçãode demandasde cadeiasprodutivas.
Algunsdelesforamselecionados,entreosqueesta-
vamemestágiomaisavançadodedesenvolvimento,
paracomporaediçãodo livroCadeiasProdutivase
SistemasNaturais:ProspecçãoTecnológica(Castro
et aI., 1998).Até a ediçãodo livro sobrecadeias
produtivasesistemasnaturais,pode-secontabilizar
cercadetrintaestudosemfinalizaçãosobrecadeias
produtivas,comoresultadosdosesforçosdecaracte-
rizaçãodedemandaspeloSNPA.
O estágiode evoluçãodessestrabalhosfoi
variável,dependendodo graude motivaçãoinsti-
tucionaledasequipes,emrelaçãoaotema.As difi-
culdadessentidasreferiram-seàpredominanteprio-
ridadede abordagemconferidaao segmentoda
produçãoruraleàênfasedadamaisàanálisediag-
nósticadoqueàprognóstica.
Alémdosresultadosobtidosna realização
dessesestudos,contabiliza-seo surgimentode
outrasiniciativasparalelase complementaresno
próprioSNPA. Hápressãoparaformaçãodebasede
dadose sistemasde informaçãosobrecomporta-
mentodosindicadoresdo agronegócio,incluindo
desdeestatísticasde mercados(internacionale
doméstico),preços,produção,rendimento,consumo
etcatédesenvolvimentode estudosespecíficos
sobresegmentaçãodosetorprodutivo,respectivos
custos,coeficientestécnicosepadrõestecnológicos.
Alémdisso,destaca-setambémo ressurgi-
mentodopapeldesempenhadoporórgãospúblicos
ouprivados,afeitosaosproblemasdoagronegócioe
o crescimentodaimportânciadevisãosistêmica,
prospectivae demercadosegmentado,nodelinea-
mentodepolíticaspúblicasvoltadasaosetoragrope-
cuárioeatéaoutrossetoresdaeconomia.Esteúltimo
é o casodo ProgramaBrasileirodeProspectiva
Industrial,conduzidopeloMinistériodoDesenvol-
vimento,Indústriae ComércioExterior(MOle) e
patrocinadopeloTechnologyForesightfor Latin
América,umprogramadaONUDI.
EsteProgramaadotouoenfoquesistêmicode
cadeiasprodutivaseomarcoconceitualemetodoló-
gicodescritonestetrabalho,comoreferênciaaquatro
estudosdecadeiasprodutivasindustriaisatualmente
emcurso:asdaconstruçãocivil,dosplásticospara
embalagem,dostêxteise damadeirae móveis.O
enfoqueadotadofoiconsideradopelaONUDIcomo
referênciaparaosdemaispaísesdaAméricaLatina,
ondeoprogramaédesenvolvido.
Os esforçosdesenvolvidosextrapolaramas
fronteirasbrasileiras,contaminandoinstituiçõesde
P&D depaísesdaAméricaLatina.Osconceitosde
demandasedecadeiasprodutivasforamincorpora-
dospelamaioriadasorganizaçõeslatino-americanas
ligadasaoagronegócio.NaBolívia,o SistemaBoli-
vianodeInvestigaçãoAgropecuária(SIBTA) e a
Transinformação,v. 13,nO2,p. 55-72,julho/dezembro,2001
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
FundaçãoPROINPA, introduziramformalmenteo
conceitonosseusmandatosenosseusplanosestra-
tégicos.Estaúltimaconduziuum estudosobreaca-
deiaprodutivadabatatainglesa(GuidietaI.,1999).
Ainda na Bolívia, segundocomunicadopes-
soal,feitoaosautores,pordirigentedoPADER, uma
organizaçãonão-governamentaldedicadaao desen-
volvimentodaagriculturafamiliaremunicipal,figura
entreasprioridadesdessaorganizaçãoiniciar,noano
emcurso,estudosdeváriascadeiasprodutivas,entre
asquais:desuínos,cacau,café,quinoa(grãoprotéico)
eamaranto(matériaprimaparalicor).
Na Venezuela,foi instituído na estrutura
formaldoMinistériodaProduçãoeComércio,aDi-
reçãoGeralde CadeiasProdutivas.EstaDiretoria
vemrealizandoestudosparadiagnósticosrápidos
das cadeiasprodutivasde café, cana-de-açúcar,
cacau,pesca,arroz,pecuáriae dendê.Também,na
Venezuela,o InstitutoNacional de Investigação
Agropecuária(INIA) realizaestudosdascadeias
demilho,aves,arroz,pescae aqüicultura,cana-de-
açúcarepanelera(rapadura).
Em Cuba,o SistemaNacionalde Ciênciae
InovaçãoTecnológicaAgrária(SINCIT A), entidade
que congregadezesseteorganizaçõesestataisde
ciênciae tecnologiaagrárias,efetuouacapacitação
deseuspesquisadoresemanálisedecadeiasprodu-
tivas agropecuárias,visando a identificaçãode
demandastecnológicase não-tecnológicas(Bode
etaI.,2000).A partirdesseprocessodecapacitação,
o SINCIT A priorizouoestudodasseguintescadeias
produtivasem Cuba: tabaco,cítricos, apicultura,
suínos,avicultura,café,batataearroz.Os referidos
estudosse encontramem andamentoemdistintos
estágiosdeavanço.
PERSPECTIVAS E LIÇÕES DA PROSPECÇÃO
TECNOLÓGICA NO BRASIL
Avanços metodológicos
Umaavaliaçãopreliminardametodologiade
prospecçãodedemandaspropostaporCastroetaI.
(1995)indicaquealgunsdeseusprocedimentosou
característicasformaispoderiamseralterados,para
69
melhorara validadedo método.Tais pontospara
aperfeiçoamentosãoosseguintes:metodologiapara
priorizaçãode demandas;mensuraçãode indica-
doressociaisedesustentabilidadeambiental;alter-
nativasparaanáliseprognóstica.
No queserefereàpriorizaçãodedemandas,
sãonecessáriosprocedimentosquepossammensu-
rar,demodomaisconsistente,asuarelevânciapara
todoo sistemasendoanalisado,e cadaumdosseus
subsistemascomponentesou segmentosrepresen-
tados.
Quantoàmensuraçãodeindicadoressociaise
desustentabilidadeambiental,éconhecidaadificul-
dadenestaárea.Recentesesforçosnestesentido
estãosendodesenvolvidosdentroe foradoSNPA -
como,porexemplo,noCentroNacionaldePesquisa
deMonitoramentoeAvaliaçãodoImpactoAmbien-
tal(CNPMA) (QuirinoetaI.,1997e Quirino,1997)
e pelo Institutode PesquisaEconômicaAplicada
(IPEA).
Quantoà análiseprognóstica,estatemsido
uma grandedificuldadeenfrentadapelasequipes
quevemrealizandoestudosprospectivosnoSNPA.
Os seguintesfatores determinantespodem ser
alinhados:
a) o desconfortosentidopelamaioriadestas
equipesemmanejarquestõesrelativasao
futuro,quandotodaasuaformaçãodepes-
quisafoi orientadanosentidodeentendere
explicaro comportamentopassadoe pre-
sentedosfenômenossobanálise,comcará-
ter predominantementequantitativo e
disciplinarmentefocalizado;
b) faltadetreinamentoecapacitaçãonaapli-
caçãodetécnicasprognósticas;
c)grandeesforçoetempoenvolvidosnaapli-
caçãodatécnicaDelphi,recomendadapara
a etapaprognósticados estudos(Freitas
Filho etaI.,2000).
Já foidestacadoqueoconceitodedemandase
decadeiasprodutivasfoi incorporadonamaioriadas
organizaçõesdepesquisaagropecuáriabrasileirase
latinoamericanas.Entretanto,comoacontececoma
introduçãodequalquerconceitonovo,nemsempreo
Transinformação,v. 13,nO2, p. 55-72,julho/dezembro,2001
70 A. M. G. deCASTRO
discursoeapráticasãooperacionalizadosdeformaa
gerartodasaspromessasquepoderiam.Emboraa
cadeiaprodutivasejareferenciadanosdocumentos
oficiaisdessasinstituições,frequentementeocorrem
desvioseinconsistênciasemrelaçãoaosconceitoseaoenfoque,taiscomo:
· osconceitosdecadeiaprodutivaedeagro-
negóciomuitasvezessãoapresentadosde
formaequivocada;
· aoabordaroconceitodecadeiaprodutiva,
muitasvezes,osestudosignoramelosim-
portantes,comofornecedoresdeinsumos,
agroindústriae principalmente,os consu-
midores;
· estudosutilizandoo conceitode cadeia
produtiva,sementretantoconsiderarosflu-
xosentreos segmentos,o quecaracteriza
umacadeiaprodutivacomoumsistema;
· o conceitodecadeiaprodutivaé mencio-
nadocomoorientadorde geraçãode de-
mandas,masasaçõesdaorganizaçãosão
centradasnoprodutoreem seussistemas
produtivos,desconsiderandoos demais
elosda cadeia.Nestecaso,o enfoquede
fatoempregadonãoseriaemcadeiaspro-
dutivas,masemsistemasprodutivos;
· ostermoscadeiaprodutiva,agronegócioe
demandas,emgeral,sãoempregadosape-
nasnostítulosdasapresentações,estudose
consultorias,porémsemumaefetivarela-
çãoposteriorcomummarcoconceitualsis-
têmicoquepossaserassociadoaoenfoque
deagronegócioedecadeiasprodutivas.
Motivaçãoe capacitação
Desde1994,temhavidoumgrandeesforço
paramotivaçãoecapacitaçãodeequipesdoSNPA
paraa realizaçãode estudosde prospecçãode
demandas.Apesardisto,estesestudosaindaestão
aquém,emquantidade,doqueserianecessáriopara
orientarorumodapesquisa.
Assim,o momentoatualcaracteriza-sepela
necessidadedeuminvestimentofirmee decidido,
tantonamotivaçãocomonacapacitaçãodeequipes
de estudosprospectivos.Motivaçãoe capacitação
nãopodemestardissociadaspelacomplexidade,da
dedicaçãoe criatividadeenvolvidasnestetipo de
trabalho.
A estratégiademotivaçãonãoserábemsuce-
didaseaaltadireçãoegerênciasintermediáriasdas
instituiçõesnãoestiveremdecididamenteapoiando
o esforçode realizaçãode estudosprospectivos.
Umaposiçãoclaradosdirigentesegerentesconstitui
condiçãosinequanon parainiciar qualquernova
tentativademotivação.
A estratégiadecapacitaçãodeveorientar-se
parao ensinodeadultos("aprenderfazendo"),com
ênfasenacriaçãodesoluções(nãocompletamente
conhecidas)paraoestudodecadeiasesistemaspro-
dutivos.A capacitaçãodeveráserpartedeumpro-
cessodeconduçãodeestudosprospectivos,devendo
prevermomentosdecapacitaçãoformalemomentos
deavaliaçãodeavançosnosestudosexecutados.
Empenhoespecialdeveráserdadoàcapacita-
çãoemtécnicasprognósticas,comojá destacado.A
capacitaçãoformalnestastécnicastambémdeverá
respeitaro momentodedesenvolvimentodosestu-
dosprospectivosparagarantirmáximamotivação
dasequipesenvolvidas.
Usos de resultados
Os estudosdeprospecçãotecnológica,reali-
zadospelasdiversasequipesdoSNPA, noBrasilena
AméricaLatina,têmidentificadodemandastecnoló-
gicasenão-tecnológicas.À medidaemqueoconhe-
cimentosobrecadasistemaavança,as equipesse
deparamcomanecessidadedeproporeimplementar
medidasparasuperarosobstáculosidentificadosao
bomdesempenhodosistema,istoé,paraatenderas
demandasidentificadas.
Assim,verifica-seque,antesmesmodacon-
clusãodeestudosparaidentificaçãodedemandas,
temsido usualqueas equipesiniciema identifi-
cação,proposição,negociaçãoe implementaçãode
intervençõesjuntoaossistemasanalisados.Pode-se
observartambémque,mais do que a demandas
tecnológicas,estasintervençõestem se dirigido
Transinformação,v. 13,nO2,p. 55-72,julho/dezembro,2001
PROSPECÇÃO DE CADEIAS PRODUTIVAS E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
também- emuitasvezescommaiorefeitoime-
diato- à soluçãodedemandasnão-tecnológicas,
causandoimpactoemcomponentesisoladose na
própriacoordenaçãodosistemaanalisado(especial-
mentenocasodecadeiasprodutivas).
Osobjetivosdosestudosprospectivostemum
papeldeterminantenamaneiracomoestapreocu-
paçãocomaintervençãoéincorporadapelaequipe.
Assim,estudoscujoprincipalfocoestárestritoa
identificaçãode demandastecnológicasparecem
maistímidosnaproposiçãodeintervençõesparaa
soluçãode demandasnão-tecnológicas.Estudos
cujofocoé maisampliado- e que,maisdoque
identificardemandastecnológicas,buscamtambém
subsidiar,de algummodo,a políticaagrícola-
embutem,desdeasuaconcepçãoerealização,meca-
nismosparaarticulaçãodosdiversosatoressociais
envolvidos,comoumagarantiadeseucomprome-
timentocomasintervençõesnecessáriasaospro-
blemasidentificados.
As intervençõespropostasvãodesdearefor-
mulaçãodetodaaprogramaçãodepesquisa(casodo
CentroNacionaldePesquisadeUvae Vinhoda
EMBRAPA), à reestruturaçãode elosna cadeia
(casodacadeiaprodutivadocajunoNordeste,que
reestruturouosegmentodeequipamentos),àcriação
defórunspolíticosdenegociaçãoentreelosdacade-
ia(casodacadeiaprodutivadaseda,noParaná).
O envolvimentodosdiversosatoressociais,
vinculadosacadaumadestasintervençõestemsido
assegurado,viaosseguintesmecanismos:
a)co-responsabilidadenaconduçãodospró-
priosestudosprospectivos;
b) negociaçãoda intervençãoe adoçãode
medidasaprovadasporconsensocomestes
atores.
Toma-seevidente,pelosexemplosjá conhe-
cidosdeestudosprospectivos,queasestratégiasde
intervençãocom baseem seusresultados,seriam
melhorconduzidasseestivessemtambémbaseadas
emconhecimentosistematizadosobrenegociaçãoe
intervenção.Assim,apropostadevecaminharnesta
direção,incluindoumaabordagemgenéricaparaa
conduçãodeesforçosdeintervenção.
71
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