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Direito Penal

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DIREITO PENAL III / NOTURNO – AULA Nº 1
PROFESSORA: MARIA CAROLINA DE ALMEIDA DUARTE
TEMA: PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL
	Segundo André Estefam (2010, p. 47) entende-se por “Parte Especial” do Código Penal aquela dedicada à definição das figuras criminosas, com a imposição das respectivas penas. 
	A Parte Especial é composta, quase que completamente, por normas penais incriminadoras, isto é, aquelas que possuem estrutura bipartida, contendo preceito ou preceito primário – descrição da conduta delitiva – e sanção ou preceito secundário – quantidade e qualidade da(s) pena(s) aplicável (eis). Seu comando normativo pode ser proibitivo ou mandamental. Nos crimes comissivos, a lei penal descreve e pune uma ação esperando que todos se abstenham de praticá-la; trata-sede uma norma proibitiva (ou seja, a ação prevista em lei é proibitiva, sob ameaça de pena). Nos crimes omissivos (isto é, a lei penal manda agir, sob pena de, omitindo-se, receber uma pena). 
	O mesmo autor assinala que há ainda algumas normas não incriminadoras. Estas se subdividem em explicativas ou complementares, quando fornecem parâmetros para aplicação de outras normas (ex: conceito de funcionário público para fins penais do art. 327 do CP), e permissivas, quando aumentam o âmbito de licitude da conduta (e, ao contrario sensu, restringem o direito de punir do Estado; ex: as escusas absolutórias dos crimes contra o patrimônio – arts. 181 a 183). 
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO SISTEMATIZADO DA PARTE ESPECIAL 
	André Estefam (2010, p. 48) ensina que necessário se torna elaborar um conjunto de princípios fundamentais que permitam a análise e a interpretação dos tipos da Parte Especial. Para o autor a tipicidade penal encontra-se no cerne da teoria geral dos crimes em espécies. Se não há crimes sem Lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (princípio da legalidade). É curial que a existência do ilícito penal dependa da absoluta correspondência entre o fato concreto e a norma penal incriminadora. Ademais, a tipicidade não se resume à subsunção entre o fato e a norma (tipicidade formal), mas exige a efetiva lesão ou perigo de lesão (abstrato ou concreto) ao bem penalmente tutelado. Em outras palavras, é como se a tipicidade dependesse da correspondência fato-norma, associada à constatação de que o ato atingiu a essência do tipo penal, malferindo o valor que este busca proteger.
DIVISÃO DOS TÍTULOS E CAPÍTULOS DA PARTE ESPECIAL
	Explica André Estefam (2010, p. 49) que o nosso legislador dividiu a Parte Especial em onze títulos. Cada um deles protege claramente um bem jurídico. Os valores protegidos pelo Código Penal brasileiro são: a pessoa, o patrimônio, a propriedade imaterial, a organização do trabalho, o sentimento religioso e o respeito aos mortos, a dignidade sexual (Lei n. 12.015/ 2009), a família, a incolumidade pública, a paz pública, a fé pública e a Administração Pública. 
	Nosso Código Penal adotou conforme ensina Nelson Hungria, “os bens ou interesses jurídicos penalmente protegidos podem ser alinhados na seguinte gradação: 1) os relativos ao indivíduo; 2) os relativos à família; 3) os relativos à sociedade; 4) os relativos ao Estado; 5) os relativos à sociedade dos Estados.” 
	Dos onze títulos da Parte Especial, os três primeiros e o sexto referem-se ao indivíduo (crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, contra a propriedade imaterial e contra a dignidade sexual); o Título VII cuida da família, aí abrangendo aqueles referentes à “sociedade conjugal (vínculo monogâmico, fidelidade conjugal), ou à sociedade familiar em sentido amplo (moral familiar, status familiae, assistência familiar)”; os Títulos IV, V, VIII, IX e X dizem respeito à sociedade (são eles: a organização do trabalho, o sentimento religioso e o respeito aos mortos, a incolumidade pública, a paz pública e a fé pública); o Título XI, de sua parte, diz respeito aos crimes contra o Estado, no tocante à sua atividade administrativa e jurisdicional (crimes contra a Administração Pública). O legislador optou por não incluir no texto os crimes contra a personalidade do Estado ou delitos político-sociais, os quais são objetos de leis especiais – vide Código Penal Militar e Lei de Segurança Nacional – Lei n. 7.170/83. 
	Cada título, de sua parte, encontra-se, partido em capítulos, os quais nada mais são que subdivisões ou diferentes enfoques de proteção ao mesmo bem jurídico. Assim, por exemplo, o Título I tutela os delitos contra a pessoa, dividindo-se em capítulos com relação à proteção da vida, integridade corporal e da saúde, da honra e da liberdade individual. Os capítulos, por sua vez, repartem-se me seções. Veja por exemplo o Capítulo VI do Título I (crimes contra a liberdade individual), que contém quatro seções: crimes contra a liberdade pessoal, contra a inviolabilidade de do domicílio, contra a inviolabilidade de correspondência e contra a inviolabilidade dos segredos. 
A ESTRUTURAÇÃO DAS NORMAS SEGUNDO OS VALORES CONSTITUCIONAIS
	Segundo André Estefam (2010, p. 52) as normas penais devem encontrar-se referidas a valores expressa e implicitamente assegurados no Texto Maior. Essa noção verticalizada do Direito Penal é o único caminho viável a se trilhar, caso se pretenda coaduná-lo com o modelo de Estado Democrático de Direito, fundado na dignidade da pessoa humana, que nossa Constituição encerra. 
ESQUEMA BÁSICO DE ANÁLISE E COMPREEENSÃO DO TIPO PENAL 
Segundo André Estefam (2010, p. 54) todo o tipo penal pode ser analisado sob o ponto de vista objetivo e subjetivo 
O tipo objetivo compõem-se de núcleo, elementos objetivo (ou descritivos) e normativos.
O núcleo do tipo corresponde a ação ou omissão. 
Os elementos objetivos têm natureza descritiva e constituem todos os dados da figura típica que podem ser percebidos por meio dos sentidos. Abrangem o objeto material (pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta) e o meio executório (por exemplo, o instrumento empregado), bem como as circunstâncias temporais ou espaciais. 
Exemplo: Crime de furto simples consumado: art. 155, caput, dá-se quando alguém “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Pertencem ao tipo objetivo os seguintes dados: subtrair coisa alheia móvel. Subtrair é o verbo nuclear, que corresponde a ação de tomar de alguém o que a este pertence. Coisa móvel é o objeto material, sobre o qual a conduta do agente recai. Alheia quer dizer, pertencente ao patrimônio de outrem. O conceito de propriedade e posses são jurídicos, assim, tal expressão traduz um elemento normativo do tipo.
No crime de furto agravado (CP, art. 155, § 1º), há, também, um elemento temporal: “A pena é aumentada em um terço se o crime é praticado durante o repouso noturno”.
Há, ainda, os meios executórios que o qualificam, como aqueles referidos no art. 155, § 4º: “destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa, abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza, emprego de chave falsa, concurso de duas ou mais pessoas”. 
O tipo subjetivo, de sua parte, compreende o dolo (elemento subjetivo genérico), isto é, a vontade de realizar os elementos objetivos do tipo e a finalidade especial a que se dirige a conduta do agente (ou elemento subjetivo específico), exigida excepcionalmente em alguns tipos finais. 
Exemplo: no furto, o dolo é a vontade de subtrair a coisa alheia móvel, ou seja, desfalcar o patrimônio do titular do bem, impedindo-o de exercer a livre disposição sobre a coisa. A finalidade especial a que se dirige a conduta do furtador deve consistir no assenhoreamento definitivo, vale dizer, na intenção de ter o bem para si, passando a ser seu dominus, ou para terceiro.
Quais são os aspectos fundamentais da análise dos tipos incriminadores?
O estudo dos tipos penais incriminadores requer sejam analisados os seguintes aspectos: 
o tipo objetivo, suas elementares e circunstâncias; 
o tipo subjetivo, o dolo e eventuais elementos subjetivos específicos; 
a previsão de crime culposo, que pode ocorrer excepcionalmente,pois, como se sabe, os delitos são punidos, de regra, tão somente na modalidade dolosa, admitindo-se a existência do fato típico culposo apenas quando expressamente previsto em lei (CP, art. 18, parágrafo único); 
os sujeitos ativo e passivo do crime; 
a consumação e a tentativa; 
a pena e seus reflexos (se o crime é hediondo, equiparado a hediondo, se admite a suspensão condicional do processo, se constitui infração de menor potencial ofensivo, etc.); 
a ação penal, recordando-se que, como regra, os delitos se procedem por ação penal pública incondicionada (CP, art. 100), salvo se houver disposição legal em sentido contrário (André, Estefam, 2010, p. 55). 
O crime culposo
Para André Estefam (2010, p. 56) o Direito Penal volta sua atenção, sobretudo, as atitudes intencionais. Daí por que costuma incriminar apenas comportamentos dolosos, em que o agente atua de maneira consciente e voluntária, desejando a produção de um resultado, consistente na lesão a um bem jurídico tutelado. 
Vide art. 18 do CP: “salvo em casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.” O mesmo dispositivo esclarece que o crime é doloso quando o agente “quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. 
A nossa Lei tem o hábito de expressamente indicar a punição (excepcional) do fato na modalidade culposa. É o que se nota, por exemplo, nos crimes de homicídio, lesão corporal e incêndio, nos quais o Código utiliza as seguintes expressões: “se o homicídio é culposo”, “se a lesão é culposa”, “se culposo o incêndio” (arts. 121, § 3º, 129 § 6º, 250 § 2º). Em outras situações, a referência é clara, ainda com o emprego de outros termos: “se o crime é culposo” (arts. 252, parágrafo único e 256 parágrafo único); ou “no caso de culpa” (arts. 251, § 3º e 259, parágrafo único).
O fato típico do crime culposo é dotado dos seguintes elementos: 
conduta voluntária; 
resultado involuntário;
nexo causal; 
tipicidade; 
quebra do dever de cuidado objetivo, por imprudência, negligência ou imperícia; 
previsibilidade objetiva do resultado;
relação de imputação objetiva.
De acordo com o art. 18, II, do CP, diz-se o crime culposo quando “o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia” Não há distinção ontológica entre essas figuras, havendo legislações que se refere ao crime culposo como crime negligente. 
Imprudência: quando a culpa se manifesta de forma ativa, que se dá com a quebra de regras de conduta ensinadas pela experiência, consiste no agir sem preocupação, precipitado, imponderado. Exemplo: uma pessoa que não sabe lidar com arma de fogo a manuseia e provoca o disparo, matando uma pessoa: alguém dirige um veículo automotor em alta velocidade e ultrapassa o farol vermelho, atropelando outrem. 
Negligência: ocorre quando o sujeito se porta sem a devida cautela. É a culpa que se manifesta na forma omissiva. Note que a omissão da cutela ocorre antes do resultado, que é sempre posterior. Exemplo: mãe deixa um veneno perigoso à mesa, permitindo que seu filho pequeno, posteriormente, o ingira e morra. 
Imperícia: corresponde à falta de aptidão para exercício de arte ou profissão. Deriva da prática de certa atividade, omissiva ou comissiva, por alguém incapacitado para tanto, por falta de conhecimento ou inexperiência. Exemplo: engenheiro que projeta casa sem alicerces suficientes e provoca a morte de morador.
SUJEITOS DO CRIME 
A compreensão sobre os sujeitos ativo e passivo da infração penal é necessária para a exata dimensão a respeito do enquadramento típico do ato. André Estefam conceitua tais sujeitos:
sujeito ativo: entende-se por sujeito ativo a pessoa que pratica a infração, aquele que a comete (autor, coautor ou partícipe). Em princípio, só pode ser sujeito ativo do crime o ser humano (não se fala em conduta punível no comportamento de animais) que completou 18 anos (CF. art. 228, e CP, art. 27). Menores de 18 anos que cometem fatos definidos como crimes (ou contravenções penais) praticam atos infracionais, sujeitando-se às medidas socioeducativas da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA).
Responsabilidade penal da pessoa jurídica: deve-se notar que na Parte Especial do Código Penal não há um delito sequer que a esta se possa ser atribuído. Isto não quer dizer que não se admita a imputação a um ente fictício. Para André Estefam (2010, p. 58) não como negar a possibilidade da responsabilidade penal da pessoa jurídica, à luz do art. 173, §5º e 225, § 3º, da CF, e, sobretudo depois da Lei n. 9.605/98 (Lei dos crimes ambientais). O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou favoravelmente à punição de entes fictícios.
sujeito passivo: ´” o titular ou portador do interesse cuja ofensa constitui a essência do crime”. 
Divide-se em sujeito passivo constante ou formal e sujeito passivo eventual ou material. Assim, o simples fato de praticar algum crime, independentemente de suas consequências, gera um dano ao Estado, seu sujeito passivo constante ou formal. A vítima da infração, isto é, o titular do bem jurídico protegido na norma penal, por sua vez, considera-se o sujeito passivo eventual ou material.
Podem ser sujeitos passivos eventuais de crimes: o ser humano, desde a concepção, a pessoa jurídica, o Estado, a coletividade e até entes sem personalidade jurídica. 
Vale registrar que podem figurar como sujeito passivo o civilmente incapaz, até porque pode ser titular de um bem jurídico tutelado por norma penal, como a vida e a integridade física, por exemplo. O mesmo raciocínio se aplica ao recém-nascido, que pode ser sujeito passivo de crime (ex: infanticídio – CP, art. 123) e ao feto (sujeito passivo no crime de aborto – CP, arts 124 a 127). 
A pessoa morta, por sua vez, não poderá ser sujeito passivo de crime. No delito de vilipêndio a cadáver (art. 212 do CP) o sujeito passivo é a coletividade, e no crime de calúnia contra os mortos (art. 138, § 2º, do CP), sua família. Raciocínio semelhante se aplica aos animais, pois o direito não lhes reconhece a titularidade de bens jurídicos. Podem, por óbvio, se objeto material, como no furto de animal doméstico e em alguns crimes ambientais. 
Os entes sem personalidade jurídica, como a família, apesar de não serem titulares de bens jurídicos, podem ser sujeitos passivos de infrações penais. Esse é o entendimento majoritário da doutrina. Os crimes que possuam como sujeito passivo um ente sem personalidade jurídica são chamados de crimes vagos. 
Não se pode confundir sujeito passivo com o prejudicado, este é toda a pessoa que sofre prejuízo de natureza cível com a prática da infração. No homicídio, o sujeito passivo é o falecido; os prejudicados, aqueles que viviam as suas expensas. Na falsificação de moedas, o sujeito passivo é a coletividade, titular da fé pública, ao passo que o prejudicado é o indivíduo que recebeu a moeda falsa (André Estefam, 2010, p. 60).
A CONSUMAÇÃO E A TENTATIVA 
Desde os momentos iniciais, quando o delito está apenas na mente do sujeito, até a sua consumação, quando o crime se concretiza inteiramente, passa-se por um caminho, por um itinerário, composto de várias fases – o chamado inter criminis (ou caminho do crime). 
O inter criminis é composto das seguintes fases: interna: cogitação; externa preparação, execução e consumação.
Na cogitação o crime só existe na esfera psíquica, ou seja, na mente do sujeito. Essa fase é totalmente irrelevante para o Direito Penal. 
Lembre-se que um dos elementos do fato típico é a conduta, que pressupõe exteriorização do pensamento. Enquanto a ideia criminosa não ultrapassar a esfera mental, por pior que seja, não se poderá censurar criminalmente o ato. 
Os atos preparatórios verificam-se quando a ideia transborda a esfera mental e se materializa por meio de conduta voltada ao cometimento do crime. Nessa etapa, como regra, o Direito Penal não atua. Atos considerados meramente preparatórios não são punidos criminalmente. 
Exemplo dado por André Estefam: o sujeito que, pretendendomatar seu inimigo (cogitação) e possuir porte de arma de fogo, apoderando-se do instrumento bélico (preparação) e, em seguida, desloca-se até as proximidades da residência da vítima, sendo surpreendido pela polícia antes de sacar a arma ou mesmo encontra-se com a vítima visada, não comete crime algum (não se aplica o Estatuto do Desarmamento, uma vez que ele possui porte de arma). 
No entanto, importante mencionar que o legislador transforma em crimes autônomos condutas que configuram meros atos preparatórios de outros delitos. Ex: 288 do CP (Associação Criminosa – antigo crime de quadrilha ou bando), 288 –A, do CP (constituição de milícia privada), 286 do CP, incitação ao crime, 291 petrechos para falsificação de moedas – seria o ato preparatório para o crime de moeda falsa (art. 289).
É bom lembrar, por fim, o disposto no art. 31 do CP, o qual dispõe que “o ajuste, a determinação ou a instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Ou seja, se o agente não sai da fase de preparação, o partícipe que o induziu, instigou ou auxiliou, não será punido. 
Uma das questões mais árduas na teoria do crime reside em estabelecer a exata fronteira entre os atos preparatórios e os executórios. Trata-se de problema de suma importância, pois, enquanto os atos preparatórios são, como regra, penalmente irrelevantes, os atos executórios são penalmente típicos (art. 14 do CP II).
Há consumação de acordo com o Código Penal, quando se fazem presentes todos os elementos da definição legal do delito (art. 14, I, do CP). Em outras palavras, total subsunção da conduta do sujeito com o modelo legal abstrato. 
Igualmente importante é definir a linha divisória da consumação. Esse momento é fundamental para determinar a quantidade de pena imposta, o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva (art. 11, I do CP) e o foro competente para o processo e julgamento da infração (art. 70 do CPP) (André Estefam, 2010, p.63- 64).
MOMENTO CONSUMATIVO 
O momento consumativo varia conforme a natureza do crime, assim:
os crimes materiais ou de resultado consumam-se com a ocorrência do resultado naturalístico ou material (isto é, a modificação no mundo exterior provocada pela conduta), exemplos: crime de homicídio, art. 121 do CP, crime de abortamento arts. 124 – 127 do CP); 
os crimes de mera conduta (ou de simples atividade): consumam-se com a ação ou omissão prevista e punida na norma penal incriminadora. Nesses delitos, o tipo penal não faz alusão a nenhum resultado naturalístico. Dessa forma, basta a conduta, positiva ou negativa, para que haja a consumação. Exemplos: crime de desobediência (art. 330 do CP) ou da violação de domicílio (art. 150 do CP) ; 
os crime formais, apesar da alusão ao resultado naturalístico no tipo penal, não exigem, para fins de consumação, que ele ocorra, de tal modo que, praticada a conduta prevista em lei, o delito estará consumado, exemplos: crimes contra a honra, arts 138 (calúnia), 139 (difamação) 140 (injúria); 
os crimes permanentes: tem a característica de a fase consumativa prolongar-se no tempo. Isso tem relevância jurídica não só na competência territorial (art. 71 CPP) e no termo do início prescricional (art. 111, III, do CP), como também na prisão em flagrante (art. 303 do CPP), exemplos crime de sequestro e o cárcere privado (148 do CP), casa de prostituição (229 do CP); 
crimes culposos: igualmente aos crimes materiais, só estarão consumados com a ocorrência do resultado naturalístico.
os crimes omissivos: 
- próprios: por serem infrações de mera conduta, basta a inatividade do agente para que haja consumação, sendo prescindível que à omissão se associe a ocorrência de algum resultado ex: crime de omissão de socorro, art. 135 do CP; 
impróprios: sempre são materiais ou de resultado, de modo que só estarão consumados com a superveniência deste; 
crimes qualificados pelo resultados: consumam-se com a ocorrência do resultado agravador. Ensina Andreucci (2011, p. 89) que o crime qualificado pelo resultado é aquele em que a lei, após descrever a conduta típica com todos os seus elementos (crime acabado), acrescenta a esta um resultado agravador da sanção penal, impondo ao agente punição mais severa. Exemplo aborto com resultado lesão grave ou morte (art. 127 do CP); 
crimes habituais: em face da exigência típica de reiteração de conduta, só se consumam se o sujeito a praticar repetidas vezes. Uma só conduta, isoladamente, constitui fato atípico, exemplo, rufianismo (art. 230 do CP), curandeirismo (art. 284 do CP), exercício legal da medicina, arte dentária ou farmacêutica (art. 282 do CP). (André Estefam, 2010, p. 64).
O CRIME TENTADO (ART. 14, CP) 
Segundo André Estefam (2010, p. 65) o crime considera-se tentado quando, apesar de iniciada a sua execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (CP, art. 14, II). A tentativa (ou conatus), portanto, pressupõe: a) início da execução; b) não consumação; c) por circunstâncias alheios à vontade do agente.
O art. 14, II, ao definir a tentativa, traduz uma norma de adequação típica por subordinação mediata ou indireta, uma verdadeira extensão temporal da figura típica, que propicia alcançar condutas temporalmente anteriores ao momento consumativo. Do ponto de vista da teoria da pena, a tentativa é uma causa de diminuição obrigatória (de dois terços, salvo disposição expressa em sentido contrário). 
Existem delitos que são punidos com a mesma pena tanto na forma consumada quanto tentada; são os crimes de atentado ou de empreendimento (por ex: art. 352 do CP). 
ESPÉCIES DE TENTATIVA 
Perfeita (crime falho) - o agente percorre todo o inter criminis que estava à sua disposição, mas, ainda assim, por circunstâncias alheias a sua vontade, não consuma o crime (ex: o sujeito descarrega a arma na vítima, que sobrevive e é socorrida a tempo por terceiros). O agente não alcança o resultado, apesar de ter esgotado a fase executória.
Imperfeita – Imperfeita: o agente não consegue, por circunstâncias alheias à sua vontade, prosseguir na execução do crime (ex: o sujeito entra na residência da vítima e, quando começa a se apoderar dos bens, ouve um barulho que o assusta, fazendo-o fugir). 
Branca ou (incruenta) – quando a vítima não é atingida (o bem jurídico não chega a ser lesionado). 
Cruenta – é o oposto da tentativa branca, ou seja, a vítima é atingida.
Abandonada ou qualificada – nome dado por alguns doutrinadores à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz (CP, art. 15). 
Inadequada ou inidônea: corresponde ao crime impossível (art. 17, do CP) (André Estefam, 2010, p. 65). 
CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA 
Existem diversas infrações penais que, pelas mais variadas razões, não admitem a forma tentada. São elas: 
crimes culposos: o crime culposo dá-se quando o agente produz o resultado de maneira acidental, por imprudência, negligência ou imperícia. Por sua natureza, no crime culposo o agente não deseja o resultado, o que torna totalmente incompatível com a forma culposa, em que o sujeito dá início à execução de um crime, não obtendo o resultado por circunstâncias alheias à sua vontade. Contudo, importante mencionar que na culpa imprópria pode-se cogitar tentativa. Na culpa imprópria a pessoa deseja a produção do resultado, ou seja, atua de forma dolosa. A pena que recebe, entretanto, é a de um crime culposo, em razão de um erro cometido pelo agente na apreciação dos fatos (a culpa imprópria encontra-se prevista nos arts. 20, § 1º e 23 parágrafo único, do CP);
crimes preterdolosos: pelas mesmas razões em que não há tentativa nos crimes culposos, também não pode haver em delitos preterdolosos. Nestes, o agente realiza um comportamento doloso, mas, o crime se consuma com a produção de um resultado agravador, que decorre de imprudência, negligência ou imperícia; isto é, ele não desejava o resultado (ex: art. 129, § 3º, do CP);
crimes unissubsistentes: são aqueles cuja conduta típica não admite qualquerfracionamento; vale dizer; o comportamento definido no núcleo do tipo penal constitui-se de uma ação ou omissão indivisível. Nesses casos, ou o agente praticou o fato (e o crime consumou-se) ou nada fez (e não há qualquer fato penalmente relevante). Significa que não há “meio-termo”. Exemplo: crime de injúria (art. 140 do CP) na forma verbal. Uma vez proferida a palavra ofensiva, a injúria estará completa e acabada. Se a ofensa não foi irrogada, não há infração penal alguma. A indivisibilidade da conduta impede a ocorrência da forma tentada; 
crimes omissivos puros: os delitos omissivos puros, como a omissão de socorro (135, do CP), também, são incompatíveis com a figura da tentativa. Entendem-se omissivos próprios ou puros aqueles em que o tipo penal descreve uma omissão, de modo que, para identificá-los, basta a leitura do dispositivo penal. Se o fato descrito corresponder a um non facere, o crime será omissivo próprio. A impossibilidade da tentativa decorre do fato de que tais delitos são crimes de mera conduta e unissubsistentes. O simples não fazer é suficiente para a consumação. Se o sujeito agir, não há crime; 
a tentativa de contravenção penal, por força de lei, não é punível. É o que estabelece expressamente o art. 4º da LCP. Importante mencionar, contudo que é possível, em tese, a tentativa de tais infrações, muito embora, repita-se, não sejam puníveis. Assim, por exemplo, alguém pode tentar praticar vias de fato em outrem (ex: um empurrão) e ser impedido por terceiro, não conseguindo atingir o desafeto. Haverá tentativa de vias de fato, um irrelevante penal em virtude do art. 4º da LCP;
crimes que a lei pune somente quando ocorre o resultado: há infrações penais cuja existência é condicionada à existência de um resultado. Sem este, o fato é atípico; elas não admitem, por esse motivo, a forma tentada (p. ex. o art. 122 do CP e, para a doutrina majoritária, o art. 164 do mesmo diploma); 
crimes permanentes de forma exclusivamente omissiva: os crimes permanentes são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo. Quando praticados de forma exclusivamente omissiva, não admitem a forma tentada; isto porque, ou o agente se omite e o fato estará consumado ou age e crime não foi praticado (ex: art. 148, na forma omissiva);
crimes de atentado ou de empreendimento: os crimes de atentado ou de empreendimento são aqueles em que a lei equipara a tentativa e a consumação. Vale dizer, tentar praticar a conduta descrita no tipo já representa realizar a norma por completo, isto é, o crime estará consumado (ex: art. 352 do CP). 
O CRIME CONSUMADO 
Conforme se analisou acima, nas lições de André Estefam (2010, p. 66) a infração penal considerar-se-á consumada quando o comportamento do agente subsumir-se, por completo, ao tipo penal. Isto significa que a conduta encaixou-se formalmente ao modelo abstratamente descrito na norma e, além disso, atingiu-lhe o substrato, isto é, gerou lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente protegido.
EXAURIMENTO 
Dá-se quando o agente, depois de consumar o delito e, portanto, encerrar o inter criminis, pratica nova conduta, provocando nova lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. De regra, o exaurimento apenas influi na quantidade da pena, seja por estar previsto como causa especial de aumento (ex: art. 137, § 1º do CP), seja por figurar como circunstância judicial desfavorável (pois o juiz deve levar em conta na dosagem da pena-base as consequências do crime – art. 59, caput, do CP). 
Referências 
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 7. ed. rev . e atual., São Paulo: Saraiva, 2011, 704 p.
ESTEFAM, André. Direito Penal. v. 2., São Paulo: Saraiva, 2010, 513 p.

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