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Aula_1ao5_ Alfabetização e Letramento

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Metodologia e Prática de Alfabetização e Letramento
Capítulo 1
Vamos dialogar com Marlene Carvalho (2001).
Diante de sua vasta experiência na formação de professoras alfabetizadoras, Marlene afirma que: “Produzir bons leitores é um desafio para a escola em todas as partes do mundo. Da escola primária à universidade, professores se queixam de que a maioria dos alunos lê mal e não sabe usar os livros para estudar”. (pág. 09).
Essa afirmação da pesquisadora nos ajuda a refletir sobre os critérios de qualidade e eficiência nos métodos de alfabetização que são utilizados na educação básica.   
Ler é uma atividade bastante complexa que vai exigir o trabalho de vários processos psicológicos (concentração, percepção, análise, síntese e interpretação) e mecanismos cerebrais.
Processos psicológicos: Leitores eficientes reconhecem a palavra de forma rápida e automática, focalizam sua atenção no significado e apresentam uma boa memória. Por outro lado, pessoas sem proficiência na leitura apresentam dificuldades nos processadores visuais e/ou auditivos. Sendo assim, será muito comum cometerem distorções, inversões, trocas e omissões de letras que comprometerão a compreensão do texto lido.
Mecanismos cerebrais: De acordo com ARAÚJO (s/d), há vários mecanismos cerebrais envolvidos na atividade da leitura. A palavra escrita é registrada na forma visual, no lobo occipital, depois é ligada à forma auditiva, situada no gyro angular, área temporal, especificamente área de Wernick. A atividade passa para a área de Broca, pelas fibras de fascículo (arcuate fasciculus).
As novas técnicas de neuro imagem são capazes de fornecer dados neurofisiológicos para a neurociência que auxiliam a compreensão do processo de leitura, na medida em que identificam as estruturas cerebrais envolvidas e, sobretudo, descrevem o funcionamento da leitura.
Muitas áreas do cérebro estão envolvidas durante o processo de leitura. As regiões parietais inferiores esquerdas, incluindo os giros supramarginal e angular, estão implicados no processamento fonológico normal, na recuperação da palavra, na visualização das palavras e na leitura oral. 
“Os processamentos de leitura visual, linguístico e ortográfico, se concentram principalmente na região extra-estriada do lobo occipital. O processamento fonológico ativa tanto o giro frontal inferior quanto o lobo temporal, envolve mais o giro temporal superior do que faz o processamento fonológico ou o ortográfico” (Rotta, 2006, p. 156).
ROTTA, N. T. (et al) (orgs.) Transtornos da Aprendizagem – Abordagem neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre. ArtMed: 2006.
Veja o que diz CARVALHO sobre o processo de leitura: “Neste processo, o leitor constrói os significados do texto e os compreende. Reparem que se disse construir e não captar os significados. O leitor tem papel ativo, não é apenas receptor” (pág. 10). É um modelo dialógico de leitura e interpretação em que o leitor é um co-criador do texto lido e precisa experienciar essa atividade desde a primeira infância quando começa a interpretar os contos de fadas e as primeiras reportagens de jornal.
O leitor vai sofisticando as suas habilidades de ler, compreender e interpretar o texto, um exemplo bem contemporâneo são as leituras cada vez mais rápidas, baseadas em imagem e escritas pictográficas e abreviadas a partir da interação com as novas mídias digitais.
É no contexto da cibercultura, onde o texto se transformou em hipertexto e onde os links fazem a nossa leitura estabelecer diálogos em rede com conceitos que apresentam inúmeras estratégias de organização.
CIBERCULTURA: Para Pierre Lévy (1999), a cibercultura é a comunicação universal, uma nova condição cultural caracterizada pelo engendramento das novas tecnologias de comunicação e informação. 
Segundo o autor, há três princípios que orientaram o crescimento do ciberespaço:
• a interconexão - termina com fronteiras mundiais em relação à comunicação, pois tudo está interligado;
• a criação de comunidades - está baseado na afinidade de interesses de conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas ou filiações institucionais;
• a inteligência coletiva - seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última visto que o ciberespaço pode ser um local para sinergia de saberes.
Referência: LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
O QUE VEM A SER A LEITURA? 
Modelo de decodificação
É um processo bem diferente da leitura, pois se limita a decodificação do sistema linguístico: letra, palavras e frases, sem, no entanto, ter maior atenção sobre o significado do que se está lendo. 
Esta concepção está fundamentada no ensino da leitura como se fosse uma lógica combinatória entre os fonemas, que memorizados mecanicamente pelo leitor, são sonorizados no ato da leitura.
Modelo psicolinguístico 
É um processo de interação entre as estruturas cognitivas que o sujeito apresenta e as informações do texto. O objetivo principal da leitura é a compreensão e, para isso, no processo de leitura, o leitor utilizará seus pressupostos subjetivos que o auxiliarão na compreensão do texto.
Modelo interativo
É uma concepção fundamentada no diálogo, na troca, na interação que ocorre entre o leitor, o autor do texto e o próprio texto. Há uma espécie de co-autoria do texto pelo leitor, na medida em que ele inaugura os significados construídos no ato da leitura. Desta forma, a leitura é um processo perceptivo e cognitivo que só se torna possível dentro de um contexto sociocultural.
Existe um segredo para uma boa leitura?
“O bom leitor não se faz por acaso. Quase sempre é formado na infância, antes mesmo de saber ler, através do contato com a literatura infantil e as experiências positivas no início da alfabetização.” (CARVALHO, 2001, pág. 11).
Com essas assertivas, Carvalho (2001) nos propõe uma leitura contextualizada, dialógica em que o leitor assume um papel ativo na construção dos significados do texto e na busca por informações. A autora ainda abre a possibilidade para crítica de algumas práticas que são reproduzidas no interior da escola mesmo tendo sido amplamente divulgadas em sua ineficácia.
“Aprender a ler como se fosse um ato mecânico, separado da compreensão é um desastre que acontece todos os dias. Estudar palavras soltas, sílabas isoladas, ler textos idiotas e repetir sem fim exercícios de cópia, resulta em desinteresse e rejeição em relação à escrita” (...) “O trabalho de alfabetização em nossas escolas (seja qual for o método adotado) parte do pressuposto de que o importante é ensinar o mecanismo de decodificação porque depois a compreensão virá automaticamente.”
O pressuposto está errado. Antes mesmo de ensinar a decodificar letras e sons, é preciso mostrar aos alunos o que se ganha e o que se obtém com a leitura: mas isso só será possível por meio de atividades que façam sentido, atividades de compreensão da leitura desde as etapas inicias da alfabetização (2001, pág. 11). 
Assim fazemos mais algumas perguntas. 
• Porque são mantidas práticas ineficazes de alfabetização? Seria uma decisão política?
•Qual é o resultado imediato destas metodologias na formação dos leitores e escritores?
• Você já ouviu falar dos analfabetos funcionais?
Analfabetismo funcional – uma realidade que pode ser transformada
O conceito de analfabeto funcional é utilizado para designar pessoas incapazes de utilizar a leitura, a escrita e a capacidade de calcular de forma pragmática no seu cotidiano, sendo que estas têm uma história de escolarização. A partir da evidência, a UNESCO definiu um novo conceito para a alfabetização em suas pesquisas educacionais e estatísticas.
Novo conceito para a alfabetização - indivíduos que sejam capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo sejam utilizados para o seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade.
Diante desta nova categorização, cresce o número de pessoas que passaram mais de quatro anos na escola e não são capazes de utilizara leitura, a escrita e o cálculo matemático em suas atividades diárias.
Conheça os três níveis distintos de alfabetização que foram revelados pelo Instituto Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF) para avaliar as habilidades para numeração (matemática) e letramento (leitura/escrita) na população adulta.
O nível pleno é considerado satisfatório, pois, permite que a pessoa possa utilizar com autonomia a leitura como meio de informação e aprendizagem. 
A partir daí, perguntamos: 
Há um percentual significativo da população brasileira que apresenta as competências do letramento no nível pleno de alfabetização?
NÍVEL PLENO - Localiza mais de um item de informação em textos mais longos, compara informação contida em diferentes textos, estabelece relações entre as informações (causa/efeito, regra geral/caso, opinião/fato). Reconhece a informação textual mesmo que contradiga o senso comum.
NÍVEL BÁSICO - Localiza uma informação em textos curtos ou médios (uma carta ou notícia, por exemplo), mesmo que seja necessário realizar inferências simples.
NÍVEL RUDIMENTAR - Localiza uma informação simples em enunciados de uma só frase, um anúncio ou chamada de capa de revista, por exemplo.
E por falar em escrita, existe alguma correlação entre a escrita e a civilização?
Para compreender essa questão, vamos fazer um diálogo com José Juvêncio Barbosa (1994).
Se existe um marco da passagem da pré-história para a história é a escrita, pois ela tem “origem no momento em que o homem aprende a comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos. Signos que sejam compreensíveis por outros homens que possuem ideias sobre como funciona esse sistema de comunicação” (1994, pág. 34).
Evolução da escrita
Conheça as fases da evolução cultural da escrita.
PINTURA: Antes utilizada como representação estética, a pintura e os desenhos começaram a ser utilizados como símbolos para identificar pessoas ou objetos. Foi uma etapa descritiva que não apresentava relação com os idiomas. Progressivamente, um mesmo desenho passou a ser utilizado para representar o mesmo objeto, sendo que este símbolo era compartilhado por um grupo social. Neste momento, foi inaugurada a etapa da escrita mnemônica.
ESCRITA IDEOGRÁFICA: Representando ideias e não palavras, esta modalidade de representação foi encontrada na Sumária num templo que recebeu o nome do seu rei em 3150 a.C.
ESCRITA CUNEIFORME: “Sinais gráficos em forma de cunha, traçados em tijolos de argila por meio de instrumentos de metal”. (Barbosa, 1994, pág. 35). Geralmente silábicos, representavam nomes pelo desenho dos sons desses nomes, os chamados hieróglifos. 
Barbosa, J, J. Alfabetização e Leitura. Coleção Magistério. 2º. Grau. Série Formação do Professor. São Paulo, Cortez, 1994.
Para Barbosa (1994, pág. 36), com a introdução do sistema de fonetização, abrem-se enormemente os horizontes para os registros escritos. Passa a ser possível representar todas as formas linguísticas, até as mais abstratas, por meio de símbolos escritos. Os símbolos passam a ter valores silábicos convencionais: convenção de formas e de princípios. Os signos foram normatizados para que todos desenhassem da mesma maneira; estabeleceram-se correspondência entre signos, palavras e sentidos. 
O primeiro alfabeto foi criado por volta de 3000 a.C. e compreendia 24 consoantes.
Leitura e escrita contemporâneas – influência das mídias digitais
Desde 1444, quando Johannes Gutenberg criou a imprensa tornando possível a disseminação e a conservação da cultura através da escrita, muitas transformações ocorreram nas práticas de leitura e escrita da humanidade.
Atualmente, temos o internetês que são neologismos que abreviam a palavra para tornar sua escrita mais rápida no ambiente digital.
Esse tema será aprofundado na aula teletransmitida.
AULA 2 – HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL
O que é alfabetização? 
Você conhecerá a alfabetização como um conceito que é produzido histórica e culturalmente. Então, prepare-se para iniciar seu contato com a história da alfabetização no Brasil. 
Para facilitar, o ponto de partida será no início da república até chegarmos aos dias atuais.
Desde o início da república a questão da leitura e da escrita foi considerado como um problema a ser resolvido. 
Com 75% da população analfabeta, a nova ordem vigente apontava para a necessidade de garantir à população o acesso a cultura “letrada”.
Também podemos olhar para a história da alfabetização do Brasil através das Cartilhas de Alfabetização. 
No início da república, também começa o processo de escolarização das práticas de leitura e escrita, onde o principal material é a Cartilha. Dentro dela, virá o método a ser proposto.
Foram muitas as cartilhas, mas você conhecerá algumas a partir de agora.
esta é a primeira cartilha que você conhecerá: a Cartilha Maternal João de Deus.
Conheça um pouco mais sobre as primeiras Cartilhas:
As primeiras cartilhas foram produzidas por autores estrangeiros. Em seguida, surgiram os professores brasileiros escritores de cartilhas. As primeiras cartilhas foram produzidas por autores estrangeiros. Em seguida, surgiram os professores brasileiros escritores de cartilhas.
As primeiras cartilhas brasileiras foram produzidas com base nos métodos de marcha sintética, com base nos processos de soletração e silabação. 
Os professores, principalmente os fluminenses e paulistas, foram os principais responsáveis com sua experiência didática.
A partir dos anos de 1930, aproximadamente, as Cartilhas passaram a se basear em métodos mistos ou ecléticos. 
Isso ocorreu especialmente em decorrência da disseminação e da repercussão dos testes ABC, de Lourenço Filho.
Os métodos mistos ou ecléticos correspondem ao analítico-sintético e vice-versa.
Exemplo:
Vejo uma bonita vaca.
A vaca é a Violeta.
Violeta é do vovô.
Vovô bebe leite da vaca.
vaca veio ôvo
cava vejo novo
cavalo vadio povo
cavava vida vovô
ouve viva vovó
couve vivo vila
uva voa vivi
viúva voava viola
va ve vi vo vu
va ve vu vo vu
V v V v
O uso da nomenclatura “Cartilha de Alfabetização” passa a ser considerado inadequado a partir dos anos 80. Veja abaixo, como ficaram as Cartilhas a partir dos anos 80.
Os livros de alfabetização usados passam a incorporar novas propostas introduzidas. Mas, os antigos livros baseados nos métodos de alfabetização também continuam presentes no meio educacional.
Empirismo (métodos de alfabetização)
Construtivismo
Histórico-Cultural
Letramento
Agora, conheça e compare os métodos de alfabetização que foram empregados nas Cartilhas que conhecemos até aqui.
Métodos Sintéticos: O processo de análise da língua se dá das partes para o todo. São métodos que baseiam-se no conceito de que as unidades significativas da língua – sons e letras – é que devem ser o ponto de partida.
Métodos Analíticos: O processo de análise da língua se dá das partes para o todo. São métodos que baseiam-se no conceito de que as unidades significativas da língua – sons e letras – é que devem ser o ponto de partida.
AULA 3
Há várias formas de ensinar uma criança a ler e a escrever.
Para começar seu estudo, pense em suas vivências de alfabetização na infância e reflita sobre as questões a seguir.
O que fazer com a escrita espelhada?
Como trabalhar com jornais para contribuir para o processo de letramento das crianças já na educação infantil?
Uma importante conquista da criança é a aprendizagem da leitura e da escrita.
Ambos são processos complexos e que conduzirão a criança a um caminho de crescente autonomia e construção do conhecimento sobre a realidade que a cerca.
Podemos empregar várias formas, não aleatórias, para ensinar uma criança a ler e a escrever. Essas formas têm relação com as concepções de conhecimento que são apresentadas pelos professores, pelos autores do material didático e por fim, pelas secretarias de educação ou órgãos responsáveis pela alfabetização.
Você conhecerá a partir de agora três concepções de conhecimento:
Empirista, Construtivista, Construtivista
Prepare-separa conhecer os teóricos que fundamentam essas concepções, assim como seus princípios epistemológicos e as práticas que são produzidas na sala de aula na formação de leitores e escritores.
COMCEPÇÃO EMPIRISTA
Relato sobre a representação da uma criança no seu primeiro dia de aula do primeiro ano do Ensino Fundamental. Ele nos trará algumas pistas sobre a concepção empirista na escola.
“Era o meu primeiro dia de aula na escola nova. A professora nos recebeu com uma saudação de boas-vindas e logo direcionou o lugar que cada um de nós deveria ocupar na sala de aula. Sentamos em carteiras bem diferentes daquelas que usamos nos agrupamentos da educação infantil.
Já precisei copiar o cabeçalho e fazer as duas folhas de exercícios que foram colocadas sobre a minha mesa. Eram pontinhos que deveriam ser cobertos com capricho e sem sair da linha. Não entendi muito bem. Lembro que errei ao ter que ligar a joaninha na folha e a abelha na flor.
Voltei para casa com um dever: copiar meu nome completo 3 vezes seguidas no caderno de casa”.
Esse relato remeteu a você alguma memória sobre as suas vivências de alfabetização na infância?
A concepção Empirista: ... fundamenta uma prática de alfabetização que associa a aprendizagem da leitura e da escrita à experiência e ao treinamento de habilidades psicomotoras.
A concepção filosófica empirista foi representada fortemente por John Locke (1632-1704) que defendia a experiência e os sentidos como elementos a serem valorizados para o alcance do conhecimento.
Sendo assim, a alfabetização é concebida como um processo que deve estar apoiado em critérios de prontidão ou maturação neurológica, pois a criança deve ter estruturas nervosas e perceptivas prontas para interagir com o meio e extrair dele as experiências alfabetizadoras.
Em nome desta prontidão, muitos educadores procuram antecipar a maturação das habilidades viso-motoras nas crianças utilizando, no dia a dia da educação infantil, exercícios psicomotores que objetivam preparar a criança para desenvolver a coordenação motora fina, a discriminação da esquerda e da direita, a organização espacial dos traçados no papel entre outras habilidades necessárias à escrita. Notem que essas habilidades são exercitadas no papel, em folhas previamente planejadas, mimeografadas e oferecidas pelo professor.
princípio psicológico que fundamenta as práticas de treinamento empirista no processo de alfabetização está baseado na escola behaviorista e na concepção de aprendizagem como uma modelização de comportamento a partir de estratégias de reforço positivo.
A criança aprenderá a ler e a escrever a língua portuguesa como um modelo, utilizando-se:
• do treinamento;
• da cópia;
• da repetição;
• da memorização. 
A criança, portanto, é vista como ser passivo e incompleto, que deve ser ensinado pelo meio, pois as suas experiências culturais (não escolares) com a leitura e a escrita não são valorizadas pela escola.
Com base na concepção empirista, veja como são considerados:
ESCRITA - É compreendida como uma atividade motora que deriva da associação dos estímulos sonoro-auditivos e precisa estar de acordo com as regras da gramática normativa, fazendo com que a criança escreva a partir de um modelo, ou seja, de uma cópia apresentada pelo professor. 
Dessa forma, a escola ao ensinar a escrita não abre espaço para as práticas discursivas que fazem parte da cultura das crianças que estão no processo de alfabetização. (OSWALD, 1996).
LEITURA - É concebida como uma decodificação ou decifração dos sinais gráficos em fonemas, sendo assim, mais importante que o significado do texto lido é a composição dos fonemas que formam as palavras, pois através da repetição sonora a criança aprenderá a ler.
MATERIAL DIDÁTICO - O material didático privilegiado pela escola são a cartilha e as palavras previamente definidas pelo professor para a apresentação das dificuldades ortográficas em uma ordem crescente para as crianças.
AMBIENTE ALFABETIZADOR - É aquele em que as palavras, as lições, os textos já estão prontos, as crianças são concebidas como sujeitos passivos que deverão aprender de acordo com as apresentações feitas pelo professor. 
Cópias, ditados, caligrafia e vários instrumentos priorizam a forma em detrimento do conteúdo da escrita.
Muitos educadores se sentem mais seguros ao se fundamentarem na concepção empirista, pois foram alfabetizados com ela. Além disso, conseguiram alfabetizar centenas de crianças ao longo de suas vidas profissionais. 
Levantamos, então, o seguinte questionamento para esses educadores:
Será que as competências exigidas aos leitores e escritores da atualidade são exercitadas neste paradigma empirista?
Concepção Construtivista
Antes de estudar a concepção construtivista, veja um relato de outra criança sobre o seu primeiro dia de aula. Ele mostrará algumas características da concepção construtivista no cotidiano da alfabetização.
“No meu primeiro dia de aula, a professora nos convidou para fazer uma rodinha e nos deu uma tira de papel colorido. Pediu que cada um escrevesse seu nome, da forma como soubesse e desenhasse algo que gostasse ao lado.
Brincamos de escrever. A professora pediu que mostrássemos a nossa produção para os colegas e escreveu o nosso nome na parte de trás da tira.
Brincamos de ler e descobrimos que vários colegas têm a letra C no início do seu nome. A letra C é a mesma de casa e cadeira.
Trocamos as fichas e a professora pediu para cada um ler o nome que estava escrito na ficha do colega e colocá-la na chamadinha.
Terminamos o dia descobrindo que todos têm um nome, os nomes são diferentes dos apelidos, os nomes estão na carteira de identidade e servem para nos diferenciar das outras pessoas.”
Chegou ao Brasil nos anos 80 para fazer uma crítica às práticas mecanicistas de ensino da leitura e da escrita tão utilizadas na concepção empirista. 
Chegou juntamente com uma nova proposta de prática educativa conhecida como construtivismo. Nesta concepção, a criança era concebida como um sujeito ativo na construção e sistematização dos seus conhecimentos.
A concepção Construtivista de ensino da leitura e da escrita está fundamentada na teoria de desenvolvimento psicológico de Jean Piaget.
Nesta teoria, a criança é concebida como um sujeito em permanente construção do seu conhecimento, a partir da sofisticação dos esquemas cognitivos utilizados para interagir com a realidade.
Para Piaget, o sujeito passa por sucessivos estágios de desenvolvimento cognitivo, a começar pelo estágio sensório-motor que é caracterizado por uma inteligência prática, perceptiva e motora que é sucedida por uma forma de inteligência representativa na qual a aquisição da linguagem é a maior conquista e, a aprendizagem da leitura e da escrita, as maiores transformações que a criança pode sofrer na sua interação com o ambiente. 
Este estágio é chamado de pré-operatório e, nele, a criança inaugura uma lógica simbólica e lúdica nas suas interações com os objetos de conhecimento.
Veja a seguir, a transformação que a Psicogênese da Língua Escrita ocasionou.
Veja quais são as fases do desenvolvimento da escrita.
FASE PRÉ-SILÁBICA
Nesta fase, a criança escreve da forma como sabe e tenta diferenciar letras, números e desenhos numa tentativa de definir o que pode ser lido. 
Não existe qualquer correspondência entre o som e as tentativas de representação gráfica das palavras, pois as crianças utilizam elementos gráficos icônicos que podem ter relação com o signo que está sendo representado. 
As crianças também utilizam as letras que compõem o seu nome, pois elas fazem parte do seu universo cultural.
FASE SILÁBICA
A criança já percebe que a escrita é formada por um conjunto de símbolos que são convencionais e que ela pode representar a realidade. Mas, para isso, é necessário que algumas condições sejam satisfeitas como a quantidade e a qualidade mínima de caracteres escritos. 
Palavras monossilábicas e sílabas soltas se tornam um material de mais difícil leitura. A criança começa a escrever com umalógica silábica, atribuindo uma letra para cada sílaba, compreendendo que o princípio que forma as palavras é o fonográfico, ou seja, um princípio que relaciona grafema e fonema.
FASE SILÁBICO-ALFABÉTICA
Nesta fase, a criança sofistica um pouco mais a sua compreensão da formação da escrita ao trabalhar com a lógica silábica e com a alfabética. Nesta transição, ela percebe que cada letra pode representar um fonema ou uma sílaba.
FASE ALFABÉTICA
Quando a criança compreende que a escrita é a representação da fala e que cada fonema representa uma letra, ela está alfabetizada. 
Quando utilizar as letras de acordo com o seu valor sonoro convencional, a criança estará na fase alfabética e ortográfica.
Na medida em que o professor passou a perceber a aprendizagem da escrita como um processo cognitivo, a noção de erro foi ressignificada, pois este foi compreendido como constitutivo do desenvolvimento das hipóteses cada vez mais sofisticadas de escrita.
Ao contrário das cópias realizadas na concepção empirista, a criança na concepção construtivista escreve refletindo sobre as suas hipóteses de construção da palavra.
Ao contrário das cópias realizadas na concepção empirista, a criança na concepção construtivista escreve refletindo sobre as suas hipóteses de construção da palavra.
Smolka (1989) destaca que a alfabetização não deve ficar restrita à correspondência entre grafia e fonema, nem tampouco à categorização de crianças de acordo com a fase de desenvolvimento da escrita. Isso aconteceu perante uma apropriação superficial da pesquisa de Ferreiro e Teberosky e sua aplicação direta na sala de aula.
Para Smolka (1989), os processos de leitura e escrita são muito mais complexos que os conflitos cognitivos destacados na psicogênese e devem ser vivenciados na escola dentro da dimensão simbólica do processo de conceitualização e elaboração das experiências. Em outras palavras, a leitura e a escrita, precisam ser trabalhadas dentro dos contextos discursivos em que são produzidas.
Concepção Sociointeracionista
Vamos conhecer a seguir a concepção sociointeracionista.
Esta concepção foi construída com base na psicologia sócio-histórica de Lev Vygotsky (1896-1934) e das pesquisas neuropsicológicas realizas por Alexander Luria (1902-1977) sobre a aprendizagem da leitura.
De acordo com esses autores, a criança é concebida como um sujeito histórico e em permanente desenvolvimento de sua subjetividade e da cultura em que vive.
Neste sentido, Oswald (1996) afirma que “ao mesmo tempo em que a criança é transformada pelos valores culturais do seu ambiente, ela transforma o seu ambiente” (p. 63). Sendo que essa transformação é mediada pela linguagem e pelas produções culturais que fazem parte da sociedade na qual vivemos.
O conhecimento é construído socialmente e as práticas de leitura, escrita e oralidade são importantes elementos simbólicos para o desenvolvimento das funções mentais superiores.
Lev Vygotsky (1998) dividiu o desenvolvimento psicológico em funções mentais elementares e superiores.
Para a concepção sócio-histórica a linguagem informa e constitui os sujeitos como membros de um grupo cultural. Na escola, a leitura e a escrita são trabalhadas como experiências histórico-culturais que emergem nos discursos, nas palavras, nos ditos e não-ditos dos textos utilizados.
Sendo assim, não há uma única forma de escrever, pois a escrita revela dialetos e as variáveis linguísticas, tão comuns num país com amplitude continental como o nosso.
Tampouco, há uma única forma de compreender os textos, pois eles são ricos em significados e dependem da subjetividade do leitor. Os sentidos de cada palavra são inaugurados no ato da leitura e interpretação do texto.
De um mesmo texto, múltiplos significados podem emergir. Projetos, poesias, músicas, enfim, experiências culturais que são condizentes com a cultura vigente e com as demandas da sociedade. A leitura, a escrita e a oralidade são trabalhadas na função social que apresentam na sociedade e em variados gêneros discursivos: como veículos de informação, comunicação e lazer. 
Os significados das palavras e enunciações são compartilhados pelos interlocutores numa dialogia em que o outro dá sentido e interpreta as produções de linguagem.
Leitor, escritor, leitura e escrita, criador e criatura se confundem num processo em que a singularidade faz parte do cotidiano educativo. Veja as palavras de Smolka:
“a criança aprende a ouvir, a entender o outro pela leitura; aprende a falar, a dizer o que quer pela escrita” (SMOLKA, 1988 p. 63).
Esse aprendizado acontece através do estabelecimento de várias Zonas de Desenvolvimento Proximais. Isso ocorre porque as práticas linguísticas são desenvolvidas socialmente na escola, em casa, com diferentes instrumentos culturais que tornam o indivíduo mais competente do que se estivesse aprendendo mecanicamente as regras da língua mãe.
As Zonas de Desenvolvimento Proximais (Vygotsky, 1998) são estabelecidas a partir de uma lógica do desenvolvimento humano em que existem dois níveis: um real e um potencial. 
O real se refere às funções maduras ou estabelecidas num sujeito – o que ele consegue fazer sozinho no presente. 
As potenciais significam aquilo que será realizado num futuro próximo ou com a cooperação de uma companheiro mais capaz no presente, pois a interação social facilita e antecipa a aprendizagem.
Para saber mais sobre o cotidiano dessa concepção, leia aqui o relato de uma criança no seu primeiro dia de aula em uma escola com orientação sociointeracionista.
“Mudar de escola, mudar de professora. Quantas novidades para o primeiro dia de aula!
A professora nos sentou no chão e com uma folha de papel bem grande pediu para nós falarmos para quê serve a leitura e a escrita. Enquanto falávamos, ela escrevia nossa fala no papel. 
Depois ela perguntou o que gostaríamos de aprender a ler e a escrever e nos apresentou uma caixa cheia de gibis, revistas, figurinhas, livros e até um dicionário.  Ficamos brincando com aqueles materiais até que ela sugeriu que, em duplas, escolhêssemos uma palavra para pesquisar no dicionário. Eu e minha amiga escolhemos a palavra jornal. A professora leu para nós o significado e perguntou quem já tinha lido jornal com a família.
Terminamos o dia planejando a atividade da semana que seria trabalhar com jornais na escola.”
O trabalho com jornais contempla as premissas da concepção sociointeracionista, pois a leitura, a escrita e a pesquisa são realizadas de forma contextualizada e lúdica.
AULA 4 - Alfabetização em uma Perspectiva Construtivista
Para dar início ao estudo desta aula, pense no processo de construção da escrita de uma criança e reflita sobre as questões a seguir.
Que olhar devemos lançar para a escrita das crianças?
Qual é a lógica da criança no processo de construção da escrita?
O erro pode contribuir para a aprendizagem?
Piaget - Construtivismo
Emília Ferreiro desenvolveu a pesquisa denominada “A Psicogênese da Escrita”, que tem como pressuposto a Teoria Construtivista elaborada por Jean Piaget.
Confira os pressupostos da teoria construtivista do suíço Jean Piaget.
Um sujeito que cresce e se desenvolve na interação com o meio no qual está inserido. Um homem que é inteligente e construtor do seu conhecimento.
Desenvolvimento impulsionado pela aprendizagem. Os indivíduos crescem de forma semelhante, passando por estágios de desenvolvimento com características comuns aos diferentes homens.
O homem na perspectiva piagetiana é um “sujeito universal”, é um sujeito inteligente que constrói o seu conhecimento na sua relação com o meio físico e social.
Agora, conheça a pesquisa feita por Emília Ferreiro.
Com base nos estudos de Piaget, Emília Ferreiro desenvolveu a pesquisa, em seu trabalho de doutorado, investigando como as crianças constroem o seu conhecimento sobre a língua escrita.
Com a orientação do professor Piaget, Emília Ferreiro observou em seu estudo diferentes crianças em situações de escrita. Era uma pesquisa experimental, mas não em situaçõesde sala de aula com crianças sendo alfabetizadas.
Emília Ferreiro – A Psicogênese da Escrita
Como acabamos de ver, diferentes crianças foram colocadas em situações de leitura e escrita. Com base nas observações, Emília Ferreiro formulou a “Psicogênese da Escrita”.
SMOLKA
Na recente pesquisa de Ferreiro & Teberosky (1979) sobre a psicogênese da linguagem escrita, as autoras apontam justamente que os métodos de alfabetização e os procedimentos de ensino baseados em concepções adultas não estão de acordo com os processos de aprendizagem e as progressões das noções infantis sobre a escrita. Partindo do pressuposto de que a criança é sujeito ativo e conhecedor, elas indicam a importância de se compreender a lógica interna das progressões das noções infantis sobre a escrita, mostrando que as crianças exigem de si mesmas uma coerência rigorosa no processo de construção do conhecimento.
Assumindo a perspectiva de epistemologia piagetiana e observando, desta ótica, o esforço das crianças para a compreensão da correspondência entre a dimensão sonora e a extensão gráfica na escrita alfabética, Ferreiro & Teberosky (1979) evidenciam o que elas chamam de conflito cognitivo no processo de construção do conhecimento sobre a escrita. Nesse processo, elas mostram a importância do erro como fundamentalmente construtivo na superação de contradições e conflitos conceituais, explicitando, numa progressão, etapas e hipóteses que as crianças levantam sobre a escrita.
Assim também, Ferreiro & Palácio (1982:131) argumentam que apesar dos esforços dos docentes para fazerem as crianças compreenderem de imediato as correspondências fonéticas que estão na base do sistema de escrita alfabética, isto não ocorre, o que não quer dizer que as crianças não aprendam. Elas aprendem e avançam. Recebem informação e a transformam. O processo de aprendizagem não é conduzido pelo professor, mas pela criança. 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da escrita. Ed. Cortez, 1991.
Emília Ferreiro – A Psicogênese da Escrita
A seguir, você conhecerá os níveis da psicogênese da língua escrita estudados por Emília Ferreiro e Ana Teberosky.
Contribuições de Emília Ferreiro para o Processo de Alfabetização
O estudo de Emília Ferreiro pode nos ajudar com as seguintes questões:
Com base nos estudos de Emília Ferreiro, como podemos olhar para a escrita das crianças?
Como pensar diferentes escolas e propostas de alfabetização que foram sendo organizadas tendo como base a pesquisa de Emília Ferreiro?
Reflita sobre essas questões, mas lembre-se que Emília Ferreiro não criou um método de alfabetização. Portanto, é um equívoco a indicação de que existe o método construtivista. Cabe ao professor organizar situações pedagógicas que considerem o ponto de vista construtivista.
Mudando o foco da alfabetização, Emília Ferreiro buscou identificar a lógica da criança no processo de construção da escrita.
Podemos identificar algumas contribuições do trabalho desenvolvido por Emília Ferreiro:
• olhar o processo de aprendizagem do ponto de vista da criança, mudando o foco do como se ensina para o como se aprende;
• o erro passa a ser visto como um momento construtivo do processo de aprendizagem;
• necessidade de organizar o trabalho pedagógico tendo como referência o conhecimento da criança.
Um outro ponto de vista (que se contrapõe ao primeiro) seria o da construção individual do conhecimento, que considera a escrita como um objeto de conhecimento, que analisa o "conflito cognitivo" no processo de aprendizagem e vê o erro como fundamentalmente construtivo no processo. Leva em conta as tentativas e as hipóteses infantis relativas à escrita como representação da fala (relação dimensão sonora/extensão gráfica), analisando a escrita  inicial em termos de níveis de desenvolvimento. 
As implicações pedagógicas desse ponto de vista começam, agora, a se esboçar, a partir do trabalho de Ferreiro, Teberosky & Palácio. Contudo, ao invés de se tomar o estudo de Ferreiro & Teberosky como contribuição para o entendimento dos processos de aquisição da escrita, tem-se reduzido o ensino da escrita à questão da correspondência gráfico-sonora, categorizando crianças e turmas de crianças em termos de níveis de hipóteses, quando o processo de leitura e escrita abrange outros aspectos e outras dimensões. 
O conflito cognitivo apontado por Ferreiro não pode, sem dúvida alguma, ser ignorado. Mas o que também deve ser levado em consideração é que, entremeados nessa questão, estão os aspectos das funções e configurações da escrita, da dimensão simbólica e do processo de conceitualização e elaboração das experiências, da metalinguagem, além do conflito social mencionado anteriormente.
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da escrita. Ed. Cortez, 1991
Aula 05: Letramento e Alfabetização: Conceituação e Histórico
O tema desta aula tem como base os estudos da teoria Histórico-Cultural (Sociointeracionista) proposta por Lev Vygotsky.
Com base nesta teoria, vamos investigar como podemos pensar a apropriação da leitura e da escrita dentro de um processo de interlocução, troca e compreensão de sentidos que se dão nas interações entre os diferentes sujeitos.
Com base nesta teoria, vamos investigar como podemos pensar a apropriação da leitura e da escrita dentro de um processo de interlocução, troca e compreensão de sentidos que se dão nas interações entre os diferentes sujeitos.
Vygotsky – Teoria Histórico – Cultural
Você lembra quais os pressupostos da teoria histórico-cultural produzida pelo russo Lev Vygotsky, seus colaboradores e outros que o sucederam? Confira abaixo.
Aprendizagem: Por entender que os homens se constituem como pessoas no seu contexto de cultura, o sujeito na perspectiva vigotskiana é um sujeito da sua história e da sua cultura, um ser histórico-cultural. Assim, ele participa, constrói e, na relação com a sua cultura, se constitui como pessoa. 
Os homens não são determinados pela cultura, mas autores de sua história, portanto, os percursos de desenvolvimento da vida são singulares e peculiares para cada pessoa.
Desenvolvimento: Vygotsky nos apresenta uma compreensão de que o desenvolvimento é impulsionado pela aprendizagem, que por sua vez depende do desenvolvimento para acontecer.
Com base na lógica apresentada por Vygotsky, podemos perceber que a aprendizagem e o desenvolvimento são inter-relacionados.
Para aprender, os sujeitos precisam se desenvolver e, para se desenvolver, os sujeitos precisam se aprender, ou seja, um processo está intrinsecamente ligado ao outro.
Uma criança não consegue ler e escrever com dois ou três anos de idade porque o seu desenvolvimento não está adequado para esta aprendizagem. Por outro lado, quando ela tem em torno de cinco ou seis anos, quando o seu desenvolvimento está compatível com a aprendizagem da leitura e da escrita, podemos identificar que a apropriação da escrita permitirá que faça uso de livros de forma autônoma, possa se deslocar, na companhia de adultos, identificando locais e rotas indicados nos transportes coletivos, como também poderá buscar informações nas mais variadas fontes.
Agora veja outro aspecto relevante na concepção vigotskiana.
A relação pensamento linguagem como elemento fundamental para a compreensão da aprendizagem da leitura e da escrita nos leva a perceber que, como sujeitos de linguagem, a organização do nosso pensamento é constituída socialmente.
Fazer uso da leitura e da escrita é também organizar a nossa linguagem na oralidade, no pensamento, fazendo uso das letras.
“ ... como, por trás das palavras, existe uma gramática própria do pensamento, existe uma sintaxe dos sentidos das palavras. Essa gramática, essa sintaxe, tem origem nas formas sociais de interação verbal, mas é permeada por uma realidade psicológica, individual.”. 
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na faseinicial da escrita. Ed. Cortez, 1991.
A Dimensão Discursiva no Processo de Alfabetização
Tendo como referência a perspectiva Histórico-Cultural, alguns autores brasileiros vão investigar sobre o processo de alfabetização, considerando a possibilidade de encontrar os autores e os interlocutores dos discursos orais e escritos produzidos para se aprender a ler e escrever.
Dentre os estudos encontrados, identificamos com destaque o trabalho inaugural de Smolka.
Neste trabalho, Smolka vai apontar a possibilidade de uma alfabetização numa dimensão discursiva. Uma alfabetização em que o ler e o escrever compreenda que as crianças são sujeitos de sua história e de sua cultura, autores dos discursos orais e escritos, produzidos para se apropriar da linguagem na sua forma escrita.
Para este estudo, é necessário levantar algumas questões: Qual é a concepção de alfabetização do professor alfabetizador? Qual é a sua concepção de aprendizagem?
Agora você conhecerá o ponto de vista de Smolka (1991), que buscava uma compreensão do processo de alfabetização diferente do proposto por Emília Ferreiro.
Smolka nos traz a discussão da escrita como um conhecimento que é socialmente construído. Sua aprendizagem passa, necessariamente, pela compreensão das diferentes relações que os sujeitos estabelecem nos contextos nos quais estão inseridos.
É necessário pensar que, ao aprender a ler e escrever, a criança aprende também a interagir com os outros usando uma nova forma de linguagem.
Isto significa que a criança precisará refletir sobre o que escrever, para quem escrever, quando escrever e como escrever, uma vez que a escrita será mais instrumento de interação nas suas relações cotidianas.
Alfabetização como um Processo Discursivo
Vamos falar agora sobre a importância da perspectiva da alfabetização como um processo discursivo.
Para isso, é necessário refletir sobre um trabalho de alfabetização que considere como uma escrita funciona na sociedade, quais são as situações de leitura e escrita que vivemos cotidianamente, e como nos colocamos nestas situações.
É necessário também compreender que a escrita é um importante instrumento para a aprendizagem de outros conhecimentos. Ao aprender a ler e a escrever, a criança aprende também a ler e a escrever o mundo no qual vive.
“Pedagogicamente, então, é fundamental observar e considerar, no processo de alfabetização, as situações e as condições em que se processa e se produz o conhecimento escolar sobre a escrita. (Quem usa a escrita na sala de aula? Para quê? Como? Por quê?) Mas esse aspecto da análise ainda não dá conta da amplitude do problema e nos remete a outras questões”.
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da escrita. Ed. Cortez.
A compreensão da alfabetização como um processo discursivo pressupõe a organização de uma proposta pedagógica que favoreça:
um trabalho com a oralidade;
a leitura e a escrita com função social;
a criança como um sujeito de discurso.
Um trabalho com a oralidade
Ao nascer, a criança está mergulhada em um contexto de interações constantes com os que estão a sua volta.
Além dos gestos, sinais, movimentos e formas de interação variadas, as crianças se comunicam por meio da oralidade. Através dela, a criança se constitui como pessoa e pensa o mundo em que vive.
Neste sentido, é de fundamental importância trabalharmos conversas, leitura de textos, debates e brincadeiras, explorando de forma intensa os elementos da oralidade. 
Isso porque, além de ser referência de linguagem para a criança, a oralidade possibilita explorar a organização do pensamento para, em seguida, trabalhar com a linguagem na sua forma escrita.  
Ler e escrever é viver situações reais com produção de textos nas suas formas mais variadas. 
A escola precisa garantir um trabalho com  textos reais, materiais reais e situações adequadas às condições escolares. Assim, a leitura e a escrita funcionarão com sentido e significado para as diferentes crianças.
São muitos os textos dos quais fazemos uso socialmente, como, por exemplo,  a propaganda, o livro, a música, a poesia, os jornais, entre outros. 
Também devemos fazer uso dos textos que estão presentes no cotidiano das relações das crianças como os avisos, as placas de anúncio, os bilhetes, as listas, entre outros.
Trazer as experiências do contexto cultural das crianças é o ponto de partida para um trabalho com textos funcionais e significativos. Em seguida, é possível ampliar o universo de experiências oferecendo outros textos e situações relacionadas com as já vividas, mas que vão possibilitar ampliar o universo de interações pela via da linguagem oral e escrita.
Antes de fazer pressuposições, pesquisar com as crianças é um bom caminho para conhecer o seu universo cultural de leitura e escrita.
A criança, ao chegar à escola, traz consigo sua história e sua cultura. Isto deve ser considerado como algo relevante no processo de alfabetização. 
A ação educativa só tem sentido se estiver adequada a este sujeito, sua idade e seu contexto de vida.
É através do discurso da própria criança que esses elementos entram na escola. Portanto, a proposta pedagógica deve estar organizada para dar voz e vez a esta criança. Dentro desta perspectiva, os discursos orais que poderão se organizar em discursos escritos das crianças serão os conteúdos de trabalho do professor alfabetizador.
A fala de Smolka (1991) nos oferece uma síntese do que discutimos até aqui.
“Um terceiro ponto de vista (que abrange o segundo), da interação, a interdiscursividade, inclui o aspecto fundamentalmente social das funções, das condições e do funcionamento da escrita (para que, para quem, onde, como, por quê). 
O que aparece também como relevante nesse terceiro ponto mencionado é a consideração da atividade mental da criança no processo de alfabetização não apenas como atividade cognitiva, no sentido de estruturação piagetiana, mas como atividade discursiva, que implica a elaboração conceitual pela palavra. Assim ganham força as funções interativa, instauradora  e  constituidora  do conhecimento na/pela escrita.
Nesse sentido, a alfabetização é um processo discursivo: a criança aprende a ouvir, a entender o outro pela leitura; aprende a falar, a dizer o que quer pela escrita. (Mas esse aprender significa fazer, usar, praticar, conhecer. Enquanto escreve, a criança aprende a escrever e aprende sobre a escrita). Isso traz para as implicações pedagógicas os seus aspectos sociais e políticos. Pedagogicamente, as perguntas que se colocam, então, são: as crianças podem falar o que pensam na escola? Podem escrever o que falam? Podem escrever como falam? Quando? Por quê?”
Referência: SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Discutindo pontos de vista. In: A criança na fase inicial da escrita. Ed. Cortez.

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