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__________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim AULA 01 HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO NO MUNDO O VOCÁBULO TRABALHO Base em tripalium, de cavalete de pau – Instrumento de tortura. O mais credenciado é E. Littrê, que aponta trabs como raiz originaria, lembrando igualmente que trabalhar teve o sentido de viajar, sentido que se liga ao de pena, de fadiga. É dessa acepção que deriva o inglês to travel. A origem certa, porém, e neste sentido se inclina a maioria dos filósofos e lingüistas, é das palavras tripalium e tripaliare. O latino labor significa labor, fadiga, afã, trabalho, obra e também cuidado, empenho, sofrimento, dor, mal, doença, enfermidade, desventura, desgraça, infelicidade. Não era tido como um valor, mas estava relacionado à dor; era tido como a condenação social dos deserdados. SENTIDO DE EXPIAÇÃO, DE CASTIGO OU DE FADIGA. Meios necessários para a própria subsistência. • Mas hoje predomina o entendimento de que provém do neutro latino PALUM, através do adjetivo TRIPALIS (composto de três paus) de que se deduziu TRIPALIUM, designativo de instrumento feito de três paus aguçados, algumas vezes até munidos de pontas de ferro, no qual os agricultores batiam as espigas de trigo ou de milho e também o linho, para debulhar as espigas, rasgar ou desfiar o linho. Era também uma canga que pesava sobre os animais ou um instrumento de tortura, constituído de cavalete de pau, também usado para sujeitar os cavalos no ato de lhes aplicar a ferradura. Mais tarde, ganhou o sentido moral de sofrimento, fadiga, encargo, e depois adquire o sentido de trabalhar, labutar. Não fosse o sentido religioso oculto: como castigo ao homem decaído, e ao mesmo tempo, valorizado como fonte de libertação e progresso. “Prolificai-vos e povoai a terra; submetei-a e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem sobre a terra”. Para a Igreja Católica o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana sobre a terra. De Plácido E Silva conceitua trabalho Como: “TODO ESFORÇO FÍSICO, OU MESMO INTELECTUAL, NA INTENÇÃO DE REALIZAR OU FAZER QUALQUER COISA”. Poderíamos adotar essa conceito enquanto gênero econômico do fenômeno trabalho, afigura-se como toda atividade humana destinada à produção de um bem ou serviço, enquanto, sob ótica do Direito do Trabalho, a ênfase se encontra sem dúvida alguma no trabalho subordinado. __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim Luta pela Sobrevivência – o trabalho sempre foi visto dessa forma, como modo de sobreviver e não de enriquecer. • O trabalho humano foi sempre visto através de dois conceitos distintos. A primeira vista, parece que há antagonismo entre os dois conceitos, o que, na verdade, não acontece. • Na primeira visão, o trabalho é concebido como "fonte de libertação, fator de cultura, progresso e realização pessoal, e também o conceito de paz social, de bem-estar coletivo e dominação racional do universo". O trabalho dá dignidade ao ser humano, pela razão de o colocar como administrador do universo, um ser privilegiado em relação aos demais seres, visto que apenas ele pode realizar trabalho com discernimento, sensatez e liberdade, explorando e transformando, através de um esforço consciente, a terra e suas riquezas. • A outra visão acerca do trabalho entende este como sendo uma penalidade, um castigo imposto ao homem decaído, sendo uma forma de punição aos seus erros e desobediências. Essa visão não se contradiz à primeira. Na visão Evangélica, o trabalho é um castigo, porém purificante e libertador. A diferença é que, antes do pecado, o trabalho era alegre e sem fadigas, e, a partir da desobediência de Adão e de Eva, torna-se penoso, quando o homem precisou trabalhar para se satisfazer. GRÉCIA Tilgher afirma que os gregos conceberam o trabalho como um castigo e como uma dor (o termo grego pónos significa trabalho, tem a mesma raiz da palavra latina poena). • Os gregos consideravam o trabalho manual desprezível. Desprezavam o trabalho dependente e qualquer atividade que comportasse fadiga física ou, de algum modo, a execução de uma tarefa. O trabalho aprisionava o homem à matéria, impedindo-o de ser livre. Era aviltante, de sujeição do homem ao mundo exterior, limitando a sua compreensão das coisas mais elevadas. Heródoto assinala o desprezo pelo trabalho que reinava em muitas cidades gregas orientais. Apesar do desprezo pelas artes manuais, algumas atividades (como a fabricação de tecidos) eram praticadas por homens livres, mas esses não tinham qualquer amparo nas leis. • Havia duas visões do trabalho: aquele que era o exercício do pensamento era admirado, enquanto o trabalho manual era renegado, porque era envolvido com as atividades materiais. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO HUMANO O trabalho sempre foi exercido pelo homem. Na antiguidade, o homem trabalhava para alimentar-se, defender-se, abrigar-se e para fins de construção de instrumentos. A formação de tribos propiciou o início das lutas pelo poder e domínio. “Os perdedores tornavam-se prisioneiros e, como tais, eram mortos e comidos. Alguns passaram à condição de escravos para execução de serviços mais penosos.” A partir da escravidão surgiram o trabalho subordinado em favor de terceiro. __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim → A primeira idéia de trabalho é a do Escravo, na Roma Antiga. (Escravidão - Até o século XIX ) A prática escravagista surgiu das guerras. Nas lutas contra grupos ou tribos rivais, os adversários feridos eram mortos. Posteriormente, ao invés de matá-los, percebeu-se que era mais útil escravizar o derrotado na guerra, aproveitando os seus serviços. A escravidão foi um fenômeno universal no mundo antigo. Calcula-se que na Itália do final do século I a.C. os escravos chegaram a dois milhões numa população total de seis milhões. No período imperial, entre 50 a.C. e 150 d.C., os escravos nos territórios romanos chegaram a dez milhões numa população total de 50 milhões. Durante muito tempo na Antiguidade, constituiu-se na exploração forçada do homem pelo homem, pela escravidão. Dos conflitos das guerras surge a escravidão. Reduzi-lo à condição de coisa como forma de se apropriar do seu trabalho, pois os que nasciam de pais escravos em geral preservavam tal condição. O escravo não se apresenta no mundo jurídico como titular de direitos nem se lhe reconhece a possibilidade de contrair obrigações, foi tido como ciosa, mercadoria. Não é sujeito de direito, é sim, objeto de Direito de outrem. Estava presente uma absoluta relação de domínio. Seu trabalho era gracioso e forçado em favor do amo. DIREITO REAL ENTRE AMO (DOMINUS) E A COISA, O ESCRAVO (RES). NÃO EXISTE AZO, PORTANTO, NESSE PERÍODO PARA SE FALAR EM DIREITO DO TRABALHO. Locatio conductio operarum, como ANTECEDENTE REMOTO DO CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO: Se realizava quando se prometia por certa paga uma coisa para fruir, um serviço, para prestar uma obra, para fazer no locatio operarum o que se leva em conta é o SERVIÇO. A locatio conductio é o contrato de arrendamento ou locação de empreitada. Havia três diferentes operações: a locatio rei, a locatio operarum e a locatio operis faciendi. Tinha por objetivo regular a atividade de quem se comprometia a locar suas energias ou resultado de trabalho em troca de pagamento. Assim, estabelecia a organização do trabalho do homem livre. A locatio rei era o aluguel (arrendamento) de coisas, contrato pelo qual o locator se obrigava a proporcionar ao conductor, mediante pagamento, o desfrute ou uso dessa coisa. O objeto podia ser qualquer coisa corpórea, não consumível. O aluguel devia ser certo, determinado. A locatio operarum (locação de serviços) é a prestação de serviços, pela qual o locator se comprometia a prestar determinados serviços durante certo tempo mediante remuneração. Os serviços eram locados mediante pagamento. Tinham por objeto os serviços manuais não __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim especializados, de homens livres. Corresponde ao contrato de prestação de serviços. É apontada como precedente da relação de emprego moderna, objeto do direito do trabalho. A locatio operis faciendi (locação de obra ou empreitada) era a execução de uma obra, na qual o conductor se comprometia a trabalhar sobre uma coisa que lhe confiava o locator, sobre promessa de retribuição. O locator entregava ao conductor uma ou mais coisas para que servissem de objeto do trabalho que este comprometeu a realizar para aquele, mediante recebimento de aluguel. Era a empreitada, ajustada entre conductor e locator. Foi historicamente a forma de assegurar a perpetuação da espécie. O grande problema da economia sempre foi possibilitar os meios para suprir as necessidades absolutas da sociedade. As necessidades podem ser agrupadas em 02 tipos: Absolutas: Se, o atendimento das quais ameaçada resta a própria existência. Relativas: Que satisfazem o desejo de superioridade, podem de fato ser inesgotáveis, quanto mais alto for o nível geral, tanto maiores se tornam. Para o direito do trabalho nos interessa as ABSOLUTAS, pois não há como se imaginar prover à sociedade suas necessidades absolutas sem o elemento trabalho. Século I a XI – Servidão Surge paralelamente à escravidão a servidão como forma de trabalho autônomo dos artesãos e artífices na antiguidade. Boa parte do Direito do Trabalho contemporâneo foi inspirada nas antigas regras da locatio operarum. A servidão surge na época do feudalismo em que os “senhores feudais davam proteção militar e politica aos servos, que não eram livres”, pois tinham que trabalhar na terra do senhor, entregando parte da produção em troca da proteção militar e politica. Eram chamados de “servos da gleba”. Recebiam parte da produção e repassavam o restante ao senhor. No Regime do Feudalismo era a terra a grande produtora de riquezas, temos a Servidão à gleba, no período do Feudalismo. O homem deixa de ser escravo do homem e passa a ser "escravo da terra". A condição de servo era hereditária e passava de pai para filho e era permitido ser proprietário de bens. Entretanto, os impostos eram altos demais para a utilização da terra. O servo: grau de liberdade superior. A titularidade de direitos lhe é reconhecida, bem como o seu caráter de pessoa, porém sofria de sérias restrições de deslocamento. O servo tinha que pedir permissão para deslocar-se ao seu Senhor. Ademais, estava sujeito a uma pesada tributação para a utilização da terra. Os servos eram trabalhadores das grandes terras comandadas pelos 'senhores' e viviam nas redondezas da propriedade. Estavam vinculados à terra pelo trabalho e não tinham direito de __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim salário ou benefícios; trabalhavam para morar no local e recebiam os suprimentos necessários para se alimentarem e sobreviverem. Diferente dos escravos, os servos não podiam ser vendidos pelos senhores feudais. Eram responsáveis pela mão-de-obra da propriedade, cuidando da parte agricultora. Algumas mulheres cuidavam do serviço doméstico do proprietário e, ao mesmo tempo, da plantação local. O fortalecimento político e econômico dos feudos cresceu mormente através da distribuição de terras dos reis, em troca de favores e conselhos durante o Império Romano. Por volta do século X, a servidão se tornou frequente no território europeu, graças ao desenvolvimento da atividade agrária no período. Durante séculos os servos formaram o alicerce principal da ascensão fundiária. Os indícios de seu desaparecimento só surgiram no século XVII na Inglaterra, com a Revolução Industrial, e no século XVIII com o levante da Revolução Francesa. A Rússia foi o último país próximo à Europa a decretar o fim da servidão, em 1861. A revolução burguesa, que deu origem ao capitalismo na Baixa Idade Média, fez com que a servidão diminuísse nas propriedades agrícolas, devido ao interesse dos antigos servos em mudar para as grandes cidades para trabalhar nas indústrias. Característica marcante da idade média: A SERVIDÃO FOI BANIDA DA FRANÇA, O QUE PASSOU A SER VISTO COMO UMA BEM-FEITORIA HUMANA. SÉCULOS XII A XVI – CORPORAÇÕES DE ARTES E OFICIO A partir do Século XI a sociedade medieval cede “à sociedade urbana, fundada no comercio e na indústria rudimentar”. Com as cruzadas, pestes e invasões, os feudos enfraqueceram, facilitando a fuga dos colonos que se refugiavam nas cidades, onde passaram a procurar por trabalho e a reunirem-se em associações semelhantes aos antigos modelos de collegia e ghildas ao lado dos artesãos e operários. A partir destas agremiações surgiram no Século XII as corporações de ofício, que se caracterizavam em típicas empresas dirigidas pelos respectivos mestres. Desfrutavam de verdadeiro monopólio, pois nenhum outro trabalhador ou corporação poderia explorar a mesma atividade naquele local. Inicialmente compostas de mestres e aprendizes. Somente a partir do Século XIV surgem os companheiros. Com o aparecimento das cidades, o homem deixa o campo e surgem as CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, que eram organizações patronais. Fugindo das restrições da servidão os trabalhadores se organizavam segundo a atividade que desempenhavam. Somente podiam exercer a profissão aqueles que fizessem parte da Corporação de Ofício a qual era dividida em: __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim Os Mestres Eram os donos das oficinas; Os Companheiros Eram auxiliares e recebiam salários unilateralmente definidos pelos Mestres. Nesse caso o trabalho trazia em si o caráter de remuneração; Os Aprendizes Menores levados pelos pais para aprender um ofício, mediante uma alta quantia paga ao Mestre; Roberto Fachetti acrescenta, ainda, que as corporações de ofício acumulavam o exercício dos três poderes estatais; legislativo (ditavam os estatutos e estabeleciam as condições de trabalho), executivo (exercido pelos seus chefes) e judicial (os jurados – mestres – tinham poderes para sancionar as faltas dos agremiados). A escala era lógica e ninguém pulava um escalão, de um estágio passava-se ao outro através de uma OBRA PRIMA. Os companheiros recebiam pagamento e para ascender a mestre tinham que pagar uma taxa para realizar o exame que era o da obra prima. Os aprendizes eram quase sempre menores e não recebiam pagamento. Os pais é que pagavam para que o mestre ensinasse o oficio aos menores. Os mestres podiam, inclusive, aplicar castigos físicos aos aprendizes. Os aprendizes chegavam de forma mais facilmente à mestria, através de vultosas quantias pagas pelos pais. O aprendiz devia obediência a seu mestre e, no final de seu aprendizado, em torno de cinco anos, tornava-se companheiro ou oficial. No entanto, continuava vinculado ao mesmo mestre até que o aprendiz ou o companheiro se tornassem mestres, o que acontecia somente através de prova, que era paga. Se o companheiro se casasse com a filha ou a viúva do mestre, não precisavam fazer o exame da obra mestra, já se tornavam mestres. Os filhos dos mestres não precisavam fazer prova alguma, eram mestres por nascimento. Essa dependência dos companheiros aos mestres iniciou um atrito grande entre essas duas categorias, dando início à Compagnonnage. Nesta época, o trabalho poderia ultrapassar 18 horas em algumas ocasiões, mas chegavam, em média, a 12 e 14 horas por dia. Havia exploração do trabalho da mulher e da criança, além de trabalho em condições excessivamente insalubres e perigosas. Entende-se que com o aprimoramento dos mestres e das Corporações de ofício e da concorrência que existia entre as diversas Corporações, deu-se a 1ª Revolução Industrial da História Humana. Isso ocorreu, pois as Corporações de Oficio atentavam contra os direitos do homem e do cidadão, eis que somente podiam trabalhar aqueles que estivessem registrados em uma Corporação de Oficio. __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim Havia uma competição entre as Corporações de Ofício, relacionadas à “suposta” qualidade do trabalho, à antiguidade, aos melhores mestres e às melhores obras primas. SÉCULO XVI – COMPAGNONNAGE Com o desvio da inicial finalidade das corporações de ofício e a consequente exploração de aprendizes e companheiros que dificilmente chegavam à maestria, nasceram as compagnonnage, compostas de companheiros que se reuniam em defesa de seus interesses para acirrar a luta entre mestres e companheiros. Dai o embrião do atual paralelismo sindical. A decadência das Corporações de Oficio iniciava-se. As Compagnages representaram de fato, o verdadeiro antecessor dos sindicatos operários, que tiveram sua consolidação com o advento da revolução industrial a partir da metade do século XVIII -. → O Liberalismo da Revolução Francesa (1789) as suprimiu por entender que a liberdade individual não se compatibiliza com a existência de corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado. Conceito afastado quando cresceu a ideia do direito de associação EM 17 DE JUNHO DE 1791 A LEI “LÊ CHAPELIER” EXTINGUIU AS CORPORAÇÕES DE OFICIO. (art. 1º - proibia seu restabelecimento e demais coalizões. Nasce a lei do mercado, o liberalismo, sem intervenção estatal nas relações contratuais). As Corporações de Oficio foram extintas por serem consideradas atentatórias aos direitos do homem e do cidadão. Esta lei proibia qualquer agrupamento, coalizão ou reunião pacífica, porque não interessava ao Estado que estas pessoas se reunissem devido à forma política que tais movimentos poderiam obter. O nobre recebia honras pelo seu trabalho e a plebe recebia o salário que era pago em sal. A Revolução Francesa conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799. A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Luis XVI. O primeiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14/07/1789 marca o início do processo revolucionário, pois a prisão política era o símbolo da monarquia francesa. O lema dos revolucionários era " Liberdade, Igualdade e Fraternidade ", pois ele resumia muito bem os desejos do terceiro estado francês. SÉCULO XIV – ESPANHOLA Desenvolvida pelos indígenas na América espanhola como forma de trabalho obrigatório imposto por sorteio. O sorteado era obrigado ao trabalho vitalício. Em troca, o trabalhador recebia uma contraprestação pelo serviço, além de algumas garantias: salário em dinheiro; __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim jornada de 8 horas, salvo em minas (7 horas); descanso dominical; assistência médica e meio salário durante o tratamento do acidente de trabalho e proibição de alguns trabalhos aos menores de 18 anos e às mulheres. A legislação protetiva era conhecida como “legislação das índicas”, de Felipe II (Ordenanças de 1574). SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO NA EUROPA: REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Primeira etapa da Revolução Industrial Com a descoberta e o desenvolvimento da máquina a vapor, de fiar e tear (1738 – 1790) expandiram-se as empresas, pois o trabalho passou a ser feito de forma mais rápida e produtiva, substituindo-se o trabalho do homem pelo da máquina, terminando com vários postos de trabalho, causando desemprego. Nasce a necessidade do trabalho do homem para operar a máquina e, com isso, o trabalho assalariado. Substituía-se o trabalho do homem pelo do menor e das mulheres, que eram economicamente mais baratos e mais dóceis. Prevalecia a lei do mercado onde o empregador ditava as regras, sem intervenção do Estado – liberdade contratual. A jornada era de 16 horas e a exploração da mão de obra infantil chegou a níveis alarmantes. Entre 1760 a 1860, a Revolução Industrial ficou limitada, primeiramente, à Inglaterra. Houve o aparecimento de indústrias de tecidos de algodão, com o uso do tear mecânico. Nessa época o aprimoramento das máquinas a vapor contribuiu para a continuação da Revolução. LEMA = HOMEM É O CENTRO DAS ATENÇÕES. Sua história começa a nascer na Inglaterra, em meados do século XVIII, com passagem da manufatura à indústria mecânica, com a primeira fase da revolução industrial (1760-1860). A introdução de máquinas fabris multiplica o rendimento do trabalho e aumenta a produção global. A Inglaterra adianta sua industrialização em 50 anos em relação ao continente europeu e sai na frente na expansão colonial. A invenção de máquinas e mecanismos causa uma revolução produtiva; há um progresso tecnológico. A mecanização se difunde na indústria têxtil e na mineração. As fábricas passam a produzir em série e surge a indústria pesada (aço e máquinas). A invenção dos navios e locomotivas a vapor acelera a circulação das mercadorias. O novo sistema industrial transforma as relações sociais e cria duas novas classes sociais, fundamentais para a operação do sistema. Os empresários (capitalistas), que são os proprietários dos capitais, prédios, máquinas, matérias-primas e bens produzidos pelo trabalho, e os operários, proletários ou trabalhadores assalariados que possuem apenas sua força de trabalho e a vendem aos empresários para produzir mercadorias em troca de salários. → Sociedade partida entre 2 classes: BURGUESIA e PROLETARIADO. __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim As novas fábricas eram ambientes inóspitos, com pouca ou nenhuma ventilação; as jornadas de trabalho eram de sol a sol, sem quaisquer interrupções anuais ou semanais, e com escassos intervalos intrajornada; acidentes de trabalho eram freqüentes. No início da revolução os empresários impunham duras condições de trabalho aos operários sem aumentar os salários para assim aumentar a produção e garantir uma margem de lucro crescente. A disciplina era rigorosa e as condições de trabalho nem sempre ofereciam segurança. “Meias-forças” – mulheres e crianças desempenhando as mesmas tarefas que os homens, mas com remuneração bem inferior, tendo em vista que mulheres e crianças não tinham quaisquer direitos. Essa situação gerava mais lucro. Surgem então as primeiras revoltas, as quais se dirigiam quase que de maneira inocente contra o que parecia aos trabalhadores o causador da miséria em que viviam: AS MÁQUINAS. O Estado Liberal dessa época não se imiscuía nas relações entre empregados e empregadores. Começam a surgir conflitos entre operários, revoltados com as péssimas condições de trabalho, e empresários. Com o tempo, vão surgindo organizações de trabalhadores da mesma área. Conspurcada a paz das relações de produção, viu-se o Estado forçado a intervir, e o fez invocando o Poder de Polícia, uma vez que persistia atado às idéias liberais. As greves eram violentamente reprimidas e proibidas as associações de todos os gêneros, inclusive as de trabalhadores, elevada a proibição a tipo penal. A situação de fato, ainda assim, pouco se alterou. Despercebida à burguesia as primeiras normas do Direito do Trabalho surgiram mesmo de forma autônoma, por concessão dos empregadores para restaurar a paz no ambiente de trabalho. A Segunda Etapa da Revolução Industrial A segunda etapa ocorreu no período de 1860 a 1900, ao contrário da primeira fase, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram. O emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos foram as principais inovações desse período. A Doutrina Social da Igreja exerceu papel determinante no surgimento do Direito do trabalho. A visão de solidariedade e sentimento cristão para com os trabalhadores, justiça social, todas reveladas nas Encíclicas Papais, serão determinantes para justificar uma nova postura por parte do Estado. Na Rerum Novarum vieram à luz temas novos: salário mínimo (capaz de possibilitar uma vida digna para o trabalhador e sua família e para que assim ele pudesse se dedicar mais ao __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim trabalho); Previdência social; jornada de trabalho (na época trabalhava-se até 16 horas por dia), etc. O Papa Leão XIII surpreendeu o mundo todo com a publicação da Encíclica Rerum Novarum, que falava destas coisas novas surgidas na sociedade. Foi a primeira vez que em documento oficial da Igreja Católica tratava de assuntos não diretamente espirituais, mas de direitos e deveres dos envolvidos na produção industrial e agrícola. Foi publicada em 15 de maio de 1891, e proclama a necessidade da união entre as classes do capital e do trabalho. Pontifica uma fase de transição para a justiça social, traçando regras para a intervenção estatal na relação entre empregado e empregador. O Papa dizia que "não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital". O trabalho deve ser considerado, na teoria e na prática, não mercadoria, mas um modo de expressão direta da pessoa humana. Sua remuneração não pode ser deixada à mercê do jogo automático das leis de mercado, deve ser estabelecida segundo as normas de justiça e equidade. Falava das condições dos trabalhadores. A questão social (falta de garantias aos trabalhadores) mereceu consideração. Condenou a exploração do empregado, a especulação com sua miséria e os baixos salários. O Estado não poderia apenas assistir àquela situação, agora era indispensável a sua presença para regular, mesmo que de forma mínima, as relações de trabalho. A propriedade privada é um direito natural que o Estado não pode suprimir. Ao Estado compete zelar para que as relações de trabalho sejam reguladas segundo a justiça e a equidade. A Encíclica condena a influência da riqueza nas mãos de pequeno número ao lado da indigência da multidão. Nela se apontou o dever do Estado de zelar pela harmonia social. A classe indigente, sem riquezas que a protejam da injustiça, conta principalmente com a proteção do Estado. A palavra do sacerdote impressionou todo o mundo cristão, incentivando o interesse dos governantes pelas classes trabalhadoras, dando força para sua intervenção nos direitos individuais em benefício dos interesses coletivos. A Primeira Guerra Mundial será decisiva; o esforço bélico trazia a necessidade de paz na produção, sob pena de naufragar o Estado beligerante. Reconhece-se agora que se as partes (empregado e empregador) são no plano formal iguais, materialmente são diferentes. Houve necessidade do deslocamento de massa masculina para lutar. Para que a produção sustentasse a guerra, era necessário incentivar os trabalhadores. Os governos de muitas nações precisavam interessar-se pelos problemas do trabalho. O direito do trabalho não surgiu instantaneamente. Há uma flutuação de valores, de ideias até que o direito surgisse. Esse direito foi sendo processado de forma lenta, em etapas. Fazia-se inadiável a criação de um direito novo, estourando as muralhas do individualismo da sociedade burguesa, para harmonizar as relações entre capital e trabalho. O direito que surge terá que ser profundamente tutelar, protetivo, valorizando o coletivo. Abertamente se pleiteava o estabelecimento de uma legislação do trabalho e até a criação de um Ministério para cuidar dos problemas do proletariado. Dessa forma, o Estado começa a limitar, a __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim destruir a diferença entre classes e grupos, a fazer sobressair o interesse coletivo, tornando relativo o direito individual, limitando o seu exercício quando ele contraísse o interesse da sociedade. “ENTRE O FORTE E O FRACO, ENTRE O RICO E O POBRE, É A LIBERDADE QUE ESCRAVIZA, É A LEI QUE LIBERTA.” - Henri Lacordaire. Com o recrudescimento dos conflitos trabalhistas, entretanto, os governantes se deram conta dos prejuízos advindos à produção. Diante da conturbação da ordem interna e, principalmente, do empobrecimento da nação, causados pelas greves, o Estado abandonou sua posição de alheamento e passou a interferir nesses movimentos, ditando normas para a solução dos conflitos trabalhistas. Reconhece o Estado que as partes na relação de trabalho são desiguais economicamente: de um lado se encontra a opulência do empregador e de outro a hipossuficiência do empregado. A forma de igualar desiguais é desigualando; cria-se então uma outra desigualdade, igual e em sentido inverso, agora jurídica como forma de restabelecer a igualdade substancial entre empregado e empregador. Busca-se compensar a inferioridade econômica do empregado outorgando-lhe superioridade jurídica. Surge o princípio da proteção no Direito do Trabalho e o Estado do Bem-Estar Social. Quebra-se com o principio da igualdade, alicerce do Direito Civil. O Estado passa a intervir ativamente nas relações de trabalho, editando normas sobre os seus vários aspectos: salário mínimo, jornada de trabalho, higiene e segurança no trabalho, dentre outros. Fala-se em dirigismo contratual e se debatem os autores em adaptar a nova realidade ao arcabouço jurídico conhecido. Surgiu o Estado Intervencionista, ou Estado do Bem-Estar Social, com funções de promoção impensáveis para o modelo liberal. Com a revolução industrial, a urbanização, a economia de massa e as guerras européias, a intervenção do Estado nas relações trabalhistas passou a ser inevitável. Após o término da 1ª Guerra Mundial, pronuncia-se tendência à internacionalização do Direito do Trabalho, sendo relevante o Tratado de Versailles, que institui a OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 1919, e sedimenta os princípios básicos do Direito Laboral. O marco, então, do surgimento do Direito do Trabalho no Mundo é o TRATADO DE VERSAILLES, em 1919. Nasce o direito do trabalho com função tutelar (visa proteger o trabalhador), econômico (gira economia do país), pacificadora (visa harmonizar conflitos entre capital e trabalho), política (atinge toda a população e tem interesse público) e social (visa condição social do trabalhador como um todo). Essa relação só passou a existir, devido a relação empregatícia. Obs.: Esse direito é fruto de transformações sociais e culturais do século XIX e das transformações econômicas-sociais ali vivenciadas, no século XIX. O direito do trabalho surge de uma série de fatores que são: __________________________________________________________________________ Direito Individual do Trabalho Profª. Ana Paula M. Amorim 1. Fatos sociais. Concentração proletária. 2. Fatores econômicos. Grande concentração e crescimento industrial. 3. Fatores políticos. Grande crescimento de ação coletiva. O Direito do Trabalho nasce com duas ramificações: Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo. O Direito Coletivo, com a preocupação abstrata e geral de proteção dos interesses do grupo de trabalhadores (categoria) ou de empresários. O direito individual, com a preocupação concreta da proteção dos direitos sociais do empregado. A base do direito coletivo do trabalho é o sindicato. CURIOSIDADE: A data de 1º de maio foi escolhida na maioria dos países industrializados para comemorar o Dia do Trabalho e celebrar a figura do trabalhador. A data da comemoração tem origem em uma manifestação operária por melhores condições de trabalho iniciada no dia 1o de maio de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos da América. A Terceira Etapa da Revolução Industrial Alguns historiadores têm considerado os avanços tecnológicos do século XX e XXI como a terceira etapa da Revolução Industrial. O computador, o fax, a engenharia genética, o celular seriam algumas das inovações dessa época.