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Introdução À Psicologia do Desenvolvimento e suas estratégias de pesquisa.

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~ rte 1- Teoria • Pesqulu nas Cllnclas do Desenvolvimento 
J JJJ J !) J !J fJ ~ ~ jJj 1_~j J i)i_jB .!.t~ 
.!J :)-j:;;JJj'.J ~J ~1JJ.J::JJJJ ~ :J ~~!J-j itll~JB-) 
ig~ID 
Comecemos _e~te livro com uma pergunta: por que você 
~es_olv~~ participar de um curso sobre desenvolvimento 
mta~tll_. Para aqueles que cursam psicologia, economia 
domestica, enfermagem ou educação fundamental a disci-
plin~ ~ obrigatória e não há como evitá-la. Os pai~ podem 
part1c1par de um curso para aprender mais sobre seus 
bebês. Eventualmente, algumas pessoas elegem o curso 
procurando responder a perguntas sobre seus próprios 
comportamentos, de amigos ou de algum membro da famí-
lia. Por exemplo, um colega de república em minha época 
de faculdade, que cursava pesca profissional, participou do 
curso de desenvolvimento infantil, esperando descobrir por 
que ele e seu irmão gêmeo normalmente pareciam ter os 
mesmos pensamentos em situações similares. 
Quaisquer que sejam as razões para fazer esse curso, 
em algum momento você deve ter tido curiosidade a respeito de um ou mais aspec-
tos do desenvolvimento humano. Por exemplo: 
:> Como o mundo é visto por bebês recém-nascidos? Eles possuem alguma per-
cepção de seu novo ambiente? 
:> Quando os bebês reconhecem suas mães pela primeira vez? E seus pais? E a si 
mesmos (em um espelho)? 
:> Por que a maioria das crianças de um ano parece tão apegada à sua mãe e avessa 
a estranhos? 
:> Se escutamos as pessoas conversando em idiomas estrangeiros, temos dificul-
dade em acompanhar. Mas bebês e crianças prestam atenção às conversas e 
aprendem seu idioma nativo sem qualquer instrução formal. Como isso é possí-
vel? Aprender a falar é mais fáci l para as crianças que para os adultos? Crianças 
que crescem em ambientes bilíngües estão em desvantagem? 
:> Por que crianças pequenas dizem que objetos como o sol e as nuvens são vivos? 
:> Por que você se lembra de tão pouco sobre os primeiros dois ou três anos 
de vida? 
:> Por que algumas pessoas são amigáveis e extrovertidas, enquanto outras são tími-
das e introvertidas? O ambiente fami liar influencia na personalidade? Se sim, por 
que crianças de uma família são freqüentemente tão diferentes umas das outras? 
:> Qual O impacto em uma criança da perda de um dos pais, seja por morte seja 
por divórcio, ou da presença de um padrasto ou madrasta? 
:, Que papel os amigos íntimos desempenham no desenvolvimento de crianças e 
adolescentes? 
:, Por que os seres humanos são, em alguns aspectos, tão similares uns aos outros 
e ao mesmo tempo, tão diferentes? 
' 
O Que É Desenvolvimento? 
O Desenvolvimento Humano 
de uma Perspectiva Histórica 
Métodos de Pesquisa 
em Psicologia do 
Desenvolvimento 
Detectando Relações: 
Modelos Correlacionai e 
Experimental 
Modelos para o Estudo do 
Desenvolvimento 
Comparações Interculturais 
Considerações Éticas na 
Pesquisa do Desenvolvi-
mento 
Pós-escrito: Tornando-se 
um Consumidor Perspicaz 
de Pesquisas do 
Desenvolvimento 
Resumo 
2 
Desenvolvimento: 
continuas e sistemáticas 
mudanças que um indiví-
duo vive no decorrer de 
sua vida. 
Continuidades 
desenvolvimentais: 
formas pelas quais nos 
mantemos estáveis com 
o passar do tempo ou 
continuamos a refletir 
nosso passado. 
Psicologia do 
desenvolvimento: 
área da psicologia voltada 
a identificar e explicar as 
continuidades e mudan-
ças vividas por indivíduos 
ao longo do tempo. 
Maturação: 
mudanças desenvol-
vimentais no corpo ou 
no comportamento que 
resultam do processo de 
envelhecimento em vez 
da aprendizagem, lesões, 
doenças ou outras expe-
riências vividas. 
Aprendizagem: 
mudança relativamente 
permanente no compor-
tamento (ou no potencial 
de) que resulta de uma 
experiência pratica. 
f'5ia)logla do o-nvoMmento 
ta e muitas outras questões fascinantes 
O objetivo deste livro é buscar respost~sda es si.são de teorias, métodos, descobertas 
1 . to por me10 a rev . 1 . sobre pessoas em desenvo v1men , . A • d desenvolvimento. Neste capttu o mtro. 
e muitas outras realizações da moderna cie;ci;. 0 à medida que ele aborda assuntos ün. 
dutório encontram-se as bases do restant~ 0 iv~o, mano e como o conhecimento deste é 
Portantes sobre a natureza do desenvolvimento u soas se "desenvolvem" com o tempo? 
. .fi firmação de que as pes . 
adquirido. O que stgm ica a a 1 . d. f; da daqueles que viveram em épocas 
Como sua experiência de desenvolv1mento i_ ereiros estudos científicos do desenvolvi. 
passadas ou em outras culturas? Quaodo os pnme , ri· os? Que estratégias ou métodos r d por que são necessa · 
mento humano foram rea iza os ~ . t dar O desenvolvimento de crianças e de pesquisa são utilizados pelos_ c1ent1stas para es u do desenvolvimento. 
adolescentes? Comecemos considerando a natureza 
QuE é DESENVOLVIMENTO? 
: · "d d · t máticas e udan as · · , e : o desenvolvimento refere-se a contmm a~~ , 1 te · d : ...::...::.:::.:.:::..:..=-~=c..c.~:..._ _ _ _ --- - - - - d · enetra no ovu o ma mo cnan 0 ~ ocorrem desde a concepção_(quando o esperma O pai P " • temáti·cas" un· pli 
. ~ . A d mudanças como s1s , ca-: um novo orgamsmo) até a morte. o escrever d 
: - . 1 • t ermanentes· portanto, mu anças : se estas serem ordenadas, padromzadas, re attvamen e P ' A • 
: • • · ó · m nossa aparenc1a, pensamentos : ocasionais de humor e outras mudanças trans1t nas e . . 
· , b, t interessados nas cont10u1dades : e comportamentos estão exclmdas. Tam em es amos :---- . 
· · · s os mesmos ou segmmos refle-desenvolv1menta1s, as forma~ pelas quais ~rynanecemo - -
tiiiêlo nosso passado. - -- . . . 
Se desenvolvimento representa a continuidade e as mudanças que um A mdivíduo 
sofre "do berço ao túmulo", a ciência do desenvolvimento é o estudo desse fenomeno. Na 
verdade devemos falar em ciências do desenvolvimento, visto que essa área de estudo é 
multidi;ciplinar. Apesar de a psicologia do desenvolvimento ser a ,~ais ampla de_ssas 
disciplinas, muitos biólogos, sociólogos, antropólogos, educadores, medico~, e~onomistas 
domésticos e até mesmo historiadores compartilham um interesse pela contmuidade e mu-
danças no desenvolvimento e muito contribuíram para o entendimento do desenvolvimen-
to tanto humano como animal. Porque a ciência do desenvolvimento é multidisciplinar, 
usamos a terminologia "desenvolvimentalista" para qualquer estudioso - independente-
mente da disciplina - que busca entender o processo de desenvolvimento. 
O Que Causa Nosso Desenvolvimento 
Para entender o significado de desenvolvimento de maneira mais completa, devemos 
compreender dois processos subjacentes às mudanças do desenvolvimento. Um desses 
processos, a ~oruspond~ ao desenvQlvimento biológico do indivíduo de 
~ com um plano contido em seu código genético - material hereditário passado 
pelos pais aos filhos na concepção. Ass im Como as sementes se tomam plantas maduras, 
quando recebem alimentos e cuidados adequados, os seres humanos crescem no útero. 
O processo maturacional humano t.filllbém nos torna capazes de andar e pronunciar as 
_prime~ras palavras com significado por volta d~ um l de idade, .atingir a maturida<k_ 
s_exu&.Lentre ~ D e lli~, então, envelhecer e morrer. Pelo fato de o cérebro passar 
po_r m~it_as mudanças maturacionais, ~~~ção é e~ parte re~onsável por m_udapças 
i:mcolog1cas..! c~ ~ escente capacidade de concentração, r~sq!~o de Qroblemas, be.m. 
.c.amíu 1..ente.nd1m~n.~ _d..9s_Eensamentos _ e ~ i~entos de outra..p~s~ Portanto, uma 
razão pela qual nós humanos somos similares em muitos aspectos importantes é que 
nossa "herança comum da espécie", ou matriz maturacional, conduz todos nós a várias 
mudanças desenvolvimentais sobre os mesmos aspectos de nossas vidas. 
Um segundo processo crítico do desenvolvimento é a apre~4!z11em__-_proces· 
sq__pelo qual_~ _e~~ências _E_r~duze as relativ me ~-n, ..... ., e.Pl 
.flQSspssentimentos.,pe_nsamentos e c_omporta~~ Consideremos O seguinte exemplo: 
Cap. 1 Introdução à Psicologia do Desenvolvimento e suas Estratégias de Pesquisa • David R. Shaffer 
embora certo grau de maturação física seja necessário para que uma criança possa ser 
capaz de jogar basquete, horas de prática e cuidadosa instrução serão essenciais para 
que em algum momento ela possa ter habilidades que se aproximem de grandes mestres 
como Michael Jordan. Muitas de nossas habilidades e hábitos não são simplesmente re-
sultados de um grande plano da natureza; normalmente aprendemos a sentir, a pensar e a 
nos comportar de novas maneiras ao observar e interagir com pais, professores e outras 
figuras importantes em nossas vidas, bem como a experimentar eventos. Colocado de 
outra maneira, mudamos em resposta ao nosso ambiente - particularmente em resposta 
às açõe~ e reaç~es das pessoas ao nosso redor. Claro, ~e_.parte das mudanças no de-
senvol~1mento...e_res.ultadQ_d_a maturação e da apr~~gem. E, como veremos ao longo 
deste hvro, alguns dos mais acirrados debates sobre desenvolvimento humano são re-
lativos aos argumentos sobre quais desses processos contribuem mais efetivamente em 
determinadas mudanças desenvolvimentais. 
Quais os Objetivos dos Desenvolvimentalistas? 
Quais objetivos os desenvolvimentalistas colocaram para si mesmos? Os três principais 
objetivos que emergem são: ~crever, explicar e melhorar..o_desenwlv.imento (Baltes et 
ai., 1980). Ao buscar o objetivo de descrever, os desenvolvimentalistas cuidadosamente 
observam o comportamento das pessoas em diferentes idades, procurando especificar 
como os seres humanos mudam ao longo do tempo. Apesar de haver típicas rotas de de-
senvolvimento que todos seguem, os pesquisadores descobriram que não há duas pessoas 
exatamente iguais. Mesmo quando criadas na mesma casa, crianças em geral mostram 
interesses, valores, habilidades e comportamen~os diferentes. Para então descrever de 
forma adequada o desenvolvimento, é necessário focalizar tanto os padrões típicos de 
mudanças (desenvolvimento normativo) como as variações individuais (desenvolvi-
mento idiográfico), buscando identificar a importante maneira pela qual seres humanos 
se desenvolvem de forma semelhante e como podem diferir durante a vida. 
Descrições adequadas nos fornecem os fatos do desenvolvimento, mas isso é 
apenas o ponto de partida. Em última análise, os desenvolvimentalistas tentam explicar 
as mudanças observadas. Ao buscar esse objetivo, os pesquisadores esperam determinar 
por que os seres humanos se desenvolvem como tipicamente o fazem, e por que alguns 
se tornam tão diferentes dos outros. Dito de outra forma, ~ _explicações c.on.ç_e.nt.ralll::se 
tanto nas mudanças normatiYJIS<quanto_nas individuai~,__Como veremos nos textos, é nor-
malmente mais fácil descrever o desenvolvimento que explicá-lo. 
Finalmente, muitos pesquisadores esperam otimizar o desenvolvimento colocando 
em prática aquilo que eles têm aprendido, na tentativa de ajudar os seres humanos a se 
desenvolver em direções positivas. Esse é claramente um lado prático do estudo do de-
senvolvimento humano que levou a algumas maneiras de melhorá-lo: 
:> Promover fortes laços afetivos entre crianças hiperativas, não responsivas e seus pais 
frustrados. 
:> Auxiliar crianças com dificuldades de aprendizagem a ter sucesso na escola. 
:> Ajudar crianças e adolescentes socialmente inaptos a prevenir as dificuldades emo-
cionais resultantes por não ter amigos íntimos e serem rejeitados pelos pares. 
Muitos acreditam que objetivos vão como otimização influenciar as pesquisas no 
século XXI (Fabes et ai., 2000; Lerner et ai., 2000) à medida que os desenvolvimentalis-
tas mostrarem maior interesse em solucionar problemas reais e em comunicar as impli-
cações práticas de suas descobertas ao público e aos responsáveis pela política (McCall e 
Groark, 2000). Ainda assim, a forte ênfase nas aplicações não implica serem os tradicio-
nais objetivos descritivos e explicativos menos importantes, mesmo porque a otimização 
como objetivo de pesquisa requer que os pesquisadores tenham prévia e adequadamente 
descrito os caminhos normais e anormais do desenvolvimento e suas causas (Schwebel 
et ai., 2000). 
Desenvolvimento 
normativo: 
mudanças desenvolvi-
mentais que caracteri-
zam todos ou a maior 
parte dos membros de 
uma espécie; são pa-
drões típicos de desen-
volvimento. 
Desenvolvimento 
ldiográfico: 
variações individuais no 
ritmo, extensão ou dire-
ção do desenvolvimento. 
3 
4 Psic~ do Desenvolvimento 
Algumas Observações Básicas Sobre o Caráter do Desenvo/viment 
Agora que já definimos O que é desenvolvimento e falamos brevemente sobre O 
Principais obietivos consideremos algumas das conclusões traçadas sobre O e ~s :.i ' aratc 
do desenvolvimento. r 
Um Processo Continuo e Cumulativo 
Em seu famoso poema Paraíso Perdido, John Milton escreveu: "A infância most 
homem assim como a manhã mostra o dia". Essa interessante analogia pode ser interp ra 0 
'd . 'fi reta da de pelo menos dois modos. Poderia ser traduzi a para s1gm 1car que os eventos viv•d · 
na infância têm pouco ou nenhum impacto na vida adulta, bem como uma manhã en I i°s 
rada de verão muitas vezes não é suficiente para prever temp~stades ao entardecer. A~;-
assim, a maioria das pessoas não interpreta a afirmação de Milton desse modo. Para es~ª 
os eventos vividos na infância têm papel significativo para o futuro. Aquelas que estud ' 
o desenvolvimento humano privilegiam nitidamente essa última interpretação. arn 
Embora ninguém possa especifi~ar precisamen~e ~ q~e reserva a vida adulta de 
alguém com base em um exame metlculoso de sua mfanc1a, os desenvolvimentalist 
apre~deram que o.s_~ros 12 anos _4~_vid-ª são extremamente i_~rtantes.1. o.s__quais~~ 
termmam a adolescência e a vida adul@. E, dessa forma, as expenenc1as que teremos ma· 
- - • IS 
tarde dependem de como vivemos esses períodos. E claro, você não é a mesma pessoa que 
era aos 10, ou mesmo aos 15 anos. De alguma maneira você cresceu, adquiriu conheci. 
me~to acadêmico, desenvolveu novos interesses e aspirações que aqueles professores que 
estiveram com você na escola. E o caminho dessas mudanças do desenvolvimento segue 
progressivamente, da meia-idade e além, culminando na mudança final que ocorre quando 
morremos. QQ~enyQlvimento_humano_ é _!_Ilai~ bem qesciito como um pr.ocessO-COIUín.uo e 
c..t1mulatiYQ, A única constante é a mudança, e as mudanças que ocorrem em cada fase da 
vida têm importantes implicações para o futuro. 
A Tabela 1.1 apresenta-nos uma visão cronológica das principais fases da vida 
' como os desenvolvimentalistas as vêem. Nosso foco neste livro está no desenvolvimento 
dos cinco primeiros períodos da vida - as fases conhecidas como inf'ancia e adolescência. 
Pelo exame de como as crianças se desenvolvem desde que concebidas até a vida adulta 
' saberemos mais sobre nós mesmos e os determinantes do nosso comportamento. Nossa 
pesquisa também nos esclarecerá o porquê de dois indivíduos nunca serem exatamente 
iguais, mesmo quando criados na mesma casa. Não prometo que você encontrará res-
posta a toda pergunta importante que possa ter sobre o desenvolvimento da criança e do 
adolescente. O estudo do desenvolvimento humano é relativamente uma ciência nova, 
com muitos assuntos ainda sem solução. Mas, ao prosseguir, fica claro que os desenvolvi-
mentalistas da última metade do século passado nos forneceram uma quantidade enorme 
de informações a respeito dos jovens que podem ser úteis para nos tomarmos melhores 
educadores, pais e profissionais que trabalham com crianças e adolescentes. 
Tabela 1.1 Uma Visão Cronológica do Desenvolvimento Humano 
Período de vida Idade aproximada 
1. Período pré-natal I Concepção ao nascimento 
2. Infância ' Primeiros 2 anos de vida 
3. Período pré-escolar l Dos 2 anos aos 6anos de idade 
4. Meninice Dos 6 anos aos 12 anos aproximadamente (até inicio da puberdade) 
5. Adolescência 
6. Adulto jovem 
7. Meia-idade 
8. Velhice 
Dos 12 anos aos 20 anos (muitos desenvolvimentalistas definem o fim da adolescência como o 
ponto no qual o indivíduo começa a trabalhar e se toma razoavelmente independente dos pais) 
Dos 20 anos aos 40 anos 
Dos 40 anos aos 65 anos 
, A partir dos 65 anos 
1 Algumas pessoas preferem empregar o termo "toddlers" para descrever as crianças que já começaram a andar e estão com apro-
ximadamente I a 2 anos de idade. 
~ idades relacionadas aqui são aproximadas e podem se aplicar a uma situação particular. Por exemplo, umas pouas crianças de 
1 O anos já atingiram a puberdade e são apropriadamente classificadas como adolescentes. Alguns adolescentes são Independentes. 
se sustentam e t&n filhos, sendo mais bem classificados como adultos jovens. 
Cdp. 1 Introdução ~ f'siculol!Ía do Desenvolvimento e suas E,tratégias de Pesquisa • David R. Shaffer 
Um Processo Holístico 
Antigamente havia o costume de dividir os estudiosos do desenvolvimento em três ·) 
campos: (1) aqueles que estudavam o crescimento e desenvolvimento físico incluindo :: 
mudanças cor~~rais e a seqüência de habilidades motoras; (2) aqueles que est~davam os 
aspectos cognitivos do desenvolvimento, incluindo percepção, linguagem, aprendizagem 
e pen~amento, e (3~ aqueles que se concentravam nos aspectos psicossociais, inclusive 
:moçoes, perso_nahdade e relações interpessoais. Hoje sabemos que essa classificação 
: um tanto equivocada, pois os pesquisadores que trabalham com qualquer uma dessas 
~rea~ per_ceberam que mudanças em um aspecto do desenvolvimento têm importantes 
tmpltcaçoes nos outros aspectos. Consideremos um exemplo. 
O que_ ~etermina ~ ~opularidade de uma pessoa com seus pares? Se você dissesse 
que as hab1ltdades soc1a1s são importantes, estaria correto. Habilidades sociais como 
calor humano, amabilidade e disponibilidade para cooperar são características que as 
crianças populares tipicamente apresentam. Ainda assim, há muito mais na popularida-
de que aquilo que os olhos permitem ver. Hoje temos alguma indicação de que a idade 
em que a criança atinge a puberdade, um marco importante no desenvolvimento físico, 
tem efeito na vida social. Por exemplo, meninos que atingem a puberdade precocemente 
gostam mais de se relacionar com seus pares que aqueles que atingem a puberdade tar-
diamente (Livson e Peskin, 1980). Crianças que vão bem na escola tendem a ser mais po-
pulares com seus pares que aquelas que apresentam comportamentos não tão admiráveis 
em sala de aula. 
Dessa forma, vemos que a popularidade depende não apenas do desenvolvimento de 
habilidades sociais, mas também de diferentes aspectos tanto do desenvolvimento cogni-
tivo como do físico. Como esse exemplo ilustra, o desenvolvimento não é o somatório de 
partes, mas algo holís!ico - .os seres humanos são seres físicos, cognitivos e sociais, e caga 
um desses componentes da personalidade depende em parte de mudanças ocorrici.as_e_m 
outras áreas do desenvolvimento. Essa perspectiva holística é talvez o tema dominante das 
ciências do desenvolvimento na atualidade, em torno do qual este livro está organizado. 
Plasticidade 
A plasticidade refere-se à capacidade de mudança em resposta a experiências de vida 
positivas ou negativas. Embora tenhamos descrito o desenvolvimento como um processo 
cumulativo e contínuo e afirmado que eventos passados têm implicações no futuro, os 
desenvolvimentalistas sabem há algum tempo que o curso do desenvolvimento pode se 
alterar abruptamente se um aspecto importante da vida do indivíduo mudar. Por exem-
plo, bebês melancólicos que vivem isolados em orfanatos sombrios muitas vezes revelam 
uma personalidade alegre e festiva quando transferidos para um lar adotivo socialmente 
estimulante ( Rutter, 1981 ). Crianças extremamente agressivas que são constantemente 
excluídas por seus pares em geral melhoram suas habilidades sociais ao aprender e 
praticar habilidades sociais manifestadas pelas crianças populares (_Mize e Ladd, 199?; 
Shure, 1989). Na verdade, é extremamente positivo que o desenvolv,me~t_o humano seJa 
tão plástico, pois as crianças que têm um começo terrível podem ser auxiliadas a superar 
suas deficiências. 
Contexto Histórico e Cultural 
Nenhum retrato de desenvolvimento é acurado para todas as culturas, classes sociais ou 
grupos étnicos e raciais. Cada cultura, subcultura e classe social tr~nsmit~ ~m padrão 
particular de crenças, costumes, valores e habili_dade~ p~ra as ger~çoes mrus JOYe~s, ~ o 
conteúdo dessa socialização cultural tem forte mfluenc~a n~~ a~ribut~s e competencias 
que os indivíduos apresentam. Q.E~volvimento tambem e ~n~luenciado pelas muda~-
ças sociais: eventos históricos. como guerras; a~~nços tecnolog1~os. com? o _d~senv~lv1-
mento de computadores pessoais; e causas soc1a1s. como o movimento kmtntsta. Cada 
5 
k•.i..n,. r 'A.( • 
u• p_,._1- , e, ll) f 1, 'J 
L ("J '] ' l ti.U'1 
Perspectiva holística: 
visão unificada do 
processo do desenvol-
vimento que enfatiza as 
inter-relações importan-
tes entre os aspectos 
físicos, mentais, sociais 
e emocionais do desen-
volvimento humano. 
Plasticidade: 
capacidade de mudança: 
um estado do desen-
volvimento que tem o 
potencial de ser moldado 
pela experiência 
6 Plicologla 'do Dftr.nvolvlmento 
geração desenvolve-se à sua maneira e cada gera~ão muda o mundo p~ra as geraçoc 
seguintes. Assim, não podemos afirmar automat1ca~ente que seqüências desenvoi/ 
mentais observadas em amostras de crianças da Aménca do No~e ou da Europa (as 1• 
pulações mais estudadas) sejam parâmetros ou mesmo caractenzem o desenvolvi"" ))o. 
e . u~mo de pessoas de outras épocas ou culturas (Laboratory for omparatlve Human Cognit' 
l h . ó . d ton 1983). Apenas adotando uma perspectiva cultura e 1st nca po emos apreciar em to ' 
sua riqueza e diversidade o desenvolvimento humano. da 
0 DESENVOLVIMENTO HUMANO 
DE UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 
Sociedades ocidentais modernas podem ser descritas como "centradas nas crianças"· 
comumente, as pessoas pensam no nascimento como um momento abençoado, gasta · 
muito dinheiro em cuidados e na educação de seus filhos, eximindo as crianças d m 
responsabilidades da vida adulta até que elas tenham de 14 a 21 anos (dependendo: 
sociedade), quando presumivelmente adquiriram a sabedoria e capacidade de "andare~ 
s?~inhas". Mas infância e adolescência ne],ll sempre for~m vist~s como períodos espe-
ciais, como o são hoje. Para entender como os desenvolv1mentahstas pensam e abordam 
o estudo das crianças, é necessário ver como o conceito de infância se desenvolveu no 
tempo. Você pode se surpreender vendo quão moderno é nosso ponto de vista. É claro 
apenas quando a infância passou a ser vista como uma fase especial, ela passou a se; 
observada e estudada como um processo do desenvolvimento. 
A Infância em Tempos Pré-modernos 
Nos primórdios da história registrada, as crianças tinham pouco ou nenhum direito, e suas 
vidas nem sempre eram consideradas de valor por seus familiares mais velhos. Pesquisas 
arqueológicas, por exemplo, mostraram que os antigos cartagineses freqüentemente ma-
tavam crianças em sacrifícios religiosos e as colocavam nas paredes das construções para 
"fortalecer" essas estruturas (Bjorklund e Bjorklund, 1992). Até o século IV d.C., pais 
romanos eram legalmente autorizados a matar seus filhos se estes fossem deformados, 
ilegítimos ou não desejados. Após a proibição dessa ação infanticida, as crianças não de-
sejadas eram abandonadas para morrer nos campos ou vendidas como escravas ou objetos 
de exploração sexual ao alcançar a meninice (DeMause, 1974). Até mesmo as crianças 
desejadas eram trat~das bruscamente segundo os padrões atuais. Por exemplo, os meninos 
da cidade de Esparta eram expostos aum regime rígido projetado para treiná-los para 
a dura tarefa de servir um Estado militar. Quando bebês, davam-lhes banhos frios pa-
ra "endurecê-los". Ao chegar aos 7 anos, quando as crianças nas sociedades modernas 
estão ingressando no ensino fundamental, os meninos de Esparta eram retirados de suas 
casas e colocados em barracas públicas, onde eram freqüentemente espancados ou suba-
limentados para adquirirem a disciplina necessária para se tornar guerreiros (DeMause, 
1974; Despert, 1965). 
Nem todas as sociedades antigas tratavam suas crianças tão duramente como as 
cidades de Cartago, Roma ou Esparta. Ainda assim, séculos após o nascimento de Cristo, 
as crianças eram vistas como possessões da família sem quaisquer direitos (Hart, 1991) 
e as quais os pais podiam explorar como bem entendessem. De fato, não foi senão depois 
do século XII d.C., na Europa Cristã, que as leis seculares passaram a considerar o infan-
ticídio como crime (DeMause, 1974). 
Atualmente, discute-se sobre como seria a infância na Idade Média. O historiador 
Philippe Aries (1962) analisou documentos e pinturas da época medieval na Europa e 
concluiu que as sociedades européias não possuíam o conceito de infância como o conhe·

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