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Aula 18 - cont casamento

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Aula 18
Pablo Stolze
Direito Civil
12.06.14
Continuação Deveres Conjugais: Fidelidade Recíproca
I - fidelidade recíproca; 
A fidelidade é um dever patrimonial. 
O que é a fidelidade?
O art. 1566, inciso I, do CC, deixa claro que a fidelidade, por ser um dever matrimonial, é também um valor jurídico.
Na mesma linha, ao tratar da União Estável, em seu artigo 1.724, o codificador também consagra o dever de lealdade que, por óbvio, compreende a fidelidade. 
A fidelidade é um dever do casamento. Na União estável o artigo 1.724 estabelece a lealdade, que é mais abrangente que a fidelidade. Se eu fui infiel com meu cônjuge, eu fui não fui leal. 
Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.
A fidelidade, de fato, é um valor jurídico, razão pela qual tem-se admitido a tese de que a quebra deste dever pode gerar responsabilidade civil.
Se trair seu cônjuge pode ser condenado a indenizá-lo. 
Obs. Em nosso sentir, o prazo prescricional para se formular pretensão indenizatória por infidelidade é de 3 anos a contar do fim da sociedade conjugal ou, “mutatis mutandis”, da União Estável (artigo 206, §3º, inciso V c.c artigo 197, inciso I, do CC).
Vale acrescentar ainda, que a ruptura do dever de fidelidade pode se dar de muitas maneiras (Condutas desonrosas, Atos de intimidade com terceiro etc.), mas a forma mais drástica de quebra da fidelidade opera-se por meio do adultério (que, tecnicamente, pressupõe espúria conjunção carnal com terceiro). 
Art. 206 Prescreve:
§ 3º Em três anos: 
V - a pretensão de reparação civil;
Ex: estou na rua, passo no restaurante minha esposa está numa mesa ao lado, mão com mão, olho no olho com um rapaz. Há adultério? Negativo. Adultério pressupõe ato sexual, conjunção carnal. Mas isso é conduta desonrosa. 
Vale frisar que, embora não seja mais crime, o adultério continua sendo um ilícito civil. (indenizável).
Nesse diapasão (nesse contexto), vale mencionar algumas figuras tradicionalmente apontadas pela doutrina como caracterizadoras de infidelidade (embora utilizem a expressão adultério, veremos que, a rigor, algumas delas de adultério tecnicamente não tratam, por não se exigir a conjunção carnal): 
Obs. esses atos são caracterizadores de infidelidade:
Quase-adultério: esta figura caracteriza atos preparatórios à conjunção carnal, como carícias e beijos, caracterizadores de infidelidade. 
Adultério inocente, casto, ou “de seringa”: caracteriza uma forma de infidelidade sem conjunção carnal propriamente dita, mas decorrente de uma reprodução humana assistida não autorizada. 
Ex: marido é portador de uma doença que não produz espermatozoides. A esposa tem sonho de ser mãe, vai a uma clínica, faz uma inseminação artificial com material de terceiro sem autorização do marido. Ela foi adúltera com a seringa, pois o marido não foi ouvido. 
Adultério precoce: esta expressão caracteriza a situação em que um cônjuge abandona o outro, de forma infamante, e mediatamente após o casamento 
Ex: acabou de casar, o namorado de infância aparece numa moto, ela sai correndo com o véu, sobe na garupa e vai embora.
De tudo isso, fixamos a ideia que a fidelidade é um valor jurídico tutelado. Nesse ponto, nós poderíamos nessa linha de raciocínio, que a monogamia é um pcpo do direito brasileiro? O professor evita a expressão pcpo da monogamia, pois essa é uma característica do sistema e não um pcpo, visto que as pessoas podem através da autonomia privada decida relativizar a fidelidade. Ex: o casal decide ser casamento aberto. Nada impede que um casal, à luz da autonomia privada que se projeta relações existenciais, possa flexibilizar a fidelidade para abrir a relação conscientemente, caracterizando uma situação que existe, embora não tenha relação legal, denominada de poliamorismo, o casal pode flexibilizar a fidelidade, por conta disso, Pablo entende que a monogamia não é um pcpo, mas sim uma característica do sistema. 
O Estado nada poderá fazer, pois isso é pcpo da intervenção mínima. Cada um é cada e sabe o que quer. 
Indagação de alta importância diz respeito à natureza da monogamia em nosso sistema. Embora respeitemos a corrente que a consagra como princípio, preferimos enquadrá-la como uma característica do nosso sistema. Até porque, com amparo na autonomia privada (Pietro Perlingieri, Perfis de Direito Civil Constitucional), nada impede que o casal flexibilize a fidelidade e a própria monogamia, adotando uma relação aberta denominada de poliamorismo (ver na apostila 01 notícia e decisão a respeito).
A professora Noely Moraes da PUC de SP, estudou o poliamorismo, que é uma situação em que o casal abre o vínculo para admitir participação de terceiros. Todavia, o professor não entende como pcpo, é apenas uma característica do sistema. 
Infidelidade Virtual 
O avanço tecnológico típico do século XXI, por óbvio, causou impacto em diversos campos das relações sociais, inclusive no âmbito da relação de família (ver texto do Professor Lourival Serejo, sobre o tema família virtual, no boletim IBDFam nº 54). Nesse contexto, a infidelidade virtual (relacionamento espúrio de uma pessoa impedida pela via eletrônica) é uma das faces da interação família versus tecnologia (ver na apostila 01 notícia e decisão do Distrito Federal que condenou o marido a indenizar a esposa pelo seu comportamento infiel por meio da internet).
Ex: Troca de mensagens, facebook, whatApp, e-mails, todas essas vias eletrônicas podem caracterizar a chamada infidelidade virtual. É bom evitar a expressão adultério infiel, pois não está havendo conjunção carnal.
Obs. Por óbvio, a admissibilidade da prova eletrônica deve ser devidamente fundamentada, na perspectiva da Teoria da Ponderação de Interesses e do pcpo da proporcionalidade.
Quando você pega prova eletrônica está violando garantia constitucional, qual seja, o sigilo da comunicação e privacidade, todavia se aquela prova for indispensável pode invocar a teoria da ponderação de interesses, tendo em vista a honra da mulher, do cônjuge traído. Prova ilícita no direito civil deve ser fundamentada. Veremos isso em processo civil. 
Ex: google maps, mulher foi pesquisar endereço da amiga e na porta da casa da amiga estava o carro do marido dela, ela descobriu infidelidade virtual. Ex2: colheita da prova em facebook é mais facilitada porque você expõe sua vida. Se quebrar senha será necessário invocar a teoria da ponderação de interesses e pcpo da proporcionalidade. 
Ex: personagem do marido estava mantendo relação sexual virtualmente, isso não é adultério, pois não houve conjunção carnal, e sim infidelidade. 
Ficou claro que infidelidade pode gerar dano moral. Mas e o amante é obrigado a indenizar? A esposa traiu, há o prazo de 3 anos, contados do fim da sociedade conjugal, ela estava namorando 8 meses com Ricardão. O marido ingressou demanda contra ambos. Ricardão é obrigado a indenizar? Não. 
Obs. De grande importância é o Resp 922.462 de SP, julgado em 2013, segundo o qual o cúmplice da infidelidade (o amante) não é obrigado a indenizar o traído, uma vez que o dever de fidelidade é do casal e não do terceiro.
Antigamente o homem poderia matar a mulher infiel e o amante, salvo se o amante fosse fidalgo, desembargador e o traído peão. Absurdo. 
IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
Os impedimentos matrimoniais são pressupostos ou requisitos que interferem na validade do casamento. É muito importante frisar a mudança de tratamento jurídico da matéria do CC/16 para o de 2002.
No CC/16, os impedimentos matrimoniais eram assim tratados:
O art. 183, do CC/16 regulava os impedimentos matrimoniais e com base nele a doutrina assim os classificava:
Dos incisos I a VIII havia os chamados impedimentos absolutamente dirimentes ou de ordem pública (eram os mais graves)
Dos incisos IX a XII havia os antigos impedimentos relativamente dirimentes ou privados (eram menos graves)
Dos incisos XIII a XVI havia os impedimentosimpedientes/proibitivos.
O CC/02 mudou o tratamento da matéria, pois nesse há algumas mudanças de conteúdo: 
Os antigos impedimentos absolutamente dirimentes ou de ordem pública eles são tratados simplesmente como impedimentos no art. 1.521
Os antigos impedimentos relativamente dirimentes, no CC novo são tratados como causas de anulação do casamento no art. 1.550
Os antigos impedimentos impedientes/proibitivos, no CC novo são tratados como causas suspensivas do casamento no art. 1.523
*O que acontece quando alguém se casa violando um dos impedimentos do art. 1.521? se você casa violando impedimento desse artigo a consequência será: CASAMENTO NULO
*Quem casa violando o art. 1.550, ou seja, causa de anulação de casamento, a consequência será: CASAMENTO ANULÁVEL
*Quem se casa violando causa suspensiva do art. 1.523, a consequência doutrinária e tecnicamente será: CASAMENTO IRREGULAR.
Obs. No caso da violação de causa suspensiva (art. 1.523), o casamento é válido, mas é irregular, de maneira que é imposta como sanção patrimonial o regime obrigatório de separação de bens. 
+ IMPEDIMENTOS (art. 1.521)
Art. 1.521. Não podem casar: (NULIDADE DO CASAMENTO)
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do casamento, por qualquer pessoa capaz. 
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.
Antes de iniciarmos a análise do 1.521, vale lembrar, nos termos do art. 1.522, que a oposição do impedimento pode se dar até o momento da celebração do casamento.
Se ninguém impuser o impedimento e depois vier a tona, irá ter um processo.
Análise dos incisos do art. 1.521 – impedimentos para o casamento (nulidade absoluta):
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
 
Esse é um impedimento óbvio, seja por ética familiar e questão de saúde. Não pode casar o pai com a filha, seja natural ou adoção. Avo não se casa com neta
II - os afins em linha reta; 	
Sogra não se pode casar com o genro ou nora; padrasto com enteada. Isso serve mesmo após o término do casamento. 
Obs. No que se refere ao inciso II, do art. 1.521, vale lembrar, a teor do art. 1.595, §2º, que o parentesco por afinidade gera um impedimento que se mantém mesmo após o fim do casamento
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. 
§ 2º Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
Ex: eu adotei uma jovem, não posso me casar nunca com o ex-marido dela. O adotante não pode se casar com quem foi cônjuge do filho adotivo e vice-versa.
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
Irmão bilateral é por parte de pai e de mãe; irmão unilateral mesmo pai e mãe. 
Terceiro grau: tio e sobrinha NÃO podem se casar, mas em relação a esses colaterais de 3º existe doutrina forte no Brasil admitindo que o impedimento pode ser afastado em determinadas situações. 
Obs. No que toca ao inciso IV, forte corrente doutrinária (Enunciado 98 da IJDC) aponta no sentido de que, com base no decreto lei 3.241, ainda aplicável, o casamento entre colaterais de 3º grau, em situações justificadas, seria possível desde que houvesse laudo médico favorável. 
O grande problema das relações entre parentes próximos, advindo prole há uma grande probabilidade dos filhos trazerem doenças genéticas graves recessivas. 
O inciso IV é relativizado no que tange aos colaterais de 3º grau.
V - o adotado com o filho do adotante; 
Não pode porque é irmão dele no contexto social. 
VI - as pessoas casadas; 
O segundo casamento é nulo pelo impedimento do inciso VI. 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
Ex: a esposa não pode casar com o cara que matou ou tentou matar o marido dela.
Lembrando que o impedimento gera a NULIDADE DO CASAMENTO
+ CAUSAS SUSPENSIVAS – art. 1.523
As causas suspensivas, por sua vez, elencadas no art. 1.523, não resultam, como vimos, na invalidade do casamento, mas sim em sua mera irregularidade, impondo-se aos infratores a separação obrigatória de bens. 
Art. 1.523. Não devem casar: 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal; 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes (noivos) solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.
As pessoas submetidas às causas submetidas elas podem se casar, mas não devem, pois terá uma sanção submetida a elas, qual seja, a separação obrigatória de bens. 
No p. único, as causas suspensivas poderão ser sustadas em algumas situações.
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
Ex: acabei de morrer e meu marido já quer casar, uma semana depois já estava noivo. Ele pode se casar, mas não deve, pois o inventário não terminou ainda, não houve partilha dos bens aos herdeiros. Se ele se casa haverá uma confusão patrimonial enorme entre a herança dos meus filhos e da nova esposa, se ele se casar em comunhão universal. Para evitar confusão de patrimônio, é melhor esperar terminar meu inventário. 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
Se ela se casa nos primeiros 10 meses do fim da primeira relação e ela estiver grávida pode gerar problema patrimonial. Para evitar confusão de sangue (turbacios sanguinis).
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;
Hoje pode se divorciar sem fazer partilha dos bens. Se se casar enquanto não sido homologada a partilha, o regime será o de separação obrigatória de bens. 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas.
A leitura dos incisos do art. 1.523 conduz-nos a uma conclusão de clareza meridiana: a imposição do regime de separação obrigatória de bens, por violação de causa suspensiva, pretende, em verdade, evitar uma confusão de patrimônios.
+ INVALIDADE DO CASAMENTO 
A Teoria das Nulidades vista na parte geral doCC, certamente, serve de base ao tema ora tratado. Todavia, a invalidade projetada no casamento experimenta certas peculiaridades, como veremos ao longo deste tópico.
A teoria da invalidade ou das nulidades é vista na parte geral. A teoria da invalidade do ato serve de base aqui, mas é óbvio que essa teoria aplicada no casamento irá experimentar determinadas adaptações, vicissitudes. Ex: A teoria da invalidade/nulidade, em regra, pode ser conhecida de ofício, contudo, no casamento não é assim. 
O art. 1.548 cuida da nulidade absoluta do casamento (casamento nulo)
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil; 
II - por infringência de impedimento (art. 1.521 – estudado acima).
Pergunta: quando o casamento é nulo? O casamento será nulo nessas duas hipóteses acima. 
Art. 1.549. A decretação (declaração) de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.
O art. não diz que o juiz pode conhecer de ofício a nulidade do casamento.
O art. 1.549, estabelece que o reconhecimento da nulidade de casamento pressupõe uma ação promovida pelo interessado ou pelo MP, não havendo menção à possiblidade de o juiz pronunciar a nulidade de ofício. Por isso, entendemos que ao juiz é vedado o reconhecimento de ofício da nulidade absoluta do casamento (Sílvio Venosa).
Há posições que defendem que podem ser sim de ofício. Todavia, é minoritária.
Desse modo fechamos as hipóteses de nulidade absoluta. 
E quando o casamento será considerado anulável? 
+ CASAMENTO ANULÁVEL 
O art. 1.550 serve de base à anulabilidade do casamento. Vale dizer, o casamento anulável encontra-se regulado neste referido dispositivo.
No que se refere à ação anulatória, deve-se ter em mente, especialmente, a legitimidade para a sua propositura (artigos 1.552, 1.553, 1.559), bem como é necessário cuidado com os prazos para propositura da ação anulatória (art. 1.560). (ler todos os artigos em casa). 
Vale acrescentar ainda, seguindo o pensamento de autores como Flávio Tartuce, José Fernando Simão e Zeno Veloso, a teor do art. 1.563, também aplicável, em nosso sentir, à anulabilidade a sentença anulatória de casamento, assim como a de nulidade tem efeitos retroativos/ex tunc.
Se eu me divorciar, meu Estado civil muda para divorciado. A pessoa que teve o casamento anulado ou declarado nulo terá seu Estado civil como solteiro, as pessoas voltam ao status quo ante. 
Reforçando esta tese, observamos que a sentença que invalida o casamento deve cancelar o seu registro, fazendo com que as partes retornem ao seu estado civil anterior.
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato judicialmente decretada.
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
Idade mínima para casar é 16. Os artigos seguintes irão tratar disso. Fazer leitura. Casou-se com 15 é anulável.
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; 
O menor já tem 16, mas não tem autorização doo representante, mas conseguiu casar. O casamento será anulável.
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; 
Ele não é o enfermo mental sem capacidade de discernimento, pois se fosse seria nulo. Aqui é outra hipótese. Ex: o cidadão foi para a solenidade de casamento completamente embriagado. 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
Ex: estou aqui na qualidade de procurador do meu amigo Mário Braga. Ele está em Londres, a noiva dele está aqui, ele mandou a procuração (que tem o prazo de 90 dias), só que Mário foi ao consulado e revogou a procuração e não nos avisou e eu contraí o casamento em nome dele. Este casamento é anulável, mas se ele voltar ao Brasil dias depois e coabitar com ela, não será anulável. 
A professora Maria Berenice Dias diz que se ele revogou a procuração, o casamento devia ser inexistente, pois não há mais vontade, todavia, no casamento, ele não é inexistente e sim anulável. 
VI - por incompetência da autoridade celebrante
Essa incompetência é relativa. (aula passada)
Obs. Poderá haver a invalidade do casamento por vícios de consentimento (artigos 1.556 a 1.558). Nem todos os vícios foram contemplados pelas normas de família, que cuidaram do erro sobre a pessoa e coação.
Os vícios de consentimento – erro, dolo, coação, estado de perigo. Todavia, nem todos os defeitos foram tratados. Os defeitos tratados foram apenas o erro e a coação na questão do casamento. 
Vícios de vontade projetados ao casamento:
Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.
Explicação:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
Segundo MHD, há um rol de possibilidades aqui. A pessoa se casa e descobre que o outro tem mal vida, desregrada, vícios de drogas, mantém relação sexual com a própria mãe. São causas graves. 
Saindo da questão ética, vamos para questão de cunho médico, como por exemplo, o transexualismo, que é tratado como doença. Ex: Pablo se casou e descobriu que minha esposa fez cirurgia de mudança de sexo, ela era Pedro. Se descobrir isso após o casamento pode alegar erro quanto à identidade do outro. 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
Ex: Pablo descobre que a esposa dele quando era solteira cometeu quatro crimes de lesão corporal grave. Mutilou a genitália de 4 namorados. Mas o desconhecimento do fato criminoso, anterior ao casamento, uma vez descoberto a posteriori, pode anular o casamento.
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
O CC prevê a anulação do casamento pela ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave contagiosa, desconhecida pela outra parte. Ex: pessoa com HIV, sífilis etc. por exemplo, tem que ser respeitada, todavia tem que dizer isso ao noivo, pois caso contrário poderá gerar anulabilidade do casamento.
Ex: defeito físico irremediável:
Obs. No que se refere ao inciso III, do art. 1.557, exemplo de defeito físico irremediável, dado pela doutrina, é a impotência “coeundi (erétil) do homem,que não se confunde com a impotência “generandi” (infertilidade)
Se a esposa só descobre após o casamento que o marido era impotente, o casamento pode ser anulável.
Todavia, tem que ficar demonstrado no processo que este defeito físico irremediável é anterior ao casamento e ela só descobriu depois. A impotência, incapacidade de gerar filhos não invalida o casamento. 
Ex: mulher tinha uma doença muito grave, médico disse que não poderia ter filhos. O noivo dela tinha o sonho de ser pai, nesse caso o casamento pode ser invalidade não pela infertilidade, mas pelo fato de uma parte enganar a outra, cairia no inciso I. 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado.
É uma situação dolorosa e difícil. A pessoa se casa e depois de casado descobre que a noiva padece de esquizofrenia. Esse casamento pode ser anulado. Com isso, não quer dizer que a pessoa não possa casar, o que leva à anulação é a descoberta posterior de doença grave. 
Essas causas que conduzem a anulação do casamento por erro sobre pessoa devem ser baseadas em fatos que já existiam antes e só foram descobertos depois. Se o fato só ocorre depois de casado. Ex: me casei com minha esposa e após o casamento ela contrai uma doença contagiosa grave, pois o que anula o casamento é o fato anterior que só existia e é somente descoberto depois. 
Ex: cônjuge adquiriu doença mental após o casamento e o outro cônjuge pede anulação. Não poderá, deverá divorciar. 
Não posso esquecer que todas essas causas que conduzem à anulação do casamento por erro essencial baseiam-se em fatos existentes e anteriores ao casamento, somente descobertos depois. 
Obs. A descoberta posterior de que a mulher não era mais virgem NÃO ANULA O CASAMENTO. 
		Finalmente, o art. 1.558 trata ainda da anulação do casamento por coação moral (ameaça) 
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.
Ex: pai da noiva ameaça o noivo para que ele se case com sua filha. 
Pergunta: o que é casamento putativo? 
Melhor obra do país sobre isso: professor Cahali. 
Tema da próxima aula.

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